segunda-feira, 5 de julho de 2010

Guiné 63/74 – P6675: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XI): O escritor, o teatrólogo e o atrevido escrevinhador

1. Mensagem de Vasco da Gama* (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74) , com data de 5 de Julho de 2010:

Comecei por escrever um comentário ao poste do Nery e fui andando, andando até ao anexo que publicarão se assim o entenderem....

Um abraço amigo.
Vasco da Gama


BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - XI

O ESCRITOR, O TEATRÓLOGO E O ATREVIDO ESCREVINHADOR


Camaradas e Amigos,
Por motivos que me ultrapassam, mas com quase toda a certeza ligados à minha nabice informática, não consegui colocar um comentário ao texto referenciado no P6672**, publicado pelo nosso camarada Carlos Nery, penso que a pedido do Mário Cláudio, conceituado escritor com uma vastíssima obra da qual possuímos, a minha mulher e eu, alguns livros. Não entendo a razão porque não foi o próprio a enviá-lo, pois parece-me que é membro da nossa Tabanca Grande, faltando-lhe apenas o envio das fotografias actuais para que a sua entrada seja devidamente “formalizada”.

Confesso a minha iliteracia “Claudiana,” pois ainda não li qualquer obra de um escritor premiado com o prémio Fernando Pessoa e com o prémio Vergílio Ferreira, entre outros, o que constitui uma “falha” que prometo colmatar se a minha cabecinha, cada vez menos pensadora, não me trair nessa intenção.

Como grande parte dos meus camaradas sabe sou pessoa ligada ao teatro amador no meu querido Grupo Caras Direitas, fundado há mais de uma centena de anos, onde colaboro na escolha, encenação e produção de algumas peças que vamos apresentando aqui e acolá, tendo neste momento prontas a apresentar em qualquer lado “A Gota de Mel”, de Leon Chancerel, “Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães” do Manuel António Pina e ainda uma peça mais ligeira, a única das três que vai dando escasso retorno, chamada “Só Cenas”, que é um conjunto de vários quadros mais ou menos revisteiros, mas que tocam alguns assuntos como a pedofilia, a má governação, crítica social local, misturados com danças e canções mais ou menos popularuchas.

Vem isto a propósito da peça “Cantora Careca” que terá sido levada à cena em Bissau…, em tempo de guerra. Como sabem a Cantora Careca do Ionesco enquadra-se naquilo que se designa por anti-teatro ou teatro do absurdo.

Muito resumidamente o texto mostra como um casal “desconhecido” após dialogar de uma forma não muito fácil de ser entendida por todo o público, chega à conclusão que mora na mesma rua, habita na mesma casa e dorme, pasme-se, na mesma cama.

Em Bissau, em tempo de guerra, demonstra alguma coragem levá-la à cena, a não ser que tivesse sido apresentada para a elite militar e suas esposas…

Torci pois o meu nariz ao ver estas notas, que no entanto me despertaram a curiosidade para ler e reler o texto do Mário Cláudio.

Como disse, li e reli e queridos camaradas sem qualquer pretensão em armar-me em crítico literário, a minha senilidade ainda não chegou aí, gostei do texto são e escorreito, mas perdoem-me o atrevimento, não tem rigorosamente nada a ver com o nosso Blogue, em minha opinião, obviamente.

O texto é um panfleto contra a presença da tropa na Guiné e é apenas e só pura literatura.

O Blogue diz respeito ao somatório de opiniões de combatentes que expressam as suas experiências nessa guerra colonial, onde alguns se bateram por convicção e outros foram obrigados a combater no mato em condições infra humanas, que os senhores do ar condicionado de Bissau ou de outras metrópoles, milicianos ou profissionais, jamais poderão imaginar.

No meu Blogue interessam-me os escritos dos camaradas da Guiné e as suas experiências dolorosas, contadas por gente com estatuto de escritor, ou por outros que mal sabem escrever.

Literatura e opinião política, leio-a noutro lado.

Já agora e relativamente ao texto parece-me que ficar-se apenas pelo “mata” é curto; na guerra também se morre. Não aceito estes unilateralismos, para não dizer que os abomino.

A guerra não é só o que está descrito no texto; não é só o mata e se erros houve foram de parte a parte.

Fui andando, andando e agora, meus pacientes editores, publiquem ou não.

Do meu Buarcos lindo, passada que foi a meia noite e com um cheirinho a maresia a invadir o meu “castelo”, envio um abraço fraterno para todos os meus camarigos.

Vasco Augusto Rodrigues da Gama
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6399: Parabéns a você (114): Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAÇ 8351, Cumbijã, 1972/74 (Carlos Vinhal / Belarmino Sardinha / Giselda e Miguel Pessoa / JERO / Manuel Maia)

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6672: Para o livro de ouro do Capitão Garcez, um inédito de Mário Cláudio

Vd. último poste da série de 5 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6321: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (X): As minhas (in)Congruências ou as minhas (in)Coerências?

9 comentários:

antonio graça de abreu disse...

O Mário Cláudio não passou de Bissau e do ar condicionado.
O escritor premiado faria melhor em não falar de uma Guiné que não conhece.
Tem um nome, Mário Cláudio.Quanto à Guiné falta-lhe quase tudo.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Só para enviar um abraço.
Li e sorri. Faz bem ler prosa assim.
Mais ainda sorrir.Saudável!
Ontem também li o texto em causa e gostei.Não sorri. Comentei breve e a correr.Não o devia ter feito. Talvez, como me lembrei, devesse ter acrescentado. -os Bons,os Maus e os Vilões...já escrevi aqui um escrito com esse "cabeçalho". Claro que me situo nos maus ou vilões.Os bons assassinaram uns milhares de conterrâneos...coisa pouca.
Nada mais digo ou escrevo só que o Ionesco (com o ou u?) se foi apresentado com "A cantora Lírica Careca" em Bissau condiz, fica bem...Teatro do absurdo em capital,guerra, império e país,do absurdo. Se apresentado em Santa Luzia,com espectadores a viverem situação do absurdo ou não...ou não...figuras,figurinhas e figurões.
Escrevi só para enviar um abraço e dizer:gostei e pensei na brisa suave da maresia que por aqui não passa e olhei para o calendário. Sorri depois de contar os dias e fiquei um pouco a sonhar e a "sentir" a brisa suave de outro mar lá para Sul...

Abraço amigo do Torcato
e.t. (ps não devido a hipotéticas ou absurdas confusões):- isto é conversa ao ouvido e ninguém nos ouve...

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro e camarigo Almirante

Desculpa mas apetece-me citar uma velha frase de um velho anúncio:
«palavras para quê? É um artista português!»

Assino por baixo e abraço-te camarigamente.

Anónimo disse...

VASCO

Brasileiramente falando, direi somente:
Falou, "seu" Vasco!!

e um abraço
Alberto Branquinho

MANUELMAIA disse...

CARO VASCO,
POIS É ,ENQUANTO NOS MATOS PERDIDOS DAQUELE MUNDO QUE SÓ ALGUNS CONHECEM,SE COZINHAVAM ESTRATÉGIAS CONTRA OS NATURAIS(POR HUMANOS)MEDOS,SE CONTAVAM DIFICULDADES,SE MULTIPLICAVAM ESFORÇOS,SE CONTABILIZAVAM FERIDOS E MORTOS,SE ENGANAVAM FAMILIARES DANDO-LHES UMA VISÃO ROMANCEADA DOS LOCAIS QUE HABITÁVAMOS)?),SE PROCURAVA EVITAR O CAMINHO, SEM REGRESSO, PARA A LOUCURA TOTAL,QUE TANTOS INFELIZMENTE ATINGIRAM... NA BISSAU DO AR CONDICIONADO,DAS "GUERRILHAS URBANAS" NO SOLAR DOS DEZ,OU "PARAÍSO" SIMILAR,PARA ALÉM DO CINEMA UDIBE E DO SEMPRE "CHIC" (AGORA DIR-SE-IA IN...) CLUB( SEM E,À INGLESA...) DE OFICIAIS,PARA ALÉM DA DISCUSSÃO "SEMPRE IMPORTANTE" DO SEXO DOS ANJOS E DAS GUERRINHAS DO SOLDADINHO DE CHUMBO QUE OS GRANDES "CABOS DE GUERRA" DELINEAVAM ENTRE DUAS GARRAFAS DE WHISKY VELHO ENTREMEADOS COM UNS GIN TÓNICOS GORDON`S OU SIMILAR,ENCENAVAM-SE TAMBÉM,AO QUE PARECE,OBRAS DE IONESCU...
GENTE FINA É OUTRA COISA COMO DIRIA O OUTRO...
O ESCRITOR MÁRIO CLÁUDIO TEM TODO O DIREITO DE ESCREVER OU FICCIONAR SOBRE A GUINÉ,O CAP.NERY TEM TODO O DIREITO DE ATIRAR COM OS SEUS GALÕES DE ENCENADOR E DE HOMEM LIGADO AO TEATRO,MAS POR FAVOR, FAZENDO O SEU TEATRINHO NÃO MELINDRE NINGUÉM,PORQUE NENHUM GALÃO POR MAIOR ESTATUTO CULTURAL DE QUE VENHA ROTULADO,MERECEDOR OU NÃO DO EPÍTETO PARA SER AGITADO NESTE "TEATRO DO ABSURDO" QUE É A SOCIEDADE PODRE EM QUE NOS MOVIMENTAMOS,LHE OUTORGA UMA POSIÇÃO DE SOBRANCERIA SOBRE OS MUITOS MILHARES QUE COMEMOS O PÃO QUE O DIABO AMASSOU,QUE NÃO TIVEMOS À NOSSA DISPOSIÇÃO AS CUNHAS QUE OS SISTEMAS POLÍTICOS SEMPRE PROPICIAM A QUEM GOSTA DE CHAFURDAR EM TAIS MANJEDOURAS,E COMO TAL TIVEMOS DE SUPORTAR,
FAZENDO-O DE FORMA SOFRIDA,MAS GALHARDA E HONESTAMENTE,NOS
"MILHENTOS" LUGARES MAIS MISERÁVEIS,EM CONDIÇÕES INFRAHUMANAS.

MUITO EMBORA,"ESCONDIDOS POR DETRÁS DO ARAME FARPADO",TAMBÉM NÓS NO CANTANHEZ E TANTOS OUTROS LOCAIS ONDE O SIBILAR DA BALA NÃO ERA SIMULADO PELO GRAVADOR,O GRITO SOFRIDO PELA CARNE DILACERADA NÁO ERA FRUTO DA IMAGINAÇÃO FÉRTIL DE QUALQUER GUERRILHEIRO DO AR CONDICIONADO,COMO TANTOS FICICIONISTAS GOSTAM DE EVIDENCIAR,MAS REAL,AUTÊNTICO,GENUINO,HUMANO,PRODUZIDO POR GARGANTA SOFREDORA,TAMBÉM NÓS.DIZIA,OS QUE NÃO DISPUNHAMOS DE COMANDOS AFRICANOS QUE NOS ENGALANASSEM OS DÓLMENS COM MEDALHAS IMERECIDAS,FAZÍAMOS OS NOSSOS TEATRINHOS...
ERAM COMÉDIAS ONDE OS HERÓIS MÍTICOS BRINCAVAM COM O IN ATEMORIZANDO-O COM DISPAROS DE LARGOS GALÕES E ESTRELADOS E AVERMELHADOS PORTA IMAGENS DE COMANDOS IMPORTANTES.
AO RECEBEREM AS ESTRELINHAS, TEMENDO PUDESSEM SER DIRECTRIZES CELESTES DIMANADAS DOS DEUSES,MAIORES OU MENORES QUE FOSSEM,OS POBRES INIMIGOS ABALAVAM PARA BISSAU ENTREGANDO-SE AOS REPRESENTENTANTES DESSES MESMOS DEUSES,OS FAMOSOS ABs QUE PULULAVAM PELAS REPS...
AINDA HOJE O INIMIGO LHES RENDE AS MAIORES HOMENAGENS,BASTA LER PEDRO PIRES E AFINS...

A TI VASCO E TODOS AQUELES QUE SEMPRE TÊM MANIFESTADO UM GRANDE APEGO À POSTURA VERTICAL DE SEMPRE,
O MEU ENORME ABRAÇO DE CUMPLICIDADE NESSE TEIMAR NA LUTA PELA VERDADE,QUE VOS DISTINGUE DE MUITOS.

MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Grande Vasco:
Assim é que é:falar cada um de si e das suas vivências, com o máximo de verdade e respeito por nós, pelos nossos e mesmo por aqueles que foram nossos inimigos.Este é o valho de Mampatáespírito da "tabanca" e desse espírito todos temos vindo a ganhar.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Caros Camaradas da Guné,

Ontem apareceram sublinhadas a verde muito após a publicação do meu texto, as palavras camarada e Guiné. Achei estranho, mas depois entranhei, como diria o outro,para agora o sublinhado se ter de novo evaporado.

Enviei por mail ao Belarmino a minha opinião sobre o seu texto, aliás a seu pedido, e ao ler um dos comentários que lhe são apostos publicamente gostaria de respigar do que lhe escrevi para sublinhar que em meu entendimento, creio que o Blogue pretende
reconstruir uma história que ainda está por fazer a partir de retalhos da vida de quem combateu e sofreu e que misturar ficção, mesmo que esta assente ligeiramente no real, não ajudará a preparar as bases sérias para que se venha a "estudar" esse período negro da nossa história que sacrificou de forma brutal a nossa geraçao.

Toda ela eu sei, desde o gajo que esteve a viver em barracas de lona nas profundezas do mato ao que fez a tropa no ar condicionado em Bissau.

Todos eles podem e devem emitir a sua opinião, era o que mais faltava que assim não fosse e a mim ninguém mo precisa de recordar, por mais pintado ou graduado que seja o autor do recado.

Só sei que o povo anónimo que me vai passando pelas mãos nas funções de Avaliador Externo, desconhece, apesar do marido, do pai ou do irmão terem sido combatentes, por inteiro a guerra colonial. Estiveram na Guiné...onde...a fazer o quê...não sabem.
Talvez lendo muita ficção lá cheguem, quem sabe.

Eu sei, Luís Graça, que não são os operacionais que têm o monopólio da guerra colonial, e que é o somatório de todos os relatos de realidades vividas, sejam contadas em " registo heróico, dramático, humorístico ou burlesco" que fazem o todo.

O que eu quero é saber de forma clara se um texto é ficção ou realidade para poder chamar ao tal capitão corta cabeças "criminoso de guerra", expressão que nunca na vida utilizei, nem relativamente aos nomes que citas no teu comentário, nem aos eventuais actores do P.A.I.G.C. que teriam, ou será ficção (?),praticado os actos que praticaram a seguir ao 25de Abril.

Lá está, seja ficção ou realidade, a moeda deve ter sempre duas faces, a não ser que a cara seja igual à coroa. Mas isso é batota.

Curiosa a parte final do teu comentário, utilizando os mesmos argumentos da elite coimbrã, que me referiram quando fui à sessão de poesia sobre a guerra colonial que os melhores poemas e os melhores romances foram escritos por não combatentes e fechando-se cada vez mais numa concha de elite bacoca se vão afastando cada vez mais da realidade, "proibindo", essa elite sim, que obras como a do Graça de Abreu ou do Zé Brás, amassadas na realidade,não apareçam visíveis nos seus escaparates, pejados de autores que lá vão dissertando sobre os massacres e sobre as cabeças cortadas, relhas e velhas.

Separemos primeiro a ficção da realidade,e de seguida as excepções da regra.

Entendi que o comentário devia aqui ser colocado e aceitem com toda a hombridade da minha alma de escriba, ou escrevinhador, que apenas procura emitir a sua própria opinião sem ser correia de transmissão de quem quer que seja. Se alguma vez isso me acontecer, compro um acordeão e vou tocar tangos para uma qualquer rua de Buarcos, cada vez mais lindo.

Vasco Augusto Rodrigues da Gama

Anónimo disse...

"Desmascarar" ficcao é...obra que se lhe diga! Infelizmente,alguns dos comentários pretendem fazê-lo,sem (talvez)se terem apercebido da contradicao insolúvel em que caem. As palavras de Vasco da Gama vêm recolocar o debate dentro de perspectivas basicamente viáveis. Nem "óculos" de focagens intelecto-elitistas,nem outros "óculos" de exclusivismos patriótico-idealistas vêm contribuir para esta dialéctica...ficcao/intencao. Um abraco amigo desde este extremo Norte Europeu.

Anónimo disse...

José Belo

Perdi o contacto. Quando regressei nem email nem blog. Esfumou-se o José Belo. Ainda hoje um camarada me dizia: os email's vêm devolvidos.
Mas está tudo bem e lá pelo Ártico... dá notícias...

Desculpem utilizar este espaço para outro fim. Obrigado.
Um abraço do Torcato