domingo, 8 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20427: Da Suécia com saudade (62)... E agora também dos States, Florida, Key West... A catarse do Império... O lugar do Portugal de hoje, tanto na Europa como no mundo, é que deveria ser assunto de discussões acaloradas (José Belo)


Anúncio dos Cimentos Liz, no jormal "Acção Colonial - Jornal de Informação e Propaganda das Colónias". Número Comemorativo da Exposição Colonial do Porto, 1934. Diretor: Frederico Filipe. Fonte: Cortesia de Hemeroteca Digital, Câmara Municipal de Lisboa.

"A história da marca dos cimentos Liz inicia-se em Portugal, no ano de 1918, quando o empresário português Henrique Araújo de Sommer funda, na localidade de Maceira-Liz, em Portugal, a Empresa de Cimentos de Leiria.

"Nessa época, ter tecnologia para a fabricação do cimento era fundamental, por isso, a empresa investiu no que havia de mais moderno ao instalar os fornos horizontais rotativos. Em 1923, as obras da fábrica da Empresa de Cimentos de Leiria foram concluídas e a produção entrou em pleno funcionamento.

"O sucesso da empresa permitiu que o empresário António de Sommer Champalimaud expandisse, em 1942, a marca do cimentos Liz e instalasse fábricas e empreendimentos em Moçambique e Angola.

"Outro marco na história da marca Liz foi a instalação do maior forno de cimento do mundo, na Companhia de Cimentos Tejo, em Alhanda, em Portugal. Além disso, foram instalados 19 fornos de cimento nas sete fábricas do grupo que eram responsáveis por produzir sete milhões de toneladas de cimento por ano." 

Fonte: Cimentos Liz > Perfil > Nossa Marca.

1. Mensagem de José Belo:

(i) régulo da Tabanca da Lapónia, membro da Tabanca Grande, tem 135 referências no nosso blogue:

(ii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter uma pontinha de orgulho nas suas velhas raízes portuguesas: "Com netos sueco-americanos, o sangue Lusitano vai-se diluindo cada vez mais. Mas, como dizem os Lusíadas... 'Se mais mundos houvera, lá chegara'...".

(iii) foi alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, cap inf ref;

(iv) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico,  e Key West, na Flórida, EUA, onde a família tem negócios.



De: Joseph Belo
Enviado: 6 de dezembro de 2019 14:35
Assunto: Catarse

Meu caro  neo-avô Luís:

Aqui segue um texto escrito como comentário mas aparentemente demasiado longo no contexto.
Fica à...opiniäo dos editores.(*)

Quando o "Mítico Império" é referido no blogue em termos menos ortodoxos (**),  surgem de imediato pontos de vista intempestivos. Intempestivos por desnecessários.

Mais näo se trata do que trocas de ideias e opiniöes entre camaradas que procuram analisar os assuntos,  apresentando autores com diferentes leituras dos mesmos.

As nossas geracöes foram educadas desde os primeiros bancos escolares na ideia, criada por iluminados intelectuais e historiadores do governo da ditadura, de um mítico império constituído unicamente por heróis universais, santos missionários, e comerciantes de honestidade virginal.b  O Infante D.Henrique será um bom exemplo da mitologia de entäo.

Esta bonita, mas menos verdadeira, visão do império foi fácil de incutir nos  n espíritos jovens das nossas gerações.

Mais tarde fomos aprendendo que os que se atreviam a outras leituras da História Oficial (!)......acabavam mal.

Este "acabar mal ", mesmo que näo abertamente consciencializado por muitos, acabou por criar a tal unidade "patrioteira" à volta de um assunto incriticável por.... sacro.

Quem se dê ao trabalho de aprofundar o que foi a expansão (e influência) do pequeno povo de Portugal pelo mundo de entäo, sentirá näo só orgulho pela extensão do mesmo como pelas raízes ainda hoje bem vivas em locais dos mais inesperados.

Ao mesmo tempo surge a curiosidade de se compreender como tal foi possível. Os erros cometidos nesta "gesta" do império foram certamente muitos e graves.. Mas näo se deve esquecer que deverão ser analisados com os "olhos" e valores da época,e não com os valores dados actualmente como correctos para situações täo díspares.

E a vinganca póstuma do "saloiísmo-iluminado" do período da ditadura está no facto de muitos de nós não terem até agora conseguido a tal, e täo saudável ,"catarsis" libertadora dos mitos....por definição... näo factuais.

Continua-se a olhar sempre para o que "teremos sido",  sem nunca desejar-se verdadeiramente olhar para o que "somos" hoje.

Um povo que se respeite,  deverá sentir orgulho na sua História,nos seus heróis,nos seus mortos.
A nossa História é de tal modo rica que näo necessita de mitos e falsidades criados por oportunistas patrioteiros para a "valorizar".

Mas, e ao orgulharmo-nos dos mortos,  näo se deverá também sentir orgulho nos vivos? O lugar do Portugal de hoje (!), tanto na Europa como no mundo, é que deveria ser assunto de discussões acaloradas. 

Os antigos? São factos já gravados nas pedras. Foram o que foram. Não serão leituras revisionistas da História que os vão alterar.

Um abraço do J. Belo


2. Significado de catarse (LG)

catarse | s. f.
ca·tar·se |z|
(grego kátharsis, -eós, purificação)

substantivo feminino

1. [Filosofia] Palavra pela qual Aristóteles designa a "purificação" sentida pelos espectadores durante e após uma representação dramática.

2. [Psicanálise] Método psicanalítico que consiste em trazer à consciência recordações recalcadas.

3. [Psicanálise] Libertação de emoção ou sentimento que sofreu repressão.

4. [Medicina] Evacuação dos intestinos.

"catarse", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/catarse [consultado em 08-12-2019].
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da séruie 2 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20408: Da Suécia com saudade (61)... E agora também dos States, Florida, Key West... Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande: o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné... Por favor, não caiamos na perigosa tentação de nos dividirmos em operacionais... e não operacionais (José Belo)

8 comentários:

Valdemar Silva disse...

A propósito dos cimentos e de Henrique Araújo Sommer, quem não se lembra das notícias do caso da 'Herança Sommer', que nos inícios dos anos 70, do século passado, enchiam as páginas do jornal 'Diário Popular' todos os dias durante muito tempo.
E quanto à catarse, José Belo, haverá sempre velhos do restelo à espera do dom sebastião faça chuva ou faça sol, ou dalgum sósia vendedor de vigésimos premiados.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Havia nesse tempo uma quadra jocosa, satírica, que dizia assim:

"Oh, meu Portugal tão lindo,
oh, meu Portugal tão belo,
metade é Jorge de Brito,
metade é Jorge de Mello.

Mas esqueceram-se do Champalimaud, que estava no Brasil onde fez outro império empresarial, ao tempo da ditadura militar...




https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_de_Sommer_Champalimaud

Anónimo disse...



Senhor Editor.

Será necessário salientar que, no último comentário, ao ser referida a *ditadura militar* faltará (talvez?) acrescentar...brasileira.
Näo haverá deste modo confusöes possíveis com o täo militar, português,e näo menos "original"....Conselho da Revolucäo.

Um abraco do J.Belo

antonio graça de abreu disse...

Diz o Zé Belo: "Um povo que se respeite, deverá sentir orgulho na sua História,nos seus heróis,nos seus mortos." É isto mesmo, meu caro Zé Belo.
Eu, às vezes, nem é bem uma questão de orgulho, mas depois de viver durante nove anos fora de Portugal, em três continentes diferentes,de conhecer um pouco melhor as pátrias dos outros,gosto muito de ser português. Sou, desde 2012, professor de História na Universidade de Aveiro, dou a cadeira Relações Históricas Luso-Chinesas, no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Mestrado em Estudos Chineses, Universidade de Aveiro. Tenho também um mestrado em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, o nosso passado pelos quatro cantos do mundo não me é estranho. Reconheço que houve racismo, colonialismo, escravatura, todo um rol de práticas e fenómenos sociais que hoje, ano 2019, e bem, deploramos. Mas toda a análise histórica deve ser inserida nas mentalidades e práticas da sua época, compreendida de acordo de acordo com os valores, ou a ausência de valores, que prevaleciam na época. Não gosto que sistematicamente Portugal e os portugueses do passado sejam catalogados de quase uma espécie de dejecto,de escória da espécie humana. Não gosto que os nossos militares em África sejam considerados criminosos, como ficámos recentemente a saber neste blogue, segundo o escritor Mário Cláudio,que afirma que na nossa Guiné "se esmagava o crânio dos meninos negros nos capôs dos Unimogs" e "se esfaqueavam negras grávidas, arrancando-lhe os filhos do ventre.", militares criminosos que, segundo Mário Cláudio, depois recebiam as mais altas condecorações nacionais. Estas tenebrosas fake news circulam pela sociedade portuguesa.
Com qualidades e defeitos, como de resto todos os povos, inclusive os que colonizámos,temos sido no essencial um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697) "Tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer", gente muitas vezes à deriva pelo mundo, que partiu de uma pátria pobre e quase isoladana Europa, mas com pessoas que, na sua esmagadora maioria, têm sido dignas do seu destino e úteis no crescimento e desenvolvimento das desvairadas terras por onde se fixaram. Não gosto de quem despreza o chão que o viu nascer,de quem se entretém a arrancar as suas raízes para as lançar na fossa fétida do tempo.
Não tenho consciência de culpa por crimes que nunca cometi.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valdemar Silva disse...

Graça Abreu
Voltamos ao mesmo e à Lei de Talião.
Salazar condecorou um militar, num 10 de Junho, na Praça do Comércio, em Lisboa, que era conhecido pelo 'olho por olho, dente por dente', que podia muito bem ser o tal 'Cap. Garcez' do livro do Mário Cláudio.
Este 'Cap. Garcez', e os seus métodos, era muito badalado nesses tempos, e até se dizia que 'com 100 destes nunca perderíamos qualquer guerra'.
É tabu falar disto?
Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

Caro Valdemar

Não é tabu falar do que quer que seja. Todas as guerras são sujas, de parte a parte.
Mas estamos ou não na presença de fake news?
Se sim, está tudo esclarecido, pura aldrabice, se não será bom que quem testemunhou
o que aconteceu diga onde quando e como aconteceu, na nossa Guiné.Eu nunca ouvi falar no cap. Garcez, nem nestes crimes macabros.
Se não explicam, estamos na presença de tenebrosas invenções.
Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Caro Graça Abreu
No nosso tempo não havia fake news. e o 'olho por olho, dente por dente' existiu.
Volto a pensar que o tal 'cap. Garcez' é personagem para a Guiné, Angola, ou Moçambique. É personagem da guerra suja que há em todas as guerras e nós também a tivemos.
Quer dizer se em 1969-70 '....inserida nas mentalidades e práticas da sua época..' o livro poderia abordar a questão (se passasse na censura) que não mereceria o teu comentário.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz