segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (108): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto de  1973. Monumento construído pelo pessoal destacado na ponte, do 3º Gr Comb, e que ainda lá está, como o comprovou em Abril passado o nosso camarada Eduardo Campos.

Situa-se no tabuleiro da ponte,  no lado esquerdo,  no sentido Piche-Buruntuma. Na foto, vê-se em primeiro plano, sentado na base do monumento, o  Teixeira, de barbas; em segundo plano, e da esquerda para a direita, o Rocha (condutor, natural da Praia da Rocha, Portimão); o Carlos Alexandre (radiotelefonista, natural de Peniche), do qual só se vê a cara; e o Manuel da Conceição Sobral (natural de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém, ajudante de padeiro do Cristina). Ao lado do Rocha, à sua esquerda, vê-se o pequeno oratório tendo, na sua base, inscrita a legenda "Nem só de pão vive o homem"... (Não tem nada a ver com o forno do Cristina, como eu supunha...) (LG).

Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium,  constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão  s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". 


É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos.  Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma.

Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > s/d (época seca, 1973 ? )> O destacamento visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada no sentido Buruntuma-Piche. O memorial ficava a meio da ponte, do lado do lado esquerdo do tabuleiro (no snetido Piche-Buruntuma). Se lá estivesse nessa altura, não seria visível na fotografia porque estaria tapado pelos abrigos, aqui ao centro da foto (e onde ficava as transmissões, segundo informação do Alexandre que, no entanto, está examinar melhor uma imagem destas com mais resolução; à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral).


Nos dois álbuns de fotografia do Jacinto Cristina (sem datas nem legendas), não há uma única foto do memorial... Com toda a certeza esta foto é dos primeiros meses de estadia na ponte, ainda na época seca (1º trimestre de 1973 ou início do segundo; o memorial foi  construído, uns meses depois da emboscada de 14 de Junho de 1973,  em finais de 1973 ou inícios de 1974).


Sabemos que um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia há muito em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a ponte e atravessando o rio, e que é visível na foto. Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno lago à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri.




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O Carlos Alexandre e o Jacinto Cristina... O Carlos, soldado telefonista, de rendição individual,  será o recordista da ponte, com cerca de 18 meses de permanência neste local (de Janeiro de 1973 a Julho de 1974)... Já estava na ponte, logo no início de Janeiro de 1973, quando o 3º Gr Comb chegou... E lá ficou, quando eles se foram embora, ajudando o seu substituto, o operador de transmissões, a adaptar-se ao lugar. Depois ainda ficou em Bissau, colovado na Engenharia, à espera de completar o tempo que lhe faltava. Lembra-se de ter encontrado em Bambadinca um antigo cabo miliciano que lhe dei instrução na metrópole e que ele muito gostaria de voltar a encontrar hioje. O regresso a casa foi só em Agosto de 1974. O Cristina e o resto da companhia já tinham partido, em Junho de 1974...(Nessa altura, já se ia de avião; recorde-se que a companhia partiu para a Guiné em 23/3/1972 e regresssou a casa  27 meses depois, em 23/6/1974).





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Quatro camaradas, quatro amigos: Da direita para a esquerda: Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro10,, e não 81, diz o Carlos), Carlos Alexandre (operador de transmissões, natural de Peniche), Rocha (condutor, algarvio) e Santiago (1º cabo, atirador, que tomava conta da cantina)... 

Recorde-se aqui a opinião, autorizada, do nosso camarada Luís Borrega: "Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça (...) . O destacamento tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que (...) podia aguentar. No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição" (...).

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do nosso leitor e camarada Carlos Alexandre  (e, a partir de agora, também membro da nossa Tabanca Grande, depois de termos falado os dois ao telefone, ontem, de manhã, e de ele ter aceite o meu convite; entra com o nº 458, neste dia simbólico em que por tradição evocamos os nossos mortos queridos):


Data: 31 de Outubro de 2010 00:32
Assunto: Monumento na Ponte de Caium

Companheiro,  boa noite. Sou natural de Peniche,  trabalho nos estaleiros navais, e cumprí serviço militar na Ponte Caium como radiotelefonista entre Janeiro de 73 e Junho de 74. Estive, portanto,  com o Cristina. [Sold Jacinto António Grilo Cristina, natural de Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, membro da nossa Tabanca Grande desde Março passado].

O que me leva a dirigir-me a si, deve-se ao facto de ter entrado no blogue, da Tabanca Grande,  e ter verificado algum desconhecimento da vossa parte sobre o memorial aos falecidos do 3º Grupo de Combate (Fantasmas do Leste) que se encontrava (encontra) a meio do tabuleiro da ponte,  no lado esquerdo,  no sentido Piche-Buruntuma. Esse monumento está(va) ao lado de uma pequena capela com uma pequena imagem, que está retratada na outra fotografia [, do Eduardo Campos, Abril de 2010],  embora quase destruída,  onde está(va] inscrita a frase "NEM SÓ DO PÃO VIVE O HOMEM".

O que pretendo esclarecer é o seguinte:

 O monumento foi desenhado e realizado com a participação de quase todo o grupo e todo ele foi construído com areia,  cimento e ferro. Foi desenhado e recortado no chão, forrado a papel para não colar e cheio de cimento,  ferro e pedras. Ao ser levado para o sítio onde ainda hoje está,  partiu-se a ponta que fazia o seguimento da meia lua. Como não podia ser reparado,  optamos por fazer uma pequena escadaria e uma cruz.

Envio também uma fotografia que é bastante esclarecedora. Obrigado.

Carlos Alexandre [seguem-se os contactos telefónicos, que poderemos depois dispensar a camaradas dele que o queiram contactar].



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troco da fronteira leste).



2. Comentário de L.G.:

Falei ao telefone com o Carlos Alexandre que, de resto, é nado e criado num concelho vizinho do meu. Falámos também de Peniche, do passado e do presente, e de algumas pessoas que conhecemos. Falámos de Alfragide que ele conhece bem, e onde tem um filho que trabalha numa empresa informática.

O Carlos vive neste momento em Coimbrã, mas continua a trabalhar na sede do Concelho, nos Estaleiros Navais de Peniche, SA, uma empresa hoje de sucesso que dá trabalho a duzentos e tal pessoas... É chefe de equipa. Já era carpinteiro naval (e com muita honra) quando foi para a Guiné. Era igualmente casado e tinha uma filha, tal como o Cristina. Pelas contas feitas ao tempo que passou na Ponte Caium, ele deve ser mesmo o recordista do lugar: um ano e quase seis meses (ou seja, entre Janeiro de 1973 e Junho de 1974)...

 Aceitou, de bom grado, o meu convite para integrar a Tabanca Grande. Depois do Cristina, é o segundo representante da CCAÇ 3546 no nosso blogue. Prometeu mandar-me uma foto actual, como mandam as regras. E outras que ainda conserva, de Caium e de Piche. Tinha falado recentemente com o Cristina e estava "zangado" com ele por não se lembrar da construção do monumento (!)... Também o Sobral não se lembrava da obra, o que lhe parece incrível... O Barroca, por sua vez, tinha uma vaga ideia... Não há dúvida que a memória humana é muito selectiva...

O Carlos foi um dos principais artífices da obra, mesmo que na sua modéstia diga o contrário. Falou-me de um outro camarada, o Barroca (alentejano,vive em Lisboa), do Sobral (que era um especialista a fazer o cimento)... Mas insiste em esclarecer, sem falsas modéstias,  que foi "obra colectiva", trabalho de equipa.  Ele era carpinteiro naval, não trabalhava com pedra nem com cimento, mas sabia fezer moldes e desenhos. A ideia até saiu bem... Tudo começou uma lata de coca-cola, uma folha de papel e lápis... Discutiu-se depois o que se devia lá pôr (os dizeres)...

Qual mármore, qual carapuça! Isto é mesmo cimento, ferro e pedras!... As letras e desenhos foram feitos a canivete, no cimento fresco...Qual empresário do pós-independência, qual benfeitor, qual carapuça!... Foi tudo à custa deles! E colocado no local à força de braço!... Em suma, com tanta inspiração como transpiração, acrescento eu...

Face à complexidade e à perfeição da obra, exigindo competências que não eram habituais encontrar-se a torto e a direito nas nossas unidades (por exemplo, desenho técnico) e partindo da errada suposição que o monumento tinho sido construído em pedra, e no pós-independência, eu próprio já tinha, com alguma ingenuidade, comentado o seguinte: "Alguém, entretanto, que nos ajude a responder às nossas dúvidas e perplexidades: (i) foi trabalho para custar bom patacão; (ii) aquele tipo de pedra (mármore ?) não era fácil de encontrar na Guiné ; (iii) será que o trabalho foi encomendado e executado na Metrópole ?; (iv) haveria alguém, nomeadamente em Bissau, com a necessária tecnologia para executar aquele tipo de trabalho ? (v) quem terá sido o "arquitecto" ; e (vi) o executante ?"...

Bem, eu imaginava alguém ligado aos mármores, à cantaria, habituado a desenhar letras, a cinzelar  a pedra... Qual quê, tudo feito com papel, cola, cimento, ferro, pedras, areão... Primeiro foi feito um molde, na terra (barro): o corpo do monumento, em forma de meia lua, foi cheio com cimento, reforçado com bocados de arame farpado (ou verguinha, já não se lembra)... As dimensões, tanto quanto o Carlos se lembra, eram mais ou menos as seguintes: cerca de 15 de espessura, 2,5 metros de altura, e outro tanto ou mais de comprimento.   O monumento, com umas centenas quilos ("mais de 200, seguramente!"),  foi depois levado à força de braço para o tabuleiro da ponte, onde depois se realizou o trabalho mais fino: o recorte das letras, os desenhos em relevo... E ali ficou, a meio da ponte, cravado no chão, a um distância de 35 cm do corrimão do lado esquerdo (no sentido Piche-Buruntuma), deixando um homem passar ou colocar-se por detrás...



Como se vê, um dos arquitectos e artífices foi um... carpinteiro naval!...Para além da concepção, aplicou-se sobretudo no desenho: letras e brasão do pelotão (3º Gr Comb, Fantasmas do Leste). Habituado que estava a trabalhar com moldes e letras, na construção naval,  a tarefa para ele não tinha segredos.  Mais difícil era cortar o cimento a canivete, para fazer as letras desenhadas. Outro colega habilidoso terá feito esse trabalho. Era preciso rapidez e perícia para que o cimento não secasse.  Foi obra "colectiva", como ele faz questão de sublinhar ("O cimento, por exemplo,  foi tarefa do Sobral, eu não percebia nada de cimento pré-esforçado").

E foi tudo planeado e executado a seguir à morte dos camaradas na emboscada montada pelo PAIGC em 14 de Junho de 1973, na estrada Buruntuma-Piche: 1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão; Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (mais conhecido por Charlô, devido ao seu feitio brincalhão; Sold At Hermínio Esteves Fernandes; Sold At José Maria dos Santos.  Todos eles brutalmente mortos à roquetada e cortados em quatro com rajadas de Kalash... Nessa altura, o Alexandre (como é conhecido entre os seus camaradas) estava de férias...

A partir de Agosto de 1973, o grupo começou a trabalhar a ideia de fazer-lhes uma homenagem derradeira, um memorial em que a sua memória ficasse perpetuada em cima da ponte, por muitos e bons anos... Interrogado sobre o início dos trabalhos, o Carlos aponta para finais de 1973, princípios de 1974... A obra ainda levou umas semanas. E a ideia era pintar os diversos elementos do monumento. O que não chegou a acontecer, porque entretanto deu-se fim do destacamento. Mas o brasão do pelotão (o desenho dos Fantasmas do Leste) foi muito usado nas cartas que se escreviam. Como havia vários camaradas que não sabiam nem nem escrever, o Carlos desempenhava também essa nobre função de ler e escrever as cartas e os aerogramas...

E em boa hora, neste dia 1 de Novembro de 2010, voltamos a falar da memória destes camaradas que a morte não deixou que regressassem a casa para contar, aos filhos e netos, como era a vida na Ponte Caium...

Recorde-se que, por outro lado, em 19 de Fevereiro de 1973,  também tinha morrido o Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, vítima de uma armadilha que estava a desmontar.  Ainda o grupo tinha chegado há pouco tempo ao destacamento da Ponte sobre o  Rio Caium (vd. foto ao lado, do Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav , com a especialidade de Minas e Armadilhas,  CCAV 2749/BCAV 2922,  Piche, 1970/72, que também lá penou).

Também em Março ou Abril de 1973, falecera, de acidente, o Silva, apontador de canhão s/r (que não funcionava, era só para "turra ver"). Ora, sabendo-se que o Cristina tinha ido de férias em Abril de 1973, e que nunca saía do destacamento, na altura da construção do monumento ele estava pois lá, e de certeza que também deu uma ajuda...

Sobre esta obra, devo dizer que não conheço nada semelhante, à sua dimensão ou escala, em termos de criatividade, estética e técnica construtiva, deixada pelos nossos anónimos arquitectos, engenheiros, escultores, construtores, pedreiros e carpinteiros militares no TO da Guiné.

A foto tirada pelo Eduardo Campos enganou-me, ao sugerir que o material podia ser mármore rosa, ou coisa parecida... O monumento original era da cor do cimento, afiança o Carlos Alexandre. Com o tempo, e a acumulação do pó vermelho da estrada, ganhou a cor de mármore rosa...

Foi por causa destas  inexactidões que o Alexandre viu no blogue, é que se decidiu escrever-me (e telefonar-me). E aqui fica o esclarecimento: o seu a seu dono!... E mais do que isso: os meus/nossos parabéns aos bravos de Caium, pelo exemplo não só de talento e imaginação como de extraordinária camaradagem, união, trabalho de equipa e capacidade de sofrimento !... Ponte Caium representa o que de melhor têm (e são capazes de mostrar) os seres humanos, mesmo numa situação-limite como esta.




Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto do memorial, em mais detalhe, com os quatro camaradas e amigos: em primeiro plano, sentado na base do monumento, o Teixeira, de barbas; em segundo plano, e da esquerda para a direita, o Rocha (condutor, natural da Praia da Rocha, Portimão); o Carlos Alexandre (radiotelefonista, carpinteiro naval, natural de Peniche, e um dos co-autores da concepção e execução do monumento),  e o Manuel da Conceição Sobral (natural de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém).


Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Já agora, o Carlos queixou-se que o Cristina nunca apareceu nos convívios anuais do batalhão, havendo muita malta que o gostava de rever e abraçar. Ele, Carlos, por sua vez já se deslocou de propósito à terra do Jacinto, que fica longe de Peniche, para lhe levar uma lembrança. O ano passado teve oportunidade de conhecer a Cristina, a filha do Jacinto, e o marido, o médico Rui Silva que ele achou um casal encantador.

Enfim, aqui fica mais um pedaço da história de todos nós... Prometi ao Carlos que transmitia de novo ao Cristina estas informações (que de resto já lhe foram dadas por ele, Carlos, ao telefone), disse-lhe que ficava a aguardar mais relatos da vida na Ponte de Caium e que  lhe desejava uma "boa estadia" na nova Tabanca, a nossa Tabanca Grande. E, a propósito, ele informou-me que a tabanca mais próxima da Ponte chamava-se Sinchã Tumane...

Pela minha parte, espero um dia destes encontrar o Carlos em Peniche para o conhecer pessoalmente e dar-lhe um abraço ao vivo.
_____________

Nota de L.G.:

Último poste desta série > 31 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7201: Memória dos lugares (84): Recepção popular dos piras da 2ª CART do BART 6523 (1973/74), em Cabuca (António Barbosa)

13 comentários:

Anónimo disse...

Fico de cara à banda com esta maravilhosa explicação. Qual oficina especializada (de que eu próprio também falava), qual mármore, qual arquitecto ou escultor, qual patacão!... Tudo obra belíssima dos nossos jovens, que aproveitaram os tempos livres para, com imaginação, talento, muito trabalho e capacidade de improvisação, construírem uma bela obra que se mantém com uma patine que a torna ainda mais interessante.
E estes aspectos da vida quotidiana dos militares na guerra do Ultramar são também história. Disto também foi feita a sua vida naquelas paragens e circunstâncias.
Deve ser um grande alento para os nossos camaradas que construíram o monumento verificar que, passados quase quarenta anos, ele ali está a recordar amigos que deram a vida pela Pátria.
Só podem sentir orgulho por este marco que implantaram numa ponte da Guiné.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

FANTÁSTICO…

Num meio onde primava a escassez de matéria-prima e ferramentas, privados das necessidades básicas mais elementares a que o ser humano tem direito, submetidos às tensões diárias da guerra, existir ainda, o ânimo e a força, para com tanto enlevo e garra, ter tempo e querer, para homenagear camaradas, a quem a guerra ceifou a vida, executando e erguendo, com tanta criatividade, perfeição e arte, um monumento de inspiração colectiva, para honrar a memória dos camaradas desaparecidos, é digno do nosso apreço tal feito, e são merecedores da nossa admiração, os inspirados artistas!

Bom dia e um abraço para todos

José Corceiro

Anónimo disse...

Bom dia camaradas.
É bem como dizem,o mundo é pequeno e o nosso blog é grandeeee,está aqui um monumento que eu desconhecia passei muitas vezes pela Ponte de Caium e foi atravez de uma foto que enviei para o blog que o Cristina se viu nessa de entrar e eis que vai contribuindo e de que maneira com as suas fotos (manga de ronco)para que a malta recorde estas belezas naturais,feitas por homens de garra que desde já felicito por esta autêntica obra de arte.
Para todos um bom dia.
Castro da CART 3521.
PITCE BAFATÁ E SAFIM.

Luís Graça disse...

Gostei muito de falar com o Carlos, ao telefone. Como muitos homens nascidos à beira mar, gosta de fado. E cantava o fado, na tropa. na Guiné... É um homem de sentimento e de sentimentos.

Cantou, a pedido, para o seu amigo Torrão, que viva no mesmo abrigo, antes de ele morrer na terrível emboscada de 14 de Junho de 1973... O Carlos veio de férias e o Torrão morreu, em combate... Ele não mais esqueceu este momento único e o seu grande amigo que vivia intensamente a pensar na mulher e no filho que deixara na metrópole... São estas emoções, fortes, que marcam as relações entre os homens...

Percebe-se, ao telefone, que o Carlos ainda tem (ou sempre teve) uma bela voz, colocada... Depois deixou o fado, "deixou a lira morrer"...

Há uns meses, desde Março, que começou a espreitar o nosso blogue. A história de Caium (e alguns das suas fantasias) fê-lo sorrir...Mas nos últimos tempos, até apareceu a sua foto, e a de outros camaradas e escreveram-se alguns
delírios sobre a origem do monumento...

Embora seja um homem discreto, que não reivindica protagonismos, achou que já se tinha ido longe de mais... Além disso, os seus antigos camaradas estavam a dar indícios preocupantes de amnésia... Daí o seu mail e o seu telefonema...

Estou-lhe grato. Alguns, do alto do seu pedestal, dirão, com um sorriso cínico e trocista, que a "petite histoire", a história com h pequeno, só interessa aos homens, não aos heróis e aos deuses... Mas a verdade é que aqui nós nunca prometemos o Olimpo a ninguém. São as histórias, banalíssimas, dos homens que nos interessam. De portugueses anónimos, como o Alexandre, o Torrão, o Charlô, o Wolkswagen, o Sobral, o Cristina, o Raça Cão, e tantos outros que irão morrer tão anónimos como anónimos viveram...

É pena que apenas um em cada cem ou mil, chegue até nós... O Alexandre garante-me que conheceu, na Ponte de Caium, homens fantásticos, portugueses da estirpe do Fernão Mendes Pinto, como o Wolkswagen, que eram geniais contadores de histórias e grandes camaradas, de coração gigante, mas que não têm email, nem computador, nem sabem ler nem escrever, nem ninguém sabe onde param ou até se estão vivos...

Anónimo disse...

O Carlos Cordeiro, ficou de cara à banda, eu direi que fiquei envergonhado, já que a minha actividade profissional esteve sempre ligada à construçãao civil e ainda bem que na altura não disse que a obra de arte foi feita com o famoso mármore de Carrara (da região da Toscana/Itália).

Para esses bravos e talentosos artistas da ponte Caium,aqui vai um abraço fraterno do vosso camarada.

Eduardo Campos

Luís Graça disse...

Eduardo

Fomos bem enganados... por engenho e arte dos artistas.

Luís Graça disse...

Quando se fala no lado esquerdo e no lado direito do tabuleiro da ponte, quer-se dizer: norte/noroeste e sul/sudeste, respectivamente, quando se vai no sentido Piche-Buruntuma...

Devo dizer que nunca lá estive... Mas tive num destacamento parecido: o Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca... Toda a gente do leste tinha que lá passar para apanhar o "cacilheiro" (a LDGM) Xime-Bissau-Xime...

Anónimo disse...

Camarigos
Como "Caiumense" do coração,ao ler este poste, primeiro fiquei perplexo pela explicação da construção do memorial, depois gostei de ver aquele Camaradas sorridentes ao pé do monumento.
Acho que dava para uma excelente reportagem televisiva, e decerto envergonharia muitos "pseudos " escultores da nossa praça.
Para todos os "Caiumenses" um abraço fraterno do tamanho do Corubal.
Luís Borrega

P.S. Não digo um abraço do tamanho do Rio Caium, pois era um rio com pouco caudal por vezes.

Anónimo disse...

Camarigos
Numa estadia do meu GComb, (eu estava de férias), o Fur.Mil.Cav. José Boia (3ºGCOMB)deslocou-se a Buruntuma para trazer um morteiro de 10,7 para reforçar o poderio bélico do Destacamento.
Isto é para complementar a legenda da foto.
Abraço
Luís Borrega

Anónimo disse...

Olá Camarada e amigo Carlos Alexandre.

Dado que, parece-me reconhecer o Soldado Condutor Costa, e ficando-me em dúvida a naturalidade do mesmo.
Será que se chama Florimundo, se for a sua naturalidade é de Lagoa-Algarve e sendo conhecido pelo "Flor."

Com um abraço
Arménio Estorninho

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

O tom geral dos comentários expressos é de espanto. Pela qualidade, pela arte, pelo engenho!

E não é caso para menos, pois de facto é no mínimo surpreendente o que se conseguiu fazer com tão poucos recursos.

Prova-se assim, mais uma vez, que a capacidade humana, se bem estimulada, é capaz de realizar grandes proezas.

Parabéns aos autores do trabalho, que está ali para testemunho da homenagem dos vivos aos mortos, mas é também, em si mesmo, uma homenagem à capacidade do género humano e, neste caso particular, ao Soldado Portugês.

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Camarada Carlos Alexandre, desculpa o lapso porque foi devido ao meu BI ter a data de 09 de Julho de 1946.

Por inadvertidamente colocar mal o apelido Costa, quando deveria ser do Soldado Condutor Rocha.

Com um Abraço
Arménio Estorninho

Joel Viola Pacheco disse...

Grande obra de arte. Mas maior que a obra,é a homenagem que esses militares fizeram aos camaradas que tombaram em defesa da Pátria.
Estive na região do ÒIO,com CCAV3568,72/74, não conheci o leste da Guiné, mas conheço o Carlos Alexandre,meu conterraneo aquem mando um abraço.
Joel Viola Pacheco.