Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18829: Notas de leitura (1082): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (8) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2016:
Queridos amigos,
O padre Henrique Pinto Rema descreve o período turbulento que acompanhou a independência da Guiné-Bissau, a fúria nacionalizadora levou à degradação das instituições missionárias e ao desperdício desses missionários ativos na ação educativa e sanitária.
Segue-se um relato pormenorizado do reerguer destas atividades, relato que finda com a descrição do trabalho das missões até 1981.
A história destes franciscanos que aqui chegaram em 1955 já veio contada aqui no blogue, em recensão de outra obra. Fica a confirmação de que o trabalho de Pinto Rema continua a ser inultrapassável e bem merecia continuidade até ao nosso tempo.
Um abraço do
Mário
História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (8)
Beja Santos
Estamos chegados à investigação quanto ao trabalho das missões católicas na República da Guiné-Bissau, derradeiro capítulo do indispensável livro “História das Missões Católicas na Guiné”, por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982. O autor recorda como sempre foi limitado o domínio português na Guiné e recorda a existência de feitorias comerciais sempre transformadas em fortalezas, praças ou presídios. O território ocupado na chamada Senegâmbia foi reduzidíssimo. O capitão de Marinha Ernesto J. D. C. e Vasconcelos em As Colónias Portuguesas, Lisboa, 1903, refere a superfície da Guiné em 11.384 quilómetros quadrados. Lopes de Lima avaliava em 1844 a superfície da Guiné em 16 a 18 milhas quadradas e a sua população em 2500 livres ou libertos (incluindo a tropa) e 2000 escravos. Em 1891, o Capitão Viriato Zeferino Passalagua, Secretário-Geral interino, ao entregar o governo da Guiné a Luís Augusto de Vasconcelos e Sá, disse em discurso público:
“Tem esta colónia seis pontos definitivamente ocupados: a ilha de Bolama, as praças de Bissau, Cacheu e Buba e os presídios de Farim e Geba. A área da província da Guiné é grande; porém, a esfera de acção do nosso domínio e especialmente da nossa autoridade é limitada aos pontos por nós ocupados, que, na nossa área são quase nada em relação à da província”.
Pinto Rema refere os primórdios do nacionalismo, o aparecimento do MING e depois o PAIGC, realça as greves de 6/7/8 de Março de 1956, em que houve agressão dos marítimos e estivadores à força policial, a polícia prendeu cinco cabecilhas grevistas e levou-os para a esquadra. O Governador Melo e Alvim veio pessoalmente à esquadra libertar os cinco presos. Os polícias sentiram-se vexados. Seguiram-se dois dias de greve e protesto. Serão os mesmos grevistas que em Março de 1956 irão desencadear novo protesto em 3 de Agosto de 1959. Pinto Rema descreve o chamado massacre do Pidjiquiti detalhando que os insubordinados dispõem de remos, barras de ferro, pedras e arpões. No primeiro recontro, os dois chefes da polícia serão selvaticamente agredidos, depois de terem disparado para o ar. Na continuação das tensões, a polícia perdeu o autodomínio e começou a atirar a matar. Havia 13 a 15 mortos espalhados no cais do Pidjiquiti mais os cadáveres de marítimos e estivadores arrastados pelas águas do Geba, estes dados foram fornecidos ao autor pelo guarda Francisco Valoura, mais tarde funcionário colonial. Acendera-se o rastilho para futuras contestações. Segue-se o ataque a S. Domingos em 21 de Julho de 1961 e depois as destruições em Suzana e Varela.
Finda a descrição sobre a luta armada, chegamos ao 26 de Abril em Bissau. A 1 de Maio de 1974 chega à Prefeitura Apostólica da Guiné um extenso telegrama onde se diz em dado momento: “A Santa Sé acompanha atentamente o evoluir da situação para ponderar quais as novas indicações que possam eventualmente vir a ser dadas para a vida da Igreja nesse território". O diretor do trissemanário A Voz da Guiné, padre Cruz Amaral, foi substituído por um militar marxista e no jornal os portugueses começaram a ser postos em cheque. Inicia-se a debandada. O êxodo atingiu proporções tais que no dia da declaração da independência por Portugal, 10 de Setembro de 1974, havia em toda a Guiné menos de 100 civis brancos. As Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que trabalhavam no Hospital Central de Bissau foram forçadas a abandonar o seu mister acusadas essencialmente pelas suas exigências com o pessoal menor, foram acusadas de prepotência por quererem correção, presença nos serviço e trabalho. Em finais de Setembro, o padre Lino Bicari, filiado no PAIGC e com credências de Luís Cabral, expõe aos missionários a linha do PAIGC em matéria de religião e ensino. A liberdade religiosa seria salvaguardada mas as escolas passariam a ser património nacional, a escola passaria a ser absolutamente laica. Progressivamente, a vida das missões entrou num descalabro e subiram de tom as acusações anónimas. O Prefeito Apostólico é prevenido por um missionário de Catió que seria expulso por ter colaborado com a PIDE/DGS. Monsenhor Amândio Neto entende não dever estar presente na hora da transmissão de poderes, então prevista para o dia 12 de Setembro, marcou passagem de avião para 9. O Núncio Apostólico escreveu-lhe: “Esta é a hora menos oportuna para Vossa Reverência se ausentar”. Os missionários vivem solidários com o Prefeito Apostólico e este em 10 de Setembro envia um telegrama ao presidente Luís Cabral saudando no momento histórico, saudação que abraçava todo o pessoal missionário e o povo cristão, augurando futuro glorioso, pacífico e progressivo para a República da Guiné-Bissau.
Após o golpe de Estado de 14 de Novembro, Nino Vieira deu sinais claros que pretendia que as Missões Católicas estendessem a sua ação educativa nas escolas e levassem a sua ação sanitárias aos hospitais.
A nova diocese de Bissau é criada em Março de 1977 pela Bula Rerum Catholicaram. O autor é minucioso a descrever a dinâmica apostólica na diocese de Bissau, o novo bispo sai prontamente em visita às missões. Pinto Rema descreve o trabalho do Movimento de Grupos de Jovens, do Centro Artístico Juvenil e Seminário de Bissau e faz um relato minucioso do diálogo ecuménico travado com protestantes e muçulmanos.
No termo do seu trabalho, Pinto Rema analisa as missões atuantes em 1981. Depois de 960 páginas despede-se assim: “As últimas centenas de páginas foram escritas por quem viveu de muito perto os acontecimentos que relata mas só minimamente interferiu neles. Pôde, assim, ser o mais possível imparcial. Abriu um leque bastante vasto de perspectivas para a visão de conjunto surgir mais nítida. Teme, porém, que tenha escondido a floresta para mostrar a árvore. Eu ficaria muito satisfeito se este meu trabalho despertasse a curiosidade de verdadeiros historiadores para uma pesquisa do fenómeno religioso na actual República da Guiné-Bissau, a partir do ponto de vista católico”.
____________
Nota do editor:
Postes anteriores de:
21 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)
28 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18688: Notas de leitura (1070): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (2) (Mário Beja Santos)
4 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18707: Notas de leitura (1072): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (3) (Mário Beja Santos)
11 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18733: Notas de leitura (1074): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (4) (Mário Beja Santos)
18 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18752: Notas de leitura (1076): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (5) (Mário Beja Santos)
e
25 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)
e
2 de julho de 2018 Guiné 61/74 - P18800: Notas de leitura (1080): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (7) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18816: Notas de leitura (1081): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (42) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P18828: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 61 e 62: "tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir"
1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):
(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;
(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;
(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);
(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;
(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.
2. Sinopse dos postes anteriores:
(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;
(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);
(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;
(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;
(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;
(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;
(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";
(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";
(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...
(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.
(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;
(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.
(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);
(xv) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;
(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;
(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;
(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.
(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;
(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;
(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;
(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);
(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;
(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.
2. Sinopse dos postes anteriores:
(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;
(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);
(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;
(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;
(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;
(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;
(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";
(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";
(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...
(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.
(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;
(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.
(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);
(xv) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;
(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;
(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;
(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.
(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;
(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.
(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;
(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;
(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];
(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;
(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...
(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;
(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;
(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];
(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;
(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...
3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 71 e 62
[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]
61º Capítulo > A DISCIPLINA EM TEMPO DE GUERRA
Se em mais de dois meses pouco divulguei, pois não tenho dados para tal e só de memória não quero escrever com o receio de errar, já no dia 31 de Outubro quase podia copiar integralmente um aerograma.
“Desejo informar-te da maneira como actualmente estamos a ser dirigidos. Já te tinha dito que o meu capitão era um homem horrível de aturar mas agora atingiu o cúmulo no que diz respeito à disciplina. Admito que não podemos andar à balda, mas depois que divulguei a merda do texto que mandei para o jornal, estamos fodidos, se a culpa é minha, quando os meus colegas souberam, vão cair-me em cima. Repara!
Somos obrigados a andar mais bem uniformizados do que se estivéssemos aí na Metrópole. Proibiu-nos de andar de calções e eles são do próprio exército, portanto fazem parte do equipamento. O cabelo tem de estar curtinho como na recruta e temos de fazer a barba todos os dias. Os sapatos ou botas tem de estar devidamente engraxados e como aqui só há caminhos de terra torna-se difícil. Passamos a ter formatura diária debaixo dum sol horrível e até passou a fazer revista às camas e às nossas coisas privadas. Nota que nem em Bissau são tão severos quanto mais aqui no mato cercados de arame farpado onde nunca vem ninguém.
Conclusão: dão-nos uma fome horrível, pois deixamos de receber abastecimentos como recebíamos, e querem que andemos todos muito bonitinhos.
Não devia mas quero frisar e digo isto, para como em muitas outras coisas mais tarde recordar, que o capitão que é detestado praticamente por todos, ordenou que a partir de agora que a formação também tem de participar nas operações de combate.
Como já te disse as operações são sempre bastante perigosas e agora, cozinheiros, mecânicos, condutores, e todos os especialistas passam a integrar os pelotões de combate. Acho que só vamos três ou quatro de cada vez.
Afirmou na parada durante a formatura que se alguém recusa-se lhe dava um tiro.
Abro aqui um parêntesis para, mais uma vez, informar os meus leitores que cedo me apercebi que, eventualmente, teria cometido um erro, divulgando o artigo do jornal. Precisamente numa reunião em que eu, como cabo condutor, lhe solicitava que assinasse o requerimento para mudar a minha carta de condução, de militar para civil, um direito que as forças armadas facultavam a todos os condutores, ele não só não o recusou, como me informou que eu iria participar na próxima operação de combate. Fiquei certo de que o caldo estava entornado.
Este tipo na verdade merecia que alguém lhe aquecesse o pelo, mas o que nós queremos é ir embora e já que o suportamos quase há dezassete meses também suportamos o resto do tempo.
Andamos aqui oprimidos por causa dele mas pode ser que a mão divina o castigue pela maneira como nos trata, podes crer que se os “turras” nos atacassem e ele lerpa-se seria um dia de festa para os Serrotes de Fulacunda.
Eu sei que não te devia dizer isto e lamento fazê-lo mas quero que fique escrito na tua correspondência se ela chegar até ti e neste aerograma envio-te algo sobre um indivíduo que fez da nossa comissão já por si dolorosa, uma comissão infernal. O capitão Serrote.
Desculpa os incómodos que te dou, vou tentar no futuro não ser tão dramático, tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir.
Um beijo com a esperança que o futuro seja radioso para nós”.
Este aerograma de onde extraio o que acabo de dizer chegou normalmente.
No dia seguinte, era dia de São Martinho e eu, sendo natural de Penafiel e até porque era domingo, escrevi uma carta a falar do vinho novo e das castanhas assadas que as minhas tias e a minha avó normalmente vendiam na feira. Falei também que era a favor das reivindicações feministas. Também digo nessa carta que 90% das mulheres portuguesas eram quase escravas dos maridos.
Não o devia ter dito à minha namorada. Não percebeu a ideia e ainda hoje uma parte significativa da população portuguesa se mantém sem o perceber. Ou se é 8 ou 80. Ou subjugas ou és subjugado e não me venham cá com as merdas da igualdade de direitos. Ou manda ele ou manda ela. Muito raramente um casal avança lado a lado. Um ou outro vai na frente.
62º Capítulo > A OPERAÇAO E OS PÁSSAROS
Em caso de combate, teria de me deslocar para o abrigo dos “Lagartos” onde pertencia a uma equipa de Dilagramas. Não sabia dispará-los. A minha função era transportá-los e fornecê-los ao especialista nessa arma. Era uma G3, cujo carregador tinha balas de salva, (pelo menos foi isso que mencionei no dia em que fiz a tal operação que descrevi como um passeio pelo mato).
Não escrevi o que a seguir vou dizer, mas é das poucas coisas em que a minha memória de certeza absoluta não me trai: Junto à saída da porta de armas, o senhor capitão Serrote disse-me estas palavras que jamais esquecerei:
– O nosso cabo teve azar. Logo na primeira vez vai para um lugar dos mais perigosos que existem aqui à volta.
Também sei qual foi a minha resposta:
– Não sou mais que os meus camaradas, meu capitão.
“Vou contar-te um passeio que dei hoje pelo mato. Pela primeira vez saí do quartel no sentido contrário ao do rio. Fui com muitos colegas meus e como eles iam para longe saímos daqui era meia-noite. Inicialmente foi chato, porque estava tão escuro, mas tão escuro que para não nos perdermos tínhamos de ir agarrados uns aos outros. Eu ia mais ou menos no meio da coluna e andávamos muito devagar porque iam batedores à frente a abrir caminho por entre a floresta. Não sei quantos km andamos mas quando paramos estava a amanhecer e era muito linda a paisagem. Pude ver de perto uma bolanha que iríamos atravessar. O capim não estava muito alto dava-me um pouco acima da cintura e ao contrário do que eu pensava não tinha agua. Para a atravessarmos tínhamos de ir a uma distância considerável uns dos outros. Quando estávamos sensivelmente a meio vi um enorme bando de pássaros que quase tapavam o sol foi uma imagem maravilhosa mas que me podia ser fatal. Enquanto olhava para os pássaros os meus colegas desapareceram. De repente vejo uma mão entre o capim a mandar-me deitar ao chão. Os meus colegas da dianteira tinham avistado dois inimigos na orla da bolanha e eu como um autêntico nabo a olhar para os pássaros mesmo na linha de tiro.
Olha querida estou aqui no quartel são e salvo e não quero falar mais nisto. Amanhã se me apetecer conto-te o resto”.
Não tenho mais nenhuma referência a esta operação em que fiquei a olhar para a paisagem e, embora me recorde de muitos detalhes, prefiro não os recordar. Aproveito somente para agradecer ao soldado que me avisou para me baixar e a um outro que repartiu comigo a sua água quando a minha acabou. Confesso que não me lembro quais foram.
_______________
Eu sei que não te devia dizer isto e lamento fazê-lo mas quero que fique escrito na tua correspondência se ela chegar até ti e neste aerograma envio-te algo sobre um indivíduo que fez da nossa comissão já por si dolorosa, uma comissão infernal. O capitão Serrote.
Desculpa os incómodos que te dou, vou tentar no futuro não ser tão dramático, tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir.
Um beijo com a esperança que o futuro seja radioso para nós”.
Este aerograma de onde extraio o que acabo de dizer chegou normalmente.
No dia seguinte, era dia de São Martinho e eu, sendo natural de Penafiel e até porque era domingo, escrevi uma carta a falar do vinho novo e das castanhas assadas que as minhas tias e a minha avó normalmente vendiam na feira. Falei também que era a favor das reivindicações feministas. Também digo nessa carta que 90% das mulheres portuguesas eram quase escravas dos maridos.
Não o devia ter dito à minha namorada. Não percebeu a ideia e ainda hoje uma parte significativa da população portuguesa se mantém sem o perceber. Ou se é 8 ou 80. Ou subjugas ou és subjugado e não me venham cá com as merdas da igualdade de direitos. Ou manda ele ou manda ela. Muito raramente um casal avança lado a lado. Um ou outro vai na frente.
62º Capítulo > A OPERAÇAO E OS PÁSSAROS
Em caso de combate, teria de me deslocar para o abrigo dos “Lagartos” onde pertencia a uma equipa de Dilagramas. Não sabia dispará-los. A minha função era transportá-los e fornecê-los ao especialista nessa arma. Era uma G3, cujo carregador tinha balas de salva, (pelo menos foi isso que mencionei no dia em que fiz a tal operação que descrevi como um passeio pelo mato).
Não escrevi o que a seguir vou dizer, mas é das poucas coisas em que a minha memória de certeza absoluta não me trai: Junto à saída da porta de armas, o senhor capitão Serrote disse-me estas palavras que jamais esquecerei:
– O nosso cabo teve azar. Logo na primeira vez vai para um lugar dos mais perigosos que existem aqui à volta.
Também sei qual foi a minha resposta:
– Não sou mais que os meus camaradas, meu capitão.
“Vou contar-te um passeio que dei hoje pelo mato. Pela primeira vez saí do quartel no sentido contrário ao do rio. Fui com muitos colegas meus e como eles iam para longe saímos daqui era meia-noite. Inicialmente foi chato, porque estava tão escuro, mas tão escuro que para não nos perdermos tínhamos de ir agarrados uns aos outros. Eu ia mais ou menos no meio da coluna e andávamos muito devagar porque iam batedores à frente a abrir caminho por entre a floresta. Não sei quantos km andamos mas quando paramos estava a amanhecer e era muito linda a paisagem. Pude ver de perto uma bolanha que iríamos atravessar. O capim não estava muito alto dava-me um pouco acima da cintura e ao contrário do que eu pensava não tinha agua. Para a atravessarmos tínhamos de ir a uma distância considerável uns dos outros. Quando estávamos sensivelmente a meio vi um enorme bando de pássaros que quase tapavam o sol foi uma imagem maravilhosa mas que me podia ser fatal. Enquanto olhava para os pássaros os meus colegas desapareceram. De repente vejo uma mão entre o capim a mandar-me deitar ao chão. Os meus colegas da dianteira tinham avistado dois inimigos na orla da bolanha e eu como um autêntico nabo a olhar para os pássaros mesmo na linha de tiro.
Olha querida estou aqui no quartel são e salvo e não quero falar mais nisto. Amanhã se me apetecer conto-te o resto”.
Não tenho mais nenhuma referência a esta operação em que fiquei a olhar para a paisagem e, embora me recorde de muitos detalhes, prefiro não os recordar. Aproveito somente para agradecer ao soldado que me avisou para me baixar e a um outro que repartiu comigo a sua água quando a minha acabou. Confesso que não me lembro quais foram.
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Guiné 61/74 - P18827: Parabéns a você (1468): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
domingo, 8 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18826: In Memoriam (316): João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852, falecido no dia 8 de Julho de 2018 na cidade do Porto (Fernando Gouveia)
IN MEMORIAM
João Alfredo Teixeira da Rocha
Ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852
1. Em mensagem de hoje, dia 8 de Julho de 2018, o nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), traz-nos a triste notícia de mais um camarada que nos deixa.
Agora foi o João Alfredo Teixeira da Rocha, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 que esteve sediado em Bambadinca entre 1968 e 1970.
Era natural da Ilha de Moçambique.
Fazia parte de um grupo que se juntava regularmente para almoçar, onde "militavam", o António Pimentel, o Xico Allen, o Rego e o Fernando Gouveia, entre outros.
O seu corpo está em Câmara Ardente na Igreja do Foco, à Boavista, de onde sairá amanhã, dia 9, pelas 16 horas, o seu funeral.
Mais um camarada que nos deixa, mais uma família destroçada pela perda de um ente querido.
Aos seus familiares e amigos, a tertúlia deste Blogue endereça os mais sentidos pêsames.
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18725: In Memoriam (315): Arquitecto e Urbanista Luís Vassalo Rosa (1935-2018), ex-Cap Mil. CMDT da CART 1661 (Guiné, 1967)
Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados
1. Pedimos aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência ( BINT), o Fernando Franco, o António Baia, o João Lourenço, para esclarecer esta "momentosa" questão do vinho e da cânfora... E já agora acrescentei questões que estavam associadas ao vinho:
(i) qual era a ração diária de um soldado na Guiné? Um decilitro, um copo, ou dois, à refeição? (Dois decilitros por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia, dava 32 litros por companhia, ou sejam, 6 garrafões de vinho de 5 litros... Ao fim do mês eram 180 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada... transporte, armazenamento...
(ii) como é que o vinho era transportado desde Bissau? Em garrafões, de 5 litros, 20 litros? Em meias pipas? Ou outro vasilhame?
(ii) como é que o vinho era transportado desde Bissau? Em garrafões, de 5 litros, 20 litros? Em meias pipas? Ou outro vasilhame?
(iii) o vinho levava aditivos? Cânfora, por exemplo? Era batizado, com "água do Geba"?
(iv) lembram-se de alguma marca de vinhos, como por exemplo, o "Cartaxo"?
Obrigado, em nome da Tabanca Grande e em honra da memória dos nossos valorosos "intendentes". LG
Obrigado, em nome da Tabanca Grande e em honra da memória dos nossos valorosos "intendentes". LG
2. Primeirsa resposta de um "intendente", a do João Lourenço, que foi alf mil int, cmdt do trágico PINT 9288, Cufar, 1973/74 (*):
Bom dia, Luís .
A cânfora é, quanto a mim, e fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT, um mito.
O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....
João Lourenço
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(...) Meu caro Luís,
Havia algum controle para evitar grandes "bubas". Em especial em Bissau, no mato... dependia.
Um alfa bravo (**)
João Lourenço
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 17 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4366: Tabanca Grande (144): João Lourenço, ex-Alf Mil, PINT 9288, Cufar (1973/74)
(*) Vd. poste de 17 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4366: Tabanca Grande (144): João Lourenço, ex-Alf Mil, PINT 9288, Cufar (1973/74)
(...) Meu caro Luís,
"Tropecei" no teu blogue e gostava não só de me encontrar com o pessoal das nossas "férias tropicais" como de pertencer ao grupo e ir ao almoço de dia 20.
Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.
Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.
Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.
Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc." (...)
Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.
Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.
Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.
Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc." (...)
(**) Último poste da série > 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18812: (Ex)citações (340): Histórias de vida, a propósito do "ventre da guerra" (Luís Graça / António Ramalho)
Guiné 61/74 - P18824: Efemérides (288): Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levado a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas (Sousa de Castro)
1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2018, o nosso camarada Sousa de
Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo,
1971/74) enviou-nos para publicação a notícia da Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levada a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas.
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18814: Efemérides (287): O 10 de junho em Ponte de Lima: vibrante homenagem aos Limianos mortos na Grande Guerra e na Guerra Colonial (Mário Leitão)
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18814: Efemérides (287): O 10 de junho em Ponte de Lima: vibrante homenagem aos Limianos mortos na Grande Guerra e na Guerra Colonial (Mário Leitão)
Guiné 61/74 - P18823: Blogpoesia (574): "Os desafios de viver", "Ao nascer do dia..." e "Um outro piano negro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros,
durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Os desafios de viver
Largar o cordão umbilical e começar a respirar, sorver da mãe o pão de leite sem ter de o ferver.
Olhar sorrindo quem nos dá tudo, até as mãos, para não cair ao aprender a andar.
Saber a usar a boca para dizer olá aos pais em cada manhã.
Descobrir que só usando os pés se chega a todo o lado, custe lá o que custar.
Ver que na vida nem tudo é bom e saber ultrapassar sem se deixar vencer.
Voltar atrás para tomar o bom caminho e aprender bem a lição de cada erro.
Saber calar para ouvir quem sabe mais do que nós sobre aquele assunto.
Perdoar quem nos fez mal sem lhe guardar rancor.
Acudir a quem não tem mais ninguém para o salvar.
Saber pedir quando chegar a nossa vez e nunca o esquecer…
Ouvindo "Sinfonia n.º 3 de Brahms"
Mafra, 7 de Julho de 2018
7h00m
Jlmg
Ao nascer do dia…
É a vida que se renova.
O descanso regenerou-nos as forças e energias.
A majestade solene do nascer do dia, com sol ou não, assombra a nossa mente e nos impele para a beleza.
Despertam em nós as boas tendências, por bem, inscritas pela natureza.
Conforme o talento de cada um.
Escrever, pintar, musicar ou operar na oficina.
Tudo artes da nossa forja.
Neste momento, um grande clarão de luz decora a tapada à minha frente.
Apontando a imensidão dos céus.
Como o limite da nossa existência.
Uma dezena de cavalos viçosos já se entrega à sua sorte de mesa posta, em plena liberdade.
Eu, aqui, oiço as notas veementes dum piano habilidoso, pelas mãos duma pianista, quebrando em cacos toda a minha indiferença…
Ouvindo “Fantasias de Mendelsson”
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h6m
Jlmg
Um outro piano negro…
Um outro piano negro começou a tocar.
Suas teclas desfecham flechas com matizes de luar e a pujança forte dum mar enfurecido contra a praia faminta à sua espera.
Tem artes nunca vistas. Outras eras.
Outras luzes.
Se apagaram como mestras perante o brilho dos novos talentos que ajudaram a surgir.
Como soam bem as teclas negras deste piano velho adormecido…
Ouvindo Maria Grinberg plays Grieg Holberg Suite Op. 40
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h16m
Jlmg
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18791: Blogpoesia (573): Mulher (ou lembranças da minha terra), de Júlio Corredeira (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)
Os desafios de viver
Largar o cordão umbilical e começar a respirar, sorver da mãe o pão de leite sem ter de o ferver.
Olhar sorrindo quem nos dá tudo, até as mãos, para não cair ao aprender a andar.
Saber a usar a boca para dizer olá aos pais em cada manhã.
Descobrir que só usando os pés se chega a todo o lado, custe lá o que custar.
Ver que na vida nem tudo é bom e saber ultrapassar sem se deixar vencer.
Voltar atrás para tomar o bom caminho e aprender bem a lição de cada erro.
Saber calar para ouvir quem sabe mais do que nós sobre aquele assunto.
Perdoar quem nos fez mal sem lhe guardar rancor.
Acudir a quem não tem mais ninguém para o salvar.
Saber pedir quando chegar a nossa vez e nunca o esquecer…
Ouvindo "Sinfonia n.º 3 de Brahms"
Mafra, 7 de Julho de 2018
7h00m
Jlmg
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Ao nascer do dia…
É a vida que se renova.
O descanso regenerou-nos as forças e energias.
A majestade solene do nascer do dia, com sol ou não, assombra a nossa mente e nos impele para a beleza.
Despertam em nós as boas tendências, por bem, inscritas pela natureza.
Conforme o talento de cada um.
Escrever, pintar, musicar ou operar na oficina.
Tudo artes da nossa forja.
Neste momento, um grande clarão de luz decora a tapada à minha frente.
Apontando a imensidão dos céus.
Como o limite da nossa existência.
Uma dezena de cavalos viçosos já se entrega à sua sorte de mesa posta, em plena liberdade.
Eu, aqui, oiço as notas veementes dum piano habilidoso, pelas mãos duma pianista, quebrando em cacos toda a minha indiferença…
Ouvindo “Fantasias de Mendelsson”
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h6m
Jlmg
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Um outro piano negro…
Um outro piano negro começou a tocar.
Suas teclas desfecham flechas com matizes de luar e a pujança forte dum mar enfurecido contra a praia faminta à sua espera.
Tem artes nunca vistas. Outras eras.
Outras luzes.
Se apagaram como mestras perante o brilho dos novos talentos que ajudaram a surgir.
Como soam bem as teclas negras deste piano velho adormecido…
Ouvindo Maria Grinberg plays Grieg Holberg Suite Op. 40
Mafra, 6 de Julho de 2018
7h16m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 29 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18791: Blogpoesia (573): Mulher (ou lembranças da minha terra), de Júlio Corredeira (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)
Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18808: Parabéns a você (1466): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)
Nota do editor
Último poste da série de 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18808: Parabéns a você (1466): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)
sábado, 7 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18821: Convívios (866): Encontro do pessoal da CART 2732, levado a efeito no passado dia 17 de Junho de 2018, em Minde, Fátima (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)
Foto de família dos participantes no Convívio, de 2018, do pessoal da CART 2732 e seus familiares
CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 2732
DIA 17 DE JUNHO DE 2018
MINDE (FÁTIMA)
Um belo recanto da Quinta D. Nuno onde decorreu o Convívio
Os madrugadores: Ex-Alf Mil Casal; ex-Alf Mil Bento: Coronel Art Carlos Abreu (ex-Cap Art, CMDT do COP 6); ex-Soldado Condutor Azevedo; ex-Fur Mil Mec Auto Dias e ex-Soldado Condutor Dores.
Localizado mesmo a tempo de poder participar pela primeira vez em convívios da CART 2732, o nosso inesquecível Furriel Enfermeiro Marques
Já mais próximo da hora de almoço estão nas fotos: o Ex-Fur Mil CMD Mendonça e família; o ex-Fur Mil Ismael Santos e esposa; o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista
E eis que chega o nosso operador de Transmissões, João Malhão, com a notícia de que a Operação não podia ser abortada. O almoço estava por minutos.
Os laços de amizade também se estendem aos familiares. Aqui a Isabel, esposa do Ornelas, com o ex-Alf Mil Manuel Casal, visivelmente regozijados pelo reencontro.
Três ex-furriéis da CART 2732: Carneiro, Lourenço e Mendonça
Mesmo na sombra são bonitas as nossas bajudas
ex-Furriéis Carneiro e Dias, ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo
Na foto, o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista
Ornelas, ex-1.º Cabo Atirador, que foi também um excelente "maqueiro", com o seu mestre, ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques
O ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, um dos organizadores do Convívio, falando com a esposa do ex-Fur Mil Carneiro que aparece na foto momentaneamente distraído
Uns sorrisos bonitos das companheiras do Vinhal, Ornelas e Inácio, respectivamente. De lado, a esposa do Casal
O ex-Cap Mil Jorge Picado abraça os seus ex-Alferes, Bento e Casal. Ao lado o ex-Alf Mil Baptista que veio posteriormente para a Companhia
O ex-Fur Mil CMD Mendonça, que passou pouco tempo na CART 2732, por ser ferido em combate e ter sido evacuado, fala com o ex-Fur Mil Fonseca, quem sabe se disso mesmo.
Mesa da Presidência: ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques, ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, ex-Soldado TRMS João Malhão e ex-Alf Mil Manuel Casal
Mesa da Presidência: o senhor General Artur Neves Pina Monteiro, de camisa às riscas verticais, até há pouco tempo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que se fez acompanhar de sua esposa, também na foto, deu-nos a honra de presidir ao Convívio da CART 2732. Aqui a conversar com o senhor Coronel Calos Abreu.
A mesa das nossas esposas
Nesta mesa: os ex-furriéis milicianos, Vinhal, Carneiro, Ismael Santos, Mendonça e Fonseca...
... o ex-Fur Mil Mec Auto Dias e o ex-1.º Cabo At Art Ornelas...
... os ex-furriéis milicianos Fonseca e Lourenço, e os ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo
Nesta foto, onde lamentavelmente faltam o João Malhão e o Reis Pedro, ocupados a fazer contas no restaurante, e o Marques, em parte incerta, estão: fila superior: Carneiro, Azevedo, Ezequiel Filipe e Bento; fila do meio: General Pina Monteiro, Dias, Ismael Santos, Francisco Baptista, Manuel Casal, Coronel Carlos Abreu, Jorge Picado e Mendonça; fila de baixo: Ornelas, Dores, Inácio Silva, Lourenço, Matos, Fonseca e Vinhal
Aqui estão as nossas meninas, muitas delas já namoradas ou esposas no tempo da guerra
Aqui fica, para memória futura, o devido destaque a estes dois camaradas que pensaram e levaram a efeito este Convívio. Caríssimos Pedro e Malhão, os nossos agradecimentos.
Quem sabe se lembrando os 50 anos do nosso embarque com destino à Guiné, que ocorre em 13 de Abril de 2020, nos voltemos a encontrar, desta vez no Funchal, de onde partimos em 1970 para a nossa aventura.
Fotos e legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 2 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18802: Convívios (865): XXXIII encontro anual da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) - Seia, 9 de junho de 2018 (Jorge Araújo)
Guiné 61/74 - P18820: Fotos à procura de... uma legenda (106): O milagre do vinho, ontem, do Cartaxo (que chegava ao Cacheu...), hoje de... Pias, que entope as prateleiras das nossas superfícies comerciais, em caixas de cartão... (Virgílio Teixeira / Luís Graça)
Foto nº 60 >
Foto nº 60A
Foto nº 60 B
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).
1. Mensagem. de 3 do corrente, enviada pelo nosso grã-tabanqueiro Virgílio Teixeira , ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) [natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue]:
Assunto - Os vinhos a martelo para as tropas da Guiné
Luís no seguimento dos assuntos vinícolas (*), que são da tua nova especialidade, aqui vai uma foto na luta da "trasfega" dos garrafões de 10 [ ou 5 ?] litros do barco para os camiões com destino ao armazém geral.
Consigo ler 'Cartaxo' e outro parece dizer 'Paladar' mas este último não me recorda de ver ou se existe. Podes dar uma ajuda?
Consigo ler 'Cartaxo' e outro parece dizer 'Paladar' mas este último não me recorda de ver ou se existe. Podes dar uma ajuda?
Os vinhos Cartaxo não são lá da tua região de nascença? E o Paladar?
Foto recolhida no cais de S. Domingos em Novembro de 68. Está nos Postes de São Domingos.
Um abraço,
Virgílio
2. Comentário de LG:
Virgílio, mais uma foto do teu álbum, que é uma caixinha de surpresas... E esta vale ouro... O Cartaxo, na época, e durante muitos anos, era a terra do milagre do vinho. Tinha muita parra e muita uva... De resto, o Ribatejo e a Estremadura produziam grandes quantidades de vinho, sem se olhar à qualidade... Não havia piquenique, nos anos 60, onde não pontificasse o "tintol" do Cartaxo... Era a época em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses...
Hoje o milagre chama-se "Pias", uma terrinha, uma freguesia, que fica lá para o Alentejoo profundo, concelho de Serpa, na margem esquerda do Guadiana... E que eu saiba só tem dois produtores e engarrafadores de vinho, mas há mais de um dúzia de marcas de vinho (em embalagem de cartão...) que começam por Pias. e que são tudo menos vinho regional alentejano. O seu sucesso é tal que inundas as grandes superfícies... Ora trata-se de vinhos provenientes da UE (União Europeu), o que não é "ilegal", mas é "eticamente" reprovável do ponto de vista comercial... É que vinho alentejano é que não deve ser, e muito menos de Pias... E os armazéns são aqui da grande Lisboa e região centro: Pias é uma "mina"...
Não direi que são "vinho a martelo" (, a expressão é forte, e tecnicamente incorreta...) mas a verdade é que o uso e abuso do topónimo Pias engana muito consumidor desprevenido, que não lê os rótulos... Pode ser vinho (e é, já o provei, a contra-gosto...). Não, não é "vinho regional do Alentejo", mesmo que tenha 13º... Hoje bebe-se "Pias" como no passado se bebia "Cartaxo"... Só que na época não havia a famosa "bag in box" (caixa de cartão) que, como se sabe, não deixa o vinho oxidar (ou "azedar"): a torneirinha, de plástico, é um vedante, deixa sair o precioso líquido, mas impede a entrada de ar, evitando por isso o nosso conhecido fenómeno da "oxidação"...
Hoje o milagre chama-se "Pias", uma terrinha, uma freguesia, que fica lá para o Alentejoo profundo, concelho de Serpa, na margem esquerda do Guadiana... E que eu saiba só tem dois produtores e engarrafadores de vinho, mas há mais de um dúzia de marcas de vinho (em embalagem de cartão...) que começam por Pias. e que são tudo menos vinho regional alentejano. O seu sucesso é tal que inundas as grandes superfícies... Ora trata-se de vinhos provenientes da UE (União Europeu), o que não é "ilegal", mas é "eticamente" reprovável do ponto de vista comercial... É que vinho alentejano é que não deve ser, e muito menos de Pias... E os armazéns são aqui da grande Lisboa e região centro: Pias é uma "mina"...
Não direi que são "vinho a martelo" (, a expressão é forte, e tecnicamente incorreta...) mas a verdade é que o uso e abuso do topónimo Pias engana muito consumidor desprevenido, que não lê os rótulos... Pode ser vinho (e é, já o provei, a contra-gosto...). Não, não é "vinho regional do Alentejo", mesmo que tenha 13º... Hoje bebe-se "Pias" como no passado se bebia "Cartaxo"... Só que na época não havia a famosa "bag in box" (caixa de cartão) que, como se sabe, não deixa o vinho oxidar (ou "azedar"): a torneirinha, de plástico, é um vedante, deixa sair o precioso líquido, mas impede a entrada de ar, evitando por isso o nosso conhecido fenómeno da "oxidação"...
Diz o "Jornal dos Sabores", em edição digital de 6 de julho de 2017:
O jornal identificou pelo menos uma dúzia de "marcas" de pretensos vinhos de Pias: Arca de Pias; Amigos de Pias; Anta de Pias; Alma de Pias; Castelo de Pias; Chão de Pias; Ermida de Pias; Lagar de Pias; Ouro de Pias; Porta de Pias; Só Pias; Vinhos de Pias... Mas parece haver mais...
Ora, e tanto quanto eu sei, só há dois produtores de Pias, de resto, com excelentes vinhos, honra seja feita àquela terra... Um deles é Sociedade Agrícola de Pias, que produz e comercializa os vinhos Margaça. Depois há outra marca, que é o Encostas de Pias.
Virgílio, eu sou da Estremadura, o Cartaxo, perto de Santarém, fica no Ribatejo, a uma horita de caminho (c. 60 km), no sentido nordeste. Hoje felizmente fazem-se belíssimos vinhos nas duas regiões... E o Cartaxo puxa pelos seus pergaminhos históricos quer voltar a ser a "capital do vinho", enquanto a minha terra, Lourinhã (, no passado também com má fama de "marteleira", mas que sempre produziu vinhos desde há pelo menos 800 anos...) é hoje a capital dos dinossauros e... da aguardente DOC Lourinhã... (Coisa que muita gente não sabe: só há três regiões DOC de aguardente vínica no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhã!)...
Mas as regiões vitívinícolas em Portugal são apenas as seguintes: Vinhos Verdes, Trás-os-Montes, Douro, Bairrada, Dão, Beira Interior, Távora-Varosa e Lafões, Lisboa, Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo, Algarve, Madeira, Açores...
Conselho ao consumidor: quando comprar (e/ou beber) vinho, leia por favor os rótulos das garrafas...
Mas as regiões vitívinícolas em Portugal são apenas as seguintes: Vinhos Verdes, Trás-os-Montes, Douro, Bairrada, Dão, Beira Interior, Távora-Varosa e Lafões, Lisboa, Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo, Algarve, Madeira, Açores...
Conselho ao consumidor: quando comprar (e/ou beber) vinho, leia por favor os rótulos das garrafas...
Virgílio, o outro vinho , marca "Paladar", nunca ouvi falar... Fica o desafio aos nossos leitores: estes fotos merecem uma boa legenda (**)...
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 1 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18798: (Ex)citações (338): Quem não sabe beber, que beba m..., dizia um durão de Bambadinca... Mas, camaradas e amigos, era mesmo m... a famosa "água de Lisboa" que nos chegava aos nossos quartéis para matar a nossa dor e a nossa sede... (Luís Graça / Virgílio Teixeira)
(**) Último poste da série > 21 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18762: Fotos à procura de...uma legenda (105): O 'rancho dos pobres'... (Virgílio Teixeira / Luís Graça / Cherno Baldé / Valdemar Queiroz)
Guiné 61/74 - P18819: História de vida (47): O centenário dos nossos pais (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)
1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos este belíssimo texto a propósito do centenário de seus pais que ocorre este ano.
O CENTENÁRIO DOS NOSSOS PAIS
Para recordar e homenagear os nossos pais, no ano do centenário do seu nascimento, estamos aqui os filhos, os netos e os bisnetos, está toda a sua descendência.
Ele chamou-se Emídio António Baptista. Ela chamou-se Maria das Dores Magalhães. Nasceram na Rua dos Paus, em Brunhoso, em casas que distavam entre si cerca de cem metros. Nesse convívio próximo, que marcou o seu crescimento de meninos e adolescentes, aprenderam a conhecer-se, a estimar-se e a admirar-se.
Ele, sendo o filho varão mais velho da família, com a morte do pai, que aconteceu quando tinha apenas 16 anos, teve uma adolescência difícil pois teve que trabalhar duramente na lavoura e ajudar a mãe a dirigir a casa agrícola. Muitas vezes a nossa mãe, na varanda ou atrás das janelas, terá visto esse seu vizinho passar com carros de vacas, carregados ou vazios, para as hortas, para as sementeiras, para as colheitas do trigo e do centeio ou para a cortiça.
Fisicamente era bastante alto, forte, atlético e ágil. Sem nunca se vangloriar disso foi durante muitos anos campeão do lançamento da relha e do ferro, jogos tradicionais muito praticados pelos jovens e homens desse tempo. Nas feiras de Mogadouro vinham por vezes lançadores doutros concelhos a desafiá-lo para a prática desses jogos.
Ela era uma jovem inteligente, bonita, duma vaidade austera, humilde na sua relação com todos mas orgulhosa dos pais que tinha. Gostaria de ter sido professora primária mas não a deixaram estudar. Nesse tempo o dinheiro não abundava e aos filhos de pequenos lavradores nunca lhes era dada essa possibilidade.
Aprendeu a costurar, arte que lhe foi muito útil para vestir filhas e filhos durante muitos anos, aprendeu a tratar do linho, da lã, a tecer e a fazer outros trabalhos domésticos.
Já numa fase tardia da adolescência, frequentando esporadicamente a casa dele, na companhia da Adelaide, sua irmã mais velha, de quem era amiga, duma forma discreta, como ambos gostavam, sem palavras, com um olhar claro e transparente, terá respondido ao olhar dele, que sim, que o amava.
O arquivo secreto da nossa mãe, onde guardava as cartas do namorado, depois marido, e dos filhos, era numa arca de madeira, no meio de lençóis de linho. Foi lá que uma filha, adolescente e curiosa, encontrou um dia algumas cartas que o namorado lhe terá escrito durante a vida militar. Cartas que começavam sempre por “Minha Maria”. Mas a nossa mãe encontrou-a nesse delito de inconfidência, quando ainda só tinha lido uma carta. Foi uma pena para a história da família, pois essas cartas nunca mais foram encontradas e perdemos a possibilidade de conhecer melhor o lado mais meigo e gentil do nosso pai que sendo educado na sociedade paternalista transmontana, procurou sempre esconder debaixo duma capa mais dura.
Do que escreveu, restam apenas três livros de deve e haver, de uma escrita simples de contabilidade dum lavrador e negociante de cortiça, com algumas observações ocasionais sobre a sua vida pessoal e familiar, que os filhos tiveram o cuidado de guardar.
Casaram com a idade de 24 anos e foram viver para uma casa pequena, próxima da casa da mãe dele, que tinha sido duma parenta conhecida por Maria Pequena. Só com cozinha e um quarto, foi a casa onde tiveram os primeiros filhos, dois ou três. Mais tarde foram viver para casa dos pais dela, enquanto iam construindo a casa deles, que encheram de filhos. Foram dez os filhos, três morreram ainda meninos. Somente recordamos, alguns de nós, o Zézinho, um menino calmo e meigo, de tez clara, era o mais novo de todos, um menino muito lindo, dizia toda a gente, segundo a nossa mãe. Era muito lindo, eu conheci-o.
Dos sete que se criaram falta aqui um, infelizmente morreu cedo, o Tomás, que hoje recordamos igualmente com muita emoção. Foi um grande trabalhador, tanto na casa dos pais como na casa dele, quando constituiu família. Eu, muito próximo dele na idade, nalguns trabalhos e noutras vivências, senti muito a sua falta. Todos os irmãos a sentem, cada qual à sua maneira, os filhos muito mais.
As boas árvores conhecem-se pelos frutos que produzem e o Tomás deixou três filhos e uma filha, todos bem educados, honrados e trabalhadores.
Os nossos pais, de início com poucos meios para criar a família que crescia quase todos os anos, foram cultivando terras emprestadas pela mãe dele ou pelos pais dela. Por outro lado, ele começou a negociar em cortiça, um negócio que já fora do pai dele e dum seu avô. Já conhecia alguns produtores do concelho e alguns fabricantes de Lourosa. Tinha uma grande convivência e amor, aos sobreiros que algum avô ou bisavô dele tinha semeado ou plantado nos montes da Lagariça, Ferreiros, Ortelã, Ribeira, Relva e Azinhal. Conhecia bem a cortiça.
Negociar é uma arte de que somente alguns conseguem conhecer os segredos e sabem praticá-la com êxito. Para além da seriedade e da fidelidade à palavra dada, com o seu feitio reservado mas sempre cordial, sabia usar as palavras certas para conquistar a confiança e a simpatia dos outros, o que transformava as suas relações comerciais em relações de verdadeira amizade.
A nossa mãe trabalhava muito. Andava sempre cansada, dizia-se que sofria do coração, mas nunca parava. Gostava de ter meninos, adorava-os. E os meninos cresciam, ficavam grandes e continuavam a dar muito trabalho. Mas ela continuava com um amor imenso a esses meninos que iam crescendo e se faziam homens e mulheres.
Ajudava algumas pessoas mais pobres. Com muita discrição uma vizinha, boa pessoa, com poucos recursos, de quem o homem até não gostava muito por a achar muito intrometida. Dava esmolas às ciganas que lhe batiam à porta a pedir pão, batatas e o azeite para o fiolho. Todas essas mulheres tinham muitos filhos, ela também mãe de muitos filhos imaginava a dor das outras mães por não terem pão para lhes matar a fome. Uma delas, uma cigana gorda, mal encarada, pedinchona, batia-lhe à porta quase diariamente e a nossa mãe dava-lhe sempre esmola, contra a vontade de alguns dos filhos, que não gostavam dela. É que essa cigana além de ter muitos filhos era viúva. Ajudava muito, também, as famílias de triteiros - faziam pequenas acrobacias, eles e os filhos e outros pequenos números de circo – que por vezes lhe pediam a curralada, em frente à casa, para se albergarem e darem espectáculos.
O nosso pai, tenho pensado que sem dar esmolas, dava uma boa ajuda aos seus trabalhadores, da seguinte forma:
Depois das ceifas, das colheitas do trigo e do centeio e da tiragem da cortiça, os meses de Setembro, Outubro e Novembro agravavam muito a pobreza dos trabalhadores, pois a colheita da azeitona só começava a 8 de Dezembro. Lembro-me que nalgum desse tempo parado, que podia ser de fome para algumas casas, contratava quinze a vinte homens, dos mais habituais ao serviço da sua casa agrícola, para trabalhar na Lagariça a fazer desmatagem dos sobreiros. Mas essa desmatagem profunda, feita com o arranque manual dos arbustos feita com pás e picaretas, durante cerca de um mês, nunca chegava a atingir meio hectare, o que não era significativo face aos vários hectares de área de sobreiros que ele lá tinha. Durante muito tempo intrigou-me esse facto, mas depois, conhecendo o carácter discreto do nosso pai e o respeito que tinha pelos trabalhadores, acabei por me convencer de que ele fazia essa desmatagem para benefício dos sobreiros mas sobretudo para benefício dos homens, que eram dignos chefes de família como ele e que precisavam de dinheiro para a alimentar, mas que também, sabia-o ele bem, nunca aceitariam esmolas de ninguém.
Era simpático com os jovens, comprava-lhes sacos de cavacos de cortiça, a bom preço. Alguns dos nossos primos e outros desse tempo ainda hoje me falam nisso. Aos filhos não nos comprava nada, talvez com receio de irmos encher os sacos às rimas de cortiça dele. Eu, de garoto, só me lembro dos trocos dos responsos que me dava o padre Zé na Igreja, e alguma coroa que encontrava quando andava ao rebusco lá em casa.
Se me encontrava na rua à luta com outros rapazes chamava-me e dava-me umas bofetadas com a mão dura dele, que magoava mesmo. Eu achava-o injusto porque pensava que o culpado da luta era o outro e o meu pai nem razões queria saber. Era assim, bastante duro com os rapazes, filhos dele, a quem procurava educar através duma educação espartana. Queria fazer de nós guerreiros destemidos. Recordo-me que, quando mobilizado para a Guiné, fui passar três dias a Brunhoso com ele, ele que nunca tinha cozinhado, fazia umas sopas muito boas. Estava sozinho, a mulher estava com os mais novos, que estudavam em Vila Real. Quando parti, foi comigo a Mogadouro, a despedida foi perto da estátua do Trindade Coelho, ele comoveu-se e deixou cair umas lágrimas, eu fiquei emocionado. Enfim, as lágrimas de um duro comovem qualquer guerreiro.
Com as filhas era mais meigo e tolerante e se tinha alguma censura a fazer-lhes encomendava-a à mulher. Quando veio a moda da mini-saia muitos recados ouviu a nossa mãe por causa de uma filha, que habilidosa, subia sempre as saias que a mãe lhe fazia abaixo do joelho.
O nosso pai morreu cedo, aos 59 anos, depois duma doença grave que o atormentou durante três anos. A nossa mãe, viúva, com a mesma idade, sofreu muito com a partida do seu companheiro de sempre. Para agravar o enorme desgosto pela sua morte sofreu muito pela solidão em que ficou na sua casa vazia. Os filhos, alguns estavam casados, outros trabalhavam longe e outros ainda estudavam. Enquanto a saúde lho permitiu nunca quis deixar a casa dela, apesar de solicitada por filhas e filhos. Algum tempo mais tarde, a Lurdes, já casada e com meninas, alegou que precisava da ajuda dela e conseguiu levá-la para junto de si alguns anos.
Estava presa à terra dela com raízes fortes. Lá estavam todas as suas melhores recordações, dos seus queridos pais, do seu marido e dos filhos nas suas várias fases de crescimento. Na Igreja, essa casa grande e sagrada que a transportava para junto de Deus, todos os Santos lhe eram familiares.
Gostava de ir à horta de Lamas, esse chão para ela sagrado, que herdara dos seus pais, que ajudara a cultivar e tratar ainda menina, com os pais, e já adulta, com o seu homem e os filhos. A burra dela, muito dócil, foi o seu transporte e boa companhia de muitos anos, no caminho para lá, que os netos e netas adoravam, sobretudo quando subiam nela para a beira da avó. Gostava de encher a despensa com todo o género de hortaliças para dar aos filhos quando iam estar com ela ou somente visitá-la.
Porque lhe sobrava o tempo e porque não gostava de estar parada fazia também colchas de renda para os filhos.
O quarto dos nossos pais conserva ainda na parede da cabeceira da cama um quadro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, um grande rosário de cortiça numa outra parede e algumas imagens e estatuetas de santos pousados sobre uma cómoda, onde também se encontra um retrato de um soldado garboso, fardado com elegância, dos finais da década de trinta do século passado. Quando o seu Emídio morreu, a nossa mãe foi buscar essa fotografia do seu namorado, à arca onde a tinha guardado, e colocou-a nesse altar junto dos santos. Tinha-lhe sido enviada por ele de Mafra onde esteve na tropa, com uma linda dedicatória e era a única que tinha da sua juventude. A fotografia torna o nosso pai mais presente, a nossa mãe está presente em toda a decoração que ela fez, que as filhas e netas mantêm, com santos, santas e o amor da sua vida.
No silêncio do dia, da aldeia quase deserta, há uma nostalgia que se espalha pela casa vazia que parece trazê-los à vida. Eles continuam vivos, vivos no sangue que nos corre nas veias, vivos no amor, no trabalho, na dedicação, vivos nos ensinamentos e nos exemplos de vida, que foram muitos. Vivos na raça, na coragem, no génio, os nossos pais, vossos avós e bisavós, foram uns heróis e como os heróis eles são imortais!
Tiveram muitas qualidades, que sempre gostámos de ver projectadas em filhos e netos. Legaram-nos uma herança imaterial imensa, muito mais valiosa do que as terras ou sobreiros que nos deixaram, que todas as gerações de Magalhães Baptistas têm que preservar
Francisco Maria Magalhães Baptista
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de julho de 2018 30 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18470: História de vida (46): O meu saudoso mano mais novo, Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014) (João Schwarz da Silva) - III (e última)
O CENTENÁRIO DOS NOSSOS PAIS
Para recordar e homenagear os nossos pais, no ano do centenário do seu nascimento, estamos aqui os filhos, os netos e os bisnetos, está toda a sua descendência.
Ele chamou-se Emídio António Baptista. Ela chamou-se Maria das Dores Magalhães. Nasceram na Rua dos Paus, em Brunhoso, em casas que distavam entre si cerca de cem metros. Nesse convívio próximo, que marcou o seu crescimento de meninos e adolescentes, aprenderam a conhecer-se, a estimar-se e a admirar-se.
Ele, sendo o filho varão mais velho da família, com a morte do pai, que aconteceu quando tinha apenas 16 anos, teve uma adolescência difícil pois teve que trabalhar duramente na lavoura e ajudar a mãe a dirigir a casa agrícola. Muitas vezes a nossa mãe, na varanda ou atrás das janelas, terá visto esse seu vizinho passar com carros de vacas, carregados ou vazios, para as hortas, para as sementeiras, para as colheitas do trigo e do centeio ou para a cortiça.
Fisicamente era bastante alto, forte, atlético e ágil. Sem nunca se vangloriar disso foi durante muitos anos campeão do lançamento da relha e do ferro, jogos tradicionais muito praticados pelos jovens e homens desse tempo. Nas feiras de Mogadouro vinham por vezes lançadores doutros concelhos a desafiá-lo para a prática desses jogos.
Ela era uma jovem inteligente, bonita, duma vaidade austera, humilde na sua relação com todos mas orgulhosa dos pais que tinha. Gostaria de ter sido professora primária mas não a deixaram estudar. Nesse tempo o dinheiro não abundava e aos filhos de pequenos lavradores nunca lhes era dada essa possibilidade.
Aprendeu a costurar, arte que lhe foi muito útil para vestir filhas e filhos durante muitos anos, aprendeu a tratar do linho, da lã, a tecer e a fazer outros trabalhos domésticos.
Já numa fase tardia da adolescência, frequentando esporadicamente a casa dele, na companhia da Adelaide, sua irmã mais velha, de quem era amiga, duma forma discreta, como ambos gostavam, sem palavras, com um olhar claro e transparente, terá respondido ao olhar dele, que sim, que o amava.
O arquivo secreto da nossa mãe, onde guardava as cartas do namorado, depois marido, e dos filhos, era numa arca de madeira, no meio de lençóis de linho. Foi lá que uma filha, adolescente e curiosa, encontrou um dia algumas cartas que o namorado lhe terá escrito durante a vida militar. Cartas que começavam sempre por “Minha Maria”. Mas a nossa mãe encontrou-a nesse delito de inconfidência, quando ainda só tinha lido uma carta. Foi uma pena para a história da família, pois essas cartas nunca mais foram encontradas e perdemos a possibilidade de conhecer melhor o lado mais meigo e gentil do nosso pai que sendo educado na sociedade paternalista transmontana, procurou sempre esconder debaixo duma capa mais dura.
Do que escreveu, restam apenas três livros de deve e haver, de uma escrita simples de contabilidade dum lavrador e negociante de cortiça, com algumas observações ocasionais sobre a sua vida pessoal e familiar, que os filhos tiveram o cuidado de guardar.
Casaram com a idade de 24 anos e foram viver para uma casa pequena, próxima da casa da mãe dele, que tinha sido duma parenta conhecida por Maria Pequena. Só com cozinha e um quarto, foi a casa onde tiveram os primeiros filhos, dois ou três. Mais tarde foram viver para casa dos pais dela, enquanto iam construindo a casa deles, que encheram de filhos. Foram dez os filhos, três morreram ainda meninos. Somente recordamos, alguns de nós, o Zézinho, um menino calmo e meigo, de tez clara, era o mais novo de todos, um menino muito lindo, dizia toda a gente, segundo a nossa mãe. Era muito lindo, eu conheci-o.
Dos sete que se criaram falta aqui um, infelizmente morreu cedo, o Tomás, que hoje recordamos igualmente com muita emoção. Foi um grande trabalhador, tanto na casa dos pais como na casa dele, quando constituiu família. Eu, muito próximo dele na idade, nalguns trabalhos e noutras vivências, senti muito a sua falta. Todos os irmãos a sentem, cada qual à sua maneira, os filhos muito mais.
As boas árvores conhecem-se pelos frutos que produzem e o Tomás deixou três filhos e uma filha, todos bem educados, honrados e trabalhadores.
Os nossos pais, de início com poucos meios para criar a família que crescia quase todos os anos, foram cultivando terras emprestadas pela mãe dele ou pelos pais dela. Por outro lado, ele começou a negociar em cortiça, um negócio que já fora do pai dele e dum seu avô. Já conhecia alguns produtores do concelho e alguns fabricantes de Lourosa. Tinha uma grande convivência e amor, aos sobreiros que algum avô ou bisavô dele tinha semeado ou plantado nos montes da Lagariça, Ferreiros, Ortelã, Ribeira, Relva e Azinhal. Conhecia bem a cortiça.
Negociar é uma arte de que somente alguns conseguem conhecer os segredos e sabem praticá-la com êxito. Para além da seriedade e da fidelidade à palavra dada, com o seu feitio reservado mas sempre cordial, sabia usar as palavras certas para conquistar a confiança e a simpatia dos outros, o que transformava as suas relações comerciais em relações de verdadeira amizade.
A nossa mãe trabalhava muito. Andava sempre cansada, dizia-se que sofria do coração, mas nunca parava. Gostava de ter meninos, adorava-os. E os meninos cresciam, ficavam grandes e continuavam a dar muito trabalho. Mas ela continuava com um amor imenso a esses meninos que iam crescendo e se faziam homens e mulheres.
Ajudava algumas pessoas mais pobres. Com muita discrição uma vizinha, boa pessoa, com poucos recursos, de quem o homem até não gostava muito por a achar muito intrometida. Dava esmolas às ciganas que lhe batiam à porta a pedir pão, batatas e o azeite para o fiolho. Todas essas mulheres tinham muitos filhos, ela também mãe de muitos filhos imaginava a dor das outras mães por não terem pão para lhes matar a fome. Uma delas, uma cigana gorda, mal encarada, pedinchona, batia-lhe à porta quase diariamente e a nossa mãe dava-lhe sempre esmola, contra a vontade de alguns dos filhos, que não gostavam dela. É que essa cigana além de ter muitos filhos era viúva. Ajudava muito, também, as famílias de triteiros - faziam pequenas acrobacias, eles e os filhos e outros pequenos números de circo – que por vezes lhe pediam a curralada, em frente à casa, para se albergarem e darem espectáculos.
O nosso pai, tenho pensado que sem dar esmolas, dava uma boa ajuda aos seus trabalhadores, da seguinte forma:
Depois das ceifas, das colheitas do trigo e do centeio e da tiragem da cortiça, os meses de Setembro, Outubro e Novembro agravavam muito a pobreza dos trabalhadores, pois a colheita da azeitona só começava a 8 de Dezembro. Lembro-me que nalgum desse tempo parado, que podia ser de fome para algumas casas, contratava quinze a vinte homens, dos mais habituais ao serviço da sua casa agrícola, para trabalhar na Lagariça a fazer desmatagem dos sobreiros. Mas essa desmatagem profunda, feita com o arranque manual dos arbustos feita com pás e picaretas, durante cerca de um mês, nunca chegava a atingir meio hectare, o que não era significativo face aos vários hectares de área de sobreiros que ele lá tinha. Durante muito tempo intrigou-me esse facto, mas depois, conhecendo o carácter discreto do nosso pai e o respeito que tinha pelos trabalhadores, acabei por me convencer de que ele fazia essa desmatagem para benefício dos sobreiros mas sobretudo para benefício dos homens, que eram dignos chefes de família como ele e que precisavam de dinheiro para a alimentar, mas que também, sabia-o ele bem, nunca aceitariam esmolas de ninguém.
Era simpático com os jovens, comprava-lhes sacos de cavacos de cortiça, a bom preço. Alguns dos nossos primos e outros desse tempo ainda hoje me falam nisso. Aos filhos não nos comprava nada, talvez com receio de irmos encher os sacos às rimas de cortiça dele. Eu, de garoto, só me lembro dos trocos dos responsos que me dava o padre Zé na Igreja, e alguma coroa que encontrava quando andava ao rebusco lá em casa.
Se me encontrava na rua à luta com outros rapazes chamava-me e dava-me umas bofetadas com a mão dura dele, que magoava mesmo. Eu achava-o injusto porque pensava que o culpado da luta era o outro e o meu pai nem razões queria saber. Era assim, bastante duro com os rapazes, filhos dele, a quem procurava educar através duma educação espartana. Queria fazer de nós guerreiros destemidos. Recordo-me que, quando mobilizado para a Guiné, fui passar três dias a Brunhoso com ele, ele que nunca tinha cozinhado, fazia umas sopas muito boas. Estava sozinho, a mulher estava com os mais novos, que estudavam em Vila Real. Quando parti, foi comigo a Mogadouro, a despedida foi perto da estátua do Trindade Coelho, ele comoveu-se e deixou cair umas lágrimas, eu fiquei emocionado. Enfim, as lágrimas de um duro comovem qualquer guerreiro.
Com as filhas era mais meigo e tolerante e se tinha alguma censura a fazer-lhes encomendava-a à mulher. Quando veio a moda da mini-saia muitos recados ouviu a nossa mãe por causa de uma filha, que habilidosa, subia sempre as saias que a mãe lhe fazia abaixo do joelho.
O nosso pai morreu cedo, aos 59 anos, depois duma doença grave que o atormentou durante três anos. A nossa mãe, viúva, com a mesma idade, sofreu muito com a partida do seu companheiro de sempre. Para agravar o enorme desgosto pela sua morte sofreu muito pela solidão em que ficou na sua casa vazia. Os filhos, alguns estavam casados, outros trabalhavam longe e outros ainda estudavam. Enquanto a saúde lho permitiu nunca quis deixar a casa dela, apesar de solicitada por filhas e filhos. Algum tempo mais tarde, a Lurdes, já casada e com meninas, alegou que precisava da ajuda dela e conseguiu levá-la para junto de si alguns anos.
Estava presa à terra dela com raízes fortes. Lá estavam todas as suas melhores recordações, dos seus queridos pais, do seu marido e dos filhos nas suas várias fases de crescimento. Na Igreja, essa casa grande e sagrada que a transportava para junto de Deus, todos os Santos lhe eram familiares.
Gostava de ir à horta de Lamas, esse chão para ela sagrado, que herdara dos seus pais, que ajudara a cultivar e tratar ainda menina, com os pais, e já adulta, com o seu homem e os filhos. A burra dela, muito dócil, foi o seu transporte e boa companhia de muitos anos, no caminho para lá, que os netos e netas adoravam, sobretudo quando subiam nela para a beira da avó. Gostava de encher a despensa com todo o género de hortaliças para dar aos filhos quando iam estar com ela ou somente visitá-la.
Porque lhe sobrava o tempo e porque não gostava de estar parada fazia também colchas de renda para os filhos.
O quarto dos nossos pais conserva ainda na parede da cabeceira da cama um quadro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, um grande rosário de cortiça numa outra parede e algumas imagens e estatuetas de santos pousados sobre uma cómoda, onde também se encontra um retrato de um soldado garboso, fardado com elegância, dos finais da década de trinta do século passado. Quando o seu Emídio morreu, a nossa mãe foi buscar essa fotografia do seu namorado, à arca onde a tinha guardado, e colocou-a nesse altar junto dos santos. Tinha-lhe sido enviada por ele de Mafra onde esteve na tropa, com uma linda dedicatória e era a única que tinha da sua juventude. A fotografia torna o nosso pai mais presente, a nossa mãe está presente em toda a decoração que ela fez, que as filhas e netas mantêm, com santos, santas e o amor da sua vida.
No silêncio do dia, da aldeia quase deserta, há uma nostalgia que se espalha pela casa vazia que parece trazê-los à vida. Eles continuam vivos, vivos no sangue que nos corre nas veias, vivos no amor, no trabalho, na dedicação, vivos nos ensinamentos e nos exemplos de vida, que foram muitos. Vivos na raça, na coragem, no génio, os nossos pais, vossos avós e bisavós, foram uns heróis e como os heróis eles são imortais!
Tiveram muitas qualidades, que sempre gostámos de ver projectadas em filhos e netos. Legaram-nos uma herança imaterial imensa, muito mais valiosa do que as terras ou sobreiros que nos deixaram, que todas as gerações de Magalhães Baptistas têm que preservar
Francisco Maria Magalhães Baptista
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de julho de 2018 30 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18470: História de vida (46): O meu saudoso mano mais novo, Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014) (João Schwarz da Silva) - III (e última)
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