domingo, 29 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21593: Manuscrito(s) (Luís Graça) (194 ): À laia de despedida de uma Garça gentil...




Lourinhã > Praia da Areia Branca > Foz do Rio Grande > Uma garça-real (Ardea cinerea)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Anteontem, de manhã, à maré-vazia, quando fui dar os "meus passos em  volta" , na foz do rio grande da minha infância, agarrado à minha canadiana, voltei a encontrar a minha Garça solitária (*)

Gosto dela, é resiliente e resistente, lutando contra ventos e marés, indiferente a quem passa pela ponte sobre o rio, desde que não lhe apontem a caçadeira do caçador...

Como eu ia apenas munido de uma pacífica máquina fotográfica (e auxiliado no andar por mais uma estranha perna...), ela não se assustou, não tugiu nem mugiu, lá continuou atenta ao peixe que nessa manhã ela se esforçava para que caísse no seu prato... 

Imagino que, como todas as criaturas de Deus, a minha Garça  tenha de comer todos os dias como eu que, nessa manhã, já levava a vantagem de ter comido o meu pequeno almoço: uma banana, uma pera rocha, um quivi, metade de um dióspiro,  pedaços de nozes e um iogurte natural, sem acúcar,,, Não descobri, claro,  qual foi o pequeno almoço da minha Garça... mas talvez alguma incauta taínha,

Digo "minha Garça" sem qualqer sentido possessivo: as aves do céu, da terra e do mar não têm, não devem ter dono... De qualquer modo, ela está aqui há anos, dizem, e é uma excelente pescadora. Não sei se ela tem o certificado de residência legal, nem sei se passou pelo controlo do SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras... Mais: nem sei qual é a sua nacionalidade, sexo, idade... 

Gosto de a rever, de quando em vez, alegra-me encontrá-la, aparentemente saudável, nestes dias tristes em que a pandemia de Covid-19 nos obriga a andar mascarados. E sós. 

E eu tenho inveja dela, que é mais livre do que eu, não tem horas para trabalhar, comer, descansar, dormir, namorar, acasalar (, admitindo que, de vez em quando, lá encontre um macho ou uma fêmea da sua espécie, que eu por aqui só sei que há, entre os residentes,  uma galinhola e um quarteirão de patos reais, e de vez em quando uns maçaricos, enfim, tudo espécies diferentes, logo seres não compatíveis em termos de acasalamento e reprodução).

Sem pedir autorização a ninguém, batizei-a com o nome da minha neta: Clarinha. E espero um dia possibilitar um encontro entre as duas Clarinhas.

2. Mas também me lembrei (, que raio de memória,  a dos humanos!) de um poema que escrevi, em finais de julho de 2013, e que tinha justamente por título "À laia de despedida de uma Garça"...

Na altura, na organização onde eu trabalhava, iam cortar um posto de trabalho, por questões, imagino, de "racionalidade técnico-organizacional" ou em consequência de alguma "análise de custo-benefício"... 

Na época não havia pandemia nenhuma, mas estávamos estávamos a atravessae o mar das tormentas da tremenda crise económica e financeira de 2008, e, em 2013,  depois de conseguir vir ao de cima, bracejar, respirar e nadar, estávamos a tentar  não morrer na praia... Aliás, como agora.

E a propósitpo: Crises, crises, crises ?!... Por quantas não passámos já nós, a malta da nossa geração,  ao longo destes últimos 70 anos,  antes e depois da guerra que nos coube em sorte como combatentes ?!...

Abreviando a história: a minha Garça (Graça, de seu nome próprio, não tendo nenhum laço de parentesco comigo, que sou Graça de apelido...) foi vítima de uma decisão do gestor do departamento de informática (ou da empresa de "outsourcing" que trabalhavapara o departamento de informática, não interessa: foi despedida, ou melhor, "dispensada"...).

Na altura, no último dia de trabalho (era fim de julho e íamos todos de férias, e portanto era a melhor altura para despedir, ou melhor,  "dispensar",  alguém nas empresa...), escrevi este texto que partilhei com as pessoas da minha organização... 

Por razões óbvias, não indentifico nem pessoas nem lugares, nem isso agora e aqui é  relevante; e se fui respescar este texto, entretanto  revisto, é porque estas situações repetem-se, com demasiada frequência nas nossas sociedades, com ou sem pandemias... 

A razão mais imediata para ter ido, não sei como, desenterrar este texto,  é porque eu voltei a encontrar, há dias, a  minha Garça (, agora Garça Clarinha), que reside na foz do rio grande da minha infância...

Não sendo budista, não acredito na transmigração das almas... Mas há pessoas que, de uma maneira ou doutra, nos tocam, que interagem connosco, nos dizem alguma coisa, de quem perdemos o rasto, e de quem guardamos sempre uma pontinha de saudade...E que gostaríamos de rever um dia...

Esta Garça nem sequer era  minha amiga. era apenas conhecida, era colega de trabalho, e sobretudo era gentil... Era uma Garça gentil... E eu gosto da gentileza humana, que é um traço humano distintivo. Os deuses e os heróis não são (nem podem ser) gentis, os homens (e as mulheres) podem sê-lo.  

Onde quer que ela esteja, a viver e a trabalhar, a Garça gentil do meu texto poético, gostaria que ela me pudesse ler e reconhecer...


À laia de despedida de uma Garça gentil

por Luís Graça

Deixem-me dizer-vos, amigos, uma palavrinha antes que o dia acabe 
E passe o verão do nosso contentamento descontente… 

Segunda feira começa o agosto, o nosso querido mês de agosto, 
Seguramente o mês  em que os portugueses ficam mais próximos 
Do puro estado de felicidade… 
Os portugueses de dentro e os de fora… 

Pois, na próxima segunda feira, já seremos menos um nesta casa, 
Onde se estuda e se trabalha, qualquer que seja seja o piso.
Pelo menos, a nossa Garça já não estará cá em setembro, 
No piso tal, no departamento tal, no gabinete tal,,,

E já não trabalhará cá,  para, sempre solícita e gentil, 
Poder responder aos nossos SOS 
De utentes atrapalhados  com as partidas das máquinas 
De quem somos cada vez mais tecnicodependentes… 

Pois é, a nossa querida e gentil Garça vai-nos deixar 
Pela simples razão de que a empresa  
Que gere o nosso "back office" informático, 
Vai dispensá-la. (Ou, tanto faz,  a empresa de "outsourcing" 
A que ela pertencia.

Posso não entender, 
Mas também não discuto, as razões dos gestores 
Que são soberanos, 
E que todos os dias têm de decidir da vida das pessoas 
Que trabalham nas suas/nossas empresas. 

Dir-me-ão que a Garça deixou de caber no algoritmo da empresa 
Que a contratou para trabalhar connosco e para nós.

As nossas vidas são simples, 
As contas é que são complicadas, 
E os contos ainda mais… 

Pelo menos, é o que ouvimos dizer todos os dias: 
"A economia, seu estúpido!" 
Pois seja, a economia, meu estúpido, digo eu para mim mesmo,
Mas não é ela, a estúpida da eonomia,  
Que nos vai matar os sonhos!... 
Nem as nossas gentis garças que se atravessam, em voo raso, 
Na nossa autoestrada da vida, ou nos atalhos
Em que a gente se mete, sem medir às vezes os trabalhos.

Já lá vai quase uma década 
Que eu vi a jovem e tímida Garça, 
A entrar pela nossa casa  adentro, 
E a competir, taco a taco, 
Com os machos informáticos de barba rija,
No terreno que era (ou tinha sido) o deles.
 
Era minha vizinha, a Garça, da Estremadura,
Mas podia ser de Trás-os-Montes, 
Ou da Ucrânia, ou da Guiné-Bissau, tanto fazia.
E depois habituei-me a vê-la, 
No meu querido mês de agosto, 
Na minha não menos querida praia das férias de verão, 
Já com os rebentos pela mão… 

Sim, porque entretanto, também foi mãe, 
Como todas as garças deste mundo.
Tinha sido mãe, nestes anos que passaram por ela e por mim, 
Assim tão de repente, e sem a gente se  dar conta.

Eu sei que a Garça é  uma mulher lutadora 
E que leva daqui um portfólio, como se diz agora, 
De competências cognitivas e não-cognitivas (, que palavrões!)
Competências não só técnicas 
Mas também humanas e relacionais, 
Que a vão ajudar a voltar rapidamente 
Ao mercado de trabalho... das presas e dos predadores.

Mas, perdoem-me a fra(n)queza, 
Eu vou ter saudades da nossa Garça, 
Da sua voz aguda, e do seu sorriso, 
E daquele seu jeito de, mesmo debaixo de stresse, 
Me dizer, com a maior gentileza do mundo: 
"Professor, deixe aí o seu portátil, 
Que a gente já resolve o problema"… 

O único consolo que me resta, 
Enquanto faço o luto pela sua perda, 
Valioso recurso humano da casa de todos nós, 
É que eu vou já encontrá-la, na segunda feira, 
Na minha querida praia das férias de verão,

E vou convidá-la para tomar uma bica, 
E, como diria um bom alentejano, 
Tabaquear o caso, com ela… 
Ou,   por outros palavras,  
Dar à íngua,  pôr a conversa em dia, 
Puxar umas fumaças (ela, não eu que sou ex-fumador há muito…). 

Vamos recordar as pequenas histórias 
Com que a gente tece, colectivamente, 
A malha da grande História… 

Mesmo sem direito a retrato institucional, 
Que esse é prerrogativa dos nossos maiores
A Garça faz parte da nossa pequena história, 
 
Porque um dia, essa Garça,gentil,  franqueou 
O portão do nosso casarão que nem sequer tem  número de polícia,
E voou até ao departamento de informática, 

E porque as nossas organizações devem ter um rosto, 
E porque o melhor delas somos nós, 
A acreditar nos livros do gurus da gestão, 
As equipas e os trabalhadores de equipa,  e os seus líderes, 
Então eu atrevo-me  a falar em nome das garças que não têm voz, 
E mesmo sem legitimidade institucional para o fazer, 
Para simplesmente lhe dizer: 
"Obrigado, Garça, vamos sentir a tua falta. 
Mas também sabemos que tens asas e força para voar! 
Força e perícia! 
E nos teus novos voos por novos céus, 
E nos teus passeios, à cata de comida, por novas águas pantanosas,
Não te esqueças de nós, 
Que gostamos sempre que os amigos voltem e nos visitem,
Sempre que quiserem e puderem!
Muita saúde e longa vida,  porque tu mereces tudo! "

Luís Graça, Lisboa, 31 de julho de 2013, revisto hoje.

PS -Nunca mais voltar a ver a Garça gentil... Oxalá esteja bem ou ainda melhor do que da última vez que a vi, em finais de julho de 2013.
 
__________

Nota do editor:


14 comentários:

Valdemar Silva disse...

Ainda bem que temos o Graça a contar histórias de garças com graça.
Nem todos têm graça para descrever as garças.
E até deve ter graça o Graça tirar fotos com um tripé sem graça.
Eu digo diospiro em tom grave e alguma graça.
E ainda vi garças no céu de Alferragide que até tem graça.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tem graça o comentário,
Também digo diospiro
Quem manda é o dicionário,
Se me bates, eu me piro...

A Gaeça é da Lourinhã
Que tem céu, terra e mar,
Apanhei-a de manhã,
Deixou-se fotografar...

Alferragide não há,
Na lusa geografia,
Vou andando por cá e lá,
E escrevendo poesia.

Da Lourinha. com manga de abracelos para o Valdemar e demais leitores benévolos...
Luís
_______


dióspiro | s. m.

di·ós·pi·ro
nome masculino
1. [Botânica] Fruto do diospireiro, de cor vermelha ou alaranjada e polpa gelatinosa.Ver imagem = CAQUI

2. [Botânica] Árvore da família das ebenáceas que dá esse fruto.Ver imagem = CAQUIZEIRO, DIOSPIREIRO


"dióspiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/di%C3%B3spiro [consultado em 29-11-2020].

Anónimo disse...

Caro Luis

Gostei do texto.

A palavra “gostar” é uma das que custam encontrar nos baús das memórias das nossas já longas vidas.

Quanto à garça cinzenta é sem dúvida uma “alimária” simpática.
Não menos ,por mostrar ao pescador atento onde deve lançar a linha.
(O tal espírito prático da sobrevivência no Círculo Polar)

São abundantes no Centro e Sul da Escandinávia.
No extremo Norte encontram-se na costa atlântica da Noruega.
Apesar dos milhares de lagos e cursos de água ricos em peixes vários a sua estadia por aqui é muito passageira.
No período do Sol da meia-noite (Junho/Julho) podem-se observar a literalmente “empanturrarem-se” com peixe nas 24 horas de luz solar.
Em princípios de Agosto,altura em que o curtíssimo Verão local termina,pode-se observar numerosos bandos destas aves voando rumo ao Sudeste europeu.
Esta partida das aves migratórias rumo ao Sul,antecedente dos infindáveis Invernos locais,cria sempre uma insinuante melancolia, mesmo quando observada há já umas boas décadas.
(Talvez recordações de outras “passarinhas”.
Principalmente as que “poisavam” nas boates Forte *Velho do Estoril* ou *Caixote de Cascais* nos anos sessenta).

SKÅL!

J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oh José Belo, passarinha não é o feminino de passarinho, mas pela "lógica" devia ser... Andas destreinado, a tua/nossa língua materna prega-nos muitas partidas... Ora v~e consukta lá o dicionário que está mais à mão, em linha...

passarinha | s. f.
3ª pess. sing. pres. ind. de passarinhar
2ª pess. sing. imp. de passarinhar

pas·sa·ri·nha
(pássara + -inha)
nome feminino
1. Baço de porco e, por extensão, de qualquer outro animal.

2. [Calão] Conjunto das partes genitais femininas. = VULVA


"passarinha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/passarinha [consultado em 29-11-2020].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Belo, lembras-te daqueldo menino, o Carlinho, da escola do nosso tempo, que tinha a mania que era engraçado:

- Então, ó senhora professora, a passarinha não é o feminino de passarinho ? Pela "lógica" devia ser: menino, menina...

Zé Belo, andas destreinado, a tua/nossa língua materna prega-nos, às vezes, as suas partidas... Ora vai lá consultar o dicionário que está mais à mão, em linha, e que no nosso tempo não havia, e muito menos grafando o "calão", que era altamente reprimido, ma escola, na igreja, na família...

Recordo-me da minha mãe me dizer, quando eu regressei da Guiné:
- Ai, filho, que falas tão mal...

Zé, o que é que te hei de desejar ? Uma "boa noite" é capaz de ser "indelicado" ou até mesmo "injurioso"... Faz-me impressão seres um animal noctívago... Luís

__________


passarinha | s. f.
3ª pess. sing. pres. ind. de passarinhar
2ª pess. sing. imp. de passarinhar

pas·sa·ri·nha
(pássara + -inha)
nome feminino
1. Baço de porco e, por extensão, de qualquer outro animal.

2. [Calão] Conjunto das partes genitais femininas. = VULVA


"passarinha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/passarinha [consultado em 29-11-2020].

Anónimo disse...

Meu Caro Luís

Repara que as “passarinhas” da minha adolescência de Estoris e Cascais até tinham nomes.
Daducha,Manucha,Tuxa,Milucha,etc,etc,etc

Estas passarinhas não tinham ainda “anilha” no dedo mas para isso trabalhavam arduosamente.
(Ou seria ardilosamente?)

Tenho no entanto que admitir que a “ Vulv-ucha” do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ,por ti referido ,não fazia parte deste ramalhete de.....*uchas*.

Mais um SKÅL! Este com um ”HELAN GÅR” !

J.Belo

Anónimo disse...

Caro Luis

Só um pequeno detalhe geográfico quanto falas em “animais noctívagos”.

Ser-se “noctívago” nos mais de quatro meses sem luz solar no Norte da Laponia é,sem dúvida, coisa injuriosa para a inteligência de um Lusitano que tal escolhe.

Ser-se “noctívago” no Sloppy Joe’s Bar de Key West/Florida é......VIVER!

E.....mais um SKÅL!
(Com esta sucessão de Skål,para mais com HELAN GÅR,é menos conveniente esquecer-mos que a minha vodka caseira é de mais de 90%
de teor )

J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Esta cantiguinha é dos Açores, letra e música popular... Faz,portanto,parte do nosso património cultural imaterial...

SE bem te lembras. também não nos deixavam cantá-la na escola, na catequese, em casa... Mas que desmamcha-prazeres eram os nossos educadores...

Olha, como agora tens tempo, canta-a às tuas renas, também não era ideia elas aprenderam o português com sotaque açoriano... LG

_______________


https://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/popular-aoPassarARibeirinha.html


Ao passar a ribeirinha
Letra e música: popular: Açores

Ao passar a ribeirinha
«Pus o pé, molhei a meia,
Pus o pé, molhei a meia,
Pus o pé, molhei a meia!

Namorei na minha terra,
Fui casar/ em terra alheia,
Fui casar em terra alheia,
Porque não/ fiquei na minha!

Fui casar em terra alheia,
Minha mãe/ não me ralhou;
Minha mãe já não se lembra
Do tempo/ que já passou!

Do tempo que já passou,
Do tempo/ que já lá vai,
Minha mãe já não se lembra
Quando na/morou meu pai!

Minha mãe casai-me cedo,
Que me dói/ a passarinha!
Ó filha coç'à c'o dedo,
Que eu também/ cocei a minha!

O padre da minha aldeia,
No sermão/ do mês passado,
Jurou p'la saúde dos filhos
Que nunca/ tinha pecado!

São Gonçalo de Amarante,
Que estais vi/rado pr'á vila,
Virai-vos pró outro lado,
Que vos dá/ o sol na pila!

Fui um dia ao cemitério
E pisei/ as campas todas;
Levantou-se um morto e disse
«Talvez um/ dia tu morras!»

Santo António de Lisboa,
Que pr'a mim/ foste um cabrão,
Das três pernas que me deste
Só duas/ chegam ao chão!

O cão da minha vizinha
Pôs-se na/ minha cadela;
Vou fazer o mesmo à dona,
Pr'a ficar/ ela por ela...

Santo Cristo dos Milagres
Casai-me/ que bem podeis!
Que eu já tenh' as unhas gastas
De coçar/ onde sabeis!

Já tenho teias de aranha
no sítio/ que bem sabeis

Fernando Faria

Anónimo disse...

Mas Luís Graça........

Essa de as minhas renas aprenderem português com sotaque açoriano?!?!?!

Elas que todas as manhãs sempre me recebem com “simpático” gritar açoriano do género.....Corisco!......Bicho Mal Amanhado!

Mais açoriano que isto?
(Para mais,algumas das renas correspondem-se com gentes de São Miguel,e outras com gentes da Terceira!....daí.....)

Mais um SKÅL ???

Valdemar Silva disse...

Luís, em 1971 havia 'as bombas de Alferragide'.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Boa, não sabia dessa, só moro lá desde meados dos anos oitenta...Em 1971 aquilo era mato...não ?

Comecei a ir, em trabalho, ma segunda metade dos anos 70, ao antigo Instituto de Informática do Ministério das Finanças, que ainda ficava na antiga estrada militar....

Manuel Luís Lomba disse...

Luís,
Há anos gracejei contigo no encontro de Monte Real, por apareceres agarrado a duas canadianas. Luís - disse eu - larga as canadianas, prefere as espanholas, são de mais perto e mais rápidas a largar-nos...
Acabo de saber que andas agarrado a outra canadiana, não há gracejos, desejo-te rápidas e consolidadas e que continues a plasmar no blogue a riqueza poética e de dissertação da tua alma.
Aquele abraço
Manuel Luís Lomba

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Luís (,o meu pai, meu velho,meu camarada, chamava-me "Liz Manel"...):

Herdei algumas coisas boas do meu pai, uma delas talves o "jeitinho" para poetar... Mas ele era um improvisador nato...E se fosse minhoto daria um bom cantador de desgarradas...

Ele era muito mais extrovcertido, alegre, popular e bonacheirão do que eu... Não lhe chego aos calcanhares como ser humano... Mas também herdei alguns "defeitos de fabrico": ele tinha mazelas do foro músculo-esquelético, tal como o seu pai (e meu avô)...

Só para te dizer, que, mais tarde do que eu, comecou a usar canadianas... Nunca quis ser operado à anca...Morreu com quase 92...

Eu já fiz uma artroplastia total da anca, há 6 anos... E está Ok... O meu problema agora é o joelho esquerdo: em acabando a pandemia, vou pôr uma prótese, e nessa altura espero poder largar as canadianas, se bem que a prótese exija um bom tempo de recuperação e fisoterapia...

E a propósito das canadianas, o meu pai lá para os oitentas, usava duas e os amigos reinava mcom ele:
- Então, tio Luís, agora com duas ?!
- Pois é, troquei uma velha por duas novas !

Obrigado pela teu cudiado e solicitude!... E que tenhas um santo Natal, ou o Natal possível... Luís

Manuel Luís Lomba disse...

Luís,
O meu comentário saiu omisso, sem substância, falta-lhe o termo "melhoras".
No referido a anatomia e em jeito de de compensação, os meus antigos (sou de uma terra de lavradores e cavaleiros) dizer-te-iam " quem tem osso mole, tem nervo duro"...
Retribuo e estendo os votos de Bom Natal a toda a tua Família.
Abraço
Manuel Luís Lomba