quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22602: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVIII: Montanha Wutai, província de Shanxi, China, 2002












Montanha Wutai, província de Shanxi, China, 2002



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74]. (*)


 Montanha Wutai, província de Shanxi, China, 2002

por Antóni0 Graça de Abreu

[ Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem cerca de 290 referências no blogue.]



Wutaishan, a montanha sagrada dos Cincos Terraços. No Verão, verdejante e fresca, no resto do ano, árida, fria, branca de neve. 

Hoje habitam-na quarenta e sete templos dedicados a Buda, e dois mil monges flutuantes. Praticam o budismo chan禅, o zen que só chegou ao Japão no século XII. Também reverenciam Buda, ao modo do lamaísmo tibetano.

Esta noite, os montes vestidos de espasmos de névoa, um rendilhado imenso de cascatas de brumas. Amanhece. Poeiras cinza voam e desfazem-se no rosa, depois ténue céu azul. O templo de Pusading, o pagode, agarrado à terra, coroa a crença dos homens em viagem.

Tomo uma nuvem branca, inebrio-me em perfumes de incenso. O coração quer galopar nas nuvens, no sibilar da brisa nos pinheiros. Passeio no esplendor do vazio, subo, desço escadarias, perco-me de terraço em terraço. A natureza protectora e mãe acaricia o fundo do vale, os montes verdes, húmidos de prazer, abrem os braços ao clarão do dia.

Encontro o monge Manjusri, “mão esquerda de Buda”, em meditação. Veio de longe, da Índia, no século V e viveu em Wutaishan durante mais de quarenta anos. Pergunto-lhe:

-- Em que pensa, nessa imobilidade absoluta?

-- Penso no que está para além do pensamento.

-- Como consegue pensar no que está para além do pensamento?

-- Não pensando.

Procuro limpar a mente, depurar o coração, a busca da pequena sabedoria e da iluminação. Contemplar a natureza, embalar-me nos braços serenos de Buda.

António Graça de Abreu

Texto e fotos enviafos em 18/8/2021

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5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, a data... Em que ano foi a viagem ? Mantenhas. Luís

Hélder Valério disse...

Interessantes imagens da China do interior, da China rural.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

2002, diz o António. Já corrigimos. LG

Valdemar Silva disse...

Provavelmente Graça Abreu serviu-se de belas fotografias para abrilhantar este seu pequeno texto de viagens, quase um poema, da Montanha Wutai, na China.
No ano passado li uma pequena crónica "A terra transforma a montanha Yuntai na terra dos sonhos", ligada à nomeação pela UNESCO, em que aparece a fotografia aqui apresentada como 1ª. foto.

Abraço
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Rectifico, queria dizer "A neve transforma a montanha Yuntai na terra dos sonhos".

Valdemar Queiroz