sábado, 22 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25672: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IV: o momento alto, a inauguração da escola de Boebau, Manati, nas montanhas de Liquiçá, em 19 de março de 2018


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA) > 19 de março de 2018 > A população recebe o Embaixador de Portugal em Timor-Leste José Pedro Machado Vieira e outros convidados durante a cerimónia da inauguração da nova Escola, que a população de Boebau chama agora “sua”.


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA) > Março de 2018 > Quando as pessoas sonham, a obra nasce. Alguns dos responsáveis pela ideia e pela obra da nova escola de Boebau: da esquerda para a direita, Rui Chamusco, João Crisóstomo e Gaspar Sobral.
 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Rui Chamusco passou a integrar desde 10 de maio último a nossa Tabanca Grande (*). É cofundador da ASTIL, com a sua conterrânea,  Glória Lourenço Sobral, professora do ensino secundário,  e  com o marido desta, Gaspar Costa Sobral,  luso-timorense que, em Angola, antes da independência, foi topógrafo, e é hoje formado em  direito.

A ASTIL é a sigla da Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, criada em 2015. Entre outros projetos desenvolvidos pela ASTIL,  destaque-se a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá (pré-escolar e 1º ciclo) e o apadrinhamento de crianças em idade escolar. (Havia, então, em Boebau,  150 crianças sem acesso à educação.)

O Rui, professor de música, do ensino secundário, reformado, natural do Sabugal, e a viver na Lourinhã, tem-se dedicado de alma e coração a este projeto no longínquo território de Timor-Leste. 

 Desde a sua primeira viagem a Timor-Leste, no 1º trimestre de 2016, que ele vai escrevendo umas "crónicas" para os membros da ASTIL e demais amigos de Timor Leste.  

Temos estado a recuperar essas crónicas, agora as da segunda estadia, em 2018 (**).

Em Dili ele costuma ficar na casa do Eustáquio, irmão (mais novo) do Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família durant três anos e meio,. refugiados  nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação da Indonésia(em 7 de dezembro de 1975).

 Em 2018 o Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro,  com o Gaspar Sobral, numa acidentada viagem de 3 dias... O João Crisóstomo também partiu de Nova Iroque, em 2 de março, para  se juntar, ao Rui e ao Gaspar Sobral,  na sessão da inauguração da Escola,  em Boebau, em 19 de março de 2018. Regressou a Nova Ioque em 28.




Lourinhã > 2017 > Rui Chamusco e Gaspar Sobral.  A família Sobral tem um antepassado comum que foi lurai, régulo, no tempo dos portugueses. As insígnias do poder (incluindo a espada) estão na posse do Gaspar, que vive em Coimbra.  A família Sobral andou vários anos pelas montanhas de Luiquiçá e de Ermera, tentando escapar à tirania dos ocupantes indonésios. O Gaspar esteve 38 anos fora da sua terra, só lá voltando em 2016, com o Rui.

Foto: Luís Graça  (2017)


1. Esta é a segunda viagem e estadia do Rui Chamusco (de 27 de janeiro a 14 de junho de 2018) (*), em Timor Leste, uma missão solidária que culminou com a inauguração da Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em 19 de março de 2018, em Boebau, Manati, nas montanhas de Liquiçá.

O Rui Chamusco, nosso grão- tabanqueiro nº 886, é professor de música, do ensino secundário, reformado (e homem de sete instrumentos), natural da Malcata, Sabugal, a viver na Lourinhã.

O Rui tem-se dedicado de alma e coração a um projeto de solidariedade no longínquo território de Timor-Leste (a 3 dias de viagem, por avião, a cerca de 15 km de distância em linha reta).

É cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, com sede em Coimbra. Juntamente com outros destacadas figuras, como o Gaspar Sobral (nascido em Timor) e a Glória Sobral (natural da Malpaca, Sabugal).

Através da família Sobral, um exemplo de "resistência e resiliência", e das crónicas do Rui, vemos seguramente melhor Timor-Leste, de ontem e de hoje: uma visão macro e micro. Enfim, um privilégio, para os nossos leitores. E um obrigado ao nosso cronista, extensivo ao Gaspar, ao Eustáquio,à Aurora, à Adobe e outros protagonistas destas histórias luso-timorenses.

Estas crónicas tem um enorme interessante para se conhecer o que é hoje a República Democrática de Timor Leste,  país membro da CPLP, com o qual mantemos laços históricos, e sobretudo afetivos, tal como mantemos  com a Guiné-Bissau e outras antigos territórios que estiveram sob a administração portuguesa em África e na Ásia (LG).



II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)
 
Parte IV - Momento alto: a inauguração da nossa escola



16.03.2018, sexta feira - A caminho 
de Boebau


O dia da inauguração da escola aproxima-se, os preparativos para a festa estão em andamento, o regresso a Boebau é necessário. No jipe Pajero do Abeca seguem as nossas “bagagens” e outros pertences (acordeão, mochilas, sacos de comida, esteiras, etc...). 

A Marcelina e a Zaida seguem na viatura umas quantas horas antes. Eu e o
Gaspar partiremos mais tarde nos “motores” (motorizadas) que o Eustáquio e o António estão cuidando para a condução. Daqui a mais ou menos três horas, se tudo correr bem, estaremos em Boebau.


Chegada a Boebau


Ainda as motas não tinham parado quando, ao longe, se ouvem vozes e instrumentos em perfeita simbiose. Eram os jovens e as crianças de Boebau que ensaiavam os números musicais e as danças para participarem na festa da inauguração. Não imaginam a emoção que se apoderou de mim. Fomos recebidos com grande regozijo e, depois de efusivos cumprimentos, fizemos as arrumações devidas para a nossa “instalação” nas dependências da escola.

Daqui até ao dia da inauguração foi um frenesim e um stress crescente para que nada faltasse, para que as pessoas convidadas se sentissem entre nós o melhor possível. Mais isto, mais aquilo; vamos ali, vamos acolá; contactos, telefonemas...e eu sei lá quanta coisa mais. Sempre com a preocupação de fazer as coisas bem, de estar presentes em tudo, de agradecer toda a simpatia e colaboração neste evento.

Até às tantas da noite, aí estivemos entre cânticos de alegria, antecipando a festa que se prepara. E mais uma vez constato o velho ditado “ o melhor da festa é esperar por ela”.

Assim foram estes três dias de preparação.

18.03.2018 - Preparando...

Logo de manhã, acompanhados do chefe da aldeia, o amigo Laurindo, fizemos um pequeno passeio a pé até à casa do chefe da aldeia, uma pessoa calma, com postura física que invejo, e com uma presença tranquilizante. Recebidos no terraço com o café da manhã, ali se foi juntando um pequeno grupo dos que iam passando. Entre eles o secretário do chefe da aldeia que, imaginem só, tem de ordenado sete dólares por mês.

Fiquei impressionado com esta disparidade salarial, sem saber o que pensar e o que dizer.  Consolou-me ao menos o saber que o nome das plantas envasadas que vão ser levadas para ornamento da escola no dia da inauguração se chamam “ondas de amor”.

Logo ali ao lado, do lado esquerdo de quem desce, em terreno que estávamos pisando, fui informado que toda a paisagem que avistávamos foi o campo de batalha na invasão indonésia. E um dos presentes, guerrilheiro de então, indicava com precisão os lugares dos combates. Sentimos fortes emoções mas ao mesmo tempo uns privilegiados ao partilharem connosco estas vivências.

 Rituais

Ao princípio da tarde eu e o Gaspar fomos alertados de que os “anciãos” iriam fazer um ritual da cultura timorense, e que gostariam que nós também participássemos. Trata-se de expurgar as forças negativas e de pedir a proteção dos antepassados para a nossa escola.

Claro que acedemos de imediato, até porque no dia da inauguração haverá uma
cerimónia de rito cristão: celebração da missa.

À hora indicada, lá estávamos nós na casa do sr. Bôzé, em sítio reservado para tal: o Gaspar, eu, Bôzé, mais três anciãos. Não entendi nada das preces que foram feitas, mas segui à risca o que me era pedido, com muito respeito e alguma ansiedade. 

Depois do ritual cumprido saímos deste local de culto em direção à escola. Aí chegados assistimos ao segundo ritual que consiste em juntar uma amostra de cada material empregue na construção da escola (um pedaço de zinco, uma mão cheia de cimento, um bocado de madeira, etc.).  Ao lado estão folhas de betel, umas moedas e uma nota, uma pinga de água e uma galinha. Trata-se de saber o futuro desta escola.

Depois de umas quantas rezas feitas pelos anciãos, foi morta uma galinha e foram-lhe extraídas as entranhas para, através da sua análise, conhecer o futuro desta escola.

Depois de nos informarem de que é um futuro promissor, e depois de examinarem o fígado da defunta, mostram-nos os seus contornos e afirmam sem hesitar “ está aqui a dizer que ainda vão construir mais escolas”. 

Fiquei perplexo pois eles, sem qualquer fonte de informação sobre os projetos da ASTIL (a nossa associação) vêm de encontro ao nosso desejo de construção de mais duas escolas em zonas carenciadas, na diocese de Baucau e na diocese de Dili.

Acreditemos ou não, estamos muito gratos a estes anciãos que de esta forma nos
quiseram transmitir os seus valores culturais. Por isso também o nosso respeito e consideração. Obrigado pelo vosso empenhamento e sobretudo pela vossa amizade.

Estamos convosco!...




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2024 > A Escola de 
São Francisco de Assis (ESFA) , foi inaugurada em 19 de março de 2018...  


Foto (e legenda): © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


19.03.2018, domingo - Dia da 
Inauguração

Um dia já passado depois da inauguração da Escola de São Francisco em Boebau, e depois de retemperadas as forças físicas, cá estamos para vos darmos as notícias ossíveis.

Antes de mais queremos agradecer todas as mensagens de congratulação pelo evento. Gostaríamos de agradecer pessoalmente, mas compreendam que nos é quase impossível.

Este dia memorável para todos nós, e particularmente para as gentes de Boebao/Manati, foi vivido com muita intensidade, quase até ao limite das nossas forças físicas. Eu não sei como foi possível, em terras de montanha, tanta resistência durante quatro dias. Sei que a proteção divina nos acompanha e disso temos provas concretas; sei que São Francisco de Assis e a Senhora de Fátima estão connosco; sei que o apoio dos amigos e amigas do Projeto de Solidariedade nos dá muita força, mas sem a “mãozinha de Deus” nada seria possível e teríamos sucumbido.

A presença física de entidades importantes: 

  • o Embaixador de Portugal em Timor, 
  • o Representante da Santa Sé em Timor, 
  • o Diretor Regional da Educação, 
  • o Diretor da Escola Rui Cinati em Dili, 
  • a representante da Fundação Oriente, 
  • o gerente e sub gerente da Caixa Geral de Depósitos /BNU, 
  • o Chefe de Polícia do Posto de Liquiçá, 
  • o chefe de suco de Leotalá, 
  • os chefes de aldeia de Manati e de Boebau, 
  • a reportagem televisiva da RTTL 
  • e mais presenças que não consigo identificar foram para nós uma honra e um estímulo muito grande. 

Fomos alvos de elogios não merecidos, que muito agradecemos, e aos quais eu respondo sempre com a frase de São Francisco que, já no final da sua
vida nesta terra, juntou os irmãos e lhes disse: “Irmãos, comecemos porque até agora pouco ou nada fizemos”.

Apraz-me relatar o entusiasmo, a participação, a colaboração de toda esta gente que tudo fez para que este dia fosse uma grande festa, com música, artes decorativas, rituais e cerimónias religiosas e pagãs que muito nos sensibilizaram. Este povo é muito agradecido. E ouvir o nosso nome sempre que encontramos alguém, sobretudo crianças, “Bom dia Tiu Rui, Bom dia Paicasa (é o Gaspar), Bom dia Painino (é o Eustáquio ou João Moniz) sabe melhor do que qualquer agradecimento.

A escola foi inaugurada, e toda a gente se pergunta: E agora, como vai ser? Quem vai garantir o seu funcionamento? Para tranquilidade de todos queremos informar que hoje já começaram as atividades. Ontem mesmo, celebramos um acordo com a professora Rita para dar aulas na nossa escola. Mais ainda informamos, que logo alguém se ofereceu para pagar o seu ordenado até Dezembro, final do ano letivo em Timor Leste.

Entretanto, enquanto por cá estivermos, eu e o Gaspar assumimos o compromisso de periodicamente ir até Boebau para darmos cursos intensivos de Português e de Música. Estas são duas disciplinas de referência na nossa escola que já estão a cativar crianças e adultos até de outras localidades.

A outro nível, estamos a angariar apoios junto das entidades competentes,
nomeadamente no Ministério da Educação e na Embaixada de Portugal, para angariar professores e apoios económicos em ordem ao começo do novo ano letivo, de modo a começar a desenvolver o currículo do Ministério da Educação. A Luta não para, continua...

Nas últimas palavras que publicamente proferi, disse: 

(...) "A escola de São Francisco de Assis está inaugurada. Esta escola não é minha, nem do Gaspar, nem do João Crisóstomo, nem da Astil. Esta escola é vossa, das vossas crianças, do povo de Boebau/Manati. Cuidai bem dela, como um presente caído do céu, e que seja o local de aprendizagens e conhecimentos para vós e os vossos filhos, que vos permitam ser
melhores”.  (...)

Este é o nosso grande desejo!...

Algumas fotografias documentam momentos do dia da inauguração. Compreendam que, por estas vias de comunicação não nos seja permitido partilhar todo o dossier existente. A quem o desejar daremos mais pormenores.

Obrigado mais uma vez por estarem connosco neste projeto de solidariedade. Esperamos que, tal como nós, sintam alegria e orgulho de termos sido escolhidos por Deus para cumprir esta honrosa missão. Desde Timor, um grande abraço para todos, e que Deus nos abençoe!..



21. 03.2018, terça feira - Os horrores e as marcas da guerra


Sem contar, o Dr. Ascenso, o Amali e eu fomos almoçar ao Boca Doce, um pequeno restaurante perto do Hotel Plaza frequentado por ”gente de peso”. Talvez por ser já um pouco fora de horas, poucos clientes ainda estavam a almoçar. Mas foi o suficiente para me dar conta de gente muito importante 
que o Ascenso cumprimentava, desde 
dirigentes políticos e militares, Reitor 
da Universidade etc, etc... 

Já no final da nossa refeição, juntou-se a nós o patrão que em amena
cavaqueira foi fazendo comentários às solicitações interloquiais. Foi então que me dei conta da dor e do sofrimento que alguns (muitos) timorenses passam ao relatar episódios da guerra pelos quais tiveram de passar e que deixaram marcas indeléveis.

Recordava-se a vala de Aileu, para a qual foram atirados milhares de corpos, e da recuperação dos restos mortais que ali jazem. 

O sr. Santos contava então que o exército indonésio recheado de militares timorenses e chineses, esperaram que o grupo de prisioneiros acabasse de rezar o terço para depois dispararem sobre eles e acabassem por cair na vala que eles próprios escavaram. Depois de fazerem a última prece, o orientador da reza virou-se para os militares e disse: “estamos prontos.Podeis disparar”. 

O primeiro a disparar devia ser um soldado timorense que, na primeira linha, apontou a arma mas não teve a coragem de matar os seus irmãos timorenses e deixou cair a arma do crime. Foi então que um soldado indonésio (chinês) apontou a sua arma e matou todos os que estavam à sua frente.

O senhor Santos tapava e apoiava o seu rosto enquanto contava, e era fácil
aperceber-se de quanto sofria ao recordar estes horrores de guerra. E eu, ao ter
consciência destes horrores, sou levado a lembrar-me da canção que tantas vezes ensinei às crianças, extraída do poema de Júlio Roberto “ Nós as crianças “: “Nós as crianças, queremos brincar em liberdade, em qualquer lugar. Não queremos mais o ódio, não queremos mais a guerra, não queremos mais mentira,não queremos mais miséria. Queremos pão para toda a terra. Queremos brincar ao sol, sem haver prisões, sem armas nem tiros e sem canhões.”

 Não! Guerra Nunca Mais !…


23.03.1018, quinta feira - O “avô laifaek”

Já tinha ouvido falar que os crocodilos estavam a invadir a baía de Dili: avistamentos, filmagens, relatos...mas nada que fizesse prever o que , no passado dia 18, aconteceu na baía de Tíbar. 

Uma criança de 12 anos foi atacada por um crocodilo, o “avô Laifaek”, de cujo corpo só se encontrou uma perna, supondo que todo o resto tenha sido devorado por este temido bicho que, para sua proteção a cultura timorense respeita e admira. 

A notícia ainda está fresca, e por isso os comentários e as reações a este acontecimento são as mais díspares possíveis. Uns dizem “tem que se abater o atacante: outros contrapõem “ não! É o “avô laifaek”. E neste dilema cultural, se os ataques continuarem teremos esta ilha de Timor habitada por crocodilos em vez de irmãos timorenses. 

Anteontem passei em Tíbar, e o amigo condutor chamou-me a atenção para um letreiro, não muito visível; “ Cuidado! Aqui há crocodilos”. Mas será que isto é suficiente para evitar mais tragédias? A cultura não serve também para esclarecer costumes e tradições? Não haverá meios de impedir a devastação humana? 

Dizia sabiamente o nosso José Régio “ Um homem é um homem; um bicho é um bicho”. E por muito respeito que tenhamos pela natureza e por todos os seres que habitam esta terra, requerem-se atitudes e decisões inteligentes que ponham solução a este problema. Se for necessário abater, eliminar, controlar por que não?


(...) 27.03.2018, segunda feira - Na escola do Alaka e no bairro Ailok Laran

A pedido do João, hoje fomos com ele à escola do Alaka (2 salas!) de ensino pré
escolar. Ficamos estupefactos com o que vimos: umas trinta a quarenta crianças com as suas fardas vestidas, umas três ou quatro pessoas adultas que suponho serem educadoras e auxiliares e umas instalações indignas para uma educação de tantas crianças em idade pré escolar. 

Não há casas de banho, não há água, não há sala de professores, pouco ou nada ali há de estruturas físicas. No entanto e graças à ação das educadoras, todas estas crianças têm uma educação esmerada. Sorriem, saúdam, estabelecem relações com os visitantes, recitam e rezam em grupo. Tudo muito bem ensaiado, como costumamos dizer. Foram momentos agradáveis mas que dilaceraram o coração, devido às carências que ali existem.

Depois dos mimos que lhes distribuímos, depois das fotografias que em conjunto tiramos foram as despedidas calorosas do tempo atmosférico e dos afetos. Já de saída,  chegou a diretora que nos fez o seu lamento sobre as condições do funcionamento desta escola e, claro está, o seu pedido de ajuda. 

Tivéramos nós essa possibilidade, mas não podemos chegar a todo o lado. Infelizmente, aqui como noutros lados, o Estado é rico mas os cidadãos na sua maioria são pobres. E com o argumento de que a escola é de ensino particular, pior ainda. O pai do Alaka já me tinha alertado para a falta de condições desta escola. Mas vendo o que se passa in loco é mais fácil de acreditar.

De tarde o João divertiu-se como uma criança. Quis brincar com o Alaka, tirar
fotografias, fazendo videos, jogando a bola e eu sei lá quantas coisa mais. Setenta e quatro anos a correrem atrás dos três, quatro, cinco e seis. Foram momentos hilariantes e de boa disposição que nem nós nem o João iremos esquecer. Lá diz o ditado: “De velhinho se volta a menino”. Só que nem todos os velhinhos aceitam isto.



Lourinhã (2017) > O João Crisóstomo,
 outro grande amigo de  Timor e da ESFA.
Foto: LG
28.03.2018, terça feira - Obrigado, João!

O João Crisóstomo regressou regressou hoje a New York. Esteve connosco durante três semanas, sempre em atividade (eu nem sei se ele dormia), sempre em contactos, sempre pronto a fazer fosse o que fosse em prol da educação e particularmente do nosso projeto de solidariedade.

O João falou com um grande número de personalidades importantes da vida social, política e religiosa timorense, exercendo a sua influência e credibilidade que ao longo dos anos de luta pela independência foi adquirindo e que lhe confere um estatuto de 
pessoa muito querida e estimada 
por gente de alta roda.

Bem hajas,  João,  por tudo o que tens feito por nós; por te associares de alma e coração aos nossos projetos (***); pela força e coragem que nos transmites com o teu exemplo de luta e de ajuda. Sabemos que os momentos de algum desânimo perante as dificuldades em ti se transformam em energia e que, apesar dos anos, o teu dinamismo vai continuar e empolgar todos os teus amigos. O feitiço desta terra, deste povo, destas crianças e jovens apoderou-se de ti, de nós. E por isso temos a certeza de que ainda nos voltaremos a encontrar aqui, seja quando for.

Obrigado,  João pela tua generosidade e desprendimento. Em nome do Alaka (teu afilhado, em nome das crianças com quem tu brincaste e jogaste a bola, em nome desta gente grande que adorou a tua forma de ser OBRIGADU!


[Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG]
____________

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4
 
___________

Fundadores: Rui Chamusco,
Glória Sobral e Gaspar Sobral


Programa de inauguração da Escola 
de São Francisco de Assis (ESFA)

  • Boas Vindas

A equipa de Boas Vindas - Chefe de Suco, ......Chefe da Aldeia......César Bruno, João Sobral Etelvino Colombo, João Crisóstomo, Rui Chamusco e Gaspar Sobral.


Hino Nacional de Timor-Leste seguido de hino da alegria da UE

  • Colocação dos tais - Entidades contempladas

- Chefe de Suco Leotalá - Manuel da Silva Santos

- Chefe de Posto de Liquiçá - Rogério dos Santos

- Administrador de Município - Domingos da Conceição dos Santos

- Chefe do comando geral da Polícia – Superintendente Olavo Cristóvão

- Director de Educação de Liquiçá - Zito António da Costa de Oliveira

- Ministro de Educação e Cultura - Dr. Fernando Hanjam

- Embaixador de Portugal – Doutor José Pedro Machado Vieira

- Embaixador da União Europeia – Dr. Alexandre Leitão

- Representante do Vaticano, o núncio apostólico Mario Godamo
 


  • Entidades vindas dos EUA (contempladas com tais)

- João Crisóstomo - Membro do núcleo dinamizador do Projecto de Solidariedade vindo dos EUA (membro da ASTiL);

- Ralph Niemeyer – Jornalista;

- Lucila - Assistente de Ralph Niemeyer, Jornalista e camerawoman.


  • Abertura e benção da Escola seguida de celebração da missa pelo Monsenhor..., Representante do Vaticano em Timor-Leste.

  • Momento Cultural – Abertura com o Hino da Alegria
(dois grupos de crianças irão apresentar danças e músicas tradicionais timorenses e portuguesas)

*Por Rui Manuel Fernandes Chamusco e Laurindo da Silva*

- Dança Tradicional - Dança tebe dai com crianças

- Música portuguesa - Abre a Janela

- Dança tradicional - Dança tebe

- Música no coração: Notas musicais

- Música portuguesa - A chuva

- Música portuguesa - Saia velhinha

- Música tradicional - Laurindo e acaba

  • Uma breve comunicação sobre a obra

- João Sobral, César Bruno e Etelvino Colombo farão uma breve comunicação sobre algumas etapas e dificuldades de construção da obra, antes e depois do lançamento da 1ª pedra em 28 de Julho de 2017;

- Entrega dos tais e o Rui Chamusco fará uma pequena intervenção para explicar os símbolos franciscanos em vigor nesta escola.

- Entrega das fardas por quatro entidades representativas do Governo de Timor, Embaixador de Portugal, embaixador da União Europeia, e representante da Igreja.

  • Momento das comunicações das entidades convidadas

(Quatro minutos para cada intervenção das autoridades anfitrians dando as Boas Vindas aos ilustres convidados e 40 minutos a estes últimos)

- Chefe de Suco Leotalá – Manuel da Silva Santos (3 minutos)

- Chefe de Posto de Liquiçá – Rogério dos Santos (3 minutos)

- Administrador de Município – Domingos da Conceição dos Santos (3 minutos)

- Director de Educação de Liquiçá – Zito António da Costa de Oliveira (3 minutos)

- Chefe do comando geral da Polícia – Superintendente Olavo Cristóvão (3 minutos)

- Ministro de Educação e Cultura – Dr. Fernando Hanjam

- Embaixador de Portugal – Dr. José Pedro Machado Vieira 

- Embaixador da União Europeia – Dr. Alexandre Leitão

  • Encerramento

- Palavras de agradecimento por um dos organizadores do evento.


NOTA: O presente programa pode sofrer (como sofreu...) alterações

_____________


Notas do editor:


 
(**) Úktimo poste da série > 17 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25649: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: O Eustáquio, que tinha 14 anos, andou fugido nas montanhas de Liquiçá e Ermera, com a mãe e a irmã mais nova, mais duas pessoas amigas da família Sobral, durante três anos e meio


(***) Vd. postes de:


14 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17860: Ser solidário 206): "Uma escola em Timor" - Parte II: fotos do edifício, em construção, em Manati-Boibau, Liquiçá, Timor Leste... (Rui Chamusco, tabanca de Porto Dinheiro)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rui, sabes tão bem ou melhor do eu (és perofessor de latim) que os bons auspícios (do latim auspicium, -ii ou bons augúrios, baseavam-se nos "bons sinais" que eram obtidos através da leitura do voo ou inspeção das entranhas das aves...

Que estas práticas culturais (a arte da adivinhação oudo prognóstico) se realizem ainda hoje num território do sudoeste asiático como TImor, é que é interessante...

"auspício", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/ausp%C3%ADcio.