terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24008: Blogues da nossa blogosfera (174): Cerca de metade dos nossos "favoritos" de há uns anos atrás (Letras de E a I) já não existem ou mudaram de URL


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [pertencente ao BCAÇ 3872,]  no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o alf  mil Luís Dias, atrás o fur mil Baptista,  do 1º Gr Comb,  e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha das NT  na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha" e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71". 

(Foto do Luís Dias, reproduzida com a devida vénia, do seu blogue, Histórias da Guiné, 71-74:  A CCAÇ 3491, Dulombi,. um dos blogues da nossa blogosfera que tem resistido à erosão do tempo...)

Foto (e legenda): © Luís Dias (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1
. Continuamo a rever a nossa  lista (já antiga e nunca atualizada) dos  cento e poucos blogues e outras páginas na Net (c. 110) que faziam parte da nossa blogosfera... e que constavam / constam da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo. 

Na altura, há mais de uma dúzia de anos, os antigos combatentes ainda não tinham desconbertas as "delícias" do Facebook... Hoje os blogues e outras "web pages" caíram em desuso... E outras redes sociais, como o Facebok,  ganharam popularidade... (Como diz a "publicidade", é fácil, é barato, é bom para desopilar, mandar umas "bocas foleiras" e fazer muitos "amigos virtuais" ... e sobretudo dá milhões aos seus donos.)

Hoje fizemos a verificação, desses blogue e páginas, de D a I (n=30). Metade desses sítios  já não existem, foram descontinuados, mudaram de URL... É o preço que se paga por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores (alguns que já não existem, como o Clix, o Sapo, o Terràvista...O Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do Sapo, por exemplo,  foi descontinuado em dezembro de 2012.)

Os blogues e outras páginas que deixaram de estar "on line" vêm assinalados, em baixo, com um asterico (*). Nalguns casos têm novos endereços. Alguns destes "sítios" (ou "web pages")  poderão ser recuperados através do Arquivo.pt (**) (Experimentar também o Internet Archive, que explora cerca de 800 mil milhões de sítios na Web, através da sua "web archive",
a Wayback Machine.)


Embaixada da República da Guiné-Bissau em Portugal (*)



Um dos mais antigos (e participados) blogues sobre a Guiné e a guerra colonial. Remonta a 2007. Foi criado por Henrique Cabral, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1420 / BCAÇ 1857, Fulacunda, Mansoa, Braia, Encheia, Uaque, Jugudul, Bissorã, K10, Olossato, Cutia, K3 e Mansabál (1965/67)


Criado em junho de 2007 pelo nosso saudoso camarada (e membro da Tabanca Grande) Victor Barata. Continua ativo, mas irregular, tendo agira ao comando o João Carlos Silva e o Mário Aguiar.


Expresso África > Guiné Bissau  (*)

Página descontinuada. Criada elo semanário Expresso. Estava alojada no Portal Clix, que foi desligado.


Fórum Armada, Página não-oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (*)

Página descontinuada, por estar alojada no Sapo. Pode ser vista aqui, capturada pelo Arquivo.pt:



Agora Fundação Mário Soares e Maria Barroso  > https://fmsoaresbarroso.pt/

Vd. também Casa Comum > Arquivos > Amílcar Cabral


  • Guerra Colonial - Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra (UC)

"Criado no âmbito da Reitoria da Universidade de Coimbra em Dezembro de 1984, o Centro de Documentação 25 de Abril (cd25a) é hoje uma das Unidades de Extensão Cultural e de Apoio à Formação (UECAFs) da UC. 

"Instalado no Colégio da Graça na Rua da Sofia, desde julho de 2016, visa recuperar, organizar e pôr à disposição da investigação científica o valioso material documental disperso pelo país e estrangeiro sobre a transição democrática portuguesa (o 25 de Abril de 1974, os acontecimentos preparatórios e as suas principais consequências), mas também sobre toda a segunda metade do século vinte português."


Vd. novo endereço: https://www.cd25a.uc.pt/pt

  • Guerra Colonial (1961-1974) - Vídeos e Documentários RTP



Destaque para as "coleções temáticas": História

25 de Abril de 1974 (88 documentos)

"Para solicitar cópia de um determinado conteúdo basta registar-se como utilizador e pressionar o botão LICENCIAR CONTEÚDO disponível na pagina de cada conteúdo, ou, caso o conteúdo que pretenda não esteja ainda disponível neste portal, aceder à área de Serviços e preencher e enviar o formulário de pedido de licenciamento."


Guerra Colonial (1961-1974), Portal da A25A (*)

Portal descontinuado. Ver captura pelo Arquivo.pt:


Guerra Colonial Portuguesa, Página de Jorge Santos (*)

Uma das mais antigas (http://guerracolonial.home.sapo.pt/). Estava alojada no Sapo (acrónimo de Servidor de Apontadores Portugueses Online). Foi descontinuada. Não parece ter sido recuperada pelo Arquivo.pt

Jorge Santos, um incansável mas sempre discreto membro, sénior, da nossa Tabanca Grande, já de longa data.  Não temos nenhuma foto dele, nem antiga nem actual. Foi 1º Grumete Fuzileiro (DFA), Companhia de Fuzileiros nº 4, em Moçambique, Metangula e Cobué, de janeiro de 1968 a abril de 1970.

Criou, em março de 2006, o sítio "Guerra Colonial Portuguesa", tendo como principais secções: Bibliografia, Filmografia, Associações, Canções de Lisboa, Memorial, Monumentos, Convívios, Brasões, Condercorações.  Teve um problema de saúde em 2009 quando estava na Noruega.

  • Guerra Colonial, Vídeos no Google

 Procurar agora em Google > Guerra Colonial > Vídeos. Muitas disponíveis no You Tube.

Oficialmente chama-se "Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar"... Abrange todas as "antigas províncias ultramarinas portuguesas",  Angola, Guiné, Moçambique, Cabo Verde, Índia, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor, 1957-1975. 

O fundador do portal UTW é o nosso camarada António Pires, ex-furriel mil mecânico auto da CSM/QG/RMM (Moçambique 1971/1973). Tem uma impressionante base de dados, sobretudo no que respeita a mortos no ultramar (de 1954 a 1975) (discriminados por concelho de naturalidade), louvores e condecorações, brasões, guiões e crachás (coleção Carlos Coutinho)...

Também tem página no Facebook (UTW Ultramar Terraweb).



Guerra na Guiné 63/74 - Página de Carlos Silva (*)

Outra página de um camarada nosso. Foi descontinuada. Não nos foi possível recuperá-la pelo Arquivo.pt


Guiledje (1 a 7 de Março de 2008), Simpósio Internacional de (*)

Pàgina descontinuada. Criada pela ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, o principal promotor do evento,


"O Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO foi fundado por Fernando Casimiro “'Didinho' a 10 de Maio de 2003. É um Projecto que visa incutir e desenvolver o espírito e a capacidade de reflexão e do debate de ideias na Guiné-Bissau e nos guineenses, onde quer que se encontrem.

"O Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO é um Projecto de Gerações, para gerações!"
 
Guiné-Bissau, Página da AD - Acção para o Desenvolvimento (*)

Criada em 2006, esteve ativa em vida do Pepito, cofundador e primeiro diretor executivo da ONGD AD... Fomos recuperá-la através do Arquivo.pt


Literatura, fauna, ecologia, gastronomia... Uma página criada e mantida com muito carinho pela guineense Maria Estela Guedes.


Guiné-Bissau, Portal de Carlos Fortunato (*)


"Guiné-Bissau: centenas de fotografias, filmes, e textos, sobre história, cultura, economia e viagens Guiné-Bissau onde a amizade tem mais calor humano". O Carlos Fortunato é um dos históricos do nosso blogue.

Criado em 2003, já não existe. Estava alojado no Sapo- Fomos recuperá-lo através do Arquivo.pt...

https://arquivo.pt/wayback/20080218143829/http://portalguine.com.sapo.pt/index.html


Guiné-Bissau, Vídeos no Google (*)

Jà não existe... Mas em alternativa pode-se pesquisar no  Google > Guiné-Bissau Videos... Há dezenas no You Tube

Guine-Bissau. com, Portal noticioso (*)

Foi desativado.

Guiné: Ir e Voltar - Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Cascais (*)

O Virgínio Briote  teve um dos melhores blogues sobre a guerra da Guiné,  que infelizmente decidiu desativar. Chamava-se "Guiné, Ir e Voltar" ou "Tantas Vidas":  http://tantasvidas.blog.pt/

Publicou postes entre janeiro de 2006 e março de 2009. Textos de antologia que mereciam conhecer o prelo. Depois achou que tinha dito tudo... Fechou o blogue (e o baú).

Mas o Arquivo.pt que anda há muito, desde 1996, à caça de páginas na Web, de preferência em português, não lhe pediu licença e foi-lhe fazendo sucesssivas capturas de páginas do seu blogue... 

Só há dias é que ele, Vb,  soube, porque eu lho disse. A última captura foi em 24 de maio de 2009, às 21h54... Veja-se aqui o endereço:

https://arquivo.pt/wayback/20090925034743/http://tantasvidas.blog.pt/



"Background: Since independence from Portugal in 1974, Guinea-Bissau has experienced considerable political and military upheaval. Guinea-Bissau’s history of political instability, a civil war, and several coups (the latest in 2012) have resulted in a fragile state with a weak economy, high unemployment, rampant corruption, and widespread poverty."


"Espaço de confraternização para todos aqueles que, como combatentes, tiveram de percorrer as matas, as bolanhas, as picadas e os rios da Guiné, entre Dezembro de 1971 a Março de 1974, em especial invocar aqui a história e as "estórias" dos elementos da C.CAÇ 3491, aquartelados em Dulombi e também em Galomaro, e que tiveram grupos de combate em apoio de Cancolim, Piche, Nova Lamego, Bambadinca e Pirada. Fomos dos últimos combatentes do denominado 'Império Português - o V Império'."

Blogue criado, editado e mantido por Luís Dias (desde 2008).

"Criado em 1951 como instituição privada de utilidade pública, o IMVF é uma Fundação para o desenvolvimento e a cooperação, tendo iniciado atividade como ONGD em 1988 em São Tomé e Príncipe. 

"A partir dos anos 90 expandimos a nossa ação a outros países, com predominância aos de língua oficial portuguesa, e alargámos as áreas de atividade. Os resultados alcançados tornaram o IMVF numa entidade de referência nos domínios da cooperação, da cidadania global e da reflexão sobre o desenvolvimento".



Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)...

As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo cap cav José Sentieiro, hoje cor cav ref e cruz de guerra de 1ª classe (, a viver em Torres Novas,) caem num emboscada do PAIGC, às 7h15 da manhã... O combate é registado por uma equipa da televisão francesa, a ORTF...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote 


Tem cerca de 3 dezenas de vídeos sobre a Guiné-Bissau, incluindo a guerra colonial.

  • INE - Instituto Nacional de Estatísticas, Bissau (*)


"Fundado em 1984, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) tem como objectivos principais promover os estudos e pesquisas no domínio das ciências sociais e naturais relacionados com os problemas de desenvolvimento do país e contribuir para a valorização dos recursos humanos locais. 

"A actividade principal do INEP consiste na realização de investigação fundamental e na elaboração de estudos, sendo constituído por um corpo de investigadores nacionais permanentes e uma rede de investigadores associados nacionais e estrangeiros. Leva igualmente a cabo actividades académicas que incluem conferências, colóquios, seminários, jornadas de reflexão, que visam a difusão dos resultados das investigações científicas e o desenvolvimento do próprio Instituto. 

"Em poucos anos o INEP tornou-se um ponto de referência nacional e internacional de reflexão científica sobre a África Ocidental em geral e a Guiné-Bissau em particular. Dezenas de trabalhos sobre a realidade social guineense, uma centena de artigos e publicações periódicas permanentes confirmam a validade desde Instituto."

O INEP mantém em suas instalações a Biblioteca Pública Nacional, com cerca de 70.000 volumes e os Arquivos Históricos Nacionais da República da Guiné-Bissau, depositários de toda a documentação colonial e pós-colonial  O edifício foi praticamente destruído no decurso da guerra civil de 1998/99.

Tem página no Facebook mas inativa desde junho de 2017.
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Notas do editor:

(*) 14 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23982: Blogues da nossa blogosfera (171): Cerca de metade dos nossos "favoritos" de há uns anos atrás já não existem ou mudaram de URL

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24007: Notas de leitura (1546): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Maio de 2020:

Queridos amigos,
A. R. Disney é um investigador que tem dedicado bastante atenção ao império português, e merece muito crédito. Obra em dois volumes. No primeiro concentra-se na Pré-História em Portugal até à formação da nacionalidade, temos depois a construção de Portugal de Avis, o período áureo dos Descobrimentos e como eles se repercutiram na literatura e nas Artes, depois o declínio será contemporâneo do Portugal dos Habsburgo, virá a Restauração, indo por aí fora até ao final do Antigo Regime. A organização do segundo volume será diferente, pois será dedicada só ao Império Português, e é no envolvimento na África Atlântica que ele se vai focalizar na Alta Guiné, uma designação puramente arbitrária, para contrastar com a Baixa Guiné, geograficamente situada no Golfo da Guiné. Dir-se-á que não traz elementos inovadores, mas no mínimo saúda-se o trabalho sério, todo ele pautado pelo rigor e objetividade.

Um abraço do
Mário



A Guiné no Império Português, segundo A. R. Disney (1)

Mário Beja Santos

Considerado pela crítica uma investigação de gabarito pela originalidade da estrutura e pelo inventário bibliográfico e documental, como este académico observa no prefácio do segundo volume, que aqui cabe fazer referência, está organizado de forma um pouco diferente do primeiro. Na obra de arranque, A. R. Disney centra-se na pré-História de Portugal, prossegue pela Idade Média, a construção do Portugal de Avis, o que ele designa por a Idade de Ouro, a época de declínio, a Restauração e a Reconstrução, o esplendor barroco, a era do Marquês de Pombal, o final do Antigo Regime. Neste segundo volume é toda a evolução do Império, desde as praças do Norte de África até o Império do Oriente na era colonial tardia é matéria de análise – História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney, Guerra e Paz Editores, 2011.

E é no capítulo referente ao envolvimento na África Atlântica que começa a narrativa que se acomoda à contextualização da primeira fase da presença portuguesa do que o autor designa por Alta Guiné. Começa por observar que a chegada dos portugueses entre as décadas de 1940 e 1950 encontraram muita hostilidade nas populações autóctones. Segue-se o arrendamento do comércio da região a Fernão Gomes, D. João II pretendia que se erguessem estabelecimentos permanentes em terra, tentou persuadir-se os senhores africanos locais a reconhecer a soberania portuguesa. Em 1485, D. João II adotou o sonante título de “senhor da Guiné”, mais uma pretensão do que uma realidade, como ele anota, nem Portugal nem qualquer outra potência europeia exerceu um domínio político genuíno sobre um qualquer segmento significativo da África Ocidental na era pré-moderna. D. Manuel I tinha outros planos, estava concentrado em Marrocos e nas vias de acesso ao Índico. Mas ainda no reinado de D. João II houve uma aproximação diplomática junto de um chefe no reino Jalofo, um estado a sul do rio Senegal, os portugueses chamavam-lhe D. João de Benoin, tudo acabou mal, e continuou-se a prática de arrendamento dos monopólios do comércio nesta região da África Ocidental. No início do século XVI havia quatro contratos: para a região do Senegal, para a Gâmbia, para os Rios da Guiné (correspondente aproximadamente ao território da colónia e do país independente) e para a costa da Serra Leoa.

No final do século XV, para além dos mercadores que vinham de Cabo Verde, havia também vários portugueses e mestiços que se tinham estabelecido de forma permanente, a Coroa começou por os tolerar e depois perseguir, em vão, estes colonos informais e seus descendentes afro-portugueses espalharam-se e enraizaram-se cada vez mais. Havia de tudo, degredados, pessoas condenadas ao exílio, gente perseguida por diversos tipos de ofensas. Terá havido gente de origem social variada: oficiais-régios, marinheiros, aventureiros, forros e até escravos. Serão conhecidos como lançados (rejeitados), muitos seriam de origem cabo-verdiana.

Gravitavam em torno dos rios e estuários, agrupavam-se em pontos de acesso às redes comerciais. A maior parte destes lançados tornou-se o híbrido cultural, falavam um crioulo amplamente utilizado como língua de comércio na África Ocidental, alguns lançados cafrealizavam-se e passavam a ser designados por Tangomãos. Os comerciantes lançados e afro-portugueses viajavam centenas de quilómetros ao longo dos rios e pelas suas margens, na Alta Guiné. Conheciam o país e as pessoas melhor do que os visitantes europeus, por essa razão acabaram por se constituir os intermediários habituais no comércio europeu com a África Ocidental. Entre os mais bem-sucedidos consta o nome de uma mulher, Bibiana Vaz de Cacheu, no final do século XVII. Estes lançados não estavam diretamente envolvidos na agricultura.

O autor invoca vários historiadores que notaram que a África atlântica anterior ao século XIX não necessitava de importações europeias, o que escolhiam comprar aos portugueses eram produtos de luxo e de prestígio, como têxteis, peças ornamentais e álcool. O ferro era relativamente escasso nas regiões costeiras; por isso também gostavam de utensílios e ferramentas de metal barato. Mais tarde, no século XVIII queriam armas de fogo, pólvora e acima de tudo o tabaco preparado na baía, o fumo (tabaco baiano de fraca qualidade tratado com melaço). Aqui cabe talvez fazer uma observação, não só os historiadores portugueses referem que nesta economia de troca os cavalos tinham um grande peso, aliás há rol de comércio negreiro em que o termo de troca era o cavalo por determinado número de escravos.

Mais adiante o autor que na Alta Guiné os portugueses, para além de procurarem escravos e ouro, compravam marfim, cera, malaguetas e muitos outros produtos. Os escravos eram fornecidos pelas autoridades africanas bem como pelos comerciantes africanos. Cada área tinha os seus fornecedores conhecidos e mais ou menos fiáveis. Por exemplo, na Serra Leão, por meados do século XVI, eram principalmente os Mani-sumbas que abasteciam os portugueses de cativos sapis ou de outros povos costeiros. Nos Rios da Guiné e na Gâmbia, os escravos eram trazidos dos povos Mandinka e Cassanga. Outra fonte eram os Bijagós, do arquipélago do mesmo nome, que, a partir de finais do século XVI, ofereciam regularmente aos portugueses escravos que tinham adquirido entre os Beafadas e os Papel das zonas mais próximas do continente.

A partir de finais do século XV e até à década de 1510, a Alta Guiné era a principal fonte de escravos africanos para Portugal. Ironicamente, foi precisamente quando a oferta da Alta Guiné passou a declinar que se abriu um vasto novo mercado do outro lado do Atlântico: primeiro na América espanhola e depois no Brasil. Em 1513 introduziu-se um sistema de licenciamento que permitia a importação de escravos de África a um preço por cabeça estabelecido, pago pelo traficante de escravos.

As estatísticas destas exportações não são fidedignas. Os escravos destinados à América espanhola provinham sobretudo da Alta Guiné; depois passaram a trazê-los da Costa dos Escravos, através de S. Tomé; e finalmente, a partir de finais do século XVI até 1640, de Angola. Entretanto, as plantações coloniais portuguesas do Brasil tinham, desde meados do século XVI, começado a importar um número cada vez maior de escravos africanos. Quando o tráfico de escravos cresceu, a Alta Guiné deixou de ser a principal fornecedora.

Deixamos para próximo texto a explicação que A. R. Disney oferece sobre as origens da presença portuguesa e o contexto que nos oferece sobre o ouro de S. Jorge da Mina, Benim, iniciara-se um período de obscuridade na presença portuguesa, com altos e baixos, a situação só será diferente no século XIX, primeiro com a desafetação da Guiné de Cabo Verde e depois com a Convenção Luso-Francesa de maio de 1866 em que a política portuguesa ficou obrigada a pacificar e a ocupar. Mas isso já é outra história.

(Continua)

Carta náutica de Fernão Vaz Dourado (c. 1520 - c. 1580), incluída num atlas desenhado em 1571. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23998: Notas de leitura (1545): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24006: Blogues da nossa blogosfera (173): CART 1525, "Os Falcões" (1965/67): postais ilustrados de Bissau, 1993, e fotos de Bissorã, 1997

Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado:  (i) A "Baiana" é uma esplanada defronte do desaparecido Café Portugal (ao fundo da Av Principal); (ii) Mercado de Bandim. Mercado tradicional que se estende pela nova estrada que liga Bissau ao aeroporto e que segue mais ou menos a antiga estrada que conhecemos; (iii) Uma rua de Bissau


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita).


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Piscina do Hotel 24 de Setembro: Antigas instalações da Messe de Oficiais do Quartel General do CITG / Exército Português


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado >   Hala Hotel  - HOTEL & Aqua  Park, sito na Avenida Combatentes Liberdade da Pátria
 

Guiné-Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Mulheres Bijagós

Fotos (e legendas): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > Da esquerda para a direita: 2º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, dois Adidos Militares Portugueses, 1º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, Coronel Mourão e um membro civil da comitiva da Fundação Bissaia Barreto de Coimbra


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > O monumento aos mortos em combate da CArt 1525


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > 1997 O monumento aos descobrimentos portugueses na praça principal

Fotos (e legendas): © Jorge Manuel Piçarra Mourão (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Por ter feito ontem anos o Rogério Freire, não podemos deixar de lembrar, mais uma vez, a sua página,  CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), não só por ter sido criada por ele (e que  também a continua a editar e a manter),  mas igualmente por ser um das mais antigas da nossa blogosfera, centrada numa só companhia e, ainda por cima, das mais completas em termos de informação (*). 

O Rogério Freire, que foi alf mil daquela companhia, e profissionalmente foi delegado de propaganda médica e esteve ligado  à área da informática, é também um dos históricos do nosso blogue (entrou em 13/10/2005), e é um dos que se tem preocupado com o futuro dos nossos blogues e páginas na Net (**)

Infelizmente, ele é também o único representante dos "Falcões" na Tabanca Grande... De qualquer modo, em sua homenagem e à página que criou e vai mantendo, com tenacidade e paixão, aqui se reproduzem algumas das colaborações fotográficas dos seus camaradas, com a devida vénia: 

(i)  cinco "postais ilustrados", da Guiné-Bissau, enviados pelo ex-furriel mil Magalhães durante a sua estada naquele país em 1993;  o fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido, pertencia ao 1º Gr Comb da CART 1525,  comandado pelo alf mil  Rui César S. Chouriço, e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra;

(ii) três fotos da visita, a Bissorã,  do cor art ref  Jorge Manuel Piçarra Mourão, ex-comandante da CART 1525 (Bissorã, 1965/67) (tem 7 referências no nosso bogue).
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Notas do editor:

domingo, 22 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24005: Facebook...ando (71): Brincando, em Bajocunda, já no final da guerra, com uma pista elétrica de carros de corrida, um brinquedo então na moda na metrópole (Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74)

Guiné > Região de Gabu > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 >  "Em Bajocunda não era só guerra também nos divertíamos de vez em quando em 73/74"... Foto do álbum do Amílcar Ventura.

Foto (e legenda): © Amilcar Ventura (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  O Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves, membro da nossa Tabanca Grande desde 9 de maio de 2009 (*), publicou a foto acima na nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça), no passado dia 20. (**)

A foto chamou-me a atenção, não tanto pela legenda ("Em Bajocunda, na Guiné Bissau, não era só guerra também nos divertíamo-nos de vez em quando em 73/74"), quando sobretudo pela "cena retratada": dois militares (um deles, pode ser o próprio Amílcar Ventura)  "brincam" numa pista elétrica de corridas, daquelas que estavam então na moda, na metrópole, e que hoje pertencem à pré-história dos nossos brinquedos, sendo vendidas a preço de saldo no OLX ou na Feira da Ladra... Outros dois militares acompanham as "peripécias" da corrida... A pista não podia ser grande (talvez 10 metros, com duas faixas e dois carros) e só se podia usar quando havia luz elétrica, à noite... O local só pode ser um dos quartos dos furrieis...

Não era vulgar encontrar-se este "brinquedo", no meu tempo (1969/71), nos nossos quartéis... Nessa época, a maior diversão, à noite, eram os jogos de cartas (e nomeadamente a "lerpa" ou o "king"). Ou a "botelada", em campo pelado, ao fim da tarde... 

Fica aqui o "achado"... Obrigado ao Amílcar por desencantar esta imagem do seu álbum, que também fala muito do nosso quotidiano...
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P24004: Fotos à procura de... uma legenda (169): Um ministro de Salazar, desembarcado na fragata Nuno Tristão, no decurso da Op Tridente, Ilha do Como, c. jan/mar 1964 (José Belo, Suécia)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > c. jan / mar 1964 > Chegada do ministro da Defesa Nacional (1962-1968), general Gomes de Araújo, à fragata Nuno Tristão (Arquivo Histórico da Marinha)

Editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)... Com a devida vénia a Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, "Sanctuary Lost: Portugal's Air War for Guinea 1961-1974". Volume I: Outbreak and Escalation (1961-1966), Helion & Co, UK, 2022 (*)


1. Comentário de José Belo no poste P23956 (*), que transformámos em poste, para a série "Fotos à procura de...uma legenda" (**), na expectativa de merecer a devida atenção de outros nossos leitores:

Curiosamente, tanto o meu Camarada e Amigo Graça de Abreu como eu próprio reagimos perante a foto de Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa desembarcando do helicóptero. Mas, como seria de esperar, vimos “coisas” diferentes naquela fotografia… ”catita”.

O Senhor Ministro desembarca na Fragata para se juntar ao comando da operação. “Equipado” para a função de comando nos trópicos (!) com o típico vestuário da época entre os altos expoentes do governo da ditadura e… não só. Gravata, blêizer assertoado, calças cinzentas e o indispensável chapéu na mão. Era um Senhor Ministro (General) vestidinho para “ir à missa” na igreja da Parada de Cascais.

A meditar-se sobre o ridículo de tal vestuário (marcante de uma certa maneira de estar, "tendo em conta o local e função”) acaba por se compreender tornarem-se desnecessárias argumentações (pseudomarxistas) quanto a utopias de Império sem se dispor de condições económicas, demográficas e políticas, para o manter e defender.

E, para mais, sei do que falo. Usei em toda a minha adolescência este uniforme “de ir à missa” e não só, precisamente nos sempre muito interessantes acontecimentos na Parada de Cascais da época. (Faltou-me o chapéu!)

Poeta português [ Alberto Caeiro / Fernando Pessoa] escreveu:

“Para além da curva na estrada / Talvez haja um poço, e talvez um castelo. / Etalvez apenas a continuação da estrada./ Não sei nem pergunto”.

Um abraço do JBelo

[ Jurista, vive na Suécia há 4 décadas; cap inf ref, ex-alf mil na CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, Empada, 1968/70)]

2. Comentário adicional do editor LG:

Independentemente da pose e do vestuário do senhor ministro da Defesa, gen Manuel Gomes de Araújo (1897 -1982), é de referir o seguinte, que também tem interesse documental, e que complementa a legenda da foto acima:

 "Primeiro pouso de um helicóptero (um Alouette II, da FAP) numa unidade da Marinha, no caso a fragata Nuno Tristão. Pilotado por Villalobos Filipe (José Luis Villalobos Filipe, militar de Abril que faleceu em Dezembro de 2013, com 76 anos),  o héli participava na altura na Operação Tridente que tentou recuperar - de 14 de Janeiro a 24 de Março de 64 - a ilha do Como, na Guiné-Bissau - que era controlada pelo PAIGC, com Nino Vieira no terreno. 

"A bordo da fragata estava instalado o Posto de Comando da operação, que envolveu cerca de 1.200 homens da Marinha, Exército e Força Aérea. Para além da Nuno Tristão,  a Armada destacou para o zona 4 Lanchas de Fiscalização, 4 LDP e duas LDM. Foto da Marinha." 

(Fonte: Página do Facebook "Navios da Armada", com a devida vémia...

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P24003: Parabéns a você (2140): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Bissorã, 1966/67) e Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo "Os Diabólicos" (Cuntima e Brá, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24000: Parabéns a você (2139): Dr. João Graça, Amigo Grã-Tabanqueiro de Lisboa, que fez voluntariado na Guiné-Bissau

sábado, 21 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24002: Una revoluzione...fotogenica (7): Uma foto intrigante de um guerrilheiro do PAIGC morto, em 1970, da autoria do fotojornalista húngaro Bara István

 

Foto nº 1 


Foto nº 2

Guinea Bissau > 1970 > Bara István > Elesett PAIGC katona / Guiné-Bissau > 1970 > Foto de Bara István > Soldado do PAIGC caído

Não sabemos se estas  fotos são do domínio público. De qualquer modo, fica atribuída a sua autoria. Tentámos, há uns largos anos,  contactar o autor por e-mail, mas nunca recebemos resposta, para obtermos autorização para divulgação desta e de mais fotos da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria > Guiné-Bissau (com a devida vénia ...

1. Esta foto sempre me intrigou...  Já a conheço há uns largos anos... Mesmo sem se perceber húngaro, "vê-se" que é um "soldado do PAIGC caído", com a sua Kalash, ao lado... A foto é do fotojornalista  húngaro Bara István (n. 1942) que visitou, a partir de Conacri, algumas das áreas sob controlo do PAIGC, na região Sul, em 1970, "embebbed" nas fileiras da guerrilha... Não sabemos se ao serviço de algum órgão de comunicação social do seu país. 

Há mais 7 dezenas imagens da  reportagem fotográfica da visita, incluindo pelo menos duas do grupo de 26 prisioneiros portugueses que estavam na prisão da "Montanha", em Conacri, à guarda do PAIGC. (Daí que a visita do húngaro só pode ter sido realizada antes da Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970; também não se sabe a que título ele fez esta visita a Conacri e a áreas alegadamente sob controlo do PAIGC no interior da antiga Guiné portuguesa.)

Esta (e as outras fotos) estavam no sítio, "comercial",  "Foto Bara > Galeria" (http://www.fotobara.hu/galeria.htm) . Já não estão disponíveis neste URL, mas fomos recuperá-las  no Arquivo.pt: https://arquivo.pt/wayback/20090707123742/http://www.fotobara.hu/galeria.htm

A página foi capturada pelo Arquivo.pt em 7 de julho de 2009, às 12h37.

2. Pois é, há algo que  me intriga nesta foto (a original é a primeira de cima, Foto n.º 1, com a cabeça do guerrilheiro para baixo, no lado esquerdo; invertemos a segunda para que se possa ver o corpo de outro ângulo, com a cabeça no canto superior direito, Foto n.º 2).

Numa análise mais detalhada do corpo do guerrilheiro (Fotos nº 1A e 2A) não são visíveis ferimentos,  com sangue e orifícios de balas ou estilhaços... Ao ser atingido, seria normal cair de bruços, e a arma ser projetada para a frente ou para o lado... O guerrilheiro tem um "rosto sereno"... Sobre as pernas,  vêem-se alguns ramos de arbustos... E, mais estranho, não há vestígios de terra nem muito menos de formigas e moscas... É pouco provável que o fotógrafo tivesse conseguido um "instantâneo" da morte do guerrilheiro, num eventual reencontro com as tropas inimigas, até porque não há outras fotos que documentem nenhum emboscada ou ataque ao bigrupo do PAIGC...

Uma hipótese que levanto, é tratar-se de, não propriamente de uma "fotomontagem",  mas um foto resultante de um situação eventualmente simulada ou encenada...  O que eticamente seria grave para qualquer fotojornalista em qualquer parte do mundo, num cenário de guerra... Mas não seria o primeiro caso... Uma delas,que continua a ser polémica,  é a do "Falling Soldier", de Robert Capa, uma foto a preto e branco, mostrando o momento em que  um miliciano republicano é atingido mortalmente, durante a guerra civil espanhola, foto alegadamente tirada em Cerro Muriano, no sábado, 5 de setembro de 1936.

Estou de boa fé, não quero estar a ser injusto para com o fotojornalista húngaro, mas acho a imagem (que devia ser de horror) "demasiado perfeitinha"... O que acham os nossos leitores?

PS - Já o dissemos em tempos: não sabemos exactamente em que circunstâncias o Bara István esteve em Conacri e na antiga Guiné portuguesa: num das fotos, ele próprio, então com 30 anos, deixa-se fotografar com uma Kalash pendurada ao pescoço, o que para um fotojornalista de hoje seria altamente reprovável, do ponto de vista deontológico;  pelo que percebi do seu currículo (em húngaro...),  ele nessa altura, em que esteve na Guiné (1969/70), trabalhava como fotojornalista da MTI ("Magyar Távirati Iroda", em inglês "Hungarian Telegraphic Office", uma das mais antigas agências noticiosas do mundo, criada em 1880). 

Em resumo, julgo tratar-se de alguém com prestígio internacional como fotojornalista: pelo menos, foi eleito duas vezes  como membro do júri da "World Press Photo" e outras duas vezes da "Interpress Photo". Também foi docente, durante uma década, numa escola internacional de jornalismo no seu país.

Recorde-se, por outro lado, que na época (1969/70) a Hungria fazia parte do Pacto de Varsóvia e, portanto, era pelo menos politicamente um dos apoiantes do PAIGC.

Foto nº 2A

Foto nº 1A. 

Guinea Bissau > 1970 > Bara István > Elesett PAIGC katona / Guiné-Bissau > 1970 > Foto de Bara István > Soldado do PAIGC caído. Detalhe (Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2023)

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de  2023 > Guiné 61/74 - P23977: "Una rivoluzione...fotogenica" (6): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte V: os "hospitais" do mato e o pessoal de saúde cubano

Guiné 61/74 - P24001: Os nossos seres, saberes e lazeres (551): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86): A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Graças ao desvelo do nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, fiz o primeiro périplo pela Academia Militar, na Gomes Freire. Há anos que aspirava entrar neste espaço. Estava completamente esquecido que a vida ativa da escola passou de armas e bagagens para a Amadora, estão aqui uns larguíssimos milhões devolutos, ao que parece a instituição militar pode dar-se ao luxo de desmazelar ou deixar ao abandono tão importantes instalações. E há aspetos que doem bastante, passámos pelo que terá sido uma área de atividades desportivas e de educação física, tudo ao abandono, as ervas a tomar conta de um espaço que deverá ter sido formoso. Tudo agravado, talvez por ser dia feriado, por não ser ver praticamente vivalma. Há muita beleza na Bemposta, aqui o património denota a existência de muitos cuidados, mesmo com sinais de que há obras pertinentes para fazer, caso das portadas da entrada, já a descascarem. Mas será com imenso prazer que aqui voltarei para conhecer os outros tesouros da Bemposta.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86):
A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire


Mário Beja Santos

Passei vezes sem conta à porta desta instituição, vi entrar e sair cadetes, o meu destino era lá mais abaixo, na zona do Campo do Mártires da Pátria, ia visitar a minha irmã, ou o meu amigo Raúl Perez ou o Instituto Alemão ou descer a Calçada de Santana, passar pelo Convento da Encarnação e desaguar no Martim Moniz, à procura de especiarias.
Um dia, conversando com um nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, manifestei-lhe vivamente o meu desejo, ele fora professor da Academia mais de 20 anos, além de cadete, aqui se diplomara. E um dia acertou-se numa data de visita, uma manhã fria de feriado. Talvez tenha sido melhor assim, a falta de bulício deu para intensificar a sensação de que todo aquele espaço ao abandono é um gravoso desperdício. A instituição tem larga história, gozou de várias designações, foi Escola de Guerra, Militar e do Exército, tornou-se Academia em 1959, e mais recentemente transferiram-se para a Amadora as escolas e a vida dos cadetes. O que encontrei fechado não resultava de dia feriado, é puro abandono, ao que parece as nossas luminárias ainda não encontraram forma expedita de potenciar tão rico património, ademais todas esta Academia Militar assenta no primitivo Palácio da Bemposta, a residência da rainha viúva de Carlos II de Inglaterra, Catarina de Bragança. Propriedade enorme, mais tarde dela foi desafetado o terreno onde se construiu o Hospital Dona Estefânia, a igreja mandada construir pela rainha é um primor de arte.
Gostei do estado dos jardins, mas já conheceram melhores dias. Achei curiosa esta lápide do tempo do reinado de D. Carlos para comemorar o edifício da Escola do Exército, tendo ao lado um ginásio já do tempo da I República, há uma bela sintonia arquitetónica a despeito da diferença de regimes políticos.
Com tudo fechado, e de ouvido atento às descrições feitas pelo anfitrião, caminhámos para a Bemposta onde nos aguardava o sr. Coronel Rodrigues, Diretor do Museu Militar, era suposto uma visita a preceito ao edifício e mesmo à igreja, muita coisa ficará para a segunda visita. Avançou-se para a entrada da Academia a partir do Paço da Rainha, a multiplicidade de conjuntos de azulejos, obra de Jorge Colaço, enche-nos as medidas, conjuntos perfeitos, elucidativos, pela sua disposição vamos acompanhando as atividades das diferentes armas tratadas na então Escola do Exército, ou da Guerra ou Militar.
E daqui passou-se para um espaço museológico, impensável não captar a imagem do legado desse bravo militar que foi o Marquês Sá da Bandeira, até a prótese do seu braço direito deixou à escola que o fundou. Enquanto se visualizavam os oficiais mortos em combate, chamou-me à atenção nas paredes os oficiais mortos na Guiné e na Primeira Guerra Mundial, ocorreu-me ao pensamento que nós só morremos quando deixamos de ser lembrados, uma instituição militar que se preza grava para todo o sempre os seus heróis e os seus mártires.
Impossível não visitar a Sala do Conselho Académico, aqui decorrem atos solenes, pelas paredes espalham-se os retratos de antigos diretores.
Daqui se parte para um espaço de outras memórias, condecorações de antigos alunos que deixaram rasto pela bravura e reconhecimento pátrio, caso do general Almeida Bruno.
A nossa visita está prestes a terminar, voltaremos à Academia Militar para visitar a belíssima biblioteca, outro espaço histórico da Bemposta e a igreja. Chamou-me à atenção o vitral brasonado da escola da Academia e as sucessivas referências porque passou a Academia, como se disse foi designada por Escola até 1959. Até breve.
Biblioteca da Academia Militar

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23981: Os nossos seres, saberes e lazeres (550): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (85): Com que alegria revisitei Buscot Park, entre Faringdon e Lechlade (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24000: Parabéns a você (2139): Dr. João Graça, Amigo Grã-Tabanqueiro de Lisboa, que fez voluntariado na Guiné-Bissau

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23989: Parabéns a você (2138): António José Marreiros, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3544 e CCAÇ 3 (Buruntuma, Bigene e Guidaje, 1972/74)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23999: Notícias lusófonas (1): Extintos, na Guiné-Bissau, os feriados nacionais de 3 de agosto (revolta do Pijiguiti, em 1959) e 23 de janeiro (o início da luta pela independência, 1963) (VOA Português, 20/1/2023)

1. Com a devida vénia ao portal "VOA Português"

BISSAU — O Governo da Guiné-Bissau retirou da lista de feriados nacionais três dias com uma forte carga política: 23 de Janeiro, dia que marca o início da luta armada, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e 3 de Agosto, que assinala a revolta e a repressão dos trabalhadores pelo exército colonial em Pindjiguiti.

A decisão é anunciada dois dis antes da celebração dos 50 anos do assassinato do líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, nesta sexta-feira, 20.

No primeiro decreto do ano, publicado na quarta-feira, 18, o Executivo diz que a "crise financeira e alimentar que tem sacudido o mundo impõe uma nova dinâmica, abre novas perspectivas que assentam na cultura de produção e da produtividade, o que certamente “seria contraproducente com tantos feriados nacionais para um país em vias de desenvolvimento, como o nosso”.

Ainda, o Governo afirma que a nova realidade "obriga a Guiné-Bissau, enquanto membro de várias organizações internacionais, regionais e sub-regionais, à observância das obrigações daí decorrentes".

Nem o decreto, nem qualquer nota do Executivo adiantaram os motivos que levaram à escolha desses três feriados.

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