quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13914: (Ex)citações (248): Ainda a embarcação "Bubaque", antiga LP4, antiga traineira de pesca algarvia... Comprada como sucata à Marinha, foi a embarcação da carreira regular Bissau-Bambadinca- Bissau (Ambasciatore Manuel Amante da Rosa)


Guiné > s/d > s/ l >  A embarcação "Bubaque", ostentando a bandeira portuguesa... Antiga LP 4 (Lancha de Patrulha 4, da nossa Marinha, no ativo entre 1963 e 1964), terá sido anteriormente uma  traineira de pesca, algarvia... Depois de abatida ao efetivo, foi comprada pelo pai do nosso camarada Manuel Amante da Rosa,  hoje embaixador da República de Cabo Verde em Roma.

Foto: © Manuel  Amante da Rosa (2014). Todos os direitos reservados. 8Edição: LG]


1. Comentário de L G. 

Manuel: Como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Aí tens o teu barcco, o Bubaque [, foto nº1] (*)... Presumo que a foto seja de 1972... O Jorge Araújo foi depois para Mansambo nos primeiros meses de 1973... É seguramente foto anterior ao ataque do dia 1/6/1973, às 1h30h da manhã, que tu dizes ter acontecido... por engano.

De qualquer modo, houve dois feridos graves entre a tripulação e o teu pai poderia ter morrido... Os feridos devem sido atingidos por RPG (LGFog), disparado da margem direita do Rio Geba Estreito, em São Belchior, antes de chegar a Bambadinca...

O PAIGC já não podia atacar no Mato Cão porque havia lá um destacamento das NT... No meu tempo, patrulhávamos o Mato Cão sempre que havia passagem de barcos civis... Qualquer que fosse a hora de passagem... Geralmente a desoras, porque as marés é que mandavam...

Um dia assisti ao espetáculo único (e insólito), do leito do Rio Geba Estreito vazio... Depois veio o macaréu, com um barulho característico (medonho...) e tapou de novo o leito do rio... Nunca mais esqueci...

Obrigado pelo recorte do Diário da República... Tudo indica que estas LP (Lanchas de Patrulha) foram uma solução de emergência por parte da Marinha... Estiveram ao serviço menos de um ano!...

Não há fotos da LP 4!... Talvez o Manuel Lema Santos nos possa dar mais pistas sobre estas misteriosas LP... que faziam parte da Marinha.. pobre, como tu ben dizes...Nem devem fazer parte da história da nossa gloriosa Armada...

E já agora quanto é que o teu pai deu pela sucata ? E quanto era o bilhete de viagem ? Já não me lembro... Os militares não pagavam ? Ainda te recordas ?

E o teu pai tinha lucro ? ...Era o negócio dele, da família... Vocês tinham mais barcos ?...

Buona sera, ambasciatore... LG

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6 comentários:

Luís Graça disse...

Recorde-se aqui o excelente naco de prosa que o nosso ex-alf mil capelão Arsénio Puim (CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) escreveu num das suas crónicas, a propósito deste cruzeiro turístico pelo Rio Geba abaixo... Vale a pena relembrar. Não se também se aplicava ao "Bubaque" o epíteto de "barco turra"... O Manuel Amante da Rosa já veio dizer aqui que o pai não tinha nenhum acordo com o PAIGC. Ele prestava um serviço público, de que todos beneficiavam de um lado e do outro (população, militantes e simpatizantes do PAIGC, militares portugueses...). Em 10 anos de navegação pelo Geba acima Geba abaixo, o "Bubaque" terá sido atacado uma vez, "por engano", em 1/6/1973, à uma e tal da manhã... LG
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(...) Mas as embarcações que circulavam no Geba Estreito são também barcos a motor, para transporte de pessoas e de carga, que faziam viagens regulares e prestavam um importante serviço entre a capital do território e Bafatá.

Vim, uma vez, num destes barcos da carreira civil desde Bambadinca até Bissau, numa longa e pitoresca viagem que hoje ainda recordo.

Alguns militares usavam, uma vez ou outra, este meio de transporte para se deslocarem à capital. Penso que o grande Machadinho e meu grande amigo [, alf mil Abílio Machado, nosso grã-tabanqueiro, e que pertencia igualmente à CCS/BART 2917], também ia nesta viagem, mas não tenho a certeza.

No «Bubaque», apinhado de pessoas – muitos africanos e africanas e alguns soldados portugueses –, galinhas, porcos, cabras, (tudo em muita paz), navegámos ao longo do Geba Estreito, ladeado de mato denso e misterioso e cheio de curvas muito apertadas que obrigavam o barco a manobrar bastante próximo das margens. Depois entrámos no Geba largo, cada vez mais espaçoso e aberto aos nossos olhos curiosos, de margens arborizadas e baixas, ponteado com os seus quarteis militares estrategicamente disseminados dum lado e outro do território.

Sete horas depois, agradavelmente vividas em conversação amena e, sobretudo, a olhar, profundamente, a terra da Guiné e desfrutar da sua natureza, o «Bubaque» havia passado a grande ria do Geba e entrava no porto de Bissau, quando eram cinco horas da tarde do dia 8 de Março de 1971.

Fácil se tornou para nós pensar que, não obstante serem alvo de um ou outro ataque esporádico, não seria possível estes pequenos barcos civis, indefesos e para mais trasportando elementos do exército português, circularem regularmente numa tão extensa e recôndita área fluvial se não existisse um acordo secreto entre a empresa e a guerrilha, como aliás era voz corrente.

Mas além deste possível e mais ou menos controlado obstáculo humano, todo o movimento de barcos no Geba é condicionado por um interessante fenómeno natural que dá pelo nome de macaréu.

É, em linguagem simples, uma onda, provocada pelo choque da maré com a corrente fluvial, que avança rio acima, impetuosa e com grande ruído, operando à sua passagem a transição brusca e imediata da baixamar para a preiamar, numa amplitude que pode atingir dois metros ou mais.

Neste interior da Guiné, a mais de 100 quilómetros de Bissau, várias vezes me detive junto do grande Geba para ver passar o macaréu, poderoso e cheio de mistério, admirável e sempre benvindo. (...)

12 DE DEZEMBRO DE 2009

Guiné 63/74 - P5453: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917. Dez 69/Mai 71) (5): O grande Rio Geba

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/12/guine-6374-p5453-memorias-de-um-alferes.html

Luís Graça disse...

Por lapso disse aqui que o Manuel Amante fez parte do Batalhão de Intendência (BINT), tendo feito o serviço militar em 1973/74...

Ele em tempos escreveu aqui o seguinte:

(...) "também fui militar (73/74), de recrutamento local, no CIM de Bolama onde fiz a recruta e especialidade antes de ser colocado no QG (Chefia dos Serviços de Intendência) em Bissau.

"No momento de ser incorporado, tal como muitos da minha geração, estava relativamente familiarizado com as questões de foro castrenses. Não se podia viver na Guiné e ficar alheio ao que se passava e à inutilidade que essa guerra significava em termos de vidas humanas." (...)


23 DE OUTUBRO DE 2010
Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (24): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)

Luís Graça disse...

Mandei esta manhã a seguinte mensagem ao nosso camarada Manuel Lema Santos, que pertenceu à Reserva Naval, e que é autor do blogue Reserva Naval [
http://reservanaval.blogspot.pt/ ]

"Manel, grande marinheiro, como vais?

Tenho um "enigma" para ti... O que eram as Lanchas de Patrulha, LP, prováveis traineiras de madeira adaptadas, incorporadas na Marinha em meados de 1963 e logo desativadas em março de 1964 ? Tens algumna foto ?

O pai do nosso camarada Manuel Amamte da Rosa (hoje embaixador de Cabo Verde em Itália) comprou, na sucata, uma LP4 e transformou-a em barco de passageiros que fazia o Geba (Bissau-Bambadinca-Bissau)... Viajei nela (em 1970). Não sabia era a história que estava por detrás...

Tens mais informações ?...

Um abraço valente. Luís


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/11/guine-6374-p13914-excitacoes-248-ainda.html

PS - Dou conhecimento ao Manuel Amante (que foi nosso camarada na intendência, Bissau, 1973/74)

Anónimo disse...

Caros Camaradas Luís Graça e Manuel Amante.

De Portimão. para os devidos efeitos, informo que a minha foto do Bubaque data de 21/22 de Julho de 1972 .

Um abraço,
Jorge Araújo .

Anónimo disse...

Meu Caro Luís, não me parece que essas Lanchas Patrulhas, as 4, tenham sido abatidas em 1964. foram utilizadas por mais de 4 anos se a memória não me falha. A LP1 ou LP2 faziam a navette entre Catió e um porto próximo. Ha fotos dela no nosso blogue, carregada de soldados. Estiveram em patrulha por todos os rios da Guiné Bissau. Todas tinham a meia nau uma casamata de ferro que protegia as acomodações das tripulações que serviam de casa do leme e a casa de máquinas. A LP3, a segundo menos pequena, tinha cerca de 12 metros, foi cedida, segundo contrato, ao meu Pai e armada em traineira para abastecimento regular da Marinha em Bissau. Só mais tarde iria adquirir a LP4, maior, mais robusta e com optimas condições de navegabilidade. A LP3 fazia fainas de pesca nos Bijagós de duas noites e três dias. O tempo que durava as duas ou três toneladas de gelo que eram para a conservação do pescado. Fiz muitas dessas fainas durante muitas férias. Apanhei muitos sustos, em épocas de tornado, a fazer as travessias no Geba (do Farol Pedro alvares Cabral para Bissau ou vice-versa). Por vezes tudo o que não estivesse muito bem amarrado no convés era arrastado para fora de borda.
Quando foram abatidas não eram sucatas. ainda preservavam boas condições para navegar como fizeram durante muitos anos. Não sei porquê mas é como se houvesse um apagão sobre estas valorosas Lanchas. As ronceiras LDM/LDP apagaram-lhes o rasto…
Abracos Manuel

Arménio Estorninho disse...

Caros Camarigos Luís Graça e Manuel Amante, agora é que está decididamente esclarecido de que a embarcação Bubaque é proveniente de uma traineira algarvia.
A embarcação "bibaque" apresentada em poste anterior mais se parece com um batuca espanhol, ao tempo por pesca ilegal teria sido confiscado pela nossa marinha.

PS: No Poste P6352 Arménio Estorninho (11) C.caç 2381 Empada, em foto também pode-se ver o Batelão Corubal.

Com um abraço
Arménio Estorninho