terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5249: Estórias avulsas (56): Um tiro que tapou o sol na Ponte Marechal Carmona (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 9 de Novembro de 2009:

Caros camarigos

Pois eu, sobre a ponte Marechal Carmona, a Sul do Xitole, nada sei sobre a sua construção, arquitectura, nem a razão porque o seu tabuleiro central ruiu.

Mas tenho uma história nessa ponte!

Um dia fiz com o meu pelotão um patrulhamento até à dita cuja que, se bem me lembro, até era um passeio agradável e não muito comprido e desgastante.

Lembro-me que a ponte tinha nas suas ruínas os traços de uma bela obra de arquitectura e de estar ali a pensar como seria bom se tivéssemos ainda a ponte para passar para o outro lado, pois abria-nos uma perspectiva diferente, não só centrada em Bambadinca.

Por uma qualquer razão, da qual já não me lembro, um soldado pediu-me para fazer um disparo com a G3, (talvez algum crocodilo, sei lá), e eu perante a tranquilidade do sítio dei o meu consentimento.

Quando o soldado deu o tiro, ouviu-se um barulho ensurdecedor e uma nuvem tapou o Sol, criando ali um momento de tensão até nos apercebermos do que tinha acontecido.

A causa de tal acontecimento era muito simples!

Debaixo do resto do tabuleiro da ponte, do nosso lado, tinham-se levantado milhares de andorinhas, (acho que eram andorinhas), que originaram aquele ruído e aquela nuvem, que nos tinha assustado um pouco, claro que a uns mais do que outros.

Regressámos ao Xitole por onde tínhamos vindo, acho eu, e sem qualquer problema.

Embora houvesse, ao que sabemos, abelhas assassinas na Guiné, aquelas andorinhas eram pacíficas.

Aqui fica uma história sobre a ponte Marechal Carmona, que nada revela sobre a dita cuja, mas que é engraçada e julgo não despertará nenhuma polémica.

Aqui fica o meu abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


2. Declaração de interesse próprio:

Há por aqui alguns camarigos, que respeito inteiramente e sem qualquer ironia, que são muito rigorosos acerca dos locais, das datas, das pessoas, etc.
Quero desde já afirmar que tudo o que escrevo tem uma dose muito grande de incerteza de memória, mas que a meu ver não impede em nada que se escreva e conte o que lembramos, desde que claro, essas incertezas memoriais não colidam com a vida de terceiros ofensiva ou injustamente.
Tenho dito!
JMA

Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Sector de Xitole > 10 de Março de 2009 > Vista, da margem direita (lado do Xitole), da antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a montante do Xitole (cerca de 5 km a sul). Segundo o Carlos Silva, a ponte terá ficado inacabada por razões de deficiência na concepção ou construção ou então umas ou mais das secções terá ruído, possivelmente na sequência de uma cheia no rio... A vermelho assinala-se o segmento da ponte que caíu ou nunca chegou a ficar concluído, junto à margem esquerda.

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5185: Convívios (171): Convívio da CART 3492 & Restante pessoal que passou pelo Xitole (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5234: Estórias avulsas (55): O ar assustado de uma prisioneira de guerra (António Tavares)

17 comentários:

Luís Graça disse...

Joaquim:

Nada de polémico, dizes tu... Como eu entendo as tuas cautelas!... Mas pelo sim, pelo não, fazes uma declaração de interesses (ou de conflito de interesses?):

"Camaradas, não me venham acusar de anacronismos, falta de rigor factual, pobreza na descrição da fauna e da flora, inexistência de eruditas notas de pé de página ou outros quejandos crimes literários, que eu escrevo de memória, de rajada, sem raiva mas também sem quaisquer preocupações de datas e horas, latitudes, longitudes, e por aí fora...

"É que andam para aí uns senhores, de lunetas no nariz, e de palmatória na mão, à cata do ponto e da vírgula, como no tempo da nossa escolinha do lá vamos cantando e rindo"...

Mais preocupações éticas não podia haver, por parte de um bom e leal camarada e melhor amigo como tu. Tens, a teu favor (e isso conta muito!) o facto adicional de não falares de cor, mas sim de cátedra: tu andaste mesmo a gastar as botas da tropa lá pelas picadas e bolanhas das bacias hidrográficas do Corubal, do Geba e do Mansoa... E isso só pode abonar a teu favor...

Enfim, não calhou a todos a sorte grande de ir fazer uma 'temporada de férias' na Guiné...

Com que então o menino Joaquim, fadista, esteve à beira do Rio Corubal, na misteriosa ponte Carmona, em altas meditações metafísicas no mais absoluto silêncio da floresta-galeria, mais o seu bando quais hebreus à beira do Rio Jordão, chorando a Jerusalém perdida e distante:

Va', pensiero, sull'ali dorate;
va', ti posa sui clivi, sui colli,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!

Del Giordano le rive saluta,
di Sionne le torri atterrate...
Oh mia patria sì bella e perduta!
Oh membranza sì cara e fatal!

Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie nel petto raccendi,
ci favella del tempo che fu!

O simile di Sòlima ai fati
traggi un suono di crudo lamento,
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù.

(Hino cantado pelo povo hebreu que, no Nabucco, de Verdo, é derrotado pelos Assírios, deportado para Babilónia e reduzido à escravidão)

Queres ouvir a musiquinha - uma obra-prima a música lírica italiana e ocidental -, clica aqui:
http://italiasempre.com/verpor/vapensiero2.htm

PS - Andorinhas, Jaquim ? Ia a jurar que nunca as vi na Guiné... Mas é feio jurar e depois abjurar...

Antonio Graça de Abreu disse...

Havia andorinhas na Guiné, e muitas,
até em Bissau. Juro que vi.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Joaquim Mexia Alves disse...

Andorinhas Luís, andorinhas, foi o que me disseram e eu assim acreditei.

Que eram parecidas com a ave em questão eram, talvez maiores, andorinhões?, que eu de ornitologia percebo pouco!

Juro que não eram jagudis!!!

Não sei se sabes mas acertaste na "mouche" pois eu sou apaixonado por ópera, que como dizia o António Silva no Páteo das Cantigas, "é a melhor música para...operários".

Então se for o Rigoleto!!!

Olha que o homem é Verdi e já se sabe que foi o raio do teclado que te fugiu!!!eheheh

Abraço camarigo para ti e para todos

Joaquim Mexia Alves disse...

Obrigado António, que afinal vieste confirmar as ditas andorinhas!

Um abraço para ti também

Luís Graça disse...

Verdi, pois claro!... Aqui fica a errata, não vá alguém memorizar o Verdo e deixar-nos mal, ao nosso blogue, sob a acusação de INCULTURA GERAL!!!

Joaquim: a culpa não é do dedo (nem da língua, que não é achada nem... metida nestes buracos) mas do raio do teclado do meu pobre portátil que, de tão batido, já nem tem letras (visíveis): QWERTTYUIOP...

Obrigado pelo teu olho (clínico). Luís

Luís Graça disse...

António:

Acredito na tua palavra, e não duvido que houvesse andorinhas na Guiné... Cego é o que não quer ver, e eu era dupalmente cego: (i) nunca vi ninhos de andorinhas; (ii) e muito menos a primavera...

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Luís

Parafraseando ao contrário o conhecido fado de Lisboa, não é por não se ver a Primavera, que não há andorinhas!!!

Hoje deu-me para chatear, o que queres!!!

Estou bem disposto, é o que é! Também, não sei quando é que não estou bem disposto?!

Abraço

Hélder Valério disse...

Caro Mexia Alves

"... não despertará nenhuma polémica" dizes tu, assim à cautela, como quem não quer a coisa (mas sempre a querê-la)...
Afinal o que é que temias?
Correcções ao nome da ponte?
Observações quanto à intensidade, altura, inclinação do Sol?
Falha na contagem dos passarucos?
Na côr dos mesmos?
Pois é, tens mesmo razão, há que ter todo o cuidado e fazer todo o esforço para seres também "geralmente bem informado".
A avaliar pelos comentários que já suscitaste é caso para nos interrogarmos: olha se o texto fosse mesmo 'polémico?'.
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caríssimo Mexia Alves! Creio firmemente haver limites para TUDO!Apesar dos velhos tempos do Colégio em comum,e da minha sincera amizade pelo teu Irmao mais velho(e aqui falo muito a sério!),nao posso admitir,ou sequer compreender,a tua total ignorancia sobre dois factos zoológicos que estiveram mesmo na origem de dois dos mais renomados prémios mundiais atribuidos ás ciencias da Natureza.O primeiro destes prémios,e como é de compreender o mais importante para mim/nós,foi atribuido em cerimónia muito luzidia,pela distinta Associacao de Criadores-Amadores de Pombos-Correios com local de reunioes no tao saudoso Pátio-do-Báuto/Campo de Ourique/Lisboa.O segundo,na estranja,o de um tal Nobel,mas para mim muito desacreditado depois dos contactos por estes tidos com um tal senhor Saramago(Atencao!Política á parte!).Ficou cientificamente demonstrado (julgava eu!)que as alimárias por ti observadas mais nao eram que "Ui!Ui!" voadores.O período do ano por ti descrito mais nao é que aquele em que os "Ui!Ui!" criam-asa,e,em comportamento estranho formam bandos(Mais uma vez ATENCAO! Nao os do sr.General Bruno!)junto ás pontes e outros edifícios em arco.Espero que,em humildade que só bem te fica aceites estes dados .......a bem da verdade. (PS/ Lamento nao ter ao dispor nenhum Escudo Heráldico,ou sequer um simples Emblema do Benfica para dar maior sentido de AUTORIDADE ao que acabo de......corrigir!) Respeitosamente de V.Ex José Belo.

Anónimo disse...

Sr. José Belo,
Peço desculpa por me meter no assunto mas, o Sr. Joaquim Mexia fala de andorinhas, é confirmada a sua existência na Guiné pelo Sr. António Graça de Abreu, e o Senhor diz que ele não entende de pombos?
Filomena

Anónimo disse...

Desculpem-me o "voltar á carga"!Mas,curtíssimos minutos passados após o que anteriormente escrevi,fui atacado de um indiscritível sentimento de angústia profunda perante perguntas que poderiam surgir junto de alguns dos camaradas,do tipo:-Porque é que o gajo se refere,como emblema do exemplo dado ao.....Benfica? Garanto,e mais uma vez a...bem da verdade,que nada tem a ver com miserável atitude clubista-descreminatória.Foi,unicamente,pelo colorido das camisolas,pois ainda há alguns estranhos saudosistas que gostam do....vermelhusco.josé Belo.

Anónimo disse...

Caríssima Filomena. Nao me diga que,tal como o Mexia Alves,e aparentemente outros Camaradas do blogue,desconhece a notória capacidade(cientìficamente demonstrada)de camuflagem por parte dos nao ingénuos "Ui!Ui!".A Benemérita Associacao dos Criadores-Amadores-de-Pombos do saudoso Pátio do Báuto/Campo de Ourique/Lisboa,nao apoiava unicamente os pombinhos mas sim todos os bicharocos-asados,mesmo os provisórios,como no caso notável dos "Hui!Hui!" da Guiné.Considere-me sempre ao seu total dispor para todos os esclarecimentos relacionados com estes animais tao fascinantes.José Belo

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro José Belo

Obrigado pelo esclarecimento, tão esclarecedor, que fiquei perfeitamente esclarecido!

O meu irmão mais velho??? Tá bem, pois sim, para além desse tenho mais 7 e todos mais velhos que ele!!!
E quase passámos todos no memso colégio! Bem mas isto é pouco importante para o caso!

2ª coisa e esta sim muito importante!!!
Considero um insulto vires para aqui, num texto meu, falares do benfica, sabendo toda a gente que dado o meu "bom gosto" e paixão por José Régio, (como poeta, entenda-se), "sobretudo" o Cântico Negro, só podia ser adepto do Futebol Clube do Porto!!!
Quem não perceber esta graça, diga que eu explico! Coitado do José Régio a ver-se nestas andanças!

E agora finalmente vou desvendar o mistério da passarada em questão!
Tens tu razão e tenho eu, porque aquelas aves eram afinal "andorinhas Ui!Ui!", espécie única da Guiné e de alguns sítios mais ou menos conhecidos da Suécia, onde se dão igualmente dada a incrível similitude de clima!!!

Espero que o assunto fique definitivamente esclarecido, para que esclarecendo-nos uns aos outros, possamos, todos devidamente esclarecidos, vivermos esclarecidamente acerca destes assuntos que muitas vezes necessitam de esclarecimento.

Abraço camarigo para ti e para todos, esclarecidamente, claro!!!

Anónimo disse...

Caríssimo J.M.Alves.Espero que nao leves a mal o eu aqui aparecer mais uma vez.Mas é a única maneira que tenho de comunicar algo á nossa querida Amiga do blogue que assina Filomena.A Filomena nao andou,por certo,como nós pelas bolhanhas,mas o facto de querer compartilhar o blogue com estes soldados velhinhos e saudosistas me dá vontade de,com Amizade,tratá-la por "tu".Nao me trate,por favor,de "senhor".Zé,José,José Belo.(e já agora,só por Belo,ficarei feliz pois é o único de belo que tenho!) Um abraco sincero do José Belo.

Anónimo disse...

Boa noite Belo,
Efectivamente não andei convosco pelas bolanhas, mas conheço muitas das vossas histórias.
Se o faz feliz, quando me dirigir a si, tratá-lo-ei por Belo.
Fica combinado.
Só não percebi o motivo de ter direccionado o assunto para J.M.Alves.
Saudações
Filomena

Anónimo disse...

Querida Amiga Filomena. Fiquei contente com a resposta e principalmente com o....Belo! Escrevi J.M.Alves para tentar explicar ao meu Amigo que o comentário nada com ele tinha a ver.É que a Filomena tem que compreender que tudo isto é correspondencia entre velhinhos,muitos deles ainda(e sempre) apanhados pelo clima! Um grande abraco do Belo.

Anónimo disse...

Andorinhos e Andorinhas...

Passarões e Passaronas...

Passarinhos e Passarinhas..

Confirmo.Encontrei na Guiné.

Jorge Cabral