Lourinhã > Praia da Areia Branca > 26 e 27 de outubro de 2021 > O põr do sol, um espetáculo, por enquanto gratuito, para quem tem o privilégio de viver à beira-mar ou perto do mar...Um espetáculo que eu não dispenso, sempre que posso, desde há muitos anos... Afinal, nasci a ouvir o mar...mas raramente me podia permitir, quando criança, o luxo de dizer "até amanhã, meu irmão sol"... Entre mim e o sol, a pôr-se no mar do Cerro dos meus antepassados, havia os cabeços e os monhos de vento...
De rio em rio se alcança a foz
vais na torrente,
p’ra naufragar, no oceano, largo e profundo,
… ou p’ra encalhar,
De estrela em estrela navegas por toda a parte,
à boleia dos sonhos que te venderam,
alguém por certo com engenho e arte,
mas a preço de saldo.
Do planeta ao planetário vai um salto,
há apenas uma fina tela, a separar-te
do desastre humanitário.
Na deriva da vida segues em contramão,
como um cavalo com o freio nos dentes,
fora da estrada,
Daqui para a frente,
vais pouco confiante e nada crente,
como no carrossel
já não é caminhada,
pela picada armadilhada,
Preferes nada saber de astrofísica,
muito menos de metafísica,
seria bom saberes um pouco mais
de economia do risco.
Porque um dia,
no fim da viagem
quando o teu planeta azul perder
ou a simples licença de habitação.
Um dia, faça chuva ou faça sol,
desalojado do teu frágil habitáculo,
como a lagosta ou o caracol.
Quem te prometeu um tabernáculo,
ergonomicamente correto,
nada sabia de ergonomia,
e muito menos era arquiteto.
Afinal, não passas de um animal terráqueo,
numa casa que não é tua,
e, na melhor das hipóteses,
Alguém te há de lembrar
que não passas de um simples hóspede,
e que o hóspede e o peixe ao fim de três dias… fedem,
como assegura o anexim popular.
Na tua aldeia global,
tocará, a finados, o sino.
alguém teu conhecido fará questão de dizer,
uma última oração
“Pode não ter sido um grande poeta,
mas foi, dizem,
um bom amigo,
Dobrará o sino
p'los teus sonhos... de menino.
Lisboa, março de 2015,