sábado, 26 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19440: Os nossos seres, saberes e lazeres (305): Viagem à Holanda acima das águas (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Em tempo de viagem, com tanta excitação de moinhos e diques, pontes e bicicletas, este espectáculo assombroso que é a ligação entre as diferentes épocas e os seus arrobos arquitectónicos, vale a pena uma ruminação, dar umas voltas à corda do relógio e voltar atrás para rever o que fica indeclinavelmente visto, aqui se está por afeto, uma tentativa de conhecer a Holanda profunda e rever esta arte peculiar, o Século de Ouro mas também o génio moderno de Piet Mondriaan e outros mais.
Aqui fica a ruminação, ainda a viagem não ia a meio.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (9)

Beja Santos

O viandante faz uma pausa, não se pode ver um museu monumental como o Rijks por atacado, aprendeu a lição quando, umas décadas atrás, no tempo em que os museus italianos abriam das 8h30 às 14h, pespegou-se na fila da Galeria dos Ofícios, em Florença, vinha, imagine-se, determinado a ver todos aqueles séculos de pintura, entrou entre os primeiros, começou a querer devorar aquela belíssima pintura a partir dos primitivos, aí pelas 11 horas da manhã veio-lhe uma dor de cabeça monumental, saiu ofegante, daí por diante faz pausas de duas em duas horas, para isso mesmo também há as cafetarias e as lojas de venda, para distrair e os espaços monumentais para espairecer e os bancos para pegar num livro ou num jornal até ter ganas para recomeçar. Medita no que viu, na arquitetura de Leiden, no velho se faz novo, o que foi edifício de corporações, casa de prestígio, e algo parecido, reelabora-se em loja de comércio, dá gosto ver o movimento das embarcações, o holandês não perde pitada pela viagem fluvial, tem muitas vezes a casa com embarcadouro, é um indicador da sua civilização e cultura, como o dique, o moinho, as pontes, a bicicleta, o entrosamento arquitetónico do antigo com os arrojos da modernidade.




Quem acolhe o viandante faz questão de o levar a comer com a família, o núcleo que vive ali perto de Alphen, e assim aconteceu, um senhor que veio de Aragão, de nome Elias, aqui se instalou, casou e neste dia recebe filhas, nora e genro, está prometido um jantar que os portugueses apreciam, uma boa paella, até o vinho vem de Espanha, vamos beber Rioja. Conversa animada, até porque os holandeses são afoitos para o convívio, e naquela noite dois interessados na ciência política, depois de falarem no espectro holandês que tem cerca de quarenta partidos políticos estavam mortinhos de curiosidade por conhecer uma coisa que na imprensa do país dava por nome de geringonça, que termo tão arrebicado, como é que se estava a ter o tal relativo sucesso entremeando a austeridade com o desenvolvimento, explica lá tu que vens dessas berças, o viandante deu as suas opiniões, depois de ter comido e repetido paella, e sempre com o seu copinho de Rioja bem à mão.


O Museu Kröller-Müller está atravessado ao viandante, sabe que não tem condições mínimas para lá voltar, veio por uma escassa semana e os restantes dias estão programados. Aquela coleção ficou-lhe no goto, o diálogo entre a Natureza, aquele edifício derramado, aquela entrada com escultura deslumbrante de obras contemporâneas como este Archipenko, um ucraniano que fez furor em Paris e Nova Iorque, impôs à sua maneira o risco cubista nos seus trabalhos, foi um influenciador por gerações. A colecionadora dera muito apreço aos impressionistas e valorizava a obra de Paul Cézanne, um génio que traçava caminho para os novos rumos da pintura, como se pode ver nesta paisagem, uma estrada a caminho de uma lagoa debaixo da ponte. Enfim, medita o viandante para os seus botões, ainda a procissão vai no adro, há o propósito de repetir.



Os jardins do museu não têm paralelo com tudo o que o viandante já viu, tudo bate certo, entre a escultura do século XIX até à do século XXI. Veja-se este encantador local de arte bruta de Dubuffet, dá pelo nome de “Jardim de esmalte”, que grande beleza, há esculturas que remetem para animais e quando o viandante viu aquela mulher reclinada de Maillol lembrou-se de uma citação um tanto hilariante, um ministro da cultura francês procurou-o como encomenda de uma escultura destinada a invocar a liberdade e a justiça, o mestre estava distraído e depois respondeu ao ministro: “Já sei o que é que vocês querem, uma das minhas esculturas de uma mulher bem anafada, com nádegas gordas e mamas grandes”.




Há lá uma vizinha no prédio de Alphen que faz questão que o viandante a visite, há mesmo chá e biscoitos, pede-se licença para por ali cirandar, e muito mais que as cópias de móveis antigos, festeja-se nesta imagem o gosto pelo florido, há o chavão de que a Holanda é o país das tulipas, mas veja-se o carinho, o viandante deu consigo a pensar nas azáleas açorianas, sentiu-se enternecido pelos arranjos de várias matizes, pumba, tira-se fotografia!


As igrejas holandesas, já ficou dito, capricham pela sobriedade, a Reforma, o calvinismo e o presbiteranismo geraram severidade e grande contenção nos elementos religiosos. Daí a surpresa deste vitral, é obra recente em monumento do passado, torna o templo mais quente, mais acolhedor, o viandante não resistiu a captar o vistoso colorido. Está na hora de regressar ao Rijks de Amesterdão, vamos ao trabalho.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19418: Os nossos seres, saberes e lazeres (304): Viagem à Holanda acima das águas (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19439: Parabéns a você (1567): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19434: Parabéns a você (1566): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19438: Agenda cultural (669): As Rotas da Escravatura, série de 4 episódios na RTP 1: 2ª feira, dia 28/1/2019, 3º episódio > 1620-1789: Do Açúcar à Revolta




Na primeira década do séc. XVI, um em cada dez habitantes de Lisboa era negro, ou seja,  de origem africana, sem contar com os seus descendentes... Igual proporção foi encntrada em outras cidades da península ibérica, como Sevilha, Barcelona, Málaga... Fotogramas do 2º episódio (com a devida vénia)




1. A história da escravatura do séc. VII até aos dias de hoje: documentário em 4 episódios, na RTP1... Absolutamente a não perder. Trata-se dum série documental francesa, de que a RTP é umas das produtoras... Levou mais de cinco anos a fazer, e teve a colaboração de quatro dezenas de especialistas.

Pode ler-se no "Público", de 21 de janeiro de 2019, o seguinte sobre os realizadores da série:

(...) Os três autores, Daniel Cattier, Juan Gélas e Fanny Glissant, têm ligações ao tema em causa. Daniel Cattier, filho de pai belga e mãe zimbabueana, tem colocado África e a exploração das questões de identidade no centro da sua filmografia, em que se inclui o documentário animado Kongo: Grand Illusions​.​ Juan Gélas tem no currículo Noirs de France, série documental sobre a História da população negra de França. Já Fanny Glissant, descendente da relação entre uma escrava e o seu proprietário, tem aqui a sua estreia na realização. Há também segmentos animados, uma bem-vinda companhia para os depoimentos recolhidos e para as imagens de arquivo, a cargo de Olivier Patté.(...) 

(...) No segundo episódio, 1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, o foco são os portugueses. São entrevistados, entre outros, investigadores e historiadores como António de Almeida Mendes, da Universidade de Nantes, Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Filipa Ribeiro da Silva, do Instituto Internacional da História Social, em Amesterdão, bem como Izequiel Batista de Sousa, da Universidade de Reunião, que vem de São Tomé, uma ilha muito importante nesta parte da história. Ao longo das próximas duas semanas, analisar-se-ão as plantações de açúcar e algodão, os Estados Unidos e os tempos em mudança que trouxeram com eles a abolição. (...) 


As Rotas da Escravatura

2º episódio disponível "on ine" (durante 7 dias, desde 21 de janeiro de 2019)  >

1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, 52m

Documentários - História

RTP 1 > 2ª feira, 21 janeiro de 2019

Sinopse:

No século XIV, a Europa abre-se ao mundo e apercebe-se de que se encontra à margem da mais importante zona de trocas comerciais do planeta.

Este mapa, o "Atlas catalão", aguça o apetite de conquistas dos europeus. Mapa dos ventos, o Atlas guia os marinheiros como viajantes por terra firme. Mapa político faculta informações sobre as forças em presença. Por fim, como mapa económico, indica as rotas comerciais com destino a África e aos seus recursos.

Um pequeno reino é o primeiro a lançar-se ao assalto das costas africanas: Portugal. Na sua esteira, desenha-se uma nova rota da escravatura.


Próximos episódios:





1620-1789: Do Açúcar à Revolta

A escravatura moldou a nossa história. Na Ilha de São Tomé, os portugueses inventaram um modelo económico de rentabilidade inigualável: a plantação de cana-de-açúcar.


No século XVI, toda a Europa procura imitá-los. Uma demanda pelo lucro que vai mergulhar todo um continente no caos e na violência. Perto de 13 milhões de africanos são apanhados nas redes da escravatura e levados para o Novo Mundo onde ingleses, franceses, espanhóis e holandeses esperam tornar-se ricos... imensamente ricos. Mais viciante do que a pimenta ou a canela, o açúcar alastra pela Europa como um rastilho de pólvora. A partir do séc. XVII, o alimento raro e dispendioso faz virar as cabeças.


Episódio 3 > 28 Jan 2019




1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura


Em 1790, o tráfico negreiro atinge o seu zénite. Mais de 100 000 cativos são deportados todos os anos.

No advento do séc. XIX, a violência dos negreiros dita a condenação do tráfico transatlântico. Doravante, a Europa terá de encontrar um meio de enriquecer sem recorrer a este tráfico, agora, imoral.

Nos anos que se seguem à proibição do tráfico, os europeus vão fazer recuar as fronteiras da escravatura.

O Brasil guarda nele a herança dos últimos anos da escravatura [, que só será abolida em 1888, no grande país sul-americano...].

No momento em que o comércio de escravos é proibido, uma segunda vaga de deportações de cativos chega à Baía do Rio de Janeiro.

Com mais de dois milhões de escravos desembarcados no séc. XIX, o Rio tornou-se o maior porto de tráfico do mundo.


[... Mas a escravatura não se extinguiu: haverá ainda 40 milhões de escravos, em todo o mundo,  segundo as estimativas das Nações Unidas.]

Episódio 4 > 5 Fev 2019

Guiné 61/74 - P19437: PAIGC - Quem foi quem (12): Rui [Demba] Djassi, nome de guerra, Faincam (1938-1964), antigo comandante da região de Quínara, hoje "Herói da Pátria"







Citação:
(s.d.), "Relatório", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40094 (2019-1-24)  (Com a devid avénia...)

Casa Comum > Instituição:Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.036
Título: Relatório
Assunto: Relatório remetido a Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, por Rui Djassi (Faincam), acerca da repressão da população daquela zona pelas tropas coloniais.
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos



Transcrição / revisão  / fixação de texto: LG


Camarada Cabral:

A situação está difícil. O povo não pode fazer revolta em grande parte; porque serão massacrados como acontece no Cubisseque [península de Cubisseco, a sudoeste de Empada, vd. carta de Catió].

E de maneira [que], passando mais dias, nem dentro  [, no mato,]  podemos estar .

A lavoura está quase parada,  porque se te virem entrar no mato é logo tiro. Para trazer-nos comida é difícil.

A dificuldade surge dia a dia.

O número dos mortos pode  alcançar 12.

Do camarada Djassi (FAINCAM)



1. O que terá acontecido ao Rui Djassi (Faincam)? - pergunta o nosso editor Jorge Araújo (*)


O seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada no Congresso de Cassacá, em 17 de fevereiro de 1964,  sendo substituído por Guerra Mendes [que irá morrer em combate, em 9 de maio de 1965, em N'Tuane (Antuane)], conforme se pode ler no preâmbulo das  decisões tomadas então tomadas (*)

 (...) "Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 [região de Quínara]  sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. 

Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".(...) 


E mais se acrescenta (*):

(...) "Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

No Ponto I.8, lê-se (*):

(...) " Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry"  (...).

Terá sido o Rui Djassi mais um "erro de casting" do Abel Djassi (aliás, Amílcar Cabral) ? É possível, mas o líder histórico do PAIGC também não tinha muito por onde escolher... De qualquer modo, um, Rui Dkassi (Faincam) e outro, Domingos Ramos (João Cá), desapareceram cedo, muito antes do "pai da Nação"... Um em 1964, outro em 1966.


2. O Bobo Keita, sobre o seu camarada Rui Djassim  diz o aegyuinte  no seu "livro de memórias" (in Norberto Tavers de Carvlaho - De campo em campo: Conversas com o caomandante Bobo Keita,edição de autor, Porto, 2011, pp. 237/238):

"Parte V - Guerrilheiros caídos no campo da honra (....)

Rui Djassi

O Rui  Djassi comandava toda a zona de Quínara. Tinha a sua base em Gampará. Cheguei a passar por aí quando íamos para o Congresso de Cassacá em 1964 [, de 13 a 17 de fevereiro de 1964; na região de Quitafine e não na ilha do Como, que na altura estava sob ataques terrestres, navais e aéreos das NT, no decurso da Op Tridente].

Na altura, pela maneira como se comportavam na base, notava-se logo que em situação de emergência, havia um perigo certo. Só quem não tivesse nenhuma noção de estratégia e de defesa poderia aceitar aquela situação. Os camaradas procediam a rituais animistas, cantando, dansando, bebendo o vinho do cibe [ou vinho de palma].

A base vivia num constante ambiente de frenesim. Foi assim que foram surpreendidos pela tropa portuguesa. Os tugas lançaram então a ofensiva. Escolheram um momento onde o rio estava na sua fase de plena enchente. O rio separava a base duma grande mata que se situava do outro lado da base. De forma que, quando houve o ataque, apanhados de surpresa, muitos camaradas tentaram ganhar o rio para atravessar e porem-se a salvo na outra margem.

O Rui Djassi tentou os mesmos gestos mas acabou pro morrer afogado no rio. O seu corpo desapareceu nas águas desse rio e nunca mais foi encontrado. Isto aconteceu pouco depois da realização do Congresso de Cassacá, que teve lugar em fevereiro de 1964".



Em suma, tudo indica que o Rui [Demba]  Djassi morreu "sem honra nem glória", contrariamente ao Domingos Ramos.  Ambos são, todavia,  "heróis da Pátria", e existe a sua "campa" (, embora não tenha sido encontrados os seus restos mortais) no Memorial aos Heróis da Pátria, junto ao Mausoléu Amílcar Cabral no interior da Fortaleza de São José de Amura, em Bissau. Lá consta qye nasceu em 1938 e morreu em 1964.


3. E a  propósito do Rui Djassi, recupera-se aqui  o comentário do nosso camarada Manuel Luís Lomba, também ele estudioso da história do PAIGC, feito no poste P13787 (**), onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel miliciano  para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar 'guerra revolucionária' e foi o 1.º a concluir tal formação. 

Residiu na estrada de Stª. Luzia e, quando surgiu na guerra, o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quínara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá, na altura da Operação Tridente". (*)


4. Há vários Djassi no PAIGC,o que pode levar a confundir quem trata a informação do Arquivo Amílcar Cabar (***):

(i) o próprio Amílcar Cabral usava como nome de guerra "Abel Djassi"

(ii) o Osvaldo Vieira tinha, como nome de guerra, "Ambrósio Djassi";

(iii) Leopoldo Alfama era o Duke Djassi (, atuava na região do cacheu);

(iii) aão sabemos qual era o verdadeiro do Rui Djassi, que se assina sempre Djassi (FAINCAM).

(iv) aparace um documento, no Arquivo Amílcar Cabral, datado de 24 de junho  1965, em Madina do Boé, e assinado por Djassi, que  não pode ser atribuído ao Rui Djassi (morto em 1964) mas simn ao Osvaldo Vieira (Ambrósio Djassi); aliás, não é só um documento, são vários, dando o Rui como comandante da base do Boé.

Numa revista académica brasileira, ODEERE (que  "publica trabalhos inéditos e originais desenvolvidos em torno das discussões sobre etnicidade, relações étnicas, gênero e diversidade sexual em diferentes tempos e espaços e abordando diversos grupos sociais, tais como indígenas, negros, africanos, mulheres etc."), encontrámos uma referência a Rui Djassi.

Mais exatamente à sua sobrinha, Nhima Muskuta Turé, nascida em Gampará (Fulacunda, Região de Quínara), em 1954...  Nasceu na "luta de libertação", era filha de combatentes, foi recrutada ("contra a sua vontade"), aos nove anos, pelo seu "tio Rui Djassi". Teve uma instrução rudimentar, foi enfermeira do PAIGC. Foi entrevistada em Bissau em 14/10/2009, era então enfermeira-chefe do centro de saúde de Belém, Bissau (****)-

5. Recorde-se, por fim,  que o Rui Djassi fez parte da segunda leva de militantes do PAIGC que foram enviados para a China, no 2.º semestre de 1960, para formação político-militar como futuros comandantes.

Rui Djassi fazia parte destes 10 futuros destacados dirigentes do PAIGC, hoje todos desaparecidos, uns em combate outros na "voragem da revolução" (com exceção de Manuel Saturnino da Costa)… Aqui vão, mais uma vez os seus nomes, por ordem alfabética:

(i) Constantino dos Santos Teixeira (nome de guerra, “Tchutchu Axon”);

(ii) Francisco Mendes (“Tchico Tê”) (1939-1978);  oficialmente terá morrido de acidente na estrada Bafatá-Bambadinca; mas também há ainda suspeitas de assassinato, em 7/6/1978; foi primeiro ministro e chefe de Estado;

(iii) Domingos Ramos: morto, em combate, em Madina do Boé, em 11 de Novembro de 1966; tem nome de rua em Bissau; foi camarada do nosso Mário Dias no 1º curso de sargentos milicianos  (CSM) realizado na Guiné, em 1959;

(iv) Hilário Rodrigues “Loló”: , comissário político, morreu em 1968, num bombardeamento da FAP, no Enxalé;

(v) João Bernardo “Nino” Vieira (1939-2009): natural de Bissau; ex-Presidente da República; nome de guerrra, "Marga";

(vi) Manuel Saturnino da Costa, o único que ainda é vivo: será 1º ministro entre 1994 e 1997, num dos piores governos do PAIGC, na opinião do nosso saudoso Pepito (1949-2014);

(vii) Pedro Ramos: fuzilado em 1977, às ordens de ‘Nino’ Vieira, ao que parece, no âmbito do chamado "caso 17 de Outubro"); era irmão do Domingos Ramos;

(viii) Rui Djassi: comandante da base de Gampará, n aregião de Quínara, morreu por volta de fevereiro de 1964, por afogamento na sequência de um ataque das tropas portuguesas;  tem nome de rua em Bissau;

(ix) Osvaldo Vieira (1938-1974=; morreu, por doença, em 1974, num hospital da ex-URSS, e com a terrível suspeita de ter estar implicado na conjura contra Amílcar Cabral (ironicamente repousam os dois, lado a lado, na Amura); era também conhecido como "Ambrósio Djassi" (nome de guerra); tem nome de rua em Bissau; o aeroporto internacional também ostenta o seu nome;

(x) Vitorino Costa (morto, numa emboscada n o 2º semestre de 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153 / BCAÇ 237, comandado pelo Cap Inf José Curto; a sua cabeça foi depois levada para Tite, como "ronco"; era irmão de Manuel Saturnino da Costa: e terá sido o primeiro revés de Amílcar Cabral, no plano militar; tem nome de rua em Bissau.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


(***) Último poste da série > 25 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19232: PAIGC - Quem foi quem (11): Lourenço Gomes, era uma espécie de "bombeiro" para situações difíceis ... A seguir à independência era um homem temido, ligado ao aparelho de segurança do Estado (Cherno Baldé, Bissau)

 Vd. postes anteriores da série: 

3 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6102: PAIGC - Quem foi quem (10): Abdú Indjai, pai da Cadi, guerrilheiro desde 1963, perdeu uma perna lá para os lados de Quebo, Saltinho e Contabane (Pepito / Luís Graça)

7 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4473: PAIGC - Quem foi quem (9): Luís Cabral, entrevistado por Nelson Herbert (c. 1999)

4 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4460: PAIGC - Quem foi quem (8): O Luís Cabral que eu conheci (Pepito)

1 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)

12 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

12 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

18 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)

6 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

30 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

30 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

(****) Vd, Patricia Alexandra Godinho Gomes  - "As outras vozes”: Percursos femininos, cultura política e processos emancipatórios na Guiné-Bissau.  ODEERE -  Revista do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade (PPREC), UESB . Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil

Guiné 61/74 - P19436: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (12): António Paulo Bastos, que andou em viagem pelas arábias, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

1. Mensagem do nosso camarada António Paulo Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), datada de 22 de Janeiro de 2019 com a sua prova de vida:

Companheiro Carlos
Não sei se ainda vou dentro do prazo para fazer a prova de vida, mas se não o fiz há mais tempo, o motivo foi que andei pelas Arábias em passeio e depois quando cá cheguei o computador, como não o levei, fez gazeta e não queria trabalhar, só no Domingo consegui que me o reparassem.

Falar sobre o Qatar é uma coisa impossível de explicar, é um mundo.
Então o ex-1.º Cabo 371/64 do Pelotão Caçadores Independente 953, ainda se encontra por estas paragens.

Um Abraço para toda a Tabanca.
António Paulo.





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Nota do editor

Último poste da série de 24 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19331: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (11): José Belo, na terra do Pai Natal e das Auroras Boreais, régulo da Tabanca da Lapónia, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

Guiné 61/74 - P19435: Notas de leitura (1144): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (70) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
É com pesar que nos despedimos das cartas confidenciais do gerente de Bissau que tinham como assunto "Acontecimentos Anormais". O que ele vai revelando um pouco antes e durante a fase de afirmação da subversão na Guiné é material de consulta obrigatória para futuros trabalhos historiográficos. Senão, vejamos: a forma minuciosa ou meticulosa como vai descrevendo os tumultos na região Sul, a partir do segundo semestre de 1962 e a desarticulação económica na mesma região ao longo de 1963; graças a fontes informativas privilegiadas, e na ausência de informação oficial, revela o alastramento da subversão, deixando bem claro que em fevereiro de 1964 a agitação ocupava na quase totalidade a zona Sul, uma boa mancha acima de Mansoa e com uma sólida implantação na região do Oio e a passagem do rio Corubal com muita agitação na margem direita do Geba, acima de Bambadinca, mas também na região do Xime, já havia barcos flagelados no Corubal, em breve o Corubal ficará intransitável até à região do Saltinho.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (70)

Beja Santos

Em 29 de novembro de 1963, a carta confidencial do gerente de Bissau para Lisboa traz uma novidade em primeira mão, uma novidade que afetará doravante as informações que ele nos vinha prestando graças às suas fontes, e que, por razões que jamais saberemos, deixarão de existir.
Escreve o seguinte:
“O Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné convocou os representantes da Imprensa e Rádio para lhes participar a criação do Gabinete de Informações que passará a dar periodicamente comunicações oficiais sobre os acontecimentos militares, nesta Província.
Disse que as nossas Forças Armadas têm actuado o melhor possível na repressão ao terrorismo, embora sem os êxitos espectaculares que todos desejariam pois se trata de uma guerra muito difícil e de características muito especiais no condicionamento geográfico deste território. Afirmou que os comunicados a distribuir serão sempre lacónicos e sóbrios, visto que todos devem compreender as limitações a que estão sujeitos os problemas e actividades ligadas com operações de guerra e por conseguinte com a segurança militar. Deu ainda conta de uma digressão, que acaba de fazer por todo o Norte da Província e as impressões lisonjeiras colhidas quanto ao portuguesismo e lealdade das populações autóctones.
Esta medida há muito reclamada e cuja falta se fazia sentir foi, como não podia deixar de ser, bem recebida pelo público que poderá agora ser informado periodicamente do que de verdade se vai passando no campo militar e vem pôr ponto final aos inúmeros boatos e maledicências que aqui corriam acerca da actuação das nossas Forças Armadas na Guiné”.

E daí o gerente reproduzir o texto integral do Boletim Informativo das Forças Armadas da Guiné, correspondente ao período de 1 a 24 de novembro, onde são referidas ações de limpeza dos locais onde se fazia sentir a atividade terrorista, dava-se relevo à região do Oio, a duas flagelações a embarcações no rio Corubal, continuando a decorrer o tráfego marítimo normalmente em toda a Província. Havia manifestações de lealdade às autoridades portuguesas, houvera agradecimento em Tite e Bissorã, de modo expressivo. Dava-se relação dos mortos e de um acidente com um avião da Força Aérea, em voo de experiência, no qual perdera a vida um Oficial.

Em último lugar, o gerente fazia uma referência detalhada ao sistema de policiamento às instalações do BNU em Bissau e explicava porquê:
“Além dos valores afectos ao Tesouro, tem ainda depósitos obrigatórios, espólios, e, como banco central, depósitos à ordem, as disponibilidades financeiras dos particulares, independentemente de vultuosa carteira de letras, e algo mais. Competia-lhe ter à guarda todos os valores da Província da Guiné, daí a necessidade de acautelar ao extremo a defesa dos valores confiados. Requerera-se à PSP um dispositivo de vigilância forçado e comentava-se: “Tendo em atenção os antecedentes de alguns elementos da corporação implicados em elementos subversivos, se com dois agentes de segurança indígenas o policiamento não oferecia garantias dada a pouca confiança neles depositada, tornou-se agora, apenas com um, mais precário ainda. Aliás, toda a gente estranha tal anomalia, sabendo-se que, em caso de emergência, será o Banco um dos primeiros alvos a atingir, pois, como em 16 de Março do ano passado informámos, do diverso material subversivo apreendido a elementos do PAIGC, estava incluído o nosso ex-contínuo Inácio Soares de Carvalho, constava, entre outras, a planta do edifício do Banco”.

Em 6 de dezembro, o gerente iniciava a sua correspondência para Lisboa transcrevendo o Boletim Informativo das Forças Armadas correspondente à última semana de novembro. Continuava-se em contraguerrilha no Oio, as Forças Navais mantinham-se no desempenho das missões de fiscalização das águas territoriais e interiores, atuava-se na Península de Cubisseco, onde fora capturado vário material de origem russa e checoslovaca.
E dava informação da vida económica da Guiné:
“À margem dos acontecimentos militares, participamos que a abertura da próxima campanha de mancarra foi superiormente marcada para o dia 15 do corrente. Nas actuais condições anormais, é imprevisível qualquer estimativa acerca da produção daquele produto, mas admite-se que uma pequena baixa. Devido à presente situação, prevê-se que a nova campanha não decorra normalmente, contando-se com as arremetidas dos terroristas que tudo tentarão para perturbar o seu bom êxito. Estão previstas medidas de protecção aos mercados, ‘cercos’ e armazéns e cobertura militar ao transporte da mancarra para os portos de embarque”.

A derradeira correspondência desse ano data de 28 de dezembro, inicia-se com transcrição de informação oficial das Forças Armadas, dando-se relevo a uma festa de confraternização que se realizara em Aldeia Formosa, com a presença dos homens grandes de Forreá e Contabane, que servira de pretexto às manifestações mais calorosas de portuguesismo.

O que se segue é uma mistura de informação económica e de dados confidenciais, nesta altura o gerente de Bissau ainda possui um confidente ao alto nível e escreve:
“À margem dos acontecimentos militares, acentuamos que a presente campanha de mancarra há pouco iniciada está a decorrer com normalidade, não se tendo registado até agora qualquer acto de terrorismo tendente a perturbar o andamento regular dos trabalhos em curso a ela ligados.
As medidas militares previstas, iniciaram-se ontem com a instalação em Binta, porto do interior da Guiné servido pelo rio Cacheu, de um pelotão destinado a proteger os armazéns num local existentes e o embarque do produto para a Metrópole.
Como nota saliente da última semana, temos a registar a fuga em 23 de Dezembro de 4 naturais da Província, funcionários das repartições da Alfândega, Correios e Fazenda, presumindo-se com destino ao território vizinho do Senegal a fim de ali se juntarem aos elementos naquele país instalados e pertencentes aos partidos ‘libertadores’.
Como corolário deste acontecimento, a PIDE prendeu uma trintena de indivíduos que se preparavam também para iniciar a fuga com a mesma finalidade. Interrogados, declararam uns que apenas pretendiam mudar de situação, outros que se propunham frequentar cursos com bolsas de estudo atribuídas para o efeito”.

A carta enviada a 3 de janeiro traz uma informação que nos ajuda a compreender como se alastrara a luta subversiva. Até agora, as informações martelavam continuamente acontecimentos ocorridos no Sul e na região entre Mansoa e Bissorã, com destaque para o Oio. Ora na primeira carta de 1964, e reportando-se a acontecimentos ocorridos na última semana de dezembro, havia já referências a ataques a Amedalai e Cutia, ações de nomadização no Oio e na região do Xime tinha sido surpreendido um numeroso grupo de terroristas bem como em S. Belchior, não longe de Enxalé. Decididamente, a Frente Leste dava sinais de vida. Tinham sido igualmente localizados acampamentos terroristas em Fulacunda e destruído um paiol junto à lagoa de Bionra.

Em 17 de janeiro, a transcrição do comunicado oficial já fala das três Frentes, não as enunciando explicitamente: o PAIGC fizera explodir três fornilhos no Oio e assaltara viaturas civis, igualmente emboscara; no Sul fizera rebentar um fornilho; em Chicri, no regulado do Cuor, tinham sido localizadas casas de mato e destruídas. Sem nunca falar na operação Tridente, o gerente refere que estava em curso uma operação de grande envergadura destinada a libertar parte do território da Guiné há tempos sob o domínio terrorista. “Segundo consta, um dos objectivos a atingir é a ilha de Como, ao Sul da Província que, como em tempos informámos V. Exas., se encontra solidamente guarnecida. Para apreciarem de perto a anunciada ofensiva, encontram-se no teatro da luta o senhor Ministro da Defesa e altas patentes das nossas Forças Armadas. Por indícios chegados ao nosso conhecimento, a citada operação terá a duração aproximada de três semanas”.

Data de 22 de fevereiro a última carta do gerente de Bissau cujo teor aqui interessa repetir, por ainda não estar a sua informação completamente condicionada às informações oficiais, e o que nos diz tem nalguns pontos foros de ineditismo:
“Como facto saliente à margem dos acontecimentos militares em curso no território desta Província, há a registar a presença nesta cidade de uma comissão da FLING (Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné), com sede em Dakar, constituída por Cesário Carvalho Alvarenga, antigo Chefe de Posto de Pecixe e que há anos fugiu para o Senegal, Ernestina Silva e Gano Umasú.
A FLING, segundo depoimento do seu secretário-geral, Emanuel Lopes da Silva, feito em fins de Julho do ano passado em Conacri numa reunião com uma ‘missão de boa vontade’ constituída por representantes oficiais de países africanos: a Argélia, as Repúblicas da Guiné e de Leopoldville e o Senegal, encarregada de verificar qual era o mais representativo dos vários partidos que, instalados em Dakar e Conacri, têm como propósitos ‘a emancipação de Cabo-Verde e da Guiné’, replicou a Amílcar Cabral, também secretário-geral do PAIGC, que o seu partido possuía também na República de Sekou Touré um ‘estado-maior e um campo de treino’, alegando que as ‘formações militarizadas’ da FLING haviam penetrado por mais de uma vez em território da Guiné, nomeadamente na região entre Varela e S. Domingos.
Não obstante ter-se chegado à conclusão que no território senegalês o partido mais importante era a FLING, a ‘missão de boa vontade’ resolveu recomendar, depois de votação, que fosse reconhecido como único movimento verdadeiramente representativo da luta contra o colonialismo português na Guiné ‘chamada’ portuguesa, o PAIGC.
Apesar disso, foi o partido banido que enviou à Guiné a comissão que veio conferenciar com o Senhor Governador da Província, certamente com autorização do Governo Central, e que tranquilamente, sob as vistas estupefactas do agente da PIDE, desembarcou no aeroporto da cidade vindo de Dakar.
Do resultado e objectivos das conversações nada, como é lógico, sabemos”.

(Continua)

Este marco está situado nos arredores de Suzana, mais ou menos a meio da estrada que liga Suzana ao porto de Buadje. Foi mandado construir pelo Administrador de S. Domingos para comemorar a chegada à Guiné. O marco foi colocado no local onde, segundo a tradição Felupe, Deus (Emit-ai) colocou o primeiro casal Felupe. A inscrição do marco diz o seguinte:
“Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa de tardição V Centenário 1446-1946”
Imagem e texto amavelmente cedidos por Lúcia Bayan, a fazer doutoramento sobre a etnia Felupe.

A Igreja de Catió, imagem inserida no livro “Guiné, Início de um Governo”, 1954, obra hagiográfica dedicada ao Governador Mello e Alvim.

Imagem que consta do álbum “Guiné – Alvorada do Império”, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão
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Nota do editor

Poste anterior de 18 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19414: Notas de leitura (1142): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (69) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 21 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19425: Notas de leitura (1143): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19434: Parabéns a você (1566): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19429: Parabéns a você (1565): Augusto Santos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73); Francisco Godinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2753 (Guiné, 1970/72) e José Albino, ex-Fur Mil Art do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


Fig 4

Citação: (s.d.), "O Secretário-Geral do PAIGC e Presidente da Assembleia Nacional Popular, Aristides Pereira, e o Ministro das Forças Armadas, Nino Vieira, passando em revista uma base da Frente. A fotógrafa Bruna Amico, de costas.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_11290 (2019-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp. / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue






GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACÁ EM 17FEV'1964

- OS LIDERES DO 1.º CORPO DE EXÉRCITO POPULAR 





1.INTRODUÇÃO


Ainda que o conteúdo inicial da presente introdução nada tenha a ver com o título deste trabalho, ele servirá apenas para conceptualizar o quadro narrativo, e factual, que o precedeu.

Pretendo, deste modo, partilhar no fórum, uma vez mais, o que foi possível apurar no âmbito desta pequena investigação cruzada, onde foram seleccionados e utilizados alguns dos depoimentos julgados pertinentes existentes em cada um dos lados do conflito, e que dão corpo a esta minha primeira narrativa de 2019, abrindo-a a outros (novos) horizontes de análise.




Fig. 1

Por outro lado, é de relevar o património documental existente no Arquivo Histórico do ex-Banco Nacional Ultramarino, produzido pela Administração da Delegação da Guiné [Vd. Fig 1] e remetido para a sua Sede em Lisboa, sobre o qual o nosso camarada, incansável, Mário Beja Santos, nos tem presenteado com as suas «Notas de Leitura», tituladas «Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné», a quem agradecemos.


Como consequência desse seu trabalho de inegável mérito, o seu conteúdo tem captado a minha superior atenção, aproveitando esta oportunidade para o citar.


Estamos, então, perante informações que consideramos de elevado valor historiográfico para a compreensão do processo iniciado em 1961 a nível interno, com diversas acções subversivas, e que evoluíram para a confrontação bélica, preparada e estruturada além-fronteiras.





Figura 2 – Mapa da Guiné com as principais linhas de infiltração da guerrilha, em 1961/63 – infogravura publicada no P15795: «O início da guerra da Guiné (1961-1964)», de José Matos, historiador – Parte I (com a devida vénia).

O primeiro acto, a Norte, ocorreu em 20 de Julho de 1961, 5.ª feira, com um assalto à povoação de S. Domingos, em particular ao edifício onde estava instalado um pelotão da 1.ª CCAÇ (CCAÇ 3), "fazendo uso de terçados [espadas curtas e largas], armas de caça, espingardas e garrafas de gasolina. Cinco dias depois, outro grupo armado provoca danos materiais na estância turística da praia de Varela e ainda em Susana" - (P15795).

Seguiram-se, depois, novas acções subversivas, desta vez a Sul, com incursões armadas vindas da fronteira com a Guiné [-Conacri], actos registados durante o segundo semestre de 1962.

Como exemplo dessa subversão, refere-se o caso narrado pelo gerente do BNU onde escreve: "é nosso dever levar ao conhecimento da V. Exa que por volta das três da madrugada de ontem [25Jun'1962; 2.ª feira], pequenos grupos de indivíduos, que se supõe pertencerem ao PAIGC, atacaram a tiros de pistola em Catió a Administração do Concelho, a Central Eléctrica, o posto da PIDE e os CTT, cortando os fios telefónicos e atravessando árvores na estrada. Incendiaram também a jangada e três pequenos barcos que fazem a ligação de Bedanda para Catió. Entre Buba, Empada e Fulacunda, foram cortadas as comunicações telefónicas e destruídos alguns pontões feitos de paus de cibe" (P19291).
Como elemento de comparação, dá-se conta da versão escrita e assinada pelo Rui Djassi (Faincam, nome de guerra) [1938-1964], responsável do PAIGC [Zona 8] pelas acções supras, cujo conteúdo se transcreve:

"30.06.1962 [sábado] > Da última hora – EMPADA

Destruíram pontes no dia 27-28 [Junho'62], cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada-Pam-Tchuma, Sacunda-Aidara.

No dia 28 [Junho] foi morto um comerciante europeu [Januário Simões, irmão de Manuel Simões, 1941-2014] que está [estava] ao serviço da PIDE.


Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara, também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Lopes; Bernardo Mango. E mais alguns camaradas. Agradecia mandar-me relógio para José Sanha.

ass: [Rui] Djassi (Faincam)"
Eis a reprodução do original [Fig 3]



Fig 3

Citação: (1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2019-1-18), com a devida vénia.

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Siares. Pasta: 04620.104.055. 
Título: Comunicados [Zona 8].
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada; ataque a agentes da PIDE; prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango); ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna).
Documentos anexos a 04620.104.054.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.


2. A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACA EM 17 DE FEVEREIRO DE 1964


Neste segundo ponto daremos conta da decisão tomada durante o I Congresso de Quadros do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, nomeadamente no âmbito político-militar, cujos elementos foram retirados de um documento manuscrito de Amílcar Cabral (1924-1973), localizado nos arquivos existentes na Casa Comum, Fundação Mário Soares, constituído por sete folhas, e que serão reproduzidas no fim deste trabalho.

De referir, ainda, que esta narrativa segue na "fita do tempo" uma outra relacionada com o envio de uma carta de Aristides Pereira (1923-2011) a 'Nino' Vieira (1939-2009), escrita igualmente em Cassacá, em 22 de Janeiro de 1964, um ano depois do ataque a Tite, informando-o da intenção de se realizar um encontro, ou seja, o "I Congresso" - P19335.[Fig 4, em cima]

Eis, então, o conteúdo das decisões tomadas.

23 de Junho de 1964 > Decisão

"O desenvolvimento da nossa luta armada exige que se tomem medidas urgentes e concretas tanto no plano político como militar. A VI Conferência de Quadros do Partido (I Congresso) tomou decisões importantes em relação a essas medidas, principalmente no que respeita à organização do Partido, as regiões libertadas, a criação das FARP, com o reforço das guerrilhas em todo o país, a criação do exército popular e a instalação das milícias populares.

Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".


[O que terá acontecido a Rui Djassi (Faincam)?, uma vez que o seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada, sendo substituído por Guerra Mendes [† em combate, em 09Mai'65, em N'Tuane (Antuane)], conforme pode ler-se no ponto 8.

A propósito de Rui Djassi, recupero o comentário do camarada Manuel Luís Lomba, feito no P13787, onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel mil para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar "guerra revolucionária" e foi o 1.º a concluir tal formação. Residiu na estrada de Stª. Luzia e quando surgiu na guerra o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quinara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá,  na altura da Operação Tridente".
Alguém tem algo mais a acrescentar, relacionado com este mistério?].

O documento refere ainda:

"Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

Por isso, tomo as seguintes decisões, em nome da direcção do Partido.

I – Guerrilhas

1. Todas as zonas do sul do país (11, 8 e 7) ficam sob a chefia do camarada João Bernardo Vieira ('Nino'; Marga), membro do B.P. e actual chefe da região (zona 11). Ele dirige todos os responsáveis de zonas abaixo indicados.

2. O camarada "Nino" é assistido nas suas funções por um grupo de responsáveis constituído pelos seguintes camaradas: João Tomas Cabral, Arafam Mané, Guerra Mendes, Abdoulaye Barry e Constantino Teixeira.

3. O camarada João Tomas Cabral desempenhará junto do camarada Nino as funções de Comissário político para todo o sul do país. Ele deve trabalhar em inteira ligação com o camarada Nino.

4. O camarada Arafam Mané passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Catió-Cacine (antiga zona 11).

5. O camarada Guerra Mendes é nomeado primeiro responsável da região de guerrilha Fulacunda-Bolama (antiga zona 8).

6. O camarada Abdoulaye Barry passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Xitole-Bafatá (antiga zona 7).

7. O camarada Constantino Teixeira tem a categoria de primeiro responsável da região de guerrilha e passa a fazer a ligação permanente entre as diversas regiões e o camarada Nino, com função de controlador para todo o sul do país.

8. Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry.

9. O camarada Nino deve passar as suas funções na Zona 11 ao camarada Arafam Mané. Deve, além disso, começar a dirigir todas as regiões do sul do país, para o que deve fazer as inspecções necessárias e tomar todas as medidas que julgar úteis para a melhoria da luta nessas regiões. A base do camarada Nino deve ficar instalada na região de Catió-Cacine, onde considerar mais conveniente para o bom cumprimento dos seus deveres.

10. O camarada Nino tem autoridade para escolher e nomear os diversos responsáveis dos sectores e bases da guerrilha dentro das regiões a sul do país. Pode igualmente destituir ou transferir todo e qualquer responsável, se isso for conveniente para o desenvolvimento da luta.

11. Sugiro no entanto a seguinte reorganização da direcção das guerrilhas nas diversas regiões e sectores:

a) Catió-Cacine (zona 11) – comissão regional da guerrilha – Arafam Mané, Saco Camará, Quade N'dami, Aguinaldo Noda,

Comissário político geral: Sadjo Bambo.

Responsável principal: Arafam Mané

Responsável do sector de Quitafine: Saco Camará 

Responsável do sector de Chão de Nalus e Como: Arafam Mané

Responsável do sector de Canframe: Aguinaldo Noda

Responsável do sector de Calbert (Tombali): Quade N'dami

- Os responsáveis das diversas bases e dos grupos de guerrilha devem ser indicados pelo camarada Nino.


b) Fulacunda-Bolama (zona 8) – comissão regional da guerrilha – Guerra Mendes, João Tomás, Madna na Isna, Bromejo e Cabiru Baldé

Comissário político geral: João Tomás

Responsável principal: Guerra Mendes

Responsável do sector de Quinara: Guerra Mendes

Responsável do sector de Bolama: Caetano Barbosa

Responsável do sector de Buba: Bromejo

Responsável do sector de Cubisseco: Madna Na Isna

Responsável do sector de Fulamore: Yafai Camará

Responsável do sector fronteira (Contabari): Cabiru Baldé

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha são indicados pelo camarada Guerra Mendes, com aprovação do camarada Nino [Vd. Fig 5].

c) Xitole-Bafatá (zona 7) – comissão regional da guerrilha – Abdulai Barry, Suleimane Djaló, Braima Camará, Tito Fernandes.

Comissário político geral: Tito Fernandes

Responsável principal: Abdulai Barry

Responsável do sector de Xitole: Braima Camará

Responsável do sector de Xime: Abdulai Barry

Responsável do sector de Saltinho e Caré: [?] [nome ilegível]

Responsável do sector de Bangacia: Suleimane Djaló

Responsável do sector de Bambadinca: Joãozinho Lopes

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha devem ser escolhidos pelo camarada Abdulai Barry, com aprovação do camarada Nino."




Fig 5

Citação: (1965), "Desfile de um destacamento das FARP, comandadas por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43067 (2019-1-1)



II – Criação do 1.º Corpo do nosso Exército Popular


1. Deve-se criar imediatamente o 1.º Corpo do nosso Exército Popular no Sul do País, de acordo com as decisões do nosso Congresso. Nenhuma desculpa, razão ou argumento pode servir para retardar mais a criação do exército. Devemos criar as primeiras unidades do exército com os homens e o material de que podemos dispor neste momento, sem prejudicar grandemente a acção e o desenvolvimento das guerrilhas no sul do país. Temos no entanto que compreender que a criação do exército representará um reforço da nossa força e, portanto, permitirá indirectamente, o fortalecimento das nossas guerrilhas.

2. O camarada Nino deve empregar o melhor do seu esforço para a criação imediata do Exército no sul do país. Para isso deve ser devidamente ajustado com todos os camaradas responsáveis e militantes, que lhe darão a melhor colaboração. Terá, além disso, toda a assistência do Secretário-geral e da direcção do Partido.

3. Devem ser criadas imediatamente duas Subsecções do Exército, com os nomes de "Botchecol" (1.ª subsecção) e "Vitorino" (2.ª subsecção). A organização e a estrutura dessas unidades do Exército popular são descritas pormenorizadas em documento secreto, que segue para o camarada Nino.


4. Estas duas subsecções, com todos os Corpos do nosso Exército Popular, serão superiormente dirigidas pelo Comité Principal do Exército, o qual é subordinado ao Conselho de Guerra. No sul do país, as unidades criadas são directamente dirigidas por um comando-geral do sul e pelos responsáveis indicados pela direcção do Partido.

5. O comando-geral do sul é formado pelos seguintes camaradas:

Nino / Marga – comandante geral

Carlos Leal – comissário político geral

Umaro Djaló – comandante da subsecção

Saturnino Costa – comandante da subsecção

Na qualidade de comandante geral, o camarada Nino, com a colaboração do camarada Comissário Político geral, estuda e planeia, de acordo com o Secretário-geral, ou os seus representantes, todas as acções militares e políticas a realizar pelo exército no sul do país. Os camaradas das subsecções são responsáveis pela execução dos planos e a realização total das acções determinadas pelo comando, de acordo com a direcção do Partido.

6. A subsecção "Botchecol" tem os seguintes dirigentes:

Umaro Djaló – comandante

Humberto Gomes – 2.º comissário político

Gustavo Vieira – chefe dos grupos especializados


7. A subsecção "Vitorino [Costa] tem os seguintes dirigentes:

Manuel Saturnino Costa – comandante

Mamadu Alfa Djaló – 1.º comissário político

Ngalé Yala – 2.º comissário polític

Mário Silva – chefe dos grupos especializados

8. Os chefes de grupo e comissários políticos de grupos devem ser indicados pelo comando geral do Sul

Nota: Tudo isto deve ser feito completamente até ao dia 15 de Julho de 1964".


Segue-se a reprodução das sete folhas originais [Fig 6].











Citação: (1964), "Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso)", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42295 (2019-1-) (com a devida vénia)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07061.032.017.
Título: Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso). Assunto: Manuscrito de Amílcar Cabral das decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (Congresso de Cassacá). Organização do PAIGC; a situação das regiões libertadas; a criação das FARP; a criação do Exército Popular e a instalação das milícias populares; problemas da Zona 8; guerrilha; criação do I Corpo do Exército Popular; organização e estrutura de uma Subsecção. Em anexo uma carta de Amílcar Cabral para Nino Vieira e uma folha de apontamentos.
Data: Terça, 23 de Junho de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
22Jan2019.
______________

Nota do editor Jorge Araújo:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)