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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22670: Manuscrito(s) (Luís Graça) (205): E na hora da tua morte, ámen!... (Ninguém, por certo, te perguntará p'los teus sonhos... de menino)






Lourinhã > Praia da Areia Branca > 26 e 27 de outubro de 2021 > O põr do sol, um espetáculo, por enquanto gratuito, para quem tem o privilégio de viver à beira-mar ou perto do mar...Um espetáculo que eu não dispenso, sempre que posso, desde há muitos anos... Afinal, nasci a ouvir o mar...mas raramente me podia permitir, quando criança, o luxo de dizer "até amanhã, meu irmão sol"... Entre mim e o sol, a pôr-se  no mar do Cerro dos meus antepassados, havia os cabeços e os monhos de vento...

(...) Nasceste a ouvir o mar, o barulho do mar e dos moinhos de vento que te deixaram os árabes, dizem uns, ou os flamengos, dizem outros. Sabes lá tu o que está inscrito no teu ADN. Batizaram-te cristão, na pia da igreja, gótica, do castelo, que foi românica. E como antes terá sido mesquita mourisca ou capela visigótica, e, muito antes ainda, templo romano ou anta, dólmen, menir. Perdeste-te, por amores e guerras, no caminho sul de Santiago e chamaram Grande ao rio da tua infância. (...).

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Na véspera do Dia dos Mortos (que a nossa tradição cristã celebra, afinal, no dia 1 de novembro, dia que se quer luminoso, o dia de todos os santos), e do início incerto de mais uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a de 2021, também conhecida como COP26,  a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Gasgow, 31 de outubro-12 de novembro de 2021), fui revisitar e rever um poema que me é caro, e que me ajuda a mitugar a angústia existencial... Gostava um dia de o ler em voz alta, ao pôr do sol,  para a minha neta, que vai fazer dois anos em 12 de novembro,  no Funchal, e  a quem não sei dizer, se ela um dia mo perguntar,  que raio de planeta lhe vou deixar.


E na hora da tua morte, ámen!

por Luís Graça



De rio em rio se alcança a foz 
e se galga o mar,
vais na torrente, 
a espernear e a bracejar.

De mar em mar se vai ao longe,
p’ra naufragar, no oceano, largo e profundo,
… ou p’ra encalhar, 
ao cabo do mundo.

De estrela em estrela navegas por toda a parte,
à boleia dos sonhos que te venderam,
alguém por certo com engenho e arte,
mas a  preço de saldo.

Do planeta ao planetário vai um salto,
há apenas uma fina tela, a separar-te
do desastre humanitário.

Na deriva da vida segues em contramão,
como um cavalo com o freio nos dentes,
fora da estrada, 
em louco tropel.
e sem seguro de acidentes,

Daqui para a frente, 
e até ao planeta Babel,
vais pouco confiante e nada crente,
como no carrossel 
da feira de setembro,
quando eras menino e moço:
já não é caminhada, 
já não é jogging,
muito menos passeio ameno pelo areal,
é alucinação,
é salto mortal,
vais de camuflado 
e corda ao pescoço,
pela picada armadilhada, 

Preferes nada saber de astrofísica,
muito menos de metafísica,
seria bom saberes um pouco mais
de economia  
do risco.

Porque um dia, 
vão-te cobrar a portagem,
no fim da viagem 
ou numa qualquer paragem, técnica,
quando o teu planeta azul perder 
o contrato de concessão
ou a simples licença de habitação.

Um dia, faça chuva ou faça sol,
ou radiações ultravioletas,
vais ser despojado do teu corpo,
com todas as letras,
desalojado do teu frágil habitáculo,
como a lagosta ou o caracol.

Quem te prometeu um tabernáculo,
ergonomicamente correto, 
digno de um deus, mesmo  que menor,
nada sabia de ergonomia, 
nem de poesia,
e muito menos era arquiteto.

Afinal, não passas de um animal terráqueo,
numa casa que não é tua,
e, na melhor das hipóteses, 
és um erro de casting do criador…

Alguém te há de lembrar
que não passas de um simples hóspede,
e que o hóspede e o peixe ao fim de três dias… fedem,
como assegura o anexim popular.

Na tua aldeia global, 
na hora da tua morte,
tocará, a finados, o sino.
Com sorte,
e se ainda houver um resto de humanidade,
alguém teu conhecido fará questão de dizer, 
por piedade,
uma última oração 
à beira da tua cova,
e lembrará que também foste menino:

“Pode não ter sido um grande poeta,
nem um cidadão exemplar,
muito menos um herói,
mas foi, dizem,  
um bom filho,
um bom homem,
um bom amigo, 
um bom camarada, 
quiçá até um bom pai”…

Dobrará o sino
no campanário  da igreja da tua aldeia...
O padre encomendar-te-à  a alma
para que, mais leve dos pecados, 
chegues depressa à eternidade.
Mas ninguém, por certo, te perguntará
p'los teus sonhos... de menino.

Lisboa, março de 2015,
Lourinhã, revisto, 31 de outubro 2021.

____________

Nota do editor:

Últino poste da série > 22 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22476: Manuscrito(s) (Luís Graça) (204): Caminhando contigo pela picada da vida...

Guiné 61/74 - P22669: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (76): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2021

Queridos amigos,
Estamos no pico da época das chuvas, há muitas entradas e saídas no pelotão de Paulo, parte gente muito amiga, irá ficar uma saudade irreprimível, curiosamente algumas dessas relações terão futuro. Depois de uma vida nómada, é distribuída uma tarefa de responsabilidade mas num quadro de mais acalmia, há que garantir a segurança de quem anda a pôr macadame e tapetes de alcatrão numa estrada que ficará conhecida como a de Xime-Bambadinca. Primeiro desmatou-se, e muito, para dissuadir emboscadas em pontos que outrora deixaram recordações sinistras, como Ponta Coli. O único senão são as tremendas chuvadas, e é numa dessas situações que lembravam o dilúvio universal que Paulo vai conhecer uma dimensão do ódio da boca de um homem civilizado, ouvirá um discurso alucinante que descreveu a Annette com o pedido de o registar por inteiro, era um ódio que depois se soltou na vida da Guiné e em Cabo Verde.

Um abraço do
Mário



Rua do Eclipse (76): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Mon adorable Annette, fiquei estonteado com o telefonema do dirigente da Confederação Europeia dos Sindicatos e do seu convite para vir dirigir o departamento dos consumidores. Ao que consta, o meu trabalho voluntário tem sido muito apreciado, a atual dirigente, a italiana Rossana Vittorini regressa a Itália para funções no seu sindicato nacional, devo ir a Bruxelas dentro de uma a duas semanas para conhecer a proposta da confederação, fiquei de orelha arrebitada quando me perguntaram se eu podia meter licença e fazer um contrato até cinco anos. Não embandeiremos em arco, mas, meu amor adorado, vislumbra-se a possibilidade de nos juntarmos. Quando ontem à noite te telefonei senti perfeitamente o eco da tua legítima alegria e comunguei com o choro que se seguiu. Vamos fazer figas e, entretanto, avancemos para o que ainda falta desta comissão. Imagina tu que a mexer nestes últimos papéis encontrei esboços dos preparativos da Operação Beringela Doce de que já falámos, caso tu consideres útil, poderás utilizar estas folhas.

Então, deixa-me ainda falar das saudades que eu sentia naquele tempo. Apareceu Cherno Suane, estava a recuperar do seu duplo traumatismo craniano, tudo tinha a ver com a minha anticarro de Canturé, de outubro de 1969. Foi uma alegria abraçá-lo, deram-no como capaz para o serviço, mas eu sinto que se instalou uma limitação na sua vida, fala mais lentamente e não tem a afoiteza que lhe conheci no andar. Vamos ver. Como recordarás, foi este querido amigo que te apresentei nas férias de verão, fomos visitá-lo no local onde trabalha, no Largo de São Paulo, veio depois jantar connosco. Fiquei com uma enorme gratidão com o Teixeira das transmissões, colaborador impecável, revelou-se incansável na reconstrução de Missirá, nunca recusou andar com aquele rádio monstruoso às costas nas operações. E partiu igualmente o Barbosa, era conhecido pelo Boina Verde, era o seu verdadeiro fetiche. E contei-te também que depois de termos feito uma operação de que resultou uma emboscada com sucesso, já teríamos retirado pelo menos uns dez quilómetros, caminhávamos em direção a Missirá e ele veio dizer-me que tinha que voltar nem que fosse sozinho àquele local, dera agora pela falta da boina, lembrava-se que a tinha posto no chão ao lado onde estava deitado, foi o cabo dos trabalhos convencê-lo que não nos podia obrigar a tal violência, comprometi-me a que voltaríamos no dia seguinte, foi nova operação, temíamos encontrar um grupo do PAIGC naquele local, felizmente nada aconteceu e ele recuperou a boina. E reapareceu também Albino Amadú Baldé, a quem eu ternamente chamava o Príncipe Samba, mantinha a pose de um aristocrata, olha bem para esta fotografia que te envio, a pose natural de alguém que tem linhagem nobre. Fiquei magoado com a decisão de o passar à disponibilidade, ele que teve fraturas e ficou diminuído pela mina anticarro, em Bambadinca entendeu-se que ele podia ficar em regime de colaboração mas sem vínculo nem direito a reforma ou a qualquer tipo de pensão, bem procurei dialogar com os novos senhores do mando em Bambadinca, o Albino está presentemente a dar aulas, mas acho uma tremenda injustiça esta marginalização, ele foi efetivamente o comandante da milícia de Missirá, valoroso e de uma fidelidade sem mágoa. Irei visitá-lo anos depois e sabe Deus o que me custou ouvi-lo dizer que vivia numa discreta miséria, estendia-me a mão a pedir ajuda.

E começou o meu mês de julho, a minha incumbência é a de montar segurança permanentemente não só à equipa da TECNIL como aos trabalhadores que acompanham o alcatroamento da estrada, estamos na fase de trabalhos já depois do Xime e em direção a Amedalai, qualquer coisa entre 8 a 9 quilómetros separam estes dois locais onde decorrem os trabalhos. Junto ao Xime já se alcatroou, desmatou-se tudo à volta até um local que no passado deixou sinistras lembranças, Ponta Coli. A maquinaria é pesada e por isso é obrigatório todos os dias recolher a um porto seguro, decidiu-se que fica toda instalada em Amedalai ao fim da tarde, e com o despontar do dia daqui se parte quer para aprontar o macadame quer para atapetar com alcatrão. Uma parte da equipa do TECNIL parte ao amanhecer do destacamento do Xime, o grosso dos trabalhadores permanece em Amedalai, é daqui que eu e cerca de 20 homens (não mais, estamos em plena época das chuvas, há muita gente a sofrer de malária) os acompanhamos, montamos segurança em áreas desmatadas, tudo com os primeiros alvores do dia, sempre da mesma maneira: na primeira linha um grupo de cinco picadores, depois dois Unimog pejados de trabalhadores, seguem-se as máquinas, das mais potentes às mais ligeiras, nós seguimos os flancos, aqui começa a nossa vigilância de águia.

Nunca te esqueças que a época das chuvas nos reserva a mais completa incerteza, o amanhecer tem sempre alguma neblina, às vezes há uma chuva intensa e depois o dia aquece sufocando-nos as gargantas e as narinas, é quase sempre um tempo de estufa, e por ali andamos como suor a empapar-nos a farda. Às vezes os imprevistos do tempo obrigam a paragens, os trabalhadores estão a lançar o cascalho, cai aquela água toda dos céus, e toda aquela pedra britada escorre para as bermas, dá o seu trabalho ir buscá-la para a fixar na futura estrada. Por ali andamos a patrulhar, só posso falar por estes primeiros dias, não há flagelações, não encontramos indícios da presença de guerrilheiros, na verdade desmatou-se em profundidade em ambos os lados, não nos interessa o que andam as máquinas a fazer nem nos apegamos à barulheira dos trabalhadores, o que nos interessa é detetar a presença guerrilheira e neutralizá-la, nada mais.

Cada um leva a comida no bornal, não há tempo para folgar à mesa, e quem vigia não deve perder-se em cavaqueiras com quem trabalha, mesmo no período da manja. A exceção que abro é quando aparece o responsável pelas obras, um engenheiro que deve ser cabo-verdiano, é de trato afável, um homem que deve estar próximo dos 35 anos, pelo que me é dado ver impõe-se pela sua competência, nada de gritarias nem de insultos, desloca-se entre os grupos que trabalham, dá ordens, presta esclarecimentos aos capatazes, para para retificar, vê-se a olho nu que é respeitado. E assim passam os dias, aproximadamente quando se aproxima o lusco-fusco já estamos todos em Amedalai, temos nessa altura a garantia de que a estrada está picada até à ponte de Undunduma, e assim se chega a Bambadinca e temos quase metade do dia por nossa conta. De vez em quando há exceções, havia uma semana de idas e vindas ao alcatroamento da estrada quando recebemos indicação para seguir para Mansambo dois dias, os de lá partiam para uma operação, competia-nos dar segurança a quem ali ficava. Tudo correu bem e voltámos à rotina de Amedalai. E veio um capricho dessa época das chuvas que me vai arrastar para um episódio que ainda hoje me faz pensar no ódio que vive dentro dos homens, bem camuflado até que chega a circunstância de um desabafo. É o que eu te vou contar a seguir, e permite-me, minha doce Annette, é suficientemente impressivo para constar do nosso romance.

Tive hoje um dia estranho em casa, imagina tu que olhei as coisas com uma certa distância, como se já tivesse a criar o sentimento de que vou viver para Bruxelas. Bom, há que controlar os sonhos para não haver os amargores da deceção. Tenho agora uns dias de muito trabalho com as aulas em Santarém e na Caparica, mas não deixarei de telefonar. Bisous, mas também besinhos para a mulher mais formosa da Bélgica e arredores, ton amoureux, Paulo.

(continua)


Uma vista da tabanca de Amedalai, fotografia de 1997, tirada pelo meu estimado amigo Humberto Reis, seguramente que aqui houve estabelecimento comercial, sabe-se lá se de mancarra ou de venda a retalho
Desculpa as cartas brutais que por vezes te mando (inclui excerto de aerograma de Mário Beja Santos), aguarela de Manuel Botelho
Quando visitei o meu inesquecível Albino Amadú Baldé, há uns bons anos
Cherno Suane, o guarda-costas e o irmão
Entre grandes amigos, Bissau, outubro de 1969, Barbosa, o da Boina Verde, é o primeiro à esquerda, o Teixeira está ao meu lado
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22652: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (75): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22668: Peter Francisco (Ilha Terceira, Açores, 1760 - Richmond, Virgínia, 1831): um herói português na América... praticamente desconhecido em Portugal (José Belo, Key West, Florida)


Peter Francisco: retrato miniatura, óleo (meados do século XIX). 
Imagem do domínio público.


New Bedford, Massachusetts: Monumento a Peter Francisco  (Porto Judeu, Ilha Terceira, Açores, 1760 - Richmond, 16 de Janeiro de 1831), "patriota americano, de origem portuguea". 


New Bedford, Massachusetts > Monumento a Peter Francisco > Na placa lê-se: "Em honra de Peter Francisco, o Hércules da Independênca Americana. '“Sem ele teríamos perdido duas cruciais batalhas, talvez mesmo a guerra, e com ela a nossa liberdade. Peter Francisco é verdadeiramente um exército de um só homem!.' General George Washington."



Outro monumento a Pedro Francisco, 
Guilford Courthouse,  National Military Park



F
Foto à direita:  José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA); foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jibilado; na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); é cap inf ref do exército português; durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; tem  mais de 210 referências no nosso blogue.


1. Mensagem de J. Belo: 

Data . 24 out 2021, 14h11
Assunto - Heróis portugueses quase desconhecidos em Portugal

Caro Luís

Vou enviar-te a história do soldado de origem açoriana que foi considerado um dos maiores heróis da guerra norte-americana pela independência:  Pedro Francisco, conhecido nos Estados Unidos como Peter Francisco, nascido em Porto Judeu, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores em 1760.

O próprio comandante-chefe das tropas americanas, George Washington, escreveu referindo-se ao Peter Francisco :

“Sem ele teríamos perdido duas cruciais batalhas, talvez mesmo a guerra,e com ela a nossa liberdade. Peter Francisco é verdadeiramente um exército de um só homem!”


Noutros e-mails segue a história e algumas fotos, que recolhi na Net.  Ainda estou na Suécia até ao fim do mês, mas gostava de levar uma boa tradução do 
poste ,que irei espalhar entre amigos e conhecidos nos States, principalmente entre os que vivem na Virgínia e Pensilvânia, locais de algumas das batalhas.


Um abraço. J. Belo



O mais famoso soldado da Guerra pela Independência 
Norte-Americana era de origem portuguesa, 
Peter Francisco (1760-1831)


Pedro Francisco, ou Peter Francisco,  como é conhecido nos Estados Unidos, nasceu em 1760 no Porto Judeu, Ilha Terceira, Açores.

Existem duas versões sobre o seu aparecimento na América.

Numa delas conta-se ter sido raptado, quando tinha cinco anos de idade, por marinheiros de passagem com vista à sua posterior venda nas Américas.

Na outra versão, terão sido os pais de Francisco que o terão entregue a um comandante de navio com vista a uma educação para a vida no mar.

De qualquer modo ele acabou por ser abandonado na enseada de City Point (hoje Hope Well) no actual Estado da Virgínia.

Foi inicialmente recolhido num hospício para órfãos e pobres de onde acabou por ser retirado por um conhecido juiz,e proprietário de plantações locais, Antony Wiston.

Aos 16 anos de idade, em 1776, apresenta-se como voluntário no 10º Regimento da Virgínia.
Passa deste modo a fazer parte do Exército Continental em luta contra os ingleses pela independência.

A sua coragem, fora do comum, aliada a um voluntarismo constante, rapidamente o fizeram notar tanto por camaradas como por superiores.

Procurou sempre o centro dos violentos combates,  tendo sido ferido nas batalhas de Brandywine, Pensilvânia,  e na de Monmouth (, travada perto de 
Monmouth Court House, que hoje fica em território do estado de New Jersey).

Em Julho de 1779 salientou-se na conquista do campo fortificado de Stony Point onde foi o segundo homem a conseguir transpor as muralhas depois de inúmeras baixas em seu redor.
Conseguiu tomar posse da bandeira inimiga e, apesar de gravemente ferido no abdómen, fez questão em ser ele a entregá-la pessoalmente ao seu comandante.

Neste período o Peter Francisco já era uma figura lendária em todo o exército. Mas foi na batalha de Camden, na Carolina do Sul,  em 16 de agosto de 1780, que a sua fama atingiu o topo.

Esta batalha correu mal para os revoltosos que foram obrigados a retirar. Sendo um dos últimos a retirar da linha da frente, Peter Francisco verificou que um canhão tinha sido abandonado pelos seus camaradas e estava meio enterrado na lama.

As tropas inglesas aproximavam-se rapidamente para se apoderar desta arma. Peter Francisco separa a peça do seu transporte e sozinho leva-a nos braços até à nova linha de defesa americana.

O canhão, então de modelo muito usado, pesava 1.100 libras (pound) ou seja...499 quilos!


Peter Francisco não era um homem pequeno. Aos vinte anos de idade tinha de altura 6  pés (feets) 6 polegadas (inches), ou seja, 1,92 metros, o que era mais de um pé  (30, 48 cm) do que a altura média na época. Pesava então 260 libras (pounds) (118 quilos).

Tendo chegado ao conhecimento do comandante-chefe, George Washington, que Peter Francisco se lamentava sempre de que a espada do seu armamento era pequena para a sua estatura, ordenou que se forjasse uma espada especial para ele com o tamanho de 6 pés  (1,83 m).

Espada que lhe foi solenemente entregue e se tornou muito útil na tropa de Cavalaria de que Pedro Francisco passou a fazer parte, alistado em 1781.
 
Foi a batalha de Guilford Courthouse que ficou especialmente ligada às proezas deste militar.
Com o seu exemplo e coragem influenciou os seus camaradas e, ele próprio, acabou por abater,  em combate corpo a corpo,  11 soldados ingleses.


A casa-museu de Peter Francisco na Virgínia


Aquando das comemorações do segundo centenário da independência norte-americana. em o serviço postal editou uma coleção de selos em que figuram os principais heróis da revolução. 

No selo dedicado a Peter Francisco (imagem à direiat) está escrito: “Lutaram pela causa…..um lutador extraordinário”. (Acompanhado pela imagem do herói, carregando ao ombro o famoso canhão referido acima.)

Recorde-se que a independência das treze colónias (os Estados Unidos da América) foi declarada em 4 de julho de 1776 e reconhecida pelos ingleses em 1783, após cinco anos de guerra. 


"Consideramos que essas verdades são evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados por seu Criador com certos direitos inalienáveis, que entre eles estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade."

Por sua vez, a casa de Peter Francisco, na Virgínia, foi totalmente recuperada pelos seus descendentes, sendo hoje um museu dedicado à sua vida.



J. Belo

(Fotos rec9lhidas na Net, e reproduzidas com a devia vénia aos seus autores)

PS - Pedro Francisco Machado foi homenageado na sua terra natal, Porto Judeu, concelho de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores,  com nome de rua e  estátua em bronze, da autoria de Rui Goulart (fundição Lage, 2015). A estátua representa um menino, de 5 anos, de pé, perscrutando o horizonte, o mar. Foi inaugurada no 25oº aniversário da chegada de Pedro à América, Fotos podem ser ser vistas aqui. O escultor, açoriano da ilha do Pico, tem página no Facebook, aqui. (LG)

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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22667: Convívios (920): XI Encontro dos "Ilustres TSF", levado a efeito no passado dia 20 de Outubro em Lisboa (Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS)

Lisboa, 20 de Outubro > XI Encontro dos Ilustres TSF > Foto de família > Sentados: Marques, Miguel, Martinho, Cruz e Eduardo. De pé: Lã e Hélder


1. Em mensagem de 26 de Outubro de 2021, o nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), dá.nos conta do XI Encontro dos Ilustres TSF levado a efeito no passado dia 20.

XI ENCONTRO DOS “ILUSTRES TSF”

Caros amigos

Nestes tempos mais recentes fomos surpreendidos pelo falecimento inesperado de pessoas com que interagimos aqui no nosso Blogue: foi o Torcato Mendonça, foi o Zé Dinis, foi o Victor Barata. Já outros também nos deixaram, mas referi estes por serem os mais próximos e também porque com eles tive um relacionamento mais aprofundado.

Para contrariar sentimentos negativos e/ou angustiantes derivados desses funestos eventos, e depois de ultrapassados diversos obstáculos, 7 dos elementos a que me costumo referir como sendo os “Ilustres TSF” conseguiram promover um Encontro, o XI Encontro, no passado dia 20.

Esse Encontro ocorreu em Lisboa, num restaurante na Avenida Almirante Reis e depois dele ainda houve tempo para uma visita pedonal, desde o Martim Moniz, passando pela “Manteigaria Silva” para apreciar (e obter) “o melhor bacalhau do mundo”, percorrendo depois alguns locais da Baixa Pombalina, utilizando os chamados “elevadores de Lisboa” até ao Miradouro do Chão de Loureiro, descendo à Mouraria e percorrendo a Rua do Capelão. Visita a locais históricos e de cunho cultural. Já várias vezes, quando dou notícia destes eventos deste Grupo, costumo também escrever que “um dia”, falarei de todos e cada um do “Ilustres TSF”. Não é hoje, não é aqui.

Por hoje apenas deixo nota deste XI Encontro, do gosto e alegria manifestados pelos participantes, das dificuldades e esforços que foram necessários efetuar para que fosse uma realidade. Os “Ilustres” foram 15. Neste Encontro estiveram 7, aqueles que conseguiram resolver os obstáculos com que agora quase todos nos deparamos: responsabilidades e ocupações familiares, problemas de saúde, com consultas médicas, intervenções cirúrgicas, problemas com maior ou menos gravidade.

Na foto ilustrativa que envio temos então, em baixo e da esquerda para a direita, Fernando Marques, de Alhandra a viver em Lisboa e que foi um dos dois dos “Ilustres” que não foi mobilizado, Mário Miguel, de Barcelos que esteve em Moçambique, Manuel Martinho, de Vila das Aves, que esteve na Guiné, Fernando Cruz, do Porto, que esteve em Moçambique e Eduardo Pinto, de Viseu a viver em Lisboa, que esteve na Guiné. Em cima, pela mesma ordem, Carlos Lã, de Faro, que esteve em Angola e Hélder Sousa que vive em Setúbal e esteve na Guiné.

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22649: Convívios (919): Convívio do pessoal da 35.ª C. Comandos, dia 27 de Novembro de 2021, em Ançã, Coimbra (Ramiro Jesus, ex-Fur Mil CMD)

Guiné 61/74 - P22666: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (19): ilha de Soga, arquipélago dos Bijagós, junho de 2021: II (e última) Parte: Os fantasmas da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22/11/1970)


Foto nº 13
>Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Etamburo > O Patrício Ribeiro lendo o livro  "Operação Mar Verde", de António Luís Marinho.


Foto nº 11 >Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Restos fantasmagórivos do  Quartel de Soga... Ainda existem alguns pavilhões que poderão ser recuperados.  Aaqui partiram os militares portugueses para Conacri em 20.11.1970 às 20,00 h, para a Operação Mar Verde. E no final da operação, para aqui voltaram.


Foto nº 11.1 > 
>Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Restos fantasmagórivos do  Quartel de Soga (1)


Foto nº 11.2 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Restos fantasmagóricos do  Quartel de Soga (2)


Foto nº 11.3 > 
Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Restos fantasmagóricos do  Quartel de Soga (3): estrtutura de uma viatura


Foto nº 12 > 
Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > No interior da ilha, a norte, houve um acampamento militar a cerca de 3 km da rampa e do quartel, onde se deu formação aos opositores de Sékou Touré. Visitei o local, é uma lala, onde já não há vestígios do acampamento. Até há poucos anos, havia algumas palmeiras cravejadas de balas, agora só há cajueiros.


Foto nº 12.1 > 
Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Antigo acampamento militar (1)


Foto nº 12.2 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > Antiho acampamento militar (2)


Foto nº 12.3 > 
Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 > No interior da ilha, a norte, houve um acampamento militar a cerca de 3 km da rampa e do quartel, onde se deu formação aos opositores de Sékou Touré. (3


Foto nº 10 >Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 >
Rampa Cais de Ancanquê, junto ao antigo quartel... Em frente a ilha de Bubaque


Foto nº 10.1 >Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 >
Rampa Cais de Ancanquê, junto ao antigo quartel... Em frente a ilha de Bubaque (1)


Foto nº 10.2  >Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Soga >  Junho de 2021 >
Rampa Cais de Ancanquê, junto ao antigo quartel... Em frente a ilha de Bubaque (1)

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1
. Continuação da publicação das fotos da ilha de Soga, visitada em junho de 2021 pelo Patrício Ribeiro (português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. XX, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; membro da nossa Tabanca Grande, com mais de 110 referências no blogue) (*)

Data - 17 out 2021, 13:40

Assunto - Fotos da ilha de Soga

Junto mais umas fotos, da Ilha de Soga: “quem lá vai, já não sai”...



2ª Parte


Seguem fotos da rampa Cais de Ancanquê, junto ao antigo quartel. A rampa está a ser reparada pela ONG AIDA, com financiamento da UE.

Uns metros mais à frente da rampa no mar, o meu GPS marcava um canal com 10 mt de profundidade.

Poucas milhas à frente, está a Ilha de Bubaque, que pode ser vista nas fotos nºs 10, 10.1, 10.2


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Carta de Bubaque (1057) > Escala 1/50 mil > Posição relativa das ilhas de Soga, Bubaquie, Rubane e Formosa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


Do Quartel de Soga, ainda existem alguns pavilhões que poderão ser recuperados. A ONG SOGA, está a pensar fazê-lo, mas com são terrenos militares, por vezes encontram muitos obstáculos… (Fotos nºs  11, 11.1, 11.2, 11.3).

Daqui partiram os militares portugueses para Conacri em 20 de novembro de 1970 às 20,00 h, para a Operação Mar Verde. E no final da operação, para aqui voltaram.

No interior da ilha, a norte, houve um acampamento militar a cerca de 3 km da rampa e do quartel, onde se deu formação aos opositores ao regime de Sékou Touré.

Visitei o local, é uma lala, onde já não há vestígios do acampamento. Até há poucos anos, havia algumas palmeiras cravejadas de balas, agora só há cajueiros. (Fotos nºs  12, 12.1, 12.2).

Nesta viagem para a Guiné, tinha levado alguns livros de Lisboa para ler; para a ilha de Soga, fui acompanhado pelo “Operação Mar Verde”, 2ª Edição (Foto nº 13).

Nota: para esta ilha, não há transportes públicos. Só se lá chega através de canoas, ou com os pescadores, nas suas pirogas.

Abraço
Patrício Ribeiro 

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau, Guin+e Bissau
Tel 00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22653: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (18): ilha de Soga, arquipélago dos Bijagós, junho de 2021 (Parte I)

(...) Comentário de Patricio Ribeiro ao poste P22653:

(...) Tive curiosidade de ler tudo o que foi possível sobre a Operação "Mar Verde", quando praticamente no mesmo dia, eu já ouvia a Rádio Moscovo e a Rádio Brazzaville do MPLA a falar no ataque.

E depois de um camarada, da Escola de Fuzileiros de Vale do Zebro me aparecer em Luanda (, uns dias depois da operação), a contar que tinha saído de Bissau para Luanda, pois o Spínola mandara sair de Bissau todos os que tinham estado em Conacri. E que ele lá não morreu, porque a bala entrou no carregador!!!

Mais tarde, tive a possibilidade de ler o que o Comandante Alpoim escreveu sobre a operação, depois a 1ª edição da Operação Mar Verde, assim como a 2ª edição do livro do António Luís Marinho.

Não li tanto como o historiador José Matos, que há 2 dias me assinou o livro "Ataque a Conacri", na sessão de lançamento do livro. Tive oportunidade de assistir ao debate do lançamento do livro, em que a plateia estava dividida ...

Conforme se pode ler nos diversos livros, "quem entrava na Ilha de Soga, já não saía", para manter a operação secreta.

Convivi e conversei muito, com o Comandante Alpoim Calvão em Lisboa, Bissau e em Bolama, nos últimos anos da vida dele. Ele era o comandante da Escola de Fuzileiros em 1968, quando eu para lá fui aprender a caminhar no lodo diariamente, atividade que ainda hoje pratico profissionalmente. Vi muitos colegas meus a fazer pistas de lodo de madrugada à chuva, de "castigos que ele atribuía",  e de combates de boxe, no gabinete dele, em que a outra parte tinha direito a defender-se, quando o assunto era mais grave. (...)

 
23 out 2021 12:23

Guiné 61/74 - P22665: Parabéns a você (1997): Coronel Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22618: Parabéns a você (1996): Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72) - Residente na Guiné-Bissau

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22664: Historiografia da presença portuguesa em África (287): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (2): "A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné", por Maria Luísa Esteves; edição conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Lisboa, 1988 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2021:

Queridos amigos,
Este livro de Maria Luísa Esteves devia ser cuidadosamente lido por quem procura esclarecimento sobre as permanentes rebeliões no Casamansa, onde há um movimento independentista que recusa viver dependente do Senegal, é uma história que envolve a definição de uma fronteira que separou etnias, maltratou uma coesão territorial que perdurava há séculos. A autora disseca com imenso cuidado toda a questão do comércio do Casamansa e a nossa presença em Ziguinchor, relativa indiferença com que o governo de Cabo Verde e sobretudo em Lisboa apreciavam a crescente influência francesa no rio, passou a ser determinante na estratégia da presença francesa na África Ocidental. Seguiu-se um quebra-cabeças da delimitação das fronteiras e é bom que o leitor olhe para as duas cartas que acompanham este texto e atenda ao pormenores com que a autora vai tratando as sucessivas missões, as trocas de terreno e as sucessivas pressões da França para ganhar mais espaço. Os historiadores da Guiné-Bissau também devem estar atentos ao zelo e à dignidade que diferentes delegados portugueses manifestaram em manter fronteiras que separassem ao mínimo populações que viviam em comunidade há séculos. Mas a saga continua, aguardem novas surpresas.

Um abraço do
Mário



A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (2)

Mário Beja Santos


A definição de fronteiras da colónia da Guiné, as sucessivas operações de delimitação ocupam um relevo muito significativo no importante trabalho de Maria Luísa Esteves intitulado A Questão do Casamansa e a Delimitação das Fronteiras da Guiné, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1988. 

A autora colheu corretamente uma grande angular que permite ir aos bastidores da importância que atribui ao rio Casamansa como espaço de influência portuguesa, dá-nos conta da gradual infiltração da presença francesa e como ao longo do século XIX se foram amontoando conflitos, nunca se descurando o papel de Honório Pereira Barreto comprando e contratualizando o território. Numa posição de grande fragilidade, e numa expetativa política de obter apoio francês nas nossas pretensões na África Austral, assinou-se a Convenção de 12 de Maio de 1886, desistindo os negociadores portugueses de todos os direitos sobre o Casamansa, em troca da região de Cacine, a fronteira a Sul tirava-nos a presença no rio Nuno e a França desistia a nosso favor, no Zaire, do território de Massabi.

A investigadora releva exaustivamente o acervo das negociações, e assim chegamos ao texto da Convenção e ao importantíssimo Artigo 1.º:

Na Guiné, a fronteira que há de separar as possessões portuguesas das possessões francesas seguirá conforme o traçado indicado na carta que se mostra neste artigo: ao Norte, uma linha que, partindo do Cabo Roxo, se conservará, tanto quanto possível, seguindo as indicações do terreno, a igual distância dos rios de Casamansa e de S. Domingos de Cacheu até à interceção do meridiano de 17º e 30’ de longitude Este com o paralelo de 12º40’ de latitude Norte. Entre este ponto e o meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris a fronteira confundir-se-á com o paralelo de 12º40’ de latitude Norte. A Leste, a fronteira seguirá o meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris, desde o paralelo de 12º40’ de latitude Norte até ao paralelo de 11º40’ de latitude Norte. Ao Sul, a fronteira seguirá uma linha que partirá da foz do rio Cajet, situado entre a ilha Catack (que ficará para Portugal) e a ilha Tristão (que ficará para a França) e, conservando-se tanto quanto possível, segundo as indicações do terreno, a igual distância do rio Componi e do rio Cassini, depois do braço setentrional do rio Componi e do braço meridional do rio Cassini a princípio, e do rio Grande por fim, virá terminar no ponto de interseção do meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris ou paralelo de 11º40’ de latitude Norte. Ficarão pertencendo a Portugal todas as ilhas compreendidas entre o meridiano do Cabo Roxo, a costa, e um limite meridional formado por uma linha que seguirá o talvegue do rio Cajet e se dirigirá depois para Sudoeste, seguindo o canal dos pilotos até atingir o paralelo de 10º40’ de latitude Norte com o qual se confundirá até ao meridiano do Cabo Roxo”. Outros dados relevantes do texto da Convenção era o reconhecimento que Portugal fazia do protetorado da França sobre os territórios do Futa-Djalon. 

Do Artigo 4º constava a promessa de o governo francês reconhecer a Portugal o direito de exercer a sua influência soberana e civilizadora nos territórios que separam as possessões portuguesas de Angola e Moçambique, sob reserva dos direitos anteriormente requeridos por outras potências".

E começou assim a saga da determinação das fronteiras da Guiné. Primeiro, a missão de 1888. Na fronteira Sul não se levantaram problemas de maior na execução do acordo. Houve resistência em abandonar a praça de Ziguinchor, os residentes retardaram até 22 de abril de 1988. E surgiram divergências no traçado da fronteira Norte, a delegação francesa insistia que, sendo o Casamansa agora um rio francês, deveriam pertencer à França todos os territórios por ele banhados e propunha-se a substituição do Cabo Roxo por Ponta Varela como ponto de partida da linha de fronteira. A delegação portuguesa recusou, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Português, Hintze Ribeiro, não cedeu, entretanto os conflitos nas zonas fronteiriças faziam sentir que era indispensável encontrar uma solução. 

E eram conflitos que obrigaram a intervenção militar: o régulo de Firdu, no Casamansa, Mussá Maló, súbdito francês, invadiu territórios pertencentes ao distrito de Geba, ameaçou outros pontos como Farim. Em março de 1893, de novo Mussá Maló transpôs a fronteira portuguesa e pretendia atacar Geba. As populações viviam numa permanente agitação, até porque andava um oficial francês que dizia ter recebido instruções do governo do Senegal para levantar plantas nas circunscrições de Farim e Geba. 

Era inadiável concluir a delimitação, procurar reconciliar os régulos desavindos e acabar com os desentendimentos entre Mussá Maló e os comandantes de Geba e Farim. Mas surgiram igualmente problemas na Fronteira Sul, na região de Cacine, houvera um conflito em Catak, território português por se encontrar ao norte da Ponta Cagete. Havia cenas lamentáveis de arrear e hastear a bandeira francesa, igualmente o comandante francês de Kantiafara atravessara a fronteira e ameaçara alguns chefes dizendo que aqueles territórios pertenciam à França.

E assim se chegou à missão de 1900. Os obstáculos estavam detetados, fundamentalmente a Norte. Mas sabia-se também que os franceses pretendiam estabelecer um posto militar no Componi. Aceitava-se a pretensão francesa de mudar a fronteira do Cabo Roxo para o Cabo Varela. Informava-se França de que estavam a ser colocados marcos na fronteira Sul. Como aumentavam as dificuldades por parte dos franceses e a missão portuguesa não tinha diretrizes nem poderes para tomar decisões, suspenderam-se as operações de delimitação. O governo francês apresenta uma proposta surpreendente: dar autorização aos delegados para fazerem cedências recíprocas do território que seriam depois sancionadas ou não pelos governos respetivos. 

Passa-se para a missão de 1901, demarca-se a fronteira sul e sudoeste, os ministros do Ultramar e dos Negócios Estrangeiros concordam que se dê validade à demarcação da parte Sul e Sudoeste da fronteira da Guiné. Estamos já numa outra missão, que decorreu de 1902 a 1903, os franceses levantavam dificuldade ao traçado na região Leste, procurava-se negociar um sistema de compensações territoriais recíprocas. E chega-se à aprovação das fronteiras Leste e Sul. 

Tudo vai continuar na missão de 1904 e vale a pena aqui registar uma nota curiosa, Oliveira Muzanty (será mais tarde governador da Guiné) chega a Lisboa e elogia o procedimento do régulo de Gabú, fora muito atencioso com a comissão portuguesa, propõe que se cimente a amizade com o povo do Gabú e o diretor-geral do Ultramar aprova um presente constituído por um conjunto de artigos onde não faltava um talim de seda e ouro, uma espada antiga, uma caixa de guerra e baquetas, seis caixas de vinho espumoso, lenços de cor e de seda e até cobertores de algodão e de lã. O objetivo principal desta missão era a demarcação da fronteira entre o rio Cacheu e o Casamansa. Nesta fase dos trabalhos, ambas as missões concluem haver hostilidade das povoações Balantas da região do Casamansa e Cacheu, era preciso levar tropa. Sucede que o chefe Balanta não levantou qualquer obstáculo às missões e o chefe Balanta veio pedir a bandeira portuguesa que foi entregue durante uma cerimónia que causou admiração aos franceses.

Vamos ver seguidamente a missão de 1904 a 1905.

(continua)

Carta da delimitação franco-portuguesa da Guiné, 1886, por E. Desbuissons, Paris
Carta da Colónia da Guiné, 1933
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22647: Historiografia da presença portuguesa em África (286): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (1): "A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné", por Maria Luísa Esteves; edição conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Lisboa, 1988 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22663: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - XI (e última) Parte: Leiria, 27/1/1970: "Faz hoje exactamente três anos que cheguei da guerra e o relógio psíquico interior acusou a efeméride e quis condignamente celebrá-la".


LIsboa > Benfica > Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella  > 27 de novembro de 2008 > O Cristóvão de Aguiar,  à esquerda, na  na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado (2008). Foto:  cortesia de Alberto Branquinho (2008)



Capa do romance "Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial, 2ª ed Editora: Dom Quixote, Lisboa Colecção: Autores de Língua Portuguesa Ano de edição: 2008- Preço com IVA: 12,00 €

 
1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra", do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada dia 5, aos 81 anos (*).  

Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote (,a partir da parte VI, Carlos Vinhal).

Estes excertos, que o autor selecionou e cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue, fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (**). São onze ao todo os postes publicados no blogue, este será o último. 



Cristóvão de Aguiar.
Foto: Wook (com a devida vénia...)



Diário de Guerra

por Cristóvão de Aguiar


Coimbra, 18 de Maio de 1968

Não merecia tanto. Há mais de um ano que regressei da guerra e não há maneira de me sentir inteiro. Ando por aí, caindo aos bocados, vomitando pelas ruas, agarrado às grades de ferro de certos muros, cheio de pânico no futuro, que o presente, estou-o desperdiçando, por isso me agarro doentiamente ao passado, que bem sei que nunca foi um paraíso e a prova visível sou eu próprio. 

As dores de cabeça são por vezes terríveis e prolongam-se por mais de um dia. Dizem-me os médicos que tenho de ajudar-me, caso contrário a vida deixa de me ter sentido. Já deixou. Pelo menos em certas ocasiões, que se estão multiplicando e tornando cada vez mais frequentes. 

Tenho feito exames e passado com classificações muito razoáveis, até fiz mais do que eu próprio esperava, talvez por pressentir que ninguém acreditava nas minhas possibilidades. Faltam-me apenas quatro cadeiras, três das quais de envergadura, para concluir o plano de estudos do meu curso. Por este andar ainda me formo em menos de um ano. Bem entendido que pago alto preço por cada disciplina que arrecado. Sempre que faço um exame, fico uns dias acrescentados de cama, desfalecido, pele e osso, o cérebro vazio, tentando reconstruir-me para enfrentar outro [...].

Tomar, 17 de Dezembro de 1968

Vim esperar meu irmão Artur. Chegou hoje de Moçambique. Quando me abraçou, disse-me à queima-roupa que eu parecia um esqueleto ambulante. Respondi-lhe que era do estudo intenso a que me tinha submetido, já que me estava preparando para concluir o curso dentro de pouco tempo. Menti-lhe. Nunca o meu estudo teve uma intensidade por aí além. E nunca a teve, não porque não desejasse, mas porque nunca tive tempo. O que me sobra, depois das preocupações que tenho comigo, pouco ou nada representa. 

De oficial de dia ao Regimento de Infantaria 15 estava o capitão da minha Companhia da Guiné, o que não veio connosco por ainda lhe faltar algum tempo para terminar a comissão de serviço. Enquanto meu irmão foi tratar da sua desmobilização, fui para o gabinete do oficial de dia, onde também eu já estivera algumas vezes de serviço, conversar um pouco com o velho capitão. Parecia que estávamos os dois na tropa. Quando o cabo de transmissões lhe veio trazer uma mensagem confidencial vinda do QG, leu e depois passou-ma, para que a lesse também. Tal qual como na Guiné. 

Valeu meu irmão, já desmobilizado, ter vindo buscar-me, caso contrário ainda me metia de novo na pele de alferes. Magreza quase igual à que trazia quando desembarquei, tenho-a também agora. De forma que só me faltava a farda. Meu irmão vem tão ansioso por embarcar para a América que me disse que vai já começar quanto antes a tratar dos papéis.

Gerês, 21 de Julho de 1969

Vim para as termas em cata de alívio. Perguntei ao Louzã Henriques se fazia bem em vir. Disse-me que sim, que mal não me faria. Vai sempre ao meu jeito e não sei se isso me faz bem. Estou aqui há mais de uma semana. Saiu o Doutor Quintela e vim eu para o seu lugar. Ficou combinado em Coimbra. Ele costuma dizer que vem limpar a isca. Não me queixo do fígado, mas a função que exerce está alterada. Deve ser dos nervos. 

Estou todo alterado. Enquanto aqui esteve o Doutor Paulo Quintela, enviei-lhe todos os comunicados da crise académica produzidos durante a sua ausência. Sem remetente, que nunca se sabe. Rebentou em 17 de Abril, dia em que se inaugurou o edifício das Matemáticas. Houve greve geral aos exames, que foi um êxito, o que abalou o regime primaveril de Marcelo. 

Cumpro à risca a dieta prescrita. Bebo as águas com fé, como a comida sem sal, tomo banho de agulheta. Ao princípio tomava apenas um. Dois dias mais tarde, queixei-me ao médico de que não dormia. Receitou-me mais um banho de agulheta, à tarde. Um de manhã e outro ao fim da tarde. De tal maneira me desceu a tensão arterial, que ando aos tombos e nem sequer consigo ler.

 O resto do tempo, que é quase todo, ouço as asneiras dos africanistas em férias. Vieram tratar da figadeira e encontram-se aqui na Pensão da Ponte. E entro em ebulição, porque não posso ficar calado. Suspiram por Salazar e ainda têm esperança num milagre que o reponha no poder. Quem há meses lhe sucedeu na Presidência do Conselho é ainda demasiado liberal para tal gente habituada a lidar com pretos, como se fossem animais de estimação. Bem lhes conheço a crónica. 

Mas hoje houve tréguas. O homem poisou na Lua. Vi tudo pela televisão com o coração nas mãos. E à noite fui passear para a ver com outros olhos boiando no mar do céu .

Leiria, 27 de Janeiro de 1970

Fui hoje a mais um consultório médico. Já tenho percorrido vários. O costume. Sou um doente crónico. Tenho bem a quem sair, isto é, a mim mesmo ou ao outro que coabita em mim. Mas, hoje, sentia-me terrivelmente angustiado. Tinha comprado ontem um livro intitulado Viva sem Medo. Li-o de uma assentada, mas fiquei na mesma ou com mais medo ainda. 

E há pouco resolvi ir a um médico para ver como se comportava comigo. Escolhi-o pela tabuleta. E gostei. Fez-me perguntas e mais perguntas sobre o meu passado. Até que eu próprio cheguei à raiz e à razão da minha redobrada angústia neste dia sentida - faz hoje exactamente três anos que cheguei da guerra e o relógio psíquico interior acusou a efeméride e quis condignamente celebrá-la.


[ Revisão / fixação de textos / imagem e legenda / links / notas entre parêntesis rectos / subtítulo, paar efeitos de publicação deste poste: LG ]
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Postes anteriores:

22 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22651: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte IX: Bissau e Contuboel. Consulta de psiquiatria. Poema "O Menino de Sua Mãe". Nascimento do primeiro filho. Exame em Bafatá de militares sem a instrução primária. Sedução da senhora professora, cabo-verdiana... (Set - dez 1966)

20 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22646: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VIII: Contuboel , Fajonquito e Sonaco. Gravidez da Otília (Jan - ago 1966)

16 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22634: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VII: Contuboel e Dunane (entre Piche e Canquelifá) (Out - dez 1965)

14 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22628: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VI: Contuboel (mai-set 1965), com gozo licença de férias nos Açores (de 24/8 a 25/9/1965) onde se foi casar...

13 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22626: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte V: Do Tejo ao Geba (17 de Abril de 1965/25 de Maio de 1965)

10 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22617: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte IV: Mafra e Tomar (Julho 1964/Abril 1965)

9 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22612: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte III: Mafra, maio-junho de 1964

8 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22611: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte II: Mafra, fevereiro-março de 1964

8 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22609: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte I: Mafra, janeiro de 1964

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22662: Fichas de unidades (21): CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama, Contuboel, Cuntima, Farim, Binta, Jumbembem, Canjambari, Saliquinhedim / K3, 1969/71)



Companhia de Caçadores nº  2592

Identificação: CCaç 2592

Unidade Mob: RI 16 - Évora

Crndt: Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira

Divisa: -

Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 30Mai69 | Extinção em 18Jan70

Síntese da Actividade Operacional

A subunidade foi constituída com quadros e especialistas metropolitanos e enquadrou pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, tendo efectuado a 2ª fase da instrução de formação no CIM, em Bolama [e em Contuboel, o pelotão de mandingas] e sido seguidamente utilizada em patrulhamentos, reconhecimentos e contactos com as populações da região.

Em 6Nov69, foi colocada em Cuntima [região do Oio, sector de Farim], a fim de substituir a CCaç 2529 como força de intervenção e reserva do BCaç 2879, tendo sido empregada em várias acções, patrulhamentos e emboscadas na linha de infiltração de Sitató.

Em 18Jan70, a subunidade passou a designar-se CCaç 14, sendo considerada subunidade da guarnição normal a partir daquela data.

Observações - Não tem História da Unidade.


Companhia de Caçadores nº 14


Identificação: CCaç 14

Cmdts: 

Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira | Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias | Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier | Cap Inf José Clementino Pais | Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues | Cap Inf Vítor da Silva e Sousa | Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos |  Cap Art Vítor Manuel Barata

Início: 18Jan70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2592) | Extinção: 2Set74


Síntese da Actividade Operacional

Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando quadros e especialistas metropolitanos, e pessoal da Guiné, das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, que constituíam anteriormente a CCaç 2592.

Continuou instalada em Cuntima, nas funções de subunidade de intervenção e reserva do sector de Farim, com vista à actuação prioritária sobre a linha de infiltração de Sitató.

Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331. 

Rendeu, na função de intervenção e reserva do sector, a CCaç 2533, com vista a realizar acções de contrapenetração no corredor de  Lamel. 

Destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente de Binta, de 25Abr71 a 12Jun71, Jumbembém e Canjambari.

A partir de 10Fev73, mantendo no entanto a sede em Farim e continuando orientada para a sua anterior missão assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, para onde deslocou um pelotão.

Em 2Set74, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade a partir de Jan72 (Caixa n." 117 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 382 e 634
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Nota do editor: 

Último poste da série > 7 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22607: Fichas de unidades (20): Batalhão de Comandos da Guiné (Brá, 1972/74), incluindo 1ª CCmdsAfr (1969/74), 2ª CCmdsAfr (1971/74) e 3ª CCmds (1972/74)