segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25050: Notas de leitura (1656): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
É um testemunho de um valor inquestionável, alguém que acompanha e anota acontecimentos entre 1973 e 1976, a chegada de um novo poder a Bissau, regista as mensagens de maior impacto, cedo se percebe que não houve uma negociação séria entre o novo poder e os portugueses, os hospitais ficam sem médicos e as escolas sem professores e livros. O Padre Macedo regista as primeiras tensões com os apologistas da laicidade e da completa intromissão na obra missionária, deu faísca, as missionárias de Bafatá são as primeiras a sair. O tempo encarregou-se de alisar as propostas fanáticas como as de Lilica Boal, os missionários, depois deste período turbulento regressaram e são altamente estimados, deve-se-lhes o crescimento do catolicismo na Guiné, que não passava de um dígito magro até à independência, hoje o clero é influente, dialogante com o islamismo, as suas escolas são altamente procuradas e o trabalho na área da saúde mantém-se sem rival. Espero que a Ordem Franciscana publique o essencial deste diário, dada a sua riqueza histórica.

Um abraço do
Mário



Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (3)

Mário Beja Santos

Na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa chamaram-me à atenção para o número mais recente da revista Itinerarium, o n.º 227, referente ao semestre de janeiro a junho de 2020, a Itinerarium é a revista semestral de cultura publicada pelos franciscanos em Portugal. Ali aparece um artigo com páginas do diário de Frei Francisco de Macedo (1924-2006) que foi missionário na Guiné entre 1951 e 1997. O diário inclui os apontamentos do religioso sobre os primeiros anos da Independência, a matéria versada relaciona-se com a educação e as missões.

Estamos a 18 de outubro de 1974, escreve: “O ruído das pancadas é estranho! Depressa me ocorre a verdade do facto: estão a retirar as letras Honório Barreto do liceu. Pobre Honório… Até tu, que eras guinéu de têmpera e que nos dias de hoje terias sido outro Amílcar, foste considerado grande colonialista e por isso querem apagar o teu nome da memória dos homens!”

Cresce a tensão entre membros da direção do PAIGC e os missionários. Nessa mesma data, consta do seu diário: “O Sr. Prefeito Apostólico recebeu as Irmãos de Bafatá, que lhe falaram da visita da Dr. Lilica Boal à casa das Irmãs em Bafatá. É uma fanática do Partido. Disse às Irmãs que o internato teria de ser misto, o que pôs em sobressalto as pobres das Irmãs. À noite, o Sr. Prefeito recebeu notícia de que tinha sido convidado para ir ao aeroporto esperar os “Homens Grandes” do Partido, que deviam chegar ao aeroporto às 10h do dia 19. A notícia caiu bem e deu-nos ânimo.” E no dia seguinte relata a chegada de Luís Cabral, Aristides Pereira, Nino e Chico Té, houve saudação à chegada do presidente do município, Juvêncio Gomes. E regista a resposta de Aristides Pereira: “A luta continua. Cabo Verde não está livre e é preciso que connosco forme uma só nação.”

A 21, volta a anotar que a posição do novo Governo não é manifestamente favorável às missões. “Uma onda de tristeza e de derrota se apoderou de alguns de nós, ao termos conhecimento da orientação que o Partido está decidido a tomar em relação aos internatos das Irmãs. Não há chance alguma para as obras missionárias.” A 25, continua as suas considerações sobre a mesma matéria: “Pelos contactos havidos e observações feitas, se vai notando que a ação da Igreja vai ficar muito coartada pela nova orientação política. É um Governo declaradamente laico que quer tomar nas mãos toda a juventude para instruir segundo a doutrina do Partido.” Mas não deixa haver surpresas, pois nesse mesmo dia Mário Cabral preside a uma reunião com os responsáveis da Educação e professores onde anuncia que será o camarada Padre Macedo que vai ser o reitor do liceu.

Estamos agora a 28, já está decidido qual o nome para o liceu de Bissau: Liceu Nacional Kwame N’Krumah. A 1 de novembro, regista que o Internato de Bor vai ser dirigido por um elemento do Partido e escreve que o totalitarismo se está a implantar. “Frequentes vezes nos interrogamos sobre qual o melhor sistema de governo para os povos africanos. A democracia evidentemente só é possível em países onde haja respeito mútuo pelas ideias políticas e maneira de pensar de cada cidadão. Ora, isso não acontece em países africanos, onde predomina o regime patriarcal. Dizem que há muitos inimigos. Continuam em luta e tomam todas as precauções de defesa. Todas as residências dos dirigentes e responsáveis estão guardadas por militares.” Também nos dá a saber que partiram delegações da Guiné-Bissau para Lisboa, é o próprio Mário Cabral quem declara que a Guiné-Bissau necessita com urgência que os seus hospitais não fiquem sem médicos e que as escolas não parem por falta de professores e de livros escolares, apela-se à cooperação portuguesa.

Em 5 de novembro, é manifesto o seu desânimo, nunca escrevera a este nível de desfalecimento: “Desfazer, desmantelar, derrubar, demolir, arrasar, abater, destruir, destroçar, desconjuntar, desertificar, aluir todas as obras de valor cultural, assistencial ou socioeconómico, realizadas e mantidas pelos portugueses, parece ser a ideia principal de alguns responsáveis do Partido. O pensamento essencial é anular, desfigurar, dissipar, apagar da mente do povo todo o conceito de bem que possa haver a respeito do branco. O único remédio e médico para estas coisas é o tempo.” Estamos agora a 8 de novembro, iniciaram-se as aulas no liceu, sai-lhe um comentário muito pessimista: “Este estabelecimento de ensino está transformado numa fábrica de… futuros operários desempregados.” No dia 14 regista no diário que a Rádio Libertação tinha emitido naquele dia um ataque frontal aos padres: “Padres sobrealimentados… e o povo subalimentado. Queremos uma nação sem subalimentados e sem padres sobrealimentados.” É neste período que há uma troca de correspondência entre o Prefeito Apostólico e o Secretário-Geral do PAIGC, Aristides Pereira. Este procura ser habilidoso, escreve contidamente, apela a que os missionários se mantenham no seu posto, o seu trabalho é altamente meritório. Acontece que as Irmãs de Bafatá tinham recebido instruções para regressar a Portugal.

Estamos nas vésperas de Natal, a 22 de dezembro, Chico Té preside a um seminário para professores do ensino secundário, o seu apelo é provavelmente a produção, não deixa de afirmar que o Governo é laico, mas que respeita todas as crenças. A 27 de dezembro, há um seminário político em que o conferente foi o Dr. Vasco Cabral. Observou em determinada altura que a direção do Partido organizara a greve o Pidjiquiti, em 3 de agosto de 1959 (rotunda mentira, dirigentes máximos do PAIGC, como Luís Cabral, sempre tiveram cuidado a falar desta greve dos estivadores manjacos), o Partido tinha analisado o acontecimento e reconheceu que não podia adotar essa via dentro dos meios urbanos (o que efetivamente aconteceu foi que Amílcar Cabral foi o autor de tal observação, abrindo espaço para a organização da subversão e desvio para Conacri de militantes para sempre preparados para a luta armada, o que efetivamente aconteceu graças ao denodado trabalho de Rafael Barbosa).

O Padre Macedo ainda põe no seu diário a 30 de dezembro a referência uma conferência do Dr. Fidélis Cabral de Almada sobre a Justiça popular, e traça um quadro histórico:
“Os descobridores veem povos com leis, com costumes, com justiça, com tradições. Queriam eliminar tudo o que era costume, queriam suprimir todos os elementos de civilização. Era este o método de colonização. A regra do domínio de um povo sobre outro povo. Por isso, a noção de Justiça e de Direito foi também eliminada. O povo da Guiné foi considerado colónia de indigenato. De fazer justiça eram encarregados os chefes de posto e os administradores, gente com espírito mercenário que vieram apenas para enriquecer. Os comités de tabanca acatam os princípios em que o povo tem de mandar na sua cabeça. A eleição do comité de tabanca faz-se por eleição popular. Em 1969, o Partido chega à conclusão de que tudo está maduro para a criação da Justiça popular. Lançámos a ideia de juízes populares, eleitos pela maioria. Escrivães, professores primários, faziam parte dos tribunais populares. O nível de criminalidade diminuiu logo. Havia pena de morte por fuzilamento. A revitalização da nossa cultura nacional surge no campo jurídico.”

O diário do Padre Macedo termina em 12 de fevereiro de 1976. Espera-se que a Ordem Franciscana, perante a valia deste testemunho histórico, permita a sua publicação, contém matéria digna de reflexão para esse período em que tantas medidas foram tomadas e que o tempo se encarregou de esvaziar o conteúdo.
Missão das Irmãs Clarissas Franciscanas em Gabu, Guiné-Bissau
No sábado, dia 29 de dezembro de 2018, em Suzana, Dom Pedro Zilli teve a felicidade de viver a graça da ordenação sacerdotal do Pe. Jacinto Baliu Sibandió, o primeiro missionário da comunidade paroquial de Suzana para a Congregação dos Missionários do Santo Espírito

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Nota do editor

Post anterior de 1 DE JANEIRO DE 2024> Guiné 61/74 - P25027: Notas de leitura (1654): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 5 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25038: Notas de leitura (1655): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25049: O nosso blogue em números (90): A pequena Guiné-Bissau vem na lista dos 12 primeiros países onde somos mais vistos, e por pouco não ultrapassava, em 2023, a Suécia (11.º lugar)...


Figura n º 1 - Mapa-múndi com a distribuição do número de  visualizações de páginas no ano de 2023, do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (n=690 mil).  Pequena Guiné-Bissau também um pontinho na África Ocidental 

Fonte: Blogger (2024)






Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Em 2023, a nossa pequena Guiné-Bissau continua no nosso "mapa-mundi" (Figura 1), achando-se  entre os doze primeiros países com mais visualizações de páginas do nosso blogue, quer em termos absolutos (Gráfico nº 5), quer em termos relativos (Gráfico nº 6).

Apraz-nos registar que a Guiné-Bissau, com 7,4 mil visualizações  (1,1%),  vem em 12.º lugar, na lista dos países donde provêm os nossos leitores, em 2023, com Portugal em 1.º lugar, mas a perder peso relativo, em relação aos anos anteriores (219 mil visualizações em 2023, menos de 1/3). 

Na lista dos "vinte mais" (ou "top 20"), não há, em 2023, mais nenhum país lusófono para além de Portugal, Brasil e Guiné-Bissau (que representam 34,6% no seu conjunto)...

Em todo o caso temos que admitir que o nosso público leitor, lusófono, é mais vasto, havendo camaradas nossos um pouco por toda a parte... (embora isso seja menos provável no Irão e em Singapura).
 
Contrariamente ao ano de 2022, a Suécia ficou num modesto 11.º lugar (1,2%). 

Recorde-se que, no ano passado, a Suécia estava em 4.º lugar com 21,8 mil visualizações de páginas (3,5% do total, que foi de 622 mil)... com a ajuda, seguramente, do nosso grão-tabanqueiro José Belo e das suas "renas"...

O Zé Belo "emigrou", entretanto, para a terra do Tio Sam e as renas devem-se ter dispersado pela Lapónia, sem rei nem roque, nem tradutor (elas não falam português)... Os líderes fazem sempre muita falta!... Enfim, é a conclusão que temos, infelizmente, de tirar destes dados. 

A única consolação, para o nosso régulo da Tabanca da Lapónia, é que a Suécia continua em 6.º lugar, à frente do Reino Unido, da Rússia e da Polónia, quando se analisam os dados relativos ao total acumulado de visualizações, por país, desde maio de 2010 até ao final de 2023 (n=12, 8 milhões). À sua frente, vêm Portugal, EUA, Brasil, Alemanha e França. 

Veremos em próximo poste esse gráfico.

(Continua)
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Nota do ditor LG:

Último poste da série > 7 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25045: O nosso blogue em números (89): os dez postes (em 25 mil) mais visualizados durante o ano de 2023

Guiné 61/74 - P25048: O segredo de...(40): Patrício Ribeiro, 76 anos: Angola, Quifangondo, 1975: uma das "minhas guerras" a que assisti ao vivo


Patrício Ribeiro, ex-grumete fuzileiro, Angola, 1969/72


1. Afinal, todos temos pequenos/grande segredos da tropa, da guerra e da Guiné (e de outros lugares do planeta) que em vida ainda não partilhámos, ou só contámos a alguma ou outra pessoa das nossas relações mais íntimas: o pai, a esposa, o filho mais velho, o amigo do peito, o camarada de armas que ficou nosso amigo para sempre... Ou às vezes nem isso... 

Há coisas que decidimos não contar à família nem aos amigos do peito... Há coisas que nem às paredes se confessa, como diz a cohecida letra de fado. São coisas "muito nossas" que até preferimos, nalguns casos, levar connosco para o caixão... Todos temos esse direito. 

Outras há que, com o passar dos anos, achamos que podem entrar "no domínio público", sem consrangimento, sem mágoa, sem ferir ninguém... Pode até ser um forma de fazer o luto (em caso de perda de alguém ou de alguma coisa muito preciosa para nós)..

Já aqui publicámos, no blogue, cerca de quatro de dezenas de postes na série "O segredo de...". Em 20 anos, dá uma média de 2 por ano. Mas o "confessionário" continua de portas abertas... 

Já aqui o dissemos, a propósito de segredos partilhados por (e segundo a ordem cronológica, com alguns a partilharme mas do que um segredo):

  • Mário Dias, 
  • Santos Oliveira, 
  • Luís Faria (1948-2103),
  • Virgínio Briote, 
  • Amílcar Ventura, 
  • Joaquim Luís Mendes Gomes, 
  • António Medina,
  • Ovídio Moreira,
  • António Carvalho,
  • Sílvio Fagundes Abrantes,
  • Amadu Djaló (1940-2015),
  • Antóno Graça de Abreu,
  • Augusto Silva Santos,
  • Ricardo Almeida,
  • Fernando Gouveia,
  • Vasco Pires (1948-2016),
  • Cláudio Brito,
  • Ribeiro Agostinho,
  • Mário Gaspar,
  • Domingos Gonçalves,
  • João Crisóstomo,
  • Victor Garcia,
  • António Ramalho
  • Manuel Oliveira Pereira,
  • Alcídio Marinho (1940-1921),
  • João (Candeias da) Silva (1950-2022)
  • Dionísio Cunha, 
  • José Ferraz de Carvalho, 
  • Jorge Araújo,
  • Demburri Seidi/Cherno Baldé, 
  • António Branquinho (1947-2023)

Seria uma pena que estes e outros camaradas levassem  para a cova os pequenos/grandes segredos contaram no nosso "cofessionário"... São histórias fabulosas que humanizam a guerra, que engrandecem os seres humanos que as protagonizam, e que nos tocam, fundo... 

Claro que algunas são como abrur a caixinha de Pandora... (Foi o caso, por exemplo, do Amílcar Ventura que teve  comentários... agrestes).

Este, que hoje trazemos a público, já foi dito em comentário ao poste P25035 (*). Mas merece ser recuperado e publicado, na montra grande do nosso blogue, nesta série...

Sobre o Patrício Ribeiro, convém lembrar:  nascido em Águeda, em 1947, cresceu em Angola, em Nova Lisboa (hoje Huambo), onde casou, viveu e trabalhou; ali fez a tropa como fuzileiro (1969/72). 

Ficámos a saber que veio para Portugal na véspera da independência; mas deu-se mal com a sua condição de "retornado": "africanista", decidiu ir viver e trabalhar, em 1984, na Guiné-Bissau; empresário, fundou uma empresa ligada à energia; agora, aos  76 anos está cá e lá, dedicando-se ao neto e à sua agricultura em Águeda mas também dando uma mãozinha ao filho que lhe sucedeu nos negócios... Aqui, em Águeda, sente-me mais confortável para falar do seu passado, como foi o caso há dias (*).

É autor da série "Bom dia desde Bissau", é um histórico do nosso blogue, para onde entrou formalmente em 2/1/2006: é nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau; mais de 130 referências no blogue..

 
O segredo de...(39): Patrício Ribeiro, 76 anos: Angola, Quifangondo, 1975: uma das "minhas guerras" a que assisti ao vivo (**)

Assisti e ouvi perto a artilharia durante muitos dias, da batalha do Quifangondo.

Ia trabalhar todos os dias a poucos quilómetros do Cacuaco.

Todos os dias a caminho do trabalho, passava junto de diversos guerrilheiros mortos, que durante a noite ali eram abatidos e recolhidos, durante o dia, pela tropa Portuguesa para a morgue, que eu visitava quase diariamente, a fim de ver quem chegava, pois poderia ser um amigo.

Havia ex-tropa portuguesa de ambos os lados da batalha, alguns vieram mais tarde para Portugal, onde constituíram família.

Nos últimos dias do fim do mês de outubro de 1975, passavam por mim os carros blindados com cubanos para a linha da frente, que saíam dos navios às escondidas, ou não, da tropa portuguesa. A saída era pela linha do comboio, do porto de Luanda.

Até que no dia 30 de outubro de 1975, resolvi não morrer naquela estrada e naquela guerra, já que por vezes disparavam para todos os lados, até para o meu carro, quando diariamente lá passava e tinha que mostrar um cartão de filiado em qualquer movimento, o que eu não queria.

Esta foi uma das "minhas guerras" a que assisti ao vivo.




Angola > Luanda > Cacuaco > Quifangondo  (o Kifangondo) 

"Esta obra é de autoria do museu nacional de história Marco Histórico do Quifangondo, fotografada por Abraão Fernando Figueira, 01:02, 5 September 2015, numa exposição escolar realizada pela escola Flor viva. Mostra os heróis que lutaram para libertação nacional de Angola." Fonte (e legenda): Wikimedia Commons (imagem editada, com a devida vénia, pelo Blogue Luís Greaça & Camaradas da Guiné...)

(...) No local da batalha, uma colina com vista para o rio Bengo, foi construído o Memorial da Batalha de Quifangondo, como um tributo a todos aqueles que participaram na luta de libertação nacional. O memorial foi projectado pelo escultor Rui de Matos e inaugurado em 2004 pelo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos" (...) (Fonte: Wikipedia > Quifangondo)

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Guiné 61/74 - P25047: Parabéns a você (2239): António Murta, ex-Alf Mil Inf da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513/72 (Aldeia Formosa, Nhala e Bula, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25039: Parabéns a você (2238): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

domingo, 7 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25046: Fotos à procura de... uma legenda (179): o que é o Joshua Benoliel fotografou em fevereiro de 1917 ? Um soldado a escrever uma carta de despedida para a família de um camarada analfabeto ? E com quê: lápis de carvão, caneta de aparo, caneta de tinta permanente ?...


Pormenor da capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 575, Lisboa, 26 de fevereiro de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 10 centavos.)

1. A legenda diz: "Expedicionários portugueses: escrevendo a um camarada uma carta para a família". ('Cliché': Benoliel)".

Será ? Aqui fica um desafio ao leitor:

O que é o militar (figura do lado esquerdo) escreve em cima do joelho ? É uma carta, um bilhete-postal ou um simplesmente apontamento num caderninho ? Será mesmo uma carta, talvez de despedida, para a família do outro camarada (também de perfil, à direita) ? Ainda estava por inventar o aerograma... e o SPM.

Estamos no cais de embarque, no cais de Alcântara, em Lisboa, em fevereiro de 1917... Os dois militares estão em vias de embarcar para França num vapor inglês, integrados no CEP (Corpo Expedicionário Português)...

E depois também não sabemos com que é que o militar escreve: lápis ou pena  de carvão, caneta de aparo (com bico de pato), caneta de tinta permanente ? A imagem não tem resolução suficiente para se poder tirar conclusões... Tanto pode ser um lápis (pelo comprimento e espessura) como uma caneta simples de aparo...

Com esferográfica, não é, seguramente; ainda não existia, só se iria vulgarizar nos anos 50, depois da II Guerra Mundial, "democratizando" a escrita. (Os mais de 500 ou 600 milhões de cartas e aerogramas que se escreveram ao longo da guerra colonial foram-no com a "Bic", a esferográfica por antonomásia).

Recorde-se que, tal como a nossa geração, os nossos camaradas do CEP (aqueles que tiveram a felicidade de andar na escola) aprenderam a escrever com giz (na ardósia e no quadro preto), com pena de carvão, e lápis e depois com caneta simples, de aparo, de ponta metálica, que se molhava no tinteiro, de porcelana, acoplado no respetivo orifício da carteira escolar...

E o segredo do artista era, então, "não borrar a escrita", isto é, o papel, uma infelicidade que custou a muitos de nós algumas dolorosas reguadas e ponteiradas, por parte do professor (e se calhar também muitos puxões de orelhas, por parte  das nossas mães,  por sujarmos a roupa com o raio da tinta azul real)...

A caneta de tinta permanente (com reservatório) era um luxo que o "papá rico" dava ao menino sortudo quando este era aprovado no exame de admissão ao liceu... Na I Grande Guerra só estaria ao alcance dos oficiais...

Em 1917, o soldado do CEP já se dava por contente se tivesse papel, tinteiro com tinta e caneta de aparo na sua trincheira na Flandres (mas, convenhamos, não era nada prático molhar o bico da caneta no raio do tinteiro ao som dos canhões)...

Bem, vamos lá fazer o "trabalho de casa"... "Bitaites" precisam-se para melhorar a legenda desta grande foto do Benoliel (mais uma, tirada à malta do CEP, e é pena que ele não fosse vivo no tempo em que a gente foi à "guerra do ultramar", partindo do Cais da Rocha Conde de Óbidos nos Niassas e nos Uíges; infelizmente, morreu trinta anos antes).

Em boa verdade, nós, antigos combatentes das "guerras de África"(1961/74), não tivemos os fotojornalistas (e muito menos os fotocines) que merecíamos...

Guiné 61/74 - P25045: O nosso blogue em números (89): os dez postes (em 25 mil) mais visualizados durante o ano de 2023


 = 1,77 mil  visualizações

Terça-feira, 6 de outubro de 2015
Guiné 63/74 - P15207: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (23): De 27 de Outubro a 12 de Novembro de 1973
Publicado por Carlos Vinhal 
 

Publicado por Tabanca Grande Luís Graça


5º = 437 
Quinta-feira, 16 de outubro de  2008
Guiné 63/74 - P3320: Historiografia da presença portuguesa em África (8): Abdul Indjai, herói e vilão (Beja Santos)
Publicado por Luís Graça
 


6º = 253
7º = 252 

Publicad0 por Tabanca Grande Luís Graça



8º = 229

Sábado, 2 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24609: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (8): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: a morte à saída da Missão do Sono em Bambadinca, na madrugada do dia 1 de janeiro de 1970
Publicada por Tabanca Grande Luís Graça 



9º = 209 

Publicado por Tabanca Grande Luís Graça
 


10º = 207

Publicado por Tabanca Grande Luís Graça


1. Estes são os dez postes com mais visulizações ("top ten") durante o ano de 2023. É uma simples curiosidade, não tem valor estatístico em si,não confere nenhum "diploma"... O número de visualizações vai de 1,77 mil a 207. 

Mas congratulamos os autores, nossos camaradas e/ou amigos, que assinam alguns destes postes: António Murta, Virgínio Briote, Beja Santos, Cherno Baldé, Jorge Araújo, Patrício Ribeiro, Mário Arada Pinheiro... Os postes não assinados são da autoria dos editores.

Como já o temos dito em edições anteriores, a expressão "postes mais visualizados" não quer dizer os "postes mais comentados" nem sequer os "mais lidos"... O poste pode ter sido, num dado dia, clicado "n" vezes, sem nunca sequer ter sido lido... A visualização, em todo o caso, implica um "clique", carregar num link...Se alguém estiver a ler os postes publicados na última semana (por exemplo, postes de P25044 a P25037) tem acesso a eles todos, sem ter que os "linkar"... (e, portanto, para a estatística não contam).

Estes resultados têm, pois, que ser vistos com muitas reservas e cautelas... Não significam necessariamente "maior popularidade", "maior revelància", "maior interesse"... Por exemplo, não temos meios para distinguir o interesse dos leitores e as pesquisas feitas por robôs... Repare-se que, entre estes 10 postes, só 4 foram publicados em 2023...  

É bom ter em conta que o  título da série, a ilustração, e os marcadores, descritores ou "tags", ou o próprio título do poste, também podem influenciar a pesquisa ou a visualização...

(Cotinua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25044: O nosso blogue em números (88): 690 mil páginas visualizadas em 2023, o que dá uma média de 1890 por dia... Total acumulado: 14,8 milhões

Guiné 61/74 - P25044: O nosso blogue em números (88): 690 mil páginas visualizadas em 2023, o que dá uma média de 1890 por dia... Total acumulado: 14,6 milhões,


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)

1. C
ontinuamos a publicar alguns números sobre a nossa atividade bloguística em 2023 (*). 

O nosso blogue atingiu, no final do último ano, cerca de 14,6 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...) (Gráfico n.º 3). 

Esta contagem é apurada da seguinte maneira:   

(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até final de maio de 2010 (de acordo com o nosso primeiro contador);

e (ii) c. 12,8  milhões, desde então até 31/12/2023 (segundo o contador do Blogger).

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador (o Bravenet); o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de 1 de junho de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero...

Em 2023 tivemos 690 mil visualizações (da parte de 4,64 mil visitantes). Houve um aumento  de  cerca de 10 % relativamente ao ano anterior, relativamente à vizualização de páginas (**). 

O número de "visitas de página" foi ligeiramente maior no  2.º semestre (n=360 mil visualizações) do que no 1º (n=330 mil visualizações). 

Em média, tivemos 1890 visualizações por dia (mais 190 do que no ano anterior).


Gráfico nº 4 - Evolução das visualizações de página ao longo do ano de 2023
Fonte: Blogger (2024)


2. Achamos que não vale a pena desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos, de acordo com a experiência passado, que o movimento é variável conforme os meses, as semanas e os dias:  por exemplo, houve vários picos, em 2023, com valores acima das 12,5 mil  visualizações diárias:
  • 14,8 mil (em 20 de janeiro);
  • 13,7 mil (em 21 de novembro);
  • 13,0 mil (em 8 de dezembro)
  • 12,6 mil em 30 de janeiro).
Mas estes  picos não têm qualquer significado estatístico (são "outliers"): em geral estão associados à atividade de robôs que fazem capturas de página. O nosso blogue é seguido, regularmente, por exemplo, pelo Arquivo.pt (que em 2023 fez 4 capturas de páginas, em janeiro, fevereiro e março).  

Como é sabido, "o Arquivo.pt  é uma infraestrutura de investigação que permite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996. O principal objetivo é a preservação da informação publicada na Web para fins de investigação".

Também o Internet Archive, desde 11 de junho de 2007 e 3 de dezembro de 2023 fez 194 "capturas" do nosso blogue. (É o maior da Web, já guardou 855 mil milhões de páginas; temos lá recuperado páginas, em português, que desapareceram).

Por outro lado, o nosso servidor, o Blogger, faz hoje mais controlo, do que no passado, sobre o SPAM e outras visitas indesejáveis na caixa de comentários.
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Nota do editor LG:

Guiné 61/74 - P25043: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VIII: mais um flagrante do fotógrafo Joshua Benoliel, no embarque do CEP para França: a cena tocante de um camarada que escreve, em cima do joelho, um bilhete-postal de despedida, para a família de um outro camarada






Legenda: "Expedicionários portugueses: escrevendo a um camarada uma carta para a família". ("Cliché": Benoliel)


Capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 575, Lisboa, 26 de fevereiro de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 10 centavos.)

Observações: O jornal diário, republicano, "O Século", custava 1 centavo (uma centésima parte do escudo, a nova moeda que valia mil réis da antiga). Com o início da I Grande Guerra, e a escalada dos preços, há uma crise do papel que vem afetar  brutalmente a toda a imprensa (nacional e estrangeira). O quilo de papel que, emPortugal,  custava 8 centavos, disparava rapidamente para os 50.

 "O Século" passará a custar 2 centavos (20$00 réis,  um vintém), a partir de 1 de fevereiro de 1918.  Era, a par do "Diário de Notícias", o jornal de referência dos lisboetas.  A imprensa escrita tem o seu "boom" nesta época, que antecede a rádio (anos 20) e a televisão (anos 50). Apesar da censura imposta pela entrada de Portugal no conflito (a declaração de guerra da Alemanha contra Portugal data de 9 de março de 1916), é apenas pelos jornais que as famílias têm notícias do  que se passa nos teatros de operações (na Europa e em África). Dado o seu custo, e a deficiência da cobertura da rede, o telefone era proibitivo.

Em 26 de fevereiro de 1917, a "Ilustração Portuguesa" custava (o número avulso) 10 centavos, não sendo portanto para todas as bolsas, estava apenas ao alcance da classes média, média alta e alta. (A edição de 4/2/1918 já custava 12 centavos e no final dos anos de 1918 e 1919, 15 centavos, passando a 20 centavos, no final de 1920.  Na época (1917, o salário médio entre os rurais era de 60 centavos,diários, um pouco mais alto entre o operariado fabril. A inflação, por seu turno, torna- se "milionária":  a valores atuais, o coeficiente de desvalorização moeda era superior a mil por cento: mais de 3 mil (para 1916), de 2,4 mil (para 1917) e de 1,7 mil (para 1918).


1. O fotojornalista  Joshua Benoliel (1873-1932) é o autor deste "flagrante": antes da partida para França, no cais de embarque, em Alcàntara, dois militares do CEP estão anichados a um canto, junto a uma carroça, retirados do resto da tropa: vistos de perfil, um deles (lado esquerdo) escreve, em cima do joelho, uma carta  ou um postal que outro camarada (à direita) lhe dita , e terá por certo como destinário a sua família, algures na terra...

É uma cena tocante, pela solicitude, pela camaradagem, pela entreajuda, pelo momento único de separação, saudade, angústia e incerteza, que representava para aqueles rapazes a partida para a guerra.  

Na  cobertura jornalística  que fez da partida do  CEP (Corpo Expedicionário Portuguès) para França, entre janeiro e outubro de 1917, o Joshua Benoliel privilegiou estes cenas mais intimistas da separação e da despedida.

De acordo com o censo de 1911, em 5,960 milhões de habitantes, 75,1% eram analfabetos,  (68,4% dos homens e 81,2% das mulheres), com maior predominância nas zonas rurais.

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25033: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VII: outra foto fabulosa, intimista, do Joshua Benoliel, na partida do CEP para França: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe ao lado, de xaile; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu)

sábado, 6 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25042: O nosso blogue em números (87): Ainda continuamos vivos ao fim de 20 anos, e a publicar em média 3 postes por dia em 2023



Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Esperando que o 2024 seja melhor do que o de 2023 e os anteriores (que foram "pandémicos"), aqui estamos para fornecer aos nossos grão-tabanqueiros (isto é, aos membros registados no blogue da Tabanca Grande, na verdade os "nossos sócios" ou "accionistas", ou "shareholders"), aos nossos editores, autores, colaboradores permanentes, comentadores e todos os demais "stakeholders", alguns elementos do nosso "relatório & contas"... 

Como é costume lembrar, fazemo-lo, não por imperativo legal (ou até ético), mas apenas pelo gosto de cultivar a nossa "memória".

Estes dados estatísticos, para além da "prestação de contas" (que são devidas aos membros da Tabanca Grande, enfim aos amigos & camaradas da Guiné, afinal a quem nos lê, a quem nos comenta, a quem nos escreve, a quem nos divulga, a quem nos segue, a quem nos acarinha...), também servem para "memória futura".

E começando pelo Gráfico nº 1, vê-se que "ainda continuamos vivos", ao fim de quase 20 anos a "blogar" (na realidade, a data de nascimento do blogue é 23/4/2004, se bem que nesse ano no apenas tivessemos publicado 4 postes, e 385 em 2005)... 

Enfim, e tudo isto apesar dos notórios problemas de morbimortalidade que também nos atingem... Temos alguns problemas de saúde (o editor Luís Graça, o coeditor Jorge Araújo, mas também o fidelíssimo Carlos Vinhal, mesmo não se queixando nem mostrando as mazelas...), alguns dos nossos melhores já faleceram,  há uma cansaço generalizado, o filão das nossas memórias vai-se esgotando, etc.

Nenhum de nós previa uma tão grande longevidade para o nosso blogue. Vinte anos na Internet é uma eternidade. Acabámos de ultrapassar no final do ano os 25 mil postes publicados...


2. Como, de resto, já assinalou, em poste anterior (*), o nosso coeditor Carlos Vinhal, o número de postes publicados, durante o ano de 2023, foi de 1089, ligeiramente superior ao de 2022 

Como é sabido,  o nosso recorde, inultrapassável, foi o ano de 2010, em que atingimos um valor máximo, histórico, de 1955 postes publicados (!) (cerca de 5,4 postes por dia)...  

A partir daí, verifica-se  uma tendência descrescente, que faz parte da "ordem natural das coisas"... (No Gráfico nº 2, dá para perceber a "montanha"que subimos, a partir de 2006, e que agora estamos a descer, naturalment; entrámos em "velocidade de cruzeiro" a partir de 1 de junho de 2006)...

Grosso modo, continuamos a publicar 3 postes por dia (número médio mensal das publicações foi de 91)... Como o Carlos Vinhal já nos mostou, o  mês menos produtivo foi o de março, com apenas 73 postes, e o mais produtivo o de dezembro, com 122. (**)

(Continua)

Guiné 61/74 - P25041: Os nossos seres, saberes e lazeres (608): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (136): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Consulto com frequência uma obra esplêndida editada pelas Seleções do Reader's Digest, intitulada Tesouros Artísticos de Portugal, nela muito tenho aprendido. Qual a minha surpresa, pouco se diz sobre Tabuaço, muito pouco sobre Favaios e nenhuma alusão a Trevões, isto quando o Solar dos Caiados é obra de referência em todos os livros sobre a arquitetura barroca e a igreja matriz de Santa Marinha monumento nacional. Acresce que esta população trata com imenso carinho dois museus, o da Arte Sacra e o Etnográfico. Fiquemos hoje com o espólio do de Arte Sacra, vai da Pré-História, fundamentalmente até à era barroca, dá para ver que por aqui se compraram peças muitíssimo boas e os trabalhos de restauro da igreja matriz revelaram pintura mural de valor inexcedível. E depois desta opípara visita à Arte Sacra partimos para o Museu Etnográfico, outra grande beleza, mostra de orgulho local, como iremos ver.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (136):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (5)


Mário Beja Santos

Continuamos em Trevões, é um deslumbramento, tudo começou por andar a cirandar por este belo lugar, os solares deslumbram e inquietam, como foi possível ter deixado esta vastidão de sinais de prosperidade e até paço episcopal, que acontecimentos marcaram este estado de abandono e fuga de populações? Depois da visita da igreja de Santa Marinha, era indispensável conhecermos dois museus, começámos pelo de Arte Sacra, encheu-nos as medidas. É o que aqui se vai contar.


A casa é de 1812, quem ali vive procura o conforto e resguardou-se atrás de uma janela de alumínio. O que faz pensar na falta de estudos sobre os materiais mais convenientes para a preservação do património. Devia haver matrizes quanto às exigências do que se pode usar nestes locais históricos, a questão começa finalmente a merecer a devida preocupação das autarquias.
Há licor de vinho duriense por toda a parte em Trevões, não resisti ao odor, pedi licença para fotografar a preparação da bebida de Baco
Para mim, uma das mais impressionantes peças do Museu de Arte Sacra. Uma Cruz de Cabeceira em granito, séculos XII-XIII, proveniente da Igreja de Trevões
Sarcófago em granito, da Alta Idade Média (476-1000), peça de Trevões
Santo André Apóstolo, 1.ª metade do século XVIII, madeira de castanho-dourada, pintada e policromada
O apóstolo São Pedro, trabalho do século XVII
Esqueci-me da legenda, adorei esta imagem, há nela algo de hindustânico, tanto no seu resplendor como nos traços do rosto, que beleza
Fragmento de pintura representando a Via Sacra, trabalho português, século XVIII
S. Gabriel pesando as almas, trabalho do século XVIII
O Museu de Arte Sacra de Trevões reserva espaço ao estudo das pinturas murais na igreja matriz de Santa Marinha. Estas pinturas foram descobertas em duas fases, uma situada na nave e outra na parede cabeceira da capela-mor. Na primeira fase (1943 até 1958), retornaram à luz dois frescos, quase integrais; em 2001, na sequência de obras de conservação e restauro da talha do retábulo maior foram descobertos dois painéis pintados ao longo da cabeceira; foi então que apareceu a imagem de Santa Marinha, matrona da freguesia, obra da viragem do século XV para o século XVI, trata-se de trabalho atribuído a Baltasar Fernandes.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25018: Os nossos seres, saberes e lazeres (607): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (135): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25040: Tabanca Grande (554): Alberto Pires, "Teco", natural de Angola, ex-fur mil da CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jul 1966): passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 883


Alcobaça > São Martinho do Porto > Tabanca de São Martinho do Porto > 21 de agosto de 2010> O Alberto Pires, o Teco, ex-Fur Mil, CCAÇ 726 (Guileje, 1964/66): passa a integrar a nossa Tabanca Grande, sob o n.º 883.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso coeditor Virgínio Briote com o Alberto Pires ("Teco")  e o Carlos Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726 (Outubro de 1974 / junho de 1966), sob o comando do cap art Nuno Rubim... Voltaram mais tarde, em 2006-2008,  a colaborar juntos no desenho e construção do diorama de Guileje (*)... Além de colaboradores, o Nuno Rubim teve neles dois grandes amigos. O "Teco", que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se oferecer, como voluntário, para os Comandos do CTIG, onde foi camarada do Briote... 

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III).


Guiné> Região de Tombali > Guileje  > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66)  > Vista aérea do aquartelamento e tabanca, após violento ataque do PAIGC, em 4 de dezembro de 1964 (diz a legenda da foto, mas pode ter sido a 29 de novembro de 1964... Diversas instalações civis (moranças) e militares foram destruídas e metade da companhia foi ferida.


Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (out 1964/jul 66) > O sold José Fidalgo (falecido em 2005), contemplando a imagem de uma santa da sua devoção (por certo a  Virgem Maria)
 
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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O temível morteiro 81, o "Botabaixo" (bem manobrado, fazia razias entre o pessoal atacante, num raio até 6 km)


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > A célebre e heróica Fox, de matrícula MG-36-24, que resistiu a tudo e todos, acabando ingloriamente, como ferro velho, nas mãos do PAIGC em 25 de maio de 1973 (após a retirada de Guileje, três dias antes). 

O historial da  Fox MG-36-24 também merece ser aqui relembrado: pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: BêbedaDiabos do Texas... Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em maio de 1973, quando ocuparam o quartel! Portanto a Bêbeda (que vai ficar para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje (**) ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"...  

Fotos (e legendas): © Alberto Pires (Teco) (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Alberto Pires, mais conhecido por "Teco" já devia, por direito próprio, ser membro da Tabanca Grande, teve 13 referências no nosso blogue, e dezenas de fotos, da sua autoria publicadas. Foi fur mil da CCAÇ 726 (Guileje, out 64 / jul 66), tal como o Carlos Guedes (**).


Do seu álbum fotográfico da Guiné (com mais de 500 fotos) pôs à disposição do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, e do nosso blogue mais de 6 dezenas. 

Encontrámo-nos duas vezes, e estava convidado para integrar a Tabanca Grande. As fotos não traziam legenda, mas estavam agrupadas por 5  temas:

(i) CCAÇ 726 (Guileje); 
(ii) construção de abrigos (Guilje); 
(iii) destacamento de Mejo; 
(iv) operações militares:
(v) guerrilheiros mortos.

Já aqui reproduzimos uma boa parte na série "Álbum fotográfico do Alberto Piores, 'Teco' (...) (***).

Corrigimos hoje uma pequena injustiça. O Alberto Pires ("Teco") passa a ser o primeiro grãotabanqueiro do ano de 2024 (****). Infelizmente não temos tido notícias dele (nem do Carlos Guedes), Esperemos que ambos estejam bem, e de saúde.


2. Fichas de unidade : Companhia de Caçadores n.º 726

Identificação:  CCaç 726
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Cmdt: Cap Inf Joaquim Manuel Martins Cavaleiro | Cap Inf Arménio Augusto da Silva Teodósio | Cap Inf Joaquim Manuel Martins Cavaleiro | Cap Art Nuno José Varela Rubim
Divisa: -
Partida: Embarque em 060ut64; desembarque em 140ut64 | Regresso: Embarque em 07Ago66

Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, substituíu a CArt 676 no dispositivo e manobra do BCaç 600, efectuando simultaneamente uma instrução de adaptação operacional na região de Quinhámel sob orientação da CCaç 508 e deslocando entretanto dois pelotões para Guileje, em 280ut64 e 17Nov64.

Em 25Nov64, a subunidade foi toda colocada no sector de Guileje, então criado, na dependência do BCaç 513 e depois do BCaç 600 e ainda do BCaç 1861, anteriormente ocupado por um pelotão da CArt 495. 

Tomou parte em diversas operações do sector e executou diversas acções de emboscadas e patrulhamentos no corredor do Guileje, em coordenação com outras subunidades. 

Por períodos variáveis, destacou ainda pelotões para reforço temporário das guarnições de
Gadamael e Cacine.

Em 30Mar95, na sequência da operação "Arpão", ocupou a povoação de Mejo, onde foram instalados dois pelotões.

Em 27Jan66, cedeu dois pelotões para reforço da CCaç 1424, que se instalaram em Cachil, na zona de acção do BCaç 1858.

Em 02Ju166, por rotação com a CCaç 1424, passou a integrar o dispositivo e manobra do BCaç 1858, assumindo a responsabilidade do subsector de Cachil mantendo no entanto um pelotão no destacamento de Mejo. 

Em 16Ju166, foi substituída pela CCav 1484 e seguiu para Catió, até à chegada da CCaç 1587.

Em 06Set66, após chegada a Catió da CCaç 1587, seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade. Sabemos que teve as seguintes baixas em combate de Novembro de 1964 a Junho de 1966:  Mortos: 9 |  Feridos: 80 (sobretudo no ataque de 29/11/1964). 

Fonte: Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 333.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25037: E as nossas palmas vão para... (24): Nuno Rubim (1938-2023), autor do Diorama de Guileje, uma pequena obra-prima, que levou dois anos de trabalho, paixão, rigor... Foi oferecido, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje   

(**) Vd. poste de 24 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6464: Tabanca Grande (221): Carlos Guedes, Fur Mil Arm Pes Minas e Armadilhas, CCAÇ 726 e Comandos do CTIG (Guileje e Brá, 1964/66)

Guiné 61/74 - P25039: Parabéns a você (2238): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25029: Parabéns a você (2237): António Ramalho, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2639 (Bula, Binar e Capunga, 1969/71)