1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, com data de 14 de Janeiro de 2010, enviou-nos a seguinte mensagem/apelo:
Camaradas,
Foi-me entregue por um elemento da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar uma cópia de um manuscrito, que transcrevo, com o pedido se poderia fazer alguma coisa, visto ter sido combatente na Guiné.
Como estive sempre em Cufar, no Sul, ao ler este documento, achei de grande interesse, não só pela ajuda na resolução de um problema pessoal, que se reflecte na ansiedade deste homem, ao tentar fazer a vontade do falecido pai, bem como ter aqui uma história interessante, para conhecimento da guerra nesta região.
Haverá na nossa Tabanca alguém que tenha conhecimentos sobre o assunto? Aqui vão todos os contactos do nosso homem.
Não tendo material para poder enviar o manuscrito, julgo que a transcrição será a mais fiel possível (as palavras a bold são da minha responsabilidade).
Procuro notícias de meu pai Bubacar Tenem Balde
“ Lisboa, 20/10/2009.
Exmos Senhores Combatentes do Ultramar. É com muito prazer que vos escrevo esta carta.
Sou Seco Umaru Balde, de 42 anos de idade, Guineense, nasci na região de Gabu, sector de Pirada, secção de Bajucunda, numa aldeia chamada Copa, numa distância de 29 km a Pirada (fica junto à estrada que faz a fronteira com o Senegal).
Sou filho de Bubacar Tenem Balde, um homem muito conhecido pelas tropas portuguesas daquele quartel, um homem que se dedicou à caça e à agricultura. Foi também um homem que passou toda a sua vida entre a selva e a sua aldeia, e a sua função era controlar um espaço terrestre de 25 km, que separava as aldeias vizinhas, vigiando a movimentação das tropas do P.A.I.G.C., no mato, e transmitindo informações ao senhor Samuel, que era coronel, ou furriel, no Quartel de Copa, a fim de evitar eventuais ataques terrestres nos três quartéis da área.
Entre 1966 a 1973, o meu pai foi um braço direito da tropa do aquartelamento de Copa, e foi fundamental com as suas informações sobre a movimentação e a localização das tropas do PAIGC, neste espaço terrestre que dava acesso aos referidos quartéis.
Por esta razão, por três vezes, antes e depois de independência, ele foi duramente castigado pelo PAIGC, por ter desempenhado esta função; e eu, como filho, fui moralmente castigado logo aos (7) sete anos de idade.
Durante a minha infância sofri maus tratos, castigos morais e estive a pagar as culpas do meu pai, pelas funções narradas que ele desempenhou durante a luta da libertação nacional.
Depois da independência, o meu pai teve que fugir para o vizinho Senegal para se livrar do pior que lhe poderia acontecer. Lembro-me que ele um dia me disse: “Filho, eu vou ter que fugir com o resto da família para o Senegal, tu vais ter que ficar aqui na Guiné-Bissau, vais ter de pagar a minha culpa, vais ter que sofrer muito por minha causa, mas passe o que passar, resiste e estuda, que para amanhã possas contar esta minha e tua histórias ao mundo. Não pela voz, mas sim por escrito.”
Naquela altura, eu tinha sete anos de idade, ouvi, percebi, aceitei o desafio e aqui estou a cumpri-lo.
Em 2008, recebi da minha mãe uma carta que o meu pai lhe tinha deixado escrita um mês antes da sua morte. Ela guardou esta carta durante 22 anos, pela razão de lhe ter sido pedido para ma entregarem só quando eu fosse adulto. Foi o que a minha mãe fez, respeitando o pedido do meu pai.
Agora, quero terminar este silêncio. Quero escrever mais, mas, para o fazer melhor e com mais eficácia, preciso de testemunhos e provas. Provas estas, que só os ex-tropas portugueses que estiveram no serviço militar no quartel de Copa e Bajucunda (22 Km a Pirada), me poderão ajudar a revelar.
Para que eu possa localizar estes homens, ou trocar correspondência com eles, necessito do vosso maior apoio e quanto mais rápido melhor. Acreditem que tenho muito para vos contar, no que tem sucedido com muitas crianças como eu, depois de libertação daquele país lusófono.
Eu, atrever-me-ia a identificar-me como combatente infantil. Podia intitular este nome ao 1º. livro que escreveria se o pudesse fazer.
Por isso, agradecia muito que me ajudassem a contactar, ou a corresponder, com todo e qualquer tropa português, que tivesse estado em serviço militar em Copa, ou Bajucunda, no sector de Pirada, região de Gabu, entre 1966 a 1973.
Por favor, ajudem-me a realizar os sonhos do meu falecido pai, que ainda não contei, e faço questão de os contar a todos que me quiserem ouvir com atenção.
Termino dizendo-vos do fundo do meu coração, que estou de mãos dadas com todos os ex-Combatentes do Ultramar, do serviço militar pela força, coragem e sofrimento, que têm sofrido ao longo destes anos e continuam a sofrer nos dias de hoje.
Para terminar, agradeço a Deus que haja paz boa, longa vida e saúde, cheia de felicidades, aos que ainda nos acompanham neste mundo. Que haja paz para os espíritos das almas dos que ficaram pelo caminho.
Muito obrigado a Deus e ao vosso blogue.
Respondam-me por escrito ou pelo telefone.
É tudo do Vosso filho/neto de nome:
Seco Umaru Balde
Avenida da Liberdade, Nº 24 - 2º E
Monte Abraão
2745-290 QUELUZ
Telem = 966371381
Espanha = 0034 691 908 797
Esperando a atenção desejada para este assunto, o velho abraço do tamanho do Cumbijã, que já é de tanta gente.
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5656: Em busca de... (109): Manuel Quelhas, ex-1.º Cabo da CART 3567, Mansabá 1972/74, procura camaradas
1 comentário:
Caro Mário Fitas
Sobre COPÁ podem ser vistos os posts 3795, 3797 e 3810, de Janeiro de 2009, que falam das ubnidades que passaram pela zona,
O Helder Sousa, no post 3809, fala do livro NO OCASO DA GUERRA COLONIAL, escrito por Fernando de Sousa Henriques.
Do BCAV 8323, dos últimos de Copá, há tres elementos no blog - Post 5597.
Ab
José Martins
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