quinta-feira, 8 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério municipal > Talhão militar português > Abril de 2006 > Campa nº 1271, de Anastácio Vieira Domingos, doldado, CCAÇ 727, falecido em 13 de dezembro de 1964, por doença, no HM 241, Bissau. Era natural de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, distrito de Beja. O soldado Anastácio Vieira Domingos, nº 688/64, teve como unidade mobilizadora o RI 16, de Évora. A comissão no CTIG  foi de outubro de 1964 a agosto de 1966. O soldado Anastácio Vieira Domingos não chegou a conhecer a época das chuvas: morreu ao fim de dois meses de Guiné, mais exactamente a 13 de dezembro de 1964. O seu nome consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > 6 de Março de 2008 > Um dos três talhões atribuídos aos militares portugueses, mortos durante a guerra colonial: trata-se, neste caso, do Talhão Esquerdo, onde estão as campas não identificadas. Como já o dissémos aqui, no nosso blogue, estes serão porventura os restos mais dolorosos do que restou do nosso Império... Segundo a Liga Portuguesa dos Combatentes, na Guiné haveria mais de uma centena de cemitérios improvisados (locais de enterramento, desde Buba a Nova Lamego, passando por Cacine a Guidaje), onde repousam, sem honra, nem glória, nem dignidade, os restos mortais dos nossos camaradas cujas famílias não tinham, na época, recursos financeiros suficientes (cerca de 11 mil escudos na época, cerca de 4500 euros, hoje) para, a suas expensas, trasladar os seus corpos para Portugal.

Foto de Nuno José Varela Rubim, hoje cor art ref,  um dos comandantes da CCAÇ 726 (Quinhamel, Guileje, Cachil, Catió, 1964/66), contemporânea da CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que só teve um comandante, o já falecido cap inf Joaquim Evónio Rodrigues Vasconcelos, e a que pertenceu o avô da Adelise Azevedo,

Foto (e legenda) : © Nuno Rubim (2008) . . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa leitora Adelise Azevedo (França):


Data: 3 de março de 2018 às 13:43

Assunto: Pedido de informações sobre a era guerrilheira e a independência da Guiné


Bon dia,  Senhor Luis Graça,

Meu nome é Adelise Azevedo, sou a neta do Senhor José Alves Pereira (CCAÇ 727).

Tenho 14 anos e estou no Colégio "Saint Joseph La Salle" em Wattrelos, no norte da França, perto da fronteira belga.

Eu tenho que preparar um exame chamado "Passeurs de Mémoires" ("Passadores de Memórias") para o mês de maio de 2018.

Eu escolhi de falar sobre a guerrilha na Guiné de 1963 a 1974.

Tenho sorte de ter o testemunho do meu avô, mas você poderia, por favor, me enviar documentos, fotos ... deste período da história da Guiné e de Portugal e me  comunicar títulos de livros, documentários ...

Com antecedência, agradeço sua ajuda.

Atenciosamente,

Adelise Azevedo

59150 Wattrelos

FRANCE


Bonjour Monsieur Luis Graça,

Je m'appelle Adelise Azevedo, je suis la petite-fille de Monsieur José Alves Pereira (CCAÇ 727).

J"ai 14 ans et je suis au collège Saint Joseph La Salle à Wattrelos, dans le nord de la France, à proximité de la frontière belge. 
Je dois préparer un examen qui s'appelle "Passeurs de mémoires" ("passadores de memorias") pour le mois de mai 2018. J'ai choisi de parler de la guérilla en Guinée de 1963 à 1974.

J'ai la chance d'avoir le témoignage de mon grand père, mais pourriez-vous me transmettre des documents, photos... sur cette période de l'Histoire de la Guinée et du Portugal et me communiquer des titres de livres, documentaires...

D'avance, je vous remercie de votre aide.

Cordialement,

Adelise Azevedo



2. Pedido aos nossos camaradas José Martins e Mário Beja Santos:

Zé Martins e Mário:

Duas ou três sugestões para a nossa amiga Adelise Azevedo, neta de um camarada nosso... Tenho notado uma crescente procura do nosso blogue, por parte  dos franceses (ou luso-franceses)...Vejo pelas estatisticas do Blogger.

Este mês, com um total de c. 90 mil visualizações / visitas, a França vem surpreendentemente em 2º lugar, à frente ds EUA, nas visitas ao nosso blogue... Ab, Luís



Visualizações de páginas
Portugal
24566
França
23676
Estados Unidos
15284
Reino Unido
6347
Turquia
2271
Itália
1588
Brasil
1225
Espanha
1049
Canadá
804
Alemanha
728



3. Resposta do Mário Beja Santos, com data de ontem:


Bom dia a todos, a nossa jovem amiga tem duas versões para o seu trabalho: o que escreveram os autores franceses e os testemunhos dos portugueses.

Obviamente que temos de ser parcimoniosos, para ela não se afogar em papel. Lembro os testemunhos de Gérard Chaliand (não terá dificuldade, penso, em encontrar La Pointe du Couteau, Robert Laffont, Paris, 2009), Réné Pélissier, Basil Davidson em francês. 

Se vivesse em Paris, era de sugerir consultas no Centro Cultural Português, está recheado de literatura alusiva. 

Creio igualmente que se poderia mandar referências aos vídeo franceses [ do INA] de que largamente temos aqui feito referência. Vejo com dificuldade pôr a jovem a ler o nosso blog em toda a sua extensão. 

Vou enviar-vos em PDF o meu livro “Adeus, até ao meu regresso”, neste caso, seria de a avisar que se trata do panorama da literatura da guerra da Guiné. Tenho outros PDF  de outros livros meus, vocês dirão se devemos inundar a jovem com toda esta literatura. 

Um abraço do Mário

4. Resposta do editor Luís Graça:

Em Dia Internacional da Mulher temos a obrigação de ajudar esta jovem, neta de um camarada nosso, um português da diáspora. Como a gente costuma dizer, na nossa Tabanca Grande, os filhos e os netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são...

Obrigado, Mário, pelas tuas sugestões de leitura. Vou enviar inclusive o pdf do teu livro à nossa menina. Tu és, nesta matéria,  uma verdadeira autoridade, ninguén como tu tem o conhecimneto, em extensão e profundidadr, da literatura sobre a guerra colonial na Guiné. E és, de há largos anos, o  crítico literário por excelência do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

A Adelise fará, depois, uma triagem  do que lhe interessa para o seu trabalho escolar, que eu imagino seja relativamente rudimentar. O nosso blogue também é uma vastíssima e rica fonte de informação e conhecimento sobre a guerra colonial na Guiné. Mas ela não irá ter muito tempo para vascular 14 anos de blogue, com mais de 18 mil postes e 70 mil imagens e alguns vídeos, para além de outros  tantos 70 comentários. Tem as cartas ou mapas da Guiné, disponíveis em formato digital, à escala de 1/50 mil...

Temos ainda, na coluna do lado esquerdo  do nosso blogue,  una lista com links, com mais de 4 mil marcadores, descritores ou referências, que serão seguramente úteis para o seu trabalho. Veja-se, por exemplo, o descritor CCAÇ 727, que foi justamente a companhia a que pertenceu o avô José Alves Pereira. 

Ver aqui, nais especificamente. a história da unidade, os sítios por onde passou, as baixas (mortos) que teve, etc. Mas a Adelise também pode (e deve) fazer uma entrevista, semi-estruturada, ou semi-diretiva, ao avô. Ponha-o a falar, no caso, obviamente, de ele viver em França e ao pé dela... Em suma, fazer uma "petite histoire de vie",com fotos dele e dos seus camaradss, por exemplo...

Aconselho também a consulta do portal Guerra Colonial 1961-1974, organizado pela A25A - Associação 25 de Abril, em colaboração com a RTP. Sobre o Teatro de Operações da Guiné, a Adelise encontrará informação específica aqui. Inclui multimédia.

O INA - Institut National de l'Audiovisuel, da França, também tem alguns vídeos interessantes sobre a guerra na  Guiné (hoje, Guiné-Bissau). Ver em especial este "Guerre em Guiné" (, ORTF, 1969) (c. 14 minutos), de que temos um resumo analítico alargado, no nosso blogue.

No Google Imagens, encontrará centenas e centenas de documentos que lhe poderão interessar... Fazer a pesquisa deste modo: Google > Imagens > Guiné + "guerra colonoal" [, assim, com aspas]...

Na RTP Arquivos também tem algumas reportagens, mas menos interessantes...O regime político, de então, não estava nada interessado em mostrar à população a brutal realidade da guerra, em especial na Guiné...

No portal Casa Comum, organizado pela Fundação Mário Soares, tem à sua disposição o Arquivo Amílcar Cabral, de consulta também útil e interessante, nomeadamente em termos de espólio fotográfico.

Poderá ainda consultar uma obra de referência,  enciclopédica, " Os Anos da Guerra Colonial (1961 - 1975)", da autoria dos historiadores militares  e coronéis reformados, Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Matosinhos: Quidnovi: 2010, 838 pp., preço de capa c. 45€). O Carlos Matos Gomes foi, inclusive, combatente na Guiné.

Haveria muito mais fontes, mas para já e atendendo à natureza do trabalho em curso, para efeitos escolares, achamos que é suficiente. A Adelise poderá, de resto, consultar-nos, para tirar qualquer dúvida mais concreta.

Vamos desejar boa sorte  para o trabalho da Adelise, vamos ajudá-la a ter uma excelente nota no exame.  E no final vamos convidá-la a integrar a nossa Tabanca Grande, em representação do seu avô. Para isso, vai mandar-nos uma foto dela, e duas do avô (uma atual e outra do tempo da Guiné). Mas isso só depois de entregar o trabalho... no próximo mês de maio. Um beijinho para ela, um grande abraço para o avô.

___________

Nota do editor:

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Imoral!... Quem tinha 4500 euros (11 mil escudos, em 1964) para pagar as despesas de trasladação dos restos mortais de um combatente, de Bissau para Lisboa ?!...

Mais de meio século depois ainda temos a obrigação de nos indignarmo-com com esta indignidade!...

Afinal, havia a Pátria, para uns, poucos, e a Madrasta, para outros, a grande maioria...Era de um cinismo atroz, essa, de escreverem na lápide "Morreu pela Pátria"!... Qual delas ? A Pátria deles ou a nossa ?

José Botelho Colaço disse...

Muito próximo na campa 670 jaz o soldado António Pinheiro Bicho C. caç 557 morto em combate na operação tridente Ilha do Como.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Posso estar enganado, mas a 727 foi comandada pelo Cap. Inf.ª Vasconcelos de quem se falou no blog e que faleceu há pouco tempo e que era poeta.
A CCaç teve mesmo gente apanhada à mão e que creio que voltou a Lisboa depois do golpe a Konakry. Ou estou errado?
Num primeira aproximação seria bom consultar os livros brancos, da CECA, sobre a Guerra....

Um Ab.
António Costa