domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3699: Tabanca Grande (108): Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72



1. Mensagem de Luís Filipe de Magalhães Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de 25 de Dezembro de 2008:

Caro amigo, após conversa com nosso camarada Mário Beja Santos, decidi escrever para o teu blog para me inscrever na tabanca grande, ai vai a minha apresentação:

Luís Filipe de Magalhães Borrega ( Luís Borrega )

Ex-Fur Mil Cav com o curso de Minas e Armadilhas, mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz, integrando a CCAV 2749/BCAV 2922, colocado no sector L4, no leste da Guiné em Piche.

A minha Companhia tinha os destacamentos CAMBOR, Ponte de RIO CAIUM e mais tarde reocupamos o destacamento de BENTEM.
A nossa área de operações era Piche, Canquelifá e Buruntuma.

Aguardando noticias tuas...

Alfa Bravo!
Luis Borrega

2. Comentário de CV

Caro Luís Borrega, já devias estranhar o nosso silêncio. Acontece que a época natalícia é culpada de tudo. Alguma acumulação de correspondência de Boas-Festas, ausência de alguns dos editores, umas gripes à mistura e contactos mais estreitos com a família. Assim os assuntos do Blogue ficam um pouco descuidados.

Interessa sim que estou aqui a dar resposta ao teu mail, onde manifestas a tua vontadde de fazer parte desta família de ex-combatentes.

Já sabes que o preço para entrar na nossa Tabanca Grande é entregar duas fotos e contar uma história.

Parte do preço já pagaste, mandando as fotos, agora falta contares uma história, que poderá ser algo passado contigo. Como julgo não haver ninguém da tua Companhia na nossa Tabanca, ficas com a responsabilidade de a dar a conhecer à nossa Tertúlia.

Recebe desde já um abraço da parte dos editores e da tertúlia em geral.

Peço mais uma vez desculpa pela demora em dar resposta.

O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3692: Tabanca Grande (107): José Carlos G. Ferreira, ex-1.º Cabo Caixeiro da CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

Guiné 63/74 - P3698: Levantamentos de rancho em Nova Lamego, em 1973 e 1974 (A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72)

1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74,

Assunto - Poste 3625 (*)

Luís, Vinhal e Briote, Camaradas em geral.

Votos de boa saúde.

O poste em referência, do camarada José Manuel Dinis que esteve em Bajocunda, fez com que recordasse que também em Nova Lamego, e aqui sim, houve levantamento de rancho, não um mas, três, devia ser um mal da Zona Leste, ou do vagomestre, embora Nova Lamego fosse possuidora da segunda melhor pista para aeronaves em toda a Guiné, portanto não seria por aí que os mantimentos não chegavam à mesa do Zé tropa, era por esta via que os sectores L4 e L6 se abasteciam através de colunas feitas periodicamente a Nova Lamego.

Vamos então aos levantamentos de rancho: o primeiro ocorreu em 73 não recordo a data, mas sei que foi na administração do BCAV 3854, porque recordo bem que o Capitão da CCS, ao saber o que se passava, foi ao refeitório tentar convencer o pessoal que estávamos perante o melhor petisco do mundo; o segundo passou-se já na vigência administrativa do BART 6523 e foi efectuado no início do ano de 74; o terceiro, este sim, já foi mais politizado porque já tinha acontecido o 25 de Abril e era já corrente os palavrões tais como: CAOS, CAÓTICO, ANARCA e ANARQUISTA, LATIFUNDIÁRIO, FACHISTA, palavras que não eram correntes na época, por exemplo.

Se eu disser que nunca comi uma hortaliça na Guiné, são capazes de não acreditar, mas acreditem porque foi verdade, embora na época não desse muita importância a este produto, mas faltou-me no cabedal, fui para lá com 67 kg, deixei 10 por aquelas bandas apesar de aos 13 meses de comissão ter vindo à minha aldeia retemperar as forças, leia-se umas bifalhadas, senão a diferença tinha sido maior, a falta dos legumes eram supridos, diziam com as famosas drageias amarelas que eram fornecidas uma ou duas vezes por semana a acompanhar a refeição.

Como sabem para cada militar havia uma porção de cada alimento que quase sempre não chegava à mesa. Aqui presto a homenagem ao Alf Sousa do Pel Mort 4574 que, quando era oficial dia, logo que recebia posse como tal e a nossa bandeira subia o mastro, dirigia-se imediatamente para a cozinha, inteirava-se da nossa dieta e fazia pesar, dependia da ementa, batatas, frango, carne, arroz, etc., a porção por cabeça, dos comensais que faziam parte da lista para esse dia, pois havia sempre passantes a caminho de, ou para qualquer parte e por isso o número era variável, nesse dia era uma fartura inclusive vinho, o meu copo que era uma lata de fruta, até transbordava nesses dias.

Pronto, estou a enviar mais uma acha para a fogueira do vagomestre, é certo que também já se apagou e de certeza que não arde, embora todos os que passaram por aquelas bandas saibam o que realmente se passava.

Já que estou lançado, aqui vai mais uma, a 22 de Agosto de 1972 quando passámos e parámos em Bambadinca, para deixarmos o Pel Mort 4575, que como o meu ía render outro já farto de estar na Guiné, pois passados uns dias estávamos em Nova Lamego e constou-se que o 1º Sargento Velhinho tinha oferecido uma certa importância, que dava para na altura comprar um andar nos subúrbios de Lisboa, ao 1º Sargento que o rendia, para regressar à Metrópole, mas este não aceitou, qual o motivo? Bambadinca era centro de recruta de milícias, o que devia dar uns trocos ao 1º e depois quem sabe também deu ao 2º.

Posto este comentário, envio para a tabanca.

Um alfa bravo.
A. Santos
SPM 2558

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3625: História da CCAÇ 2679 (10): Um Natal atribulado (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P3697: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (6): Aditamentos (Vasco da Gama)



1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 31 de Dezembro de 2008:


ADITAMENTOS À HISTÓRIA DA CCAV 8351 - OS TIGRES DO CUMBIJÃ

Impus a mim mesmo um interregno no dar à estampa mais um episódio da história da minha Companhia, mas quebro esse silêncio para dar voz a companheiros que comigo contactam após a publicação dos diversos textos que me desafiaram a escrever. Tenho com eles insistido para postarem os seus comentários directamente no nosso blogue, mas eles preferem comunicar directamente comigo.

Hoje vou referir-me a dois companheiros mais activos, o Melo e o Machado.

O JOÃO MANUEL REIS de MELO desempenhou as funções de 1.º Cabo Cripto, mantendo, como é evidente, uma relação próxima com o Comandante de Companhia. Ele é o responsável principal pela minha participação activa na nossa Tabanca, pois foi através dele que tive conhecimento da existência do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné. Mora em Alquerubim e continua bem activo, traduzindo a sua actividade em numerosas iniciativas que vai tendo em prol da sua terra e colaborando em tudo que cheire a associativismo. Seria fastidioso enumerar todas as acções sociais em que está embrenhado, como seria injusto não referir as qualidades humanas de que sempre foi portador. Foi um excelente colaborador na Guiné que aliás lhe mereceu um louvor e continua hoje a ser um bom amigo, muito embora os nossos encontros se resumam às reuniões da nossa Companhia. São dele os acrescentos que passo a transcrever e que, de alguma forma, enriquecem a história que tenho vindo a contar:

- O Cumbijã foi abandonado em Agosto de 1968, pela CCaç 1622. O obelisco que referi no meu último texto, tinha sido construído no local exacto onde havia morrido um camarada dessa companhia, muito embora não fosse qualquer sepultura.

- Quando os pontões na região de Colibuia foram dinamitados, correu o boato em Aldeia Formosa de que o IN se preparava para nos apanhar à mão. O Melo nessa altura ainda estava em Aldeia.

- Em finais de Março um soldado da 3399 accionou uma mina e no dia seguinte a CCaç 18 cai numa emboscada, também na zona do Cumbijã, tendo quatro feridos graves, entre os quais um alferes.

- No ataque ao arame que a nossa Companhia sofreu a 9 de Abril, além dos feridos ligeiros que referi tivemos um ferido grave, o BOMBARRAL.

Obrigado Melo

Que dizer do sr. Eng.º CARLOS ALBERTO da SILVA MACHADO, ex-furriel dos Tigres, meu preclaro amigo, transmontano de nascimento, respeitado pelos homens que comandava e pelos que o comandavam, sempre preocupado com as minas, atento aos mais ínfimos pormenores que detectava no mato.

MACHADÃO, o meu obrigado por teres pertencido à minha Companhia. São do Machado as fotografias que hoje vos trago: O Emblema dos TIGRES DO CUMBIJÃ, a fonte de Colibuia onde inicialmente nos abastecíamos de água, etc.

Para todos os Tigres um abraço do
Vasco da Gama



Fonte de Colibuia
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3675: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (5): Ocupação do Cumbijã e construção das instalações

Guiné 63/74 - P3696: Para a história da madeirense CCAÇ 4942/72, Os Galos do Cantanhez (Vítor Negrais)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por Os Galos do Cantanhez. Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Comentário que Vítor Negrais deixou ao poste de 8 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeias, amigo do Arsénio Puim)


Caro Luís Candeias.

Assunto: Pessoal da companhia madeirense CCAÇ 4942/72 que esteve em Jemberém.

Mesmo que tardiamente, quero contribuir para um melhor conhecimento do que foi o papel da CCAÇ 4942/72 (*).

Quero referir que a foto publicada com um membro feminino de uma ONG em Jemberem não corresponde ao deixado no local pela CCAÇ 4942/72 (**). O símbolo adoptado pela companhia foi um galo multicolor associado à designação Galos do Cantanhez.

(i) A CCAÇ 4942/72 foi formada no Funchal, no BII19.

(ii) Rumou à Guiné no Uíge que saiu de Lisboa a 27 de Dezembro de 1972, ocorrendo o seu desembarque em Bissau em 3 de Janeiro de 1973.

(iii) A companhia, como era usual na altura, rumou ao Cumuré onde fez o IAO.

(iv) Concluido este, foi para Mansoa, por um curto período de tempo, tendo colaborado na protecção da construção da estrada entre Jugudul e Bambadinca.

(v) Após este curto período, tomou o rumo de Cadique, no Cantanhez, e esteve na abertura da estrada entre Cadique e Jemberem, localidade onde se fixou cerca de 1 ano (1 ano bem animado).

(vi) Posteriormente, em Fevereiro de 1974 a companhia foi deslocada para o Norte, para Barro mantendo um pelotão em Bigene junto do COP3.

(vi) A companhia regressou a Portugal em 9 de Setembro de 1974, depois de muitas peripécias, sem nenhuma baixa.

Cumprimentos a Luís Graça e camaradas da Guiné e parabéns pela manutenção deste espaço de convívio.

Vítor Negrais

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Vítor, por estas preciosas achegas sobre Os Galos do Cantanhez. Obrigado também pelas tuas simpáticas referências ao nosso blogue. Não te apresentaste, mas presumo que tenhas pertencido à CCAÇ 4942/72. És do continente ou da RAM ?

Se quiseres, junta-te a nós, que formamos já a maior Tabanca virtual... da Guiné. Basta leres e aceitares as nossas regras de convívio (que podes e deves ler na folha de rosto do nosso blogue, coluna do lado esquerdo: Tabanca Grande > Dez normas de conduta). Manda também as duas fotos da praxe (um do tempo da tropa e outra actual).

Gostaríamos que nos contasses mais peripécias dos teus Galos do Cantanhez. Tens tido notícias dos teus camaradas ? Presumo também que tenhas histórias e fotos da vossa permanência no Cantanhez, bem como do período do pós-25 de Abril. Estive em Março de 2008 no Cantanhez e registei em fotografia os vestígios da vossa passagem por Jemberém.

Um abraço. Desejo-te as melhores perspectivas possíveis para o ano que agora começa. Luís Graça

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel

(**) Há três locais e datas assinaladas no monumento: Mansoa, 3/2/73; Cadique, 27/3/73; Jemberém, 20/4/73. O brazão da companhia era constituído por um Galo, com os dizeres Cantamos de Galo. (...)
Sabemos como se chamavam os seus Grupos de Combate: Os Primitivos (1º Gr Comb); Os Descavilhados (2º Gr Comb); O Zigue-Zague (3º Gr Comb); Os Tais (4º Gr Comb).

O nosso camarada A. Marques Lopes já há tempos tinha referido, na lista das unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (onde ele esteve com a sua CCAÇ 3), a existência desta CCAÇ 4942/72, cuja actividade operacional era resumida nestes termos:

(i) Em princípios de Abril de 1973, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém [hoje, Iemberém].

(ii) Em 20 de Abril de 1973, após o desembarque [em LDM ou LDG ?] e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém [ou Iemberém], então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5 [ que incluía Guileje].

(iii) Foi substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73.

(iv) Instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519.

(v) Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local.

Em resumo: esta companhia - de pessoal maioritariamente madeirense - chegou até Jemberém, no coração do mítico Cantanhez, numa região que o PAIGC considerava de há muito libertada, construiu aqui, de raíz, um aquartelamento (de que não há muitos vestígios, visíveis, actualmente), e depois foi substituída por uma companhia mais nova, a CCAÇ 4946/73, em Fevereiro de 1974.


Guiné-Bissau > Região de Tomboli > Parque Nacional do Cantanhez > Jemberém (ou Iemberém, de acordo com a toponomia actual) é uma localidade onde a AD - Acção para o Desenvolvimento tem a sua base operacional (instalações de apoio aos projectos desenvolvidos no Cantanhez, inclouindo o ecoturismo). Por aqui também passou a 1ª CART do BART 6521/72 (entre Janeiro de 1973 e Abril de 1973)... Esta subunidade foi substituída pela CCAÇ 4942/72.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3695: Quando o Malfeito deitou a mão ao galo...(Valentim Oliveira)


O GAMANÇO DO GALO



Mês de Fevereiro de 1964, já lá vão 44 anos, mas ainda está bem viva na minha “caixa dos pirolitos” a aventura travessa, que se protagonizou para fazer o gamanço do galo.

Estava eu em Farim adido à C.C.S do Batalhão de Cav. 490, digo isto, porque pertencia à Companhia de Cav. 489 do mesmo Batalhão. Mas por mérito ou sorte, passei para a dita C.C.S., para condutor do Comandante de Transmissões, Alferes Francisco Gil Pires, colega que nunca mais voltei a ver a seguir á disponibilidade.

Agora deixando as apresentações e voltando à dita aventura é de realçar como isso foi formalizado. É certo que a tropa manda desenrascar, mas por vezes o desenrascanço pode trazer consequências um pouco nada amistosas, que por acaso nessa aventura não aconteceram.

Vai que o 784, que sou eu, juntamente com o Horácio 777, o Pacheco 783, o Malfeito 781 e o “Canícula” de Lisboa, que era bate-chapas e pintor das nossas queridas viaturas, que agora não me lembra o número dele, mas isso também não importa; resolvemos dar uma voltinha pela Tabanca de Farim; (propósito claro!) arranjar alguma coisa para desenferrujar o prego. Era o prato constante, que se procurava nas ditas saídas, pelo menos quando se entrava numa Manga de Ronco (Batucada).
E foi numa batucada, que o nosso Camarada Malfeito avistou numa sanzala um belo e recheado galinheiro. Não se conteve e numa fracção de segundos, passa a larápia no pescoço do galo manda-chuva (lá da capoeira) e nem lhe deu tempo de ele dar o alarme ao seu dono, arrancando-lhe a cabeça de um só esticão. Escondido no casaco camuflado seguiu-se para a caserna, onde precisamente talvez uns 50 metros ao lado havia uma tasca, que por sinal fazia bons churrascos e também tinha uma pinguita mais ou menos. E não é que o raio do homem da tasca se prontifica a arranjar o galinhaço com bastante piripiri e assá-lo na brasa para nós lhe consumirmos a respectiva pinga?!
Em contrapartida, como nós éramos todos condutores, fizemos o convite ao primeiro Sargento Albino, que era o responsável da Oficina Auto, e ele não gostava nada do briol por cima do nariz e tinha uma raiva contida aos copos cheios, que os vazava constantemente. Este Homem além de ser chico lateiro era um Ser de um humanismo tal, que ajudava o seu próximo, e todos nós o respeitávamos. Andava sempre com cara de pimento vermelho.

Albino se ainda estiveres no reino dos vivos, aceita um abraço do Valentim Oliveira e recorda o galo que comemos gamado em Fevereiro de 64, na Vila de Farim!

Valentim Oliveira

ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490

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Guiné 63/74 - P3694: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (6): Objectivo: Choquemone, 17NOV70


1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 29 de Dezembro de 2008:

Carlos Vinhal
Por causas técnicas não pude enviar a estória na data prevista assim como os votos de Bom Natal para vós e para a Tertúlia, nem agradecer as diversas mensagens recebidas.
Faço-o agora, acrescentando os votos sinceros de que o 2009 seja melhor em Saúde, concretização de Desejos e Objectivos.
Que a coesão Familiar seja uma Dádiva, que a Amizade se reforce. Que os mais Jovens se aproximem dos Idosos e troquem afectos e vivências. Que o apoio aos mais Desfavorecidos e Desprotegidos seja uma realidade.

Um abraço a Todos
Luis Faria

Bula - Objectivo: Choquemone 17 de Novembro de 1970

Como referi no capítulo anterior, os primeiros dias de Novembro de 1970 foram de adaptação à zona e ao meio: protecção de colunas, patrulhamentos seguidos de emboscadas nocturnas que duravam 36/48 horas na estrada Bula –S. Vicente com finalidade de eventual intercepção do IN, serviram também para um melhor conhecimento e adaptação à realidade do meio hostil, especialmente durante a noite, para o controlo de mantimentos (especialmente água) e mais.

Pelos meados do mês chega à 2791 o Alf Mil Ruas Gaspar que vai comandar o 4.º GComb, substituindo-me. Era a 2.ª vez que acontecia (* cap 1.º) e fiquei um bocado quilhado por ter de abandonar o Grupo que tinha ajudado a preparar e comandava… mas ordens são ordens… e fui colocado no 2.º GComb que passou a ser o meu, sob o comando do Alf Barros (Guineense) e onde estavam os Furriéis Castro e Marques. A integração fez-se sem problemas.

Ao dia 17 do mês, numa Operação às matas do Choquemone, tive o meu Baptismo de Fogo, assim como a Companhia.

Pela 2/3 horas da manhã, a 2791 a 4 GComb sob o comando de um Alf do Bigrupo veterano que nos incorporava, arrancou em bicha de pirilau dando início à Operação Doninha Parda, dirigida à região de Choquemone. Tinha a informação que esta mata não era pêra doce e toda a atenção era necessária, já que seria uma base permanente com patrulhamentos IN e a detecção na entrada relativamente fácil.

Não era uma noite muito escura e quase à saída da povoação, antes da bifurcação S. Vicente - Binar fiquei surpreendido e apreensivo por àquela hora ver aqui e ali pessoas às portas das moranças. Porra, os gajos estão a manjar para onde é a ida, pensei!

Continuámos a caminho do objectivo e na picada para Binar, um rebentamento forte, isolado, fez-me pensar que tinham pisado uma mina . A bicha de pirilau parou defensivamente, o silêncio foi cortado por gemidos de dor e logo de seguida constatou-se o desastre: uma granada da bazooka de que o Nunes era apontador, sabe-se lá por quê, caiu ao chão e detonou, decepando-lhe um pé e ferindo menos gravemente creio que mais 2 militares. O Nunes era do 4.º GCOMB, que eu deixara e lá estava o Fur Fontinha e o Enf Silva (julgo) a acompanhar a situação.

Feitas as evacuações, retomou-se a progressão para o objectivo em marcha atenta . Já na mata e ao pensar que podíamos ter sido detectados, o acidente com o Nunes começou a esbater-se no meu pensamento dando lugar a uma maior atenção ao meio envolvente e ao pessoal. Chegada a manhã comecei a ouvir umas rajadas curtas à distância que me puseram os sentidos no limite, mas a velhice não pareceu muito preocupada pois aqueles tiros, no entender deles seriam chamariz. Realmente nada aconteceu e continuamos a progressão com as devidas cautelas. Chegada a hora do almoço, há que estacionar .

Estávamos numa mata não muito densa e os velhinhos, conhecedores da zona (?), dão instruções para dispor o pessoal em perímetro de segurança alargado o que foi feito. Os oficiais abanquetaram-se no interior do perímetro e há que começar a dar ao serrote. O Alf Quintas chamou-me para o pé dele e lá fui com a minha G3 e ração. Comecei a comer e de repente rebenta um fogachal daqueles! Um grupo IN estaria a tentar envolver-nos, mas foi detectado, gerando-se o primeiro confronto a sério da 2791 .

Aos primeiros tiros o Quintas, que não tinha a G3 com ele, quis abarbatar a minha o que claro, não deixei (esta é minha… pegue na sua…!!) e corri para o perímetro, de onde não deveria ter saído. Ouvi pela 1.ª vez o vai no Puto ! E sem ver ninguém, dei uns tiraços na direcção de onde me pareceu ter vindo a voz, mas sem nenhum efeito prático, julgo! As Kalach não se calavam e as roquetadas ferviam, tendo os RPG passado a ser a arma que mais temi, durante toda a comissão.

Acabado o confronto e debaixo de toda aquela tensão, há que ver se havia baixas e havia : dois feridos com gravidade e uma dezena de outros rapazes com ferimentos ligeiros. Quanto ao IN teve 1 morto confirmado e vários feridos mais que prováveis dados os indícios detectados no reconhecimento de zona. De volta à picada para as evacuações serem feitas em ambulância e regressarmos ao quartel, ia ouvindo de novo rajadas, o que me deu ideia de o IN teria ficado desnorteado, nos procurava a pensar que ainda lá nos encontrávamos.

A CCaç 2791 começou a honrar cedo a sua divisa Força ,o que a meu ver foi positivo já que o pessoal tomou consciência logo no início de que naquele teatro operacional, se alguém facilitasse, podia ter consequências graves para si e para os companheiros. Quanto a mim, surpreendeu-me o facto de ter passado de tenso a sereno no meio de tudo aquilo e confirmei que aquela guerra não era para brincar. Faz hoje 38 anos e 1 mês.

Luís S Faria



CCaç 2791 – 2.º GrComb > Em cima: Fur Marques; Fur Castro; Alf Barros e Fur Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3602: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (5): Bula - Gratidão

Guiné 63/74 - P3693: Postais Ilustrados (14): Tocador de corá (Beja Santos)

Guiné > s/d > Postal ilustrado > Tocador de kora e sua mulher

Lisboa > s/d > O Mário Beja Santos, com a sua mãe, já falecida ((em 1982) e que era de origem angolana.

Fotos: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do Beja Santos, de 24 de Novmebro de 2008:

Assunto - O último postal na Guiné para a minha Mãe


A minha irmã ficara com o espólio de postais da nossa Mãe, ela deixou- me em Janeiro de 1982. Agora a Manuela ofereceu-me estas preciosidades que abarcam mais de 100 anos, tenho postais do Real Colégio Militar, a Rainha Dona Amélia quando casou, até me apareceu uma oração ao Sidónio Pais, tenho aqui postais com Luanda a crescer, é comovente ver o orgulho dos meus avós com a sua adorada ficha, a minha Mãe.

Pois no meio destas centenas de imagens surgiu este tocador de corá e mulher, que maravilha no garbo, que gente senhoril ! Escrevi no verso:

« Bissau, 14 de Agosto de 1970. Minha Adorada Mãezinha: Tempos difíceis para escrever. Dia 20, começa a minha longa viagem de regresso. Chorei há dias ao telefone com a voz crescida e fluente do meu adorado sobrinho ( Rodolfo, o filho mais velho da Manuela).Vivo o 'desemprego' com grandes leituras e isolamento. Beijos deste filho que tanto a anseia ver, Mário».

O postal (*) vai ser oferecido ao tocador de corá, Braima Galissá (**).

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série Postais Ilustrados:

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1023: Postais Ilustrados (1): Pescadora, de etnia papel (Beja Santos)
7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1030: Postais Ilustrados (2): Dança nalu, Cacine (Beja Santos)
8 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1031: Postais Ilustrados (3): Tocador fula, Bafatá (Beja Santos)
28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1125: Postais Ilustrados (4): Rapaz balanta, cesteiro (Beja Santos)
2 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1140: Postais Ilustrados (5): Bajuda manjaca, Ilha de Pecixe (Beja Santos)
7 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1157: Postais Ilustrados (6): Rapariga Papel, tatuada, do Biombo (Beja Santos)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1164: Postais Ilustrados (7): Campune tatuada, Bijagó (Zé Teixeira)
7 de Outubro de 2006 >Guiné 63/74 - P1184: Postais Ilustrados ( 8): Allahu Akbar, Deus é Grande (Beja Santos)
3 de de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1242: Postais Ilustrados (9): Dança do compó, Bissau (Beja Santos)
10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)
13 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1273: Postais Ilustrados (11): Um típico e colorido mercado onde as mulheres é quem mais ordenam (Beja Santos)
23 de Novembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1310: Postais Ilustrados (12): Ponte-Cais de Bissau e estátua de Diogo Gomes (Tino Neves / Carlos Fortunato)
8 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1351: Postais Ilustrados (13): A catedral católica de Bissau (Beja Santos / Luís Graça / Mário Dias)

(**) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora

Guiné 63/74 - P3692: Tabanca Grande (107): José Carlos G. Ferreira, ex-1.º Cabo Caixeiro da CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

1. Mensagem de José Carlos Gonçalves Ferreira, com data de 19 de Setembro de 2008

Amigo Luís
Dei com o vosso blogue e encontrei notícias que me fez lembrar o que passámos na Guiné.

Vou começar pela minha identificação:
Sou o ex-1.º Cabo Caixeiro José Carlos Ferreira da CCS/BCAÇ 3832 que esteve em Mansoa de 70/73.

Vi que o César Dias contactou com o Germano Santos que esteve também em Mansoa na mesma altura, fala no Alferes Rito Rodrigues das Transmissões. Conheci esse senhor que tinha por hábito no início de cada mês chatear com belas frases como, Zé Carlos esta merda deu prejuízo, desculpa o termo, mas era isso mesmo que eu ouvia, nessa altura estava no bar de oficiais, onde tinha alguns amigos como o Major Rocha das com quem tinha amizade. Adorava encontrar e ter notícias do Alferes Monteiro da Companhia de Milícias, julgo que era do Porto, e do Alferes Amorim, o nosso fotografo, era ele quem nos tirava as fotos e deve ter algumas bem bonitas dessa altura.

Mais teria a contar, espero um dia ter a possibilidade de me encontrar com vocês pelo que espero notícias vossas.

Um abraço a até um dia destes.
Zé Carlos

2. No dia 28, o José Carlos Ferreira enviava esta mensagem:

Amigo Luís
Segue em anexo alguma fotos de Mansoa pelo que solicito que dês uma vista de olhos e selecciones as que entenderes por bem utilizar.

Um abraço.
José Carlos Ferreira

3. Comentário de CV

Caro José Carlos, bem-vindo ao nosso Blogue

A demora na resposta deve-se a tu teres utilizado o endereço particular do Luís Graça e a tua mensagem ter ficado por lá perdida. Aceita as nossas desculpas.

Vamos publicar algumas das fotos que mandaste, ficando as restantes para quando enviares alguma história.

Não te esqueças de nos enviar uma foto actual.

Recebe um abraço da Tertúlia.
CV

4. Fotos

Mansoa, 28 de Agosto de 1971 > Bar de Oficiais

Mansoa, 22 de Dezembro de 1971 > Com o Delfim Delães

Mansoa, 26 de Julho de 1972 > Bomba de gasolina depois do ataque à povoação e aquartelamento

Mansoa > Pista depois do ataque

Entrada de Mansoa, 31 de Agosto de 2008 > Posto de controlo

Mansoa, 31 de Agosto de 1972

Mansoa > Com o Zé Rodrigues das Transmissões. Dia para esquecer, grandes copos

Mansoa > Festa na Tabanca

Fotos e legendas: © José Carlos (2008). Direitos reservados


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Nota de CV

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ªCCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3691: Ser solidário (26): Projecto em Empada dos alunos da Esc Sec Infanta D. Maria de Coimbra (Filipa Pestana)

1. Com bastante atraso, trazemos ao conhecimento dos nossos tertulianos e leitores em geral, esta mensagem, datada do dia 12 de Outbro de 2008, dando notícia de um projecto de ajuda à Guiné-Bissau, mais exactamente a Empada, a levar a efeito por um grupo de alunos da Escola Secundária Infanta D. Maria, de Coimbra.

Assunto: Informações sobre Empada (Guiné-Bissau)

Exmo. Sr.

Somos alunos da Escola Secundária Infanta D. Maria em Coimbra e frequentamos o 12.º ano de Ciências Sociais e Humanas.
Durante este ano lectivo, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, tencionamos participar no concurso Del 8 - Apaga com os Objectivos do Milénio, sob a orientação da Professora Maria da Conceição Pupo. Para isso, é necessário desenvolver um projecto que vise cumprir um desses objectivos. O grupo vencedor terá a oportunidade de visitar a Guiné-Bissau e pôr em prática o projecto desenvolvido.

A organização do concurso fornece um documentário sobre a aldeia de Empada, no sector de Quinara. Contudo, este parece-nos ser omisso em muitos aspectos, nomeadamente em informações relativas aos recursos naturais, actividades desenvolvidas pelos habitantes da aldeia, etc...

O nosso projecto encontra-se ainda em fase embrionária, mas o que se pretende é criar algo exequível e sustentável, que se enquadre com as características e necessidades da aldeia e permita solucionar um dos seus principais problemas: a fome e a pobreza extremas. Nada está ainda definido, mas o que se pretende é, claro está, ensinar a pescar em vez de dar o peixe.

Para uma melhor planificação do trabalho, o ideal seria fazer uma pesquisa in loco, o que, infelizmente, como deve compreender, nos é impossível.

Tivemos conhecimento da sua relação com a Guiné-Bissau através do seu blogue e tomámos a liberdade de o contactar, bem como de guardar o contacto de outros ex-combatentes que passaram por Empada.

Vimos, assim, por este meio, solicitar a sua ajuda para este nosso trabalho, na esperança que possa de alguma forma dar-nos esclarecimentos acerca desta região guineense. Todas as informações que puder disponibilizar serão, para nós, uma mais valia. Pensamos que a sua experiência, conhecimento do país e eventuais contactos na Guiné poderiam ser-nos úteis, inclusivamente numa fase mais avançada do projecto.

Agradecemos, desde já, o seu tempo e aguardamos uma resposta,

Bem haja
Filipa Pestana
(em nome do grupo de área de projecto do 12.º G)

Contactos úteis: telm. – 939533089
e-mail – filipapestana91@hotmail.com


2. Face ao pedido destes nossos jovens amigos, pedimos aos camaradas que estiveram em Empada a cumprir a sua comissão de serviço e, aos que se têm deslocado mais recentemente à Guiné-Bissau e que tenham elementos para os ajudar, o favor de os contactar no sentido de encontrarem uma forma de ajuda.

A este grupo de alunos pedimos desculpa por esta demora em dar seguimento ao seu pedido.

Da nossa parte, autorizamos a utilização das nossas imagens, mapas e textos, agradecendo apenas a referência à origem.

Esperamos a habitual colaboração dos camaradas, especialmente daqueles que têm alguma ligação com Empada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3646: Ser solidário (25): E se eu fosse o Pai Natal ? Mensagens de e para os guineenses da diáspora e não só...(Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3690: O meu Natal no mato (21): CCAÇ 2402, Có, 1968, e Olossato, 1969 (Raúl Albino)

1. Mensagem de Raúl Albino (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá, Olossato, 1968/70, com data de 15 de Dezembro de 2008.

Caros amigos,

Aqui vai o meu contributo para esta quadra natalícia. Que o próximo ano seja, para o blogue, de tanto ou mais sucesso do que aquele que está a terminar. Que a vossa saúde e energia nunca vos falte.

Um grande abraço e que tenham um Natal Feliz dentro do possível neste ano de esquecimento. Merecemos, não?
Raul Albino.



Relatos de Natal da CCaç 2402

Vou incluir, neste meu artigo alusivo ao Natal, algumas fotos de recordação desses períodos da nossa comissão por terras da Guiné.


Companhia de Periquitos

Muitos já terão ouvido falar de Companhias de Periquitos na guerra do ultramar, mas para aqueles que não perceberam bem o que isso significava, aqui vai uma imagem que vale por mais de 1000 palavras. Esta é a Companhia de Periquitos Nativos N.º 00, armada até aos dentes (se eles os tivessem, claro), que apesar de ter feito uma comissão completa, nunca ganharam o estatuto de Companhia de Veteranos. Cumpriram cabalmente a sua missão de reforço na luta anti-stress dos nossos militares e foram considerados, por todos sem excepção, uma grande companhia … para os bons e maus momentos.


CCaç 2402 – Natal de 1968 em Có

Vemos aqui o nosso comandante de companhia Capitão Vargas Cardoso a encenar uma deslocação da RTP para recolha de mensagens de Natal. Na verdade, isso só viria a concretizar-se no Natal seguinte.


C Caç 2402 – Natal de 1969 no Olossato

Aqui sim, a RTP foi ter connosco para recolha das célebres mensagens natalícias para serem vistas pelas famílias na sua televisão ou na do Café da esquina. Estão a filmar o meu grupo, eu sou o primeiro à direita do operador de câmara e pareço estar a exibir o meu sorriso pepsodente para a imagem. Estarei, possivelmente, a debitar uma mensagem padrão equivalente a esta que agora vos dirijo, tão em voga na altura.

Envio aos dedicados editores deste blogue, todos os tertulianos e suas famílias os meus votos de um Santo Natal e um Melhor Ano Novo. Nós por cá estamos bem. Adeus e até ao meu regresso.

Raúl Albino
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3450: Blogoterapia (72): Comentário ao P3402 (Raúl Albino)

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3687: O meu Natal no mato (20): Visita de Natal do COMCHEFE a Cutia (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)

Imagem aérea de Guileje. Foto de Amaro Samúdio.


I. Alguns acontecimentos de Maio de 1973, na Guiné (relacionados com Guileje)


Assassinato de Amílcar Cabral

Dois emissários enviados por Sekou Touré, na manhã de 20 de Janeiro, avisaram Amílcar Cabral que havia gente à volta dele que se preparava para o liquidar. Amílcar chamou Mamadú Indjai, o responsável pela guarda, para lhe dar conhecimento do facto. Ao corrente do aviso, os conspiradores resolveram actuar no próprio dia. Amílcar Cabral, quando regressava de um jantar na Embaixada da Polónia, foi assassinado naquela mesma noite de 20 de Janeiro, à porta da sua casa no bairro Minière, em Conakry. Sabe-se que Inocêncio Cani disparou o primeiro tiro e que Mamadu Turé e Aristides Barbosa fizeram parte da conspiração. As circunstâncias que rodearam o assassinato, a que se seguiu a prisão de vários dirigentes do PAIGC por Sekou Turé, nunca foram totalmente conhecidas do grande público.

1 de Fevereiro, Simpósio em Conakry em memória de Amílcar Cabral, reuniu cerca de 700 representantes de vários países.

Ofensiva do PAIGC

Entre 7 a 9 de Fevereiro, o PAIGC tinha reunido em Conakry. Depois de homenagear o seu fundador e nomear Aristides Pereira como 1º responsável do Partido, a direcção convocou o Conselho de Guerra. Desta reunião saíram orientações para a intensificação da luta armada em todas as frentes e levá-la aos centros urbanos.
Lançar ataques sucessivos em todas as frentes, não deixando o IN em repouso um só dia, seja onde for que ele se encontre. É dentro desta orientação que se dá a ofensiva dos três G (Guidaje, Guileje, Gadamael).

A Força Aérea perante o novo desafio

Entrada no palco da guerra da nova arma das forças do PAIGC, os mísseis Strella (Sam-7). Em 20 de Março, o Ten Cor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiat G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada. Dois dias depois, em 22, o Fur Pilav Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil. Em 25 coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um Gr Cmds (pormenores mais abaixo). Em Março ainda, a 28, o Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morreu ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 Grail.

Em Abril, a 6, um DO-27 pilotado pelo Fur Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro DO-27 pilotado pelo Fur Carvalho Ferreira, em viagem de Guidaje para Bigene, desapareceu com três passageiros a bordo. Em 8, o Maj Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.

A FAP não estava preparada para enfrentar os mísseis terra-ar. As consequências foram enormes para as forças apeadas do Exército Português. O apoio aéreo deixou de ser feito com a regularidade a que estavam habituadas. As evacuações foram fortemente restringidas, vários militares feridos ficaram retidos nos locais onde foram atingidos e alguns terão mesmo morrido por falta de condições de assistência.

A partir da entrada em acção dos mísseis anti-aéreos (Strella) pode dizer-se que a guerra nunca mais foi a mesma.

Recordando para a história: em 25 de Março, um domingo, o aquartelamento de Guileje foi flagelado em pleno dia, entre as 13h00 e as 14h30. Não foi inocente este ataque diurno (de noite, em regra, as aeronaves não saíam), como se veio a comprovar. Solicitado o apoio da FA, esta apareceu com um Fiat G-91, tendo o piloto entrado em contacto rádio com Guileje, donde recebeu as indicações sobre as distâncias aproximadas dos locais de onde partiam os fogos. De terra viram-no rumar nessa direcção e a partir daí os contactos rádio cessaram. Cerca de 15 a 20 minutos depois surgiu nos céus de Guileje o 2º avião. Estabelecido o contacto, o piloto foi posto ao corrente. Minutos depois, informava Guileje que o 1º avião tinha sido abatido e que o piloto (Ten Pessoa) se tinha conseguido ejectar. Devido à hora tardia, localizado através de um very-light, o piloto só foi resgatado no dia seguinte. Em 12 Abril, na zona de Guileje, um guerrilheiro armado encontrado ferido é evacuado para Bissau.

Em 6 de Abril, Guidaje (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de aeronaves, houve de tudo naquele interminável período (de 6 de Abril a 29 de Maio).
As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidaje, durante aquele período, estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 53 dias de cerco, Guidaje sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 48 Mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas e três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27).

No decorrer do assalto do PAIGC a Guidaje, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português na manhã de 20 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da Op Ametista Real, as tropas portuguesas destruiram quatro centenas de armas automáticas, mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer dos combates o BCmds sofreu nove mortos, vinte e três feridos graves e onze desaparecidos, considerados mais tarde, como mortos.

Guileje

Guileje, uma "praça fortificada", era considerada pelo Estado-Maior de Spínola de grande importância estratégica. Pouco mais de duzentos militares protegiam a povoação com mais de 500 habitantes.
Era pela zona de Guileje que o PAIGC introduzia, para quase toda a zona Sul, grandes quantidades de armas, munições, mantimentos e material sanitário. Este material fornecido pela URSS e pelos seus então chamados satélites (material de guerra, especialmente), bem como por alguns países nórdicos (nomeadamente a Suécia com material escolar, sanitário e alimentos) era, na grande maioria, desembarcado no porto de Conakry, passava por Boké, Kandiafara, Simbel e Tarsaia, entrando no território da Guiné pelo corredor de Guileje (chamado pelas NT "corredor da morte" e "corredor do Povo" pelo PAIGC). Daí a importância que Spínola dizia atribuir a Guileje, vindo a conferir-lhe um COP, comandado por um major.

Tropas do PAIGC concentraram-se na área da fronteira da Guiné-Conakry para reforçar a guerrilha já aí estacionada. Daí partiu o ataque, em 18 de Maio.

As informações tinham começado antes: em 9 Maio, a CCaç aquartelada em Empada enviou uma mensagem para a 2ª Rep/QG, comunicando a "existência de um grupo IN na fronteira, com carros de combate, que pretendia atacar Guileje". A seguir, rectificou a mensagem, enviando outra em que referia "a presença nas matas de Guileje de um grupo de 35 cubanos e dois grupos de 45 elementos cada, aguardando instruções de 'Nino' Vieira para atacar Guileje".

Em 11, Spínola visitou Guileje e falou às tropas, formadas na pista: que se esperava um agravamento da situação, que a Força Aérea, embora limitada na execução das missões, em situações difíceis cumpriria, voando mais alto e utilizando bombas mais potentes e que as evacuações de feridos graves se iriam manter. Entretanto, no dia anterior, um milícia de Guileje abandonou a povoação com a arma que lhe estava distribuída. Como tinha dito que ia à caça e podia andar perdido o Pelotão de Milícias de Guileje saiu em patrulhamento, com a finalidade de o encontrar. Os milícias não o encontraram, mas depararam com uma mina anti-carro e quando tentavam desmantelá-la, deu-se o rebentamento, provocando a morte de dois elementos. Mais tarde veio a saber-se que o referido milícia tinha sido aprisionado pela guerrilha, junto ao local onde a guarnição se abastecia de água.

Em 15 Maio, a Companhia sediada em Bedanda informou da "chegada em 10 Maio, de 4 grupos vindos da R. Guiné-Conakry e a presença em Kandiafara de cerca de 50 cubanos". No dia seguinte a CCaç estacionada em Empada informou da "chegada a Simbeli de três grupos de Artilharia vindos da URSS e a presença de dois blindados junto à fronteira". Em 18 Maio, novamente de Bedanda: "reunião do IN em Kandiafara, objectivo Guileje. Reunidos 5 bigrupos (cada bigrupo dispunha organicamente de 40 elementos, dispondo de 4 a 6 ML, 2 a 6 LGF, 2 a 4 MP e 2 a 4 Morteiros de 82) junto a Guileje.

O PERINTREP (relatório semanal do ComChefe) da semana de 13 a 20 Maio destacava: "O IN desencadeou uma ofensiva contra Guileje, emboscando, com elevado potencial de fogo, forças daquela guarnição que se dirigiam para Gadamael e flagelando depois aquele aquartelamento 21 vezes no espaço de 36 horas, com foguetes 122, canhão 85, morteiro 120 e canhão sem recuo, instalando a maioria das bases de fogos na Rep. Guiné-Conakry" (...). Outro relatório da 3ª Rep do QG/CTIG sobre a actividade do COP 5 (área militar que enquadrava Guileje) entre 18 e 21 de Maio, referia que, no primeiro dia, "durante a execução duma coluna de reabastecimento, as NT foram fortemente emboscadas por duas vezes, a cerca de dois kms de Guileje, tendo sofrido um morto, sete feridos graves e quatro ligeiros. Por falta de evacuação aérea, um dos feridos graves faleceu quatro horas depois da emboscada".

Um corpo no meio da tabanca de Guileje. Foto de autor que desconheço, a quem agradeço e que aqui reproduzo com a devida vénia.


Numa súmula muito breve dos ataques a Guileje, durante o período compreendido entre as 20h00 de 18 de Maio e as 04h00 do dia 22, o aquartelamento e a povoação foram flagelados com cerca de 800 granadas (morteiro 120, canhão s/r, LGF e outras não identificadas), muitas das quais caíram dentro do destacamento, restando poucas instalações intactas e, devido à destruição das antenas, o aquartelamento ficou sem comunicações rádio com o exterior.

Na noite de 21, o comandante de Guileje, o Maj Art Coutinho e Lima, decidiu o abandono da praça-forte na madrugada do dia seguinte. Segundo ele próprio, a decisão baseou-se na forte pressão do IN, na não atribuição de reforços, na não evacuação dos feridos, na escassez de munições, na falta de água no aquartelamento (o abastecimento era feito a cerca de 4 kms), na defesa da população, e na destruição do centro de comunicações. É de destacar, como parêntesis, que, desde 18 de Maio o aquartelamento se foi mantendo debaixo de fogo, por períodos intercalados. Os militares e a população, mal pressentiam a saída da primeira granada, precipitavam-se para os abrigos, triplicando a lotação. A excelente protecção conferida pelos abrigos, feitos em betão armado, sob a orientação do BEngª de Bissau, abrigos que, em princípio, seriam à prova de rebentamentos de morteiro 120, justifica, segundo os sitiados, terem sofrido apenas um morto(um furriel metropolitano).

Dada a ordem de retirada, elementos da população começaram por oferecer alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa.

Na difícil hora da retirada, depois de 9 anos de guarnições militares em Guileje, a coluna dirige-se para outro inferno, Gadamael. Foto de autor que também desconheço. E que, com a devida vénia, reproduzo.

Assim, às primeiras horas do dia 22 de Maio, a enorme coluna (militares, milícias e população) meteu-se a caminho através de um trilho utilizado apenas pela população.
No local e segundo o PAIGC, as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O Major Coutinho e Lima assegura, por sua vez, terem sido inutilizadas as armas e viaturas e a documentação ter sido toda queimada, afirmação confirmada, aliás, por vários militares encarregados das destruições.

Não deve ignorar-se o efeito propagandístico que, em situações deste tipo, os contendores usam. Assim, as emissões de rádio, provenientes de Conakry, exploraram, como era seu dever, o feito da tomada de Guileje: "(...) Os nossos gloriosos combatentes capturaram ao IN em Guileje, o material seguinte: 2 canhões de 155, morteiro de 106, 2 de 81, 1 de 70, 5 MP Dreyse, 3 bazucas de 88, 5 PM FBP, 47 G-3, 8 Mausers e grande quantidade de munições. Viaturas: 3 blindados, 4 camiões Berliet, 1 Unimog e 1 jeep Willy. A central eléctrica e o posto de rádio estão intactos. Os nossos combatentes apreenderam ainda diversos mapas e outros elementos de alto valor militar e víveres em quantidade prevista para o consumo da guarnição durante vários meses".

O Major Coutinho e Lima, para justificar a difícil decisão que tomou, diz ter tido, essencialmente, a preocupação de poupar as mais de 600 vidas que lhe estavam confiadas. A retirada decorreu, tanto quanto possível, ordenada e sem incidentes. A escolha do trilho e o efeito surpresa (nunca puseram a hipótese da guarnição retirar, afirmaram, mais tarde, alguns responsáveis da guerrilha) foram as razões que permitiram a coluna chegar a Gadamael sem problemas.

Em 13 anos de guerra, era a 1ª vez que a tropa portuguesa retirava de um aquartelamento, sob o pretexto da pressão do IN, o que levou alguns a interrogarem-se do que teria acontecido em Guidaje, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. No entanto, com a informação hoje disponível, é possível destrinçar as situações: Guidaje teve o apoio de tropas da reserva do Com-Chefe (páras, fuzileiros, comandos e outras), Guileje não teve.
Entre os que permaneciam em Guileje, enraizou-se a ideia de que estavam abandonados à sorte. Não sentindo o apoio do ComChefe, o Major Coutinho e Lima tomou uma decisão difícil e que o iria marcar para toda a vida. Mas quem toma decisões difíceis, em situações críticas, temos que convir, não são pessoas comuns.

Gadamael

As consequências da saída de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis.

Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos 'jactos do Povo' e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (17 mortos) e 55 feridos entre 1 de Junho e 22 Julho aguentou-se estoicamente. No seu livro "Gadamael", o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que, se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".

Entretanto, em 22 de Maio, Spínola tinha informado por escrito o Ministro do Ultramar sobre a degradação da situação militar. A título de exemplo referia que, entre as 18 horas do dia 20 e as 8 e 30 de 21, Guileje tinha sofrido 32 ataques; que Guileje era de importância estratégica para a manobra militar e para os abastecimentos do PAIGC no Sul, pelo que era vital a sua defesa.

Em todo o mês de Maio as tropas portuguesas sofreram 64 mortos em combate e quase três centenas de feridos, na sequência das cerca de 220 acções desencadeadas pelo PAIGC contra os dispositivos das forças militares portuguesas.

capa de "A RETIRADA DE GUILEJE, 22 MAI 1973, A VERDADE DOS FACTOS"
Autor: Cor Artª Alexandre Coutinho e Lima
Editor: DG edições
Preço: cheque de 22 € (20 do livro e 2 para a franquia do correio).
Pedidos ao Autor

II. Ao Coronel Alexandre Coutinho e Lima

Li o seu livro num sôfrego. Peguei-lhe e não o larguei. É um documento que faltava, importante para compreender melhor os anos de "brasa", em especial o ano de 73.
Tem informação documentada, de facto, desconhecida ou muito pouco conhecida, inclusive de estudiosos que ao longo destes anos se têm dedicado ao estudo da Guerra na Guiné.

Fiz lá “apenas” uma comissão, entre 65/67, e já naqueles anos senti os problemas crónicos (a extrema pobreza das "Informações", por exemplo) que afectaram a condução correcta da guerra, isto reportando-me apenas aos aspectos militares. Muito longe, portanto, das suas 3 comissões, das quais a última em condições excepcionalmente difíceis.

Aos olhos de um simples leitor da nossa História, a atitude do Comandante do COP 5, protagonizada pelo Senhor, parecia-me, à partida, pouco compreensível e difícil de defender, tendo como referência a situação que se viveu em Guidaje. Por outro lado, pareceu-me sempre que ao caso de Guileje, ao contrário de opiniões, que havia muitas, faltavam factos. Claro que não estou seguro que os documentos que apresenta encerrem definitivamente o dossier "Guileje". Mas com os factos (sem pôr em causa as opiniões e comentários que emite) documentados que apresenta e que eu desconhecia, hoje, posso dizer que compreendo melhor a decisão que tomou.

Independentemente do juízo que a História está ou ainda vai fazer sobre a retirada de Guileje, devo manifestar-lhe que fiquei com a convicção de que:

1. Foi graças à decisão que o Coronel tomou que, em vez de um morto a lamentar, muitas famílias, de cá e de Guileje, tenham podido conviver com os seus Familiares e Amigos, a grande maioria, felizmente, ainda até hoje.

2. O Com-Chefe, independentemente da apreciação globalmente positiva que eu possa ter da acção que desenvolveu na então Província, não fez tudo o que podia e devia ter feito pela população e tropa de Guileje.

3. Atitudes ou decisões, ainda controversas para alguns, como a que o Cor Alexandre Lima tomou não são habituais. E só as poderiam tomar, nas excepcionais condições em que se vivia naqueles tempos em Guileje, Militares com convicções muito sólidas sobre a forma de como bem fazer a Guerra.

Depois de ler o seu livro, depois de consultar a documentação nele exposta, é minha convicção que o Exército Português teve, em Guileje, um Comandante que cumpriu o seu dever.

V. Briote

__________

Notas de vb:
1. Graças ao nosso Leitor, Abreu dos Santos, alguns pormenores dos acontecimentos relacionados com Guileje (nomeadamente datas e números de mortos) foram corrigidos (em 8 de Janeiro de 2008). Os meus agradecimentos.

Artigo relacionado em

31 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

Do editor do nosso blogue, Luís Graça, de férias na Madeira. Hoje, às 16h, na Ponta de São Lourenço, um dos pontos mais deslumbrantes da ilha... Com um chicoração para os meus queridos co-editores Carlos Vinhal e Vírgínio Briote, e para os demais amigos e camaradas da Guiné.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados


Blogpoesia (29) > Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém
por Luís Graça


Eu poderia ter escrito:
Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…

e ter mandado um cartão
para os meus amigos
com votos de boas festas
nas mais desvairadas línguas do mundo:
Feliz Natal
Merry Christmas,
Joyeux Noël,
Feliz Navidad,
Buon Natale,
Frohe Weihnachten…


Mas não,
não mandei.
Este Natal não mandei
cartões de boas festas a ninguém.
Nem neste ano nem no ano passado.
Não me perguntem porquê…
Estou amuado
com o mundo,
com os senhores deste mundo
e do outro.
Mas este mundo e o outro
estão-se literalmente nas tintas
para comigo
e para com os meus amuos.

Pensando bem,
os meus amigos
(incluindo os meus camaradas da Guiné)
deviam merecer
um cartão de ocasião,
um bilhete postal,
ou um simples pedaço de papel de jornal,
com uma breve explicação.
Eles não me levariam a mal,
esboçariam até um sorriso de condescendência…

Queridos amigos:
Não é fácil
não cair nos chavões
repetidos até exaustão,
até à náusea,
nesta época
dita natalícia
em que a natureza,
a vida,
os bichos,
os homens,
os deuses
renascem…
Mas por outro lado
também é insuportável o silêncio,
a muralha da China do silêncio
às costas do mundo.
Mesmo que haja excessivo ruído
nestes dias que antecedem o Natal,
e o Ano Novo,
mesmo que haja crise
das comunicações,
é nos difícil não-comunicar.
É quase impossível não-comunicar.
É mesmo impossível não-comunicar.
De uma maneira ou doutra
acabamos por dizer aos outros, em geral
e aos amigos, em particular,
que estamos vivos,
que consumimos logo existimos,
que comunicamos logo pensamos,
que pensamos neles
e logo lhes mandamos
um cartão,
um e-card,
um msn,
um mail,
um SOS.
No fundo, queremos sentir e fazer sentir
que eles estão vivos,
que eles e nós estamos ainda vivos,
que somos uns felizardos
por estarmos vivos…
É talvez a altura do ano
em que a solidão dói mais,
custa mais,
custa mais a passar,
se é que algum dia passa.
Como se fora uma simples dor de dentes,
ou de ouvidos…
Mas não é.
Estás só no nascer e no morrer,
e episodicamente, ao longo da vida,
tens a ilusão de estar acompanhado.
Estás só nas grandes decisões
que tomas
ou que tomam por ti:
nascer,
morrer,
ir à guerra,
ter um filho…

Por isso hesitei
entre a palavra e o silêncio,
entre o pavor da palavra
e o horror do silêncio.
Gostaria de ter a certeza
que os amigos também se entendem
através do silêncio,
também sabem deixar espaços
para que a amizade se construa
e se consolide
no silêncio das noites
e dos dias
em que não damos
ou não queremos dar
sinais de vida uns aos outros.

Gosto
ou já gostei noutras natais,
da ideia de que o Natal
deveria ser todos os dias.
Mas, por outro lado, recuo
ante a perspectiva
de 365 dias de felicidade,
todos seguidos,
sem um dia de discórdia,
de conflitos,
de chatices,
de problemas,
de incidentes,
de acidentes,
de stresse,
de adrenalina,
de pequenos altos e baixos…

Como bom cristão
ou bom budista,
ou bom muçulmano
ou outra coisa qualquer
do catálogo das religiões,
manifestaria o desejo
de nos podermos organizar
nesse sentido,
ou seja, de virmos a ter Natal todos os dias.
Não no calendário ,
mas em nós mesmos,
nos nossos corpos e almas,
nas nossas casas,
colmeias,
casulos,
redes neuronais,
casernas,
ilhas,
ilhotas,
arquipélagos,
empresas,
cidades,
países,
mundos…

Dito isto,
hesitei entre o silêncio
e a palavra,
sabendo que a comunicação é uma armadilha,
mas mais forte é o apelo
dos sons,
dos tons,
dos sabores
e das cores,
do amor e da amizade
neste princípio de Inverno de 2008,
na despedida de mais um ano,
em que inexoravelmente ficamos mais velhos
e estamos mais sós
mas continuamos a ser
animais,
mamíferos,
primatas,
territoriais,
sociais,
circadianos
e heliocêntricos.

Não sei se foi mais um annus horribilis,
mas não foi um ano fácil,
lá isso não foi.
Como o não foi o 2007, o 2006 e por aí fora
para todos nós,
homens e mulheres
que procuramos manter habitável o planeta,
a começar por aqueles que não têm motivos,
grandes,
pequenos,
assim-assim,
para sorrir,
dar gargalhadas,
ter esperança
e ter alegria.
Não foi fácil viver
e sobreviver
em 2008.

Penso naqueles,
para quem o ano de 2008 não foi pai nem mãe,
mas padrasto e madrasta,
mesmo que o ano, coitado,
não tenha personalidade jurídica,
contrariamente ao meu patrão,
ou ao polícia do meu bairro,
e seja o bombo da festa das nossas frustações…

Neste Natal gostaria de poder enviar-vos
daqui,
uma palavra
doce,
quente,
amiga,
solidária,
fofa,
calorosa,
vistosa,
feliz,
em forma de bolo-rei,
ou de prato de rabanadas,
acabadas de fritar.
Ou de girândola de foguetes
sobre a baía do Funchal.

Mas sinto-me colado ao teclado,
vidrado,
bloqueado,
cristalizado,
enquanto lá fora
a neve coze as pencas do Norte
que são tradicionalmente comidas
com o bacalhau do Natal.
Ou chegam grandes paquetes
com gente,
com velhos e louros,
que vêm ver
a feérica cidade-presépio
mais a sul,
que não é seguramente
a cidade do Menino Jesus da minha infância.

Talvez antes
eu devesse convidar-vos
para se sentarem à mesa comigo
nesta Consoada
ou na passagem de ano.
Mesmo simbolicamente que fosse.
Fico na dúvida sobre o que é
física,
mental,
emocional,
social
e espiritualmente
mais correcto.

Este ano não vos mandei um cartão de boas festas
com os dizeres:
Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…

Não tive coragem,
não tive lata.
Ou se calhar não quis,
não tive pachorra,
não pude,
fiquei sem internet,
estive com gripe…
Poderia invocar
qualquer outra desculpa,
que seria sempre uma desculpa
esfarrapada…

Mesmo não podendo
ou não querendo,
ou querendo e não querendo ao mesmo tempo,
acabei por vos mandar
as minhas festas de Natal e Ano Novo.
Atabalhoadamente…
Que sejam ao menos
quentes e boas
…como as castanhas.

Madalena, 24 de Dezembro de 2007
Funchal, 31 de Dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3687: O meu Natal no mato (20): Visita de Natal do COMCHEFE a Cutia (Jorge Picado)

1. Mensagem de Jorge Picado (*), ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, com data de 27 de Dezembro de 2008:

Caros Camaradas
A dois dias de fazer 38 anos sobre o sucedido, envio umas notas sobre um facto que testemunhei, na ùnica vez em que falei e militarmente apresentei forças militares ao Sr Governador e Comandante Chefe na Guiné.
Se julgarem de interesse, publiquem.

Abraços para TODOS.
Jorge Picado


Como já foi referido por diversas vezes no Blogue, a quadra natalícia, pelo seu significado, era usada por toda a Sociedade para exprimir aos combatentes "a sua gratidão" pelo sacrifício que prestavam à Pátria.

Eram as prendas do MNF, das quais nunca vislumbrei alguma talvez devido ao facto do pessoal sob meu comando já ter passado um Natal anterior (?), eram as celebérrimas mensagens enviadas através da TV, de que também me livrei e havia ainda as visitas relâmpago, durante este período, ao maior número de aquartelamentos possível realizadas por SEXA o Comandante Chefe.

Evidentemente que não sendo possível apresentar pessoalmente os seus Votos de Bom Natal e Felicidades para o Novo Ano a todos quantos se encontravam no TO, privilegiava ao máximo os locais mais castigados e isolados do mato, manifestando a "sua" solidariedade, o "seu" agradecimento e demonstrando que estava com as tropas, mesmo nos sítios mais inóspitos.

Só tive um ComChefe, o Marechal (então General) Spínola (o famoso "Caco Baldé"). Não sei se, os anteriores e o posterior, usavam esta política de reconhecimento para com os subordinados de escalão mais baixo, mas, não sendo seu admirador (por conhecer o seu passado na II Guerra Mundial), a sua forma de tratar um caso que lhe chegou ao conhecimento, indirectamente por mim, marcou-me, pela positiva.

Destacamento de Cutia, situado na estrada Mansoa/Mansabá

VISITA DE NATAL DO COMCHEFE A CUTIA

Na época natalícia de 1970, na área do BCaç 2885, o Destacamento de CUTIA foi um dos contemplados pela visita de SEXA e, como me encontrava lá colocado, coube-me recebê-lo, no dia e hora marcado e fazer "as honras da casa" durante o tempo dispensado, já que a paragem se inseria num percurso que o levaria a outros locais e a almoçar num outro local com melhores infra estruturas.

Ora isto aconteceu no dia 29DEZ70, segundo a indicação que tenho na Agenda para este dia [Visita de Sexa].

Evidentemente que a visita em si foi igual a tantas outras que muitos dos camaradas tiveram, com toda a certeza, mas há um acontecimento que julgo ser de dar a conhecer, até para se adicionar aos muitos outros que servirão para avaliar o perfil deste militar.

Dos soldados que tinha comigo naquela terra, havia um não originário do BCaç, mas que tinha ido ali parar por transferência disciplinar – pouco tempo antes de me ter deslocado com um Grupo de Combate da CCaç 15 para aquele Destacamento – face ao seu currículo cadastral.
Natural dum dos típicos bairros lisboetas – logo dotado duma certa lábia e duma experiência de vida mais libertina e menos dado a obediências – mais uma vez, creio, tinha sido transferido de unidade, por razões disciplinares. Ao longo da sua comissão, que já ultrapassava em muito os 25 meses quando apareceu em MANSOA – em OUT70 – já tinha passado por várias unidades, no seu périplo pelas matas da Guiné – intercalando por "estadias de descanso forçado" em BISSAU, sempre a acumular castigos, qual candidato a eterno "residente" por aquelas paragens, desde que as contingências da guerra o não levassem desta para melhor.

Pouco tempo depois de permanecer em MANSOA foi mais uma vez "premiado" pelo Cmdt do BCaç que lhe aplicou mais 20 dias de Prisão Disciplinar – precisamente uma semana antes do tal meu deslocamento – de forma que quando saí da sede do BCaç, o Cmdt determinou que logo que cumprisse a pena, tinha de o levar para CUTIA, já que como era um lugar pequenino não poderia causar tantos disparates…e eu que o controlasse não lhe atribuindo muitas responsabilidades para não fazer tantas asneiras.

Bem, o rapaz teve sorte ao encontrar "um paisano" que, "falando-lhe ao coração", perguntando-lhe o "que gostava de fazer" antes de o "mandar fazer", estabeleceu com ele um compromisso.

Tínhamos um gerador que passava mais dias em descanso do que aqueles em que funcionava…e ele, afirmando que tinha alguns conhecimentos de mecânica, prontificou-se a cuidar do gerador e a mantê-lo em funcionamento.

Detectou a razão das frequentes avarias, indicou-me as peças necessárias que, uma vez recebidas da Engenharia, substituiu com a ajuda dum camarada, tornando o gerador mais funcional.

Quando mandei dar conhecimento a todo o pessoal da visita do ComChefe, este soldado veio pedir-me para solicitar ao "Homem Grande" que o deixasse expor directamente o seu caso. Instruí-o para que se fardasse convenientemente e transmiti a um dos Furriéis para que "lhe desse uma ensaboadela dos procedimentos da apresentação a um superior".

Perante as forças que não foram destacadas para a devida segurança, devidamente formadas na improvisada parada, recebi com as honras militares correspondentes e falei pela primeira e única vez directamente com o Gen Spínola. Confesso que estava um tanto nervoso, com receio de cometer alguma "gaffe" e ser logo ali recriminado por falta de profissionalismo militar. Tal não aconteceu e, chegando aos "finalmentes", ou seja, quando ele fez a pergunta sacramental se havia alguém que desejasse expor-lhe qualquer assunto, apresentei-lhe o pedido do tal soldado.

Ordenou-me logo para o mandar avançar. Ouviu-o. Questionou-me sobre o seu actual comportamento. Informei-o sobre o bom desempenho da tarefa de que fora incumbido e da sua actual correcção dos deveres militares, após o que, como era habitual, virou-se para o ajudante de campo, que naquela época já não era o Capitão de Cavalaria Almeida Bruno – estava como Cmdt de uma CCom Africana – mas outro Cap mais baixo, de bigodinho, que imitava o General usando igualmente uma bengala e ordenou-lhe para tomar nota dos elementos identificativos do soldado e apresentar-lhe posteriormente o processo.

Resultado

Antes do final de Janeiro de 1971, o soldado embarcou no Aeroporto de Bissalanca com destino à Metrópole e com a comissão terminada.

Este facto, que como é evidente me marcou de tal modo que é daqueles que não esqueci, deu-me a conhecer outra faceta deste Comandante.

Ao mesmo tempo como era firme e severo nos seus castigos, também sabia ser humano quando necessário.

O Gen António de Spínola numa das suas habituais visitas a aquartelamentos da Guiné.
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Notas de CV:

(*) Vd. último trabalho de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)

Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3666: O meu Natal no mato (19): Spínola, as meninas do MNF, o bispo de Madarsuma e um jornalista, em Gandembel, 1968 (Idálio Reis)