1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil Trms TSF, Bissau e Piche, 1970/72):
Caro camarada Luís Graça:
Vi umas breves imagens na RTP1 sobre o funeral de Nino Vieira (*) e delas registo a grande manifestação de pesar por parte de significativo número de elementos da população (também não esqueço que Bissau é chão papel), que me deixaram a pensar, sem ter chegado a nenhuma conclusão, se o povo estava a homenagear o heróico e valoroso combatente da luta de libertação ou se o representante máximo da política que tem desgraçado aquele país. Infelizmente sei que não é fácil, senão impossível, separar as duas personalidades, porque são ambas o mesmo....
No entanto o que realmente retive, me sensibilizou e tomei a sério, foi a vibrante e sentida declaração, em jeito de apelo, duma filha de 'Nino', uma jovem que aparentou uma grande postura e sentido de Estado, de seu nome Nuntcha Vieira (**), que disse, não exactamente por estas palavras, porque não as gravei, mas cujo sentido julgo ter apreendido, e que foi "agora que ele morreu, vamos parar de nos matar uns aos outros, já chega".
É preciso acreditar, mais uma vez, que a Guiné, a "nossa Guiné", nossa no sentido daquela estima e amor que por ela nutrimos, tem ainda direito a mais uma oportunidade para ser um Estado viável. É certo que a conjuntura mundial agora não é nada favorável. É certo que a Guiné já "queimou" inúmeras boas-vontades. Mas é preciso acreditar, tanto mais que temos (tenho) a sensação que pode haver a tentação de "repartir" aquele território pelos seus gulosos vizinhos a norte, leste e sul e disso não me parece que viesse a haver mais benefícios para aquelas populações do interior.
Será certamente a partir das jovens gerações, de novos quadros, da diáspora e não só, de que a Nuntcha parece ser um exemplo, que pode a Guiné renascer na esperança e trilhar de vez o caminho da paz interior e do desenvolvimento.
Que assim seja!
Um abraço forte para todos os amigos
Hélder Sousa
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4001: Nuvens negras sobre Bissau (19): 'Nino' Vieira (1939-2009): tão bom combatente como mau político (Virgínio Briote)
(**) Título do Angola Press: 11-03-2009, 14:43 > Guiné-Bissau: Filha de Nino Vieira pede reconciliação de bissau-guineenses
Bissau - Elisa Vieira, uma das filhas do finado Presidente João Bernardo “Nino” Vieira da Guiné-Bissau, instou os cidadãos deste país a reconciliar-se e parar de se matar de uma vez para sempre, soube a PANA em Bissau.
“Vamos parar de nos matar de uma vez por todas”, clamou a filha do Presidente bissau-guineense na cerimónia de homenagem ao seu pai realizada terça-feira, em Bissau, no Palácio das Colinas de Boé, sede da Assembleia Nacional Popular (Parlamento) da Guiné-Bissau.
Segundo Elisa Vieira, residente actualmente na Europa, a sua vinda e a dos seus irmãos a Bissau teve a finalidade não só de se despedir do pai, assassinado a 2 de Março corrente na sua residência na capital bissau-guineense por militares
não identificados, “mas também de pedir que os Guineenses se reconciliem”.
Afirmou que o seu pai, que esteve durante muito tempo exilado em Portugal depois do último conflito militar que determinou o seu derrube do poder antes de regressar ao país para ganhar as eleições presidenciais de 2005, “morreu por acreditar e crer” na reconciliação do seu povo.
Exaltando o orgulho da sua família pelas qualidades do pai como “um grande homem, um grande filho da Guiné”, Elisa Vieira, que não conseguia conter as lágrimas durante a sua curta alocução, disse que eles nem sempre conseguiram comungar, mas sempre respeitaram, a vontade do seu progenitor de voltar ao seu país “e fazer aquilo que sempre fez desde a infância”. (...).
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Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Foi, realmente o que mais me ficou na retinha. Uma jovem emocionada a implorar pela harmonia entre todos os Guineenses. Oxalá o consigam.
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