MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação, oceano Índico > 10 de abril de 2020 ,sexta feira santa para os cristãos > Um rota perigosa...
Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016. Vai a bordo do MSC -Magnífica, que teve de apressar o seu regresso ao ponto de partida, devido à pandemia de COVID-19. Está a escrever o seu diário de bordo, desde 23 de janeiro de 2020, disponível na sua página do Facebook. A ele junta-se o António Graça de Abreu, que também, está a escrever o seu diário de bordo...
Excertos do diário de bordo de Constantino Ferreira
Sexta-feira, 10 de abril de 2020, 5h39
Estou a pensar, que a vida continua. Hoje, é Sexta-feira Santa e, vivemos a angústia do presente, pensando no passado.
Esse passado longínquo, que marcou estes últimos 2.020 anos. Um Homem-Bom, foi morto cruelmente em Jerusalém, por equívoco do povo e desleixo do “poder”!
Hoje, recordamos esse “equívoco”, com o pensamento contido na revolta. Mas, esse exemplo de compaixão e perdão, fica para sempre no pensamento da Humanidade.
Certamente que houve outro exemplos no Mundo, devemos olhar todos esses exemplos, com fé, nesta nossa Humanidade que hoje luta contra “esta” calamidade !
Hoje, a navegar aqui no Mar Arábico, já no Golfo de Aden, com o Corno de África lá ao fundo á esquerda, penso no futuro da Humanidade, na pessoa do meu neto Francisco, que nasceu ontem em Lisboa.
Um grande abraço, do tamanho do Mundo.
Quinta-feira, 9 de abril de 2020, 7h17
Alô!
Aqui Mar Arábico. Vamos praí a meio!
Mas, já vamos em alerta total contra os piratas da Somália, que com as suas boas lanchas rápidas, podem querer um bom resgate, destes 2.800 navegantes!
Mas, já vamos em alerta total contra os piratas da Somália, que com as suas boas lanchas rápidas, podem querer um bom resgate, destes 2.800 navegantes!
Mas também vamos a navegar uma rota sob vigilância das forças de Marinha Internacionais e, vigilância via Satélite!
Os desgraçados dos piratas, têm que ser muito “corajosos” ou muito parvos para nos atacarem !
Bom, o que eu estou em alerta é para assistir á entrada no Mar Vermelho e ver as duas margens !
Mas não vou deixar de olhar o Corno de África! Depois conto como foi !
[ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue; temos recebido as suas mensagens por correio eletrónico]
Oceano Índico, Golfo de Aden, 10 de Abril de 2020
Desde ontem e por mais dois dias, esquecemos o coronavírus, o problema serão os piratas. Estamos a navegar perto da ilha de Socotora, no Golfo de Aden, à entrada do Mar Vermelho. De um lado temos o Yemen, sempre em guerra, do outro a Somália, o corno de Africa, terras pobres habitadas por algumas gentes que utilizam todos os meios possiveis e quase mpossíveis para sobreviver. Um deles e o ataque a navios, pirataria pura e dura, com assaltos sobretudo a cargueiros, com a tomada de reféns e do próprio barco, e a exigência de avultados resgates.
Recebemos ontem um comunicado no camarote avisando-nos das medidas que o navio está a tomar para escapar aos piratas: luzes meio apagadas durante a noite, janelas dos camarotes com cortinados corridos, todo o conves do 7º andar que rodeia o Magnifica, e é excelente para caminhadas e passeios a pé, estará fechado, com seguranças em lugares estratégicos, com binóculos perscrutando o mar que se mantem deslumbrantemente azul e prata, sereno e calmo.
Talvez estas medidas sejam um exagero. Creio que nenhum navio foi atacado, nos últimos tempos. As grandes potências prepararam as respostas a estes actos de pirataria, franceses, norte-americaos, até chineses estão estacionados no Djibuti onde controlam, via satélite, o movimento das grandes e pequenas embarcacões que cruzam estas vastas regiões.
Dizem-me que os norte-americanos tem drones militares que se deslocam a grande velocidade, carregados de potentes explosivos que podem, com toda a facilidade rebentar com os frágeis barcos utilizados pela pirataria.
A vida tambem não está fácil para os piratas da Somalia e do mar Vermelho.
Colombo, Sri Lanka, 6 de Abril de 2020
Colombo, Sri Lanka, 6 de Abril de 2020
Chegamos frente a Colombo, o navio parou, os arranha-ceus recentes, construidos com capitais chineses, alinhavam-se nsa tira do horizonte. Nós permanecemos no Magnifica, claro, de onde não saimos quase há um mes.
Estamos ancorados no mar, a uns quinze quilómetros da capital do Sri Lanka. Fui lá acima, ao 14. andar, tirar umas fotografias. Um rebocador aproximava-se. Calculei que trazia o piloto local. Não era verdade. Sete ou oito tripulantes do barco de apoio cingales vinham cobertos de largos fatos brancos, mascaras de plastico, luvas e botas estanques. Na plataforma lancada a estibordo pelo Magnifica, três ou quatro tripulantes do nosso navio vestiam tambem roupa de assustar, fatos completos em tons de azul, cobrindo totalmente o corpo, sobressaindo as máscaras e as luvas. Uma maca com uma senhora idosa deitada, ligada a uma botija de oxigénio entre as suas pernas, em cima do cobertor, era transportada com todo o cuidado desde o Magnifica para o rebocador.
Um tripulante do nosso navio passou também para o barco cingalês e foi imediatamente desinfectado com um spray. Eles trouxeram uma equipe de televisão com um camaraman, todo equipado e artilhado como os restantes tripulantes, que filmou cuidadosamente o processo de evacuação. O rebocador acabou por acelerar os motores, deu meia volta e rumou em direcção ao porto de Colombo.
Tera a velha senhora, nossa companheira de viagem, contraído coronavirus? Como vai ser tratada, o que lhe acontecera sozinha num hospital de Colombo?
Há pouco, já noite e com o navio a navegar para norte, o capitão Roberto Leotta informou, pela instalação sonora, que se procedera ao reabastecimento de gasóleo, que seguimos para o canal do Suez e que foi preciso evacuar uma passageira, a "necessitar de cuidados médicos urgentes."
Não creio que a senhora tivesse coronavírus porque, se tal acontecesse teriamos o navio infectado, o que seria uma catástrofe para todos nós, mas o aparato da sua saída para um hospital na capital do Sri Lanka, foi um sufoco, um enorme susto.
________________
Último poste da série > 7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20824: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (6): em Colombo, Sri Lanca, paragem para reabastecimento e partida para o Canal do Sul (percurso de c. 3500 milhas náuticas até ao dia 24 de abril)
Nota do editor:
Último poste da série > 7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20824: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (6): em Colombo, Sri Lanca, paragem para reabastecimento e partida para o Canal do Sul (percurso de c. 3500 milhas náuticas até ao dia 24 de abril)
2 comentários:
Diário de bordo do António Graça de Abre,u:
Em navegacao, Oceano Pacifico Sul, 18 de Marco de 2020
E agora, quando não há mais Volta ao Mundo, o que fazer no que à continuaçãoda escrita diz respeito?
Posso desdobrar algumas ideias sobre lugares que já não iremos visitar, posso cerzir textos sobre a nossa vida a bordo, sob a constante ameaça de um vírus mortal que grassa pelo mundo e tem possibilidade de cair no meio de nós.
Até há pouco, eramos uns despreocupados velhotes e velhinhas que empreenderam as viagens das suas vidas. Quase de súbito, Belzebu tomou conta de grande parte do mundo e aponta-nos o seu dedo sujo e fétido. Somos objecto das suas próximas malfeitorias, quer levar-nos consigo para o horrendo inferno onde vive.
Será que vou escrever uma prosa fatalista, lacrimejante, fadista, bem a portuguesa, queixando-me dos azares do destino, da desgraca dos dias? Provenho de uma, às vezes, excelente cepa lusitana, sou português desde o tutano dos ossos atá aos pelos da barba, mas não gosto do choradinho de tanta gente da nossa "ditosa pátria."
No navio, no meio da palafrenália de raçaas e raçaas, navegando, navegando, sei que ninguém foi ainda infectado pelo vírus. Não acredito em milagres, mas eles existem. Vou então tentar viver o resto da viagem com a sabedoria necessária, uns restos de optimismo e a tranquilidade possível.
Mesmo permanecendo fechado dentro deste navio durante mais de um mês - é longa a viagem até à Europa -, a escrita continuará, repousada, atenta, carregando a luz da Primavera, ou os miasmas do tempo.
António Graça de Abreu
[Enviado por mail.
09/04/2020, 11:49 ]
Antonio Graça de Abreu, "parafernália de raças e raças"? Mas o grosso dos turistas não será quase inteiramente europeus?
Com alguns americanos à mistura?
Isto parece mesmo o fim de um "certo mundo"!
Enviar um comentário