domingo, 28 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19142: Manuscrito(s) (Luís Graça) 147): Tinha 14 anos em 1961, o "annus horribilis" de Salazar e da Nação... Depois do desastre da Índia, em 18-19 de dezembro de 1961 e de cinco meses de cativeiro, o general Vassalo e Silva e outros oficiais foram expulsos das Forças Armadas, em 22 de março de 1963... Era um aviso sério para os que combatiam em África.



Primeira página do "Diário de Lisboa", de 22 de março de 1963. O jornalismo, censurado, que se fazia em Portugal, o jornalismo das notas oficiosas e dos comunicados do Governo.


Citação:
(1963), "Diário de Lisboa", nº 14464, Ano 42, Sexta, 22 de Março de 1963, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_15253 (2018-10-28)

(Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivis > Fundo: Documentos Ruella Ramos)


O gen Vassalo e Silva, no cativeiro. Foto do Paris Match,
c. 19 de dezembro de 1961.
 Fonte: A toponímia de Lisboa 
(com a  devida vénia...)
1. Com a devia vénia, ao autor do  blogue Archive of Goan Writing Portuguese [Arquivo de Escritos Goeses em Português],  Paulo Melo e Castro,  leitor de Estudos Portugueses [Portuguese Studies],  Universidade de Leeds,  Departamento de Espanhol, Português e Estudos Latino-Americanos [ Department of Spanish, Portuguese and Latin American Studies]...

O blogue esteve ativo desde dezembro de 2010 até abril de 2015. Foram publicados 460 postes, neste período, com destaque para os anos de 2011 (n=212),  212 (n=127) e 2013 (n=86).

Fomos lá descobrir este inesperado poema, da autoria de Khnata Kharana Kabba, datado de 1980, e em que se defende o general Vassalo e Silva (Torres Novas, 1899 - Lisboa, 1985),  o último governador de Estado Português da Índia,  que se rendeu às forças indianas 36 horas depois da invasão dos territórios de Goa, Damão e Diu, contrariando ordens terminantes do chefe do Governo Português, para resistir até ao último homem... É, como se sabe,  um episódio patético da nossa história do séc. XX, que abriu uma crise grave entre o regime do Estado Novo e as Forças Arnadas.

Este poema terá aparecido na imprensa goesa em 1980. O seu autor, que se expressa em português quase perfeito, é um  nacionalista, indiano de origem goesa, mas que nem sequer tem um nome português. Aqui fica, para conhecimento e apreciação, crítica, dos nossos leitores:



Archive of Goana Writing Portuguese

Monday, 22 August 2011

Khanta Kharma Kabha:

Os que [se] opõem ao Camões ou Vassalo e [Silva,
Só por não serem indianos, mas portugueses,
Saibam que eles só merecem um Viva!,
Por serem amigos de Goa e dos Goeses.

Foi Vassalo quem salvou a nossa Goa
Das ordens da sua destruição
E, quando regressou a Lisboa,
Sofreu a sua condenação.

Não é verdadeiro nacionalista
Quem não o souber admitir e homenagear
E, na sua estreiteza de vista,
Não [o] reconhecer como “political-sufferer”.
Camões, Shakespeare ou Tagore,
Qualquer deles é indiano e universal,
Não há lugar, portanto, para o rancor
Contra Camões por ser de Portugal.



[Revisão e fixação de texto: LG. Nota: "political-sufferer": vítima da política e dos políticos, da injsutiça social e económica, etc.; expressão muito usada na Índia]


2. Comentário de LG:

Eu tinha 14 anos em 1961, ia fazer 15, em 29 de janeiro de 1962... e já  "sabia" que ia parar a África como soldado do Império... quando chegasse a minha vez. Premonições... Lia os jornais, ouvia rádio, via a televisão... Seguia com apreensão o que se passava em Angola, na Índia, na Metrópole... Hoje, tenho a convicção de que foi um "annus horribilis" paar todos nós, e não apenas para o regime...

Manuel  António Vassalo e Silva (Torres Novas, 1899 - Lisboa, 1985), general do exército, foi o último Governador  do Estado Português,e comandante-chefe das forças armadas naquele território, aquando da invasão, pela União Indiana. em 18 de dezembro de 1961.

Uma invasão, de resto, há muito anunciada..., por uma força caricatamente desmesurada (um exército de 45 homens; 1 porta-aviões, 1 cruzador, 3 contra-torpedeiro e 4 fragatas; 50 caças e bombardeiros), contra um punhado de homens mal armados e mal equipados, que estavam a mnaius de 8300 km de distância de casa...

Em 36 horas foi posto  um fim à presença histórica dos portugueses, no subcontinente indiano, de quase 5 séculos (desde 1492, o ano da chegada de Vasco da Gana à Índia). (*)

Vassalo e Silva desobedeceu às ordens de Salazar para lutasse até ao último homem. Ao render-se, salvou cerca de 3300  vidas, a sua e as dos seus subordinados (que vão ficar 5 meses em cativeiro, bem como evitou o massacre da população e a destruição do património de Goa, Damão e Diu (. hoje classificado pela UNESCO como como património mundial da  humanidade, as Igrejas e os Conventos de Goa). É isso que o poema celebra.

Em 22 de março de 1963, Vassalo e Silva (, que ficará com a alcunha do "Vacilo e Salva", entre os  seus homens, )  é  expulso das Forças Armadas Portuguesas. Será reabilitado a seguir ao 25 de Abril de 1974.  A História o julgará.  A História nos julgará. Afinal os regimes, mais do que os povos, precisam de heróis, mártires e vilões... (**)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9219: Efemérides (82): A invasão da Índia Portuguesa em 18 de Dezembro de 1961 (José Martins)

(...) No inicio de 1961, o Coronel Francisco da Costa Gomes, na sua qualidade de Subsecretário de Estado do Exército (56.º Ministério, cargo que ocupou de 14 de Agosto de 1958 a 13 de Abril de 1961), sugeriu a redução dos efectivos naquelas paragens [Goa, Damão e Diu]  para cerca de 3.500 homens, em virtude de se ter constatado que aquele território seria indefensável, perante uma, mais que provável, invasão. Esses efectivos foram deslocados para África, onde se tinham iniciados os conflitos que se prolongariam por cerca de treze anos, e que se propagou a três frentes de combate.

Com uma guarnição de pequena dimensão, mal armada e pouco municiada, dá inicio a alguns combates esporádicos, com forças da União Indiana, em 17 de Dezembro de 1961. Porém, no dia 18, uma força de cerca de 45.000 homens, mantendo na retaguarda como reserva cerca de mais 25.000, dá inicio à invasão simultânea dos três territórios ainda em poder efectivo de Portugal. (...)

(...) 19 de Dezembro de 1961 – O contingente português acabou por se render, tendo o governador, general Vassalo e Silva, ordenado a “suspensão de fogo” às suas tropas. Mais de três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, entre eles o próprio Comandante. O Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar que queria “Só soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, puniu e perseguiu alguns dos oficiais em serviço na Índia, o que abriu dolorosa ferida nas Forças Armadas Portuguesas e foi uma das raízes do derrube do regime Salazar, doze anos depois da queda de Goa, Damão e Diu. (...)


(...) Recorde-se que a generalidade dos antigos prisioneiros da Índia (cerca de 3500) foram, no regresso á Pátria, mal tratados, humilhados, abandonados, ostracisados, esquecidos... Para o regime político da época, e para sua opinião pública, eles pura e simplesmente deveriam ter-se deixado imolar no altar da Pátria na defesa da Índia Portuguesa, a "joia da coroa". Por não ter sabido resistir, até á última gota de sangue, Vassalo e Silva, o governador geral da Índia e comandante chefe da simbólica força expedicionária estacionada nos territórios de Goa, Damão e Diu, fui expulso do exército... (...)


(...) Em memória dos camaradas de armas tombados em nome de Portugal, deixamos o registo dos seus nomes, para que a História e os Homens, os não esqueçam, e não se tornem em SOLDADOS ESQUECIDOS:

Militares tombados em Defesa da Índia Portuguesa

Abel Araújo Bastos – Soldado
Abel dos Santos Rito Ribeiro – Alferes Miliciano de Infantaria
Alberto Santiago de Carvalho – Tenente Infantaria
Aníbal dos Santos Fernandes Jardino – Marinheiro
António Baptista Xavier - 1.º Cabo
António Crispim de Oliveira Godinho - 1.º Cabo
António Duarte Santa Rita - 1.º Sargento da Armada
António Fernando Ferreira da Silva - 1.º Cabo
António Ferreira – Marinheiro
António José Abreu Abrantes – Alferes Miliciano Infantaria
António Lopes Gonçalves Pereira – Alferes Miliciano Engenharia
Cândido Tavares Dias da Silva - 1.º Cabo
Damuno Vassu Canencar – Soldado
Fernando José das Neves Moura Costa - Soldado
Jacinto João Guerreiro – Soldado
João Paulo de Noronha - Guarda 2.ª classe
Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo - 2º Tenente Armada
José A. Ramiro da Fonseca - Furriel Miliciano
José Manuel Rosário da Piedade - 1.º Grumete Armada
Joviano Fonseca - Guarda-Auxiliar
Lino Gonçalves Fernandes - 1.º Cabo
Manuel Sardinha Mexia – Soldado
Mário Bernardino dos Santos – Soldado
Paulo Pedro do Rosário - Guarda Rural
Tiburcio Machado - Guarda-Rural

OBS: Esta lista pode estar incompleta.

Os Soldados da Índia só foram “reabilitados” do ostracismo a que foram votados, após o 25 de Abril. Todos os prisioneiros de guerra, foram condecorados com a Medalha de Reconhecimento  (...)  em 03 de Maio de 2003, pelo então Ministro de Estado e da Defesa Nacional Dr. Paulo Portas. (...)

(**) Último poste da série >  26 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19138: Manucrito(s) (Luís Graça) (146): Tinha eu sete anos quando começou a guerra colonial, com a invasão e a ocupação dos "anexos" de Dadrá e Nagar-Aveli, Estado Português da Índia, em 22 de julho de 1954...

24 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vd. o sítio A Toponímia de Lisboa:

6 de Fevereiro de 2017
A Rua General Vassalo e Silva, que se rendeu na Índia em dezembro de 1961

https://toponimialisboa.wordpress.com/2017/02/06/a-rua-general-vassalo-e-silva-que-se-rendeu-na-india-em-dezembro-de-1961/

O General Vassalo e Silva que era o governador do Estado Português da Índia em 18 de dezembro de 1961, quando a União Indiana invadiu os territórios de Goa, Damão e Dio, quase sem resistência dos soldados portugueses tal era a desproporção das forças, deu o seu nome a uma rua de Lisboa passados 53 anos sobre esse acontecimento e 29 sobre o seu falecimento, em 2014.

Foi pelo Edital municipal de 2 de junho de 2014 na artéria identificada como Rua 5 à Avenida Marechal Francisco da Costa Gomes, na Freguesia do Beato: Rua General Vassalo e Silva/1899 – 1985. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Excerto do sítio A Toponímia de Lisboa:

6 de Fevereiro de 2017
A Rua General Vassalo e Silva, que se rendeu na Índia em dezembro de 1961

https://toponimialisboa.wordpress.com/2017/02/06/a-rua-general-vassalo-e-silva-que-se-rendeu-na-india-em-dezembro-de-1961/


(...) Manuel António Vassallo e Silva (Torres Novas/08.11.1899 – 11.08.1985/Lisboa), sendo ainda brigadeiro, foi nomeado no final de 1958 como o 128º e último governador do Estado Português da Índia. Salazar tinha-lhe escrito num telegrama que «Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, assim como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos».

No entanto, 36 horas após a entrada das tropas indianas, Vassalo e Silva rendeu-se com a guarnição portuguesa em Goa, cerca de três mil e quinhentos homens em armas, perante as forças indianas que contavam com cerca de 50 mil soldados. A maioria dos soldados portugueses escolheu a total rendição e apenas 25 morreram. Foram feitos prisioneiros e Vassalo e Silva foi ainda punido com a expulsão das Forças Armadas Portuguesas por ter desobedecido a Salazar, sendo reintegrado após o 25 de Abril de 1974. O General Vassalo e Silva ganhou por isto o epíteto de «Vacila e Salva».

Bacharel em Matemáticas, concluiu os preparatórios de Engenharia Militar e ingressou na vida militar em 13 de novembro de 1922, no Curso de engenharia militar na Escola Militar, que concluiu como aspirante a Oficial em 1926.

Prestou serviço no Regimento de Sapadores Mineiros nº 1 (Lisboa), na Escola Prática de Engenharia (Porto), na Escola de Transmissões, como professor-adjunto da 24ª Cadeira da Escola do Exército, como Comandante de engenharia do Quartel General do Comando das Forças Expedicionárias às Colónias em Moçambique, nas Forças Expedicionárias ao Extremo Oriente em Timor, como professor provisório nos Pupilos do Exército, como Professor Catedrático da 24ª Cadeira da Escola do Exército e como Comandante da Escola Prática de Engenharia em Tancos.

Na sua vida particular era filho de Manuel Caetano da Silva e de Maria da Encarnação Vassalo e Silva e assim também o irmão mais novo da escritora Maria Lamas.

Foi agraciado com diversas condecorações como oficial da Ordem Militar de Avis (1938), comendador de Avis (1951) e Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis (1958), Oficial da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial (1954) e dá nome a Ruas da Charneca da Caparica, Linda-a-Velha e Torres Novas. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O humor tipicamente português, "revisteiro", um povo que gosta mais de "opereta" do que "ópera"... e que não poupa, à boa maneira de Bordalo e de Gil Vicente, os seus "maiores", reduzindo-os `dimensão (humana) que eles afinal têm:

Vassalo e Silva, o "Vacila e Salva"...

António de Spínola, o "Caco Baldé",

Salazar, "O Botas", "O Bota de Elástico"

Américo Tomás, o "Cabeça de Abóbora",

Fernão Mendes Pinti, "Fernão, Mentes ?.. Minto!"...

Joaquim António de Aguiar, o "Mata-Frades";

José Teixeira da Silva, "O Zé do Telhado";

Louis Henri Loison (1771 - 1816), "O Maneta", o general francês que participou na primeira invasão francesa, em 1807, sob o comando de Junot;

Dna Maria I, a Louca;

etc., etc.

...

Mas as "alcunhas" não são exclusivas dos nossos dirigentes, reis, politicos, presidentes da república, generais, e outras figuras históricas ou públicas....


al·cu·nha
(árabe al-kunia, sobrenome)
substantivo feminino
Epíteto, geralmente fundado nalguma particularidade física ou moral do indivíduo ao qual ele se atribui.


"alcunha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/alcunha [consultado em 28-10-2018].
Costa Gomes, "O Rolha";

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... AS mulheres também não são poupadas, com alcunhas pejorativas:

Carlota Joaquina, a mulher de Dom João VI, ficou conhecida como "A Megera de Queluz"...

Mas os nossos leitores devem lembrar-se de muitas mais...

Anónimo disse...

E esta:

ÁTILA ( o Uno ) - O flagelo de Deus!

Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A propósito de "alcunhas"... temos este descritor no blogue, 13 referências...

Não eram só os "grandes" que tinham alcunhas, umas a engrandecer, outras a minimizar ou ridicularizar o indivíduo ou a figura: Humberto Delgado, "O general sem medo"; Aníbal Augusto Milhais., o "Milhões", o soldado de Murça, Torre e Espada, herói da I Guerra Mundial...

Os "pequenos" também tinham alcunhas, na escola, na tropa, na guerra... Todos tínhamos alcunhas,ou quase todos... Um fenómeno curioso que já foi estudado por antropólogos, linguistas, sociólogos, etc.

Estou-me a lemnbrar do "Tratado das Alcunhas Alentejanas",. que já vai em 3ª edição:

Tratado das Alcunhas Alentejanas (3.ª edição), Lisboa, Colibri, 2002, 608 pp.

Autoria: Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva
Temas: Etnografia, Sociedade Portuguesa, Alentejo
Colecção: Sociologia & Antropologia (Extra-colecção)

Sinopse:

A alcunha é apanágio da aldeia. Está dito e redito que a vida urbana fomenta relações impessoais, destrói os laços do parentesco, pulveriza os elos tradicionais, reduz as relações de vizinhança, esvazia o compadrio. No Alentejo, os grandes centros populacionais não deixam de ser aglomerados rurais, posto de parte o critério demográfico e tendo em linha de conta hábitos, tradições, costumes, modos de vida, fluxos migratórios internos, etc. É natural, pois, que o «mau-nome» circule como verdadeira instituição sócio-cultural.

http://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=426

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

O"Zé do Telhado" não é alcunha. Ele é mesmo natural de uma pequena aldeia que se chama Telhado.
Quanto aos factos da Índia, ainda hoje me pergunto como foi possível que depois de uma situação tão dramaticamente caricata como aquela, o nosso povo aguentou uma "guerra" de 13 anos. "Mas isso já são outros mitos, outras lendas e, seguramente, outros caminhos da História".
O José Rodrigues dos Santos acaba de lançar um romance sobre o que passou em Macau durante o cerco dos japoneses. Os romances históricos são sempre uma espécie de rebuçados de mentol. Deixam muito gosto na boca, mas não alimentam. Durante a II GM Portugal fez figuras tristíssimas em Timor e Macau, mas ninguém as estuda, ninguém as descreve.
Sugiro aos camaradas que frequentem o blog "A Bigorna" onde há material sobre a questão da ocupação de Timor e onde é possível ver o papel de embrulho que Portugal fez naquele tempo e mesmo depois mas, acima de tudo, o que revolta é naquele tempo não se poder falar sobre o assunto - o que era pratica corrente - e hoje o assunto não estar completamente deslindado. Então onde é que estão os mestrados, doutorados e quejandos?

Um Ab. e bom domingo
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tó Zé:

Concordo contigo, não conhecemos a nossa História, e muito menos o que se passou "lá longe", nas Áfricas, nas Américas, nas Ásias, nas Oceanias...O português nunca foi de escrever...

Quanto à nossa historiografia, é um retrato do país...A investigação (científica) custa dinheiro, as ciências da história exigem instituições académicas, investigadores acreditados, qualificados, revistas, congressos, arquivos tratados e disponíevsi, etc., etc.

Vamos escrecendo "romances históricos", vamos tendo "best-sellers" como o José Rodrigues dos Santos... As editoras e o grande público querem é "estórias", ninguém tem pachorrra para a História com H grande... è que tira-nos o sono (e os sonhos)...

Quanto ao outro Zé, o Zé do Telhado... Era a alcunha de José Teixeira da Silva, antugo sargento de milícias, condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, por feitos na sequêencia da "revolução da Maria da Fonte" (1846).

Mais tarde tornou.se-se um famoso "bandido social"... Nasceu em 1818, Castelões de Recesinhos, morreu desterradp, em Mucari, Malanje, Angola, em 1875.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_do_Telhado

.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Passo, de vez em quando, pela Casa do Carrapatelo, assaltada pelo bando do Zé do Telhado. A coisa não correu bem e começou a ter a justiça á perna. A sua memória ainda hoje é respeitada por estas bandas,

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também não há investigação séria sobre o banditismo social no séc XIX . E será que o mito do Robin dos Bosques cola bem á personagem? Por sistema cultivo a dúvida...

Anónimo disse...

Nos meus 17- 18 anos, talvez até fosse em 1961, antes da invasão da India, íamos aos domingos ao frango assado, com os meus pais, alguns irmãos, e já a minha namorada, para os lados de Baltar, a caminho de Paredes, Penafiel, pela antiga estrada Nº qualquer coisa. Era um petisco, hoje já não há daqueles frangos, ou será que é da idade? Mais tarde já com 20 e tal, continuávamos a ir algumas vezes.
E nesses convívios passávamos por uma casa à berma da estrada, era chamada ' A casa do Zé do Telhado' e na « minha idade da inocência », associava aquilo, isto é a casa, com telhados pretos, não sei se era o basalto preto, ao Robim dos Bosques, que lia no Mundo de Aventuras e outros livrinhos do género, o homem que assaltava os ricos para dar aos pobres.
Fiquei com isso na cabeça, e nunca mais pensei em mais nada.
Agora com estas leituras já não sei o que pensar, a nossa História foi-nos sempre aldrabada, é uma pena ter estudado coisas que não servem para nada.
Bom almoço com um franguito assado ali na berma da estrada, ainda lhe sinto o cheiro (a pouco, talvez).
Virgilio Teixeira


Anónimo disse...

Depois aconteceu a desgraça do nosso Estado da India, a invasão, os prisioneiros de guerra, o Vassalo para uns um cobarde, para outros um herói Nacional. Penso que nem uma coisa nem outra. Pelo seguro, renderam-se e salvaram-se muitas vidas, incluindo a do meu irmão com 20 anos, 2º sargento Radio Montador, militar de carreira, voluntário aos 18 anos, por imposição do meu pai.
Contou-me aí no aniversário dos 50 anos, por volta do Natal de 2011, algumas histórias que se passaram com ele, já estávamos todos quase velhos. Uma que me marcou e a ele também, quando as ameixas começaram a cair, um soldado ao seu lado ficou sem cabeça.
O meu irmão não era de traumas, gostava era de mulheres, foi para Angola e em Cabinda inaugurou a primeira ligação Rádio com Portugal, e falou com o meu pai pela primeira vez. E por lá andou mais de 28 meses.
Quando eu estava na Guiné ele ouvia com atenção o que se passava. Aquilo não era para ele, deve ter pensado, que não havia mulheres disponíveis, e preparou-se. Veio a chamada para uma nova comissão para a Guiné, mas acabou por não ir, deu baixa ao Hospital e não vou acrescentar mais nada. É uma história complicada.
Pode ser que mais logo continue a escrever.
Vou almoçar um lombo de porco assado, e não um franguito.
Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

Também dizem, que o 'Zé do Telhado' era assim tratado por a casa dele ter telhado de telha, enquanto que as outras casas teriam telhado de ardósia ou colmo.
E quanto ao 'Maneta', o general das invasões francesas, por ele não ter um braço e por ter mandado fuzilar portugueses até se dizia, e ainda se diz, quando alguém morria: aquele foi pró maneta.

Parece que o termo 'bera', com significado de má pessoa, deriva do nome do Bera responsável da polícia da ex-URSS, no tempo do Estaline.

Mas o mais interessante trocadilho é o do 'comer crianças ao pequeno almoço'. Conta-se que durante a guerra civil entre os liberais e absolutistas, estes teriam dito que os liberais iam comer crianças ao pequeno almoço, quando, afinal, o que foi dito pelos liberais foi: queremos que todas as crianças comam ao pequeno almoço.
...esta ainda anda por aí.

Valdemar Queiroz

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

Chamo-me Fernando de Sousa Ribeiro e fui alferes miliciano em Angola, integrado na C.Caç. 3535, do B.Caç. 3880, entre 1972 e 1974.

O primeiro oficial de operações e informações que o meu batalhão teve foi o capitão de Infantaria António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, mais conhecido por capitão Castelo Branco. Em comissão anterior, este capitão esteve na Guiné, onde comandou a C. Caç. 2316, do B. Caç. 2835, em Guileje. A sua passagem por Guileje deixou-lhe profundas marcas psicológicas, que lhe afetaram de forma claramente visível o seu espírito. A sua posterior estadia no meu batalhão em Zemba, Angola, não melhorou em nada o seu estado mental e, ao fim de menos de um ano de comissão, veio evacuado para a Metrópole e internado no Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Principal, como maníaco-depressivo.

Nunca, repito nunca, ouvi o capitão Castelo Branco fazer qualquer referência a Guileje e à sua experiência pessoal lá. Ele falava da Guiné em geral, contava casos passados em Bissau e noutros lados, mas a palavra "Guileje" nunca saiu da sua boca. Nunca. Talvez o facto de ele se ter sentido incapaz de "deitar cá para fora" as suas recordações e os seus sentimentos em relação a Guileje tenha contribuído de forma determinante para a sua degradação psicológica. De resto, tirando o seu estado de espírito alterado, o capitão Castelo Branco foi um oficial de operações muito competente e que deixou boas recordações em quem com ele conviveu em Angola.

Antes de Angola e da Guiné, o capitão Castelo Branco esteve na Índia como alferes ou tenente, encontrando-se em Goa quando se deu a invasão pela União Indiana. Foi prisioneiro de guerra. Enfim, como se costuma dizer, «a sua vida dava um filme».

O capitão Castelo Branco nunca falava de Guileje, mas falava, e muito, de Goa e da sua situação como prisioneiro na Índia. Para começar, ele aprovava a atitude do general Vassalo e Silva, que lhe salvou a vida. O que ele não aprovava, mas compreendia, foi a forma desordenada como se deu a rendição. Segundo o Castelo Branco, os militares portugueses puseram-se em fuga diante do inimigo, em vez de se entregarem, e só a contenção e disciplina das Forças Armadas Indianas impediu que muitos deles fossem mortos. Contou ele que foi uma situação deste tipo: «Onde estão os indianos, estão ali? Então fujo para acolá».

Em resultado de tudo o que viu e viveu, o capitão Castelo Branco ficou a admirar profundamente as Forças Armadas Indianas, cujo aprumo, disciplina e cavalheirismo terão sido irrepreensíveis. Segundo ele, a população civil goesa foi tratada com toda a deferência e os prisioneiros de guerra foram tratados no mais estrito cumprimento das convenções internacionais. Ele mesmo foi tratado como um oficial e não como um prisioneiro. Disse o Castelo Branco que quase a única diferença entre ele e um oficial indiano da mesma patente era que ele não podia comandar tropas e não podia voltar para casa. As saudades da família e a incerteza sobre a sua libertação é que foram o que mais lhe custou a suportar.

Um abraço

Fernando de Sousa Ribeiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, camarada Sousa Ribeiro, pelo depoimento... O nome do capitão António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira figura na lista dos ex-prisioneiros de guerra da Índia com direito a uma pensão, conforme despacho do ministro da defesa.

Identifico igualmente o meu primo, de Ribamar, Lourinhã, Luís Filipe Maçarico...

https://dre.tretas.org/dre/178399/despacho-conjunto-648-2004-de-5-de-novembro

Despacho conjunto 648/2004

A Lei 34/98, de 18 de Julho, regulamentada pelo Decreto-Lei 161/2001, de 22 de Maio, alterado pelo Decreto-Lei 170/2004, de 16 de Julho, veio estabelecer um regime excepcional de apoio aos ex-prisioneiros de guerra, nomeadamente a atribuição de uma pensão.
Assim, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 14.º do Decreto-Lei 161/2001, de 22 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 170/2004, de 16 de Julho, e concluída que está a instrução dos processos pelo respectivo ramo das Forças Armadas, determina-se a concessão aos ex-prisioneiros de guerra constantes da lista anexa ao presente despacho, do qual faz parte integrante, a pensão a que se refere o artigo 4.º do referido decreto-lei.

O presente despacho produz efeitos desde 1 de Janeiro de 2004.

15 de Outubro de 2004. - O Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Paulo Sacadura Cabral Portas. - O Ministro das Finanças e da Administração Pública, António José de Castro Bagão Félix.

ANEXO

(...) António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O português nunca foi de escrever, mas, ao menos poderia ter passado as sua más experiências nos To daquelas colónias (que ainda havia)

Quanto à nossa historiografia, será um retrato do país, mas... Aproveito para lembrar que a falta do cultivo da memória é uma característica das sociedade primitivas.
Já sabemos que isto é uma "porra": a investigação (científica) custa dinheiro, as ciências da história exigem instituições académicas, investigadores acreditados, qualificados, revistas, congressos, arquivos tratados e disponíveis, etc., etc e etc. e mais etc. mas, se calhar um bocadinho de esforço... .

Os "romances históricos", ("best-sellers") até nem são feios de todo, mas haverá sempre que separar a verdade do "ataque de literatura do autor".

Também eu conheci um capitão que comandava a minha primeira companhia em 1968 e foi o primeiro que contou a história dos "chouriços" e do "reforço". A primeira podem encontrá-la num livro do Gen. Francisco Cabral Couto (ISBN 978-972-8799-53-3) a segunda conto um dia destes. Consultem também o ISBN 978-989-8022-69-1.

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na minha terra, Lourinhã, distrito de Lisboa foram 13 (pu 10 ?) os prisioneiros da Índia. Recordo-os aqui, mais uma vez, sem saber se estão ainda todos vivos:

Luís Filipe Maçarico (Ribamar)
Joaqum Isidoro dos Santos (Atalaia)
Veríssimo Maçarico e Domingos Venâncio (Ribamar);
Acácio Delgado (Toxofal de Baixo);
Álvaro Rebelo (São Bartolomeu dos Galegos);
José dos Reis e José Arsénio (Miragaia);
Silvino Ribeiro e Jorge Rodrigues (Cabeça Gorda);
Alcino Alves (Praia da Areia Branca);
Carlos dos Santos (Toledo);
Deodoro Nogueira (Lourinhã).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9405-efemerides-63-luis.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, a lenda que ainda hoje se conta no Norte é que o Torre e Espada que se tornou bandido (, há que lhe chame, talvez exageradamente, o "Robim dos Bosques" português...), subia aos "telhados" (na altura de colmo, palha de centeio) dos pobres camponeses da sua região Penafiel / Marco de Canaveses (rendeiros, cabaneiros, jornaleiros...) e escutava as conversas das famílias, à noite, à volta do fogo... E sera sensívei à pobreza e à miséria em que viviam as crianças... E, no dia seguinte, "acontecia o pequeno milagre" da multipliação dos pães...

É provável que estes "factos" não sejam históricos... Mas o mito ficou, e ainda hoje, ao que parece, o nome do (e o túmulo) do Zé do telhado é respeitado e até venerado... em Angola, onde morreu desterrado.

Vou averiguar melhor esta "estória"... LG

Anónimo disse...

Sobre a questão da ocupação japonesa de Timor, "Timor na 2ª Guerra Mundial — Diário do Tenente Pires", do já falecido António Monteiro Cardoso, e sobre o banditismo social no séc XIX, "Rebeldes e Insubmissos - Resistências Populares no Liberalismo", de Fátima Sá. Ambos excelentes, de excelentes historiadores, antigos professores do ISCTE.

Cumprimentos,

Victor Ramos

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Sobre o Zé do Telhado aconselho o "José do Telhado" de José Manuel de Castro Pinto ISBN 972-770-166-3 2 "A Vida do José do Telhado" de "extrahido das Memórias do Cárcere", editora Frenesi.
Mas voltemos à Índia e a Timor. Esses é que eram os assuntos do post.
Isto foi provocação do editor

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas, de novo.

"José da Teixeira da Silva (...) nasceu em 1818 no lugar de Telhado, freguesia de Castelões de Recezinhos, Concelho de Penafiel" diz o biógrafo Castro Pinto, logo no início do livro. O irmão também era comhecido pelo nome de António do Telhado.
O Telhado era uma localidade onde havia algumas casas de telha, ao contrário dos outros locais onde os telhados eram normalmente de palha.
Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bem, o poste é sobre o gen Vassalo e Silva, mas o Zé do Telhado é que fica com as honras dos comentários...

Ao Tó Zé, não escapa nada... Pois, claro que o outro Zé, "Torre e Espada", nasceu no lugar do Telhado, freguesia de Castelões de Recesinhos, Penafiel, em 1816. E deixou os ossos em Angola, em 1875... A mulher, por cá ficou, com os filhos a viver a caridade...

Para além das "lenda", o que resta hoje, da sua terra natal ?... À conta do "pobre diabo", o lugar onde nasceu foi rebatizado... Somos uma terra de santos, mártires, heróis, vilões, bandidos ... e empresários de sucesso. Vejam só (, passe a publicidade):

Casas do Telhado – Turismo Rural e Casas de Férias

Caminho das Sebes – Castelões
4560-056 Penafiel
Portugal


https://www.casasdotelhado.com/

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Casas do Telhado – Turismo Rural e Casas de Férias

Turismo de Charme & História

Local onde as histórias de aventura e desventura do mais famoso salteador “Robin dos Bosque Português” se cruzam. As Casas do Telhado, propriedade onde nasceu e viveu Zé do Telhado, são o local perfeito que convida ao descanso em ambiente remoto, pacífico e de romantismo histórico, entre o verde dos campos em redor.

Decoradas com simplicidade, mantendo as paredes de pedra e equipadas com tudo o que é essencial para passar uns dias de tranquilidade, as quatro casas de aldeia ostentam os nomes que são também uma memória daquilo que já foram: Lagar, Caseiro, Fumeiro e Beiral. Queremos que as pessoas venham para aqui e se sintam felizes, a viver, a relaxar, a divertir-se com os amigos e a sentirem-se bem.

Recolher à casa aquecida e usufruir da lareira, fazer um chá, ler um livro, ligar o televisor e deixar que a preguiça se instale ou a passear simplesmente pelos terrenos da quinta ou pelas redondezas e jogar uma partida de golfe.

O Porto fica a menos de meia hora de carro e Amarante ainda mais perto. O rio Tâmega está a um pulo de distância e a Rota do Românico está, basicamente, por todo o lado. (...)

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Vou já correr pró telhado! Já fui ao Trivago e lá vou eu, ainda hoje...

Sou responsável pela elaboração das fichas biográficas do Gen. Vassalo e Silva e do seu segundo comandante, brigadeiro oriundo também de engenharia.
Esta última foi elaborada com a aprovação de um dos filhos, que é médico.
Pouco se pode deduzir delas, uma vez que tudo tinha corrido "bem" até à nomeação para o "Estado da Índia". Aí é que tudo se precipitou em poucos... meses e o pior estava para vir com as práticas sabujas a que o Estado Novo nos habituou e a perseguição que lhes foi movida, a estes e a outros.

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Gostei desta.
E mais não digo, para não ser também perseguido.

Ab, Virgilio Teixeira