
Queridos amigos,
Que bela surpresa, tantas vezes visitei as Caldas da Rainha na completa ignorância de que havia este fabuloso museu à minha espera. Aqui fica a advertência para quem visitar as Caldas, é destino irrecusável, os tesouros cerâmicos são mais do que primeira classe. Deve haver ali uma grande falta de dinheiro para a manutenção dos parques e há degradações no interior do edifício, é pena porque todo aquele ambiente tardo-romântico, se for bem preservado, tem todo o direito de ser apresentado pelo turismo como uma grande casa de cultura. E temos que agradecer ao visconde de Sacavém este fenomenal legado, ainda bem que ele possuía um gosto eclético tão apurado; e as coleções ligadas à Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro são magníficas, deixam-nos embasbacados. Pois bem, a visita vai continuar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (199):
O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 1
Mário Beja Santos
Para ser sincero, das muitas vezes que passei pelas Caldas da Rainha, e durante anos os meus padrinhos ofereceram período de férias na Foz do Arelho, o que havia a visitar na cidade era o parque, o Museu José Malhoa, naquele tempo funcionava a Fábrica da Secla, era um prazer ir ver aquelas belas peças, muitas delas únicas, desenhadas por uma húngara que ali trabalhou, Hansi Staël, e inevitavelmente entrar na Igreja de Nossa Senhora do Pópulo. Ora, em 1983, abriu ao público o Museu de Cerâmica de que eu nunca ouvi falar. Há uns tempos, visitando a loja da Fábrica Bordallo Pinheiro, veio à conversa um comentário sobre os tesouros ali existentes, curioso, perguntei onde era o museu, é só subir até o Avenal, encontrará facilmente uma velha moradia numa área em que há centro de artes. E lá fui, bem me regalei, como passo a contar. Sobre a história deste museu vale a pena citar alguns parágrafos do que vem no site oficial deste templo da cerâmica:
“Encontra-se instalado no antigo Palacete do Visconde de Sacavém, no Avenal, mandado construir na década de 1890 pelo 2.º Visconde de Sacavém, José Joaquim Pinto da Silva (1863-1928), colecionador, ceramista e importante mecenas dos cerâmicos caldenses.
Encontra-se rodeado por jardins com alamedas, canteiros, floreiras, lagos e um auditório ao ar livre, sendo de realçar a decoração profusa que ornamenta todo o conjunto e inclui azulejos do século XVI ao século XX, elementos arquitetónicos cerâmicos e estatuária.
O acervo do Museu integra diversas coleções representativas da produção das Caldas da Rainha e de outros centros cerâmicos do país e do estrangeiro. As coleções compreendem peças da cerâmica antiga caldense dos séculos XVII e XVIII e núcleos da produção do século XIX e primeira metade do século XX. São de salientar os trabalhos da barrista Maria dos Cacos, autora de peças utilitárias antropomórficas, e de Manuel Mafra.
Merece um especial destaque o núcleo de obras da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, um dos conjuntos mais representativos da produção do grande mestre da cerâmica caldense e que documenta a intensa laboração da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, entre 1884 e 1905. Apresentam-se também núcleos de faianças da Real Fábrica do Rato, de olaria tradicional e de produção local de escultura e miniatura dos séculos XIX e XX.
Destaca-se, um núcleo de cerâmica contemporânea de autor, que inclui, entre outros, peças de Llorens Artigas, de Júlio Pomar e de Manuel Cargaleiro. O Museu possui ainda uma coleção de azulejaria que integra produção portuguesa, hispano-mourisca e holandesa do século XVI ao século XX, constituída por cerca de 1200 azulejos e 40 painéis.
O Museu apresenta ainda uma coleção de 40 peças contemporâneas, ilustrativas de design e produção de cerâmica e vidro do século XX, que fazem parte de uma doação feita em 2007, constituída por 1205 peças.”
Imagens da entrada principal do edifício e das suas traseiras
O maravilhamento azulejar começa logo à entrada, haverá esplendorosa cerâmica em toda o palacete do 2.º Visconde de SacavémUma das maravilhas do azulejo do século XVIII, pois então
Placa comemorativa do palacete do visconde de Sacavém
Um outro olhar sobre o palacete
É indesmentível que o senhor visconde tinha muito bom gosto e uma boa museografia faz o resto
Esta composição do Adamastor acompanha as ilustrações de Os Lusíadas, há gente assombrada e aterrada com o gigante, Vasco da Gama está firme, vai mesmo passar o Cabo das Tormentas.Eu guardo lembrança deste Rafael Bordalo Pinheiro no museu do seu nome, ali no fim do Campo Grande, onde um conjunto de amigos reuniu numa moradia exemplares do seu génio. Um dia, numa entrevista, perguntaram à Paula Rego qual fora o maior artista plástico do século XIX, ela respondeu sem qualquer hesitação: Rafael Bordalo Pinheiro.
Gosto da ousadia do museógrafo que é capaz de transformar um recanto de uma cozinha num espaço de fascínio, uma iluminação perfeita, uma boa adequação de objetos, um passado renovado, com sensibilidade e inteligência.
Escultura de Nossa Senhora com o Menino, autor desconhecido, século XVII
Não há lambril do palacete que não esteja revestido, achei de enorme beleza estes três cavaleiros, parece que estão a pousar para nos impressionar com a sua arte equestreO mínimo que se pode dizer desta bela fonte bordaliana é que é uma maravilha
A orelha faz parte da tradição da cerâmica caldense e a legenda é uma séria advertência para pessoas que andam descuidadamente a fazer comentários em voz alta: as paredes têm ouvidos.
Painel de Azulejos, Querubins, Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 29 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26627: Os nossos seres, saberes e lazeres (675): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (198): Bruscamente, no Natal passado, uma viagem relâmpago a Ponta Delgada – 2 (Mário Beja Santos)
1 comentário:
Boa tarde, foi com prazer que li este post sobre o museu de cerâmica. Nos meus 6° e 7° anos estudei no Externato Ramalho Ortigão e era no parque e no museu José Malhoa que nos reuniamos com colegas. Boas recordações da minha juventude quer no parque e no museu antes de ir para a "tropa". Sobre o museu da Cerâmica naqueles anos não o conheci mas quando fôr ás Caldas lá passarei.
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