terça-feira, 8 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P4919: Estórias do Luís Guerreiro (1): Luís Manuel Nunes Guerreiro: Emboscada na estrada Pirada - Bajocunda em 04JUL1970



1. O nosso Camarada Luís Guerreiro, Ex-Fur Mil CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Gadamael e Ganturé, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem em 7 de Setembro de 2009:

Camaradas,

Depois de alguma ausência, achei hoje pertinente falar sobre o Pel Caç Nat 65, aonde cheguei em Jan/70 e permaneci até Agosto/70, com o fim da comissão.


O grupo era composto por cerca de 35 soldados nativos (valentes, destemidos e todos bem conhecidos na zona leste pelo inimigo) e 7 continentais.

Tem sido com interesse que tenho seguido as crónicas do José Manuel Dinis da CCaç 2679, pois os nossos caminhos cruzaram-se em Piche, Buruntuma e Bajocunda, aonde menciona diversas vezes o Pel 65.

Na sua chegada na coluna de Nova Lamego para Piche, e que teve como escolta o Pel. Fox e o Pel 65, aonde menciona que era comandado por um cromático alferes que deambulava de pistola à cinta, empunhando uma moca com um lenço amarelo, esclareço que o dito alferes se chamava Monteiro, e esse era o seu equipamento preferido mesmo em patrulhamentos.


Estivemos implicados no ataque de 27FEV1970 á base de Kandica, retaliando o ataque a Buruntuma, aonde o Pel 65 permaneceu cerca de um mês, antes de ser tranferido para Bajocunda.

Também menciona, o apontador do morteiro, que chegou a levar este cheio de vinho durante uma saida para o mato,é verdade, chama-se Ismael, era cabo, e um excelente operador do morteiro 60, embora por vezes se encontrasse sob os efeitos do álcool, era bom rapaz e excelente combatente.

Sobre a emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda, foi no dia 4 de Julho 1970, e passo a descrevê-la:

Emboscada na estrada Gabú – Pirada - Bajocunda


Nesse dia o Pel 65, teve como missão fazer uma coluna a Nova Lamego, para buscar o correio.

Sendo eu o responsável pela coluna, por volta das 07h00, saímos de Bajocunda pela estrada de Pirada.

Chegados ao Gabú esperamos pelo avião e, quando o correio nos foi distribuido, fiz os preparativos para regressar.

Um alferes da CArt 2438, que tinha vindo no avião, perguntou-me se podia vir na nossa coluna, ao que eu repondi que sim, avisando-o que ia pela outra estrada que não passava em Pirada, ao que ele me retorquiu que, essa estrada, se encontrava em piores condições.

Disse-lhe então que se queria vir com o meu grupo, era por aquela estrada porque, por experiência própria, não gostava de passar duas vezes seguidas pelo mesmo sítio.


Mais informei que se encontrava ali uma coluna de civis, aonde se juntou um Grupo de Combate dos Comandos Africanos (G.C.A.), para seguir para Bajocunda, pela estrada de Pirada mas, mesmo assim, o alferes resolveu vir connosco.

Chegados a Bajocunda, e quando me encontrava a depositar os sacos do correio, ouviu-se um verdadeiro tiroteiro, para os lados da tabanca de Tabassi, na estrada de Pirada.

O capitão da CArt 2438, que se encontrava junto a mim, perguntou o que seria aquilo, indaguei se ele tinha homens fora, ao que me disse que não.

Pensei logo que seria uma emboscada à coluna de civis e ao G.C.A.

A emboscada estava, na realidade, montada para o meu Pel 65, porque devem ter sabido que nós tínhamos saido e, normalmente, regressavávamos pela mesma estrada.

Em Bajocunda não havia conhecimento da coluna de civis.
















Aspectos dos resultados da emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda















Aspectos dos resultados da emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda

Saí imediatamente com o meu grupo de combate e, à chegada junto da referida coluna, deparamos com uma viatura civil a arder com o corpo do condutor calcinado pelo fogo, só se vendo os ossos (como se pode ver nas fotos que envio).

O Grupo dos Comandos Africanos sofreu duas baixas, um cabo miliciano de transmissões e um soldado.

Tenho mais para contar sobre o meu Pel 65, mas como esta história já vai longa ficará para outra vez.

Cumprimentos,
Luis Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e do Pel Caç Nat 65

Legendas das 4 primeiras fotos:

1 - Bajocunda

2 - Buruntuma, capela e monumentos das companhias

3- Piche porta de armas

4 - Buruntuma, o Pel.65 em patrulhamento

Fotos e legendas: © Luis Guerreiro (2009). Direitos reservados.
___________

Notas de MR:

Este poste é o primeiro desta série.

Vd. postes anteriores deste autor em:

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3086: Memórias dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3087: Memórias dos Lugares (11): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte II (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)


9 comentários:

JD disse...

Meu Caro Luis Guerreiro,
Que agradável surpresa encontrar-te aqui. Passados estes anitos de peluda, ainda reconheço os traços da tua juventude.
Além disso as tuas fotografias são muito boas. Em Bajocunda gosto particularmente da que incide sobre a secretaria, com destaque para o "submarino" em primeiro plano. "Submarino" era a designação que dávamos a um paiol, pela configuração que a imagem revela. Mas também mostras a capela, construção aberta com telhado de duas águas.
Finalmente verifico que resides no Canadá. Dá notícias quando vieres cá ao jardim. O Barbosa é assíduo nos encontros da 2679, e tem o contacto do Monteiro que está em Lisboa. O Pinheiro, infelizmente, é que já não pode comparecer.
Um grande abraço
J.Dinis

Anónimo disse...

QUERSEDIZER: anda um pai a criar um filho, para isto. Ser obrigado a ir bater com os costados na guerra...
É o destino diziam.
Mas pronto's, livrou-se da guerra, e agora?
...e depois desta trabalheira toda para onde é que ele foi viver?
P'ró Canadá, que é uma terreola aqui pertinho, de fácil acesso, até se vai de bicicleta e perto de tudo e de todos e os camaradas que andaram com ele na tropa que se lixem.
Raizoquilhem!!!

Ainda te lembras do Jorge Peixoto e do Quintino Monteiro?
Eu, estes dois mânfios e mais alguns que andamos no teu curso em 67 em Vendas Novas: o Teixeira,( Jorge como eu), o Dias, o Serrão, o Moreira, o Almeida(Bioxene,ganda maluco), e que formamos o "Bando dos Furríeis", (muito antes do "outro" vir lá com a hitória dos bandos), vamos amanhã, dia 09.09.09, como acontece todos os meses na segunda quarta-feira, estar no café Progresso, aqui no Porto.
Se quizeres cá dar um saltinho, és sempre bem vindo.
Aliás o apelo é extensível a todos os que foram parar á EPA em Junho de 1967 (dia 24 dia de S. João, sacanas!!!) e mais tarde, em Agosto de 68 fizeram um cruzeiro no Uíge rumo á "Colónia de Férias", GUINÉ.

A gente bem insiste, porque temos sempre esperança que mais alguém nos leia e apareça.

Um abraço, e até sempre.

cumprim/jteix-veterano de guerra
ex-Furriel Milº Art.
CART2412-68/70 Bigene-Guidage-Barro

Anónimo disse...

Sou eu outra vez.

Um esclarecimento.
O "cromático" Alferes Monteiro do lencinho amarelo, não era "O Semalha", alcunha por ser da Madeira?
Se é esse foi-nos lá parar a Barro, depois de ter sido expulso de Piche por ser bom rapaz.
Já agora gostava de saber.

cumprim/jteix

JD disse...

Teixeira,
Imagino ter a resposta. O Monteiro não é madeirense. Penso que é da região do Porto.
Em 1970 aconteceu ao meu amigo Guerra, alferes do Foxtrot, de uma companhia madeirense, a 2679, ter sido punido por ser um bom rapaz, porque quiz livrar o pessoal de uma noite de mato. Eu estava com paludismo.
Foi parar a um Pel.Caç.Nat. que sofreu uma tremenda emboscada, talvez no Barro.
Um abraço
J.Dinis

Unknown disse...

Ó Guerreiro não vou comentar o post. Só quero saber se o Teixeira tem razão e por acaso não és o ex-guarda-redes de andebol do meu(nosso) ex-pelotão da EPA, do qual faziam parte o Neto, o Lourenço, o gordo do Barreiro de que não me lembro o nome e outros dois manfios de que também não me lembro o nome ?
É que até ainda estás parecidinho como eras naquele tempo. Um abraço e manda notícias.

Anónimo disse...

José Dinis

Então o homem não é o mesmo, porque o "meu", salvo seja, era madeirense, tenho a certeza, mas também era cromático, como diz o Guerreiro.
Quanto a te parecer ser da região do Porto, já me deixa um bocado preocupado, porque de lencinhos amarelos já há cá que chegue.

Um abraço
...e cuidado com aqueles de lencinho, não importa a cor.

cumprim/jteix

Anónimo disse...

Por acaso passei hoje por aqui, coisa que já não fazia desde 10 ou 12 de Julho, desde quando abalei para a praia da Costa Nova e apenas quero lembrar ao carissimo José Dinis que o seu amigo Guerra não foi parar a Barro, mas sim ao Infandre, na época uma estância de veraneio do Sector de Mansoa, adestrito à CCaç 2589 que tinha então por cmdt este paisano, que de tropas e guerras não pescava nada.
Abraços
Jorge Picado

JD disse...

Caros Teixeira e Picado,
As dúvidas estão clarificadas, para um, era outro; para o outro era um veraneio.
Façam o favor de viver com alegria.
Abraços
J.Dinis

Anónimo disse...

Olà Caro Luis é verdade que o pel de caç nàtivos 65 foi muito util em Piche fez muitas saidascom a 2440 e outras companhias até ao corubal e arredores etc a operaçao mais riscada foi no dia 27 de fevereiro em boruntuma mas houve tambem uma embuscada com contacto com o in;O Alferes Monteiro que falas nao era o da 2440 que teve dez dias de prisao? e que depois foi para a Cart 2412. sem mais um abraço . josé rocha