segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13908: Fotos à procura... de uma legenda (43): Verdes são os campos... e o talhão dos combatentes portugueses no cemitério velho de Bissau




Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério de Bissau > Talhão dos Combatentes Portugueses > s/d > 

Fonte: Portal Triplov > Guiné-Bissau (s/d) (Com a devida vénia...) [Edição: LG]



1. Muitas imagens (para não falar de textos, copiados e recopiados...) passam na Net e, cada vez mais , nas redes sociais com destaque para o multimilionário e arquipoderoso Facebook (onde a vida de milhões de pessoas está escarrapachada a toda a largura e profundidade das páginas; como se costuma dizer, hoje ninguém "dá um peido", sem logo tirar uma chapa e pôr no Facebook: ... Agora a moda parece que é os "after sex selfies"...).

Chateia-me ver,   cada vez mais,  imagens (para além de textos, incluindo artigos e trabalhos académicos...) reproduzidos na Net sem o mínimo de pudor... Em boa português, "com toda a lata"... Neste caso, sem respeito pela propriedade intelectual ou pelos direitos de autor...  (Já não fala da fraude, da pirataria, do copianço descarado...).

As duas fotos que se reproduzam acima dizem respeito ao cemitério de Bissau e ao talhão dos combatentes portugueses. Não sei de quem são, nem em que ano foram tiradas... Percebece-se que as fotos foram tiradas no início do tempo das chuvas... A erva já crescinha, fofinha e verdinha... De qualquer modo,  revelam sobretudo o habitual estado de abandono a que são votados muitos dos nossos cemitérios, em particular os da diáspora lusitana... 

N a Guiné-Bissau, e em particular em Bissau, este estado de abandono deve-se repetir com frequência, até que alguém (talvez da embaixada de Portugal em Bissau) se lembre de pagar ao coveiro para limpar as ervas e dar um ar minimamente digno a este local sagrado onde repousam alguns dos nossos primeiros mortos da guerra colonial (cerca de 150, se não errro, e que o Estado Português pura e simplesmente ignorou e abandonou... 

Recorde-se que até 1968, se não erro,  os nossos mortos eram inumados nos cemitérios locais, sendo-lhes recusada a trasladação, a expensas do Estado, para a sua terra natal... Eles só eram valiosos para a Pátria enquanto vivos e de boa saúde... Os mais ricos ou remediados sempre tinham direito a um condigna trasladação... Nalguns casos os camaradas da unidade ou subunidade quotizavam-se e pagavam os cerca de 11 contos (!) que custavam as operações de trasladação...

Estas fotos circulam por aí, sem data nem autor. Feita uma pesquisa na Net, fomos localizá-las no portal Triplov, numa página onde se pode ler: "Imagens da Guiné-Bissau na atualidade: uma nação bascente, um país lindo, a precisar de se erfuer dos escombros da guerra e da corrpução do poder, como exemplo de civilização para o mundo. Fotos enviadas por colegas guineenses, legendas do Triplov"...  Algumas dessas imagens são do nosso blogue, ou de camaradas nossoas (como o Eduardo Magalhães Ribeiro que documentou o arriar da última bandeira portuguesa no dia 9 de setembro de 1974 em Mansoa) sem identificação de fonte ou de autor.

Até pela sua intemporalidade e sobretudo pelo o seu simbolismo, estas duas fotos merecem ter uma legenda apropriada... Fica aqui o desafio aos nossos leitores. (LG)

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12 comentários:

Anónimo disse...

Lastimo este estado do cemitério,mas deixa-me que te corrija no que se refere à data de 1968.."os nossos mortos eram inumados etc etc". Em boa verdade já em finais de 1966 e sei do que falo, porque esse desgraçado pelouro da Secção de Funerais e Registos de Sepulturas foi-me distribuído. Por iniciativa minha... dum senhor Major, Chefe da 1ª REP/QG e a anuência concordante do Senhor Governador Arnaldo Schultz, todos os que ali perdiam a vida ao serviço da Pátria viriam sem custos. Acontece porém, que algumas famílias, a quem era perguntado se queriam receber o corpo na Metrópole, recusavam tal hipótese. A verdade a seu dono. Um abraço LG
De: Veríssimo Ferreira

José Marcelino Martins disse...

Não há legendas para tanta incúria.

Está implantado na principal cidade da Guiné-Bissau, quiçá paredes meias com a nossa embaixada.

Como estarão os outros cemitérios espaçlhjados pelo país?

Diogo Martins disse...

Era conveniente que, quem tombasse na guerra, ficasse sepultado lá e o mais próximo do lugar da ocorrência, à "boa maneira inglesa" que Portugal já adoptava com os seus mortos no ultramar.

Porem, a lei, já determinava o contrário, mas que não era divulgado evitando o contacto dos metropolitanos com tal situação.

A dificuldade de "interpretar" as leis do Estado Novo, levava a que muitas pessoas as não soubessem interpretar, originando que os corpos ou ossadas ficassem lá, quando havia o dever MORAL e legal de colocar cá, quem de cá foi levado.

José Marcelino Martins disse...

O comentário com o nome de Diogo Martins deve ser assinado por José Martins.

José Botelho Colaço disse...

Custa-me a crer a recusa que o Veríssimo revela no seu comentário, mais parece ser alguém infiltrado que respondia em nome das famílias.

José Botelho Colaço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Curiosa esta opinião (respeitável) de que as leis do Estado Novo eram de difícil interpretação uma vez que tenho como certo que as leis (algumas, do atual regime, são também de difícil interpretação. Parece, assim, que os deputados portugueses têm uma tendência doentia para se atrapalharem a fazer as leis ou para fazerem desta uma trapalhada. Ou será que as redigem propositadamente de uma forma confusa para, deste modo, assegurarem trabalho e dinheirinho aos consultórios jurídicos dos seus amigos? Só estou a perguntar.
Carvalho de Mampatá
Um abração.

Manuel Carvalho disse...

Meu caro Verissimo, sem querer duvidar do que dizes mas sei pelo menos um caso de um primo meu, falecido em Angola em fins de 68 e em que o meu tio teve que pagar doze contos se quiz de volta o corpo do filho que lhe levaram obrigado para combater pela Pátria que neste e noutros casos paga todas as favas. Doze contos em 68 era muito dinheiro, muita gente mal tinha para comer e naquele momento as pessoas não sabem nem tem cabeça para ver leis querem é cá o filho mesmo morto.
Lembro-me que o meu tio nunca mais foi o mesmo homem foi definhando, até que morreu passados uns anos.
Para mim o estado fez-nos muitas patifarias como combatentes mas esta foi a maior de todas.
Manuem Carvalho

Anónimo disse...

Caro Amigo Manuel Carvalho, referi-me apenas ao que se passou na Guiné e naqueles 9 meses que estive na Secção de Funerais. Sei que antes eram precisos 6 contos para a trasladação. Caro José Colaço, os casos que descrevi eram poucos mas existiram, até porque uma ou noutra situação nem familiares se encontraram. Decerto existirá documentação que confirme o que digo.
De Veríssimo Ferreira

José Botelho Colaço disse...

Veríssimo eu não duvidei do teu trabalho e além disso porque te conheço pessoalmente.
Mas há coisas por mais que nos digam o receptor não consegue receber a mensagem e como a PIDE-DGS estava muito bem organizada sugeri que alguém se fizesse passar por familiares.
Além disso foi d Portugal que nos levaram a maioria obrigados por isso quer encontrassem ou não a família era em Portugal que o governo tinha o dever de os devolver vivo ou morto.
Até quinta na tabanca da linha um abraço

Luís Graça disse...

Obrigado, Veríssimo, pela tua achega e correção. A verdade, acima de tudo.

Não ponho em causa a tua palavra, até porque felizmente nunca tive de lidar com esse problema... Ou melhor, também eu tive um primo que morreu, no TO da Guiné, no sul, em Ganjola, perto de Catió, em 23/1/1965, ia fazer eu 18 anos: o seu nome era José António Nogueira Canoa, do Pel Mort 942...

Embora primo em 3º grau, essa morte tocou-me muito; e nessa altura eu era o chefe de redação do jornal local, o ALvoarada, e fiz a reportagem do evento, foi o funeral do primeiro lourinhanense a morrer na Guiné... Como seria de esperar, veio 3 ou 4 meses, num caixão de chumbo... E teve honras militares.

A informação que me deram na altura é que a trasladação teria sida paga por quotização do pessoal do respetivo pelotão de morteiros (ou do batalhão a que o pel mort estava adido, o BCAÇ 619, Catió, 1964/66)...

Também não te posso garantir que esta versão seja totalmente correta, a esta distância de meio século...

Fixei o ano de 1968, como tendo sido o ano em que os funerais passaram a ser a expensas do Estado... Mas posso estar equivocado...

Vou pedir o parecer também do nosso "consultor militar", o Zé Martins, que é um homem meticuloso e rigoroso quanto a factos e datas. Vou-lhe pedir que "reveja" essa lei do Estado Novo a que ele se refere, e que seria se "interpretação ambígua"...

Em todo o caso há mortos dos anos de 1963 a 1968 em vários cemitérios da Guiné, e em especial de Bissau.

Vê aqui as listas nominais dos nossos bravos que ficaram por lá, em terras da Guiné, desde o início da guerra até 1968 (e, nalguns casos, até mais)...

Foram organizadas pelo nosso camarada A. Marques Lopes. Tens aqui o último poste de quatro:

Um abraço fraterno. Luis

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8 DE MAIO DE 2008

Guiné 63/74 - P2819: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (4): 1968-1973 (Fim) (A. Marques Lopes)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2008/05/guin-6374-p2819-lista-dos-militares.html

CampelodeSousa disse...

O estado em que se encontram os dois cemiterios em Bissau, e uma vergonha, uma dor de ALMA, que causa arrepios e revolta a quem por lá passou em comissão.
Não vale a pena, dizer-mos que os nossos governantes antes do 25 de Abril de 1974 eram uns filhos da mãe ! E os que nos tem governado após o 25 de Abril o que são ? Algum deles tentou sequer mandar trasladar um unico soldado morto em combate para a sua terra natal ? Quantos filhos ou familiares de chefes de estado, ministros, secretarios e membros do governo estão sepultados nesses dois cemiterios ? Não são estes que mandam e aprovam as LEIS deste País ? Só que esta gente não tem moral, não tem honra, não tem compaixão por nada nem por ninguem, e a maioria deles nem conhecimento tem da existencia desses dois cemiterios onde ficaram a morar iternamente tantos nossos camaradas !
As. Campelo de Sousa. Radiotelegrafista Nova Lamego 1971/1972