quinta-feira, 11 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19969: Notas de leitura (1196): "SE SENTES NÃO HESITES", por Manuel Clemente; alma dos livros, 2019 (Mário Migueis da Silva)

 


1. Em mensagem datada de 9 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos do livro "SE SENTES NÃO HESITES", da autoria de Manuel Clemente, filho do Coronel Carlos Clemente, ex-Capitão, Comandante da CCAÇ 2701 que esteve no Saltinho.



"SE SENTES NÃO HESITES" é o novo livro de Manuel Clemente, lançado pela “alma dos livros” em Maio passado.

Convidando-nos a refletir sobre como encarar e viver a vida de uma forma diferente, mais consentânea com a felicidade que tanto almejamos e, sem dúvida, merecemos, tem estado no top de vendas da Bertrand e da FNAC, entre outras, e caminha já a passos largos para a sua 3.ª Edição (1.ª em Maio/2019 e 2.ª em Junho/2019), ou não tivesse sido considerado entretanto pela crítica competente O LIVRO REVELAÇÃO DO ANO.

Ainda assim, na perspetiva dos colaboradores e seguidores do nossos estimado blog, especialmente voltado, e muito bem, para temas relacionados com a Guerra Colonial/do Ultramar, poderia parecer despropositada, neste espaço tão específico, a alusão a uma obra e a um autor que se vão debruçando sobre assuntos bem diversos. Acontece que o jovem autor não é apenas mais um excelente autor que acaba de escrever mais um interessantíssimo livro, mas alguém que, desde os bancos da faculdade, vem revelando uma simpatia muito especial pelos povos daquela África que nos haveria de marcar para sempre. Formado em Gestão e Engenharia Industrial pelo ISCTE-IUL, interrompeu, a dada altura, a sua atividade profissional para fazer voluntariado de longa duração (cerca de oito anos) em Cabo Verde, dando, assim, livre curso, àquilo que seriam os impulsos dos seu coração. Atualmente, escreve igualmente crónicas de opinião para o jornal Público (suplemento P3) e integra uma organização (PARA ONDE) que apoia projetos de voluntários para todo o mundo.

Dizer, por fim, que o jovem e conceituado escritor é filho do Coronel Carlos Clemente, que acompanhou na sua recente visita ao Saltinho, conforme fotos anexas (Carlos Clemente comandou, em 1970 e 1971, a CCAÇ 2701*, cuja malta muito justamente o haveria de homenagear, um ano atrás, durante o penúltimo convívio da Unidade, realizado no Sameiro, em Braga).

E SENTES curiosidade, NÃO HESITES e adquire o título recomendado para os teus (e/ou dos teus) momentos de reflexão e sossego.

E, já agora, um bom Verão para todos.
Mário Migueis
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*Unidade a que pertenceram os nossos camarigos Martins Julião e Fernando Mota (então, alferes milicianos), e onde esteve adido, com o seu Pel Caç Nat 53, o intrépido Paulo Santiago (igualmente ex-alferes miliciano), que tão bem conhecemos.

Pela parte que me toca, tive a felicidade de ter privado com todos eles até ao seu regresso definitivo à metrópole nos princípios de 1972.
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Em Bissau, um ano atrás. Na primeira linha, o coronel Carlos Clemente, o filho, Manuel Clemente, e dois parentes do Sado, que aparece de pé, junto a um amigo do coronel, que também não quis deixar de o acompanhar nesta visita de cortesia à Guiné-Bissau. As restantes três pessoas são também amigos muito próximos do Sado (a ele se referiu já várias no blog o Paulo Santiago), que, como ele, residem em Bissau.

Carlos Clemente e Suleimane Baldé, régulo de Contabane – Saltinho/2018

Carlos Clemente no Saltinho, ladeado pelo amigo que o acompanhou à Guiné-Bissau e pelo atual régulo de Contabane, Suleimane Baldé. Também de pé, o Sado Baldé, quadro superior da Guarda Fiscal, que o capitão Clemente, no final da comissão, trouxe consigo – o Sado era ainda um miúdo – para Bissau, assegurando-lhe condições de estadia e ingresso imediato no liceu.

Carlos Clemente, amigo e filho, ladeados por um numeroso grupo de moradores do Saltinho - 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19962: Notas de leitura (1195): "Crónicas de um tenente", de Fernando Penim Redondo, Lisboa, edições Colibri, 2019, 188 pp. Prefácio de Mário de Carvalho (A. Marques Lopes)

Guiné 61/74 - P19968: (In)citações (135): Achega II - E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) datada de 10 de Julho de 2019, com mais uma "achega":

ACHEGA II*

Protesto o meu respeito à laboriosa pesquisa histórica da Guerra da Guiné pelo Beja Santos, Jorge Araújo, José Matos, José Martins e de outros “camarigos”. Os seus actores não precisam de reescrever a sua história; mas, às vezes, sentimos a pulsão de chamar a “verdade dos factos” à colação das meias-verdades de muitos comunicadores.

O PAIGC foi fundado em 19 de Setembro de 1956, não por Amílcar Cabral (estava em Angola), mas por Rafael Barbosa, escriturário da construção civil, e por Fernando Fortes, chefe da Estação Postal Provincial, em Bissau, sob o acrónimo de PAI (Partido Africano da Independência), homónimo do Partido Comunista do Senegal, ambos militantes do Partido Comunista Português, no contexto do alinhamento deste com as conclusões anticoloniais da Conferência de Bandung, de Abril de 1955, e da proclamação do “direito das colónias à autodeterminação”, do XX congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956.

Amílcar Cabral aderiu-lhe como militante e, em 1959, por negociação com os seus poucos pares e sem outra formalidade, Rafael Barbosa passou a presidente, ele a secretário-geral, Aristides Pereira a secretário-geral adjunto, objectivou-o também a Cabo Verde e mudou o seu acrónimo para PAIGC. O presidente manteve-se em Bissau, enquanto os dois secretários-gerais se expatriavam, avisadamente, – a PIDE instalara-se em Bissau no ano anterior. O PAI, o PAIGC, em Bissau, e o PAICV seu sucedâneo, na Praia, tiveram génese comunista e cabo-verdiana.

O PAIGC desencadeou a sua Guerra da Guiné nos princípio de 1963, com dois ataques à guarnição militar de Tite; mas, a Guerra da Guiné foi iniciada pelo MLG (Movimento da Libertação da Guiné), fundado em 1959, em Bissau, o primeiro partido emancipalista a desencadear ataques e emboscadas, nas áreas de S. Domingos, onde vitimou o Capitão de Cavalaria António Lopo Machado do Carmo, o primeiro oficial profissional a morrer em combate na Guiné, pilhagens a Susana e Varela e também atacou o aquartelamento de Bigene, iniciados em Julho de 1962 e activos até Fevereiro de 1964, até a manobra de Amílcar Cabral e o seu “charme” diplomático conseguir o desapoio da Organização da Unidade Africana e a perda da simpatia pela ONU.

O MLG expatriara-se para Dandula-Turene, Senegal, na sequência da agitação dos marinheiros de cabotagem, – a famigerada greve e o “massacre” do Pidjiquiti -, em Agosto de 1959, de sua inspiração e com o contributo do seu militante Luís Cabral, que virá a ser o presidente do PAIGC e primeiro PR da Guiné-Bissau, então guarda-livros da Casa Gouveia (Grupo CUF), empregadora da sua maioria. Esses ataques foram organizados e comandados por Pierre Mendy, um manjaco senegalês, já licenciado do exército francês e que combatera na Guerra da Argélia, e neles participou o guineense Momo Turé, que virá a ser um dos assassinos de Amílcar Cabral.

Os comandantes do PAIGC, que mais infernizaram a vida aos soldados portugueses e às populações, foram os 30 tirocinados na China, na “geração” de Mao-Tse-Tung.

O Rui Demba Djassi, era um jovem activo e turbulento duma família de funcionários públicos, residente na então rua de S. Luzia, entre o estaleiro da Tecnil e o Quartel-General do CTIG, desertara do EP para o PAIGC com o posto de furriel miliciano, e, antes de assentar praça, fora cobrador da Farmácia Moderna, muito dedicado à Dr.ª Sofia Pombo Guerra, comunista portuguesa e uma das mães da independência da Guiné (os guineenses não deixaram de ser polígamos na política…).

Foi o primeiro operacional dos primeiros 30 formandos militares e ideológicos na China, o primeiro instrutor da base de Koundara, vila da República da Guiné, a primeira base do PAIGC, à distância rodoviária de cerca de 30 quilómetros da fronteira com Buruntuma, foi nela que instruiu e foi dela que partiu o grupo de combate, o seu comando dividido com o Bobo Quetá, ex-futebolista de “Os Balantas” de Mansoa, para desencadear a sua guerra da Guiné, com esses dois ataques a Tite, no coração da Guiné - o de 6 de Janeiro, lançado sobre o edifício que encarcerava cerca de 100 “subvertidos” e o de 27 de Fevereiro de 1963, sobre a messe dos sargentos, ambos repelidos, no segundo foi decisiva a prestação da malta da “Maria Albertina”, autometralhadora Fox, do Pelotão de Reconhecimento enviado de Aldeia Formosa (Quebo), em reforço da guarnição.

Osvaldo Vieira, um dos principais formandos ideológico-militar na China, fora também empregado da Dr.ª Sofia Pombo Guerra, em Bissau, outro furriel miliciano desertor do EP, pontificava na Frente norte, Oio, Morés, etc., e, o seu primo Nino Vieira (terá sido cabo na guarnição da Guiné?), o principal formando na China, pontificava na Frente sul, há dois anos "enfeudado" com 300 combatentes, “pacificamente”, nas ilhas do Como, Caiar e Catunco - a sua “república independente” do Como, enquanto não foi extinta pelas NT, com a Operação Tridente, no primeiro trimestre de 1964.

Rui Djassi havia sido transferido para o posto de Vitorino Costa, irmão do Manuel Saturnino, morto no assalto das NT à tabanca de S. João, que tiveram a infeliz (no mínimo) ideia de passear a sua cabeça como troféu, transferido por Amílcar Cabral do seu posto do Gabú, quando falhava clamorosamente a sua subversão – os fulas eram refractários ao PAIGC e à sua mensagem.

Considerado o momento fundacional da nacionalidade bissau-guineense, iniciado em 12 e fechado em 16 de Fevereiro de 1964, no auge da Batalha do Como/Operação Tridente, o famigerado Congresso de Cassacá aprovou a sua “Lei constitucional” e o seu “Código de Justiça”, explicitadas pelo advogado José Araújo, ex-jogador da Académica de Coimbra. Invocando essa legalidade, no dia 17, Amílcar Cabral presidiu ao julgamento dum grupo de correligionários “criminosos”, entre os quais Rui Djassi, condenou três à morte por fuzilamento, o Nino Vieira e o Francisco Té providenciaram a execução, mas perdoou o Rui e deu-lhe a oportunidade de reabilitação no lugar do Vitorino Costa – expondo-o à maldição legada pela malta da CCaç 153, do RI 13 de Vila Real, e do seu capitão Carreto Curto, cuja morte havia decretado, como responsável da morte e da decapitação do Vitorino Costa.

Em 24 de Abril de 1964, dois meses depois, o Rui Djassi também foi eliminado pelas NT e Aristides Pereira mandou o Guerra Mendes para o seu posto, que lhe desobedeceu e que as mesmas eliminarão, um ano depois, em 14 de Fevereiro de 1965.

Quando o MLG e o PAIGC desencadearam a sua “guerra de libertação”, a Guiné-Bissau era uma criação territorial, administrativa e diplomática dos portugueses, mas apenas nominalmente portuguesa, sempre pertencera a guineenses e a cabo-verdianos – aqueles por direito próprio, como seus naturais, e estes como seu destino de emprego, nos serviços da administração pública, no comércio e serviços. Em 1961, havia menos de 1000 portugueses da Metrópole e ilhas adjacentes residentes na Guiné, contando os colonos, patentes militares e quadros públicos.

Os bissau-guineenses não se têm furtado ao reconhecimento que o continuado falhanço do seu Estado advirá do ADN ideológico do PAIGC, quando partido único e totalitário. A sua nacionalidade foi fundada por Amílcar Cabral, foi o PAIGC que a formatou em Estado, a matéria-prima era portuguesa, mas o seu modelo e metodologias eram fantasias, estranhas ao povo guineense.

Amílcar Cabral era português de Bafatá e a sua mulher Maria Helena era portuguesa de Chaves, ele acedeu e formou-se como bolseiro do Estado Português, a Casa dos Estudantes do Império, a cultura e a língua portuguesa foram a matéria-prima com que fundou a nacionalidade bissau-guineense, o seu conhecimento consolidado, como altos funcionários do Estado português, em Lisboa, Luanda e Bissau, iniciou os preparativos internacionais da sua luta com passaporte português, custeou as primeiras despesas da sua luta com escudos$ do seu ordenado e com escudos$ dos recursos da esposa, ter-se-á motivado ao tirocínio na China, para chefe militar, por ter sido oficial miliciano português e foi recrutar a primeira geração dos seus quadros combatentes ao Exército Português – sargentos e praças guineenses e oficiais cabo-verdianos.

Dos seus 60 primeiros quadros operacionais e ideológicos, construtores da nacionalidade e do Estado bissau-guineense, 30 foram mandados para a China, a tirocinar a luta de guerrilha, 25 para a Checoslováquia, a tirocinar para as polícias de segurança e para o controle político de partido único, e 8 para a União Soviética, a tirocinar Economia planificada. A ideologia de partido único, imposta nesses países, terá sido a sua má companhia.

O seu mais alto magistrado da Nação, o primeiro independente, ignorou a ética castrense da obediência ao poder instituído, e mandou fuzilar, alguns já julgados e absolvidos, cerca de 10.000 mil guineenses militares e militarizados, formados técnica e civicamente pelas FA portuguesas, em vez de os reconverter em FA nacionais da Guiné-Bissau.

Os quadros militares formados na China e noutros países de partido único, em vez de servirem o país, viraram as suas armas “libertadoras” contra o seu povo, usaram-nas para se servirem dele. Os quadros policiais, formados na Checoslováquia, em vez de servirem as populações e a administração interna, espiavam-nas e faziam desaparecer os que ousavam tecer qualquer crítica. E os quadros políticos formados na União Soviética não estilhaçaram a economia como delapidaram a generosidade financeira da comunidade internacional. E o tráfico de cooperantes pouco lhe valeu…

O destino foi muito cruel com Amílcar Cabral e menos com a sua ex-mulher. Morreu como como português emigrado, conselheiro Técnico contratado pelo ministério do Desenvolvimento Rural da República da Guiné, e, diplomaticamente, como Mohamed Benali, cidadão marroquino, e é cidadão bissau-guineense póstumo. A Maria Helena, divorciada desde 1966, foi sempre portuguesa, fará carreira como docente da Universidade do Minho e acabará os seus dias em Braga, em 2005.

E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau.
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OBS: - Subtítulo da responsabilidade do editor
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Notas do editor

(*) - Vd. poste de 3 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

Último poste da série de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19883: (In)citações (134): Os Coirões de Mampatá, CART 2519 (1969/71) (Mário Pinto, 1945-2019)

Guiné 61/74 - P19967: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IX: O 'bu...rako' do Cachil (set 1965 / jan 1966)



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. set 1965  >  Cachil, na ilha do Como, um "resort" de muitas estrelas: a cozinha (1).




Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. set  1965 >  Cachil, na ilha do Como, um "resort" de muitas estrelas: a cozinha (2).


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966  >  Cachil, na ilha do Como: aspeto parcial das instalações (1).



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966  >  Cachil, na ilha do Como: aspeto parcial das instalações (2).




Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966  > Da esquerda para a direita, João Sacôto, João Bacar Jaló e Cap Alexandre... No espaldão do morteiro 81  (1)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Da esquerda para a direita, João Sacôto, João Bacar Jaló e Cap Alexandre... No espaldão do morteiro 81 (2)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Da esquerda para a direita, alf João Sacôto, alf Gonçalves, João Bacar Jaló e Cap Alexandre (1).



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Da esquerda para a direita, alf João Sacôto, alf Gonçalves, João Bacar Jaló e Cap Alexandre (2).



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Da esquerda para a direita, João Bacar Jaló, cap Alexandre e alf Sacôto (1)




Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966 > Da esquerda para a direita, João Bacar Jaló, cap Alexandre e alf Sacôto (2)




Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966  >  Da esquerda para a direita,  cap Alexandre,  João Bacar Jaló e alf Sacôto (1).



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > c. 1965 / 1966  >  Da esquerda para a direita,  cap Alexandre,  João Bacar Jaló e alf Sacôto (2).

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil). Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.


Estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011. Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue.


2. Neste poste mostramos algumas fotos que documentam a passagem do alf mil João Sacôto pelo destacamento do Cachil, na ilha do Como, um dos famigerados "bu...rakos" do CTIG. (*)

Lembre-se que a CCAÇ 617 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966. Regressa a Bissau, aguardando embarque para a metrópole.

A última companhia a passar pelo Cachil foi a CCAÇ 1620, do nosso camarada Manuel Cibrão Guimarães, de 20 de março de 1968 a 1 de julho de 1968, altura em que foi extinto o aquartelamento e o subsetor do Cachil (**), por ordem de Spínola, por manifesta falta de condições de habitabilidade e segurança: por exemplo, não havia água potável; o abastecimento era feito a partir de Catió, através de uma lancha, que vinha num dia, na maré-cheia, e só podia regressar no dia seguinte... Era um verdadeiro inferno na época das chuvas, um piores lugares do TO da Guiné, a par de Beli, Madina do Boé, Cameconde, Sangonhá, Ponta do Inglês e outros "resorts"... bélico-turísticos.

Temos mais de 70 referências ao mítico topónimo Cachil.

A primeira subunidade a ocupar o Cachil, depois de ter participado na Op Tridente (Ilha do Como, jan-março 1964),  foi a  CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), dos nossos camaradas José Botelho Colaço,  Francisco Santos e Rogério Leitão (1935-2010), membros da nossa Tabanca Grande.

 À CCAÇ 557 também pertenceu  o José Augusto Rocha (1938-2018), director da Associação Académica de Coimbra, em 1962, expulso da universidade por 3 anos, preso pela PIDE e mobilizado mais tarde para a Guiné,  enfim, um camarada cuja tribuna só podia ser "político.ideológica": foi defensor, como advogado, de muitos presos políticos do Estado Novo...Recusou delicadamente, ainda em vida, o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Morreu, vai fazer um ano, em 12 de julho de 2018.

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Vd. postes anteriores:

28 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19628: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VII: Catió e arredores: contactos com a população civil

20 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19604: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VI: Em Príame, a tabanca do João Bacar Jaló (1929 - 1971)

3 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa

28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez

10 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19488: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte II: Chegada a 15/1/1964 e estadia em Bissau durante cerca de 2 meses

4 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19468: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte I: A partida no T/T Quanza, em 8/1/1964

(**) Vd. poste de 26 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18257: Memória dos lugares (372): Cachil, na altura da extinção do aquartelamento, em 1 de julho de 1968 (Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620, Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68)

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19966: Historiografia da presença portuguesa em África (166): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - II (e última) Parte


Guoleghal, a ave mensageira do conto de Canhánima (Sancorlã) e de Fuladu ... Grou-Coroado (Balearica Pavonina). Conhecida na Guiné, coloquialmente, como ganga... Havia muitos na grande bolanha de Bambadinca.

Foto (e legenda): © Armando Pires (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Notas de leitura:  ALFA MOLÓ E O MITO FUNDADOR DO REINO DE FULADU - II ( e Última) Parte (*)

por Cherno Baldé [, foto à direita]


(iii) A passagem e as predicações místicas do Marabu El-Hadj Omar Tall

Foi por ocasião das suas longas e numerosas peregrinações através do continente que El-Hadj Omar passou na região de Firdu a caminho de Futa-Djalon. A data desta passagem do Marabu "toucouleur" [subgrupo, muçulmano, de língua fula, que vive sobretudo no norte do Senegal, resultante da mistura de fulas com outros povos na época de Koli Tenguella] é controversa. 

A tradição oral, diz-nos Abdarahmane, avança a data de 1854, mas esta última não está em conformidade com as fontes escritas que situam esta passagem do sábio Toucouleur por Futa-Djalon em meados de 1845. De qualquer modo, para o caso que nos interessa, é que quando ele chega a Sulabali, vai directamente à morança (casa) do nobre, Samba Egué.

Chegado a entrada da morança deste, ele cumprimenta em voz alta, à maneira muçulmana, dizendo: « Assaláamu alaykúm, matchubhê Allah ! » (Salvé, servos de Deus !). Mas, o termo « matchubhê » (Servos) utilizado na fórmula do religioso islâmico, não convinha aos membros da família dos Fulas-forros que o intimaram a continuar para a morança dos « matchubhé » que era do outro lado.

Mol Egué (futuro Alfa Moló) tinha ido a caça, como habitualmente. O Homem Grande foi recebido com todo o respeito por Cumba Udé (mulher de Moló Egué) que, segundo algumas fontes orais, tinha percebido por intuição que o peregrino não era um homem vulgar. Ela fez tudo o que era necessário para que o arabu tivesse as condições de hospitalidade dignas do seu nivel e notoriedade. Outra das versões sustenta que Molo Egué tinha recomendado à sua esposa para cuidar de qualquer estrangeiro que se apresentasse durante a sua ausência.

Com essa preocupação na cabeça, a mulher vai buscar a única galinha que possuíam em casa no momento e, como mandavam as regras, a levar ao Marabu, pedindo-lhe que a mandasse imolar de acordo com o rito muçulmano o que serviria para a preparação da sua refeição. O velho, conhecedor de toda a situação, tendo agradecido a mulher, ordenou-lhe para devolver a galinha onde ela a tinha retirado,  ou seja em cima dos seus ovos, pois que o seu marido estaria brevemente de regresso trazendo consigo alguma peça de caça que serviria para preparar o jantar. Com estas palavras a mulher ficou ainda mais aflita e não sabia o que fazer perante tamanho assombro.

Quando Moló Egué regressa a casa, a mulher vai ao seu encontro e diz-lhe : « Moló, vai tomar banho e veste-te convenientemente, pois temos hóspedes em casa ». Depois de colocar no corpo as suas melhores vestes, ele vai cumprimentar o Marabu, tendo este ficado por alguns dias antes de se despedir. Teria sido durante aqueles dias que o Homem Grande teria informado ao Moló Egué da sua missão, relacionada com a necessidade da islamização das populações pagãos de Firdu e que passava, necessariamente, pela conquista do poder das mãos dos irredutiveis pagãos soninquês.

Moló Egué ouvindo atentamente a predicação e conselhos do velho sábio, defendia-se, educadamente, tanto quanto podia e sabia, que ele era um homem humilde sem meios e sem qualquer ambição de poder e ainda por cima de condição servil; que os mandingas estavam bem organizados e eram muito aguerridos etc. Todavia, não podendo fugir ao que lhe estava predestinado, o velho acabou por convencê-lo a desafiar o seu destino, dando-lhe todas as garantias que ele era a pessoa indicada para superar o desafio de combater e vencer os mandingas e acabar com os abusos a que, diariamente, eram sujeitos.

Para isso, seria preciso preparar-se seriamente, discretamente e sobretudo respeitar escrupulosamente as directivas que lhe iria dar, a saber : primeiro, matar alguns elefantes, totém dos mandingas e extrair das suas panças os orgãos vitais que serviriam para a confecção de mesinhas de protecção e de invulnerabilidade. De seguida seriam retirados e postos à venda os dentes dos elefantes para a compra de armas e pólvora que ele esconderia em lugar secreto. 

A segunda directiva consistia na criação de um carneiro ao qual ele daria uma poção mágica (nassi). Depois o Marabu diz-lhe « quando o Farim (chefe de provincia) mandinga vier tomar o teu carneiro para comer, sabes que chegou o dia e podes passar à acção com os teus homens sem hesitar ».

Após ter dado estes diferentes conselhos, o Marabu despediu-se. Moló Egué, bom conhecedor das pistas que atravessavam a floresta, acompanhou-o até a actual localidade de Dandum (perto de Bafatá), onde se separam. Aqui o Marabu o teria dito que aquele local seria o limite do seu reino, desde o rio Gâmbia, o que veio a acontecer. Desde então, Dandum será para o Alfa Moló, um lugar abençoado e, quando sentiu a proximidade da sua morte, escolheu aquele lugar para ser enterrado (o que, segundo Armando da Silva, teria acontecido entre finais de 1881 e principios de 1882, posto que em Julho de 1882 o seu irmão, Bacar Demba, se apresentou em Geba, na qualidade de monarca, para a assinatura de um novo tratado com as autoridades portuguesas).

As tradições orais normalmente são muito fecundas e algumas vezes contraditórias quando se trata de relatar a história da passagem do Marabu "Toucouleur", El-Hadj Omar, pelo território de Gabu. Todavia todos são concordantes relativamente aos três elementos considerados fundamentais : a recepção do Marabu por Cumba Udé, o Elefante e o Carneiro.

Em jeito de conclusão, Abdarahmane na sua tese, revela-nos que a narrativa desta passagem se articula à volta destes três elementos fundamentais que estão na base da história e a tornam mítica para não dizer legendária. Para Abdarahmane, a dimensão mítica deste encontro vai encontrar a sua verdadeira razão de ser no estatuto dos dois protagonistas da cena : O Marabu, impregnado de Islão e da mistica religiosa,  e o Caçador, detentor de conhecimentos místicos pré-islâmicos, em que, em vez de uma confrontação lógica, como seria de esperar, assistimos a uma convergência que, a hospitalidade concedida por uma mulher pobre e de classe mais baixa da sociedade, vai selar para sempre. 

Para além do símbolo mítico deste encontro inesperado e fortuito se profila o destino de um homem, de um povo e de um país inteiro. Assim, a passagem do predicador, El-hadj Omar, no Firdu vai acentuar a necessidade de se organizar as hostes, a fim de retirar o poder das mãos dos mandingas, acabando com a sua dominção secular.


(iv) A luta pela emancipação ou quando o escravo liberta o seu mestre.

Moló Egué (Alfa Moló) tinha seguido à risca todas as instruções que o Marabu "Toucouleur" lhe havia dado. Com efeito, ele criou um carneiro e seguiu as instruções recomendadas. A partir desse dia, Alfa Moló reuniu aqueles que estavam a sua volta como auxiliares e aprendizes do ofício da caça, convocou todos os homens grandes dentre os Fulbhê, para os informar que ele iria lutar contra os chefes mandingas cujas atitudes e abusos os causavam enormes prejuizos. 

Os grandes dentre os fulbhê consideraram a operação demasiado arriscada, na medida em que os combatentes da parte dos fulas ainda não estavam preparados e suficientemente aguerridos. Preocupados com as consequências desastrosas que dai poderiam advir em caso de derrota, muitos dentre os nobres recusaram participar na revolta contra os mandingas. Foi então que Alfa Molo proferiria a frase que entraria nos anais da historia épica de Fuladu, com a frase seguinte : « Máh-ôn mballi-kam fêlludê sébbhê; Máh-ôn mballi-kam dogdê ("Ou vocês me ajudam a combater os mandingas ou, então  ajudarão a fugir").

Quando viram que o Alfa Moló estava decidido a dar luta ao poder dos Soninquês, numerosos fulas dentre os chamados « nobres » fugiram para outras províncias distantes, enquanto que alguns deles, muito poucos, aceitaram o sacrifício do combate pela emancipação que se apresentava no horizonte. 

Segundo Abdarahmane, a guerra teria sido feita em duas fases distintas. O reino mandinga [do Gabu] enfraquecido pela desorganizaçao e sobretudo por querelas e dissenções internas, aliado ao disfuncionamento dos poderes central e provincial, não conseguia manter a sua unidade e força para se defender contra os ataques repetidos dos exércitos fulas. Este disfuncionamento dos dois poderes tinha conduzido à independência progressiva dos Farin-mansa (governadores de província) que continuavam a exercer um peso crescente sobre os seus súbditos.

A provincia de Firdu que parecia, por excelência, ser a dos fulas, não podia escapar a esta situação de crise generalizada. O chefe desta provincia, Mofa Djenu ou Karabuntim Sané para outros (Roche,  1985), com capital em Kansonco, semeava o terror nesta província do reino que era a mais distante e a mais rica de todas as outras, em virtude do elevado número de fulas nela radicados. 

Os fulas de Firdu eram prósperos, mas o seu gado e as suas colheitas eram objecto de assaltos permanentes da parte dos mandingas. Este facto levou a que, os fulas conduzidos por Alfa Mol atacassem Kansonco e destruissem a sua capital (Bercolon) defendido por guerreiros mandingas. Aproveitando esta situação de confusão  e com o apoio dos Almames de Futa-Djalon, em 1869 (Roche 1985), de Bundu e de combatentes "Toucouleurs" de Kabada, os fulas destruiram todos os cercados (tatas) mandingas. As províncias tombaram umas atrás das outras e com elas a dominação dos mandingas.

Uma das mais importantes consequências desta guerra seria a dispersão da população através do territorio "pacificado". Com efeito, a extensão do povoamento dos fulas foi feita após esta guerra. Confinados, no início, em zonas de pastagens, os fulas dispersam-se e reocupam as antigas aldeias mandingas, conservando, muitas vezes, o antigo topónimo (Bercolon, Cambaju, Mansajã, Canquelifa, Salquenhe, Contuba, etc. etc). E passaram a plantar arroz nas mesmas bolanhas que pouco tempo antes eram propriedade exclusiva dos seus suseranos mandingas.

 A partir deste momento assistimos a uma reconfiguração do território e a paulatina estabilização a favor dos fulas. O Firdu que era apenas uma provincia passou a ser um estado independente com a designação de Fuladu. Todavia seria de curta duração, pois este período coincide com a ofensiva « diplomática » de algumas potências europeias, nomeadamente Portugal e a França,  e a concorrência para a posse efectiva dos territórios da região.

Entretanto, no decorrer deste período agitado de recomposição política, económica e social, o Fuladu será atravessado  por clivagens sociais que deixam transparecer em filigrana o que serão, mais tarde, as relações, por um lado, entre os antigos senhores do território, os mandingas, que continuavam a tentar recuperar a sua hegemonia perdida, organizados em grupos de guerrilha no interior do mato,  e os fulas, na condição de novos detentores do poder ; por outro lado, entre os  «Jiáabhé» (antigos servos comummente chamados na literatura colonial de fulas-pretos) e  os «Rimbhé» (antigos senhores, chamados de fulas-forros).

Estas guerras, dissenções e clivagens sociais, ainda não estavam bem resolvidas quando as potências coloniais tomaram conta desses territórios, em finais do séc. XIX e princípios do séc. XX.  Os fulas, depois dos primeiros reencontros e reconhecendo a superioridade tecnológica e militar dos europeus, escolheram a estratégia das alianças em lugar de oferecer resistências condenadas ao fracasso. 

E, passados alguns anos, quando os nacionalistas iniciam a mobilização para a luta de libertação nacional no território da antiga Guiné-portuguesa, a percepção dos chefes tradicionais fulas, agudizada pela estratégia da administração portuguesa, é que era mais uma tentativa de recuperação do poder da parte dos seus arqui-inimigos mandingas, facto que não estava longe da verdade, porque se a elite dirigente [do PAIGC] era urbana e escolarizada, nas fileiras dos seus combatentes no mato, pelo menos no Norte, a maior parte eram mandingas, o que era inaceitável para as elites fulas.

A independência da Guiné-Bissau, concedida ao PAIGC por Portugal em 1974, foi um duro golpe sofrido pelos fulas, uma autêntica traição aos seus interesses estratégicos e de sobrevivência como grupo que, tudo somado, talvez preferissem continuar a guerra, em vez de capitular e entregar o país aos «bandidos » que, já era sabido, para além da retórica pseudo-revolucionária, a única coisa que sabiam fazer e bem, era oprimir e roubar o bem alheio. 
Numa das suas intervenções sobre as lutas contra a dominação e opressão social e económica das populações em África e referindo-se, provavelmente, a rebelião bem sucedida de Alfa e Mussa Moló Baldé, Amílcar Cabral dizia assim : «sempre que os africanos fizeram grandes lutas para acabar com a dominação dos outros, acabaram por se tornar, eles mesmos, ainda piores tiranos para os seus povos do que aqueles que tinham combatido no passado ». 

Sim, verdade, uma grande verdade, sobretudo se tivermos em conta o que representa hoje o brilhante legado do seu Partido no nosso pobre país, a Guiné-Bissau. (**)

Cherno Abdulai Baldé
Bissau
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Bibliografia:

Ngaidé Abdarahmane : Le royaume Peul du Fuladu, de 1867 a 1936 (L’Esclave, le Colon et le Marabout, 1997/98, Thèse de doctorat de troisième cycle en histoire, UCAD (Université Cheik Anta Diop, Faculté des Lettres et Science Humaines, Dakar, Sénégal.

Gloria Lex : Le Dialecte Peul du Fouladou (Casamance, Sénégal); Thèse de doctorat en Linguistique et Phonétique.

Mouhamadou Moustafa Sow, Professeur d’histoire, Lycée Régional de Kolda, Sénégal, Blogue Seneweb.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19956: Historiografia da presença portuguesa em África (164): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - Parte I

Guiné 61/74 - P19965: Agenda cultural (694): Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Lourinhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019: entrada gratuita (Eduardo Jorge Ferreira)








Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Louirnhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019.


Mensagem, de hoje, do nosso camarada, amigo e conterrâneo, Eduardo Jorge Ferreira:

[(i) professor de educação física, reformado;

(ii) tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue; 

(iii) entrou para a Tabanca Grande em 31/8/2011; 

(iv)  foi alf mil da Polícia Aérea, na BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); 

(v)  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro; 

(vi) noutra encarnação foi sargento, integrado no exército luso-britânico que derrotou o exército napoleónico na batalha do Vimeiro, Lourinhã, em 21 de agosto de 1808;]

(vii) natural do Vimeiro, Lourinhã, residente em A dos Cunhados, Torres Vedras]


Meus (minhas) caros(as) amigos(as):

Junto envio em anexo o programa da recriação da Batalha do Vimeiro e Mercado oitocentista, a decorrer já nos próximos dias 19,20 e 21 deste mês.

Se vos aprouver passar por cá serão bem-vindos e decerto não dareis o vosso tempo por mal empregue.