segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24023: Notas de leitura (1548): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Maio de 2020:

Queridos amigos,
A organização da História de Portugal e do Império Português, pelo académico A. R. Disney, em dois volumes, tem as suas originalidades e não deixam de provocar surpresa ao leitor português. O primeiro volume abarca desde a Pré-História até ao fim do Antigo Regime e o segundo começa no Norte de África, com a conquista de Ceuta e vai até ao Império do Oriente na era colonial tardia. O que tem a ver com a Guiné inicia-se com a exploração das costas da África Atlântica e finaliza ao tempo da segunda fortaleza de Bissau, da nossa presença também no Cacheu e nalguns outros locais. Foi esta tímida presença, espartilhada pela França a Norte, num Senegal onde a Inglaterra tinha encravado a Gâmbia, a Sul uma Guiné Francesa que pretendia expandir-se, que se obteve, com o sacrifício do Casamansa, a legitimidade territorial da Guiné Portuguesa, que é hoje o território onde se confina a Guiné-Bissau. Daí o autor estar altamente motivado a falar do tráfico de escravos, verificou que a missionação foi altamente esporádica, e termina a sua exposição exatamente no tempo em que vão começar as explorações de produtos agrícolas. Um livro rigoroso que importa saudar.

Um abraço do
Mário


A Guiné no Império Português, segundo A. R. Disney (2)

Mário Beja Santos

Considerado pela crítica uma investigação de gabarito pela originalidade da estrutura e pelo inventário bibliográfico e documental, como este académico observa no prefácio do segundo volume, que aqui cabe fazer referência, está organizado de forma um pouco diferente do primeiro. Na obra de arranque, A. R. Disney centra-se na Pré-História de Portugal, prossegue pela Idade Média, a construção do Portugal de Avis, o que ele designa por a Idade de Ouro, a época de declínio, a Restauração e a Reconstrução, o esplendor barroco, a era do Marquês de Pombal, o final do Antigo Regime. Neste segundo volume é toda a evolução do Império, desde as Praças do Norte de África até o Império do Oriente na era colonial tardia é matéria de análise – "História de Portugal e do Império Português", Volume II, por A. R. Disney, Guerra e Paz Editores, 2011.

Vimos que o envolvimento na África Atlântica ditou uma forma de presença portuguesa naquilo que o autor designa por Alta Guiné mediante um contrato de arrendamento que favoreceu marcadores portugueses e cabo-verdianos. Instituiu-se a figura do lançado também designado por tangomão quando se aculturava. A Coroa era muito severa relativamente à área destinada a trato comercial, os mercadores estavam impedidos de ir a Arguim ou descer até S. Jorge da Mina. O tráfico de escravos destinado a diferentes paragens foi alvo de concorrência, a presença portuguesa no período pós-Restauração fragilizou-se ainda mais. Como o autor observa, a concorrência já era enorme antes do período filipino. “Na década de 1530 embarcações normandas e bretãs frequentavam a região para comerciar. Juntaram-se-lhes os Ingleses, na década de 1550, e os Holandeses, a partir de 1580. Estes concorrentes europeus foram muito bem recebidos pelos governantes africanos e rapidamente se estabeleceram na Alta Guiné. Com o tempo cada nacionalidade começou a concentrar-se em áreas particulares: os Franceses no Senegal, os ingleses na Gâmbia, os Holandeses e os Ingleses na Serra Leoa”. Encetara-se uma concorrência áspera, as nações europeias pensaram mesmo em erigir fortalezas, o que não era do agrado das chefias africanas, que queriam negociar sem restrições e com quem lhes parecesse vantajoso. Facto comprovado, os portugueses foram perdendo terreno na Alta Guiné, não podiam dispor de fornecimentos tão satisfatórios como os concorrentes. Em abono da presença portuguesa, os viajantes e mercadores tinham uma mais antiga experiência na região onde se tinham fixado em povoamentos informais que já estavam enraizados. A grande concentração era no Cacheu. Em 1589, o chefe Papel do Cacheu, depois de muita hesitação, concordou em permitir a construção de um forte, supostamente para a proteção dos lançados contra possíveis ataques de inimigos europeus. No início do século XVII, a cidade tinha duas igrejas e uma população cristã de quase mil pessoas.

Em 1614, a Coroa Portuguesa decidiu tornar a colónia oficial e nomeou um Capitão para o Cacheu que se iria tornar, quase durante dois séculos, no principal entreposto português para os escravos da Alta Guiné. Chegada a Restauração, decidiu-se que no Cacheu seriam pagos os direitos alfandegários da exportação de escravos, em substituição da cidade da Ribeira Grande. Esclareça-se que havia também lançados na ilha de Bissau, houvera bom acolhimento pelo chefe Papel local que se convertera ao catolicismo por franciscanos portugueses e deu autorização para a construção de uma fortaleza, em 1696. Pouco tempo depois, Bissau foi declarada uma Capitania portuguesa. As dificuldades cresciam, os concorrentes eram imbatíveis, tentou-se uma reestruturação, experimentaram-se as companhias comerciais. Foi instituída uma companhia para o comércio da África Ocidental, em 1664, revelou-se um fracasso. Foram encetadas outras companhias em 1676, 1682, 1690 e 1699, todas subcapitalizadas e condenadas a uma vida curta. A despeito da Guerra da Restauração, D. João IV, em 1646 autorizou a continuidade do tráfico de escravos para a América espanhola. Em 1701, Lisboa decidiu encerrar o Forte de Bissau. Durante a metade do século seguinte, os portugueses competiram nos Rios da Guiné com extrema dificuldade, tendo sempre à ilharga os franceses e os britânicos. Os estreitos laços económicos e políticos de Portugal com o Reino Unido trouxeram alguma vantagem sobre os franceses. Isto para significar que a primeira metade do século XVIII teve longe de ser um período próspero para os portugueses na Alta Guiné.

Seguiu-se a reforma pombalina acompanhada da decisão de construir outro forte em Bissau, a partir de 1752, houve oposição dos Papel, mas a estrutura foi concluída em 1775. A fortificação permitiu aos portugueses ir exercendo ascendência nos Rios da Guiné, apesar da presença inglesa rival, tanto nas ilhas Bijagós como no continente. Registou-se uma modesta recuperação no tráfico de escravos, em parte sob o estímulo da Companhia do Grão-Pará e Maranhão de Pombal, surgida em 1755. A Companhia deteve o monopólio português do comércio e navegação para a Alta Guiné até 1778 e levou mais de 22 mil escravos africanos para as até aí negligenciadas capitanias do Norte do Brasil.

Cacheu, Bissau e outros pequenos povoamentos nos Rios da Guiné continuaram nas mãos portuguesas e a crescer, mesmo depois da aposentação forçada de Pombal. É este conjunto de possessões que acabará por formar o núcleo da colónia da Guiné Portuguesa que ganhará fronteiras em 1886, alvo de algumas correções, que dão hoje o território da República da Guiné-Bissau.

A. R. Disney prossegue o seu trabalho com o ouro de S. Jorge da Mina, importa recordar que Fernão Gomes, devido ao seu contrato de 1469 a 1474, não só adquiriu grandes quantidades de ouro em várias aldeias costeiras dos atuais Costa do Marfim e Gana, zona da Baixa Guiné, mais tarde chamada Costa do Ouro, a que os portugueses chamavam a Costa da Mina. Em janeiro de 1482, D. João II despachou para a Costa da Mina uma armada comandada por Diogo de Azambuja e depois de conversações com o chefe local começou imediatamente a construção da fortaleza. Os portugueses nunca conseguiram estabelecer contato comercial direto, o ouro da Mina foi sempre uma operação sedentária, conduzida a partir da fortaleza. O ouro era trazido por mercadores indígenas que tratavam igualmente da distribuição dos produtos portugueses importados por todo o Interior. Resta dizer que S. Jorge da Mina é representada nos mapas do século XVI sobranceira à costa da Guiné, imagem algo errónea. A fortaleza não era imponente, o poder de ataque dos portugueses era mais ou menos limitado ao alcance do seu canhão. Resta dizer que o domínio marítimo português na costa da Mina durou cerca de 150 anos, e de modo algum se pode associar a presença portuguesa na Guiné diretamente com a fortaleza de Arguim ou a fortaleza de S. Jorge da Mina, eram tratos comerciais completamente distintos. E terminam as referências a este reconhecido trabalho sobre a História de Portugal e do Império Português, no que concerne à Guiné, mas História anterior à ocupação efetiva.

Imagem da Cacheu antiga, gravura do século XIX
Fortaleza de Cacheu, vestígios de estátuas da Guiné Portuguesa
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Notas do editor:

Poste anterior de 23 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24007: Notas de leitura (1546): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24015: Notas de leitura (1547): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3492 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide

 
Dr. Francisco Silva (1948-2023), médico, cirurgião 0rtopedista, nosso amigo e camarada, ex-alf mil at inf, CART 3492 / BART 3873 , Xitole, e cmdt do Pel Caç Nat 51, Jumbembem, 1971 /1973. Foto de Manuel Resende (s/d) com a devida vénia.


1. Chegou-nos a triste notícia ao meio da tarde de ontem, por intermédico de um amigo comum, o Zé Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos, numa mensagem que também era de parabéns pelo meu aniversário: morreu o meu/nosso amigo e camarada Francisco Justino Silva, vítíma de doença prolongada. 

Deixa viúva a nossa querida amiga Elisabete (que frequentava os convívios da Tabanca da Linha e também o Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real: o Francisco esteve em 10 e a Elisabete em 7.  O casal  fez igualmente uma viagem de saudade, à Guiné-Bissau, em 2013,  com onZé Teixeira e  a esposa.

O casal tem dois filhos e três netos. A filha é também médica, em Santiago do Cacém. O Francisco nasceu na Madeira, onde chegou a trabalhar no início da sua carreira. Mas a sua "casa e escola"  foi o serviço de ortopedia do Hospital de Santa Maria e depois o Hospital Amadora-Sintra, onde operou alguns de nós, seus camaradas Trabalhou sobre a direcção do lourinhanense dr. Francisco Mateus, hoje reformado. (Tratava-o por "Xiquinho", confidenciou-me ele, a quem transmiti hoje a triste notícia; já trabalhavam juntos dese Santa Maria, e foram juntos para o Amadora-Sintra, onde o Francisco foi abrir o serviço (ou um dos serviços) de ortopedia, creio que Ortopedia B.

O Francisco tinha-se reformado, do SNS,  ainda há poucos anos  (creio que em 2017). Mas continuou a trabalhar no seu consultório e num hospital privado, até que a saúde o impediu de vez. Vivia em Porto Salvo, Oeiras.

A Elisabete teve a gentileza de nos telefonar, a mim e a Alice, por volta das 22h00.  As cerimónias fúnebres terão lugar hoje, em Porto Salvo, na igreja local: velório a partir das  16h00; missa de corpo presente às 14h00 de terça-feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide.(*)

Fazia anos a 14 de junho. Recordo-me de um soneto que lhe fiz em 2017, por ocasião do seu 69.º aniversário. Em cima da hora, e nesta hora muito triste, faço-lhe, em meu nome pessoal, e da Alice, e da toda a nossa Tabanca Grande, esta pequena homenagem, reditando os versos que lhe escrevi e republicando fotos de alguns dos nossos agradáveis momentos de convívio e também da viagem à Guiné -Bissau em 2013, publicadas no nosso blogue  (mantendo as legendas da altura). 

Para a Elisabete e a restante família, vai o nosso mais caloroso e fraterno chicoração. Até sempre, Francisco! Iremos lembrar-te sempre como um homem bom, afável e  simples, e um dedicado médico, um amigo do seu amigo, um camarada do seu camarada. LG

Ao nosso querido Francisco!

por Luís Graça
(grato ao seu ortopedista, amigo e camarada)


Veio da terra da Laurissilva,
É camarada, amigo, solidário,
O afável doutor Francisco Silva
Tem hoje o seu dia de aniversário.

Mas não pensem que é dia de gazeta,
Ortopedista é sempre um guerreiro,
A idade, para ele, é uma treta,
Parabéns ao nosso grã-tabanqueiro.

Reformado está, mas não arrumado,
Tem mãos de artista e ainda opera,
Não gosta de ver ninguém aleijado.

Pela sua Maria e queridos filhos,
Tinha a Guiné em lista de espera,
Pois voltou, percorrendo os velhos trilhos!

14 de junho de 2017 (**)

Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Da esquerda para a direita, Jorge Rosales, JERO ("o último monge de Alcobaça") e Francisco Silva. (Três saudosos amigos e camaradas,  de cujo convívio  a morte já nos privou; também três presenças frequentes em Monte Real, nos nossos encontros anuais.)

Foto: © Miguel Pessoa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Leiria >  Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) >  XI Encontro Nacional da Tabanca Grande >  16 de abril de 2016 >  "Ó camarada doutor Francisco Silva, aqui só para nós... Então, o meu amigo é de Porto Salvo, Oeiras, e ainda não se dignou dar-nos a honra da sua presença à mesa da Magnífica Tabanca da Linha?!" (pergunta  o régulo Jorge Rosales, para o Francisco Silva que, na Guiné, tinha fama de durão, e que acaba de se reformar, tendo um brilhante currículo como ortopedista no Serviço Nacional de Saúde, e nomeadamente no Hospital Amadora-Sintra, onde operou por duas vezes, o nosso editor-mor, a um joanete e à anca...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > Monumento aos Combatentes do Ultramar > XXV Encontro Nacional  dos Antigos Combatentes  > 10 de junho de 2019 > Sob o olhar atento do Carlos Silva, régulo da Tabanca dos Melros, o Francisco Justino Silva, hoje ortopedista (foto à  esquerda),  membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de abril de 2010 (***), relembra os tempos em que foi substituir, em Jumbembem, em circunstâncias trágicas, o comandante do Pel Caç Nat 51: o seu interlocutor, um antigo milícia do seu tempo  (à direita, na imagem), estava lá, nesse fatídico dia 16 de julho de 1973, em que foi cobardemente morto a tiro de G3 o alf mil op esp / ranger, Nuno Gonçalves Costa. (Era natural de Arcos de Valdevez. A sua morte foi atribuída a "acidente com arma de fogo", forma eufemística das Forças Armadas classificarem não só os casos de acidente devidos a arma de fogo, como os de homicídio e suicídio.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > XXIII Encontro Nacional de Combatentes > 10 de junho de 2016 > O Francisco Silva era presença frequente no 10 de Junho. Aqui  ao lado do Silvério Lobo (que veio de Matosinhos),

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 >  O Virgínio Briote e o Francisco Silva.

Foto (e legenda): © Luís Graça (20'0). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 anos: primeiro veio a pandemia, depois vieram as  mazelas do corpo e da alma... A nossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido,  o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde, felizmente já  superados ?!... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete!    (Já agora, a Tabanca Grande sabhe que ela trabalhou na Petrogal desde os seus 20 aninhos e teve como colegas, por exemplo , o António  Levezinho, a Isabel Levezinho, o Fernando Calado... E por certo  o Pinto Carvalho de que ela não se lembra bem.)

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > Que bom, rever-te, Francisco!... Temos andado desencontrados, mas cada um à volta dos seus  problemas de saúde... e lambendo, como o cão do balanta, as suas feridas.  Dizem-me que não tens atendido os telefonemas de ninguém... Grande madeirense, amigo e camarada, as tuas melhoras!... Olha, eu acabo de fazer uma artoplastia total ao joelho esquerdo, no Hospital Ortopédico de Sant'Ana, na Parede... Agora são dois meses de fisiatria...

Fotos: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de  2013 > "O Francisco Silva  mais um antigo guerrilheiro do PAIGC, procurando localizar pontos de guerra comuns". [Companheiro de viagem do Zé Teixeira, em 2013 (**), o Francisco, hoje cirurgião, esteve no Xitole, como alf mil, ao tempo da CART 3492 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > O Aliu do Xitole  (antigo menino da messe dos sargentos)  e o Francisco Silva... O Aliu reconheceu de imediato o "alfero paraquedista” , o “Sirva”. E logo o grupo ficou em amena cavaqueira com o Aliu a falar do “alfero Sirva”, "manga de bom pessoal". (Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Leiria > Monte Real > IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > 14 de junho de 2014 > O Francisco Silva, ortopedista no Hospital Fernando da Fonseca, que operou recentemente o nosso editor Luís Graça bem como o camarada Humberto Reis, tinha um segredo  bem guardado até à hora do almoço... Fazia anos, deixou a família em casa, deu um salto a Monte Real e voltou a casa, em Porto Salvo, Oeiras, para acabar o resto com a esposa, Elisabete, os filhos e os netos... Cantámos-lhe os "parabéns a você... Da esquerda para a direita, o  João Martins, o Humberto Reis, o Xico Alen (já falecido em 2022), o Francico Silva e a Alice Carneiro.

Recorde-se aqui o percurso militar do Francisco: madeirense, ofereceu-se como voluntário aos 19 anos, em 1968 para os paraquedistas... Acabou na Guiné como alf mil at inf, esteve no Xitole, ao tempo da CART 3492 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973, Depois de regressar à metrópole, fez o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Em primeiro plano, ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, ortopedista no Hospital Fernando da Fonseca, Amadora-Sintra, médico do nosso camarada Hugo Guerra. À sua esquerda, a Maria Alice e à direita Salifo Camará, 87 anos, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, venwrado como "rei dos nalus" (também ja falecido). Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem. O Francisco Silva viajou de jipe, com mais camaradas, na viagem à Guiné, de ida e volta, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008),

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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domingo, 29 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24021: Blogues da nossa blogosfera (175): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (76): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


O Homem é um ser uno e indivisível, muito complexo

ADÃO CRUZ
© ADÃO CRUZ

Ele é, no entanto, composto por uma infinidade de subunidades, todas elas intimamente ligadas entre si. A mais importante de todas, se assim podemos dizer, a unidade soberana, é o cérebro. Este órgão, bem guardado numa caixa óssea, feita da substância mais dura do corpo humano, é constituído por cerca de cem biliões de neurónios em permanente actividade, através dos quais se processam em cada momento, provavelmente, triliões de neuro-transmissões. O nosso esquema cerebral é idêntico em todos nós mas o conteúdo de cada cérebro é totalmente diferente.

A Humanidade não é um mero conjunto de homens e mulheres. A Humanidade é uma profunda e intrincada rede de relações, de relações humanas muito complexas. O cérebro de cada um de nós, apesar de encerrado num compartimento estanque, não se encontra isolado. Relaciona-se, permanentemente e mais ou menos intimamente, com todos os outros, e todos os outros se relacionam com ele de forma mais ou menos profunda, através dos múltiplos canais de comunicação que vão desde a linguagem, falada, escrita ou gestual, à mímica, à postura, às atitudes, aos comportamentos, não falando já de outras formas de comunicação menos conhecidas, que estão na base da investigação de hipotéticas concepções, como a existência de campos ou configurações electromagnéticas extra-cerebrais. Todo o homem se relaciona mais ou menos activamente com os inúmeros fenómenos que o rodeiam e com tudo o que vê e não vê, com tudo o que entende e não entende. O diálogo do Homem com o homem e do Homem com o mundo no seio da natureza e da Humanidade é permanente, profundo e inevitável. Assim vai ele construindo, dia após dia, o seu emaranhado mundo relacional, o seu autêntico microcosmos regido por todas as inimagináveis forças da sua microgaláxia.

Deixo um pouco de lado este homem-relação e vou imaginar que um qualquer de nós, encontrando-se num qualquer ponto do macrocosmos, no seio do Universo, a milhões de anos-luz de distância, resolve vir por aí abaixo (ou por aí acima!) dar um passeio. Vai-se aproximando, aproximando, passa por triliões de estrelas e por outros tantos triliões de outros corpos celestes, e ao fim de biliões de quilómetros encontra uma pequenina bola de berlinde a que chamam Terra. Pára um pouco para pensar e chega à conclusão de que a Terra, afinal, é um pequeníssimo e quase desprezível grão de areia no meio do Universo, sem qualquer valor ou significado. Continua a viagem, aproxima-se, aproxima-se um pouco mais, e repara que sobre essa bolinha chamada Terra se mexe uma multidão de pequenos bichinhos chamados homens. Pára novamente para pensar e definitivamente se convence de que o Homem, afinal, não é, rigorosamente, o centro de nada. Vai-se aproximando, aproximando ainda mais até penetrar dentro do próprio Homem, onde depara com o tal microcosmos que deixei atrás, na minha descrição. Conclui, então, pelo que lhe parece, que o Homem vive entre duas poderosas forças. Uma força antropocêntrica, que o atrai e o arrasta para a sua natureza, para a sua condição humana e para a sua esfera relacional, da qual não pode, de forma alguma, libertar-se, e uma outra força de sentido oposto e centrífugo dentro da permanente expansão do Universo, que tende a projectá-lo em cada momento na dimensão universal a que pertence.

Nesta zona de divergência, nesta interface, na fronteira entre estas duas poderosas forças, reside, a meu ver, a verdadeira vida, a vida que procura fugir e transitar da sua natureza palpavelmente biológica, para um estádio que, sem deixar de ser material e biológico, cada vez mais se integra na natureza cósmica da sua origem-destino. Nesta zona de divergência, nesta poderosa interface reside, em minha opinião, a mente, a verdadeira ponte entre as duas naturezas, que o são apenas na aparência. E quem diz a mente diz o desenvolvimento mental, quem diz o desenvolvimento mental diz o desenvolvimento cultural, e quem diz o desenvolvimento cultural diz o desenvolvimento da expressão artística, talvez o maior vector humano nesta força de projecção universal. Toda a natureza humana muda e altera em cada momento as relações do seu microcosmos, podendo fazê-lo de forma negativa ou positiva, isto é, cortando ou abrindo as asas da mente. Só as alterações e mudanças que levam ao saldo positivo da mente permitem o salto positivo da mente, a travessia desta ponte, para além da qual se dá a verdadeira evolução do Homem, a que conduz ao equilíbrio da sua concomitante expansão como ser do Mundo e do Universo e à preservação da harmonia cósmica da nossa existência.

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Notas do editor

Poste anterior de 18 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23890: Blogues da nossa blogosfera (170): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (75): Palavras e poesia

Último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24008: Blogues da nossa blogosfera (174): Cerca de metade dos nossos "favoritos" de há uns anos (Letras a E a I) trás já não existem ou mudaram de URL

Guiné 61/74 - P24020: Parabéns a você (2141): Luís Graça, fundador e editor deste Blogue, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24003: Parabéns a você (2140): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Bissorã, 1966/67) e Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo "Os Diabólicos" (Cuntima e Brá, 1965/67)

sábado, 28 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24019: Tabanca Grande (542): Eduardo Jacinto Estevens, ex-1.º Cabo Radiomontador da CCS/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1971/73), que se senta no lugar n.º 869 da nossa Terúlia

1. Mensagem de 27 de Janeiro de 2023 do nosso camarada e novo tertuliano, Eduardo Jacinto Estevens, ex-1.º Cabo Radiomontador da CCS/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1971/73), enviada através do Formulário de Contacto do Blogger:

Caro camarada Luís Garça
Há já algum tempo que acompanho o vosso blogue, e hoje resolvi inscrever-me para contar a minha passagem como militar pela Guiné.

Fui 1.° Cabo Radiomontador e fiz parte da CCS/BCAV 3854 que prestou serviço em Nova Lamego.
Fui destacado para a oficina de rádio em Bafatá onde cumpri todo o tempo de serviço de 1971 a 1973.

Um abraço
Eduardo Jacinto Estevens

Eduardo Estevens, ontem e hoje

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BATALHÃO DE CAVALARIA 3854

Unidade Mobilizadora: RC 3 - Estremoz

CMDT: TCor Cav António Malta Leuschner Fernandes

2.º CMDT:
Maj Cav Jaime Alexandre Santos Marques Pereira
Maj Cav Francisco José Martins Ferreira

OInf/Op/Adj:
Major Cav Viriato Manuel d'Assa Castel-Branco
Major Cav Eduardo Barata das Neves

CMDTs Comp:
CCS: Cap SGE Adelino Lopes de Almeida Ferreira
CCAV 3404: Cap Cav Grad Luís Fernando Andrade de Moura
CCAV 3405:
Cap Cav Fernando Gill Figueiredo Barros
Ten QEO António Pereira de Lima
CCAV 3406: Cap Cav José Carlos Cadavez

Divisa: "Cumprir"

Partida: Embarque em 04JUL71; desembarque em 10JUL71
Regresso: Embarque: 05OUT73


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO com as suas Companhias, de 12JUL71 a 06AGO71, no CMI, em Cumeré, seguiu em 13AGO71 para o Sector L#, com as suas subunidades a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCAÇ 2893
Em 05SET71, assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Cabuca, Madina Mandinga, Canjadude, Mareué e Nova Lamego. Em 22NOV71, a zona de acção foi reduzida do subsector de Mareué, transferido para outro batalhão. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do seu Batalhão.
Desenvolveu intensa actividade de patrulhamento, de protecção de itinerários, de escoltas, de intercepção e aniquilamento de elementos inimigos infiltrados e ainda de controlo e defesa dos aglomerados populacionais e organização de respectivo sistema de autodefesa.
Dentre o material capturado mais significativo, refere-se: 1 espingarda, 5 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 25 minas.
Em 08SET73, foi rendido no sector de Nova Lamego pelo BART 6523/73 e recolheu em 11SET73 a Cumeré e em 24SET73 a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


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Comentário do coeditor:

Caro Eduardo Estevens,
Bem-vindo à nossa Tabanca Grande, este espaço privilegiado de convívio para os antigos combatentes da Guiné. O nosso Blogue é, sem dúvida, o maior registo na web de memórias escritas e em fotografias da guerra naquela pequena parcela de África, então território administrado por Portugal.


A tua contribuição será bem recebida e aqui publicada para memória futura, para que alguém, depois de nós já termos partido, possa reescrever a história da guerra em África, o mais próximo possível da verdade. É isso que queremos e para isso fazemos aqui a nossa parte. Será difícil porque todos sabemos que os historiadores não são imunes à sua (de)formação ideológica. Nestes quase 50 anos, seja pelos rótulos que nos foram colando, seja pela falta de respeito e a indiferença a que fomos votados, concluímos que somos o resto de uma geração apanhada entre a ditadura e esta democracia que não sabe viver com a verdade histórica.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas.
CV

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23966: Tabanca Grande (541): José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LFP Bellatrix, 1969/71 e Comando Naval da Guiné, 1971/73), que se senta no lugar n.º 868 da nossa Terúlia

Guiné 61/74 - P24018: Os nossos seres, saberes e lazeres (552): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87): Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Tendo vivido em miúdo umas temporadas na Junqueira, fui-me afeiçoando ao local, qualquer pretexto é válido para aqui passarinhar, uma exposição na Cordoaria, uma visita ao Museu da Arte Popular, ao jardim da Tapada, ao Centro Cultural de Belém, e foi assim que dei por mim a descobrir que há muito não punha os pés no Museu da Presidência da República, o anúncio da exposição de homenagem a alguém de quem fui profundamente amigo e devedor, Maria de Lourdes Pintasilgo, deu acicate para a visita. Um belíssimo museu e dá gosto ver o cuidado arquitetónico posto no Jardim da Cascata. Quis visitar a capela e a obra da Paula Rego, dei com o nariz na porta. Nunca vira com os meus olhos o quadro que Júlio Pomar dedicou a Mário Soares nem o que a Paula Rego dedicou a Jorge Sampaio, saem vencedores estéticos do que para ali campeia na retratística. E justifica-se uma itinerância ao Palácio de Belém, quem por ali passa na rua nem lhe ocorre que há meio milénio há aqui espaço da aristocracia, devaneios de D. João V que sonhava com jardins formosos e D. Maria I que gostava de se passear entre a passarada exótica que aqui residiu nos anexos do Jardim da Cascata.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87):
Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo


Mário Beja Santos

Era tempo de conhecer o Museu da Presidência da República, estava cheio de curiosidade para visitar a exposição dedicada a uma grande amiga, Maria de Lourdes Pintasilgo, que apoiei de alma e coração, do princípio ao fim, na sua ousadia como candidata à presidência da República, no topo das sondagens nos primeiros tempos, teve menos de 8 por cento depois de uma primeira volta em que foi caluniada e abjurada. O espaço museológico está muito bem concebido, uma exposição digna dos retratos dos presidentes da I República, do Estado Novo e da II República, há para ali algumas obras de arte de primeira plana, logo os quadros de Columbano, o Júlio Pomar e a Paula Rego (bem gostaria de ter visto a Capela, obra pictórica da sua responsabilidade, a rogo de Jorge Sampaio, mas estava encerrada ao público), há presentes lindíssimos, alguns deles dignos de qualquer grande museu, a museografia é excelente, atrativa e pedagógica, espaços bem recuperados, uma organização cativante para a compreensão do que constitui a missão deste museu. Aqui se deixam algumas imagens do que mais me tocou.
Presidente Manuel de Arriaga pintado por Columbano
Presidente Teófilo Braga pintado por Columbano
Presidente Mário Soares pintado por Júlio Pomar
Presidente Jorge Sampaio pintado por Paula Rego
Um presente do rei de Marrocos Hassan II ao presidente Jorge Sampaio
Presente da Bulgária ao presidente Cavaco Silva
Presente da República da Alemanha ao presidente Ramalho Eanes
Oferta do Brasil ao presidente Craveiro Lopes
Pormenor da Galeria dos Presidentes da I República, com destaque para Teófilo Braga pintado por Columbano e Bernardino Machado pintado por Martinho da Fonseca
Desenho a lápis de Paula Rego para a série que dedicou ao aborto

Para chegar à exposição Pintasilgo tem que se migrar para outro espaço bem acarinhado, o Jardim da Cascata, altamente cenográfico, hoje separado do Palácio de Belém, constituiu um dos caprichos da rainha D. Maria I, tinha aqui passarada exótica de todo o Império. Fizeram-se obras, a dignidade arquitetónica foi respeitada, é hoje espaço expositivo, que visitei com a alegria de rever a obra de uma mulher que me ajudou a pensar mais livremente. No decurso da visita, verifiquei que faltavam alguns elementos da campanha eleitoral de 1985, deixei menção que estava disposto a entregar peças que aqui faltavam, caso de uma medalha comemorativa. Nenhum contacto veio a ser estabelecido, já encontrei destino para os elementos que dispunha desta querida amiga cujo pensamento político continua mal divulgado, o relatório que ela coordenou para a ONU População e Qualidade de Vida, estou certo e seguro, quando se organizar a bibliografia fundamental da sustentabilidade e dos quadros matriciais da política ambiental global, estará em lugar cimeiro.
Pormenor da fonte do Jardim da Cascata
Detalhe do Jardim da Cascata virado para a Praça Afonso de Albuquerque
Duas imagens retiradas da exposição em homenagem à obra de Maria de Lourdes Pintasilgo, decorria então no espaço do Jardim da Cascata

Aqui se põe termo à visita de um espaço belíssimo, é uma história de meio milénio, houve para aqui propriedades do conde de Vimioso, depois D. João V deu-lhe para a jardinagem, temos ao alto a tapada, ali bem perto do Jardim Colonial (hoje Tropical), e aqui se fez Palácio Real, os príncipes D. Carlos e D. Amélia aqui viveram, a princesa gostava de cavalgar e deixou-nos um precioso picadeiro que já foi Museu Nacional dos Coches e hoje é seu apêndice, aqui viveram presidentes da República como Craveiro Lopes e Ramalho Eanes, tem esplendor e magnificência, fica prometido que será uma das próximas itinerâncias.
Outro pormenor do Jardim da Cascata

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24001: Os nossos seres, saberes e lazeres (551): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86): A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24017: Fotos à procura de... uma legenda (170): um "aerograma"... da Suécia com, brrr!, muito frio (José Belo)


Cortesia de José Belo (Julgo que a foto não é dele, deve ter sido tirada por uma das suas renas...)


1. O José Belo, o português (ou luso-sueco) que vive mais a norte de Cascais, já dentro do Círculo Polar Ártico, não perde pitada do seu corrosivo mas saudável bom humor quando chegam os grandes nevões e as temperaturas, lá para o seu sítio, na Lapónia, atingem muitas dezenas de graus negativos, rebentando com os termómetros... 

Imaginem, mandou-nos um "aerograma", que deve merecer, em resposta,  um comentário dos nossos leitores...

Eu acho que nos faz isto só por pirraça, acinte, afronta, senão mesmo sacanice!... "Ah!, os velhadas, todos juntinhos, no adro da igreja, a jogar à sueca, aproveitando os fracos raios de sol do inverno!... Venha aí o ribatejano mais valente, reformado de pegador de touros e de antigo combatente da guerra do ultramar, para lidar esta besta que 'amanda' com quarenta graus abaixo de zero!"...

Na "nossa" Guiné, no nosso tempo, a tempertaura mínima que podíamos apanhar, em dezembro, rondava os 15 graus. E eu lembro-me de ter batido o queixo, à noite, emboscado ("enroscado") no mato, eu e os meus soldados guineenses, enrolados em mantas... 

Era das únicas vezes que eu usava o blusão de couro que havia comprado no Casão Militar, custou-me uma fortuna... Estupidez a minha, não vi que o clima na Guiné era tropical... Foi a "agência de viagens" que me enganou... Mas deve ter havido alguém que me garantiu que o blusão merecia o preço, também era colete anti-bala... Que lorpa!... Isso, e as botas à cavaleiro, de cano altíssimo até ao joelho, que era para atravessar as bolanhas e não ser sangrado pelas sanguessugas... (LG)

Domingo, 15/01/2023, 12:00




Um "Aerograma" com ar fresco do Árctico e um abraco

Com a curiosidade de a roupa lavada (e congelada!) nos quarenta graus....negativos!

Abraço, JBelo
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de janeiro de 2023 > uiné 61/74 - P24004: Fotos à procura de... uma legenda (169): Um ministro de Salazar, desembarcado na fragata Nuno Tristão, no decurso da Op Tridente, Ilha do Como, c. jan/mar 1964 (José Belo, Suécia)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24016: Efemérides (380): Hoje, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Capa do livro  de Judith C. E. Belinfante et al. - "The Esnoga: a monument to Portuguese-Jewish culture" [A Esnoga: um monumento à cultura judaico-portuguesa]. Amsterdam, D'Arts, 1991, 95 pp. (tr. do neerlandês): mais de 85% da comunidade judaica, de origem portuguesa (sefardistas), morreu no Holocausto (cerca de 3700 em 4300 membros) (*)

(...) "A 27 de janeiro assinala-se, anualmente, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Este dia foi implementado através da Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 1 de novembro de 2005.

O propósito deste dia é não esquecer o genocídio em massa de seis milhões de judeus pelos Nazis e respetivos colaboracionistas. Este constitui um dos maiores crimes contra a Humanidade de que há memória. Por outro lado, pretende-se educar para a tolerância e a paz, bem como alertar para o combate ao antissemitismo.

A Comissão Europeia, a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), a ONU e a UNESCO criaram a campanha #ProtectTheFacts, como forma de combater o negacionismo e a desinformação em relação ao Holocausto." (...)


Fonte: Eurocid (com a devida vénia...)


Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018

1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstomo, com data de 25 do corrente, às 03:11:

Meu caro Luís Graça,

De há já algum tempo para cá tenho-me cingido a "passar os olhos” pelos títulos dos postes no nosso blogue, pois que,  apesar de “reformado" e não sei que mais, o tempo não tem dado para mais. Hoje porém ao ver o título deste último blogue "a sinagoga portuguesa de Amsterdão… e a história incrível da sua comunidadede" (*), tive de arranjar tempo para o ler. Em boa hora o fiz; e logo decidi deixar um comentário ao excelente artigo. 

Embora nunca tenha visitado Amesterdão, por razões várias, o assunto não me é totalmente desconhecido. Mas fiquei impressionado pela abrangente, mas sucinta e  bem organizada maneira como o nosso editor conseguiu em poucas palavras informar e esclarecer o assunto em questão.  

Este artigo é ainda mais pertinente porque estamos em vésperas do dia do Holocausto.
E por isso permito-me enviar-te algumas informações relacionadas com este dia, celebrado a 27 de Janeiro. Deixo ao teu critério o publicares ou não.

Para evitar mal entendidos devo esclarecer que não sou judeu. Por vezes fazem-me essa pergunta e parece ficarem surpreendidos quando respondo negativamente. O meu envolvimento em assuntos relacionados com o judaísmo aconteceu quase por acaso ao saber da figura do nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes.


O cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes
(Cabanas de Viriato, 1885 - Lisboa, 1954)

Independentemente de quaisquer outras considerações, o meu primeiro interesse era o de dar a conhecer ao mundo o nosso grande humanista português. E, como no caso de cerejas, vim a saber depois de outros humanistas que estavam meio esquecidos e mereciam e deviam ser conhecidos: O diplomata brasileiro Luís Martins de Sousa Mendes, Angelo Roncalli -- depois papa e “ Santo” João XXIII, e outros.

E foi no decorrer destes reconhecimentos que vim a saber da existência da Sinagoga de Amesterdão, e das duas primeiras sinagogas nos Estados Unidos - ambas construídas por portugueses ou luso-descendentes, como se pode ver ainda hoje pelos nomes bem portugueses gravados em pedra: a "Touro Synagogue” em Newport, estado de Rhodes Island ; e a “Portuguese- Spanish Synagogue” em Nova Iorque.

E muito haveria para adiantar, mas sei que outros o podem fazer muito melhor do que eu.

Neste momento quero apenas mencionar duas coisas que me chamaram a atenção: a publicação de mais um livro intitulado “ In the Garden of the Righteous “ sobre Salvadores do Holocausto ainda pouco conhecidos, este da autoria de Richard Hurowitz, publicado hoje mesmo pela “Harper”. O conceituado “ Wall Street Journal” publica sobre ele um grande artigo de apresentação.


Capa do livro 
 de Richard Hurowitz. -
"In the Garden of  the Righteous: the heroes who risked their lives to save jews during the Holocaust"  [ No Jardim dos Justos: os heróis que arriscaram as suas vidas para salvar judeus durante oHolocausto], Nova Iorque, 2023. (Imagem: Cortesia de João Crisóstomo)

Este livro e este artigo são de especial importância para nós porque neles Aristides de Sousa Mendes recebe o maior destaque: é com a história de Aristides de Sousa Mendes que o autor começa o artigo e depois, falando sobre os motivos que levaram estes “salvadores” a agirem como fizeram, o caso de Aristides é de novo falado com o maior destaque, pela sua expressa declaração de que o fez levado pela sua fé católica e sua consciência de cristão. 

Este artigo é-nos especialmente gratificante pois temos vindo a celebrar este "Dia da Consciência" pelo mundo fora desde 2004 , o que levou o nosso Papa Francisco em 17 de junho de 2020 a “reconhecer" não só o nosso grande humanista, mencionando o seu acto de coragem cristã, como o “Dia da Consciência” na sua audiência geral desse dia.

Em segundo lugar merece também ser mencionado o facto de que uma importante “webinar” organizada pela” Jewish Heritage Alliance” vai ter lugar no dia 29 de Janeiro e é especialmente dedicada a Portugal e a Aristides de Sousa Mendes. E muito apropriadamente esta "webinar" começa com uma mensagem do nosso Embaixador de Portugal em Washington, especialmente pré-gravada para esta ocasião.(**)


Webinar "Sefarad: Porto and Portugal's Jewish Heritage" [ Seminário pela Web: "Sefarditas: O Porto e a herança judaico-portuguesa],  29 de janeiro de 2023.

Um grande abraço,
João
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P24015: Notas de leitura (1547): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Este texto de recensão centra-se nas alterações introduzidas em 1965 pelo novo Comandante da zona aérea, Coronel Krus Abecasis, destinadas a melhorar a eficácia da informação e a encontrar as respostas mais adequadas entre a força aérea e as forças terrestres; o novo comandante procurou uma resposta satisfatória para os bombardeamentos noturnos, envidou esforços para adaptar o C-47 a bombardeiro noturno. O que traz à discussão o modo como ao longos destes anos o PAIGC procurava mitigar os efeitos por vezes devastadores dos bombardeamentos; e igualmente se vê que as armas que utilizava eram ineficazes para danificar os aviões, a artilharia antiaérea demorou a chegar mas a resposta portuguesa não se fez esperar, toda essa artilharia foi completamente inutilizada, como adiante se verá.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14)


Mário Beja Santos
Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Percorremos já um longo percurso (esta recensão já abrangeu mais de metade da obra), os investigadores socorrem-se de um processo diacrónico, atravessam toda a cronologia de acontecimentos internacionais e nacionais que se prendem com o fenómeno da descolonização africana e como este afetou a Guiné; depois, dão-nos o quadro dos meios aéreos existentes, no início da década de 1960 e a sua evolução até ao desencadear da guerra, a adaptação de infraestruturas (nomeadamente Bissalanca, Cufar e Gabu), o aperfeiçoamento na formação dos pilotos, etc. Seguiu-se uma descrição sobre os comportamentos militares dos primeiros Comandantes-Chefes e as aquisições efetuadas, designadamente na Europa Ocidental. Por fim, abordou-se a Operação Tridente, começa agora o período da governação Schulz. Pela narrativa destes autores, revela-se à puridade a ideia feita de que Schulz não tinha estratégia adequada para querer contrariar a ofensiva guerrilheira, adotou um modelo de disseminação da quadrícula que era totalmente partilhado por outros potências coloniais a enfrentar a insurgência, e, obviamente, apercebendo-se da natureza do terreno, teria de apostar no apoio aéreo e na capacidade dos bombardeamentos. E os autores explicam claramente as dificuldades surgidas com as aeronaves. Vamos continuar esse relato e acompanhar o período da governação Schulz, e procurar entender a natureza da resposta do PAIGC.

Vimos como o novo comandante da ZACVG, Krus Abecasis, liderou alterações de fundo para melhorar a coordenação com as outras forças militares e com a rede dos comandos aéreos, instituiu-se um mecanismo permanente de coordenação entre as diferentes forças intervenientes no teatro de operações, assegurando comunicações em tempo real e as forças de superfície, criou-se um comando com ligação a Nova Lamego para apoiar as operações terrestres no Leste da Guiné; havia em Bissalanca uma força de alerta completa, incluindo dois T-6 prontos a intervir. Os autores pormenorizam toda a orgânica montada por Krus Abecasis.

Apesar das medidas expeditas tomadas para uma melhor coordenação ar-terra, não se esbateram completamente as dificuldades entre os ZACVG e as outras forças. O PAIGC primava por ataques rápidos e pronta fuga, desaparecendo no interior das matas, o apoio aéreo muitas vezes chegava tarde, o que originava queixas e críticas do Exército à Força Aérea. Mas o balanço da nova coordenação foi substancialmente positivo, apesar de se terem mantido dificuldades sérias em abastecer as forças de superfície por via aérea. Lembram os autores que o transporte aéreo era a única opção disponível em 85 por cento do território, e sem o apoio da FAP muitas unidades isoladas não poderiam sobreviver. No entanto, o défice de transporte aéreo que já se manifestara durante a Operação Tridente, não desapareceu. 14 dos 20 DO-27 permaneciam paralisados por razões não especificadas e 3 C-47 estavam constantemente indisponíveis devido a exigências de inspeção ou manutenção em Portugal. Ora o C-47 Dakota revelou-se fundamental para o abastecimento das forças portuguesas dispersas pela Guiné. Krus Abecasis procurou minimizar o tempo de inatividade do C-47 devido a requisitos de manutenção, e estabeleceu um circuito regular de abastecimento pelo C-47 para unidades destacadas em Nova Lamego, Farim, Bafatá e Tite, dia sim, dia não. Nos lugares onde as forças portuguesas dependiam de transporte naval, os T-6 eram rotineiramente encarregues de escoltar as lanchas, especialmente na região sul. Krus Abecasis tomou igualmente medidas para melhorar a capacidade de ataques noturnos da FAP, que nos dois primeiros anos da guerra se tinham limitado a um punhado de missões de bombardeamento pelos P2V-5, mas os Neptune eram muito poucos e não impediam o entusiasmo do PAIGC pela escuridão. Abecasis estudou o modo como a Força Aérea dos EUA usavam os C-47 modificados como armas noturnas no Sudoeste Asiático. Ele pediu às OGMA em Alverca para supervisionar a conversão do C-47 em bombardeiro noturno, para poder levar bombas de diferente calibre. Estas alterações tornaram possível a realização de bombardeamentos noturnos em altitudes seguras e produziram resultados até ao final do ano, reforçaram a “guerra antiaérea”, que opôs uma capacidade de destruição da defesa aérea das FARP que procuravam cercear a sua ação aérea. Grandes teóricos do movimento revolucionário como Mao Zedong, Giap e Guevara classificavam a defesa aérea como uma das prioridades da guerrilha, considerações que se aplicavam singularmente à Guiné onde o poder aéreo era notoriamente soberano. O PAIGC distribuía um manual para os seus quadros dizendo que se deviam desenvolver maneiras eficazes de derrotar os aviões inimigos, havia que conhecer as debilidades dos aviões, evitar os seus pontos fortes e explorar as suas fraquezas.

No início da guerra, os aviões eram um terror inultrapassável para a maioria dos militantes do PAIGC. Os bombardeamentos aéreos no Morés eram de tal modo aterradores que os aldeões decidiram internar-se na floresta do Oio, contrariando as ordens da direção do PAIGC. Cabral e os seus colaboradores buscavam uma resposta para tão tremendo desafio. As medidas de defesa inicialmente adotadas repetiam procedimentos que tinham sido usados por guerrilheiros na Malásia, Indochina e outros lugares, caso do emprego de folhagem natural, camuflagem, cobertura da escuridão para se protegerem dos aviões, evitavam-se as áreas abertas e procuravam-se tomar medidas para garantir a ocultação da observação aérea em viagens de dia.

Os camponeses, por exemplo, construíam coberturas de galhos de árvores para se esconderem sempre que ouviam aviões a aproximarem-se das bolanhas onde plantavam arroz, enquanto os guerrilheiros e os habitantes procuravam esconder-se no arvoredo ou ficar parados para impedir a deteção no ar; normalmente vestidos de indumentária escura, os guerrilheiros procuravam confundir as tripulações deitando-se entre troncos de árvore queimados; em área húmidas ou perto de cursos de água, os insurgentes emergiam na água e respiravam através de palhinhas improvisadas; em áreas dominadas pelo PAIGC, uma das medidas adotadas pelas populações eram extensas trincheiras de proteção, recorrendo-se a um sistema de alerta rudimentar que consistia em tambores usados para anunciar a aproximação das aeronaves, e, como já adotados noutros ambientes por insurgentes, o PAIGC assentava as suas bases numa rede dispersa de habitações camufladas, tudo para dificultar a sua localização do ar. Uma diretiva do PAIGC que veio a ser apreendida pelas forças portuguesas, reiterava a ordem permanente de Cabral para que as unidades do PAIGC não permanecessem numa determinada área mais do que dois dias consecutivos. Quem desobedecesse podia ser punido – primeiro pela FAP e, depois, pelo alto-comando do PAIGC.

Outras medidas de defesa passiva passavam pela tática conhecida por “abraçar o inimigo”, ou seja, combater a partir de posições tão próximas das forças portuguesas de tal modo que a aviação não pudesse largar as suas bombas. E para minimizar ainda mais as oportunidades de deteção e destruição, muitas atividades de apoio ao PAIGC ou às populações amigas, como era o caso do cultivo de arroz, processavam-se principalmente à noite. As unidades armadas do PAIGC preferiam operar na escuridão para evitar a intervenção da Força Aérea. Abecasis sublinhava que a noite era o grande aliado do inimigo. O PAIGC espalhava com frequência informação para alerta dos seus militares e população civil, mostravam-se fotografias horríveis de vítimas e danos, insistia-se na tomada de medidas para haver uma defesa agressiva por parte dos combatentes das FARP, mobilizaram-se quadros móveis e comités da aldeia para campanhas de educação da defesa civil em massa. Até os livros escolares produzidos pelo PAIGC traziam avisos sobre os perigos dos bombardeamentos aéreos.

A destruição de aviões dava um importante impulso moral aos guerrilheiros, era uma forma de abalar o conceito de superioridade e invulnerabilidade. Em inflexão estratégica, o PAIGC encorajava que a resistência armada devia incluir lançamento dos RPG- 2 e 7 para atingir os aviões, o que se revelava ineficaz. O PAIGC recorreu aos seus amigos para montar sistemas de defesa aérea e foi assim que surgiram armas pesadas como as do tipo soviético SG-43 Goryunov, que foram reportadas pela primeira vez pelas autoridades portuguesas em 18 de julho de 1963. Eram armas de pouca ajuda e não podiam meter medo mesmo ao velho T-6 Harvard da Segunda Guerra Mundial, contra os aviões a jato os canhões de 7,62 mm não tinham qualquer eficácia.


Circuito de fornecimento dos C-47, 1965 (Matthew M. Hurley)
O C-47 Dakota foi fundamental para fornecer as forças portuguesas dispersas por toda a Guiné (Coleção Virgílio Teixeira)
Arma antiaérea DShK 12,7 mm (Arquivo da Defesa Nacional)
Guerrilhas do PAIGC a receber instrução sobre o uso da DShK (Arquivo da Defesa Nacional)

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 20 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23998: Notas de leitura (1545): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (13) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24007: Notas de leitura (1546): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (1) (Mário Beja Santos)