sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21435: Fotos à procura de... uma legenda (132): O sapador só se engana três vezes: a primeira, a única e a última (António J. Pereira da Costa)


Guiné > Região de Quínara > São João  > CCAÇ 423 (1963/65) > c. 1964 >  O fur mil Arménio Dias de Almeida a levantar uma mina A/C... Será morto, por ferimentos em combate (, não sabemos em que circunstâncias), na zona de São João- Nova Sintra, em 9 de janeiro de 1964. Estas podem ser das últimas fotos dele, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do nosso camarada António J- Pereira da Costa, cor art ref (*):

Isto é um bocado o jogo do gato e do rato. Só as minas metálicas , como é o caso da que figura nas fotos é detectável com o detector. Ouve-se um ruído constante nos ouvidos que aumenta logo que surja o campo magnético criado pela mina.

As minas de madeira de fabrico soviético ou as de plástico de fabrico na Itália ou nos "países de Leste" não são detectáveis pelo detector.

O método da "pica" passou a ser o único que funcionava quer fossem minas A/P ou A/C e era necessário que não se fizesse muita força ao carregar no solo. Ouvia-se também um som cavo e o terreno era "mais dura" uma vez que não permitia a penetração da ponta da pica.

Chamo a atenção para a utilização de uma pá  [4] para afastar a terra à volta da mina. É um erro técnico uma vez que algumas (todas as) minas [1] era armadilháveis e funcionariam logo que removidas - lembro o caso do Cap Guimarães (CArt 1690)- e podiam matar quem estivesse próximo.

Os ingleses sempre defenderam o princípio "uma mina, um homem" para evitar que a explosão atingisse mais de um combatente, pois nesse caso a mina não seria mais eficaz do que um simples tiro de espingarda...

Por fim, lembro que as minas A/C de madeira também podiam ser postas a funcionar como A/P, com umas pequenas alterações que qualquer sapador conhece.

Há mais dois erros técnicos na acção do sapador: tem as mangas para baixo [3]  e não parece estar numa posição estável [2]. 

As mangas bem arregaçadas destinam-se a sentir um eventual arame de tropeçar que o "insidioso" ali tenha colocado.

A posição do sapador tem de ser estável para que, inadvertidamente, não se desequilibre e faça um movimento errado para com a própria mina ou nas suas proximidades que também podem estar armadilhadas. Agachado, nunca! Magoou-se assim um M/A na CArt 1692.

Aconselha-se a trabalhar apoiado no quadrilátero definido pelos pés e joelhos.

O sapador só se engana 3 vezes: a primeira, a única e a última.

Claro que estamos a falar do início da guerra em que a malha das unidades era pouco densa e a nossa experiência no assunto não era grande. Estávamos a aprender por dedução e experiência e isso é sempre um período muito doloroso.

2. Comentário do editor LG:

Não sabemos se o fur mil Arménio Dias de Almeida era sapador, mas devia ter pelo menos o curso de MA [Minas e Armadilhas]. Acrescente-se às pertinentes observações do nosso Tó Zé, mais o seguinte: o quico em cima dos olhos [6] também não era boa ideia, tal como o cinturão com as cartucheiras [5].

Sempre vimos os nossos camaradas que levantavam minas, trabalhar com a faca de mato..., rentes ao chão,  deitados de bruços. Mas temos no nosso blogue outros especialistas, a começar pelo nosso coeditor Carlos Vinhal,  que podem comentar com autoridade estas fotos, e enriquecer a(s) legenda(s). (**)

(**) Último poste da série >  20 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21377: Fotos à procura de... uma legenda (125): a borboleta Almirante-vermelho europeu (Vanessa atalanta)...que, para fugir do frio, chega a percorrer distâncias até 2 mil quilómetros

12 comentários:

Abilio Duarte disse...

Olá Luís ,
Tirei o meu Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Artilharia, no Verão de 1969, antes de formar a Companhia que iria para a Guiné.

O que aprendi, eu e os restantes camaradas, foi deveras importante, pois, para um rapaz de cidade, aquilo parecia só existir em filmes.

No entanto além das aulas teóricas, tínhamos sempre aos sábados, no Castelo de Almourol , exercícios práticos, onde desenvolvíamos as nossas capacidades e aptidões para o oficio.

Na Guiné, felizmente nunca tive a ocasião de desmontar qualquer mina, pois todas as operações em que estive empenhado através da Cart.11, havia sempre alguém de um pelotão de sapadores que tinha essa função.

No entanto montei muitas minas antipessoais, nas cambanças do Rio Corubal, a Sul de Piche, e os fornilhos, que envolviam a segurança próxima de Paunca.

Aconteceu, que em 20.07.1970, ao socorrer uma tabanca, que tinha sido atacada pelo PAIGC, e que fomos at´w lá em socorro dos feridos, o meu Pelotão, ao entrar na mesma, o Soldado Aladje Silá que ia á minha frente acionou uma mina, e foi um pandemónio, só visto.

Infelizmente como já era de madrugada e não havia apoio aéreo , ele acabou de falecer.

Hoje quase todos os dias recordo aquela cena, em que me envolvi e fiquei todo queimado, devido á explosão e ao calor da dita, e reconheço, que deveriamos ter picado o caminho entre a mata e a tabanca, para verificar, se o PAIGC, quando se foi não teria deixado alguma recordação e foi o que aconteceu.

Mas ainda ontem estive, em Pedrouços, no Monumento aos Combatentes, e em frente ao nome dele, lhe prestei as minhas homenagens.

Por hoje é tudo, abraço.

Abílio Duarte

Nau disse...

Fui furriel miliciano sapador de infantaria (Batalhão 2892, Guiné, 1969-71 - Aldeia Formosa, Nhala, Buba), especialidade no CISMI de Tavira.
A abordagem do furriel à desmontagem da mina também não parece nada correta, pelos motivos apontados: as mangas em baixo, o empecilho do cinturão com as cartucheiras, a posição do corpo, a pá (?!!!). Desmontar uma mina (ainda por cima as anti-carro, frequentemente armadilhadas) nestes descuidos, era meio caminho andado para se ficar reduzido a picadinho. Como ficou o desditoso furriel Ferreira, da companhia 2616 do meu batalhão (sediada em Buba), que ignorou os avisos, lá de longe, do alferes do pelotão: «Tem cuidado, Ferreira, que essa merda pode estar armadilhada!», quando, em dia de coluna, procurava desimpedir a estrada Aldeia-Buba de um destes engenhos. Ao que contavam os assistentes à tragédia, o Ferreira (atirador com curso de minas e armadilhas tirado em Bragança) escavou à volta da mina com a faca de mato, como se deve fazer, enfiou a mão por baixo para ver se detetava algum fio, e hesitou. A coluna vinha a caminho e ele sentia-se pressionado, tinha de limpar o caminho. Agarrou na mina uma primeira vez e fez menção de a levantar; fê-lo uma segunda vez e continuou a hesitar. O alferes voltou a avisá-lo. À terceira, contavam, terá gritado: «Foda-se, ou ela ou eu!». E puxou a mina para si. A mina estava armadilhada. Diziam alguns que tiveram a sensação de vê-lo subir no ar e depois desfazer-se. O bocado maior que encontraram dele (um mocetão que pesaria à volta de 80kg) foi um pedaço da coluna vertebral, transportada para Buba dentro de uma caixa de ração de combate, e o que os pais receberiam dentro da urna que lhes enviaram.
Aquela mina e as outras anti-pessoal que o Ferreira desmontou naquele fatídico dia, eram para mim (era a minha vez), que estava em Bissau de regresso da licença na Metrópole, quando recebi a notícia. Daí a uns dias, fui mandado a Buba como comandante da coluna de reabastecimento. A certa altura dos 30Km que mediavam de Aldeia a Buba, a coluna parou. Preparei-me para a batalha, uma vez que não estávamos muito longe do carreiro de Uane, onde um ou dois bi-grupos do PAIGC passavam constantemente. Não era isso. Era o pessoal a homenagear o Ferreira. Nas árvores por cima do local onde se dera a explosão, farrapos da farda do Ferreira, pendurados nos ramos, pareciam acenar-nos. Comover-me-ei até ao último dos meus dias, cada vez que penso/falo nisto. Descansa em paz, Ferreira.

Juvenal José Cordeiro Danado

Valdemar Silva disse...

Duarte
Recordas-te daquela mina com a nossa GMC na estrada pra Cabuca ou Canjadude que eu já referi?
A GMC era a 'rebenta minas' com o tejadilho cortado e com sacos de areia na cabine a proteger o condutor, sem mais ninguém na viatura . Naquele dia não houve picagem, passou o rodado da frente e a mina foi accionada com as rodas (duplas) de trás. Morreram as mulheres que iam sentadas à pendura e o Pais (Trms.) que ia no Unimog a seguir foi atingido numa perna tendo morrido esse condutor do Unimog. Lembro-me que foi com a traseira da própria GMC colocada em cima da frente do Unimog com o motor estragado que as duas viaturas chegaram ao nosso Quartel.
Da outra vez na estrada para Cabuca, quando a coluna parou avisada pela milícia por causa da detecção da mina, recordo-me, depois, de ver o 'sapador' (não me lembro quem) deitado no chão a escavar com a faca de mato, meter a mão por baixo e a seguir tirar o caixote.
Nesta fotografia, o sapador com uma pá das obras mais parece estar a tirar uma fotografia para o álbum.
Na mina em morreu o nosso soldado Aladje Silá e tu quase que lerpavas, eu estava por cá em férias.
Como as nossas cabeças já não são o que eram dantes e com o covid, esqueceste-te que no Verão de 1969 estavas na quando muito a visitar, não no Tejo, mas junto ao Geba o Castelo de San Pichel.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiro

Hélder Valério disse...

Meus caros amigos

A foto e os comentários pertinentes a propósito dela são de facto de modo a causar perplexidade.
Tenho ideia que a instrução dos "sapadores" era séria. Era para levar a sério.
Fiz o meu estágio de transmissões do STM no respectivo posto de Tancos e convivi um pouco que alguns dos que no período em que lá estive estavam, por sua vez, a fazer a formação.
Acredito que após algum tempo de "experiência" no mato, sem qualquer problema, um ou outro "sapador" possa ter entrado em facilitismo. Isto em abstrato, pois custa-me a aceitar essa atitude como "natural".

Acho agora que a foto e as apreciações que por aqui foram feitas se devia constituir em "case study" em futuras formações.

Por outro lado, ainda, ao ler os relatos de situações fatídicas nos comentários acima não se pode deixar de ficar com um "nó na garganta", mesmo decorrido todo este tempo.

O Juvenal Danado, de que costumo ler os seus artigos no jornal regional cá da terra (mas não só) "O Setubalense", faz aqui uma sentida homenagem a mais um dos nossos camaradas vítimas das minas, o Ferreira, e não se pode ficar indiferente aos sentimentos que ele revela e que, penso, serão comuns a muitos de nós.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Gostava de convidar o Juvenal para integrar a nossa Tabanca Grande. Vejo, por uma rápida pesquisa na Net. que é (ou foi) professor e colabora, com alguma regularidade, em "O Setubalense", o diráio da região.

Vê também no portal UTW - Ultramar Terra Web, Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, o seguinte apelo:

"Procuro pelos meus camaradas-de-armas do Pelotão de Sapadores e da Companhia de Comando e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 2892 'POUCOS QUANTO FORTES'. Serviram Portugal na Guiné, no período de 1970 a 1971"... Seguem-se os contactos: email e telefone...

http://ultramar.terraweb.biz/JuvenalJoseCordeiroDanado_BCac2892_2015_03_18.htm

Pode ser que o Hélder Sousa nos arranje mais um tabanqueiro... Gostei muito de ler o seu comentário que de resto não é o primeiro, assinado por NAU.

Nau disse...

Eu acho que faço parte da Tabanca Grande, desde que a descobri, caro Luís. Peço desculpa pelo atrevimento, mas não sabia que era necessário ser convidado.
Não sei se já o disse no pouco que por aqui comentei, mas este blogue presta um serviço inestimável a todos quantos passaram alguns dos melhores anos da sua mocidade na Guiné-Bissau, numa guerra que poderia ter sido evitada, evitando tanto sofrimento.
A Tabanca Grande é um cantinho onde nos podemos encontrar como num recanto confortável de um café, entre amigos, e partilhar as nossas experiências e mágoas. Grande trabalho, Luís. As minhas felicitações e os meus agradecimentos. Um grande abraço, alargado a todos os companheiros, os que aqui escrevem e todos quantos passaram pela Guiné.

Luís Dias disse...

Olá Luís

A maior parte da detecção de minas implantadas pelo IN era feita nas nossas picadas/estradas, onde eram colocadas minas anti-carro simples ou reforçadas e com a colocação, muitas das vezes, de minas AP, em redor do local da colocação da mina AC.
Na maior parte das zonas da Guiné a detecção era feita manualmente com o recurso à utilização de varas de ferro (as picas), com as quais se batia (sondava) o terreno da estrada, essencialmente na zona dos traçados a percorrer pelas rodas das nossas viaturas, isto no que concerne a percursos em estrada, porque nos trilhos a sondagem por meio de facas de mato era mais indicada.
Quando era detectada uma mina AC, a mesma era sinalizada e o pessoal assumia posições defensivas, a distância segura do local, enquanto o sapador, ou o especialista em minas e armadilhas, assumia o controlo da situação. Verificava-se, com recurso a uma faca de mato, se a mesma estava armadilhada lateralmente, depois escavava-se uma espécie de rampa, enrolava-se uma corda em seu redor e a uma distância entre os 30 a 50m, ia-se puxando a mina até que a mesma ficasse ao nível da picada e depois de se aguardar um pouco e haver segurança para levantar a mesma, esta era neutralizada, após repor as seguranças próprias. Quando se verificava que a mesma estava armadilhada, a melhor solução era a colocação de uma pequena carga junto da mina e fazê-la explodir à distância por simpatia.

Abraço
Luís Dias

Luís Dias disse...

Cont....

Embora não tivesse a especialidade de minas e armadilhas aprendi com os camaradas da companhia que desempenhavam esse papel e cheguei a desarmar uma mina AC e a montar furnilhos.

Algumas regras a seguir eram:
Embora não fosse de minas e armadilhas cheguei a desarmar minas AC e a montar fornilhos e os conselhos nesta área eram:
ACÇÕES A EFECTUAR NO LEVANTAMENTO DE MINAS:

1.Uma sondagem ou procura cuidadosa em torno da carga é necessária para localizar e neutralizar todos os dispositivos anti-remoção. O reconhecimento do tipo de disparador usado é necessário para evitar baixas. Todos os dispositivos de segurança devem ser recolocados. Se houver dúvida quanto à completa neutralização, a carga deve ser puxada por uma fateixa ou corda de um local seguro. Após a carga ser puxada, o operador deve esperar pelo menos 30 segundos como uma salvaguarda contra um accionador por meio de um disparador escondido.
2.Um reconhecimento perfeito do esquema da mina ou armadilha deve ser obtido antes de ser tentada qualquer neutralização.
3.Ter muito cuidado ao manusear mecanismos de retardamento. Embora possa haver pouco perigo antes do tempo determinado, disparadores auxiliares podem existir. Todos os accionadores complexos devem ser destruídos no local ou marcados para manuseio por especialistas.
4.Recipientes de explosivos, de madeira ou papelão, enterrados por longos períodos são perigosos para o manuseio. São também extremamente perigosos à sondagem, se estiverem num avançado estado de decomposição. Altos explosivos deteriorados são muito susceptíveis à detonação. Assim, a destruição no local de uma armadilha, numa área restrita, exposta à humidade, pode detonar muitas simultaneamente.
5.Recipientes metálicos de explosivos, enterrados por tempo prolongado, são freqüentemente perigosos à remoção. A oxidação pode torná-los resistentes ao manuseio. Após certo tempo o explosivo pode tornar-se contaminado, aumentando o perigo do manuseio. Os explosivos que contêm ácido pícrico são, particularmente, perigosos porque a deterioração proveniente do contacto com o metal formam sais extremamente sensíveis à detonação por ocasião do manuseio.
6.Espoletas de certos tipos tornam-se extremamente sensíveis ao movimento quando mantidas em solo húmido. O único método seguro para neutralizar ou remover tais armadilhas deterioradas é a detonação no local

Um dos métodos mais conhecidos anti-remoção de minas AC por parte do PAIGC era a colocação de uma outra mina por baixo da que fosse levantada, ligadas por um disparador de tracção (normalmente o MUV), um accionador de tração, de modo a que a mina de baixo expluda quando se levanta a de cima (método russo). Outro era o método checo, com recurso a um disparador de tracção RO-1, ancorado a uma estaca sob a mina e introduzido num orifício no fundo do invólucro da própria mina ou na lateral da mesma. Também podiam usar por baixo da mina uma granada defensiva que actuaria por descompressão ou uma granada de morteiro transformada, substituindo-se a espoleta por um disparador de tração e um conjunto destruidor adequado, ou, por um accionador, um pedaço de cordel detonante, adaptador de escorva, espoleta comum e o destruidor. Se um destruidor não for suficiente, o cordel detonante e a espoleta comum serão colocados no orifício da espoleta com o explosivo. No entanto, muitas das vezes, o IN usava diversos tipos de granadas (de mão, de morteiro, de basuca, munições diversas e bombas de avião), mais como reforço do efeito natural da mina.
Abraço a todos os camaradas.

Luís Dias Ex-Alf Milº CCAÇ3491-Guiné 71-74

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Segundo o relatório sobre o lançamento de um campo de minas, o sapador deveria estar "bem comido, bem dormido e não ser incitado a apressar-se". Cito de memória, uma vez, que em 1978/79, decidi não mais estudar nada sobre M/A e já não tenho o "Manual" em dois volumes - um mais espesso e outro, de actualização, mais fino - o que determina que já esqueci muita coisa e não posso rever. Dediquei-me as estas artes durante 9 anos.

As M/A evoluíram muito, como sabemos, com recurso a uma coisa que começava a dar os primeiros passos, naquele tempo: a electrónica e telecomunicações.
No Minha Guerra a Petróleo falo do Ramos (meu fur. M/A) que, quando íamos "às minas", preferia não dormir. Quanto ao bem comido, comia-se o que se podia, mas todos sabemos que o nosso discernimento e concentração baixam com a descida do teor de açúcar no organismo.
Além disso, o trabalho dos sapadores é, por definição, lento, por cuidadoso, e obrigar o sapador a apressar-se é erro técnico de quem manda. Julgo que o sapador deverá poder fazer as pausas que quiser e quando quiser. É um trabalho de concentração que, como se sabe, não é constante. Infelizmente, no nosso tempo estes pequenos detalhes escapavam um pouco.
Por fim, quero lembrar que "a bebedeira da pólvora" é má conselheira em todas das actividades relacionadas com o combate e tornar a inactivação de uma bomba (a menos que seja uma bomba de categoria A) um duelo entre o engenho e o homem nunca pode ser opção.
Mas as decisões tomam-se a quente e os erros pagam-se (muito) caros.

Um Ab.
António J. P. Costa

Hélder Valério disse...

Caro Luís Graça

Como disse, há alguns textos de memórias do Juvenal Danado relativas à participação na guerra da Guiné que li n "O Setubalense" e que seriam interessantes se pudessem ter também por aqui a sua visibilidade.
Já fiz uma ou outra tentativa de chegarmos à fala mas não resultou.

No entanto li agora no comentário mais acima que o Juvenal considera "pertencer à Tabanca Grande desde que a descobriu". Nada mais verdadeiro. Foi um sentimento semelhante que me assaltou quando, por via do livro do Graça de Abreu (o meu "padrinho"....) descobri o site do Blogue e o fui lendo até que pedi para ser aceite, formalmente.

Portanto, caro Juvenal, não é necessário convite, basta querer.

E isso acontece, primeiro pela adesão emocional, depois consciente.
Não sendo necessário "convite" será então preciso manifestar a vontade e cumprir alguns, pequenos, pormenores: pequeno relato do percurso militar para nos (re)conhecermos, com o tempo passado na Guiné e a(s) Unidade(s) e locais onde se esteve (parece que já se sabe), foto actual (para reconhecimento), foto (uma qualquer) do tempo da Guiné e um ou outro contributo de memória (também dos publicados no Jornal é só escolher...).

E pronto, os dados estão lançados!

Hélder Sousa

Unknown disse...

Ao ler sobre esta temática das M/A, veio-me a memória a recordação de um Amigo que, sendo ele já Alf. Mil. no Regimento de cavalaria 3, em Estremoz (cidade onde passei a minha infância e adolescência), não seria já mobilizado. Foi em Estremoz, como digo que tive a honra de o ter conhecido e o gosto por termos sido Amigos.

Talvez pelo ano de 1967 ou 1968, o Morgado, era o instrutor do Regimento em M/A. Dando instrução nesta matéria aos pelotões que compunham os Batalhões e as Companhias que por ali Iam sendo mobilizamos para as várias colónias ou PU, como queiram.

Junto à ribeira de Tera, perto da cidade, instrução de M/A a um ou dois pelotões, o pessoal disposto em círculo e um dos cabo mil. de M/A, inadvertidamente ou por inexperiência, espoletou a mina A/C que servia de modelo.

Segundo o relatado posteriormente por quem lá estava, Quando aquele meu Amigo se apercebeu do erro do instrutor, atirou-se para cima da mina e, com esta sua acção minimizou os danos abafando o engenho com o seu corpo, e houve feridos, não me recordando já se mais alguém morreu, para além dele, que ficou em pedacinhos.

Para mim foi e sempre será um verdadeiro e saudoso Herói.

Creio que, com toda a justiça, o nome dele figura no memorial existente na parada principal do RC3. Mas irei confirmar um destes dias.

Será que algum Camarada se recorda deste episódio? Seria aquela instrução dirigida a pessoal a caminho do CTIG?

Já quando eu estava na EPA 1973, salvo erro, aqui em Évora, no RAL 3, ocorreu um erro idêntico que teve um desfecho bem mais fatídico -7 ou 8 mortos e uns quantos feridos. Instrução de M/A no interior de uma sala. Pasme-se.

Com amizade e camaradagem.

Joaquim Sabido
Évora

Abilio Duarte disse...

Depois de ler estes relatos, desconhecia que se dava instrução de Minas e Armadilhas, fora da Escola Prática de Engenharia.

Mas admito que para o fim dos anos de 72/73, quando a necessidade se formar pessoal era imensa isso acontecesse.

Agora dar aulas práticas, em salas, não lembra ao diabo.

Eu, no nosso tempo, era no Castelo de Almourol, e já não era para brincadeiras.

Abraço
Abílio Duarte