quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Guiné 63/73 - P15178: O nosso querido mês de férias (11): vim duas vezes... e na segunda casei-me (Hélder Sousa); vim duas vezes... e na segunda já não regressei (António Murta)

Mais dois depoimentos sobre o tema "férias na metrópole" (*)

(i) Hélder Valério [ex-fur mil trms TSF, PicheBissau, 1970/72]

Caros camaradas

Em relação ao inquérito sobre as férias na metrópole (*), tenho a dizer que fiz a minha votação, e que vim duas vezes, a casa, a primeira em julho/agosto de 71 e a outra em março/abril de 72 durante a qual ocorreu o meu casamento.

Eram voos TAP directos Bissau-Lisboa e via Sal na volta. Não me recordo do valor correto mas tenho comigo, em mau estado, documentos da Agência de Viagens Costa em que é referido um valor de 2.190$20 relativo ao "fornecimento de passagens" entre BXO/LIS/BXO para os quais estou a entregar 1.000$00, ficando um saldo de 1.190$20.

No entanto, num outro documento é referido que "entreguei para crédito da conta “ o valor de 4.000$00”. Deste modo, como não tenho mais informação e não me lembro, não chego a nenhuma conclusão sobre o real valor das passagens. [Talvez 6190$20, acrescenta o editor]. (**)

Abraço.
Hélder Sousa


(ii) António Murta [ex-alf mil inf Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)]

Amigos e camaradas.

Fui dos que puderam vir duas vezes de férias. A primeira em novembro de 1973 após 9 meses de comissão e, a segunda, em agosto de 1974 (sem regresso),  numa altura em que estava nos limites da minha resistência.

Arrependi-me das duas vezes: na 1ª, embora me tivesse sabido bem rever os meus, não tinha contado com o engulho de um regresso sabendo ao que ia. Porque na ida inicial havia expetativa e curiosidade por África que, para mim, era uma paixão (e foi) mas nesse regresso sabia que ia para o inferno.

Ao aproximarmo-nos de Cabo Verde e ao sentir o começo dum suorzinho no corpo, que eu sabia ser para uma eternidade, apoderou-se de mim uma agonia como se o destino fosse o calvário ou o tal inferno. Quando se abriu a porta do avião (da TAP) em Bissau e eu ali mesmo em frente, senti um bafo quente e húmido tão violento no corpo e na alma como se tivesse sido atingido por uma luva de boxe. Não chorei por vergonha.

Da 2ª vez vim por já não aguentar o impasse no nosso destino e no da Guiné. Como já tinha a viagem paga há muito, pensei que vinha desopilar e depois voltava para juntar os tarecos e fazer as malas. Não voltei mais. Também ignoro, ainda hoje, se o meu Batalhão já regressou.

Já agora deixo um alerta ao camarada J. Cabral [que diz que veio duas vezes mas que lhe falta pagar metade da segunda viagem]. Por favor,  não pagues o resto da viagem porque eu já ta paguei e só agora é que me lembrei! É que, como não regressei e a TAP se recusou a restituir-me a metade da viagem, eu disse-lhes que não fazia mal porque ficava para saldar a conta do meu amigo J. Cabral.

E se a dívida era a uma agência de viagens? Não interessa porque eu, furioso, rasguei o bilhete e atirei-o para cima do balcão na sede da TAP... (**)

Um grande abraço a todos.
A. Murta

(**) Último poste da série > 29 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15173: O nosso querido mês de férias (10): Eu fui um dos que nunca teve férias...Razão: por ser o "eterno comandante interino"... No máximo, passei oito dias em Bissau a tratar de assuntos oficiais... e a descansar não ficar de todo "apanhado do clima"! (Manuel Vaz, ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67)

4 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Caro Hélder V, não foste caso virgem(?!) nessa de vires de férias e casares, o Furriel Enfermeiro da minha Companhia fez o mesmo.
Caro Murta, para mim o teu Batalhão chegará no dia em que chegar o D. Sebastião. E que tal se nos dias de nevoeiro fores a Figo Maduro?
Abraços
Carlos Vinhal

Luís Graça disse...

Hélder, deste o mote para mais um "sondagem" ou "inquiração"... Os editores do blogue são muito curiosos... O meu grande amigo e camarada Tony Levezinho também se casou durante as férias a meio da comissão... Mas ele era um furriel atirador numa companhia africana, com comandante de seção, que só tinha mais um graduado, o Humberto Reis... A CCAÇ 12 tinha uma atividade operacional... Na altura, isso fez-me confusão... "E se tu levas um tiro e deixas uma jovem viúva à tua espera ?", perguntei-lhe eu. (Acho que a Isabel teria na altura 17 anos...).

Não fiz nem faço juízos de valor a respeito destes ou doutros comportamentos dos meus camaradas... Mas reconheço que são/foram homens de coragem e decisão... e sobretudo apaixonados, os meus amigos Hélder e Tony... O coração tem sempre razões que a razão (e o bom senso) desconhece...

Luís Graça disse...

Hélder: houve de tudo... Houve quem se casasse por procuração... Recordo o caso de um camarada nosso, da Tabanca Grande, que não podia ter férias por ter levado uma porrada... Foi-se a casar a Bissau... A noiva veio ter com ele e depois ela regressou a casa e a guerra continuou... Outros houve que trouxeram as esposas para Bissau, e nalguns casos para o interior (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Bolama...). Pocdemos e devemos falar de (e partilhar) essas gistórias, que são nossas, da nossa geração... A verdade é que era uma geração que se casava mais cedo... Nalguns casos, cedo de mais... Mais elas do que eles... Houve camaradas nossos que morreram no TO da Guiné e nunca chegaram a conhecer os seus filhos... Temos a obrigação de falar deste drama... LG

Hélder Valério disse...

Amigos
Estava a escrever um pequeno comentário ao artigo e às observações do Carlos Vinhal, que se alongou e por isso enviei em forma de mail para os Editores.
Entretanto surgiram estes comentários do Luís e também acho que pode ser assunto a desenvolver. Não o fiz no escrito que refiro pois centrei-me essencialmente sobre a 1ª viagem de férias. A 2ª foi diferente e ficará para outro local.

Abraço
Hélder S.