Guiné> Região do Cacheu> Susana> Vista aérea do Aquartelamento
Foto: © Major J. Mateus (BCAV 3846) (2007). Direitos reservados
1. Em mensagem do dia 22 de Outubro de 2007, o nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73), enviou-nos a VI Parte de Suzana, Chão Felupe (1).
Caros camaradas
As minhas notas anteriores disseram respeito ao Casamento.
Agora é a vez da sequência lógica: Princípio e Fim da Vida.
2. Comecemos pelo "Princípio".
Quando uma mulher engravida, a sua actividade sexual é interrompida até que nasça a criança. O mesmo não acontece nas suas actividades normais, mesmo as mais pesadas, que se prolongam práticamente até ao acto de parir.
Existem alguns tabus, quanto ao nascimento. O costume é a mulher prestes a dar à luz ir para um local reservado da tabanca (maternidade?). Ela é semi-despida na entrada do local, sendo as suas roupas abandonadas no exterior para depois serem removidas e queimadas.
O marido não é informado desta deslocação, nem tão pouco do seu estado de saúde ou do sexo do bébé, até que a mãe volte para casa com a criança.
A mãe e o filho apenas podem aparecer em público quando o cordão umbilical cair e, para tal aparecimento, ambos terão a cabeça rapada.
Se a criança nascer morta ou morrer antes da apresentação pública, o seu corpo é enterrado sem qualquer cerimónia especial e o pai é informado de que não nasceu filho algum.
Se a mãe morrer durante o parto, o seu corpo é levado para casa tendo lugar uma cerimónia pública.
Fim de vida
Quando morre um Felupe, o seu corpo é enterrado, no máximo, no fim do dia seguinte ao falecimento. Toques de bombolom são o meio utilizado para anunciar o acontecimento e todos os que podem interrompem o seu trabalho para visitar a família do falecido, cujo corpo é lavado, vestido e exposto.
O toque de bombolom era utilizado para este fim e muitos outros, embora para o meu ouvido, habituado aos Beatles e aos Rolling Stones, o toque fosse sempre igual. Só para o fim da comissão é que comecei a detectar algumas (poucas) diferenças.
Se o morto é um adulto, todos, exceptuando os familiares dançam. Quem não tem vontade ou não quer ou não pode dançar, canta. O corpo é envolto em panos e depois numa esteira sendo levado ao terreiro da dança.
Para os Felupes a morte de um adulto é um sinal de que o Emitai havia decidido que o seu ciclo de passagem terrena tinha sido concluído. Daí haver lugar a Ronco (festa), podendo ser morto um animal em honra do defunto.
Se pelo contrário, a morte for de uma criança ou adolescente, incluindo mulher nova mas casada, haverá lugar para Choro, que será de dois dias se se tratar de um recém -nascido.
Tive a oportunidade de assistir a alguns. O choque foi grande, mormente no primeiro. Devo dizer, por ser verdade, que não estava preparado para aquele tipo de cerimónias, muito embora estivesse avisado do que se iria desenrolar.
A presença de militares graduados era, desde que suficientemente discreta, considerada uma honra para a família. Não me apercebi em qualquer das situações da presença de outras etnias, embora vizinhos.
No primeiro funeral, em Bujim, a falecida foi colocada sentada sob o maior poilão da tabanca, vestida com pano novo, que pode ser substituído pelo pano que ela mais gostava em vida, nada diferente do que se passa em muitos dos funerais realizados nas nossas terras.
O tempo do funeral é, se possível, de um dia solar. Durante todo esse tempo um pequeno grupo de mulheres roda em circulo, no sentido contrário ao ponteiro do relógio, para os Felupes no sentido do ocaso para o nascer do sol. Um outro circulo exterior ao referido e com um número mais elevado de mulheres roda no sentido oposto.
Todas as mulheres pertencem à família da falecida, à tabanca onde tinha morança ou eram amigas da família. O significado, tal como me foi explicado, é bem simples. O circulo interior (menor número de mulheres) representará a morte, o retrocesso. O circulo maior, exterior, representa a vida, o seu contínuo avanço, a vitória. E a vida leva sempre a melhor.
Existe uma diferença significativa entre um Choro de um recém-nascido e o de uma criança ou adolescente. A diferença é que no do recém-nascido não existem circulos de mulheres, aparecendo apenas os familiares e amigos com a cabeça coberta de lama, sinal de luto.
Devem situar-se, normalmente, na periferia do terreiro onde se realizam as cerimónias do funeral.
O tumulo é circular, alargando abaixo da superfície. Foi-me referido que a posição final seria a sentado na posição de nascimento (posição fetal). Foi-me impossível confirmar tal facto, bem como se acompanham o morto quaisquer objectos ou alimentação, embora tal me fosse sugerido.
Foto 1> Túmulo circular Felupe
Foto 2 > Familiares de Felupe falecido
Tudo o que tenho escrito corre o risco de não corresponder à total realidade.
Os motivos são vários e podem ir da minha falta de percepção até erros de tradução fortuitos ou involuntários.
Devo acrescentar que a jornalista Isabel Silva Costa, fez um óptimo trabalho em meados dos anos 90, do século passado, exactamente sobre o funeral de Mulher Grande na etnia felupe.
Por hoje terminado
Kassumai
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Trms
CCAV 3366
Texto e fotos: © Luiz Fonseca (2007). Direitos reservados)
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Nota do co-editor CV:
(1) Vd. Posts anteriores desta série:
15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2052: Cusa di nos terra (5): Susana, Chão Felupe - Parte I (Luiz Fonseca)
31 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2074: Cusa di nos terra (6): Susana, Chão Felupe - Parte II: Religião (Luiz Fonseca)
5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2081: Cusa di nos terra (7): Susana, Chão Felupe - Parte III: Trabalho, lazer, alimentação, guerra, poder (Luiz Fonseca)
16 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2110: Cusa di nos terra (9): Susana, Chão Felupe - Parte IV: Mulher e Comunitarismo (Luiz Fonseca
6 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2156: Cusa di nos terra (10): Susana, Chão Felupe - Parte V: Casamento (Luiz Fonseca)
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