Diz o Zé Belo: "Um povo que se respeite, deverá sentir orgulho na sua História, nos seus heróis, nos seus mortos." É isto mesmo, meu caro Zé Belo. ´(*)
Eu, às vezes, nem é bem uma questão de orgulho, mas depois de viver durante nove anos fora de Portugal, em três continentes diferentes, de conhecer um pouco melhor as pátrias dos outros, gosto muito de ser português.
Sou, desde 2012, professor de História na Universidade de Aveiro, dou a cadeira Relações Históricas Luso-Chinesas, no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Mestrado em Estudos Chineses, Universidade de Aveiro.
Tenho também um mestrado em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, o nosso passado pelos quatro cantos do mundo não me é estranho.
Reconheço que houve racismo, colonialismo, escravatura, todo um rol de práticas e fenómenos sociais que hoje, ano 2019, e bem, deploramos. Mas toda a análise histórica deve ser inserida nas mentalidades e práticas da sua época, compreendida de acordo com os valores, ou a ausência de valores, que prevaleciam na época.
Não gosto que sistematicamente Portugal e os portugueses do passado sejam catalogados de quase uma espécie de dejecto, de escória da espécie humana.
Não gosto que os nossos militares em África sejam considerados criminosos, como ficámos recentemente a saber neste blogue, segundo o escritor Mário Cláudio, que afirma que na nossa Guiné "se esmagava o crânio dos meninos negros nos capôs dos Unimogs" e "se esfaqueavam negras grávidas, arrancando-lhe os filhos do ventre.", militares criminosos que, segundo Mário Cláudio, depois recebiam as mais altas condecorações nacionais.
Estas tenebrosas fake news, como hoje se denominam, circulam pela sociedade portuguesa.
Padre António Vieira, detalhe de quadro de pintor desconhecido do séc. XVIII |
Com qualidades e defeitos, como de resto todos os povos, inclusive os que colonizámos,temos sido no essencial um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697) , "tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer", gente muitas vezes à deriva pelo mundo, que partiu de uma pátria pobre e quase isolada na Europa, mas com pessoas que, na sua esmagadora maioria, têm sido dignas do seu destino e úteis no crescimento e desenvolvimento das desvairadas terras por onde se fixaram.
Não gosto de quem despreza o chão que o viu nascer, não gosto de quem se entretém a arrancar as suas raízes para as lançar na fossa fétida do tempo. (**)
Não tenho consciência de culpa por crimes que nunca cometi.
Abraço,
António Graça de Abreu
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20427: Da Suécia com saudade (62)... E agora também dos States, Florida, Key West... A catarse do Império... O lugar do Portugal de hoje, tanto na Europa como no mundo, é que deveria ser assunto de discussões acaloradas (José Belo)
7 comentários:
O Padre António Vieira e o pobre do Zé Belo de um só fôlego ?!?
Senhor Professor...compreendo agora a razäo de as minhas renas me estarem a pedir...autógrafos!
Um abraco do J.Belo
Amanhã (11-12-2019) quando Mário Cláudio for distinguido com o Grau de Doutor 'Honoris Causa', pela Universidade do Porto, com a presença do Presidente da República, talvez explique quem foi o personagem 'Cap. Garcez' ou, talvez, não explique por todos perceberem quem foi.
Valdemar Queiroz
Nem mais António Graça de Abreu,inteiramente de acordo.Escreves que a "análise histórica deve ser inserida nas mentalidades e práticas da sua época".Logo não podemos analisá-las à luz destes tempos.Portanto para quê renegar o passado, se no fundo também tem o seu lado positivo.
"Não gosto de quem despreza o chão que o viu nascer,não gosto de quem se entretem a arrancar as suas raízes para as lançar na fossa fétida do tempo."
Subscrevo e partilho esta tua análise.Fomos o que fomos estivemos onde estivemos,foram os tempos de então e não fugimos a eles.E tu bem sabes (sabemos) tanto mais que temos o privilégio de conhecer outras culturas nomeadamente a chinesa.
Um abraço
Carlos Gaspar
Naturellement, les bons esprits se rencontre.....
Hélder Sousa
'Nascer pequeno, e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para nascimento, e tantas terras para sepultura. Para nascer, pouca terra, para morrer toda a terra, para nascer Portugal, para morrer o mundo.'
Padre António Vieira
Valdemar Queiroz
Também partilho a análise de António Graça de Abreu, bem como em geral os comentários dos nossos seguidores.
Temos de ter muito orgulho de ser Português, independentemente de umas quantas barbaridades, que todos os povos deste planeta praticaram, e ainda continuam hoje mesmo.
Sobre o Mario Claudio, não consigo perceber onde foi ele 'colher' semelhantes afirmações, e não vem aqui retratar-se e dizer como foi.
Agora vai ser mais dificil, com a comenda que recebeu ontem.
Virgilio Teixeira
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