quinta-feira, 8 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22352: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte VII: Óscar Monteiro Torres, cap pilav (Luanda, 1889 - França, CEP, 1916), o primeiro e único piloto-aviador militar português a tombar em combate na I Grande Guerra.



Óscar Monteiro Torres (1889 - 1916)

Nome: Óscar Monteiro Torres

Posto:  Cap PilAv (ex-Tenente de Cavalaria)

Naturalidade:  Luanda

Data de nascimento;  26 de Março de 1889

Incorporação:  1907 na Escola do Exército (nº 128 do Corpo de Alunos)

Unidade Serviço de Aviação:  Escola de Aeronáutica Militar

Condecorações; Medalha da Cruz de Guerra 1ª classe (a título póstumo)

Promoção a Major por Distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate:  França (CEP)

Data de Embarque; 23 de Dezembro de 1916

Data da morte: 20 de Novembro de 1917

Sepultura;  Sepultado com honras militares alemãs no cemitério de Laon. O seu corpo foi transferido em 1920 para o cemitério Vieille Chapelle e daí, em 1925, para o cemitério de Richebourg l'Avoué. Transladado para Portugal,  teve funeral nacional em 22 de Junho de 1930 para o Cemitério do Alto de S. João (Jazigo particular).

Circunstâncias da morte: Primeiro e único piloto-aviador militar português a tombar em combate. Em 19 de Novembro de 1917, em combate aéreo contra aeronaves alemãs, foi abatido e recolhido por forças alemãs que o hospitalizaram no hospital militar de Laon onde faleceu no dia seguinte, 20 de Novembro de 1917.



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem



1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.


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Guiné 61/74 - P22351: Agenda Cultural (774): A segunda decoração d’A Brasileira: Lembranças de José-Augusto França e de bela azulejaria no Corpo Santo, ao Cais do Sodré (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
A minha colaboração no jornal "O Templário" centra-se, obviamente, em personalidades e factos familiares ou tomarenses. Acontece que ao longo do século XX Tomar foi terra natal de duas personalidades de grande prestígio nacional e internacional: o compositor Fernando Lopes-Graça e o historiador de arte José-Augusto França, este a caminho dos 99 anos de idade. Bastante arredio a homenagens post-mortem, tenho procurado divulgar a obra do historiador, impressionante pela qualidade e quantidade, vai desde a Lisboa Pombalina até à análise das Artes Plásticas no fim do século XX. José-Augusto França é seguramente o historiador que mais estudou a primeira e a segunda decoração de A Brasileira, a primeira encetada em 1926 e a segunda em 1971. O Museu Nacional de Arte Contemporânea resolveu homenagear com uma evocação a propósito do cinquentenário da segunda decoração, está patente uma exposição documental com inéditos referentes à primeira decoração, perdeu-se o rasto a um conjunto de obras, mas a evocação mostra duas obras icónicas de Almada Negreiros e uma obra de António Soares. E o visitante tem oportunidade de ver imagens daquele dia em que A Brasileira mudou de pele, em 1971. À saída, e estando uma tarde aprazível, desci a Rua do Ferragial até ao Corpo Santo, gosto muito de cirandar dali, se possível beber uma cerveja de gengibre no British Bar e percorrer a Ribeira das Naus. Mas não resisti a registar a bela azulejaria de uma velha casa de ferragens, felizmente que ainda temos algum acervo representativo de Arte Nova e Arte Deco de estabelecimentos comerciais. Espero que apreciem.

Um abraço do
Mário


A segunda decoração d’A Brasileira:
Lembranças de José-Augusto França e de bela azulejaria no Corpo Santo, ao Cais do Sodré


Mário Beja Santos

A exposição evoca a segunda decoração d’A Brasileira, está patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea, revela documentação em grande parte inédita da decoração anterior e podemos ver fotografias da colocação de pinturas nas paredes, que aconteceu na noite de 26 de junho de 1971, assim foram apeados os que lá estavam desde 1926. O visitante poderá obter informação do trabalho da primeira decoração que coube aos pintores Eduardo Viana e António Soares, e apareceu mesmo a obra deste último que se julgava perdida, como escrevem Maria de Aires Silveira e Raquel Henriques da Silva, a quem coube comissionar esta evocação, mesmo com muitas cumplicidades e apoios e muito estudo, não se encontraram vestígios do espólio documental do antiquário e decorador Joachim Mitnizky, que comprara, em 1970, os quadros envelhecidos da montagem de 1926. E alertam-nos as duas investigadoras, no quadro desta celebração, da importância histórica que teve e que tem A Brasileira, “para a urgência de salvaguardar e estudar os espólios de personalidades que, sendo nossas contemporâneas, estão sujeitas a um processo injusto de esquecimento”.
José-Augusto França no centro de um grupo que acompanhou a segunda decoração, ele é o autor privilegiado dos estudos da primeira e segunda decoração, inclusive romanceou um quadro de Almada e aparece numa obra de Nikias Skapinakis da segunda decoração
Imagem do transporte das obras de arte, em 26 de junho de 1971
Imagens dos quadros já montados na segunda decoração
Duas obras de Almada Negreiros que faziam parte da primeira decoração
Quadro "As Banhistas" em pormenor, permitindo analisar a mestria, a inovação e a revolução das formas que Almada trouxe ao 2.º Modernismo
Não é por acaso que A Brasileira goza da fama de estar entre os mais belos cafés do mundo
Uma imagem alusiva a um quadro de Jorge Barradas que fazia parte da primeira decoração, depois desaparecido
Quadro de António Soares, também presente na primeira decoração
Imagem alusiva a um recanto da icónica A Brasileira

Conhecedor dos trabalhos de José-Augusto França sobre as duas decorações d’A Brasileira, não posso deixar de felicitar quem organizou esta singela homenagem e revelou pormenores inéditos sobre a primeira. Feliz por tudo quanto visitara, desci a Rua do Ferragial, que anda bastante remoçada, até ao Corpo Santo, comecei por olhar para o escritório na esquina da Rua do Arsenal onde Fernando Pessoa escreveu algumas das suas obras memoráveis e virei-me para um estabelecimento que conheço desde pequeno e cuja azulejaria admiro tão profundamente. Felizmente há também quem estude os azulejos semi-industriais de fachada, as cartelas, os letreiros e painéis publicitários, até as estações de caminho-de-ferro, de um modo geral o nosso património de Arte Nova e Arte Deco guarda primores de valor incontestável, pois bem, aqui fiquei regalado frente a estes detalhes, até me apetece partir daqui para a Avenida Almirante Reis ou ir ver a fachada da Fábrica Viúva Lamego, depois deu-me na veneta e daqui vou em excursão sem, porém, vos deixar esta grata lembrança que captei no Corpo Santo. Laus Deo.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22307: Agenda Cultural (773): Convite para ver a entrevista de Carlos Vale Ferraz a Mário Carneiro, no programa da RTP-África, Mar de Letras, onde o autor fala do seu romance "Angoche - Os fantasmas do Império", uma abordagem ao misterioso caso ocorrido há 50 anos na costa de Moçambique e ainda hoje não resolvido

Guiné 61/74 - P22350: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final)


Foto nº 1  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá > CCAV 8351 > O furriel Costa: depois do assalto,  a primeira noite na nova casa 

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá >
 Dias depois do assalto > Foto A. Murta  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,  com a devida vénia



Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá > CCAV 8351 > Operação “Balanço Final” > Assalto e ocupação da base do PAIGC > A grande e bonita bolanha de Nhacobá

Foto de A. Murta com a devida vénia



Foto nº 4 > Guiné > Bissalanaca > BA 12 > Um caça Fiat G.91 R/4 dos “Tigres” da Guiné. Crédito: Paulo Alegria






Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)

Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final) 



Consumado com sucesso o assalto a Nhacobá, tomámos posse definitiva da base do PAIGC pernoitando aqui, evitando a sua reocupação. Não era hora de questionar decisões superiores pelo que, conscientes que nos esperava uma visita do IN antes do anoitecer (belo filme tendo como cenário o parque do Prater em Viena de Áustria, onde o Porto, em 1987, foi muito feliz bem como a minha família quando o visitamos em 2011), lá metemos mãos à obra com cada um de nós a abrir um pequeno abrigo com o que tinha mais à mão, neste caso, a faca de mato. Pela primeira vez (e única) fiquei com bolhas nas mãos.

Com a certeza da visita do IN, como o da Páscoa ao domingo (ou vitória do Porto na Luz), lá nos enroscamos no pequeno buraco cavado com a nossa faca do mato, numa espera “stressante”, estranhamente desejando que as “coisas” começassem, já que não suportávamos mais esperas. Já estávamos por tudo. Falando baixinho (com receio de me considerarem já por irremediavelmente apanhado), dizia para com os meus poucos botões do camuflado: "Já que tem que ser,  vamos a isto", permitindo assim algum descanso até ao amanhecer. No momento, era mais violenta a espera do que o confronto com o IN.

A resposta do IN (felizmente?), chegou cedo e com tudo a que “tínhamos direito”: desde morteirada a RPG, através da outra margem do rio. Dada a distância,  “amochámos” assistindo impotentes ao espetáculo das explosões das granadas de RPG nas copas das árvores, com pedaços de árvore caindo sobre as nossas cabeças, fazendo-se dia com os contínuos clarões e os rebentamento das granadas de morteiro por todo o lado, pois as nossas armas dificilmente alcançariam a outra margem, deixando essa tarefa aos obuses do Cumbijã.

Entretanto acontece o impensável: ao pedirmos apoio da artilharia a Cumbijã as granadas dos nossos obuses começam a cair, também, em cima das nossa cabeças (o chamado fogo amigo), o rápido contacto rádio, já em desespero (… e a ajuda preciosa do amuleto/mapa do Machado?), fez com que a segunda leva de granadas, com grande alívio do grupo, já passassem por cima das nossas cabeças. Felizmente não teve consequências. 

Quando chegámos no dia seguinte ao Cumbijã,  o Alferes artilheiro (um engenheiro químico, meu amigo, da Póvoa do Varzim) pediu desculpa e chorou perante o grupo. Não fossem os buracos cavados com as facas de mato e por ventura esta narrativa seria bem mais dramática… ou simplesmente, não haveria narrativa!?

Foi uma noite muito difícil, com uma grande sensação de impotência, dada a quase impossibilidade de ripostarmos ao ataque pois que nem o pequeno morteiro nem a bazuca conseguiam intimidar o IN muito mais bem equipados que nós. Ao mesmo tempo respiramos de alívio já que o nosso receio (não medo?) era um confronto direto tendo em conta as nossas precárias condições de defesa. O IN também receou e atacou da outra margem do rio…

Não obstante o volume e intensidade do fogo IN, e o fogo amigo, não tivemos nem baixas nem feridos graves, apenas feridos ligeiros. Enfim, algum descanso até ao amanhecer, como era o meu desejo.

Exaustos, sujos, desidratados e mal alimentados (não confundir com: feios, porcos e maus), fomos rendidos ao amanhecer (belo filme…).

Ao ver chegar os nossos camaradas que nos vinham render, depois de um longo dia de canseiras, tivemos de refrear um pouco o nosso entusiasmo pois o nosso desejo era atirarmo-nos aos braços destes “anjos” que chegavam e beijá-los.  Fo
i aquela sensação, tão agradável, do regresso a casa do lavrador, depois de um dia intenso de trabalho no campo! 

Esperava-nos um banho de água com gasóleo, umas “bejecas” fresquinhas, um arroz com estilhaços (do qual já tínhamos saudades) e, depois do jantar, um jogo de cartas (King) com um whisky Johnnie Walker, em amena cavaqueira sobre tudo (como ouvir as lições de política do Furriel Aleixo ) menos guerra.

Entretanto! Mais uma visita do “paizinho” General Spínola.

Não nos podemos queixar de sermos ignorados pelo Homem Grande da Guiné: Boas vindas no Cumeré; visita a Aldeia Formosa onde lhe prestei guarda de honra (com a minha farda “acabadinha” de ser lavada pela minha simpática lavadeira); visita a Cumbijã e agora visita relâmpago a Nhacobá

O homem sempre fez questão de mostrar que estava na linha da frente com os seus homens visitando zonas onde ocorreram sucessos militares com alguma complexidade. Foi neste contexto que, consolidado o assalto, fez uma visita relâmpago a Nhacobá sem antes mandar na sua frente dois aviões Fiat para bater a zona em frente na outra margem do rio de onde éramos atacados. 

Esta foi uma visita “de médico” já que uma mina rebentou acionada por uma máquina, felizmente sem consequências a não ser a projeção de terra para o impecável camuflado do General. Sendo de facto um militar destemido não deixou de sacudir a terra e dizer para os seus ajudantes de campo: "Vamos, vamos embora daqui!...

Foi a primeira vez que assisti (de camarote VIP), à atuação dos nossos Fiat (caças bombardeiros), fazendo voo picado sobre o objetivo largando as bombas e disparando as metralhadoras colocadas nas asas. Se não fosse a situação periclitante em que estávamos, e as bombas fossem de carnaval, teria batido palmas como se estivesse numa das espetaculares exibições dos “Asas de Portugal” (Li em algum lado, ou sonhei, que o Piloto “strelado” Miguel Pessoa chegou a fazer parte dos Asas de Portugal – Faz sentido!)


Continua...
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo

Guiné 61/74 - P22349: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Vamos dar início a uma nova série, um mimo para os nossos leitores




Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


Livro disponível em pdf no sítio da Ajuda Amiga.

1. No passado dia 16 de junho, mandámos ao Carlos Fortunato (ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga, com 60 referências no nosso blogue)  a seguinte mensagem:

Data - quarta, 16/06, 18:03

Assunto - Lendas e contos da Guiné-Bissau

Carlos: Publicámos em 2017 um poste teu sobre o teu/vosso livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau" (*)
 
Pena que não tenha tido comentários... Apesar de tudo, foi dos teus postes com um bom nº visualizações (c. 280), mesmo assim abaixo de outros (com 700, 600, 500).

O teu/vosso projeto (da "Ajuda Amiga") é muito original e merece ser melhor conhecido. Se não vires inconveniente, podemos reproduzir o livro, no nosso blogue, numa série, seguindo o índice...

Far-se-ia uma apresentação / sinopse, com base na vossa página (ou pode ser um texto teu inédito)... Dá-se visibilidade a um projecto pedagógico, lusófono e solidário, e ao mesmo tempo reforça-se o pedido de apoio à "Ajuda Amiga", enquanto ONGD.

Naturalmente haverá em cada poste um link para a vossa página... E a série pode ter o teu nome: "Lendas e contos da Guiné-Bissau:um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Apresentação...; Parte II - Ficha técnica,capa, índice, prefácio, prólogo...; Parte III - Lendas balantas, etc-

Que achas ?

O nosso blogue continua, apesar do "cansaço" de 17 anos, a ter uma média de 70 mil "visitas/visualizações" por mês... (mais de 100 mil, nos últimos trinta dias). E a Tabanca Grande já vai em mais de 840 membros (dos quais 100 já morreram)...

Mantenhas. Luís

2. Resposta do Carlos Fortunato, com data de 18 de junho passado:

Data: 18/06/2021, 00:04

Luis: Sim, podemos reproduzir no blog Luis Graça &  Camaradas da Guiné o Livro Lendas e Contos da Guiné-Bissau. Não era essa a ideia inicial, mas parece-me bem, pois o blog é também um parceiro da "Ajuda Amiga" e eu tenho gosto em participar.

Em cada post transcrevias um conto ou uma lenda, foi isso que percebi. Certo?

Como os textos recorrem muitas vezes para as notas finais, no primeiro post teríamos que inclui-las e os dois textos com a "Breve História de ..." também complementam algumas lendas...

Queres também incluir o prefácio do nosso falecido amigo Leopoldo  Amado e o Prólogo que escrevi? Não sei se vale a pena,n as pessoas raramente têm interesse nestes textos ... Deixo isto ao teu critério.

A apresentação desta série pode ser feita com base no texto que está na página do site da "Ajuda Amiga".

À medida que forem publicados as lendas e os contos, farei nalguns casos alguns comentários, para esclarecer ou salientar coisas que podem passar despercebidas.

Só um esclarecimento sobre outro assunto, eu fui furriel de armas pesadas, embora tivesse andado quase agarrado à G3, que também era pesada ..., ainda me especializei depois em minas e armadilhas.

Obrigado e um alfa bravo

Carlos Fortunato

3. Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

 Obrigado, Carlos, pela tua generosidade. Acho que, com esta iniciativa, daremos mais visibilidade e notoriedade à "Ajuda Amiga" e ao vosso excelente trabalho na Guiné. Haverá sempre um link para a página da "Ajuda Amiga. Vou seguir as tuas indicações. E voltar a apelar, até ao fim do mês, para a consignação dos 0,5 % do IRS. (**)

E desculpa o lapso. a troca de especialidade: afinal fomos os dois de armas pesadas de infantaria, mas na prática bravos infantes da G3, eu na CCAÇ 12, tu na CCAÇ 13.

Gostei muito da tua belíssima homenagem ao nosso comum amigo Pepito. A Isabel Levy também gostou. (***)

Mantenhas. Luís

4. Como ajudar a "Ajuda Amiga" ? 

Caro/a leitor/a, podes ajudar a "Ajuda Amiga" (e mais concretamente o Projecto da Escola de Nhenque) (*), fazendo uma transferência, em dinheiro, para a Conta da Ajuda Amiga:


NIB 0036 0133 99100025138 26

IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26

BIC MPIOPTP


Para saber mais, vê aqui o sítio da ONGD Ajuda Amiga
: http://www.ajudaamiga.com

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17192: Ser solidário (201): A ONG Ajuda Amiga lança um livro solidário com contos da Guiné-Bissau para distribuição gratuita pelas escolas, associados e doadores da ONG presidida pelo Carlos Fortunato

(***) Vd. poste de 15 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22283: (De)Caras (138): Pepito, o amigo sportinguista (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms CCAÇ 13, "Os Leões Negros", Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga)

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22348: (In)citações (188): Lembrando a nossa CCAÇ 1439 (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)


1. Mensagem do nosso camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), enviada para conhecimento ao nosso Blogue em 3 de Julho de 2021:

Caríssimos,
Parece-me que estou a tentar fazer chover no molhado… mas sempre fui teimoso, que hei-de fazer? Eu sei que "estamos todos a ficar velhos para estas coisas”… mas, eu também estou e ainda sou capaz de arranjar tempo para o que acho vale a pena… e acreditem que por vezes tenho mesmo de me “de me dobrar e desdobrar”; embora eu, para me convencer tenha de dizer a mim mesmo que "quem trabalha por gosto não cansa…”

Tenho pena que a nossa CCAÇ 1439 esteja tão pouco representada em meios escritos. Para que a nossa CCAÇ 1439 num futuro próximo não passe quase despercebida será bom que mais alguém apareça e dê a cara.

Já vos falei do blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné. É mesmo uma pena que vocês, se ainda não o conhecem deixem de o fazer. O Beja Santos que esteve em Missirá depois de acabada a nossa “peregrinação”; o Henrique Matos que ainda esteve uns dias connosco em Enxalé antes de ir para para Porto Gole; o Júlio Martins Pereira e eu somos os únicos membros desta “tabanca “ que temos falado sobre a nossa estadia na Guiné. O Viegas também tem contribuído especialmente com fotos, mas não sei se alguma vez se chegou a inscrever.

Para tentar dar o meu contributo eu escrevi uma “crónica”: “Companhia de caçadores 1439. A sua história como a lembro e vivi” cópia da qual eu enviei para todos vocês, (creio eu que a receberam). Creio que todos vocês vão gostar de ler o que neste blogue, tem sido narrado e escrito especialmente pelo Beja Santos e Henrique Matos sobre tanta coisa que, eu sei, todos vocês gostam de recordar, embora muitos dos momentos e acontecimentos vividos tenham sido tristes e trágicos. Sei que vão gostar de lembrar, ao lerem os escritos de outros que nem da nossa companhia são a falarem dos lugares onde estivémos e por onde passamos, das situações quase idênticas… e dos nossos camaradas,  muitos deles já falecidos que merecem ser lembrados... Capitão Pires, Zagalo, o Mano, o Manuel Açoriano, Eduardo para falar dos que assim de repente me vieram à memória.

No blogue está descrito o que é preciso fazer e que é bem simples:
Basta ter sido combatente no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, e mandar-nos duas fotos (uma atual e outra antiga) e um pequeno texto de apresentação do candidato (posto, especialidade, unidade, locais onde esteve, etc.)... Entra em contacto connosco, onde quer que estejas!... A Tabanca Grande é tua, este blogue é teu.

Os endereços E-mails que sugiro para o fazer (embora hajam mais): luis.graca.prof@gmail.com e, ou carlos.vinhal@gmail.com

Bom, vou ficar por aqui antes que me mandem ir dar uma curva… antes de desligar: o Júlio Pereira é o outro e único membro da nossa Companhia no blogue; mas por motivos de saúde não contacta mais o blogue. De vez em quando telefono-lhe (ele nasceu no mesmo dia mesmo ano que eu; e sofremos “minas" na Guiné no mesmo dia!). Sofreu um AVC e sofreu o COVID de que recuperou. Está em convalescença, mas estas coisas demoram sempre mais tempo a recuperar do que gostaríamos fosse.

Um grande abraço, com esperanças de que alguém apareça para eu não me sentir tão sozinho.

João Crisóstomo
Nova Iorque

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22334: (In)citações (187): As tabernas de antigamente na minha aldeia, e a importância que elas tinham (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873)

Guiné 61/74 - P22347: Historiografia da presença portuguesa em África (270): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (7) (Mário Beja Santos)

Sociedade de Geografia de Lisboa > Uma das salas com os tesouros da Sociedade de Geografia de Lisboa


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
O Ultimatum de janeiro de 1890 indignou os sócios da Sociedade de Geografia, mas o trabalho não esmoreceu, como é patente na súmula destas atas. Moçambique passou a ser uma questão de fundo, os heróis da expedição de Lourenço Marques serão alvo de uma grande homenagem com a presença da família real. Mas há outras questões quentes que são os negócios e a necessidade de impulsionar missões constituídas por religiosos portugueses, isto reconhecer-se a crescente necessidade de missionários protestantes. A leitura destas atas, que se prolongarão até ao fim do século, e que terão desaparecido porventura com a morte do grande dinamizador da Sociedade de Geografia de Lisboa nesta época, Luciano Cordeiro, não permite uma leitura absoluta do que era o pensamento imperial, carreia motivações, desvela o papel de alguns protagonistas, mostra inequivocamente a Sociedade de Geografia de Lisboa como uma agência científica e o principal centro de interesses para onde converge a construção do Terceiro Império Português. Aqui se louvam heróis ou figuras dadas como decisivas na implantação imperial, caso de António Enes, em Moçambique, ou Henrique Dias de Carvalho, em Angola. Caminhamos para o fim, o painel de heróis da pacificação organiza-se, a Sociedade de Geografia de Lisboa, sobretudo graças a Luciano Cordeiro, ganhou o seu papel na História.

Um abraço do
Mário


O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (7)

Mário Beja Santos

Passado o choque do Ultimatum, as reuniões dos fundadores prosseguiram, havia as explorações em curso, continuaram as homenagens e os agradecimentos. Recorde-se que em novembro de 1890 fora apresentado um documento intitulado “A questão da Lunda”, tratava-se do agradecimento dos comerciantes da região ao trabalho desenvolvido pelo então Major Henrique Dias de Carvalho. E havia propriamente a pressão exercida junto dos departamentos governamentais, em setembro desse ano a Direção da Sociedade de Geografia enviara um documento ao rei D. Carlos intitulado “As concessões de direitos majestáticos a empresas mercantis para o Ultramar”, curiosamente terminava assim:
“Senhor, gratos ao patriótico incitamento e ao generoso favor com que Vossa Majestade e os seus governos nos têm animado a perseverar no estudo e na defesa dos graves interesses nacionais empenhados na consolidação e na prosperidade do nosso vasto património ultramarino, dedicando a este e aos variadíssimos problemas que nessa causa de contêm, o melhor dos nossos esforços, queremos mais uma vez corresponder a esse incitamento e favor e à confiança oficial e pública que não decerto pelo valor de tais esforços (…), vindo pedir a Vossa Majestade que se reconsidere e não se persista e continue no processo de alienar a administração e a exploração geral de toda ou parte da província de Moçambique em companhias mercantis dotadas de direitos e privilégios majestáticos”.

Já vimos como a composição do núcleo fundador conhecera graduais acréscimos, a dinamização económica que África possibilitava atrai imensos comentários e tomadas de posição. Por exemplo, o sócio João Augusto Barata mandou para a mesa a seguinte proposta:
“As colónias modernas devem ser não só centros de produção, mas também mercados de consumo. E é debaixo deste último ponto de vista que algumas potências manufatureiras procuram estabelecer o seu domínio nas regiões africanas e atropelam todos os direitos para alargar as suas esferas de ação.
A França, a Bélgica, a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, todos esses países com excesso enorme de produção que o velho continente não pode consumir, e que a poderosa indústria norte-americana tenta desviar do novo mundo, têm as suas atenções fixadas sobre as terras de África, que civilizam para estabelecer as necessidades materiais das populações a fim de atraí-las ao consumo dos produtos das suas indústrias.
O nosso país tenta, de alguns anos para cá, estabelecer o desenvolvimento das suas colónias, mas esse desenvolvimento nunca se tornará útil à metrópole se no seio desta não se derem progressos industriais notáveis. Não são os produtos agrícolas que a África precisará importar porque segundo as narrações dos abalizados africanistas há zonas naquelas feracíssimas paragens onde as culturas próprias do clima europeu se desenvolvem com prodigiosa exuberância e pasmosa produção.
Mas há muitos produtos que as colónias virão pedir à mãe-pátria e há uma infinidade de artigos que a metrópole lhe deve fornecer. Não deixemos, pois, que o desenvolvimento das possessões portuguesas vá aproveitar às indústrias de outros países; preparemo-nos para delas obtermos o excesso de exportação que tão necessário é ao regime económico da nação portuguesa”
.

E posta esta advertência o sócio fala nos caminhos-de-ferro, nos produtos siderúrgicos, no carvão e no ferro, alude à enorme montanha de minérios de ferro nas serras de Roboredo e Rates, as serras dos Monges, S. Tiago do Escoural e Alvito, antracites e outras riquezas que não podíamos continuar a descurar.

Em janeiro de 1891, após eleições o Presidente da Sociedade de Geografia passa o ser o Conselheiro António do Nascimento Sampaio. E pela segunda vez se fala da Guiné, através de uma comunicação da Direção que conheceu aprovação unânime: “A Sociedade de Geografia profundamente deplora o desastre sofrido na Guiné por forças encarregadas de guardar, manter e defender a autoridade e o prestígio da Soberania Portuguesa”. Procura-se um novo espaço para a sede da Sociedade, está-se a negociar o palácio da Rua das Chagas, pertencente ao sócio Sr. Carvalho Monteiro (o conhecimento Monteiro dos Milhões, o proprietário da Quinta da Regaleira), onde mais tarde veio a funcionar o Instituto Comercial Lisboa. Fica-se igualmente a saber que há muitos portugueses no Brasil que anseiam emigrar para Angola.

Com uma certa regularidade, os sócios pronunciam-se sobre a questão da missionação e um deles aproveita um artigo publicado no jornal Districto de Lourenço Marques para nos dar conta do que seriam as aspirações para o perfil do novo missionário: “O missionário de hoje tem que ser necessariamente um homem do seu tempo, prático e positivo, como convém ao ideal do seu mister. Só ele pode traduzir bem o pensamento da civilização, envolvendo nas práticas religiosas o nome da nação que representa. A ideia de Deus anda ligada, mais que coisa alguma, com a ideia da pátria. E estes dois nomes, por si tão grandes e tão magnânimos, são os únicos que, espalhados de selva em selva, poderão fazer do preto um bom homem e um ente digno de si. É necessário que sejam portugueses os missionários de terras portuguesas, porque só eles saberão realizar com o máximo proveito para a pátria, a sua missão tão simpática a todos os respeitos. Até há muito pouco tempo, achava-se o distrito de Lourenço Marques desprovido de missionários portugueses”. E refere a preocupante presença dos missionários protestantes, eles andam a educar mulheres indígenas, vê-se agora em Lourenço Marques um grande número de mulheres vestidas com trajes europeus e têm diminuído a embriaguez e a prostituição das mulheres. Seria motivo de reflexão para se tomarem medidas efetivas de lançar no terreno missionários portugueses.

Em 1892 já se fala explicitamente na fusão do Museu Colonial com o Museu da Sociedade de Geografia (o Museu Colonial existia junto do Ministério da Marinha e do Ultramar). Aqui e acolá as sessões debruçam-se sobre temas internacionais, é o caso da Exposição Universal de Chicago que se iria realizar no ano seguinte, havia que fazer um estudo sobre as relações marítimas e comerciais de Portugal com os Estados Unidos. Na sessão de maio desse ano, com a presidência do Dr. Sousa Martins, Luciano Cordeiro faz revelações sobre o Padrão de Diogo Cão que entrara nas coleções do museu. Emite-se parecer sobre a importância das missões ultramarinas, trabalho que coube à Comissão Africana, analisa-se a delimitação de Manica bem como as celebrações do Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique, bem como do Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.

Em meados desta década de 1890 ganha ênfase a glorificação dos heróis e das forças expedicionárias em campanhas de pacificação em Moçambique. E quando o Major Calda Xavier morre a alocução de Luciano Cordeiro é vibrante:
“Quando, penetrada do mesmo santo entusiasmo que agita generosamente a nação, a nossa Sociedade vê, satisfeita e consolada, refletir-se nesse entusiasmo a sua obra de vinte anos de confiada e persistente propaganda e o esforço heroico de tantos dos seus sócios que vão por dias voltar da última campanha de África, chega-nos inesperadamente a notícia de que não voltará com eles, de que não mais veremos entre nós um dos nossos mais antigos e dedicados companheiros, o valente de Mopéa e de Maciquece, o intrépido e rijo explorador do Inharrime e do Limpopo, e que de há tanto e há tão pouco tempo ainda ensinada todos a vencer a insubordinação insolente dos vátuas, e que deu a ideia e a vida para nos redimirmos dessa longa vergonha do Gungunhana; em suma o inspirador experiente, o provedor acrisolado, o guia e o conselheiro autorizado, modesto, obscuro dessa campanha tão brilhantemente dirigida por outro consócio nosso, o Coronel Galhardo, tão heroicamente encerrada por outro consócio ainda, o Capitão Mouzinho.
Caldas Xavier morreu.
Partira deixando na pobreza os pais, a mulher e os filhos.
Morreu deixando-os na miséria. Ao partir, aquele belo coração supunha salvar a família. Depois de ter estragado a saúde na vanguarda dos que seguem a Pátria, não tinha garantido o pão quotidiano dos seus. Morreu na vanguarda dos que morrem por ela, certamente entregando-lhe no último alento a prece pelo futuro dos filhos (…) Por isso, a vossa mesa tem a honra de propor-vos, que, com o registo público do nosso profundo sentimento, a autorizeis a que em vosso nome recomendasse à justiça e à munificência do Estado a família de Caldas Xavier”
.

Confere-se medalha de ouro a António Enes, Comissário Régio. E em 25 de abril de 1896 há uma sessão solene no Real Teatro de S. Carlos, os heróis da expedição de Lourenço Marques vão ser homenageados e vitoriados.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22329: Historiografia da presença portuguesa em África (269): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22346: Fotos à procura de... uma legenda (152): Que estrada seria esta? Brá-Safim-Landim-Bula ou Brá-Safim-Nhacra-Mansoa? (João Rodrigue Lobo / Virgílio Teixeira / José Carvalho / Valdemar Queiroz)


Foto nº 1A


Foto nº 1


Foto nº 1B

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > s/d: "uma enorme coluna do PTE".... A estrada (asfaltada) não está identificada, mas podia ser a de Nhacra - Mansoa - Mansabá... Não havia muitas na altura... Vê-se ao fundo aquilo que pode  ser um aquartelamento. Por outro lado, a vegetação é rasteira, dando indícios de capinagem relativamente recente... 

A coluna é encabeçada por duas viatuaras Mercedes, a terceira é um jipe e a quarta é uma viatura cicvil, uma carrinha, branca, de caixa aberta,  com população civil...

Diz-nos, posteriormente, em email,  o autor da foto,o João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez 1967/fev1971):

(...) "Não estive em Bambadinca, aliás só saía esporadicamente acompanhando as viaturas ás obras, especialmente das estradas. (Bem protegidos pelos camaradas de armas; embora levasse a minha G3 bem á mão, eu próprio conduzia, sempre, a viatura onde me deslocava).  A foto acima,  com  "uma enorme coluna de viaturas", e que vocês acharam que poderia ser a estrada Nhacra - Mansoa -Mansambá, foi uma dessas tais colunas. Mas a foto foi tirada após saída de Brá, julgo que para a estrada de Có / Pelundo.

Por essa estrada, de Brá a Có, cheguei a ir em carro civil com outros camaradas, pois a guarnição da jangada de João Landim nos transportou para a outra margem, por, nessa data, a estrada até Có ser considerada segura. (Mas pouco , como depois vim a saber". (...)


Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários dos nossos leitores ao poste P22302 (*)

(i) José Carvalho:


(...) Na estrada Nhacra -Mansoa - Mansába - Farim, passei inumeras vezes e conhecia-a ao pormenor,mas parece-me decorrido meio século,que não havia no seu traçado uma zona com o declive que a foto revela, nem um aquartelamento em posição cimeira.

(...) Comparando com fotos tiradas (Out 70) na estrada de Nhacra para o Cumeré, verifico algumas semelhanças quer no tipo de orografia, quer no tipo de vegetação adjacente à via. Quem passou pelo Cumeré poderá opinar! (...)

(ii) Luís Graça:

Outra hipótese: as instalações que se veem do lado direito da estrada, e que parecem estar roeados de um extenso perímetro de arame farpado, não poderiam as da emissora da Guiné, em Nhacra ?... O edifício pricipal tem uma certa volumetria e há também algo que também pode ser um depósito de água como uma antena de transmissões... Era natural que o emissor estivesse instalado numa cota mais alta...

Enfim, só fiz este percurso em 2007, altura em que fui ao Cantanhez, passando por Bambadinca e Saltinho... E na volta fui a Mansoa e almocei em Nhacra...com o cor art ref Nuno Rubim!

Veja-se aqui a carta de Bissau (1949), escala 1/50 mil... As cotas são todas baixas...

https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial32_mapa_Bissau.html


(iii) Valdemar Queiroz:


Realmente, vendo a fotografia da coluna à primeira vista não parece ter sido tirada na Guiné.
Pelo traçado e estado da estrada, da vegetação envolvente, os postes eléctricos e os edifícios ao alto, não fora a pequena viatura descapotável com pessoal africano, diria tratar-se de uma coluna em instrução na metrópole.

Mas, tratando-se da estrada próximo de Bissau, julgo haver camaradas no blogue que iam de motorizada até Nhacra e mais longe e devem, pelo declive, conhecer este local



Guiné > Sector de Bissau > Carta de Bissau (1949)  > Escala 1/50 mil >Posição relativa de Bissau, Brá, Bissalanca, Safim e Nhacra.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2021)


2. Mensagem do editor do blogue, enaviado ao VirgílioTeixeira:


Data: quinta-feira, 24 de junho de 2021, 16:02
Assunto: Que estrada seria esta ? Brá-Safim-Landim-Bula ou Brá-Safim-Nhacra-Mansoa ? (**)


Confere esta foto, que segue em anexo (Foto nº 1, acima reproduzida), com as tuas fotos... Andaste por estes sítios, de motorizada...Foste até Safim e paar lá de Safim, a caminho de Nhacra.

Numa das tuas fotos veem-se os postes telegráficos, do lado esquerdo... E de ambos os lados da estrada, há uma larguíssima faixa capinada... Mas o terreno é plano... Ao fundo, do lado esquerdo, há uma tabanca.

Os postes telegráficos são uma boa pista... No interior da Guiné, já não os havia, con as sabotagens do início da guerra...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2018/02/uine-6174-p18287-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/06/guine-6174-p22302-reavivando-memorias.html



Guiné > Sector de Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Brá, Bissalana e Cumeré (na maregm esquerda do canal do Impernal)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)

3. Memsagem do Virgílio Teixeira, com data de 24 de junho passado:

Começo logo por dizer que quando vi a foto do Lobo, no jeep, quando saiu o poste parecia que era eu mesmo! Tenho fotos nas deslocações do Gabu para Bambadinca, e numa delas muito parecida com esta. Mas não comentei na altura, faço agora.

Estive a ler o meu poste e comentários das minhas loucuras de motorizada, hoje tenho de confessar que, não fossem as fotos,  não acreditava nestes relatos, feitos a uma distância de 50 ou mais anos.

Vejo com alguma nostalgia as mudanças nos nossos comentários, mudou muito e para pior, não sei de quem é a culpa e pouco importa agora, terei a minha dose com toda a certeza.
Vamos ao que interessa e puxar pela tola e ler as minhas fotos, estas e muitas outras.

Nunca vi uma coluna com esta dimensão. Para onde iam tantos camiões? Cumere não era, conheço e não faz sentido uma colunas destas.

Naquele tempo, 68/69, estas estradas eu conhecia bem,  pois era eu o único interveniente, era asfaltada até Bissalanca, depois terra batida. A partir daqui não havia postes telegraficos, que me lembre. O declive que se vê, não era suposto ver de Bissalanca para Safim etc.

O capim era assim, tudo rapado de um lado e outro. Não se via quase tabanca nenhuma, nem pessoal na berma, há uma foto onde se vê um homem, e por ser anormal eu fiz a foto em andamento.

Neste percurso portanto não existia nenhuma instalação como aquela que se vê numa das fotos da coluna. Logo não pode ser depois de Bissalanca.

O mais natural é ser mesmo uma coluna, chegada num navio, toda nova, a caminho de Brá, instalações do BENG 447. Havia nos 10 km desde o mercado de Bandim, muitas zonas tipo rural, sem tabanca nem vegetação, mas com os tais postes.

A mata cortada era uma das necessidades daquele percurso tão movimentado, era afinal a 'cara da Guiné', para os militares e civis visitantes.

Assim concluo, sem absoluta certeza, que é na Guiné, a coluna vem de Bissau a caminho de Brá.

Não poderia ser noutro cenário, salvo outras conclusões que estou pronto a aceitar se tiverem mais força que as minhas.

Dado que fiz isto muitas vezes, algumas com receio por não avistar viva alma, haverá quem fez mais vezes, mas eu como 'turista' via com mais pormenor.

Também colocamos fora de questão que estas imagens sejam para lá de Safim ou Nhacra.
Espero ter ajudado.

Abraço do Virgílio Teixeira

4.
 Mensagem do Virgílio Teixeira, com dat de 25 de junho passado;

Bom dia.

Hoje estive a ver melhor outras fotos nas minhas viagens para Safim, João Landim e Nhacra.
Esta é a  única foto na estrada, e tenho tantas, foi feita a caminho de Bissalanca. Porque é estrada asfaltada. Dali para a frente era terra batida.

A vegetação baixa era uma constante. E vejo uma tabanca do lado esquerdo, coisa que não me lembro para cima.

Se existisse mata e selva,  é claro que eu não ia. Vejo, ou melhor dizendo, que nesta viagem fui acompanhado com o Furriel Riquito, pois foi ele que tirou as fotos onde eu apareço. De  outras  vezes fui sozinho.

As minhas dúvidas são :

1. O que fazia esta grande coluna e para onde se deslocava? Só pode ser na zona de Bissau.  

2. Aquelas instalações, por cima do camião da frente são grandes demais para estarem fora do perímetro de Bissau.

3. Por outro lado se a coluna vai na direcção de Bissau, as instalações do lado direito não vejo o que seria, pois só havia unidades militares do lado direito a caminho de Bissau, daí que seriam ao contrário.

4. As ligeiras elevações da estrada coincidem com aquelas existentes até Bissalanca.

5. Dali para cima era tudo linha recta sem altos e baixos.

6. Como diz o outro.. "penso eu de que"!

Agora também estou curioso. Mas falta-me a memória.
Ab Virgilio



Guiné > Sector de Bissau > Safim >  11 de março  de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (CCS/ BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), de motorizada, vindo de Bissau, na estrada de Safim, onde havia um cruzamento para João Landim / Bula (a noroeste) e outro para Nhacra / Mansoa / Mansabá (a nordeste)- Foto tirada pelo fur mil Riquito.


Guiné > Sector de Bissau > Estrada de Safim-Nhacra   > O alf mil SAM Virgílio, Teixeira,  de motorizada, em Safim, a caminho de Nhacra.. Foto tirada pelo fur mil Riquito. (***)

Fotoa (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de junho de  2021 > Guiné 61/74- P22302: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte I: sem falsa modéstia, um exemplo de empenhamento e competência

(**) Último poste da série > 6 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22260: Fotos à procura de... uma legenda (144): Cecília Supico Pinto, em Có, em 2 de maio de 1969, distribuindo sorrisos e maços de cigarros da INTAR...

terça-feira, 6 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22345: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte VI: Mário Augusto Telles Grilo, ten inf (Porto, 1885 - França, CEP, 1917)

 

Mário Augusto Telles Grilo (1885-1917)


Nome:  Mário Augusto Telles Grilo

Posto: Tenente de Infantaria

Naturalidade: Porto

Data de nascimento: 26 de Janeiro de 1885

Incorporação: 1907 na Escola do Exército (nº 77 do Corpo de Alunos)

Unidade:  1ª Brigada de Infantaria, Regimento de Infantaria n.º 18

Condecorações

TO da morte em combate: França (CEP)

Data de Embarque: 19 de Março de 1917

Data da morte: 12 de Junho de 1917

Sepultura: França, Cemitério de Richebourg I`Avoué

Circunstâncias da morte:  Combatendo na 1ª linha do dispositivo táctico do CEP, foi gravemente atingido por fogos alemães que lhe provocaram a morte.



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem



1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22344: Notas de leitura (1364): “O Colonialismo Europeu no Continente Africano”, por Mário Gonçalves Martins; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
O autor destes apontamentos universitários é um professor catedrático com larga bibliografia e ainda a dar aulas. É de questionar a utilidade do seu trabalho: a bibliografia não chega ao século XXI e não há contraditório; não se entende a organização deste trabalho em que se está a falar da Conferência de Berlim e logo adiante se fala das caraterísticas do colonialismo português em todo o Estado Novo. Para os saudosistas do Império Português, é no entanto uma obra interessante, na medida em que o autor detalha as sucessivas etapas da extinção do colonialismo português, primeiro com as intromissões que acabaram por ter força de Lei, dos impérios francês e britânico; e depois da Conferência de Berlim como sucessivos tratados diminuíram a presença portuguesa em África. Resta dizer que nem sempre foi assim como se exemplifica com a Convenção Luso-Francesa de 1886, em que se definiram as fronteiras da Guiné, o tratado deu largamente vantagens a Portugal, em termos de território para ocupar, mesmo à custa do sacrifício do Casamansa.

Um abraço do
Mário


O colonialismo europeu em África, séculos XIX e XX

Beja Santos

“O Colonialismo Europeu no Continente Africano”, por Mário Gonçalves Martins, Chiado Editora, 2017, é uma obra escolar destinada, segundo o autor, a um conjunto de unidades curriculares onde esta temática tem cabimento. Segundo o esquema anunciado pelo autor, temos três abordagens: os êxitos do colonialismo europeu em África; os obstáculos sentidos; os fracassos desse colonialismo.

É recordado que no início do século XIX os ingleses já estavam instalados na Índia, na África do Sul e no Canadá, possuíam colónias na Austrália, na Nova Zelândia, nas Caraíbas e na Guiana; a Holanda controlava a Indonésia; a França a Espanha e Portugal possuíam territórios ultramarinos e a partir da década de 1870 outras potências europeias deram sinal de vida em prol do expansionismo imperial. A partir de 1830 desencadeia-se na Europa um fenómeno que teve o nome de missão civilizadora, uma convergência da herança do iluminismo, da avidez dos recursos africanos, o que implicava a subjugação do território, a erradicação da escravatura e o espírito missionário. Em 1830, a França implanta-se na Argélia, por essa época a Grã-Bretanha conduz uma cruzada antiesclavagista e as entidades científicas começaram a enviar missões ao interior do continente. Em meados do século XIX, essa presença colonial era relativamente modesta: a França implantara-se na Argélia, na região da Senegâmbia e no Gabão; a Grã-Bretanha possuía a colónia do Cabo, a Serra Leoa e a Costa do Ouro, uma parcela do que virá a ser a Nigéria; Portugal possuía as colónias que irão ficar independentes entre 1974 e 1975. Em 1914, o mapa político era totalmente diferente, França, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Portugal, Bélgica e Espanha eram as potências imperiais, desaparecera a soberania africana.

Mário Gonçalves Martins centra-se no que aconteceu depois da segunda metade desse século, a descoberta de riquezas, as explorações científicas, os grandes projetos de desenvolvimento, releva os interesses belgas, franceses, britânicos e alemães. Regista o que ele designa por direitos históricos de Portugal e a sua contestação por britânicos, franceses e alemães. E, inopinadamente, o autor dedica-se a falar das caraterísticas do colonialismo português, indicando uma estranhíssima bibliografia que não chega ao século XXI e onde não há contraditório.

Segue-se a Conferência de Berlim, são enunciadas as suas consequências e a partilha do continente.

Conferida esta dimensão de êxitos do colonialismo europeu, o autor centra-se nos obstáculos: as sublevações, as manifestações anticolonialistas, mormente depois da II Guerra Mundial e a deslocação da Guerra Fria para o continente africano, bem como para os anfiteatros da ONU. De novo o autor passa do geral para o particular e dá-nos uma resenha acerca das lutas contra o colonialismo português, designadamente o que se passou em Angola, na Guiné-Bissau e em Moçambique, que movimentos e agrupamentos aí se formaram. Essa oposição anticolonial também se manifestou na metrópole, fundamentalmente pelas manifestações apresentadas pela oposição, o descontentamento da Igreja Católica e o próprio sistema empresarial que a partir de dado momento se apercebeu que as despesas militares eram um verdadeiro entrave ao desenvolvimento português; e o autor esquematiza as contestações exógenas desde o Movimento dos não-Alinhados até aos nossos Estados independentes africanos.

E chegamos à terceira e derradeira parte do livro em que Manuel Gonçalves Martins enumera os fracassos do colonialismo europeu, tornado visível ainda na década de 1950, autêntico turbilhão a partir dos anos 1960. É sobre a extinção do colonialismo português que este autor expende uma opinião curiosa. Logo com a perda dos direitos históricos de Portugal concretizada durante a Conferência de Berlim (1884-1885) e nalguns tratados assinados entre Portugal e algumas potências europeias (1885-1914). Antes da Conferência de Berlim, a Grã-Bretanha intrometeu-se nas zonas de Cabinda, em Bolama, na Baía de Lourenço Marques; a França desde cedo pretendeu a supremacia sobre o rio Casamansa; a Associação Internacional do Congo infiltrou-se nos territórios da margem sul do Zaire; e o Transval assinou com Portugal um tratado sobre os limites de Moçambique que arrebatou o Império Português e uma importante região mineira ao sul do Lourenço Marques; o Tratado Luso-Britânico de 1884 trouxe inúmeros prejuízos a Portugal, o sonho de Angola à Contracosta esfumou-se.

Na Conferência de Berlim foram eliminados os direitos ou privilégios de Portugal anteriormente alicerçados, deu-se como irrealizável o Tratado Luso-Britânico de 1884 (o Tratado do Zaire). O convénio assinado por Portugal com a Alemanha em 30 de dezembro de 1886 delimitou a fronteira entre os territórios da Alemanha e a África portuguesa, o Governo Português sacrificou os territórios compreendidos entre o rio Cunene e o Cabo Frio. Mas há mais, o autor repertoria outros documentos que reduziram a influência portuguesa em África. Para Manuel Gonçalves Martins, os tratados assinados em Inglaterra conduziram Portugal à decadência e à ruina.

Noutro apartado, este docente universitário refere-se à liquidação dos restos do Império Português, vai diretamente para o golpe de Estado de 25 de abril de 1974, segue-se a Lei n.º 7/77, de 27 de julho, onde se reconheceu o direito dos povos à autodeterminação, seguem-se as medidas de concretização da descolonização, e depois de uma forma vaga e genérica fazem-se referências ao abandono dos restos do Império e a quem interferiu no processo descolonizador. Não há uma só referência aos acontecimentos associados à luta armada e à sua evolução nem a escalada armamentista na Guiné e em Moçambique, parece que o Império Português foi liquidado por obra dos diplomatas. Num aparato pretensamente neutral fala-se dos partidos políticos portugueses associados a essa descolonização e a seguir desanca-se no Governo de Marcello Caetano, sempre falando em “alguns autores”: “Foi o principal impulsionador da destruição total do Império Português. A sua Administração impressionou-se com as dificuldades inerentes à conjuntura, e (desprezando os seus compromissos, a vontade da Nação, e as orientações coerentes e constantes de Salazar) suprimiu as disposições constitucionais que apresentavam como motivo para a defesa do Império Português o cumprimento da missão nacional”. Como o docente se põe atrás de alguns autores, desta vez cita Adriano Moreira, dizendo que para este, a política de Marcello Caetano destruiu os motivos para defender as colónias portuguesas. E vale a pena concluir com este arrazoado do autor: “Quando Marcello Caetano decidiu opor-se claramente à independência política das colónias portuguesas, não conseguiu evitar o desastre”. É invocado que Jorge Jardim se reuniu com os emissários do Governo da Zâmbia, que o General Spínola escreveu o livro “Portugal e o Futuro” e, desta vez, citando Franco Nogueira acrescenta que tudo se arruinou e desmoronou. Referiu-se atrás que o autor é escandalosamente parcial na bibliografia que apresenta. Bastava que ele tivesse lido o que se escreveu sobre as conversações com o PAIGC, as reuniões em Roma com o MPLA, o que Marcello Caetano propôs a Santos e Castro para a independência unilateral de Angola e ficar-se-ia com a ideia correta que no final do regime Marcello Caetano não se opunha à independência política das colónias portuguesas, tentava desesperadamente garantir independências brancas em Angola e Moçambique, não havia quaisquer ilusões de que a Guiné era um Estado independente, um processo irreversível.

Fica-se sem perceber muito bem para que é que se escreve um livro de lições antiquado e escandalosamente parcial, nem chega a ser gato escondido com o rabo de fora. O que ainda é mais bizarro, atendendo ao currículo deste professor catedrático. Já não me admiro com coisa nenhuma. Aqui há uns anos atrás, o professor Veríssimo Serrão dedicou um volume da sua História de Portugal ao regime de Salazar. A bibliografia era eloquente: as memórias do Almirante Américo Tomás, os discursos de Salazar e o Diário do Governo. Não há explicação para esta historiografia de risota.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22323: Notas de leitura (1363): “As Voltas do Passado, a Guerra Colonial e as Lutas de Libertação”, organização de Manuel Cardina e de Bruno Sena Martins; Edições Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)