Caríssimo Carlos Vinhal, venho mais uma vez incomodar-te com um assunto que me parece importante publicar no Blogue da nossa Tabanca Grande, que é um comentário que fiz, relativamente ao livro do coronel Alexandre Coutinho e Lima "A RETIRADA DE GUILEGE" (**).
Votos de um Bom Ano Novo (2009) para ti, Luís Graça e Virgílio Briote, extensíveis às excelentíssimas famílias.
JOSÉ FRANCISCO ROBALO BORREGO
2. COMENTÁRIO AO LIVRO DO COR DE ARTª ALEXANDRE COUTINHO E LIMA “ A RETIRADA DE GUILEGE “
Porque negou ele ao Senhor coronel Coutinho e Lima os reforços veementemente solicitados face às dificuldades que se sentiam no terreno? Porque não concedeu uma excepção às evacuações, por meios aéreos, dos feridos mais graves, conforme prometera em 11 de Maio de 1973?
Como Comandante-Chefe sabia perfeitamente que a guarnição de Guilege era das mais problemáticas da Guiné não só por estar perto da fronteira da Guiné-Cronacri que nos era totalmente hostil, entrando por ali para o interior da Guiné cerca de 80% do reabastecimento de material utilizado contra as Nossas tropas, mas também pelo seu isolamento na época das chuvas (JUNHO-OUTUBRO), já que a estrada de Guilege para Gadamael, neste período, ficava totalmente intransitável! Este facto, só por si, merecia uma atenção permanente muito especial!
Será que o Senhor general Spínola subestimava o IN naquela Zona de Acção?
Será que não levava a sério os apelos do Comandante do COP 5, por não o achar competente?
Será que desejava um pretexto para pressionar o Governo de Marcelo Caetano no sentido de reforçar a Guiné com mais homens e material mais sofisticado?
Nunca se saberá, mas alguma coisa lhe deve ter passado pela cabeça!
O IN, entretanto, dava sinais de evolução, quer em organização táctica, quer na utilização de material de guerra moderno, em muitos aspectos, superior ao nosso. Beneficiava do enquadramento e da formação dada pela ex-União Soviética e Cuba. O aparecimento dos mísseis STRLLA foi a “pedrada no charco”, afectando psicologicamente as Nossas Tropas e dando ao PAIGC uma vantagem militar que até aí não tinha, provocando assim um desequilíbrio estratégico a seu favor. A Força Aérea Portuguesa entrou em retracção e deixou de dominar, a seu belo prazer, o espaço aéreo, resultando num grande trunfo para o IN que passou a ter maior liberdade de acção no terreno.
A tentativa do Senhor coronel Coutinho e Lima comparar os acontecimentos de Guilege e Guidage tem interesse para se perceber que o Comandante-Chefe teve duas condutas distintas: Reforçou, substancialmente, Guidage com homens e materiais; não reforçou Guilege, ao menos com uma companhia de Tropa especial, como lhe foi pedido, face à gravidade da situação, porquê? Também não há resposta!
Entre retirar e continuar em Guilege, face à falta de apoios essenciais para o cumprimento da missão, o Senhor Coronel Coutinho e Lima decidiu retirar e assim terá evitado o derramamento de muito sangue e de muito sofrimento desnecessário. Penso que foi uma decisão muito difícil de tomar, mas muito acertada e de muitíssimo bom senso!
Quanto ao Processo que lhe foi instaurado por ter retirado sem autorização superior, é óbvio que cometeu uma falta grave à luz dos Regulamentos Militares e segundo a lógica do Regime Politico de então; não tenho dúvidas de que o Senhor coronel apanhava uma punição exemplar, porque estava em causa o prestígio do Exército Português e a reputação da Nação, era uma questão de Estado! Tinha contra si o Direito da Força. Felizmente que surgiu o 25 de Abril de 1974 e o Senhor coronel Coutinho e Lima foi salvo duma possível situação dolorosa que eu não desejo a ninguém. Graças Adeus foi reconstituída a sua carreira militar, de algum modo foi reposta a legalidade e o Senhor coronel é hoje um Homem admirado e respeitado por todos os ex-combatentes Portugueses e Guineenses.
O Senhor coronel Coutinho e Lima, arriscou a sua carreira militar e colocou em perigo o seu futuro e o da sua excelentíssima família com a decisão histórica que tomou! Alguns foram considerados heróis por terem provocado pesadas baixas no IN. Para mim, o Senhor coronel Coutinho e Lima é herói por ter evitado pesadas baixas nas Nossas Tropas e na população civil de Guilege que estava à sua responsabilidade.
Ao Senhor coronel Coutinho e Lima não lhe faltou abnegação e coragem!
Como escreveu o Senhor general Gabriel Espírito Santo no seu notável prefácio do Livro “ A RETIRADA DE GUILEGE” “O Senhor coronel Alexandre Coutinho e Lima é um Homem de Honra e um Militar de Coragem”
Meu coronel, li o seu livro com muito interesse e emoção, porque também sou ex-combatente da Guiné. Pertenci ao Grupo de Artilharia nº 7 (BISSAU) e estive destacado em Bajocunda, Paúnca e em Ganjaurá (Península de Gampará). Tem a minha absolvição e total solidariedade. Receba um grande abraço de profunda admiração e amizade.
Votos de um Bom Ano (2009) para o Senhor coronel e para todos os ex-combatentes Portugueses e Africanos, extensíveis às excelentíssimas famílias.
Linda-a-Velha, 29 de Dezembro de 2008
JOSÉ FRANCISCO ROBALO BORREGO
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3445: Tabanca Grande (96): Ten Cor José Francisco Robalo Borrego, ex-1.º Cabo do Gr Art 7 e Furriel QP do 9.º PELART (1970/72)
(**) Vd. postes de:
27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora
14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)
e
Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)