Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2148: Blogoterapia (34): Da minha proverbial preguiça ao carro de granadeiros e ao Domingos Ramos que eu conheci (Mário Dias)
Fonte: © Viriatus - Miniaturas e Figurinos Militares (2001). Direitos reservados (com a devida vénia..)
1. Mensagem do Mário Dias, ex- sargento comando (Brá, 1963/66).
Caro Luis
Li a tua mensagem que me deixou perplexo por supores que eu estou zangado.
Não. Não estou nem nunca poderei estar. Não tenho qualquer motivo para isso, bem pelo contrário.
Continuo fiel e interessado leitor de tudo quanto consta na nossa Tabanca Grande. Não falho um só dia, desde que me encontre em casa. Confesso que não tenho sido bom colaborador nos últimos tempos porque o grosso da minhas memórias dos belos tempos passados na Guiné está praticamente esgotado (1). Tenho ainda algumas coisas para relatar que espero vir ainda a fazer quando me passar a preguiça crónica que me assaltou. Por enquanto, demos voz àqueles que suportaram a pior parte da guerra que foi, sem dúvida, a partir de 1968. Eu, apesar de tudo, fui um privilegiado pois safei-me de lá em Fevereiro de 1966.
Assim, e aproveitando este interregno inesperado na minha amada preguiça, aqui vai um pequeno esclarecimento sobre a razão do nome de granadero dado à Berliet modificada de Enxalé (2).
O que pretendiam dizer era granadeiro. (Fazendo um pouco de humor, sem ofensa, talvez os militares de Enxalé fossem, na sua maioria, alentejanos. Daí, o granadero em vez de granadeiro).
Realmente existiu no EP (não sei se ainda existe) um blindado ligeiro, de caixa aberta, destinado a transportar uma secção de atiradores em missões de reconhecimento avançado e de protecção dos flancos das tropas em progressão e que poderiam fazer uso do lançamento de granadas de mão. Por isso essas viaturas se designavam por carro de granadeiros ou, simplesmente, granadeiro.
Recordo-me perfeitamente que as duas companhias de Caçadores Especiais que foram para a Guiné em 1962 , tinham viaturas dessas ao seu serviço. Também os Esquadrões de Reconhecimento de Cavalaria as tinham.
Pensei que seria melhor mostrar uma - porque uma imagem vale mais que mil palavras - pesquisei no Google e achei. Em anexo segue a fotografia de um granadeiro, com a devida vénia do site www.viriatus.com/GU61_74_07.asp [Viriatus -Miniaturas e Figuras Militares].
Quanto à biografia do Domingos Ramos, pouco mais conseguirei acrescentar ao que já relatei (3). De facto, eu conheci-o apenas durante o tempo em que ambos estivemos a cumprir o serviço militar em Bissau. Não foi muito tempo mas o suficiente para que tivessemos desenvolvido uma verdadeira e grande amizade que ainda hoje recordo com nostalgia e que os caminhos opostos que cada um de nós seguiu não abalou.
Vou tentar, sem compromisso, obter mais elementos tais como data e local de nascimento, filiação e outros de interesse para uma biografia.
Um grande abraço para toda a tabanca.
Mário Dias
2. Comentário de L.G.:
Mário:
Que bom saber de ti e da tua relativa disponibilidade para continuar a colaborar com o nosso projecto, como fizeste no passado. Acredita que entendo (e invejo) a tua proverbial preguiça. Estás a fazer as coisas que gostas e para as quais agora tens tempo, como a música e o canto.
Por outro lado, quero que esclarecer-te que estava a tentar provocar-te, no bom sentido do termo. Seria incapaz de estar zangado contigo, por causa da tropa, da guerra, da política ou do blogue. Para mim já és um velho amigo, embora só tenhamos estado juntos um fracção de tempo das nossas vidas. Quis apenas, piscando o olho ao nosso comum amigo VB, obrigar-te a dar sinais de vida. Estou encantado, porque o consegui...
Guardo, entretanto, a tua promessa de acrescentares mais qualquer coisa aos teus preciosos apontamentos sobre a figura do Domingos Ramos que, imagino, deveria ter a tua idade, se hoje fosse vivo. ´
Obrigado também pelos teus competentíssimos esclarecimentos sobre o insólito e malogrado granadeiro do Enxalé.Inté. Mantenhas. (A propósito, estás disponível na Net o Dicionário Caboverdeano Português, da Priberam, que nos poe ser útil, se bem que o crioulo da Guiné-Bissau e o de Cabo Verde tenham diferenças que, julgo, são acentuadas).
__________
Notas de L.G.:
(1) Há dias tinha-me mandado um mail ao Virgínio Briote com conhecimento ao nosso querido amigo comum, Mário Dias:
(...) Quem melhor do que nós para fazer um pequeno apontamento sobre o Domingos Ramos ? Para a série PAIGC - Quem foi quem ... Só o Mário... Vê se o convences... Ele a mim não me liga, pela simples razão de não ter sido ... comando. O Mário escreveu um dos mais belos textos que se podem escrever sobre a amizade entre dois homens... Não podemos perder o seu talento... Espero que ele não ande zangado connosco... por achar a nossa Tabanca Grande muito maior do que a nossa caserna (...).
17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)
9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite
19 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau
(2) Vd.post de 2 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2148: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)
(3) Vd. posts de:
1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando
Guiné 63/74 - P2147: Ainda os ataques com foguetões a Bissau (Carlos Vinhal)
Durante o tempo em que a minha Companhia permaneceu na Guiné, houve dois ataques com foguetões à cidade de Bissau (1).
O primeiro foi em 9 de Junho de 1971, data que não esquece, porque coincidiu com uns dias de folga proporcionados a alguns militares da CART 2732, precisamente em Bissau.
Alguém tinha resolvido que dois pelotões, de cada vez, fossem passar dois dias a Bissau, no mês de Junho de 1971, como recompensa pela permanência de 14 meses consecutivos em Mansabá e pelo esforço despendido durante a construção do troço da estrada Bironque-K3.
Aprazado foi o dia 10 de Junho, Dia da Raça, Feriado Nacional, para os primeiros dois pelotões da CART 2732 desfrutarem da tão ansiada visita à capital, deixada para trás há tanto tempo.
Ainda em Mansabá soubemos que Bissau tinha sido atacada na noite anterior mas, como não viesse nenhuma contra-ordem, lá nos pusemos a caminho.
Chegados, deixámos as armas no Regimento de Comandos e fomos passar o resto do dia e princípio de noite no centro da cidade.
Tínhamos connosco as nossas próprias viaturas pelo que não tínhamos problemas de transporte. Depois da chamada visita panorâmica, estacionámos as viaturas e cada um viveu à sua maneira momentos de descompressão, numa cidade atemorizada pelos recentes acontecimentos.
Lembro-me que na noite de 10 de Junho toda a tropa sediada em Bissau estava de prevenção nos respectivos quartéis e que a população civil era muito pouca nas ruas. O centro da cidade estava praticamente deserto. Os cafés e restaurantes tinham um movimento reduzido, porque lhes faltavam os seus melhores clientes, os militares.
No dia 11 foi o regresso a Mansabá, enquanto Bissau retomava a normalidade.
Constou-se que nos dias subsequentes houve um desusado movimento aéreo, para trazer para a Metrópole as esposas dos militares que se encontravam a morar em Bissau. Esta deixara de ser uma cidade segura. À noite era proibida a ida a Safim sem escolta militar.
No segundo ataque à cidade, em 1972, mais propriamente ao aeroporto, estávamos já em Bissau à espera que chegasse o dia do regresso, marcado para 19 de Março, num dos aviões dos TAM [Transportes Aéreos Militares].
O acto bélico terá acontecido entre os dias 9 e 12 de Março de 1972 (não sei precisar) e deixou-nos preocupados, pois se a pista fosse afectada, podiam arranjar uma desculpa para nos reter por mais algum tempo.
Porque já fosse a segunda vez, ou porque desta feita os foguetões caíssem mais longe (imediações do aeroporto), não se notou qualquer alteração no quotidiano da cidade.
Vou transcrever um excerto da História da Unidade, CART 2732, página 37, Capítulo II, FASCÍCULO XX - PERÍODO COM INÍCIO EM 01FEV72, A - SITUAÇÃO GERAL, 2. Inimigo: [...]
Em Bissau, para onde a CART se desloca a partir de 08FEV, o IN tem pretendido intensificar a guerrilha, revelando-se por alguns rebentamentos de engenhos explosivos na cidade de BISSAU. Prevê-se que tais acções se estendam a outros objectivos procurando obter resultados espectaculares susceptíveis de aproveitamento junto das populações e na sua propaganda externa.
Esta observação, na HU da CART 2732, dá a entender que Bissau no início de 1972 já não vivia dias muito pacíficos (2).
Carlos Vinhal
ex-Fur Mil
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Notas de CV:
(1) Vd. post de 1 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logísitica (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)
Olá Luís e restantes camaradas,
A propósito do ataque a Bissau naquele dia 9 de Junho de 1971, é só para recordar que esse ataque foi designado por nós, em Mansoa, como o ataque à linha do Estoril.
Um abraço.
Germano Santos
(3) Vd. posts de:
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2146: Documentos (5): PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte): Deslocamentos (A. Marques Lopes)
Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.
Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes, com mais um texto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:
PAIGC > Instrução, táctica e logística > III parte (2)
[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]
TÁCTICA
1. Generalidades
Os procedimentos tácticos prescritos nos regulamentos e demais documentos de doutrina, são normalmente aplicados pelo IN mormente as variações por vezes surgidas, fruto como se referiu já, não só da evolução dos processos de actuação, como também de adaptação às diferentes circunstâncias, em que o IN procura as modalidades mais apropriadas e rendosas para obtenção dos seus objectivos.
Nas alíneas seguintes vai procurar-se dar a conhecer algumas actividades tipo da actuação do In, não só pela apresentação de procedimentos preconizados em diversa documentação capturada, como também pela descrição de casos reais, elaborados com base nos relatórios das NT.
Em Anexo H publica-se ainda um extracto de apontamentos de Táctica de Guerra de Guerrilhas, de cursos frequentados no estrangeiro (provavelmente China Popular), por elementos do PAIGC.
Deslocamentos; Progressões
(1). Dos elementos disponíveis referem-se em primeiro lugar as declarações de Carlos Silva, elemento IN capturado, que diz:
(a). Progressões
Durante a progressão dum bigrupo IN num trilho, os elementos são dispostos em coluna por um, constituindo 3 grupos. No primeiro e último vai um chefe de grupo indo o comandante do bigrupo no meio. Os lança granadas e as metralhadoras são distribuídas ao longo da coluna.
O deslocamento é feito por lanços sucessivos, sendo, normalmente, feitos ao anoitecer, com receio dos aviões. Só se deslocam de dia se a mata é fechada.
(b). Deslocamentos ao longo de uma estrada
Nos deslocamentos ao longo de uma estrada os elementos IN são dispostos de um lado e do outro da estrada, com a distribuição equitativa do armamento pessoal, indo num grupo o comandante do bigrupo e um chefe de grupo e no outro o comissário político e o outro chefe de grupo. A distância a que seguem da estrada está condicionada à vegetação.
Tratando-se de um grupo, ou menos, o deslocamento efectua-se dum único lado da estrada. As forças articulam-se conforme o esquema:
Comissário Político
Chefe de Grupo
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
======================
-> -> -> -> -> -> -> ->
======================
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Cmdt Bigrupo
Chefe de Grupo
(2) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias (deslocamentos com transposição de obstáculos)
Os esquemas que se apresentam foram extraídos de um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim e interpretado em função do código de sinais usado pelo IN.
(a) Passagem de uma zona estreita
Comentário: A figura mostra-nos a passagem de um grupo IN numa zona estreita. A passagem é feita por escalões, para o que, o primeiro, após a travessia da zona feita com o apoio do segundo no qual estão incluídas armas pesadas, desenvolve-se em linha instalando-se para proteger a travessia do segundo escalão.
(b) Passagem de um campo minado
Comentário: Parece ter sido detectado ou mesmo aberto um corredor através de um campo de minas por onde passa o primeiro escalão que após a travessia desenvolve em linha e instala, protegendo a passagem do segundo.
(c) Guarda de flanco a uma coluna que se desloca
Comentário: A figura mostra-nos um destacamento de guerilhas que se desloca sob a protecção de duas guardas de flanco.
(d) Progresso de um grupo de infantaria
Comentário: A figura representa a progressão de um grupo em coluna que em determinada altura desenvolve em linha, com vista ao desencadeamento e um ataque a um objectivo.
(e) Patrulhamentos
É difícil considerarem-se casos tipo pois que se caracterizam em função da zona em que se realizam. Nas regiões que o IN denomina de libertadas actua com efectivos reduzidos, isto é, grupos de 5 a 10 elementos enquanto que nas outras actua com efectivos que chegam a atingir o bigrupo.
Progride normalmente durante a noite a fim de se furtar à observação aérea, alvo nas regiões de vegetação densa onde progride à vontade mesmo de dia.
Quando progredindo em trilhos ou estradas, fá-lo com efectivos de homens, chefes e armas num dispositivo equilibrado a fim de poder reagir com eficiência. Notícias várias referam que muitas vezes o faz ao lado de trilhos como meio de evitar o armadilhamento dos mesmos.
2. Emboscadas
(1). Generalidades
É a operação clássica da guerra de guerrilhas invariavelmente caracterizada pela violência e grande volume de fogos com que é desencadeada. Conjugada muitas vezes com o uso de engenhos explosivos, a emboscada caracteriza-se ainda pela sua curta duração. Não sendo no TO da Guiné a acção de guerrilha mais usual do IN, a partir de 1970, parece ter vindo a acentuar-se a sua realização e a tendência para ser tentado o assalto como remate final para uma acção em que se verifica estarem a ser empregues efectivos cada vez mais numerosos.
Nem sempre o local de desencadeamento desta acção é o considerado ideal pois que o IN, preferindo usar da surpresa e dissimulação, actua onde melhor julga obter êxito. Quando assim sucede, realiza trabalhos sumários de organização do terreno, prepara itinerários de retirada e vai sendo normal cobrir a retirada das suas forças com fogos de armas pesadas as quais, colocadas numa base à rectaguarda da posição de emboscada, evitam assim a perseguição que eventualmente lhe seja movida pelas NT.
(2). Do estudo e interpretação de documentos capturados durante a Op Pardal Negro na área de Cubisseco extrairam-se os seguintes elementos relativos a esta operação:
"Emboscadas contra os Inimigos”
Emboscada é a principal maneira de poder derrotar os inimigos no momento de combate. Num combate há 7 espécies de emboscadas:
- Emboscada de aniquilamento
- Emboscada de contenção ou adversão
- Emboscada de impedimento
- Emboscada contra barcos
- Emboscada contra paraquedistas
- Emboscada contra helicópteros
- Emboscada para prenser prisioneiros.
Para fazer uma emboscada devemos ter uma boa informação dos inimigos, devemos conhecer o indivíduo que trouxe a informação, se ele é da população ou guerrilheiro. Devemos saber se os inimigoa andam a pé, de carro ou via aérea. Qual é a cautela que eles poderão tomar no momento da marcha para a linha de combate.
Nós devemos escolher um bom terreno onde possamos fazer fogo contra o inimigo.
Sistema de fogo – é uma cooperação de ditribuir todos os veículos no momento do combate para aniquilamento dos ocupantes.
Organização da emboscada – nós podemos recebr uma informação através dum camarada; devemos conhecer esse indivíduo, o seu nome e se ele é um guerilheiro do povo, se está em contacto com os inimigos ou não.
Camuflagem – no momento da emboscada devemos fazer abrigos individuais para cada camarada. Esses abrigos devem ser camuflados.
Realização de Exploração – devemos controlar todos os locais antes de fazermos uma emboscada e temos de saber se o terreno é favorável para nós.
(3) Declarações do capturado Formoso Mendes referem:
As emboscadas tanto a colunas de viaturas como a forças apeadas são feitas da mesma maneira, isto é, o pessoal é distribuído ao longo da estrada, colocando em cada extremidade uma equipa de LGFog e ML, estando um chefe de grupo junto de cada uma. A distância em relação à estrada é em função da vegetação.
Quando as colunas de viaturas tazem segurança dos flancos, as emboscadas são montadas bastante à rectaguarda.
No caso de desconfiarem que vem tropa pela rectaguarda, colocam uma equipade LGFog e ML, bem como mais pessoal, montando uma emboscada de segurança.
Quando as viaturas ou forças apeadas atingem a zona de morte, a equipa da frente abre fogo sobre a testa da coluna e em seguida abre fogo a equipa da outra extremidade. Os elementos do meio abrem fogo retirando de seguida, o mesmo fazendo as equipas de detenção.
Por vezes as emboscadas são conjugadas com a implentação de minas, sendo a acção desencadeada simultaneamente com o rebentamento dum desses engenhos.
O esquema que se segue representa a disposição das forças em emboscada:
Cmdt Bigrupo
Comissário Político
A – Equipa de detenção à frente (LGFog, ML, chefe de grupo)
B – Equipa de detenção à rectaguarda (LGFog, ML, chefe de grupo)
C – LGFog
D – ML (Metralhadoras Ligeiras)
(Continua)
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
(...) "Bissau é flagelada pela primeira vez com foguetões de 122 mm em 9 de Junho de 1971 A 9 de Junho, o PAIGC, por intermédio do CE 199/70 (estacionado em Morés), chefiado por André Pedro Gomes e, na artilharia, por Martinho de Carvalho e Agnelo Dantas, flagelou Bissau pela primeira vez com foguetões de 122 milímetros.
"Este ataque foi possível dado os esforços da unidade de artilharia referida, que, apoiada pelos grupos de infantaria, conseguiram penetrar para lá da linha defensiva do exército português e bombardearam as suas posições na cidade, embora tal tivesse sido possível porque também se realizaram acções simultâneas da frente Nhacra-Morés, o que permitiu proteger a retirada das unidades que atacaram Bissau" (...).
(2) Vd. posts anteriores:
22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)
24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)
domingo, 30 de setembro de 2007
Guiné 63/74 - P2145: António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317 (J. C. Abreu dos Santos / Idálio Reis)
Foto: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.
Assunto - António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317
No post de 19 de Julho de 2007, o nº 9 dedicado à história da CCAç 2317 (1) , pode ler-se:
(...) No desperdiçar das granadas ofensivas [...], na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão. [...] As restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau (...).
No entanto, o citado militar está registado (numa anterior base-de-dados
da Liga dos Combatentes), como natural da localidade de "Formiga,
freguesia de [São Pedro de] Escudeiros, concelho de Braga".
Considerando "a narração dos factos mais amargurados e pungentes [...]"
baseia-se muito no "baú da minha memória pessoal, à míngua de documentação oficial", solicito que, por esta via, me informe o que houver por conveniente.
Antecipadamente grato pela atenção que possa dispensar ao assunto, queira aceitar os melhores cumprimentos, de J.C. Abreu dos Santos.
2. Resposta do Idálio Reis:
Meu caro J. C. Abreu dos Santos:
É tudo isso. O baú das recordações com quem me confrontaram num determinado período da minha comissão, são demasiadas. E o que procurei descrever sobre a permanência da Companhia em Gandembel/Ponte Balana, foram os factos que perduraram, porque foram contidos numa espécie de «caixa preta».
Os mortos da Companhia, todos os outros que tombaram naquele fatídico sítio, os grandes ataques ao aquartelamento, o desastre trágico de Changue-Iaia, não poderiam cair no olvido para quem os viveu dia-a-dia, sem qualquer interregno.
O que condenei foi que a história da minha Companhia que se encontra no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, envergonha-me pela sua omissão. Obviamente que há culpados por isto, mas não tenho minimamente qualquer interesse em desenterrar nenhum machado de guerra. porque não valerá a pena.
E socorri-me de uma publicação editado pelo Exército, que insere os nomes dos mortos. Talvez a mais fidedigna de todas que são do meu conhecimento. Quando comecei a descrever esta parte da minha comissão, tinha presente as datas dos mortos e as condições em que faleceram. Obviamente que dos nomes, só os apelidos, a não ser do alferes Vale Leitão que está enterrado numa freguesia do concelho de Coimbra, bem perto donde vivo, e que passo por lá várias vezes para o visitar (a lápide do seu mausoléu tem um erro na data da sua morte), bem como do furriel Abel Simões, de uma freguesia de Montemor-o-Velho, também próximo da minha residência, que ab initio pertenceu ao meu grupo de combate, mas que viria a ser transferido em reforço de outro grupo de combate, e que morre em 4 de Agosto em condições tais que o seu corpo não chega à sua terra natal. Sempre soube que tal aconteceu, porque esse 4 de Agosto pareceu despontar por nos atraiçoar. E dos factos desse dia, o que ainda não consigo entender, é por que motivo o corpo do soldado Eduardo Pacheco não regressou - tanto mais que 2 vizinhos eram de Seroa, Paços de Ferreira, já tive oportunidade de estar junto deles -, bem como a do Domingos Costal em Olival, Vila Nova de Gaia.
Quanto ao caso de que me fala, naturalmente que os seus dados coincidem com
a citada publicação; há pessoal da Companhia, que me confirma o que então
publiquei.
Aos que ainda não visitei, têm uma promessa da minha parte que não foi concretizada. Como já estou aposentado, espero em breve espalhar uma flor sobre as campas. A procura dos que regressaram e jamais vi, tenho feito alguns progressos, embora com muitas surpresas, pois alguns já nos deixaram e outros não conseguimos encontrar-lhes qualquer referência.
Mas já se passaram 40 anos...
Um abraço do Idálio Reis.
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
Guiné 63/74 - P2144: PAIGC: O misterioso helicóptero interceptado pela FAP em meados dos anos 60 (J. C. Abreu dos Santos / Diamantino P. Monteiro
"Em contrapartida, o inimigo dispunha por vezes de recursos superiores, como é o caso do abastecimento aéreo em que chegaram a ser utilizados helicópteros de grande porte, fretados no estrangeiro. Este heli foi capturado na zona norte do território, depois de identificado pelos pilotos de um avião de transporte Dakota e logo interceptado pelos jactos Fiat da Força Aérea Portuguesa" (DMP).
Foto: Página de Dimantino Pereira Monteiro > CCAÇ 14 > Guiné - À margem da Guerra Colonial > Fotos em tempo de guerra. (com a devida vénia...).
1. Mensagem enviada pelo J.C. Abreu dos Santos, regular visitante do nosso blogue, aos nossos editores em 14 de Setembro:
Assunto - Heli-apoio ao PAIGC - Agosto de 1967
Exmos. Srs,
Reenvio, à vossa atenção, a sequência de mensagens trocadas com Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil Inf Cmdt do 1.º PEL/CCAÇ 1496. Anexo ao presente e-mail, um ficheiro com foto abaixo referida.
Solicito de V.Exas. o reendereço desta mensagem, para antigos oficiais pilotos-aviadores que tenham prestado serviço na Esquadra 121 da BA12, ou comentários que entendam sobre a matéria.
Grato pela atenção que possam dispensar ao assunto, queiram aceitar os melhores cumprimentos de
J.C. Abreu dos Santos
2. Mensagem de 8 de Setembro de 2007, enviada pelo J.C. Abreu dos Santos para o Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil Inf Cmdt 1.º Pel / CCAÇ 1496, com conhecimento ao Manuel Coelho, ex-militar do 2.º Pel/ CCAÇ 1496.
Assunto - Fotos de Guerra
Refª - Secção "Fotos de Guerra" constante do v/ endereço http://guinecolonial.home.sapo.pt//
[...] questão #2 - Onde se refere que um «heli foi capturado na zona norte do território, depois de identificado pelos pilotos de um avião de transporte Dakota e logo interceptado pelos jactos Fiat da Força Aérea Portuguesa», vem a informação acompanhada da fotografia de um heli com inscrição lateral superior «Bristow Helicopters», estacionado na placa de um aeródromo (base aérea?), vendo-se mais atrás dois caça-bombardeiros mono-hélice T6-Harvard.
Sendo certo que em Abril de 1966 os caça-bombardeiros jacto Fiat G91-R4 Gina entraram ao serviço da Esq 121-Tigres na BA12-Bissalanca, e considerando o valor historiográfico da citada foto, pedido de informação: qual exacta «zona norte do território» onde aquele heli foi interceptado; e qual a origem do respectivo documento fotográfico (autor, data e local onde a mesma foi obtida).
Saudações cordiais, de
J.C. Abreu dos Santos
3. Resposta do Diamantino:
[...] Quanto ao heli, a fotografia foi tirada por mim póprio em Agosto de 1967 na Base Aérea de Bissalanca. Desconheço os pormenores da captura já que, como sabe, o serviço de informação das FA era muito restritivo. O que sei foi o que me contaram pilotos da Força Aérea e não vai além do que escrevi no site.
Disponha sempre
Um abraço do
Diamantino Pereira Monteiro
4. Resposta do J.C. Abreu dos Santos, com data de 14 de Setembro:
Diamantino Pereira Monteiro,
[...] 2. Relativamente ao assunto que motivou o m/anterior e-mail: a Bristow Helicopters era (e ainda é) uma empresa britânica; em 1966 vendeu 2 daqueles aparelhos (Westland Wessex) ao governo do Ghana, o qual, como é sabido, à época prestava apoio financeiro e logístico ao PAIGC.
Um daqueles helis (cujas especificações técnicas e respectivos números de série, são de domínio público), foi dado como "destruído" mas sem precisar onde, como e quando; o outro, décadas depois decorridas foi reconstruído pela BH e revendido a um país sul-americano. Considerando a s/informação - fotografia de s/autoria feita em Ago67 na BA12-Bissalanca -, serve este meu e-mail para solicitar autorização de divulgação daquela fotografia e texto explicativo, no weblog do ex-fur mil Luís Graça, http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ por forma a obter outros dados mais concretos sobre o mesmo assunto; ou, permito-me sugerir que, acaso lhe não cause incómodo "trabalhoso", seja de sua iniciativa a mesma divulgação e consequente "pedido de informações" aos internautas que habitualmente visitam aquele weblog.
Saudações cordiais, de
J.C. Abreu dos Santos
5. Mensagem de Diamantino Pereira Monteiro para J.C. Abreu dos Santos, com data de 14 de Setembro:
Assunto: Da Paz e da Guerra
Caro Abreu dos Santos:
[...], ao mesmo tempo em que formalizo a autorização para divulgação da foto em apreço, lhe peço que o faça nos moldes e nos sitios que entender. [...]
Um abraço do
Diamantino Monteiro
6. Comentário do editor L.G.:
O Diamantino Pereira Monteiro entrou recentemente para a nossa tertúlia (1), devidamente apadrinhado e acolhido pelo nosso co-editor e camarada Carlos Vinhal. Foi foi oportuna a mensagem do J. C. Abreu dos Santos: o seu olho clínico descobriu, primeiro do que todos nós, esta foto do misterioso helicóptero. Os camaradas da Força Aérea talvez saibam mais pormenores sobre esta história. Ficamos a aguardar. Obrigado aos dois, J.C. Abreu dos Santos e Diamantino Pereira Monteiro.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2045: Tabanca Grande (30): Apresenta-se o Diamantino Pereira Monteiro (ex-Alf Mil, CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, 1966/67)
Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)
Abílio DUARTE (1931-1996)
Foi um dos fundadores do PAIGC, e o primeiro presidente da Assembleia Nacional da República de Cabo Verde. Homem de Cultura, interessou-se pelas as artes plásticas, a música e a poesia.
A sua casa em Bissau funcionava como tertúlia onde se falava de arte e de política, e nela se realizaram muitas reuniões clandestinas, que prepararam a luta de libertação. Com Amílcar Cabral e Aristides Pereira conheceu os caminhos do exílio e do mato.
Em 1974, foi ele que assinou, a 19 de Dezembro de 1974, com o então Primeiro Ministro de Portugal, Vasco Gonçalves, o instrumento solene da declaração de independência do Estado de Cabo Verde.
Abílio Duarte foi o primeiro presidente da Assembleia Nacional (que o honra com o seu nome dado a uma das salas) e ministro dos Negócios Estrangeiros (de 1975 a 1981) (3).
(3) Vd. sítio de O Liberal on line (Cabo Verde) > Notícias em Arquivo > 2o de Agosto de 2006 > Abílio Duarte: Dez anos
Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)
Para quê a independência ?
(Depoimento de Amílcar Cabral em vídeo)
© Fundação Mário Soares (2003)
1924 - Nasce, em Bafatá (Guiné-Bissau), a 12 de Setembro.
Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora.
1932 - Muda-se, com a família, para a ilha de Santiago, Cabo Verde.
1937/38 - Entra para o Liceu de São Vicente. Escreve os primeiros cadernos de poesia.
1941 - Catástrofe demográfica na sequência de uma imensa seca: morrem mais 20 mil pessoas em Cabo Verde. Amílcar Cabral decide tornar-se Engenheiro Agrónomo. Fundador e Presidente da Associação Desportiva do Liceu de Cabo Verde (A.D.A.).
1944 - Presidente da Associação dos estudantes do Liceu de Cabo Verde. Termina o Liceu com média de 17 valores (máximo 18).
1944/45 - Secretário do Boavista Futebol Clube, de São Vicente.
1945/46 - Primeiro ano lectivo no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa.
1951 - Vice Presidente da Casa dos Estudantes do Império.
1952 - Inicia os trabalhos no Posto Agrícola Experimental de Pessubé (Bissau), que vem a dirigir.
1953 - Publica o Recenseamento Agrícola da Guiné-Bissau.
1956 - Criação, em Bissau, a 19 de Setembro, do PAI (Partido Africano da Independência).
1958 - Criação do MAC (Movimento Anti-Colonialista).
1959 - Massacre de Pijiguiti a 3 de Agosto. Amílcar Cabral visita o Congo, Ghana, Senegal e República da Guiné.
1960 - O PAI adopta a designação de PAIGC. Cabral desloca-se à China, em Agosto, para negociar o treino militar dos quadros do PAIGC. Cabral dirige ao governo português um Memorando em que propõe negociações, que fica sem resposta. Em Dezembro, é lançado o órgão de informação do PAIGC, Libertação.
1961 - Em Julho, Amílcar Cabral apresenta uma comunicação nas Nações Unidas sobre a situação da Guiné e de Cabo Verde. Em Setembro, apresenta um Memorando à Assembleia Geral da ONU e, em Outubro, envia uma Carta Aberta ao Governo Português.
1962 - Amílcar Cabral intervém na IV Comissão da Assembleia Geral da ONU.
1963 - Início da luta armada na Guiné-Bissau (ataque ao aquartelamento de Tite, 23 de Janeiro). Conferência de Quadros com o objectivo de desenvolver a luta nas ilhas de Cabo Verde.
1964 - 1º Congresso do PAIGC em Cassacá (13 a 17 de Fevereiro). Constituição, em Novembro, das primeiras unidades do Exército Popular. Edição do primeiro livro escolar.
1965 - Inauguração, em Conacri, da Escola Piloto. Em Agosto, visita da primeira missão da ONU às regiões libertadas da Guiné-Bissau. Criação, em Dezembro, das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo).
1966 - Amilcar Cabral visita Cuba. O PAIGC reclama o controlo de metade do território da Guiné-Bissau.
1967 - Início, a 16 de Julho, das emissões da Rádio Libertação, a partir de Conacri.
1968 - Ataque ao aeroporto de Bissalanca por um comando do Exército Popular.
1969 - Tomada da fortificação de Madina do Boé, depois do seu abandono em 6 de Fevereiro. O PAIGC reclama o controlo de dois terços do território.
1970 - O Papa Paulo VI recebe em audiência Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos (1 de Julho). A 22 de Novembro, as autoridades portugueses lançam a Operação Mar Verde contra Conacri (com o objectivo de derrubar o regime de Sekuu Turé e de eliminar os dirigentes do PAIGC).
1971 – Amílcar Cabral denuncia, em Estocolmo, a situação de fome existente em Cabo Verde. Em 6 de Dezembro, o Comité de Descolonização da ONU apoia a independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.
1972 - Amílcar Cabral toma a palavra em nome dos movimentos de libertação na Reunião Cimeira da OUA, realizada em Junho, em Rabat (Marrocos) e, em Outubro, na qualidade de observador nas Nações Unidas (Nova Iorque). O Conselho de Segurança reconhece o PAIGC como o legítimo representante do povo guineense. De Agosto a Outubro decorrem eleições nas regiões libertadas.
1973 - A 20 de Janeiro, Amílcar Cabral é assassinado, em Conacri, por elementos traidores do PAIGC.
Fonte: Fundação Mário Soares > Arquivo & Biblioteca > Amílcar Cabral
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Nota dos editores > Para saber mais:´
Fundação Mário Soares > Dossiê Amílcar Cabral > Cronobiografia de Amílcar Cabral, por Iva Cabral
Vidas Lusófonas > Amílcar Cabral
Amílcar Cabral: O percurso de um herói
Amílcar Cabral, by Ana Maria Cabral
Amílcar Cabral - Cronologia
Fundação Mário Soares > Dossiê Amílcar Cabral
sábado, 29 de setembro de 2007
Guiné 63/74 - P2141: Bibliografia de uma guerra (20): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte IV) (V.Briote)
Foto:© Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.
(...) "O Mindelo em frente trouxe-lhes os cheiros de África. E também coisas que alguns deles viam pela primeira vez. Engraxadores, miúdos às dezenas com pequenas caixas de madeira debaixo do braço, uma lata de pomada, um pano e uma escova, a atirarem-se aos passageiros, quase todos militares, desembarcados momentos antes, ainda a equilibrarem-se em terra firme.
"Limpa sapato, alferes? E menina nua a dançar, quer ver? Cabras, com os ossos à mostra, a morderem o pó, papel amarelecido de jornal ao vento, pessoas devagar nas ruas, abrigadas do sol. Graxa, nosso alferes?
"Gil saiu com o Black, a curiosidade a levá-los por aquelas ruas de pedra escura. O mar sempre ao lado, o café deslavado bebido na esplanada, os sapatos a brilharem e os miúdos com as caixas de graxa atrás, que o pó era muito. Um tempo morno, pessoas devagar nas ruas, a pararem a qualquer pretexto.
"Deve ser bem agradável viver uns tempos aqui, Black! Onde se pode almoçar? Ali? O que se come lá?
"Sentados numa varanda, o mar em frente, então o que se arranja? Lagosta e batata frita para acompanhar, querem?
"Enquanto esperavam, um olho descansava no azul das águas em frente, o outro não largava o navio à esquerda. Duas moças, vestidos leves nas pernas morenas, para um lado e para outro.
"Só comem isto? Não querem mais, mesmo? Então, não estava bom?
"Quando sairam dali levavam atrás o cortejo dos miúdos e as caixas da graxa, sempre a insistirem, e menina nua a dançar, querem ver?
"No navio frente ao cais, o capitão Marques encontrou o Gil e o Leite, alferes também, debruçados na amurada, a olharem para a cidade.
"O que levo daqui? As morenas, o andar delas, a maneira como falam, o cantar doce, os gestos calmos de quem tem tão pouco que fazer e tanto tempo à frente, o quilo da lagosta a 90 escudos, a terra amarelada, pó e mais pó, e muitos, muitos miúdos com caixas de graxa.
"Bissau, se for assim não é nada mau!
"Nem penses, pior, muito pior, arriscava o Leite" (...)
In: Guíné, Ir e Voltar > post de 9 de Fevereiro de2006 > A Caminho > 1. O caminho para lá [blogue de Virgínio Briote]
"Com o focinho no lixo, lata virada, o rafeiro vasculhava algo que pudesse mastigar. Agarrado a um bocado de osso, correu deesenfreado até ficar a salvo das pedras que a Aninhas lhe atirou.
"Maldito cão, resmungou.
"Enquanto endireitava a lata viu que havia visitas junto às casas. Militares com fardas amarelas, novinhas, acompanhados pelo Sony.
"Freguesia, resmungou para ela, lá no íntimo bem satisfeita por finalmente poder ver algum dinheiro fresco.
"Apressou-se a entrar, as velhas tábuas do soalho a gemer debaixo dos pés descalços. Água a correr pelo corpo ensaboado, e a voz do Sony a chamar baixinho, Aninhas, Aninhas, tem branco aqui.
"Dentes muito brancos, sorridentes, assomou à porta. Estava certa que tinha uma boa figura. Muito nova, ainda não tinha 18, sabia como fazia os homens virarem-se quando passava, rabo a gingar, peito saliente.
"Os três miraram-na de alto a baixo, até que um deles mais decidido avançou. Estou molhada do banho ainda, recuou um pouco. Depois entrou com ele atrás.
"Vinte pesos adiantou-se, foi assim que a mãe Helena lhe tinha ensinado. Por mais que uma vez, viu-se sem a paga do trabalho, por não ter recebido antes. Nunca mais voltaria a acontecer, jurou.
"Linda, como te chamas? Que interessa o nome, porque vocês querem sempre saber o meu nome?
Mindelo, C. Verde, 1965... Ou da história de muitos que por lá passaram.
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E em Cabo Verde, como foi, passou-se alguma coisa? A grande maioria de nós passou por lá. Para quem regressava era um oásis de paz. Para os outros, do que iam ouvindo na metrópole falar da Guiné, Cabo Verde era uma antecâmera do pesadelo.
vbriote
“O que se fazia na Guiné oficialmente, descaradamente, fazia-se em Cabo Verde de uma maneira hipócrita: havia as leis todas mas também a descriminação. Por exemplo, naquela altura, não se encontrava um único funcionário do Banco que fosse preto. Um único! Fazia-se um concurso público, quando a lista com o nome dos concorrentes chegava ao júri, eles tinham que saber a cor das pessoas. Então, era sempre assim: os brancos ficavam sempre em primeiro lugar e depois os pretos”, disse Aristides Pereira numa entrevista ao Doutor Leopoldo Amado.
Ainda, segundo Aristides Pereira, um dos factos mais marcantes na década de 50, foi a chegada a S. Vicente de Abílio Duarte em 1958. Disfarçado de estudante, Abílio congregou à sua volta, no Mindelo, um grupo (*) que ficou conhecido por do 3º ciclo, o qual, a pretexto de acções culturais e académicas, mobilizou e consciencializou largas franjas da juventude para o fenómeno iniciado por Amílcar Cabral em Bissau.
Abílio Duarte, o protagonista número um da consciencialização nacionalista em Cabo Verde, nas palavras de Aristides Pereira.
Devido às perseguições que entretanto lhe começaram a ser movidas, Abílio Duarte, abandonou Cabo Verde, mas deixou marcas. Jovens que ele mobilizara integraram mais tarde a luta armada, enquanto outros participaram clandestinamente na luta política em Cabo Verde e em Lisboa e Coimbra, junto dos estudantes emigrados.
Em 1960, a acção esmoreceu, em parte porque alguns desses elementos foram chamados para o serviço militar no Exército Português e apenas ficaram no terreno o Amaro da Luz e o grupo dos trabalhadores.
Por volta de 1963, deu-se novo incremento da luta política, em S. Vicente devido principalmente a Luís Fonseca e Adriano Brito e a Onésimo Silveira e a Manuel Rodrigues na Praia.
De 17 a 20 de Julho desse mesmo ano, em Dacar, houve uma reunião do PAIGC em que foram tomadas medidas para desenvolver a luta em Cabo Verde. No cumprimento dessas medidas, o PAIGC desencadeou, desde finais de 1969, acções de mobilização junto de cabo-verdianos residentes na Bélgica e Holanda, entre os quais Corsino Tolentino, Mascarenhas Monteiro, Álvaro Tavares, Nicolau Tolentino e Baltazar Barros.
Na primeira metade da década de 60, o partido encarou a possibilidade de desencadear a luta armada em Cabo Verde, enviando cabo-verdianos para a Argélia, Cuba e URSS.
Combatentes cabo-verdianos em Cuba. Vê-se Pedro Pires, de boné branco, de pé, ao centro, ligeiramente à direita, e à sua direita, Tutu, uma guerrilheira com uma boina preta.
A missão de preparar um desembarque em Cabo Verde esteve marcada para 1967. Na altura, estava em voga a teoria do foco de guerrilha do Guevara. Entretanto, enquanto se aguardava o melhor momento para a acção chegou a notícia que Guevara tinha sido morto na Bolívia.
As movimentações não passaram despercebidas à polícia política. Em 1968, foram desmantelados grupos clandestinos do PAIGC, tendo sido presos os principais dirigentes, entre os quais Lineu Miranda, Luís Fonseca, Carlos Tavares e o Jaime Schofield.
Na perspectiva de preparar a luta armada em Cabo Verde, Cabral enviou para a ilha de Santiago Fernando Tavares Toco, com o objectivo de identificar os eventuais sítios para recolher os guerrilheiros. Foram visitados vários locais onde se poderia fazer o desembarque.
E acharam um que parecia reunir excelentes condições. Ficava numa ribeira na Assumada, em Chão de Tanque, com possibilidades de abrigar os guerrilheiros em caso de intervenção da Força Aérea Portuguesa.
A vigilância era muita. Toco e alguns companheiros foram detidos. Em notícia da PIDE/DGS, de 7/10/68, lê-se: “Foram detidos em 7/10/68 os nacionais Manuel de Jesus Tavares, José Querido, José C. Aguiar Monteiro e Gil Querido Varela, por indícios de crimes contra a segurança interior e exterior do Estado”. (…)
Com a organização infiltrada, Cabral teve que reestruturar o partido em Cabo Verde. Mas o grau de consciencialização atingido no arquipélago em 1970, nomeadamente no interior de Santiago, criou nos militantes cabo-verdianos (**) uma enorme vontade de passarem à luta armada. Só que a estrutura clandestina do PAIGC em Cabo Verde não se encontrava em condições de a suportar.
Como reacção às movimentações do PAIGC em Cabo Verde a polícia política tudo fez para desmantelar as estruturas do partido. E teve sucessos. Para além das prisões de numerosos militantes, outras medidas foram postas em acção, das quais se destaca a desburocratização do processo de emigração para Portugal, tentando assim esvaziar as principais fontes de recrutamento do partido.
A PIDE/DGS acabou por desferir um profundo golpe nas estruturas clandestinas do PAICG, quando infiltrou nas estruturas locais um falso coronel que dizia ter sido enviado pelo partido para dar início à luta armada, infiltração essa que levou 12 militantes a caírem nma cilada, que foi a tomada do navio Pérola do Oceano.
__________
(*) Silvino da Luz, Manuel dos Santos Manecas, Joaquim Pedro Silva, Lucílio Tavares, Amaro da Luz, Adriano Brito, António Coutinho, António Neves
(**) “Nos finais de 1968, o projecto de desembarque de guerrilheiros cabo-verdianos treinados em Cuba fora completamente cancelado (…). Recebemos a informação do plano de embarque com muito pesar. O problema de fundo era que a Direcção do PAIGC, depois dessa medida, ficara sem uma estratégia claramente equacionada para além das declarações de intenção política (…). A impressão era de que a direcção do PAIGC concentrava pelo menos 95% dos seus esforços na Guiné-Bissau e que Cabo Verde se encontrava a navegar sem rumo.” (Martins, Pedro, pp. 95 e 96).
Fontes e imagens dos livros:
Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países, de Aristides Pereira, Editorial Notícias, 2002.
Crónica da Libertação, de Luís Cabral, Edições O Jornal, 1984
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Notas do co-editor vb:
(1) Vd. posts anteriores:
18 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P2114: Bibliografia de uma guerra (17): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte I)
(24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2128: Bibliografia de uma guerra (18): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte II)
27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2136: Bibliografia de uma guerra (19): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte III)
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Guiné 63/74 - P2140: Tabanca Grande (35): Notícias do Tony Tavares (CCAÇ 2701) e do António Batista (CCAÇ 3490) (Ayala Botto)
Caro amigo
Aqui vão 2 notícias que, creio, interessam a todos:
- O Tavares, o tal militar da CCAÇ 2701 que esteve no Saltinho de 1970 a 72 e que actualmente vive na República Checa, veio a Portugal para, juntamente com a mulher de nacionalidade checa, estar presente na reunião da sua Unidade (2). É bonito!
- Já estão a ser feitas diligências, juntamente com o Carlos Clemente (cor.), para se poder actualizar a caderneta militar do António Silva Batista, o tal morto-vivo natural de Moreira, Concelho da Maia (3).
Um abraço
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Nota dos editores:
(1) Vd. post de 6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola
(2) Vd. posts de:
25 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2132: Convívios (30): CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72 (Paulo Santiago)
20 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1974: Tugas da diáspora (1): Tony Tavares (CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72): De Zlin, República Checa, com amor
(3) Vd. post de 30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P2139: Estórias de Mansambo I (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Amigos mais velhos
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
1. Mais uma estória do José, um alter ego do Torcato Mendonça, aqui reproduzida na série
Amigos Mais Velhos
Lembrei-me, agora, de algo que me aconteceu nessas férias [, em Agosto de 1967].
É a recordação, o aviso e a revolta, de um homem, atrevo a chamar-lhe sábio. Não! Isso não, era um homem culto, isso sim! Os sábios vivem nas recordações oníricas e esta é, ainda hoje, bem real.
Sempre gostei de conviver com amigos mais velhos do que eu. Neste caso concreto, o meu amigo teria trinta e muitos anos mais do que eu.
Geralmente conversávamos à volta da mesa do café, eu, ele e um seu colega. Ficamos amigos os três. Era uma pessoa especial pela maneira cativante como falava, pelos mais variados temas que abordava e pelo modo, didáctico para mim, como respondia ás questões por mim colocadas.
Falava de literatura, música, fotografia e dos mais variados temas da vida. Uma vez falou-me longamente de vela… como veria ele hoje a America´s Cup…e as transformações operadas nos veleiros? Falta uma, o ponto de partida do nosso conhecimento, o xadrez!
Passado tempo, não quanto, certamente um ou dois anos, tive que partir e esses encontros foram interrompidos.
Reencontramo-nos numas férias curtas, talvez num fim-de-semana alargado, já eu tinha largos meses de vida militar. Falamos da tropa, do que se estava a passar com a juventude, com o País. Ele não via com bons olhos o Império. Opinião diferente tinha o colega. Não era hábito mas deu-me um conselho: tenha cuidado amigo, tenha cuidado pois tem que continuar a sua vida e ela nada tem a ver com militares.
Encontramo-nos ainda algumas vezes antes da minha mobilização. Falávamos, mais ele do que eu, sobre vários assuntos mas a vida militar estava muito presente, talvez demais, nas nossas conversas.
Antes do Natal de 67 disse-lhe:
- Vou para a Guiné.
- Encare as situações com calma – foi a resposta. - Você está um pouco diferente.
Meses depois, em Agosto de 68, vim passar férias e encontramo-nos num final de tarde. A alegria, o abraço com um apertar de mãos nos ombros. De repente olhou para mim e disse-me:
- Tire lá os óculos.
Eu tirei os usuais, na altura, Ray-Ban. Olhou-me, franziu a testa, deu um passo atrás e, pela primeira vez ouvi sair-lhe um palavrão:
- Filho de puta, o que é que lhe fizeram, onde está o rapaz que eu conheci há tão pouco tempo? Você está totalmente transformado, endurecido, diferente. Disse-lhe para ter cuidado.
Respondi-lhe:
- Aquilo é difícil, nada tem a ver com a vida normal. É uma aberração e nós somos forçados, para sobreviver – tanto mais que somos graduados e temos responsabilidades sobre outros – a entrar naquele jogo… aos poucos, sem dar por isso, somos mais um igual a tantos.
Falámos longamente nesse dia e mais umas duas ou três vezes.
Regressei à Guiné. Um dia voltei em definitivo. De quando em vez conversávamos… jogar xadrez não, faltava-me a concentração… tentava adaptar-me à vida normal ou civil… não era fácil…
Estivemos, talvez um ano ou dois sem nos vermos. Ele reformou-se e vivia junto de uma filha ou filho.
O acaso juntou-nos em Lisboa no meu local de trabalho – antigo local de trabalho dele – almoçámos juntos e falámos demoradamente.
- Os olhos não são os mesmos mas vão lá, disse-me na despedida.
Nunca mais nos encontrámos.
Enfim tempo idos, sem possibilidade de voltarmos a conversar. Ele e o amigo, pela lógica da vida, descansam em paz. Ficam-me as recordações e a saudade.
Continuamos noutro dia. Logo apareço por cá e voltamos a falar…
Torcato Mendonça
(ex-Alf Mil da CART 2339,
Fá Mandinga e Mansambo, 1968/79)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
14 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1594: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): A dança dos capitães
16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1666: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (2/3): O Zé e o postal da tropa
25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1785: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 239) (4): Burontoni, mito ou realidade ?
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1892: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): O Casadinho e o Bessa, os mortos do meu Gr Comb, os meus mortos
7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1929: Estórias de Mansambo (6): Matilde
17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...
21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2122: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (8): Marcha, olha para mim, com ódio, peito erguido, cabeça levantada...
Guiné 63/74 - P2138: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (3): Op Pato Rufia (Xime, Setembro de 1969)
...) "Findo este briefing, partimos em coluna para o Xime, e pouco passava da 1 da manhã quando os três destacamentos progrediram para as suas três missões. Recordo que atingimos sem grande dificuldade uma clareira no limiar da mata do Poidon e que ao amanhecer ouvimos rasgadas de metralhadoras, dilagramas e bazucadas. Minutos depois, reacendeu-se o fogo, parecia uma emboscada. Meia hora depois, surge junto da nossa força o Major Sampaio dizendo que devemos avançar, tivemos um morto e há feridos, chegou-se ao acampamento, o inimigo teve também baixas. Entramos no acampamento, está tudo num estado de desordem, toda a gente à procura de esclarecimento, no ar pairam bombardeiros e uma avioneta. Desce um helicóptero recolhe os feridos e parte. Toda a gente fala de um acidente com um dilagrama" (BS) (...)
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
Capa do romance policial, de Georges Simenon, L'ombre chinoise [, a sombra chinesa]. Paris: Librairie Arthème Fayard. 1963.
(...) "É um romance soberbo, com uma arrancada quase cinematográfica, Maigret trava um diálogo com a porteira no prédio onde houve um homicídio. Acendem-se e apagam-se luzes, desfilam os protagonistas, que entram e saem. É uma história sórdida de uma vingança amorosa e de um roubo, com silêncios e sombras chinesas de permeio. Nunca mais lerei um final tão aterrador quando Maigret vai demolindo os membros do casal envolvidos na tragédia. À noite, enquanto a criminosa é enviada para um hospital psiquiátrico, Maigret, a mulher e os cunhados vão jogar às cartas, divertidos" (BS) (...).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados
Texto enviado em 27 de Julho último pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)
Operação Pato Rufia, a que teve feridos e mortos
por Beja Santos
(i) Uma flagelação a Missirá que não passou de uma escaramuça
O que diz o relatório do BCAÇ 2852 é que, a 5 de Setembro, um IN estimado em quatro a cinco elementos, flagelou com morteiro o destacamento de Missirá, sem consequências, tendo retirado, minutos depois, na direcção de Morocunda-Biassa.
O que aqui nos interessa escrever em abono da verdade é que tínhamos vindo de Mato de Cão passavas das 16 horas, Missirá tem nesta altura 52 militares no activo dos quais 24 estão incapacitados, inchados, andam aos tropeções, os pés em chaga, cirandam como mortos-vivos. Regressar com vinte homens, fazer a escala de reforços, sair com um contingente para fazer uma emboscada é mais difícil que uma equação algébrica de terceiro grau.
Após conversar com o Casanova e o Pires, assentamos que eu vou fazer a directa, um deles amanhã vai para Mato de Cão enquanto eu regresso a Finete e o outro fica a acompanhar as obras, a responder ao correio e a fazer contas.
Tiro a farda esbranquiçada pelo suor empestado, compenso-me com um uísque puro, preparo o equipamento adequado que envolve rede mosquiteiro e uma capa de plástico, converso com o Pires a mastigar uma sandes enquanto examino as folhas de pagamentos, falo com o chefe de tabanca por causa da proverbial falta de arroz que nos vai obrigar a fazer uma coluna extraordinária, lavo-me e desinfecto as feridas, reequipo-me e espero pelos catorze que me vão acompanhar na emboscada um pouco mais acima dos cajueiros do régulo Malã, depois de verificar a culatra à rectaguarda, avançamos para o cavalo de frisa.
Tivemos todos nós sorte, os que estão dentro do quartel a comer e a repousar, a tomar banho ou a vigiar, os que partem para uma emboscada das 7 às 11. A noite está serena, a lua lança uma beatitude iluminada pela floresta, daqui até ao Gambiel. É nisto que o primeiro estampido vem de Cancumba e despedaça-se a escassos metros do abrigo do Alcino, junto da saída para Sansão.
De roldão, numa marcha atrás ginasticada e cómica, quem ia emboscar atirou-se para as valas e abrigos, não houve acidentes a não ser as roupas que se rasgaram no cavalo de frisa. Como na flagelação anterior, tínhamos a sensação de um tiro-a-tiro com morteiro, pouco entusiasmado, sem a marca do grande terror que deixa toda a gente sem pinga de sangue.
Disparo em flecha para o morteiro 81, não percebo porque é que o Queirós está ausente. As morteiradas pingam sem atino, umas dentro outras fora do arame farpado. Vejo que as saídas são de um só morteiro, muito perto da fonte. Tiro cargas das granadas, disparo uma, espero pelo rebentamento, afino a pontaria, esta já caiu perto, a terceira cai e parece ter calado quem de lá nos provoca. Depois, um silêncio do morteiro atacante, saio do abrigo, grito para que não haja mais fogo.
Converso com Casanova e vou com o Benjamim e o Domingos fazer uma rápida avaliação dos estragos. Nada, só uns estilhaços, não há estragos à vista, não há um único ferido.
-Tenho que trazer o Reis para me armadilhar todo este local que conduz ao Biassa.
É nisto que me surge o Queirós enquanto esfrego creme nas mãos a escaldar. Vem com cara de caso, procura justificar a não comparência no momento determinante: "Meu alferes, estava a tomar banho, tive vergonha de vir assim". Estive quase a perguntar-lhe o que é que ele andou a fazer assim, enquanto choviam as morteiradas...
Dias mais tarde, vou escrever à Cristina:
Acordei aparvalhado a ouvir o rádio do Cherno. No programa das Forças Armadas transmitido em crioulo, balanta e manjaco vem a notícia de que tínhamos sido flagelados. É absurdo que uma curta flagelação sem consequências mereça tanto espalhafato. Já cá esteve o Reis que veio minar e armadilhar outra vez a picada que conduz ao Biassa, trajecto clássico da aproximação de Madina. Andei a vigiar o Reis enquanto ele escavava e metia engenhos com fios antilevantamentos, cargas de granadas-armadilha e secções de minas. Por aqui tenho gente muito doente, o régulo, o príncipe Samba, caçadores e milícias está tudo doente. Continuo cheio de projectos, há muita coisa para fazer: a sonhada mesquita, a instalação da iluminação eléctrica, dois abrigos, o edifício da nova messe, a desmatação entre Canturé e Finete, construir algumas moranças para os civis de Finete que aqui passam a época seca. Prepara-te para receber a visita do Teixeira das transmissões. Ele quer que tu saibas leva uma camisola verde e uma bonita calça à civil.
(ii) Nós somos cristãos (1º Cabo Benjamim Costa)
A noite desta flagelação de trazer por casa deu-me energia para ter uma conversa com o Benjamim. Após a vistoria ao estado do quartel, disse ao Cherno para chamar o Benjamim ao nosso abrigo. Ele veio lesto, convidei-o a sentar e fui directo ao assunto:
-Benjamim, é só para te dizer que já perdoei o que me disseste na noite de 3 de Agosto (2). Ficas a saber que sou filho de uma angolana, que em minha casa se come moamba como tu comes arroz, a ama da minha mãe era tão preta como tu, a minha avó e a minha mãe quando queriam discutir diante de nós falavam quimbundo, tenho a casa cheia da fotografias de brancos com pretos. Fui educado sem o preconceito da cor. Tu, aliás, já sabias. Tu sabes onde estão os racistas, eles não estão neste abrigo. O mais importante é que tu saibas que te admiro muito, pelos teus valores, a tua cultura, o teu porte. Aquele a quem tu chamaste branco assassino respeita-te muito.
Fez-se silêncio, ele parecia querer responder, estendi-lhe as duas mãos, lembrei-lhe que tínhamos que ir descansar já, pelas 5 da manhã faríamos o patrulhamento para reconhecer a presença do inimigo. Mas antes de sair, o Benjamim disse-me:
-Tudo farei para continuar a merecer essa estima que sempre teve por mim. Nós somos cristãos.
(iii) Uma notícia e um encontro inesperado em Bambadinca
Vamos a Bambadinca juntar-nos aos afectivos que vão partir para a segunda edição da Op Pato Rufia. Saímos de Finete a 6, de Bambadinca partiremos para o Xime, três grupos de combate da CCAÇ 12, dois grupos de combate do Xime, eu e doze homens do 52, mais o 53 e o 63, ao todo três destacamentos.
Em Bambadinca, antes de seguir para a sala de operações com os outros oficiais, cumprimento o Comandante Corte Real. Ele está acompanhado de um Major que não conheço e saúda-me: -Ainda bem que veio. Recebi de Bafatá uma ordem de serviço com o louvor que lhe foi dado pelo Comandante de Agrupamento. Felicito-o. Ele refere aqui a sua intensa actividade operacional e a admiração que por si têm os seus subordinados. Olhe que não é vulgar um louvor terminar dizendo que o oficial louvado é um exemplo para todos.
Agradeci a informação sem comentários, e de seguida fui apresentado ao oficial presente:
-É o nosso Major Cunha Ribeiro, o futuro 2º Comandante do nosso batalhão (3). O nosso Major Sampaio fica a partir de hoje como oficial de operações.
Cumprimento o Major que retribui com sorriso rasgado. Fala à moda do Porto, o cabelo é ralo, tem gesticulação nervosa, vê-se que gosta de conversar, largando observações humorísticas. Será este homem que me crismará de Tigre de Missirá, irei contar com ele em horas muito difíceis e, como em todos os mistérios do mundo, não pode saber que iremos ter uma estima recíproca toda a vida.
Esposende > Fão > Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71) > 1994 > O Mário Beja Santos (ex-comandante do Pel Caç Nat 52) com o actual Coronel Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a partir de Setembro de 1969, altura em que substitui o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. Era afectuosamente conhecido, entre as NT, como o major eléctrico... Foi ele que deu o nome de guerra, Tigre de Missirá, ao Beja Santos.
Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.
(iv) A Pato Rufia contada em resumo
Na sala de operações, disseca-se a Pato Rufia. Vamos voltar ao acampamento daqueles que emboscam e espalham o terror em Ponta Varela. Quem irá atacar o acampamento serão os três grupos de combate da CCAÇ 12. Os grupos de combate do Xime [CART 2520 ] ficarão posicionados para travar a fuga do inimigo em direcção do Buruntoni. Os pelotões de caçadores nativos [52, 53 e 63] ficariam emboscados de modo a travar uma retirada para a mata do Poidon.
As informações que se dispõem é de que o acampamento é composto por nove cubatas, são cerca de quarenta homens armados e ficara-se a saber em final de mês passado que há minas anti-pessoal a proteger o acesso. O Major Sampaio garante que estará no ar ao amanhecer e que acompanhará a operação.
Findo este briefing, partimos em coluna para o Xime, e pouco passava da 1 da manhã quando os três destacamentos progrediram para as suas três missões. Recordo que atingimos sem grande dificuldade uma clareira no limiar da mata do Poidon e que ao amanhecer ouvimos rasgadas de metralhadoras, dilagramas e bazucadas. Minutos depois, reacendeu-se o fogo, parecia uma emboscada. Meia hora depois, surge junto da nossa força o Major Sampaio dizendo que devemos avançar, tivemos um morto e há feridos, chegou-se ao acampamento, o inimigo teve também baixas.
Entramos no acampamento, está tudo num estado de desordem, toda a gente à procura de esclarecimento, no ar pairam bombardeiros e uma avioneta. Desce um helicóptero recolhe os feridos e parte. Toda a gente fala de um acidente com um dilagrama. Entretanto entramos nas casas de mato onde se encontram espalhados livros, propaganda, material de guerra como granadas e minas (4).
Mais tarde, escrevo à Cristina:
Ainda estou para saber porque é que permanecemos três horas neste local. Não vou esquecer tão cedo o drama deste morto transportado em padiola pelos amigos debaixo do calor do meio dia, uma procissão imponente de singeleza. Era o deambular silencioso do féretro pela mata hostil. O Cherno levava no seu ombro o cadáver deste futafula desditoso.
A meio da tarde já estávamos em Bambadinca e chegado de Finete recebemos a notícia que a população expulsara Bazilo Soncó que tentara um novo levantamento e uma nova dissidência nas milícias. No mês seguinte, o comando de Bambadinca irá cortar a direito, lançando os dissidentes em Quirafo e Madina Xaquili, vindo os de Amedalai para Finete.
Eu ainda não sei que este mês prosseguirá turbilhonante, a 12 haverá novo reencontro com gente de Madina, será um patrulhamento do 52 com milícias de Finete mais um grupo de combate da CCAÇ 12. A coluna de reabastecimento de Madina teve sorte, pois os milícias de Finete precipitaram-se no fogo dando tempo que toda a gente fugisse deixando no terreno um carregamento que ficamos sem saber se vinha de Mero ou dos Nhabijões, constituído por tabaco, sal e aguardente de cana.
Neste turbilhonante, haverá ainda nova flagelação sobre Missirá e outra sobre Finete. Viverei novos episódios com o meu casamento por procuração, que já dá mostras de uma épica infindável. Em S. Belchior, abaixo de Mato de Cão, haverá um ataque inimigo a barcos que vão em direcção a Bambadinca. As duas viaturas vão empanar ao mesmo tempo, felizmente que temos sempre recurso do Sintex. E depois um desastre com pesadas consequências, o colapso nervoso do Casanova. No meio disto tudo, a caminhada imperturbável, todos os dias, para Mato de Cão.
Capa do romance policial de S.S. Van Dine, A morte da canária. Lisboa: Livro so Brasil. 1949. (Colecção Vampiro, 20). Capa de Cândido Costa Pinto.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados
(v) as minhas leituras da semana: Simenon, S.S. van Dine, John Steinbeck
O Carlos Sampaio enviou-me L'ombre chinoise, de Georges Simenon. Alguns anos antes lera a tradução do Alexandre O'Neill para a Colecção Vampiro. É um romance soberbo, com uma arrancada quase cinematográfica, Maigret trava um diálogo com a porteira no prédio onde houve um homicídio. Acendem-se e apagam-se luzes, desfilam os protagonistas, que entram e saem. É uma história sórdida de uma vingança amorosa e de um roubo, com silêncios e sombras chinesas de permeio. Nunca mais lerei um final tão aterrador quando Maigret vai demolindo os membros do casal envolvidos na tragédia. À noite, enquanto a criminosa é enviada para um hospital psiquiátrico, Maigret, a mulher e os cunhados vão jogar às cartas, divertidos.
A Morte da Canária, por S. S. van Dine é mais um triunfo memorável do detective pedante Philo Vance, Margaret Odell, uma artista escandalosa, aparece assassinada em sua casa. O interior está virado do avesso, houve roubo, aparentemente o grande móbil do crime. Não passa de aparências, afinal houve um crime passional, as novas tecnologias de reprodução ajudaram o criminoso a gravar conversas inexistentes para fundamentar um bom álibi. Philo Vance descobre tudo e mais uma vez o criminoso mata-se. Não é das obras mais brilhantes de S. S. van Dine mas para quem anda de emboscada para patrulhamento, de patrulhamento para operação, lê-se muito bem entre flagelações, rondas e elaboração de escalas de serviço.
Capa do romance do norte-americano John Steinbeck, A um Deus desconhecido. 2ª ed. Lisboa: Publicações Europa-América. 1958. Tr. de Manuel do Carmo. Capa de Sebastião Rodrigues. (Colecção Os Livros das Três Abelhas, 1).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
Por fim, surpreendo-me com A um Deus desconhecido, um romance da juventude John Steinbeck. É uma história quase bíblica que já se orienta para o elogio da terra como ele irá desenvolver em obras primas como As vinhas da Ira. Joseph Wayne abandona a família à procura de uma terra prometida na Califórnia. Estabelecerá neste combate no novo assentamento uma relação religiosa com os valores naturais. Irá morrer vendo o seu sangue a borbotar e a escorrer sobre o musgo, julgando que se transformou em chuva e em erva a caminho do céu.
Prometo a mim próprio que voltarei a esta leitura mais tarde. Ler é uma feliz coincidência com uma carência do espírito ou, se houver dissonância, pode constituir uma profunda decepção. Necessito, nestes tempos do Cuor, de um outro arrebatamento, âncoras que me matem a fome ou que me deixem em suspenso toda a incompreensão que guardo desta guerra.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. os dois posts anteriores da série Operação Macaréu à Vista - II Parte:
21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2123: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (2): Não te esqueças de me avisar que já sou teu marido
13 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2102: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (1): Mamadu Camará, a onça vigilante
(2) Vd. post de 20 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1978: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (56): Mataste uma mulher, branco assassino!
(3) Vd. posts de:
15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1076: O álbum das glórias (Beja Santos) (4): eu e o coronel Cunha Ribeiro, o nosso 'major eléctrico'
9 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1161: O nosso Major Eléctrico, 2º comandante do BCAÇ 2852 (Beja Santos)
(...) O Major Ângelo da Cunha Ribeiro é o 2º Comandante que vem numa vaga de substituições. Era loquaz, irónico, interveniente e um conversador compulsivo. Devo-lhe pessoalmente vários gestos ternos: foi ele que me passou a tratar por Tigre e incentivou a socialização do termo; foi extraordinário nos acontecimentos da mina anti-carro de Canturé, em Outubro [de 1969] ; perguntava sempre sobre as necessidades em comida e material, interferia, imaginava e fazia lobby por Missirá e Finete. Não fica nada mal, parece-me, contar aqui em água forte um punhado de situações.Começo pelo fim, pelo desastre que o vitimou na rampa de Bambadinca. Alguns dos tertulianos presenciaram ou foram forçados a salvá-lo dentro da viatura destroçada, furada pelos barrotes de cibe onde ele jazia com múltiplas facturas num jipe transformado em sucata. (...)
(4) Sobre esta operação, vd. ainda:
8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça)
(...) O dilagrama que provocou este trágico acidente era empunhado por um graduado da CCAÇ 12, que não era apontador habitual de diligrama do seu grupo de combate. No relatório omite-se, por conveniência ou cumplicidade, este facto grave. O Iero Jau, de etnia fula, morreu ao meu lado. O Malan Mané, o prisioneiro, de etnia mandinga, foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para Bissau. Gostaria de saber o que é feito dele hoje: se conseguiu sobreviveu aos ferimentos, se ainda é vivo, se se lembra, à distância de 36 anos, destes loucos meses de Agosto e Septembro de 1969...
"Fomos no dia seguinte enterrar o Iero Jau na sua aldeia, no regulado do Cossé (se não me engano...). Teve honras militares. Lembro-me do ridículo atroz da cerimónia" (...).
14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)
15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)
9 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (Luís Graça).