1. No dia 1 de Dezembro último, escrevi ao Jorge Cabral, que era o régulo de Fá Mandinga, quando a 1ª Companhia de Comandos Africanos se instalou, naquela localidade da Zona Leste (Sector L1, Bambadinca), aquando da sua formação. Recorde-se que o Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, foi o comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, e é autor da série Estórias Cabralianas.
Jorge: Como vais tu, querido amigo ?
Precisava que me identificasses o médico, periquito, que chegou à tua tabanca, Fá, com destino à 1ª Companhia de Comandos Africanos (CCA), em finais de 1969 ou princípios de 1970 (mais provavelmente, 1º trimestre de 1970) (1)... Eu estava lá, nessa noite, com o Capitão instrutor, o teu amigo Latérguy (que morreu há tempos) (2), quando ele chegou... Fizeram-lhe uma recepção à maneira, à comando, com fogo real, para o acagaçar... Estavas lá nessa noite ? Já não me lembro....
Julgo que era o Carlos França, médico, hoje especilialista em cuidados intensivos (pelo menos, vejo o seu nome associado a: Hospital de Santa Maria, Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, Revista Portuguesa de Medicina Intensiva )...
Em 10/4/1981, saiu no semanário O Jornal um artigo - no dossiê "Memória da Guerra Colonial" (em que eu colaborei muito, com o saudoso Afonso Praça, da redação do jornal, inclusive deixei com ele muita documentação, que hoje gostaria de recuperar...) – sob o título "Arame farpado em tempo de massacre". Era assinado por Carlos França, que residia então em Oeiras...
Será o mesmo, o médico ?... Faz referências detalhadas ao Furriel felupe, Uloma, e à suas colecção de 32 cabeças.... Deves ter lido o artigo... Recordo-me de termos falado sobre isto na altura... Tu tentaste-me explicar o inexplicável, que era o comportamento do comando felupe Uloma, teu amigo... Sei que discutimos isso à luz do relativismo cultural e das cumplicidades tácitas da hierarquia de um exército de um país da NATO, civilizado... Foi então que retomámos os nossos contactos. Não nos víamos desde a Guiné.
Eis um excerto do citado artigo do Carlos França:
(...) Havíamos de sonhar, em longas noites de hospital, com tudo aquilo. Era barulho em náusea, com cheiro a 'Petidina' e pensos gangrenados, entre duas anestesias de ocasião.
Quanta insónia e, meu Deus, que tempo perdido, e que arrepio ao ver ainda o felupe 'Uloma', uma montanha de carne, automatizado no 'ronco' de matar, contar as cabeças inimigas do PAIGC.
Fazia colecção e era o seu 'curriculum' de guerrilheiro. Trinta e duas, conteu eu, expostas como troféus de guerra, circuito obrigatório, quase turístico de todos os militares que por lá passavam (...).
Um cabo da CCAÇ 12, o Encarnação, o nosso fotógrafo de serviço, tirou fotografias do Uloma com uma das suas cabeças, acabadas de cortar, numa operação a norte do Rio Geba, se não me engano... Terá sido numa das primeiras saídas da 1ª Companhia de Comandos Africanos, ainda no tempo do BCAÇ 2852...
Isto passou-se na parada de Bambadinca, fomos todos testemunhas (incrédulos mas passivos) da chegada do herói... Dizia-se, na altura, que a cabeça era de um pobre camponês que, em zona controlada pelo PAIGC, cultivava pacificamente a sua bolanha... As fotos (e os negativos) desapareceram, rapidamente, por ordem do comando de Bambadinca, que ficou extremamente nervoso com o insólito da situação...
Em resumo: Lembras-te do Carlos França ? Deve ser o mesmo da medicina intensiva, não ?... Vou tentar contactá-lo, a partir do Hospital de Santa Maria e da SPCI... Já agora, vou perguntar também aos nossos médicos do blogue, o Amaral Bernado e o Mário Bravo (... que são do Porto) se o conhecem ou conheceram... O Beja Santos não sei se já o apanhou... em Bambadinca... Talvez.
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > 8 de Julho de 2007 > Antigo aquartelamento das NT > A espada felupe estilizada, onde se encontrava o mastro da bandeira (portuguesa).
Foto: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007)
2. Resposta do Jorge Cabral, em 3 de Dezembro último:
Querido Amigo,
Estive efectivamente na guerreira recepção do Médico Periquito, que ocorreu em Março de 70, tendo sido eu aliás, um dos mais entusiasmados. Era segundo creio, o Dr. Vasconcelos, homem de esquerda, que me tratou várias vezes e me salvou quando jejuei trinta dias, a conselho do meu assessor feiticeiro, o Nanque (3). Tenho quase a certeza, que ele também foi a Conacri [, no âmbito da Op Mar Verde, sob o comando de Alpoím Galvão]. A fotografia do Uloma (4), com a cabeça, foi tirada no Cais de Bambadinca, tendo tido um exemplar, que ofereci ao Padre Puim.
É das imagens que ainda não consegui esquecer. Naquela tarde, eu estivera com o Major Leal de Almeida [, supervisor da 1ª CCA,], em Bambadinca, a beber uns copos, antes de ir esperar os Comandos, à bolanha do Finete. E foi aí, que deparei com a cena. Primeiro olhei, e não acreditei.
- Quanto mortos fizeram ? - perguntou o Leal de Almeida.
- Dois confirmados - respondeu o Saiegh (6).
- E um confirmadíssimo! - retorquiu o Major.
O Uloma levou a cabeça para Fá, o que causou quase uma sublevação dos meus soldados que, nessa noite, se recusaram a dormir no quartel. Claro que conheci muito bem o cortador de cabeças, o qual de vez em quando era acometido por crises nervosas. Para o acalmar, matava-se uma galinha, derramando o sangue, sobre a sua cabeça.
Quanto ao mencionado França que escreveu no O Jornal, sempre o identifiquei com o furriel do mesmo nome, com quem convivi em Fá. Pertencia à Companhia de Comandos Africanos.
Penso que ficcionou um pouco, ao falar das 32 cabeças. Só se o Uloma as tivesse na sua Tabanca. Segundo o próprio me contou, cortada a cabeça do inimigo, a mesma era colocada na bolanha, de molho, e só depois uma parte dos miolos era comida... Obviamente que esta cerimónia acontecia em chão Felupe (4).
Parece, Querido Amigo, que tenho material para muitas estórias cabralianas.
Grande Abraço
Jorge
P.S.: Acreditas que ainda sonho com aquela cabeça?...
________
Notas de L. G.:
(1) Vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
(2) Barbosa Henriques, que foi instrutor da 1ª CCA:
Vd. posts de:
19 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1536: Morreu (1)... Barbosa Henriques, o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)
19 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
(3) Vd. post de 3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P836: Estórias cabralianas (10): O soldado Nanque, meu assessor feiticeiro
(4) Vd. post de 1 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2397: Cusa di nos terra (12): Susana, chão felupe - Parte VII: O guerreiro João Uloma (Luís Fonseca)
Vd. posts desta série, da autoria do Luís Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73):
15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2052: Cusa di nos terra (5): Susana, Chão Felupe - Parte I (Luís Fonseca)
31 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2074: Cusa di nos terra (6): Susana, Chão Felupe - Parte II: Religião (Luís Fonseca)
5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2081: Cusa di nos terra (7): Susana, Chão Felupe - Parte III: Trabalho, lazer, alimentação, guerra, poder (Luís Fonseca)
16 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2110: Cusa di nos terra (9): Susana, Chão Felupe - Parte IV: Mulher e Comunitarismo (Luís Fonseca)
6 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2156: Cusa di nos terra (10): Susana, Chão Felupe - Parte V: Casamento (Luís Fonseca)
25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2215: Cusa di nos terra (11): Suzana, Chão Felupe - Parte VI: Princípio e fim de vida (Luís Fonseca)
Sobre os felupes, vd. ainda a excelente página do nosso amigo e camarada Carlos Fortunato, que lidou com balantas e felupes, considerando semore estes superiores àqueles, como guerreiros: Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Felupes(...)
(...) Adversários temíveis, os felupes possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas.
Embora se assegure que o canibalismo pertence ao passado, não era essa a opinião das restantes etnias, as quais referem igualmente que estes fazem os seus funerais à meia noite, pendurando caveiras nas copas das arvores, e dançando debaixo delas. O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento.
Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-o, empolga-o, constituindo o mais desejado espectáculo (...).
(5) Ex-Alf Mil Capelão Puim, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), vd. posts de:
5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)
17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
(6) Zacarias Saiegh, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 52, ainda no tempo do Beja Santos, e depois Alferes, Tenente e Capitão da 1ª CCA. DE oriegm sírio-libanesa, já foi aqui evocado várias vezes, nomeadamente pelo Mário Beja Santos que com ele privou, em Missirá. Vd. posts de:
15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)
(...) O Zacarias Saiegh [da 1ª Companhia de Comandos Africanos] foi meu amigo. Era um homem extraordinário, ele e outros que foram meus camaradas e foram fuzilados. Nunca os esqueço e não sei perdoar (...).
23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
19 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1038: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (6): Entre o Geba e o Oio, falando do Saiegh e dos meus livros
(...) Saiegh na véspera, depois do jantar, dera-me um sinal de cortesia levando-se ao seu abrigo para bebermos um uísque. Olhando à volta do seu ambiente privado, vi frascos que me lembraram aqueles que se encontram nos laboratórios de biologia. Vendo-me intrigado, sopesando as palavras mas atirando-as a frio, esclareceu-me:
- São restos dos meus despojos. Aproveito sobretudo orelhas.
Aclarei a voz e fui cortante:
- Saiegh, ainda nada sei desta guerra, mas asseguro-lhe que a partir de hoje não haverá despojos humanos, nem relíquias nem troféus. Não trago ódios nem os vou despertar. Recordo-lhe que esta disposição é irrevogável.
Os olhos de Saiegh cuspiram fogo, mas ele conteve a dimensão da chama. Com o tempo, virei a saber que este descendente de sírio-libaneses também se movia por razões raciais, independentemente dos seus interesses económicos têm sido profundamente afectados pela luta de guerrilhas. O nosso conflito estava armado, mas passados estes anos todos reconheço que ele me deu uma colaboração exemplar, apagando-se progressivamente do mando e da decisão militar. Irei chorar amargamente no dia em que soube do seu fuzilamento (...).
16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1081: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (11): Matar ou morrer, Saiegh ?
(...) Em meados do mês de Agosto, regressávamos do abastecimento em Bambadinca quando o Saiegh me mostrou triunfante, enquanto esperávamos a piroga, as insígnias em plástico que ele concebera para o Pel Caç Nat 52: era uma coisa assim apiratada com caveira e tíbias, um verde fluorescente e a frase "Matar ou Morrer". O meu olhar gelou e o Saiegh não resistiu a dizer-me: - Já vi que não gosta. Será por a iniciativa ser minha? (...).
30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2317: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (11): O fantasma de Infali Soncó
(...) Na Casa Gouveia[, em Bissau,] compro chá e vou ao mercado com a lista na mão para satisfazer os pedidos dos meus soldados. A partir de agora e até jantar com Saiegh ando a cheirar a especiarias. Durante a tarde, procuro encontrar o Botelho de Melo, o meu milagroso oftalmologista, para lhe dizer que espero partir amanhã logo após a consulta do dentista, mas escreverei logo que saiba quando vier a Bissau.
O encontro com o Saiegh é muito agradável, tão agradável que vamos a pé pela estrada de Santa Luzia, onde nos despedimos prometendo eu uma visita a Fá, dentro de semanas. Tal nunca veio a acontecer, estou a despedir-me do Saiegh pela última vez, guardo o seu sorriso e a sinceridade da sua estima, tudo me vem à lembrança no dia em que soube do seu fuzilamento, oito anos depois (...)..
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2397: Cusa di nos terra (13): Susana, chão felupe - Parte VII: O guerreiro João Uloma (Luiz Fonseca, ex-Fur Mil TRMS)
Guiné > Região do Cacheu > Susana > Junho de 1972 > Cabeça do Comandante de Bigrupo do PAIGC, Malan Djata, cortada por elementos da população, felupe, após a sua captura na sequência de um ataque falhado ao aquartelamento de Susana. Segundo esclarecimento, acabado de dar pelo Luís Fonseca (estamos no concelho de Vila Nova de Gaia, eu neste momento na Madalena e ele presumivelmente em Gulpilhares, aqui ao lado, sem nos conhecermos pessoalmente), "naqueles momentos foi de todo impossível determinar o 'autor' da decapitação. Creio que nessa data, fins de Junho de 1972, o João Uloma nem sequer estaria em Susana"...
Guiné <> Susana > c. 1972 > Visita ao Alferes Comando João Uloma, por parte de jornalistas nacionais e estrangeiros, entre os quais uam equipa do New York Times. O então Cap Otelo Saraiva de Carvalho, da REP/ACAP (Assuntos Civis e Acção Psicológica), fez as honras da casa e o elogio do guerreiro felupe.
Texto e fotos: © Luiz Fonseca (2007). Direitos reservados.
1. Texto, de 19 de Dezembro último, do Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73), que tem aqui publicado uma série de apontamentos sobre o chão felupe (1):
Assunto - João Uloma...
Provavelmente mais uma vítima que um réu em todo o cenário da guerra. Provavelmente mais que usado e abusado, utilizando palavras tuas.
Conheci pessoalmente João Uloma haviam já decorrido largos meses de comissão. Mas o seu nome, dentro da etnia e tradição felupe, sempre nos chegou como símbolo de respeito e tido como exemplo. Daí a minha curiosidade pela pessoa.
Era de facto um guerreiro felupe, em estatura. Dos seus predicados operacionais não posso nem devo emitir qualquer comentário pois não tive oportunidade de os constatar.
A imagem que junto é prova de mais uma das demonstrações da utilidade do João Uloma. Durante uma das muitas visitas de jornalistas, nacionais e estrangeiros, esta creio que do New York Times (Alice Barstow e John Burton), ao chão Felupe, ele é apresentado como um herói na defesa do território.
O enquadramento é oficial, com direito a DO privada, e com pessoal da REP/ACAP presente (Cap Otelo Saraiva Carvalho), que faz as honras da casa, com o respectivo e longo elogio. Ao lado esquerdo do João Uloma, seu pai, homem grande da tabanca.
Foi uma das suas poucas visitas a Susana durante a minha comissão, que me recorde apenas mais duas vezes, sempre por períodos de tempo relativamente curtos.
Nessas ocasiões não era demasiado visível, diria que era até recatado. Dedicava-se à caça, quando tal era possível e a algum convivio com camaradas dos seus tempos de Pelotão 60, quase todos.
Não era uma visita constante no aquartelamento, aparecia de quando em vez, e, quando picado, relatava algumas das suas histórias, sendo no entanto parco em detalhes, o que me pareceu estranho face ao que dele se propalava.
Na sua morança não existiam, pelo menos nas casas que vi, crâneos de inimigos, o que já não sucedia em muitas outras moranças de outros guerreiros menos notáveis. Tal trofeú era, para um felupe, apanágio de valentia e quantas mais cabeças tivesse cortado mais respeitado era.
Diga-se que esse foi o encontro com o destino do Cmdt Bigrupo Malan Djata quando, em Junho de 1972, foi capturado, após ataque falhado a Susana. Mesmo com a oposição do graduado da CCAV 3366 ("tu ou ele") cumpriu-se o ritual...
Essa tradição ancestral marcava ainda a vida daqueles que sentiram o primeiro impacto de uma guerra que jamais foi sua, pelo menos no sentido de libertação, porque isso os Felupes foram-no sempre, desde o tempo da luta contra a dominação mandinga: Livres!
Acrecente-se que a imagem que envio, deixando a sua edição ao vosso critério, foi já aproveitada por João Melo (Os anos da guerra - II volume, Cap. III - Operação Nó Górdio -Moçambique - pg. 51 - Circulo de Leitores e Publicações D. Quixote) tendo eu alertado o autor da imprecisão. Nunca soube se recebeu a missiva.
Do Alf Comando João Uloma guardo uma placa dos Comandos Africanos, oferecida, não sei porque razão especial, já no final da minha estada no seu Chão. Recordo ter havido alguém que lhe pediu o crachat de Comando o que ele recusou afirmando que "aquele era dele até à morte"... Premonição...
Sobre a sua morte poderei afirmar que não foi fuzilado, mas sim morto por espancamento, à paulada, creio que em Brá, para onde teria sido convocado para ser integrado no novo exército (2).
De felupes ao serviço das NT, em número relativamente reduzido, tanto quanto me foi referido posteriormente por um militar guinéu do Pel [Caç Nat] 60, não teria havido mais desaparecidos, já que a grande maioria e após lhe terem sido retiradas as armas optou por se refugiar na região do Casamance (Senegal) ou voltar à vida civil embora com uma ameaça velada ("tropa tira arma mas fica com arco e flecha, para lutar contra bandido"). Tal terá sido a sorte que coube ao primeiro comissário político dos novos senhores que apareceu na zona, ser morto e corpo sem cabeça (degolado ritualmente com a curta faca felupe?) para não voltar a nascer noutra qualquer tabanca.
Se os meus editores me permitem, nesta faca de dois gumes, ficaria por aqui e não virava o gume para a outra face pois poderia ferir susceptilidades de alguns, de ambos os lados, que, com as suas tomadas de posição e demonstrações de poder, em nada honraram os militares que nasceram, passaram, lutaram e ficaram naquele território.
Penso voltar ao assunto.
Por hoje
Kassumai
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Trms CCAV 3366
2. Comentário de L.G., em resposta ao Luiz Fonseca:
Luiz Fonseca:
É um notável texto teu, assertivo, objectivo, que ajuda a compreender melhor o comportamento do João Uloma ao serviço das NT... (Conheci-o, superficialmente, nos comandos, em Fá) (3).... Não o vou publicar já, sobretudo por causa da foto do comandante do PAIGC, degolado... Por estarmos na altura do Natal, e isso poder ferir algumas pessoas mais sensíveis... Fá-lo-emos a seguir, ao Natal...
A ti, peço-te que entretanto completes o texto... Sei que não queres ferir susceptibilidades, de um lado e de outro... Mas, bolas, tu podes falar de cátedra, como ninguém, porque conheceste o João e os felupes, os seus costumes, o seu chão... Se deixas o dossiê inacabado, é pior...
Passados estes anos todos, temos o direito à verdade... No meu tempo, o João cortava cabeças, com o beneplácito (?) dos seus superiores hierárquicos... Ele estava nos comandos africanos e havia a cultura do ronco... Temos de perceber tudo isto: havia homens, muito perturbados, nos comandos, com comportamentos patogénicos... Não estou sugerir nomes...E evito julgá-os. Hoje quero compreendê-los...
Luiz: Connosco estás à vontade, não há tabus... Peço-.te, portanto, que não deixes o assunto "para melhor oportunidade", o que na nossa terra equivale a dizer "para as calendas gregas" ou para o Dia de São Nunca... Aqui não conhecemos amigos e protegidos... Mas, claro, tens sempre o direito de omitir nomes... Boas Festas. Kassumai.
Luís Graça
PS - Luiz, não chegaste a receber o livro do pai do Pepito sobre os costumes jurídicos do felupes, pois não?! Creio que o Pepito enganou-se no nome, e em vez de mandar para ti, mandou para um outro gajo que ainda não descobri quem é... e que se antecipou a ti.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos)
(2) Vd. post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(3) Vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
Guiné <> Susana > c. 1972 > Visita ao Alferes Comando João Uloma, por parte de jornalistas nacionais e estrangeiros, entre os quais uam equipa do New York Times. O então Cap Otelo Saraiva de Carvalho, da REP/ACAP (Assuntos Civis e Acção Psicológica), fez as honras da casa e o elogio do guerreiro felupe.
Texto e fotos: © Luiz Fonseca (2007). Direitos reservados.
1. Texto, de 19 de Dezembro último, do Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73), que tem aqui publicado uma série de apontamentos sobre o chão felupe (1):
Assunto - João Uloma...
Provavelmente mais uma vítima que um réu em todo o cenário da guerra. Provavelmente mais que usado e abusado, utilizando palavras tuas.
Conheci pessoalmente João Uloma haviam já decorrido largos meses de comissão. Mas o seu nome, dentro da etnia e tradição felupe, sempre nos chegou como símbolo de respeito e tido como exemplo. Daí a minha curiosidade pela pessoa.
Era de facto um guerreiro felupe, em estatura. Dos seus predicados operacionais não posso nem devo emitir qualquer comentário pois não tive oportunidade de os constatar.
A imagem que junto é prova de mais uma das demonstrações da utilidade do João Uloma. Durante uma das muitas visitas de jornalistas, nacionais e estrangeiros, esta creio que do New York Times (Alice Barstow e John Burton), ao chão Felupe, ele é apresentado como um herói na defesa do território.
O enquadramento é oficial, com direito a DO privada, e com pessoal da REP/ACAP presente (Cap Otelo Saraiva Carvalho), que faz as honras da casa, com o respectivo e longo elogio. Ao lado esquerdo do João Uloma, seu pai, homem grande da tabanca.
Foi uma das suas poucas visitas a Susana durante a minha comissão, que me recorde apenas mais duas vezes, sempre por períodos de tempo relativamente curtos.
Nessas ocasiões não era demasiado visível, diria que era até recatado. Dedicava-se à caça, quando tal era possível e a algum convivio com camaradas dos seus tempos de Pelotão 60, quase todos.
Não era uma visita constante no aquartelamento, aparecia de quando em vez, e, quando picado, relatava algumas das suas histórias, sendo no entanto parco em detalhes, o que me pareceu estranho face ao que dele se propalava.
Na sua morança não existiam, pelo menos nas casas que vi, crâneos de inimigos, o que já não sucedia em muitas outras moranças de outros guerreiros menos notáveis. Tal trofeú era, para um felupe, apanágio de valentia e quantas mais cabeças tivesse cortado mais respeitado era.
Diga-se que esse foi o encontro com o destino do Cmdt Bigrupo Malan Djata quando, em Junho de 1972, foi capturado, após ataque falhado a Susana. Mesmo com a oposição do graduado da CCAV 3366 ("tu ou ele") cumpriu-se o ritual...
Essa tradição ancestral marcava ainda a vida daqueles que sentiram o primeiro impacto de uma guerra que jamais foi sua, pelo menos no sentido de libertação, porque isso os Felupes foram-no sempre, desde o tempo da luta contra a dominação mandinga: Livres!
Acrecente-se que a imagem que envio, deixando a sua edição ao vosso critério, foi já aproveitada por João Melo (Os anos da guerra - II volume, Cap. III - Operação Nó Górdio -Moçambique - pg. 51 - Circulo de Leitores e Publicações D. Quixote) tendo eu alertado o autor da imprecisão. Nunca soube se recebeu a missiva.
Do Alf Comando João Uloma guardo uma placa dos Comandos Africanos, oferecida, não sei porque razão especial, já no final da minha estada no seu Chão. Recordo ter havido alguém que lhe pediu o crachat de Comando o que ele recusou afirmando que "aquele era dele até à morte"... Premonição...
Sobre a sua morte poderei afirmar que não foi fuzilado, mas sim morto por espancamento, à paulada, creio que em Brá, para onde teria sido convocado para ser integrado no novo exército (2).
De felupes ao serviço das NT, em número relativamente reduzido, tanto quanto me foi referido posteriormente por um militar guinéu do Pel [Caç Nat] 60, não teria havido mais desaparecidos, já que a grande maioria e após lhe terem sido retiradas as armas optou por se refugiar na região do Casamance (Senegal) ou voltar à vida civil embora com uma ameaça velada ("tropa tira arma mas fica com arco e flecha, para lutar contra bandido"). Tal terá sido a sorte que coube ao primeiro comissário político dos novos senhores que apareceu na zona, ser morto e corpo sem cabeça (degolado ritualmente com a curta faca felupe?) para não voltar a nascer noutra qualquer tabanca.
Se os meus editores me permitem, nesta faca de dois gumes, ficaria por aqui e não virava o gume para a outra face pois poderia ferir susceptilidades de alguns, de ambos os lados, que, com as suas tomadas de posição e demonstrações de poder, em nada honraram os militares que nasceram, passaram, lutaram e ficaram naquele território.
Penso voltar ao assunto.
Por hoje
Kassumai
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Trms CCAV 3366
2. Comentário de L.G., em resposta ao Luiz Fonseca:
Luiz Fonseca:
É um notável texto teu, assertivo, objectivo, que ajuda a compreender melhor o comportamento do João Uloma ao serviço das NT... (Conheci-o, superficialmente, nos comandos, em Fá) (3).... Não o vou publicar já, sobretudo por causa da foto do comandante do PAIGC, degolado... Por estarmos na altura do Natal, e isso poder ferir algumas pessoas mais sensíveis... Fá-lo-emos a seguir, ao Natal...
A ti, peço-te que entretanto completes o texto... Sei que não queres ferir susceptibilidades, de um lado e de outro... Mas, bolas, tu podes falar de cátedra, como ninguém, porque conheceste o João e os felupes, os seus costumes, o seu chão... Se deixas o dossiê inacabado, é pior...
Passados estes anos todos, temos o direito à verdade... No meu tempo, o João cortava cabeças, com o beneplácito (?) dos seus superiores hierárquicos... Ele estava nos comandos africanos e havia a cultura do ronco... Temos de perceber tudo isto: havia homens, muito perturbados, nos comandos, com comportamentos patogénicos... Não estou sugerir nomes...E evito julgá-os. Hoje quero compreendê-los...
Luiz: Connosco estás à vontade, não há tabus... Peço-.te, portanto, que não deixes o assunto "para melhor oportunidade", o que na nossa terra equivale a dizer "para as calendas gregas" ou para o Dia de São Nunca... Aqui não conhecemos amigos e protegidos... Mas, claro, tens sempre o direito de omitir nomes... Boas Festas. Kassumai.
Luís Graça
PS - Luiz, não chegaste a receber o livro do pai do Pepito sobre os costumes jurídicos do felupes, pois não?! Creio que o Pepito enganou-se no nome, e em vez de mandar para ti, mandou para um outro gajo que ainda não descobri quem é... e que se antecipou a ti.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos)
(2) Vd. post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(3) Vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2396: Estórias (secretas) dos nossos criptos (1): Braimadicô, o prisioneiro (Albano Gomes)
Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > Mansambo > CART 2339 > 1969 > "Chegada do Braimadicô. Veio de helicóptero de Bissau. Era um Quadro do PAIGC (Comandante e correio entre Conacri e a Frente Leste). Tive que assinar a papelada da entrega Vinha para servir de guia na operação Lança Afiada, pois tinha sido capturado na zona de Mina" (TM).
Foto e legenda: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados.
Foto e legenda: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados.
1. Texto do nosso camarada Albano Gomes, ex-1º Cabo Op Cripto, CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (1):
Caro L.G.
Um Cripto tinha de comer tudo o bom e mau, mastigava, engolia e não podia vomitar e uma falha nossa poderia ser fatal.
As coisas do passado, nos dias de hoje, deixaram de ter o seu grau de segurança, fossem elas Confidenciais, Secretas ou Muito Secretas.
Assim sendo passo a contar algo que pouca malta sabe sobre a captura de Braimadicô que posteriormente veio para Mansambo, recebido pelo Torcato (Homem de antes quebrar que torcer), e sobre o qual ele já escreveu e anexou foto (2).
Um certo dia é apanhada e descodificada uma mensagem IN que referia o seguinte: Próximo 24 09 H chega a esse Major Braima.
Esta mensagem era enviada via rádio com emissão fraca, e recebida por outro rádio mas este de emissão bastante melhor.
Nós sabiamos que o rádio mais potente que tinha o IN no Sector L1 [, correspondente grosso modo ao triângulo Xime-Bambadinca-Xitole,] se encontrava em Mina, daí que não fosse dificil prever que no dia 24 às 9 horas possivelmente alguém chegaria à zona de Mina.
É enviada mensagem com grau de urgência Relâmpago, segurança Secreto e como Noticia A1, para o Com-Chefe - Bissau, Agrupamento - Bafatá e Batalhão - Bambadinca.
Nada mais se soube sobre o assunto, mas o certo é que dia 24 [de Fevereiro de 1969 ?] (3) quando ninguém esperava vários helicopteros, lançam sobre a zona tropas especiais numa intervenção muito rápida. Toda a malta desconhece o que se passa, excepto eu e, como é logico, o Cmdt da Companhia e possivelmente alguns Alferes.Pouco tempo após, chega a todas as Unidades uma mensagem, que refere a captura de Braimadicô.
O Braimadicô quando veio para Mansambo e ficou nas Transmissões, como refere o Torcato, contou algumas coisas da sua vida num francês bem falado e que recordo uma delas:
Fazia o contrabando entre o Mali, Guiné e Senegal, tendo sido um dia atacado por um animal selvagem que o deixou bastante ferido, e a prová-lo estavam as enormes cicatrizes que tinha a atravessar-lhe o peito. Foi encontrado muito ferido por pessoal do PAIGC que o socorreu e o tratou, onde passado algum tempo ficou como guerrilheiro, atingindo qualidades de chefia, até ser posteriormente feito prisioneiro.
Recordo-me ainda que a primeira refeição que comeu connosco nas Transmissões, foi uma feijoada de feijão vermelho e que, a meio da refeição desmaiou, possivelmente pelo facto de ser um prato demasiado forte, ao qual ele não estaria acostumado.
Deixou-me a ideia de se tratar de um homem bastante calmo.
L.G. para ti e para todos os Camaradas um Abraço
Albano Gomes
_________
Notas de L.G.:
Caro L.G.
Um Cripto tinha de comer tudo o bom e mau, mastigava, engolia e não podia vomitar e uma falha nossa poderia ser fatal.
As coisas do passado, nos dias de hoje, deixaram de ter o seu grau de segurança, fossem elas Confidenciais, Secretas ou Muito Secretas.
Assim sendo passo a contar algo que pouca malta sabe sobre a captura de Braimadicô que posteriormente veio para Mansambo, recebido pelo Torcato (Homem de antes quebrar que torcer), e sobre o qual ele já escreveu e anexou foto (2).
Um certo dia é apanhada e descodificada uma mensagem IN que referia o seguinte: Próximo 24 09 H chega a esse Major Braima.
Esta mensagem era enviada via rádio com emissão fraca, e recebida por outro rádio mas este de emissão bastante melhor.
Nós sabiamos que o rádio mais potente que tinha o IN no Sector L1 [, correspondente grosso modo ao triângulo Xime-Bambadinca-Xitole,] se encontrava em Mina, daí que não fosse dificil prever que no dia 24 às 9 horas possivelmente alguém chegaria à zona de Mina.
É enviada mensagem com grau de urgência Relâmpago, segurança Secreto e como Noticia A1, para o Com-Chefe - Bissau, Agrupamento - Bafatá e Batalhão - Bambadinca.
Nada mais se soube sobre o assunto, mas o certo é que dia 24 [de Fevereiro de 1969 ?] (3) quando ninguém esperava vários helicopteros, lançam sobre a zona tropas especiais numa intervenção muito rápida. Toda a malta desconhece o que se passa, excepto eu e, como é logico, o Cmdt da Companhia e possivelmente alguns Alferes.Pouco tempo após, chega a todas as Unidades uma mensagem, que refere a captura de Braimadicô.
O Braimadicô quando veio para Mansambo e ficou nas Transmissões, como refere o Torcato, contou algumas coisas da sua vida num francês bem falado e que recordo uma delas:
Fazia o contrabando entre o Mali, Guiné e Senegal, tendo sido um dia atacado por um animal selvagem que o deixou bastante ferido, e a prová-lo estavam as enormes cicatrizes que tinha a atravessar-lhe o peito. Foi encontrado muito ferido por pessoal do PAIGC que o socorreu e o tratou, onde passado algum tempo ficou como guerrilheiro, atingindo qualidades de chefia, até ser posteriormente feito prisioneiro.
Recordo-me ainda que a primeira refeição que comeu connosco nas Transmissões, foi uma feijoada de feijão vermelho e que, a meio da refeição desmaiou, possivelmente pelo facto de ser um prato demasiado forte, ao qual ele não estaria acostumado.
Deixou-me a ideia de se tratar de um homem bastante calmo.
L.G. para ti e para todos os Camaradas um Abraço
Albano Gomes
_________
Notas de L.G.:
(1) Sobre o Albano Gomes, vd posts de:
30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2390: Albano e Ferragudo, gente de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339, 1968/69)
28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2387: Tabanca Grande (46): Albano Gomes, residente em Chaves, ex-1º Cabo Cripto da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69)
26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)
(2) Vd. post de 5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1152: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (3): Braimadicô, o prisioneiro que veio do céu
(...) Veio de helicóptero de Bissau. Como era um Quadro do PAIGC (Comandante e correio entre Conacri e a frente Leste) tive que assinar a papelada da entrega. Isso responsabilizava-nos por tudo o que viesse a acontecer-lhe. Teríamos que justificar em auto. Vinha para servir de guia na operação Lança Afiada, pois tinha sido capturado na zona de Mina.
Foi mal recebido pelo meu grupo. Pouco tempo antes tínhamos sofrido o primeiro morto (Soldado Bessa). Para evitar aborrecimentos foi para a zona das transmissões e perto do cripto. Não era o melhor local. Ficou ao cuidado de um soldado e da malta das transmissões. Boa gente.
O prisioneiro não comeu, bebeu ou falou. Parecia mudo ou desconhecer qualquer língua – português, crioulo, francês ou qualquer dialecto. Sabíamos quem era, que línguas falava. Não colaborar era com ele, por enquanto, claro. Quando fosse necessário, fá-lo-ia. Agora mudo e quedo estava melhor.
Iniciámos a Lança Afiada e ele acompanhou-nos. Fui evacuado no 2º dia e regressei no 4º dia. Soube que se alimentava e pouco mais. Curiosamente, passado pouco tempo, cumprimentou-me em francês e saudou o meu regresso. Além de francês, falava português, crioulo e vários dialectos. Era do Norte, de etnia Bramame. Colaborou e bastante a partir daí. Levou-nos a uma arrecadação de material e não só. Falamos bastante, talvez demais porque, tempos depois Bissau fez perguntas sobre mim! A relação entre nós era boa. Eu queria ter determinados elementos, preciosos para nós além da curiosidade pessoal. Se ele fugisse ou era abatido por nós (apesar do futuro auto) ou era fuzilado pelos seus camaradas do PAIGC. Ambos o sabíamos. Por isso chegou a ter a minha arma na mão.
Se escrever sobre a Lança Afiada contarei (3)… Terminada a operação um héli veio buscar o Braimadicô, como gostava de ser chamado. Assinei novos papéis, um singelo abraço e um cumprimento militar. Porque éramos militares, ele por convicção, eu por obrigação.
Fora o que acima referi nunca mais soube dele. Pensem o que terá acontecido!? Sei lá (...).
(3) O prisioneiro foi utilizado como guia no decurso da Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969). Sobre esta operação, que bateu toda a margem direita do Rio Corubal no Sector L1, vd. posts de:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII: Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas (Luís Graça)
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli (Luís Graça)
14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)
(...) Veio de helicóptero de Bissau. Como era um Quadro do PAIGC (Comandante e correio entre Conacri e a frente Leste) tive que assinar a papelada da entrega. Isso responsabilizava-nos por tudo o que viesse a acontecer-lhe. Teríamos que justificar em auto. Vinha para servir de guia na operação Lança Afiada, pois tinha sido capturado na zona de Mina.
Foi mal recebido pelo meu grupo. Pouco tempo antes tínhamos sofrido o primeiro morto (Soldado Bessa). Para evitar aborrecimentos foi para a zona das transmissões e perto do cripto. Não era o melhor local. Ficou ao cuidado de um soldado e da malta das transmissões. Boa gente.
O prisioneiro não comeu, bebeu ou falou. Parecia mudo ou desconhecer qualquer língua – português, crioulo, francês ou qualquer dialecto. Sabíamos quem era, que línguas falava. Não colaborar era com ele, por enquanto, claro. Quando fosse necessário, fá-lo-ia. Agora mudo e quedo estava melhor.
Iniciámos a Lança Afiada e ele acompanhou-nos. Fui evacuado no 2º dia e regressei no 4º dia. Soube que se alimentava e pouco mais. Curiosamente, passado pouco tempo, cumprimentou-me em francês e saudou o meu regresso. Além de francês, falava português, crioulo e vários dialectos. Era do Norte, de etnia Bramame. Colaborou e bastante a partir daí. Levou-nos a uma arrecadação de material e não só. Falamos bastante, talvez demais porque, tempos depois Bissau fez perguntas sobre mim! A relação entre nós era boa. Eu queria ter determinados elementos, preciosos para nós além da curiosidade pessoal. Se ele fugisse ou era abatido por nós (apesar do futuro auto) ou era fuzilado pelos seus camaradas do PAIGC. Ambos o sabíamos. Por isso chegou a ter a minha arma na mão.
Se escrever sobre a Lança Afiada contarei (3)… Terminada a operação um héli veio buscar o Braimadicô, como gostava de ser chamado. Assinei novos papéis, um singelo abraço e um cumprimento militar. Porque éramos militares, ele por convicção, eu por obrigação.
Fora o que acima referi nunca mais soube dele. Pensem o que terá acontecido!? Sei lá (...).
(3) O prisioneiro foi utilizado como guia no decurso da Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969). Sobre esta operação, que bateu toda a margem direita do Rio Corubal no Sector L1, vd. posts de:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII: Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas (Luís Graça)
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli (Luís Graça)
14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Guiné 63/74 - P2395: Tertúlia de Matosinhos: Jantar de Natal, 27 de Dezembro de 2007 (Luís Graça / Zé Teixeira)
Vídeo: 3 m 58 ss. Alojado no You Tube > Nhabijoes.
Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
Matosinhos, Leça do Balio > Restaurante Vilas > 27 de Dezembro de 2007 > A tertúlia de Matosinhos... fez um jantar de Natal onde houve distribuição de prendas e não faltou o bolo com o mapa da Guiné... O Almeida cantou, emocionado, o Hino de Gandembel, com um coro de 30 vozes... Claro, eu não tive maneira de me desenfiar. Os organizadores (Zé Teixeira e Álvaro Basto) estão de parabéns... São, de resto, estas pequenas coisas que tornam o nosso blogue grande... (LG).
O Albano (de costas) e da esquerda para a direita, o Pimentel, o Álvaro e o pai dele...
O António Pimentel e o João Rocha...
O Xico Allen, o homem que melhor conhece a Guiné actual, e está a organizar a próxima expedição, por via terrestre, em Fevereiro de 2008... A caravana (a que se juntam uns camaradas de Coimbra e do Algarve) será constituída por 7 jipes e uma carrinha (esta, do Pires, mais conhecido por Pirex, também de Matosinhos).
O Casimiro Carvalho mostrando ao fotógrafo a famosa botelha de uísque Monks, velhinho, uma verdadeira relíquia, trazida da Guiné, em 1974, pelo António Barroso e ali bebida entre os camaradas presentes...
O Paulo Santiago (que veio expressamente de Aguada de Cima, Águeda), mais o Zé Teixeira e o Carlos Vinhal...
O José Casimiro Carvalho, que vive na Maia, e o David Guimarães, que reside em Espinho...
O A. Marques Lopes e a esposa...
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
O restaurante Vilas, na Rua Dom Frei Rodrigo da Cunha, Leça do Balio, foi pequeno para tanta gente e tanto entusiasmo tertuliano... Como combinado, lá estavam os bravos tertulianos de Matosinhos que, habitualmente, se reunem todas as quartas feiras na Casa Teresa, em Matosinhos... com destaque para os organizadores, o Zé Teixeira e o Álvaro Basto.
Eramos cerca de três dezenas de convivas... O Zé trouxe a esposa e a filha, que é a educadora de infância. O filho, que é médico, ficou de aparecer, mas não apareceu. O Álvaro trouxe, além da esposa, o seu pai, que aos 86 anos é já uma figura tutelar da Tertúlia de Matosinhos. Adorei conhecê-lo. Com a idade do meu velhote (que tem mais uns meses, já fez os 87), chegando a estar mobilizado para Cabo Verde no tempo da II Guerra Mundial.
Outros habitués da Casa Teresa (1) não faltaram: O Xico Allen (que vive na outra banda, no concelho de Vila Nova de Gaia), o A. Marques Lopes (acompanhado da sua jovem esposa e do seu filho, o mais novo)...
Outros matosinhenses, que habitualmente não param pela Casa Teresa, por uma razão ou outra, desta vez não perderam o ensejo: lá estava o meu amigo Albano Costa (mais a esposa e o o seu filho e nosso tertuliano Hugo Costa); o Carlos Vinhal, meu distinto co-editor, acompanhado da sua inseparável esposa (que já esteve nos nossos dois encontros anteriores, na Ameira e em Pombal); o David Guimarães, que é natural da Madalena (onde eu costumo passar o Natal e o Ano Novo) e que vive em Espinho, tendo-se reformado recentemente da Segurança Social (trabalhava no Porto, no CRSS)... Vizinho do Albano, que vive em Guifões, é o Joaquim Almeida, conhecido pelo Custóias, e que eu tive o grato prazer de conhecer pessoalmente...
Uma outra grande e grata surpresa foi o aparecimento inesperado do Paulo Santiago (que veio de Águeda, acompanhado da sua filha mais nova, a Maria Luís)... Também tive oportunidade de dar um grande abraço ao António Pimentel, que estava acompanhado de um camarada do meu tempo de Bambadinca, o João Rocha (ex-Alf do Pel Rec Info, da CCS do BCAÇ 2852)... Estes dois rangers estavam acompanhados de outros bravos e feros guerreiros como o Casimiro Carvalho e o Magalhães Ribeiro que apareceram, no fim do repasto, só para tomar café...
Muito agradável foi também reencontrar o Barroso, que veio de Valadares, acompanhado da esposa, e que foi protagonista de uma das muitas supresas da noite: a oferta e a abertura de uma velha garrafa de uísque velho, da marca Monks... O Barroso, que eu conheci em Pombal, era Alf Mil da CART 3492 (Xitole, 1972/74) (2)... De resto da mesma Companhia, era o Álvaro Basto e o Almeida e Silva, também presente no nosso convívio... Fez 36 anos que estes camaradas chegaram à Guiné, no dia 28 de Dezembro de 1971... Esta efeméride e a sua presença no Restaurante Vilas são noticiadas no blogue Xitole.
Enfim, há mais camaradas que estiveram presentes neste singelo convívio e que não aparecem nas fotografias: por exemplo, o Vasco Ferreira, meu parceiro de mesa, que esteve em Cadique Nalu (3)... Peço desculpa pelas omissões, de qualquer modo temos mais fotos (neste caso do Albano Costa) para publicar proximamente...
Devendo ser este o último post que publicamos em 2007, aproveito também a solene ocasião para expressar a todos os amigos e camaradas da Guiné o desejo um belo salto, em paz, em segurança, em saúde, em amor, em liberdade, para o novo ano que aí vem, o de 2008!
Daqui da Madalena, Vila Nova de Gaia, Luís Graça, em meu nome pessoal e dos meus queridos co-editores, Carlos Vinhal e Virgínio Briote (que presumo esteja no estrangeiro).
PS - A tertúlia continuou, já deooisda meia-noite, na casa (vizinha) de um tal coronel DFA, de apelido Marques Lopes... Em horas impróprias, na casa, ecou por Matosinhos o temível Gripo do Ranger, agora um pouco mais gripado do que há trinat e tal anos nas matas e bolanhas da Guiné...
O Grito do Ranger... por João Rocha, António Pimentel, Casimiro Carvalho e Magalhães Ribeiro.
Vídeo: 7 ss. Alojado no You Tube > Nhabijoes.
Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 5 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2329: O Hino de Gandembel cantado ao vivo na já famosa Casa Teresa, em Matosinhos, sede da delegação Norte da Tabanca Grande
(2) Vd. post de 28 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1708: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil da CART 3492, António Barroso, Xitole, 1972/74
(3) Vd. post de 2 de Agosto de 2007 >Guiné 63/74 - P2022: Em busca de... (8): Cadique Nalu... e da malta da CCAÇ 4540 (1972/73) (Vasco Ferreira)
Guiné 63/74 - P2394: Quem se lembra das cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes ? (Nuno Rubim)
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > O calvário das colunas logísticas... Foto 511 > Numa das últimas colunas, provenientes de Aldeia Formosa, a ponte, de madeira, sobre o Rio Balana ruíu ao peso de uma GMC cheia de bidões... Na imagem, vê-se a parte posterior da GMC assenta no leito do rio, ainda cheia de bidões... É pena que a foto não seja a cores (1)...
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.
1. Mensagem do Nuno Rubim:
Caro Luís
Julgo que o pedido abaixo transcrito foi apenas enviado ao pessoal da Tertúlia, pois só recebi uma resposta, aliás inconclusiva (1). Seria possível publicá-lo no blogue, que dispõe de um público mais alargado ?
Obrigado
Nuno Rubim
2. Mensagem do Nuno Rubim, de 18 de Dezembro:
Assunto - Pergunta ao Blogue sobre cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes
Caro Luís
Quando fôr oportuno, agradeço-te que coloques esta questão no blogue.
Na fase quase terminal da elaboração do Diorama sobre o aquartelamento
de Guileje, ainda me surgem dúvidas ( e mais haverão que ficarão por
responder per secula seculorum...) ! Mas isso é um dado perfeitamente
adquirido e assumido ! Não há complexos ... A História não é uma
ciência ( felizmente, a meu ver ) exacta ...
O pessoal do blogue será certamente capaz de me dar uma ajuda nesta
temática. Questão prosaica, mas aí vai ela ... :
Os bidões metálicos de combustíveis & lubrificantes, que serviram para
inúmeros usos, civis e militares..., tinham várias cores. O padrão era o
mesmo para toda a Guiné e, sem dúvida, para todas as outras frentes de
guerra e mesmo para a Metrópole.
Do que me lembro (e é fortemente possível que esteja enganado ), creio que
as cores eram a seguintes:
Vermelho: Gasolina
Azul : Gasóleo
Verde claro: Petróleo
Amarelo : ???
Outras côres : ???
Agradece-se, pois, qualquer contributo nesta questão.
Nuno Rubim
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. troca de correspondència com o Santos Oliveira, em 19 de Dezembro de 2007:
(i) Caríssimo
Estou a tentar saber o código de cores dos combustíveis e lubrificantes. Está a ser difícil, porque o fim da guerra também trouxe a extinção desse código. Coincidências (???). Estou a tentar encontrar pessoal que, ao tempo, trabalhava no ramo. Darei notícias logo que as possua. Entretanto, para informação, apenas são obrigados a ter símbolos; as cores, são as que cada Companhia arbitrariamente queira utilizar.
Um Feliz Natal, e um abraço, do
Santos Oliveira
(ii) Caro Camarada:
Obrigado pela sua resposta.
Acho que não, o sistema de côres devia estar estandardizado, senão
seria uma confusão medonha logo nos centros de expedição.
Também lhe desejo a si e sua Família um Feliz Natal.
Um abraço
Nuno Rubim
(iii) Camarada amigo
É verdade que com as antigas Normas DIN, assim era. Entretanto foram criados determinados símbolos sobre diversos produtos de risco e foi determinada a utilização desses desenhos. Nos carros de transporte funciona com cor alaranjada e um número; esse número é que indica o tipo de produto transportado. O resto…
Vamos esperar mais um pouco e talvez se concretize o teu saber acerca deste assunto.
Um novo e maior abraço, do
Santos Oliveira
(iv) Amigo Santos Oliveira
Assim era, mas uma coisa eram as Normas sobre símbolos dos produtos
de risco (aliás ainda em uso, embora alguns diferentes, de acordo com as
regulamentações da OTAN ), outra as côres dos bidões de combustíveis e
lubrificantes para distribuição às unidades.
Mas como disse, vamos esperar por mais contribuições.
Um grande abraço
Nuno Rubim
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post 18 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.
1. Mensagem do Nuno Rubim:
Caro Luís
Julgo que o pedido abaixo transcrito foi apenas enviado ao pessoal da Tertúlia, pois só recebi uma resposta, aliás inconclusiva (1). Seria possível publicá-lo no blogue, que dispõe de um público mais alargado ?
Obrigado
Nuno Rubim
2. Mensagem do Nuno Rubim, de 18 de Dezembro:
Assunto - Pergunta ao Blogue sobre cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes
Caro Luís
Quando fôr oportuno, agradeço-te que coloques esta questão no blogue.
Na fase quase terminal da elaboração do Diorama sobre o aquartelamento
de Guileje, ainda me surgem dúvidas ( e mais haverão que ficarão por
responder per secula seculorum...) ! Mas isso é um dado perfeitamente
adquirido e assumido ! Não há complexos ... A História não é uma
ciência ( felizmente, a meu ver ) exacta ...
O pessoal do blogue será certamente capaz de me dar uma ajuda nesta
temática. Questão prosaica, mas aí vai ela ... :
Os bidões metálicos de combustíveis & lubrificantes, que serviram para
inúmeros usos, civis e militares..., tinham várias cores. O padrão era o
mesmo para toda a Guiné e, sem dúvida, para todas as outras frentes de
guerra e mesmo para a Metrópole.
Do que me lembro (e é fortemente possível que esteja enganado ), creio que
as cores eram a seguintes:
Vermelho: Gasolina
Azul : Gasóleo
Verde claro: Petróleo
Amarelo : ???
Outras côres : ???
Agradece-se, pois, qualquer contributo nesta questão.
Nuno Rubim
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. troca de correspondència com o Santos Oliveira, em 19 de Dezembro de 2007:
(i) Caríssimo
Estou a tentar saber o código de cores dos combustíveis e lubrificantes. Está a ser difícil, porque o fim da guerra também trouxe a extinção desse código. Coincidências (???). Estou a tentar encontrar pessoal que, ao tempo, trabalhava no ramo. Darei notícias logo que as possua. Entretanto, para informação, apenas são obrigados a ter símbolos; as cores, são as que cada Companhia arbitrariamente queira utilizar.
Um Feliz Natal, e um abraço, do
Santos Oliveira
(ii) Caro Camarada:
Obrigado pela sua resposta.
Acho que não, o sistema de côres devia estar estandardizado, senão
seria uma confusão medonha logo nos centros de expedição.
Também lhe desejo a si e sua Família um Feliz Natal.
Um abraço
Nuno Rubim
(iii) Camarada amigo
É verdade que com as antigas Normas DIN, assim era. Entretanto foram criados determinados símbolos sobre diversos produtos de risco e foi determinada a utilização desses desenhos. Nos carros de transporte funciona com cor alaranjada e um número; esse número é que indica o tipo de produto transportado. O resto…
Vamos esperar mais um pouco e talvez se concretize o teu saber acerca deste assunto.
Um novo e maior abraço, do
Santos Oliveira
(iv) Amigo Santos Oliveira
Assim era, mas uma coisa eram as Normas sobre símbolos dos produtos
de risco (aliás ainda em uso, embora alguns diferentes, de acordo com as
regulamentações da OTAN ), outra as côres dos bidões de combustíveis e
lubrificantes para distribuição às unidades.
Mas como disse, vamos esperar por mais contribuições.
Um grande abraço
Nuno Rubim
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post 18 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)
Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)
Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > O A. Santos, Op Trms, Pel Mort 4574 (1972/74)
Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.
Carlos:
Antes de tudo desejo um bom ano de 2008 para ti e familiares, que corra tudo como esperas.
De seguida para que o pessoal da Tabanca Grande veja o que era um Racal TR 28-B2, envio esta foto tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.
Na imagem, podemos ver a bolsa própria do Racal (para protecção do aparelho), e que já trazia suspensórios. Isto foi só para a foto (1).
Um alfa bravo
A. Santos
Pel Mort 4574
SPM 2558
____________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)
Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.
Carlos:
Antes de tudo desejo um bom ano de 2008 para ti e familiares, que corra tudo como esperas.
De seguida para que o pessoal da Tabanca Grande veja o que era um Racal TR 28-B2, envio esta foto tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.
Na imagem, podemos ver a bolsa própria do Racal (para protecção do aparelho), e que já trazia suspensórios. Isto foi só para a foto (1).
Um alfa bravo
A. Santos
Pel Mort 4574
SPM 2558
____________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)
Guiné 63/74 - P2392: Memória dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)
Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > Marco comemorativo do V Centenário da chegada do primeiro explorador da Guiné, em Porto Gole, fotografado em 1966. Este é o lado oposto à fotografia do Jorge Rosmaninho (1). Dizeres, gravados na pedra: "Aqui chegou Diogo Gomes, primeiro explorador da Guiné, no ano de 1456".
Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > "Com esta vestimenta, até parece que andava a fazer turismo"
Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > "Vista para o rio Geba com o Posto de Sentinela e o Marco, ao fundo".
Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > "Os 3 Furriéis Milicianos do Pel Caç Nat 52: Sentados, Vaz e Altino; de pé, Monteiro"
Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > "Eu, à esquerda, com os Fur Mil Altino ao centro e Vaz à direita".
Fotos e legendas: © Henrique Matos (2007). Direitos reservados
1. Mensagem do Henrique Matos, ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68):
1. Mensagem do Henrique Matos, ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68):
Caros tertulianos:
Já que o Luís lançou um repto ao dizer que "há poucas referências e pouca documentação sobre Porto Gole" (1) aqui vão cinco imagens feitas em 1966/67 relacionadas apenas com o Marco ou Padrão, erigido para comemorar o V Centenário da Descoberta da Guiné e que, ao ver a fotografia do Jorge Rosmaninho do Blog Africanidades, parece ter resistido ao processo de desmantelar os rastos deixados pela potência colonial.
A qualidade é muito fraca, mas é o que se pode arranjar. Gostei de ver a fotografia da moeda de 1 escudo que foi emitida naquele Centenário, penso que há outra de 50 centavos, que o Joaquim Almeida (Custóias) encontrou na bolanha de Porto Gole (2). Provavelmente refere-se à região de Bissá (chão Balanta), de má memória para mim e muitos camaradas, que fica entre Porto Gole e Mansoa.
Grande abraço
Henrique Matos
Já que o Luís lançou um repto ao dizer que "há poucas referências e pouca documentação sobre Porto Gole" (1) aqui vão cinco imagens feitas em 1966/67 relacionadas apenas com o Marco ou Padrão, erigido para comemorar o V Centenário da Descoberta da Guiné e que, ao ver a fotografia do Jorge Rosmaninho do Blog Africanidades, parece ter resistido ao processo de desmantelar os rastos deixados pela potência colonial.
A qualidade é muito fraca, mas é o que se pode arranjar. Gostei de ver a fotografia da moeda de 1 escudo que foi emitida naquele Centenário, penso que há outra de 50 centavos, que o Joaquim Almeida (Custóias) encontrou na bolanha de Porto Gole (2). Provavelmente refere-se à região de Bissá (chão Balanta), de má memória para mim e muitos camaradas, que fica entre Porto Gole e Mansoa.
Grande abraço
Henrique Matos
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos
(2) Vd. post de 26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2385: Moedas do tempo colonial (Joaquim Almeida, Custóias, CCAÇ 817, 1965/67)
domingo, 30 de dezembro de 2007
Guiné 63/74 - P2391: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (7) - Parte VI: Malan é entregue à PIDE de Catió (Mário Fitas)
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) >
Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 12 > Centro do aquartelamento (parada), edifícios do comando e cómodos dos oficiais, vistos do lado da messe de sargentos. (Podem ver-se os varandins e balaustradas que o Mário Vicente descreve no seu livro A Guerrilheira, para a direita das viaturas Matadores que se vêm ao fundo, ficaria a palhota que serviu de cárcere à Pami Na Dondo).
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > Outro interior da messe de Sargentos. Vejam-se os cadeirões feitos dos barris do vinho, a necessidade aguçava o engenho.
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 7 > Interior da messe e bar de Sargentos.
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Foto 1 > Cufar Aquartelamento de Cufar, vista do lado da Pista.
Fotos e legendas: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA (1)
por Mário Vicente
Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112
Edição no blogue, devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726 : Revisão do texto, resumo e subtítulos: Luís Graça.
Parte VI - Esperando o segundo interrogatório (pp. 47-52)
Resumos dos posts anteriores (1):
(i) A acção decorrer no sul da Guiné, entre os anos de 1963 e 1966, coincidindo em grande parte com a colocação da CCAÇ 763, como unidade de quadrícula, em Cufar (Março de 1965/Novembro de 1966)…
No início da guerra, em 1963 Pan Na Ufna, de etnia, balanta, trabalha na Casa Brandoa, que pertence à empresa União Fabricante [leia-se: Casa Gouveia, pertencente à CUF]. A produção de arroz, na região de Tombali, é comprada pela Casa Brandoa. Luís Ramos, caboverdiano, é o encarregado. Paga melhor do que a concorrência. Vamos ficar a saber que é um militante do PAIGC e que é através da sua influência que Pan Na Ufna saiu de Catió para se juntar à guerrilha, levando com ele a sua filha Pami Na Dono, uma jovem de 14 anos, educada das missão católica do Padre Francelino, italiano.
O missionário quer mandar Pami para um colégio de freiras em Itália mas, entretanto, é expulso pelas autoridades portugueses, por suspeita de ligações ao PAIGC (deduz-se do contexto). Luís Ramos, por sua vez, regressa a Bissau, perturbado com a notícia de que seu filho, a estudar em Lisboa, fora chamado para fazer a tropa.
É neste contexto que Pan Na Una decide passar à clandestinidade, refugiando-se no Cantanhês, região considerada já então libertada.
(ii) De etnia balanta, educada na missão católica, Pami Na Dondo, aos catorze anos, torna-se guerrilheira do PAIGC. Fugiu de Catió, com a família, que se instala no Cantanhês, em Cafal Balanta. O pai, Pan Na Ufna entra na instrução da Milícia Popular. Pami parte, com um grupo de jovens, para a vizinha República da Guiné-Conacri para receber formação político-militar, na base de Sambise. O pai, agora guerrilheiro, na região sul (que é comandada por João Bernardo Vieira 'Nino') , encontra-se muito esporadicamente com a filha. Num desses encontros, o pai informa a filha de que a mãe está gravemente doente. Pami fica muito preocupada e quer levá-la clandestinamente a Catió, enquanto sonha com o dia em que se tornará companheira do pai na Guerrilha Popular.
Entretanto, o destino prega-lhe uma partida cruel: na instrução, na carreira de tiro, tem um grave acidente, a sua mão esquerda fica decepada. No hospital, conhece Malan Cassamá, companheiro de guerrilha de seu pai, que recupera de um estilhaço de morteiro, que o atingiu na perna, no decurso da Batalha do Como, em Janeiro de 1964 (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964, levada a cabo pelas NT) . Malan fala a Pami da coragem e bravura com quem seu pai se bateu contra os tugas.
Pami é destacada para dar aulas ao pessoal do Exército Popular e da Milícia Popular, em Flaque Injã, Cantanhês. No dia da despedida, canta, emocionada, o hino do Partido, 'Esta é a Nossa Pátria Amada', escrito e composto por Amílcar Cabral. Segue para Flaque Injã, com o coração em alvoroço, apaixonda por Malan Cassamá. De regresso à guerrilha, a Cansalá, Malan fala com o pai da jovem, e de acordo com os costumes gentílicos, Pami torna-se sua mulher.
(iii) Na actual região de Tombali (Catió), no sul da Guiné, o PAIGC, logo no início da guerra, ganha terreno e populações (nomeadamente, de etnia balanat). A resposta das autoridades portuguesas não se fez esperar, com uma grande contra-ofensiva para reconquista a Ilha do Como (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964).
Entretanto, começam a chegar a Catió chegam reforços significativos. O Cantanhês, zona libertada, assusta o governo Português. Em contrapartida, no PAIGC, Nino, o mítico comandante da Região Sul, manda reforçar os acampamentos instalados nas matas de Cufar Nalu e Cabolol.
Em finais de 1964, Sanhá, a mãe de Pami, morre de doença na sua morança na tabanca de Cadique Iála. O guerrilheiro Pan Na Ufna, acompanhado da sua filha, faz o respectivo choro, de acordo com a tradição dos balantas.
Em Março de 1965, os homens da CCAÇ 763 - conhecidos pela guerrilha como os Lassas (abelhas) - reconquistam ao PAIGC a antiga fábrica de descasque de arroz, na Quinta de Cufar, e respectiva pista de aterragem em terra batida. Nino está preocupado com a actuação dos Lassas, agora instalados em Cufar, juntamente com o pelotão de milícias de João Bacar Jaló, antigo cipaio, agora alferes de 2ª linha.
Entretanto, Pami e Malan continuam a viver a sua bela estória de anor, em tempo de guerra, de sacrifício e de heroísmo. Ela, instalada em Flaque Injá, onde é professora. Ele, guerrilheiro, visita-a sempre que pode.A 15 de Maio de 1965, os Lassas destroem o acampamento do PAIGC na mata de Cufar Nalu. A guerrilha sofre baixas mas, durante a noite, consegue escapar com o equipamento para Cabolol. Na semana seguinte, os militares de Cufar tentam romper a estrada para Cobumba. Embrenham-se na mata de Cabolol, destroiem várias tabancas na zona.
Em princípios de Junho de 1965, os Lassas (abelhas) vão mais longe, destruindo o acampamento de Cabolol. Em Cafal, o comando político-militar do PAIGC está cada vez mais preocupado. Em Julho, Pami chora de dor, raiva e revolta ao ver a sua escola destruída, em Flaque Injã. Grande quantidade de material desaparece ou fica queimado. As casas de Flaque Injã ficam reduzidas a cinzas.
Mas a luta continua... Psiquicamente recuperada, a população começa a reconstrução de Flaque Injã e Caboxanque. A guerrilha recebe mais reforços e armamento novo. Pami entra voluntariamente numa coluna de reabastecimento que a leva à República da Guiné. Segue o corredor de Guilege, e sobe de Mejo para Salancaur, daqui para o Xuguê [Chuguè, segundo a carta de Bedanda,] terra de seus avós paternos. Desce até Cansalá, onde se encontra com seu marido. Não encontra seu pai, pois este fora transferido para o Cafal, e ali integrado numa companhia do Exército Popular.
Em meados de Agosto de 1965, Pami Na Dondo desce com Malan Cassamá até Cobumba. Malan e o seu grupo levam a cabo várias acções contra a tropa e o quartel de Bedanda. O grupo regressa a Cansalá. Uma delegação da OUA visita as zonas libertadas, a convite do PAIGC.
(iv) Madrugada de 24 de Agosto de 1965, Pami e Malan dormiam nos braços um do outro quando a tabanca, Cobumba, sofre um golpe de mão do exército português, que tem a assinatura dos Lassas.
No grupo de prisioneiros que são levados para Cufar, estão Malan e Pami que terão destinos diferentes. Pami estão integrada num grupo de cinco mulheres e procura nunca denunciar a sua condição de professora. Em caso algum falará recusará falar em português ou em crioulo. Mas os seus olhos de águia vão observado tudo, no caminho até ao quartel dos Lassas. No rio Cadique o grupo embarca em lanchas da Marinha. O Alferes Telmo não deixa que ninguém toque nas mulheres. Fala em psico, uma palavra que Pami desconhece. O grupo é entregue à guarda ao Furriel Mamadu.
Pami mal reconhece a antiga fábrica de descasque de arroz, a Quinta de Cufar, onse se instalaram os Lassas. Os prisioneiros são recebidos por militar dos óculos que, mais tarde Pami vem a saber tratar-se de Carlos, O Leão de Cufar, comandante do aquartelamento. Homens e mulheres são instalados em sítuios diefrentes. Malna e Pami entrecuzram o olhar, sem se denunciaram. Sabem que dizem ali adeus para sempre. Lágrimas nos olhos, Pami sente a dor da separação. )Pami e as prisioneiros ficam à guarda da milícia de João Bacar Jaló. Recusa-se a comer, bebe só água. No dia seguinte, a vida no aquartelamento retoma o seu ritmo. Pami pode agora ouvir e até ver perfeitamente, por entre as frestas das paredes de capim ao alto entrançado com lianas, tudo o que acontece por fora da palhota onde tinha passado a noite.
(v) Começam os interrogatórios dos prisioneiros, em Cufar. Um soldado milícia, da torpa de João Bacar Jaló, vem buscar Pami. Pelo caminho, Pami vai-se preparando mentalmente para mentir aos seus captores e sobretudo para não comprometer Malan. Entretanto, com os seus olhos de águia, vai observando e registando todos os pormenores da vida no aquartelamento dos Lassas.
Um milícia serve de intérprete. O interrogatório é conduzido pelo Alferes Telmo, acompanhado pelo Furriel Rafael (de alcunha, Mamadu), um e outros reconhecidos de imediato pela Pami. Respondendo apenas em balanta, diz chamar-se Sanhá Na Cunhema (nome da mãe) e ter nascido na Ilha do Como.
Os militares decidem mudar de táctica. Rafael encosta-lhe o cano da pistola ao seu ouvido, e pergunta-lhe, através do intérprete, o que aconteceu à sua mão esquerda... Um pouco trémula, diz que, quando era criança, fora mordida por uma cobre, tendo o pai sido obrigado a cortar-lhe a mão para a salvar...
Pami parece não convencer os seus interlocutores. Os dois Lassas entram em provocações de teor sexual, pensando tratar-se de uma eventual prostituta ao serviço da guerrilha... O interrogatório irá continuar nos dias seguintes. Pami regressa, exausta, para junto das suas companheiras de infortúnio. Mas, ao mesmo tempo, sente-se orgulhosa por. neste primeiro round, não ter traído os ideais de seu pai, Pan Na Ufna e de seu marido, Malan, valentes guerrilheiros do PAIGC.
(i) Pami está exausta e confusa, depois do primeiro interrogatório com os rangers Telmo e Rafael (ou Mamadu)
Passado que fora aproximadamente uma hora de terem levado a Bajuda, ouviram-se passos em corrida e grandes gargalhadas no Comando. Pouco depois a rapariga foi reintroduzida na prisão. Tremendo toda, enrolou-se junto de Pami. Esta ajeitou-se, de forma que as caras ficaram juntas. A professora de Flaque Injã passou com suavidade a sua única mão pelo rosto da jovem e sentiu os dedos humidificarem-se com as suas lágrimas. Num murmúrio, perguntou-lhe:
- Fizeram-te mal? Abusaram?
- Não!
Então sussurrante, a jovem contou tudo o que se tinha passado:
- Levaram-me para uma casa, onde estava uma cama dos militares. Fiquei ali só, durante um tempo até que apareceu um militar que deveria ser o dono da cama. Eu estava sentada a um canto. E ele pareceu ficar surpreendido com a minha presença. Começou a falar, mas eu não entendia nada, pois não conheço a língua deles. Passados uns momentos, ele aproximou-se e, sempre falando, pôs a mão na minha cabeça, e foi descendo até apertar o meu seio. Aí eu bati com a minha mão na dele. Falou mais, e veio novamente, agora tentando meter a mão entre as minhas pernas. Havia um pau junto, e eu peguei nele para lhe bater. Então ele começou a fugir, em volta da casa, sempre falando. Parou e tentou vir junto de mim outra vez, e eu levantei o pau novamente. Ouvi barulho, por cima, e vi muitas caras espreitando e rindo. Ele falou para os outros zangado, e os outros fugiram. Depois trouxeram-me para aqui. Mas estou com muito medo.
Estava narrada a aventura da Bajuda. Pami acalmou a miúda, colega de cárcere. Felizmente nada de grave tinha acontecido. No dia seguinte pelas conversas ouvidas ao grupo que se reuniu na varanda do Comando, verificou ter-se tratado de brincadeira, feita pelos alferes ao tenente. Do qual ficou a saber ser médico, e chamar-se Leandro.
Próximo da hora de almoço do dia seguinte, Pami foi levada novamente para ser interrogada. Só que para surpresa sua, o interrogatório não era com os mesmos do dia anterior. Estes não conhecia o nome, mas eram do mesmo grupo que comandavam os Lassas. Um sem barbas, que tinha na mão o mesmo caderno onde Telmo tinha escrito, perguntou a um milícia que também era outro, o seguinte:
- Gibi, pergunta-lhe lá, se o que ela ontem disse é verdade?
O milícia formulou a pergunta em Balanta. A prisioneira esperou um pouco e acenou que sim com a cabeça. Os militares ficaram calados, e o que não tinha barbas disse para o outro:
- O que é que fazemos, Gama?
Ao que o de cara cheia e com barbas, respondeu:
- Sei lá, carago! Oh meu alferes, deixe essa merda, carago! Estamos aqui a perder tempo para quê? O alferes Telmo e o Mamadu que tratem dela, eles são Rangers, eles é que sabem tratar dessas merdas, carago!
Pami ficou a conhecer mais dois elementos dos Lassas. O alferes virou-se para o barbudo e falou:
- Eh, pá, eu acho que eles têm razão. Esta gaja parece esconder algo.
- Não duvido! Se o Telmo e o Mamadu nos pediram para fazer isto, é porque lhe cheira a qualquer coisa, carago! Mas eles que se chateiem. Eu já não tenho pachorra para isto, carago.
O alferes virou-se para o milícia Gibi, e disse:
- Diz-lhe que quando quiser falar verdade que diga. E agora leva-a para a palhota!
A professora ficou estupefacta. Estes indivíduos são de facto imprevisíveis. Tem de ter muito cuidado. Não pode cair em contradição, ou ceder qualquer pista, pois não sabe nada sobre o que está a acontecer a Malan Cassamá, e agora tinha muitas mais razões para a sua inquietação, resultante das revelações feitas pelos seus inquiridores. Sim, ficou a saber que Telmo e Rafael pertenciam a tropas especiais. Porquê a sua inclusão numa companhia normal do exército colonialista?
(ii) Malan, denunciado como guerrilheiro, é entregue à PIDE de Catió
Ao terceiro dia é concedida autorização para as prisioneiras lavarem a roupa, pelo que se dirigem todas para o poço. As duas mulheres primeiramente interrogadas, e que continuam a ser ouvidas em conjunto, desligam-se um pouco do grupo. Os militares sentem grande interesse por elas, e estão constantemente a ser chamadas. Pami tem a certeza que elas estarão a passar informações sobre a guerrilha. A professora apercebe-se que os homens estão a ser interrogados com a ajuda de cães para aterrorizar mais. Do seu ponto de observação, no interior da prisão palhota, consegue ouvir uma conversa, em que Malan Cassamá, já foi identificado. Ouviu perfeitamente Telmo falar com o Leão de Cufar:
- Meu capitão, o problema está resolvido, o indivíduo não confessou, mas há um que confirma, que o gajo é mesmo o Malan Cassamá, e que pertence ao Exército Popular como consta no pedido de captura!
- É uma porra, Telmo! Não podemos ficar com ele. Temos de o levar para Catió e entregá-lo à PIDE. Mas vê se lhe caças alguma coisa. Na próxima ocasião, pedimos o gajo como guia. Olha, diz ao Palmeiro que aquelas duas gajas que se abriram, podem ir embora. E já agora que levem a miúda, não vá algum sacana de noite meter-lhe os tampos dentro, e termos para aí problemas. As outras espremam um pouco mais a ver se dá alguma coisa. A sem mão é capaz de ser tonta, mas tudo é possível.
- Certo, vou tratar disso com o Palmeiro!
- Outra coisa, meu capitão. A mais velha disse alguma coisa que coincide na generalidade com as outras. Mas os soldados andam de volta dela, e parece que alguns já a comeram. Era melhor o doutor vê-la, não vá haver para aí uma infecção geral, e andar tudo de gaita à bandoleira.
- Certo, levem-na ao Leandro.
Pami, embora receosa e triste, por verificar que os prisioneiros parecerem não estar a aguentar-se. Ficou mais aliviada com esta revelação, pois Malan pelo menos já tinha o estatuto de prisioneiro em princípio regularizado. Mas estava preocupada por não ser chamada, nem a sua companheira, agora que as outras três tinham partido. Ou estariam à espera que fosse ela a tomar a iniciativa? Grandes momentos de confusão para a professora de Flaque Injã.
Uma manhã, oito dias passados sobre a sua captura, Pami conseguiu ver Malan. Mãos amarradas por uma corda, que lhe envolvia o pescoço, o guerrilheiro era içado, para uma viatura, que seguiria numa coluna rumo a Catió. Agora sim a separação seria para sempre.
Aos poucos os homens prisioneiros foram desaparecendo. O destino deles era interrogação para Pami, que permanecia com a sua companheira, a qual por vezes se ausentava com os militares, voltando com pão, vinho, bolacha e por vezes aparecia já alcoolizada. A conversa entre as duas era nula. Uma manhã a companheira saiu e não voltou mais.
(iii) Pami torna-se confidente de Miriam e sente um ódio profundo pelo Furriel Rafael (Mamadu)
Pami sentiu mais liberdade, e verificou que ninguém ficava a guardar a sua prisão. Pelo que começou a sair e a sentar-se no chão junto à porta, apercebendo-se agora praticamente de toda a vida dos Lassas dentro do seu aquartelamento. O pessoal da milícia falava com ela, e as mulheres aproximavam-se mais, mantendo até conversa. Pami receou que alguma mais velha a reconhecesse de Catió, mas a invenção do nome e a falta da mão ocultavam perfeitamente bem a sua verdadeira identidade.
Duas mulheres, as quais eram bastantes novas e casadas com dois milícias já velhos, começaram a vir até junto dela, e falar imenso. A professora redobrou a atenção e concentração, não fossem os militares tentarem recolher qualquer informação através delas. Apercebeu-se mais tarde que não seria essa a intenção, mas única e simplesmente a conversa um pouco criança, talvez, que suscitava a curiosidade e o interesse das jovens mulheres.
Apercebeu-se rapidamente que a que dava pelo nome de Míriam, era nada menos nada mais do que a lavadeira - mas não só - do furriel Rafael. A de nome Meta - um pouco tonta - tinha relações com um soldado nativo, ou seja do recrutamento da Província, como diziam os colonialistas, o qual era criado (impedido) de três furriéis, onde estava incluído o Rafael.
Que ódio tinha Pami a este homem! Porquê? Ela própria não o sabia definir. Seria por causa dos interrogatórios? Talvez! Mas... tirando o caso de puxar pela pistola e tê-la colocado no seu ouvido, não tinha sido violento. Antipatia natural seria!? O olhar dele parecia que a trespassava.
Da conversa com as duas Pami ficou a saber que Meta dormia com o impedido por gostar de fazer conversa giro, coisa impossível de acontecer com seu marido, dada a impotência deste derivado da sua velhice. Os encontros de Miriam com o furriel seriam o desejo desta ter um filho de um homem branco. Coisas incompreensíveis para a jovem professora, cuja cabeça era apenas ocupada por Malan.
Os Lassas voltaram a ir ao outro lado do Cumbijã. Meta contou que tinham andado por Cadique Iála, e que tinham morto muita gente, e queimado as casas todas. E não tinham tido nem mortos nem feridos. Pami apercebeu-se que de facto as coisas deveriam ter corrido bem, porque houve grande festa no Comando. Mas também poderia ser festa de anos do furriel Rafael, como afirmara Miriam. Era certo que quando algum furriel ou alferes fazia anos, havia sempre grandes festas. Era uma forma de criar corpo de unidade, delineado pelo macaco velho do Leão de Cufar (2).
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores desta série:
18 de Dezembro de 2007 > Guine 63/74 - P2363: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (6): Parte V: O primeiro interrogatório da prisioneira (Mário Fitas)
23 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)
5 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2328: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (4) - Parte III: O amor em tempo de guerrilha (Mário Fitas)
10 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)
(2) Comandante dos Lassas
Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 12 > Centro do aquartelamento (parada), edifícios do comando e cómodos dos oficiais, vistos do lado da messe de sargentos. (Podem ver-se os varandins e balaustradas que o Mário Vicente descreve no seu livro A Guerrilheira, para a direita das viaturas Matadores que se vêm ao fundo, ficaria a palhota que serviu de cárcere à Pami Na Dondo).
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > Outro interior da messe de Sargentos. Vejam-se os cadeirões feitos dos barris do vinho, a necessidade aguçava o engenho.
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 7 > Interior da messe e bar de Sargentos.
Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Foto 1 > Cufar Aquartelamento de Cufar, vista do lado da Pista.
Fotos e legendas: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA (1)
por Mário Vicente
Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112
Edição no blogue, devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726 : Revisão do texto, resumo e subtítulos: Luís Graça.
Parte VI - Esperando o segundo interrogatório (pp. 47-52)
Resumos dos posts anteriores (1):
(i) A acção decorrer no sul da Guiné, entre os anos de 1963 e 1966, coincidindo em grande parte com a colocação da CCAÇ 763, como unidade de quadrícula, em Cufar (Março de 1965/Novembro de 1966)…
No início da guerra, em 1963 Pan Na Ufna, de etnia, balanta, trabalha na Casa Brandoa, que pertence à empresa União Fabricante [leia-se: Casa Gouveia, pertencente à CUF]. A produção de arroz, na região de Tombali, é comprada pela Casa Brandoa. Luís Ramos, caboverdiano, é o encarregado. Paga melhor do que a concorrência. Vamos ficar a saber que é um militante do PAIGC e que é através da sua influência que Pan Na Ufna saiu de Catió para se juntar à guerrilha, levando com ele a sua filha Pami Na Dono, uma jovem de 14 anos, educada das missão católica do Padre Francelino, italiano.
O missionário quer mandar Pami para um colégio de freiras em Itália mas, entretanto, é expulso pelas autoridades portugueses, por suspeita de ligações ao PAIGC (deduz-se do contexto). Luís Ramos, por sua vez, regressa a Bissau, perturbado com a notícia de que seu filho, a estudar em Lisboa, fora chamado para fazer a tropa.
É neste contexto que Pan Na Una decide passar à clandestinidade, refugiando-se no Cantanhês, região considerada já então libertada.
(ii) De etnia balanta, educada na missão católica, Pami Na Dondo, aos catorze anos, torna-se guerrilheira do PAIGC. Fugiu de Catió, com a família, que se instala no Cantanhês, em Cafal Balanta. O pai, Pan Na Ufna entra na instrução da Milícia Popular. Pami parte, com um grupo de jovens, para a vizinha República da Guiné-Conacri para receber formação político-militar, na base de Sambise. O pai, agora guerrilheiro, na região sul (que é comandada por João Bernardo Vieira 'Nino') , encontra-se muito esporadicamente com a filha. Num desses encontros, o pai informa a filha de que a mãe está gravemente doente. Pami fica muito preocupada e quer levá-la clandestinamente a Catió, enquanto sonha com o dia em que se tornará companheira do pai na Guerrilha Popular.
Entretanto, o destino prega-lhe uma partida cruel: na instrução, na carreira de tiro, tem um grave acidente, a sua mão esquerda fica decepada. No hospital, conhece Malan Cassamá, companheiro de guerrilha de seu pai, que recupera de um estilhaço de morteiro, que o atingiu na perna, no decurso da Batalha do Como, em Janeiro de 1964 (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964, levada a cabo pelas NT) . Malan fala a Pami da coragem e bravura com quem seu pai se bateu contra os tugas.
Pami é destacada para dar aulas ao pessoal do Exército Popular e da Milícia Popular, em Flaque Injã, Cantanhês. No dia da despedida, canta, emocionada, o hino do Partido, 'Esta é a Nossa Pátria Amada', escrito e composto por Amílcar Cabral. Segue para Flaque Injã, com o coração em alvoroço, apaixonda por Malan Cassamá. De regresso à guerrilha, a Cansalá, Malan fala com o pai da jovem, e de acordo com os costumes gentílicos, Pami torna-se sua mulher.
(iii) Na actual região de Tombali (Catió), no sul da Guiné, o PAIGC, logo no início da guerra, ganha terreno e populações (nomeadamente, de etnia balanat). A resposta das autoridades portuguesas não se fez esperar, com uma grande contra-ofensiva para reconquista a Ilha do Como (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964).
Entretanto, começam a chegar a Catió chegam reforços significativos. O Cantanhês, zona libertada, assusta o governo Português. Em contrapartida, no PAIGC, Nino, o mítico comandante da Região Sul, manda reforçar os acampamentos instalados nas matas de Cufar Nalu e Cabolol.
Em finais de 1964, Sanhá, a mãe de Pami, morre de doença na sua morança na tabanca de Cadique Iála. O guerrilheiro Pan Na Ufna, acompanhado da sua filha, faz o respectivo choro, de acordo com a tradição dos balantas.
Em Março de 1965, os homens da CCAÇ 763 - conhecidos pela guerrilha como os Lassas (abelhas) - reconquistam ao PAIGC a antiga fábrica de descasque de arroz, na Quinta de Cufar, e respectiva pista de aterragem em terra batida. Nino está preocupado com a actuação dos Lassas, agora instalados em Cufar, juntamente com o pelotão de milícias de João Bacar Jaló, antigo cipaio, agora alferes de 2ª linha.
Entretanto, Pami e Malan continuam a viver a sua bela estória de anor, em tempo de guerra, de sacrifício e de heroísmo. Ela, instalada em Flaque Injá, onde é professora. Ele, guerrilheiro, visita-a sempre que pode.A 15 de Maio de 1965, os Lassas destroem o acampamento do PAIGC na mata de Cufar Nalu. A guerrilha sofre baixas mas, durante a noite, consegue escapar com o equipamento para Cabolol. Na semana seguinte, os militares de Cufar tentam romper a estrada para Cobumba. Embrenham-se na mata de Cabolol, destroiem várias tabancas na zona.
Em princípios de Junho de 1965, os Lassas (abelhas) vão mais longe, destruindo o acampamento de Cabolol. Em Cafal, o comando político-militar do PAIGC está cada vez mais preocupado. Em Julho, Pami chora de dor, raiva e revolta ao ver a sua escola destruída, em Flaque Injã. Grande quantidade de material desaparece ou fica queimado. As casas de Flaque Injã ficam reduzidas a cinzas.
Mas a luta continua... Psiquicamente recuperada, a população começa a reconstrução de Flaque Injã e Caboxanque. A guerrilha recebe mais reforços e armamento novo. Pami entra voluntariamente numa coluna de reabastecimento que a leva à República da Guiné. Segue o corredor de Guilege, e sobe de Mejo para Salancaur, daqui para o Xuguê [Chuguè, segundo a carta de Bedanda,] terra de seus avós paternos. Desce até Cansalá, onde se encontra com seu marido. Não encontra seu pai, pois este fora transferido para o Cafal, e ali integrado numa companhia do Exército Popular.
Em meados de Agosto de 1965, Pami Na Dondo desce com Malan Cassamá até Cobumba. Malan e o seu grupo levam a cabo várias acções contra a tropa e o quartel de Bedanda. O grupo regressa a Cansalá. Uma delegação da OUA visita as zonas libertadas, a convite do PAIGC.
(iv) Madrugada de 24 de Agosto de 1965, Pami e Malan dormiam nos braços um do outro quando a tabanca, Cobumba, sofre um golpe de mão do exército português, que tem a assinatura dos Lassas.
No grupo de prisioneiros que são levados para Cufar, estão Malan e Pami que terão destinos diferentes. Pami estão integrada num grupo de cinco mulheres e procura nunca denunciar a sua condição de professora. Em caso algum falará recusará falar em português ou em crioulo. Mas os seus olhos de águia vão observado tudo, no caminho até ao quartel dos Lassas. No rio Cadique o grupo embarca em lanchas da Marinha. O Alferes Telmo não deixa que ninguém toque nas mulheres. Fala em psico, uma palavra que Pami desconhece. O grupo é entregue à guarda ao Furriel Mamadu.
Pami mal reconhece a antiga fábrica de descasque de arroz, a Quinta de Cufar, onse se instalaram os Lassas. Os prisioneiros são recebidos por militar dos óculos que, mais tarde Pami vem a saber tratar-se de Carlos, O Leão de Cufar, comandante do aquartelamento. Homens e mulheres são instalados em sítuios diefrentes. Malna e Pami entrecuzram o olhar, sem se denunciaram. Sabem que dizem ali adeus para sempre. Lágrimas nos olhos, Pami sente a dor da separação. )Pami e as prisioneiros ficam à guarda da milícia de João Bacar Jaló. Recusa-se a comer, bebe só água. No dia seguinte, a vida no aquartelamento retoma o seu ritmo. Pami pode agora ouvir e até ver perfeitamente, por entre as frestas das paredes de capim ao alto entrançado com lianas, tudo o que acontece por fora da palhota onde tinha passado a noite.
(v) Começam os interrogatórios dos prisioneiros, em Cufar. Um soldado milícia, da torpa de João Bacar Jaló, vem buscar Pami. Pelo caminho, Pami vai-se preparando mentalmente para mentir aos seus captores e sobretudo para não comprometer Malan. Entretanto, com os seus olhos de águia, vai observando e registando todos os pormenores da vida no aquartelamento dos Lassas.
Um milícia serve de intérprete. O interrogatório é conduzido pelo Alferes Telmo, acompanhado pelo Furriel Rafael (de alcunha, Mamadu), um e outros reconhecidos de imediato pela Pami. Respondendo apenas em balanta, diz chamar-se Sanhá Na Cunhema (nome da mãe) e ter nascido na Ilha do Como.
Os militares decidem mudar de táctica. Rafael encosta-lhe o cano da pistola ao seu ouvido, e pergunta-lhe, através do intérprete, o que aconteceu à sua mão esquerda... Um pouco trémula, diz que, quando era criança, fora mordida por uma cobre, tendo o pai sido obrigado a cortar-lhe a mão para a salvar...
Pami parece não convencer os seus interlocutores. Os dois Lassas entram em provocações de teor sexual, pensando tratar-se de uma eventual prostituta ao serviço da guerrilha... O interrogatório irá continuar nos dias seguintes. Pami regressa, exausta, para junto das suas companheiras de infortúnio. Mas, ao mesmo tempo, sente-se orgulhosa por. neste primeiro round, não ter traído os ideais de seu pai, Pan Na Ufna e de seu marido, Malan, valentes guerrilheiros do PAIGC.
(i) Pami está exausta e confusa, depois do primeiro interrogatório com os rangers Telmo e Rafael (ou Mamadu)
Passado que fora aproximadamente uma hora de terem levado a Bajuda, ouviram-se passos em corrida e grandes gargalhadas no Comando. Pouco depois a rapariga foi reintroduzida na prisão. Tremendo toda, enrolou-se junto de Pami. Esta ajeitou-se, de forma que as caras ficaram juntas. A professora de Flaque Injã passou com suavidade a sua única mão pelo rosto da jovem e sentiu os dedos humidificarem-se com as suas lágrimas. Num murmúrio, perguntou-lhe:
- Fizeram-te mal? Abusaram?
- Não!
Então sussurrante, a jovem contou tudo o que se tinha passado:
- Levaram-me para uma casa, onde estava uma cama dos militares. Fiquei ali só, durante um tempo até que apareceu um militar que deveria ser o dono da cama. Eu estava sentada a um canto. E ele pareceu ficar surpreendido com a minha presença. Começou a falar, mas eu não entendia nada, pois não conheço a língua deles. Passados uns momentos, ele aproximou-se e, sempre falando, pôs a mão na minha cabeça, e foi descendo até apertar o meu seio. Aí eu bati com a minha mão na dele. Falou mais, e veio novamente, agora tentando meter a mão entre as minhas pernas. Havia um pau junto, e eu peguei nele para lhe bater. Então ele começou a fugir, em volta da casa, sempre falando. Parou e tentou vir junto de mim outra vez, e eu levantei o pau novamente. Ouvi barulho, por cima, e vi muitas caras espreitando e rindo. Ele falou para os outros zangado, e os outros fugiram. Depois trouxeram-me para aqui. Mas estou com muito medo.
Estava narrada a aventura da Bajuda. Pami acalmou a miúda, colega de cárcere. Felizmente nada de grave tinha acontecido. No dia seguinte pelas conversas ouvidas ao grupo que se reuniu na varanda do Comando, verificou ter-se tratado de brincadeira, feita pelos alferes ao tenente. Do qual ficou a saber ser médico, e chamar-se Leandro.
Próximo da hora de almoço do dia seguinte, Pami foi levada novamente para ser interrogada. Só que para surpresa sua, o interrogatório não era com os mesmos do dia anterior. Estes não conhecia o nome, mas eram do mesmo grupo que comandavam os Lassas. Um sem barbas, que tinha na mão o mesmo caderno onde Telmo tinha escrito, perguntou a um milícia que também era outro, o seguinte:
- Gibi, pergunta-lhe lá, se o que ela ontem disse é verdade?
O milícia formulou a pergunta em Balanta. A prisioneira esperou um pouco e acenou que sim com a cabeça. Os militares ficaram calados, e o que não tinha barbas disse para o outro:
- O que é que fazemos, Gama?
Ao que o de cara cheia e com barbas, respondeu:
- Sei lá, carago! Oh meu alferes, deixe essa merda, carago! Estamos aqui a perder tempo para quê? O alferes Telmo e o Mamadu que tratem dela, eles são Rangers, eles é que sabem tratar dessas merdas, carago!
Pami ficou a conhecer mais dois elementos dos Lassas. O alferes virou-se para o barbudo e falou:
- Eh, pá, eu acho que eles têm razão. Esta gaja parece esconder algo.
- Não duvido! Se o Telmo e o Mamadu nos pediram para fazer isto, é porque lhe cheira a qualquer coisa, carago! Mas eles que se chateiem. Eu já não tenho pachorra para isto, carago.
O alferes virou-se para o milícia Gibi, e disse:
- Diz-lhe que quando quiser falar verdade que diga. E agora leva-a para a palhota!
A professora ficou estupefacta. Estes indivíduos são de facto imprevisíveis. Tem de ter muito cuidado. Não pode cair em contradição, ou ceder qualquer pista, pois não sabe nada sobre o que está a acontecer a Malan Cassamá, e agora tinha muitas mais razões para a sua inquietação, resultante das revelações feitas pelos seus inquiridores. Sim, ficou a saber que Telmo e Rafael pertenciam a tropas especiais. Porquê a sua inclusão numa companhia normal do exército colonialista?
(ii) Malan, denunciado como guerrilheiro, é entregue à PIDE de Catió
Ao terceiro dia é concedida autorização para as prisioneiras lavarem a roupa, pelo que se dirigem todas para o poço. As duas mulheres primeiramente interrogadas, e que continuam a ser ouvidas em conjunto, desligam-se um pouco do grupo. Os militares sentem grande interesse por elas, e estão constantemente a ser chamadas. Pami tem a certeza que elas estarão a passar informações sobre a guerrilha. A professora apercebe-se que os homens estão a ser interrogados com a ajuda de cães para aterrorizar mais. Do seu ponto de observação, no interior da prisão palhota, consegue ouvir uma conversa, em que Malan Cassamá, já foi identificado. Ouviu perfeitamente Telmo falar com o Leão de Cufar:
- Meu capitão, o problema está resolvido, o indivíduo não confessou, mas há um que confirma, que o gajo é mesmo o Malan Cassamá, e que pertence ao Exército Popular como consta no pedido de captura!
- É uma porra, Telmo! Não podemos ficar com ele. Temos de o levar para Catió e entregá-lo à PIDE. Mas vê se lhe caças alguma coisa. Na próxima ocasião, pedimos o gajo como guia. Olha, diz ao Palmeiro que aquelas duas gajas que se abriram, podem ir embora. E já agora que levem a miúda, não vá algum sacana de noite meter-lhe os tampos dentro, e termos para aí problemas. As outras espremam um pouco mais a ver se dá alguma coisa. A sem mão é capaz de ser tonta, mas tudo é possível.
- Certo, vou tratar disso com o Palmeiro!
- Outra coisa, meu capitão. A mais velha disse alguma coisa que coincide na generalidade com as outras. Mas os soldados andam de volta dela, e parece que alguns já a comeram. Era melhor o doutor vê-la, não vá haver para aí uma infecção geral, e andar tudo de gaita à bandoleira.
- Certo, levem-na ao Leandro.
Pami, embora receosa e triste, por verificar que os prisioneiros parecerem não estar a aguentar-se. Ficou mais aliviada com esta revelação, pois Malan pelo menos já tinha o estatuto de prisioneiro em princípio regularizado. Mas estava preocupada por não ser chamada, nem a sua companheira, agora que as outras três tinham partido. Ou estariam à espera que fosse ela a tomar a iniciativa? Grandes momentos de confusão para a professora de Flaque Injã.
Uma manhã, oito dias passados sobre a sua captura, Pami conseguiu ver Malan. Mãos amarradas por uma corda, que lhe envolvia o pescoço, o guerrilheiro era içado, para uma viatura, que seguiria numa coluna rumo a Catió. Agora sim a separação seria para sempre.
Aos poucos os homens prisioneiros foram desaparecendo. O destino deles era interrogação para Pami, que permanecia com a sua companheira, a qual por vezes se ausentava com os militares, voltando com pão, vinho, bolacha e por vezes aparecia já alcoolizada. A conversa entre as duas era nula. Uma manhã a companheira saiu e não voltou mais.
(iii) Pami torna-se confidente de Miriam e sente um ódio profundo pelo Furriel Rafael (Mamadu)
Pami sentiu mais liberdade, e verificou que ninguém ficava a guardar a sua prisão. Pelo que começou a sair e a sentar-se no chão junto à porta, apercebendo-se agora praticamente de toda a vida dos Lassas dentro do seu aquartelamento. O pessoal da milícia falava com ela, e as mulheres aproximavam-se mais, mantendo até conversa. Pami receou que alguma mais velha a reconhecesse de Catió, mas a invenção do nome e a falta da mão ocultavam perfeitamente bem a sua verdadeira identidade.
Duas mulheres, as quais eram bastantes novas e casadas com dois milícias já velhos, começaram a vir até junto dela, e falar imenso. A professora redobrou a atenção e concentração, não fossem os militares tentarem recolher qualquer informação através delas. Apercebeu-se mais tarde que não seria essa a intenção, mas única e simplesmente a conversa um pouco criança, talvez, que suscitava a curiosidade e o interesse das jovens mulheres.
Apercebeu-se rapidamente que a que dava pelo nome de Míriam, era nada menos nada mais do que a lavadeira - mas não só - do furriel Rafael. A de nome Meta - um pouco tonta - tinha relações com um soldado nativo, ou seja do recrutamento da Província, como diziam os colonialistas, o qual era criado (impedido) de três furriéis, onde estava incluído o Rafael.
Que ódio tinha Pami a este homem! Porquê? Ela própria não o sabia definir. Seria por causa dos interrogatórios? Talvez! Mas... tirando o caso de puxar pela pistola e tê-la colocado no seu ouvido, não tinha sido violento. Antipatia natural seria!? O olhar dele parecia que a trespassava.
Da conversa com as duas Pami ficou a saber que Meta dormia com o impedido por gostar de fazer conversa giro, coisa impossível de acontecer com seu marido, dada a impotência deste derivado da sua velhice. Os encontros de Miriam com o furriel seriam o desejo desta ter um filho de um homem branco. Coisas incompreensíveis para a jovem professora, cuja cabeça era apenas ocupada por Malan.
Os Lassas voltaram a ir ao outro lado do Cumbijã. Meta contou que tinham andado por Cadique Iála, e que tinham morto muita gente, e queimado as casas todas. E não tinham tido nem mortos nem feridos. Pami apercebeu-se que de facto as coisas deveriam ter corrido bem, porque houve grande festa no Comando. Mas também poderia ser festa de anos do furriel Rafael, como afirmara Miriam. Era certo que quando algum furriel ou alferes fazia anos, havia sempre grandes festas. Era uma forma de criar corpo de unidade, delineado pelo macaco velho do Leão de Cufar (2).
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores desta série:
18 de Dezembro de 2007 > Guine 63/74 - P2363: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (6): Parte V: O primeiro interrogatório da prisioneira (Mário Fitas)
23 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)
5 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2328: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (4) - Parte III: O amor em tempo de guerrilha (Mário Fitas)
10 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)
(2) Comandante dos Lassas
Guiné 63/74 - P2390: Albano e Ferragudo, gente de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339, 1968/69)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Do álbum fotográfico do Torcato Mendonça, Fotos Falantes II, nº 1 (o Albano, em reportagem para a TV Mansambo, óculos escuros e bloco e caneta na mão) e nº 25 (o Albano com o seu macaco bêbado âs costas).
Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça , que vive no Fundão, e que fez parte da CART 2338 (Fá e Mansambo, 1968/69):
Assunto - Resposta ao post P2384, de 26 de Dezembro (1)
O Albano, ex-cripto da CART 2339, era um homem bem disposto e brincalhão. Daqueles que recordamos com saudade. Se entrar para a Tertúlia é, para mim, excelente aquisição (2).
Quanto ao baptismo da Árvore, se foi ele que o fez dou-lhe os meus parabéns. Nunca baptizei nada nem ninguém. Erro meu, má fortuna, falha minha…
O Ferragudo, algarvio, pescador no porto de Portimão, era natural da vilória, fronteira ao porto. Era pois conhecido por Ferragudo. Salvo erro numa estória já, por mim contada – Eleições à Vista – era o tal comedor de chispe holandês (3). Compreende-se. O rapaz estava farto de peixe. Havia outro cozinheiro ou ajudante, algarvio e natural da zona de Portimão.
Se bem me lembro o Albano era de Chaves. Creio tê-lo visto no almoço de convívio da CART 239, em Évora, 2005. Só fui a dois, ao 1º e, treze ou catorze anos depois, a este em Évora.
Voltando ao Albano ele aparece nas Fotos Falantes II, nº 1, em reportagem para a TV Mansambo, óculos escuros e bloco e caneta na mão; na nº 25, tem o seu macaco bêbado (morreu precocemente de cirrose) às costas.
Quanto ao que, aqui, escrevo: procuro relatar a verdade o mais fielmente possível em relato subjectivo. É uma visão pessoal dos factos e dos actos. Tenho dúvidas. Tantas dúvidas. Porque não chamar-lhes angústias; teria ou não sido assim? Corro o risco e relato o que penso ser a verdade – a minha verdade. Procurei esquecer. Vivi demasiados anos fora daquilo. Um dia, a partir desse almoço de Évora, de uma mensagem do Carlos M. dos Santos, da recordação do Malan Mané (4) e deste Blogue voltei.
Agradeço que me critiquem, que me apontem erro ou má escrita. Não digam traição, isso não. Fizeram-no uma vez devido a duas fotos. Esclareci o facto e o acto. Desculpem o não esquecer, não perdoar… feitios… mas, desejo sempre o dobro do que a mim desejam. É ser amigo do amigo e mais não digo.
Tiro dúvidas, com agendas, historial da CART e, principalmente, com o Carlos M. dos Santos. Enviei-lhe a maioria dos escritos. Tento até enviar, agora, em pasta zipada, a troca de alguns escritos, para tirarmos dúvidas sobre a Árvore. Gostava de falar, como o fiz em Évora, com outros Camaradas. Alguns, como o Silva sabem tanto, ou o Leite com uma pasta cheia de recordações.
Quanto a mim, a árvore dos 17 passarinhos estava na zona da cozinha; abrigo do 1º Grupo; gerador. Ficou de pé. Derrubar a dita, podia afectar alguma instalação.
Foi abaixo, caindo majestosamente, uma outra, junto do abrigo do 4º Grupo. Algures está um escrito disto. Talvez As árvores morrem de pé (5).
A que aparece, na foto aérea de 70? Estava junto a um abrigo e tinha, pelo menos no início, uma Santa. Outra, frondosa também, estava mais perto da entrada e levou uma placa turística. Há militares que tirariam as dúvidas.
Voltando ao Albano, ele que conte porque me ia acordar, mostrar as mensagens e, se fosse caso disso, lá ia eu acordar o Capitão… Acordar difícil… Conta essa e tantas outras estórias…
Bem vindo, Albano, os criptos não podem ser apanhados à mão… mas lá ficamos, no princípio, no mesmo abrigo, próximo doa árvore da Santinha, meio enterrados vivos… Ou vou ter que decifrar?! Enfim, Vidas... E o Braimadicô ?
Óptimo 2008, com Saúde e a concretização de todos os Sonhos.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)
(2) Vd. post de 28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2387: Tabanca Grande (46): Albano Gomes, residente em Chaves, ex-1º Cabo Cripto da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69)
(3) Vd. post de 17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...
(...) Ferragudo, o ladrão de chispes de porco holandês
Mas o pior estava para vir. Tínhamos três homens meios grogues. Dois, depois de ligeiro tratamento, recuperaram. Havia, no entanto, um que estava meio desmaiado. Era o Ferragudo, cozinheiro na tropa, pescador no porto de Portimão. Felizmente tínhamos um homem, o Barros, habituado a desmaios daquele género. Rápido, depois de abanar o Ferragudo, pediu:
- Tragam o azeite e uma colher.
Aparece o azeite e o Barros despeja, três ou quatro colheres do dito, goela abaixo do Ferragudo. Este estrebucha, joga as mãos á garganta, revira os olhos e urra. Pede ajuda o Barros. Levantam o doente. É prontamente agarrado, apertado e sacudido pela cintura. De repente dá-se o milagre. Vomita desalmadamente o cozinheiro glutão. Talvez dois ou mais chispes de porco holandês. Pancada nas costas, água goela abaixo e dá-se a recuperação. Eu assistia. meio incrédulo, a toda aquela cena.
O Ferragudo, ainda meio atordoado olhava-me. Apesar da vontade de rir, olhei para ele e disse:
- És um ladrão, roubas com a tua gula os teus camaradas, vai haver porrada, desaparece, só voltas próximo do jantar. Não há feijão com chispe. É indigesto ou não é, algarvio da porra?
Foi-se o cozinheiro pescador, ou vice-versa. Porrada não houve. Nenhum militar teve qualquer castigo, posto na caderneta, devido a castigo por mim dado.
Rimos e gozámos durante uns dias. Distracções singelas. Viver naquelas condições era difícil. Á noite nos abrigos, por debaixo, do que nos servia de leito, se não tínhamos cuidado as rãs cantavam o seu Sole Mio, a água caía ora nos pés, ora noutro lado. Dormia-se…o tempo passava lentamente… e o Império esfarelava-se! (...).
(4) Vd. posts de:
Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça , que vive no Fundão, e que fez parte da CART 2338 (Fá e Mansambo, 1968/69):
Assunto - Resposta ao post P2384, de 26 de Dezembro (1)
O Albano, ex-cripto da CART 2339, era um homem bem disposto e brincalhão. Daqueles que recordamos com saudade. Se entrar para a Tertúlia é, para mim, excelente aquisição (2).
Quanto ao baptismo da Árvore, se foi ele que o fez dou-lhe os meus parabéns. Nunca baptizei nada nem ninguém. Erro meu, má fortuna, falha minha…
O Ferragudo, algarvio, pescador no porto de Portimão, era natural da vilória, fronteira ao porto. Era pois conhecido por Ferragudo. Salvo erro numa estória já, por mim contada – Eleições à Vista – era o tal comedor de chispe holandês (3). Compreende-se. O rapaz estava farto de peixe. Havia outro cozinheiro ou ajudante, algarvio e natural da zona de Portimão.
Se bem me lembro o Albano era de Chaves. Creio tê-lo visto no almoço de convívio da CART 239, em Évora, 2005. Só fui a dois, ao 1º e, treze ou catorze anos depois, a este em Évora.
Voltando ao Albano ele aparece nas Fotos Falantes II, nº 1, em reportagem para a TV Mansambo, óculos escuros e bloco e caneta na mão; na nº 25, tem o seu macaco bêbado (morreu precocemente de cirrose) às costas.
Quanto ao que, aqui, escrevo: procuro relatar a verdade o mais fielmente possível em relato subjectivo. É uma visão pessoal dos factos e dos actos. Tenho dúvidas. Tantas dúvidas. Porque não chamar-lhes angústias; teria ou não sido assim? Corro o risco e relato o que penso ser a verdade – a minha verdade. Procurei esquecer. Vivi demasiados anos fora daquilo. Um dia, a partir desse almoço de Évora, de uma mensagem do Carlos M. dos Santos, da recordação do Malan Mané (4) e deste Blogue voltei.
Agradeço que me critiquem, que me apontem erro ou má escrita. Não digam traição, isso não. Fizeram-no uma vez devido a duas fotos. Esclareci o facto e o acto. Desculpem o não esquecer, não perdoar… feitios… mas, desejo sempre o dobro do que a mim desejam. É ser amigo do amigo e mais não digo.
Tiro dúvidas, com agendas, historial da CART e, principalmente, com o Carlos M. dos Santos. Enviei-lhe a maioria dos escritos. Tento até enviar, agora, em pasta zipada, a troca de alguns escritos, para tirarmos dúvidas sobre a Árvore. Gostava de falar, como o fiz em Évora, com outros Camaradas. Alguns, como o Silva sabem tanto, ou o Leite com uma pasta cheia de recordações.
Quanto a mim, a árvore dos 17 passarinhos estava na zona da cozinha; abrigo do 1º Grupo; gerador. Ficou de pé. Derrubar a dita, podia afectar alguma instalação.
Foi abaixo, caindo majestosamente, uma outra, junto do abrigo do 4º Grupo. Algures está um escrito disto. Talvez As árvores morrem de pé (5).
A que aparece, na foto aérea de 70? Estava junto a um abrigo e tinha, pelo menos no início, uma Santa. Outra, frondosa também, estava mais perto da entrada e levou uma placa turística. Há militares que tirariam as dúvidas.
Voltando ao Albano, ele que conte porque me ia acordar, mostrar as mensagens e, se fosse caso disso, lá ia eu acordar o Capitão… Acordar difícil… Conta essa e tantas outras estórias…
Bem vindo, Albano, os criptos não podem ser apanhados à mão… mas lá ficamos, no princípio, no mesmo abrigo, próximo doa árvore da Santinha, meio enterrados vivos… Ou vou ter que decifrar?! Enfim, Vidas... E o Braimadicô ?
Óptimo 2008, com Saúde e a concretização de todos os Sonhos.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)
(2) Vd. post de 28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2387: Tabanca Grande (46): Albano Gomes, residente em Chaves, ex-1º Cabo Cripto da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69)
(3) Vd. post de 17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...
(...) Ferragudo, o ladrão de chispes de porco holandês
Mas o pior estava para vir. Tínhamos três homens meios grogues. Dois, depois de ligeiro tratamento, recuperaram. Havia, no entanto, um que estava meio desmaiado. Era o Ferragudo, cozinheiro na tropa, pescador no porto de Portimão. Felizmente tínhamos um homem, o Barros, habituado a desmaios daquele género. Rápido, depois de abanar o Ferragudo, pediu:
- Tragam o azeite e uma colher.
Aparece o azeite e o Barros despeja, três ou quatro colheres do dito, goela abaixo do Ferragudo. Este estrebucha, joga as mãos á garganta, revira os olhos e urra. Pede ajuda o Barros. Levantam o doente. É prontamente agarrado, apertado e sacudido pela cintura. De repente dá-se o milagre. Vomita desalmadamente o cozinheiro glutão. Talvez dois ou mais chispes de porco holandês. Pancada nas costas, água goela abaixo e dá-se a recuperação. Eu assistia. meio incrédulo, a toda aquela cena.
O Ferragudo, ainda meio atordoado olhava-me. Apesar da vontade de rir, olhei para ele e disse:
- És um ladrão, roubas com a tua gula os teus camaradas, vai haver porrada, desaparece, só voltas próximo do jantar. Não há feijão com chispe. É indigesto ou não é, algarvio da porra?
Foi-se o cozinheiro pescador, ou vice-versa. Porrada não houve. Nenhum militar teve qualquer castigo, posto na caderneta, devido a castigo por mim dado.
Rimos e gozámos durante uns dias. Distracções singelas. Viver naquelas condições era difícil. Á noite nos abrigos, por debaixo, do que nos servia de leito, se não tínhamos cuidado as rãs cantavam o seu Sole Mio, a água caía ora nos pés, ora noutro lado. Dormia-se…o tempo passava lentamente… e o Império esfarelava-se! (...).
(4) Vd. posts de:
15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)
16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLX: Bem vindo, alferes Torcato da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (Carlos Marques dos Santos)
25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)
1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)
(5) Torcato: de momento, não localizo esse teu escrito... Manda-me uma 2ª via, se tiveres o texto em arquivo.
Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)
Guiné > Emissor-Receptor AN/PRC- 10, usado pelas NT
Capa e páginas da brochura Apontamentos sobre Transmissões, editado pelo Ministério do Exército, Direcção da Arma de Transmissões, 1966.
Imagens: © Afonso Sousa (2005). Direitos reservados
1. Mensagem de José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Os Gatos Pretos, Canjadude 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2007 , em resposta a um pedido do Beja Santos sobre o Racal (1):
O Racal era um equipamento portátil, podendo ser usado em viaturas e aviões, transmitindo em fonia entre as frequências de 38 a 54,9 Mc/s.
Para ser utilizado como portátil, tinham que ser colocados uns suspensórios para transporte do mesmo.
O Exército Português utilizou este equipamento durante as Campanhas de África, entre 1961 e 1974, preferencialmente como ligação terra-ar. Nas ligações terrestres, e dado o seu pequeno alcance - entre 3 a 8 kms e dependendo do uso da antena laminar ou antena tubular - era utilizado em patrulhamentos e/ou emboscadas de proximidade, para contactar com a base.
Era alimentado com uma pilha com duração de cerca de 20 horas.
Com a possibilidade de efectuar ligações com o AVF/THC 736 (banana) , era utilizado pelo comandante das operações com os comandantes dos pelotões.
Estes equipamentos eram de origem norte americana (2).
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Notas de L.G.:
(1) Vd. último post desta série > 29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)
(2) Vd. post de 2 de Julho de 2005> Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1) (Luís Graça)
(...) O Sousa de Castro (29 de Junho de 2005), esse, também fala de cátedra, acerca das nossas transmissões e dos seus operadores:
"O AN/GRC 9 foi o rádio com que trabalhei durante toda a comissão na Guiné em grafia... Não é para me gabar, mas eu achava-me um craque nesta matéria, trabalhar em código morse era comigo, ou não tivesse na minha caderneta a menção de TE (telegrafista especial).
"Convém dizer que o [Luís] Carvalhido da APVG [Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra] não ficava atrás, antes pelo contrário, era um bom adversário.
"Aproveito para dizer que aquilo a que chamam de Banana é o AVP-1 que era usado no meu tempo nas operações para comunicação entre pelotões e nomeadamente com o Quartel, mas o rádio com mais alcance que os OP (operadores] de TRMS [transmissões] de Infantaria levavam às costas era o conhecido RACAL (TR-28)... Conheceram este? Vou procurar nos meus papéis e digitalizar este rádio para mandar para a tertúlia" (...).
Capa e páginas da brochura Apontamentos sobre Transmissões, editado pelo Ministério do Exército, Direcção da Arma de Transmissões, 1966.
Imagens: © Afonso Sousa (2005). Direitos reservados
1. Mensagem de José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Os Gatos Pretos, Canjadude 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2007 , em resposta a um pedido do Beja Santos sobre o Racal (1):
O Racal era um equipamento portátil, podendo ser usado em viaturas e aviões, transmitindo em fonia entre as frequências de 38 a 54,9 Mc/s.
Para ser utilizado como portátil, tinham que ser colocados uns suspensórios para transporte do mesmo.
O Exército Português utilizou este equipamento durante as Campanhas de África, entre 1961 e 1974, preferencialmente como ligação terra-ar. Nas ligações terrestres, e dado o seu pequeno alcance - entre 3 a 8 kms e dependendo do uso da antena laminar ou antena tubular - era utilizado em patrulhamentos e/ou emboscadas de proximidade, para contactar com a base.
Era alimentado com uma pilha com duração de cerca de 20 horas.
Com a possibilidade de efectuar ligações com o AVF/THC 736 (banana) , era utilizado pelo comandante das operações com os comandantes dos pelotões.
Estes equipamentos eram de origem norte americana (2).
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Notas de L.G.:
(1) Vd. último post desta série > 29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)
(2) Vd. post de 2 de Julho de 2005> Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1) (Luís Graça)
(...) O Sousa de Castro (29 de Junho de 2005), esse, também fala de cátedra, acerca das nossas transmissões e dos seus operadores:
"O AN/GRC 9 foi o rádio com que trabalhei durante toda a comissão na Guiné em grafia... Não é para me gabar, mas eu achava-me um craque nesta matéria, trabalhar em código morse era comigo, ou não tivesse na minha caderneta a menção de TE (telegrafista especial).
"Convém dizer que o [Luís] Carvalhido da APVG [Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra] não ficava atrás, antes pelo contrário, era um bom adversário.
"Aproveito para dizer que aquilo a que chamam de Banana é o AVP-1 que era usado no meu tempo nas operações para comunicação entre pelotões e nomeadamente com o Quartel, mas o rádio com mais alcance que os OP (operadores] de TRMS [transmissões] de Infantaria levavam às costas era o conhecido RACAL (TR-28)... Conheceram este? Vou procurar nos meus papéis e digitalizar este rádio para mandar para a tertúlia" (...).
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