Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 763 (2 de Março de 1965/1o de Novembro de 1966) > Os Lassas, como eram, conhecidos, usaram cães de guerra (creio que foi a primeira e única experiência no CTIG) e eram comandados por um famoso cabo de guera, o leão de Cufar, Cap Costa Campos. Foram a última unidade de quadrícula (leia-se: tropa-macaca) a meter os pés no Cantanhez. Depois deles é preciso esperar pela tentativa, em Novembro/Dezembro de 1972, de reocupar esta mítica mata, a jóia da coroa do PAIGC.
Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira pára-quedista no meio dos Lassas... O ex-Alf Pil Al III, Jorge Félix, membro da nossa Tabnaca Grande, identificou esta enfermeira, como sendo a Ivone.
Fotos: © Mário Fitas(2008). Direitos reservados.
O Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66, é autor de duas obras, de conteúdo autobiográfico, Putos, Gandulos e Guerra e Pami, Na Dondo a Guerrilheira (*), fortemente marcadas pelas sua dura e rica experiência, tanto militar como humana, na Região de Tombali. Tem sido um entusiástico e empenhadíssimo membro da nossa Tabanca, com um coração do tamanho do seu Alentejo, além de um homem dos sete ofícios e talentos (**).
Aqui vai a mensagem mais recente que me mandou:
Luís, tendo em atenção o que se tem escrito no Blogue sobre a FAP e resultante do extraordinário relacionamento da CCAÇ 763 com o pessoal da Força Aérea e da Marinha, bem como dos nossos Anjos, as Enfermeiras Pára-quedistas que muito passaram por Cufar, anexo um naco de Putos, Gandulos e Guerra onde se pode verificar o reconhecimento dos Lassas, e um pouco de brincadeira, tão necessária por vezes naquele isolamento.
Dou conhecimento também ao Victor Barata, não só por ele ter identificado o Pilav Ribeiro, do T6 aterrando com o motor gripado em Cufar, bem como o seu Parelha, mas também como agradecimento aos Melec que acompanhavam os Pilotos nas evacuações de mortos e feridos. Para as nossas enfermeiras, a brincadeira em terra dos Lassas.
Já há aí fotos de pessoal da FAP e de enfermeiras pára-quedistas que passaram por Cufar. Noutros e-mail, mandarei algumas que não sei se serão repetição. Para todos, sem distinção nem majoração que passaram por aquela Terra, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã. Mário Fitas .
Pois, é, Mário, vou aproveitar a tua embalagem para dar início a uma série que fica aberta à publicação de testemunhos e depoimentos sobre as enfermeiras pára-quedistas que serviram no CTIG. Um abraço do tamanho do Geba. L.G.
Capa do livro de Mário Vicente,
Putos, Gandulos e Guerra .
Ed. de autor (Cucujães, 2000).
Em louvor da Força Aérea e da Marinha,
por Mário Fitas
(...) Mais Audaz localiza tudo e faz duas picagens. Vagabundo rádio sintonizado com o ar, ouve nitidamente o tenente piloto dizer:
- Só vejo malta a rebolar... estou a atingir em cheio... vou picar novamente e gastar os últimos roquetes.
E assim faz, aparecendo por sobre o tarrafo do lado do cais, o piloto faz nova picagem e sobe sobre a mata de Caboxanque.
Ficamos suspensos por momentos, pois o piloto informa:
- Fui atingido, vou tentar aterrar em Cufar! (***)
Corações pequeninos ouvimos que o Mais Audaz tinha conseguido. O avião a tocar o solo da pista de Cufar e o motor a gripar. O aparelho tinha sofrido dezassete impactes, um dos quais perfurara o depósito do óleo esvaziando-o por completo.
O contacto com o IN continua forte. Alertadas, entretanto chegam a Vedeta e duas LDM e com o seu auxílio o IN foi reduzido ao silêncio.
Soube-se depois, e ficará gravada na história dos Lassas, que tínhamos tido à nossa espera, no caminho que dava acesso ao cais de Caboxanque, nada menos nada mais que uma Companhia do Exército Popular, comandada pelo Comandante Nino.
Obrigado Alfa, FAP e Marinha, pois estaríamos feitos em merda se não fosseis vós.
Nunca será pouco enaltecer os amigos fuzos e marinheiros e aquilo que por nós fizeram com as suas lanchas e vedetas.
Aos pilotos e enfermeiras páras, bastará o conhecimento de Cufar para saberem como estamos gratos por tudo.
É claro que nem tudo foram rosas!
Havendo uma grande operação dos fuzos na zona de Cabedu, foi montado o posto de comando e evacuação em Cufar, derivado à sua bela pista.
Hospital de campanha montado, por escala os Vagabundos de Piquete; com o seu comandante furriel Mamadu, vestido à maneira do mato - calção e camisa de caqui, bota de lona e boina preta, sem divisas e, em vez de carregar com a G3, pistola à cinta caindo do cinturão à pistoleiro - faziam segurança às aeronaves estacionadas na pista.
Segurança montada, rendição feita e toda a malta almoçada, calor de rachar, toca de espreguiçar na maca do improvisado hospital de campanha. Juntam-se alguns soldados em volta de Mamadu e começam as anedotas e histórias da vida de cada um.
Tudo muito bem, só que o almoço no comando foi mais rápido do que se esperava.
Mamadu, delirando contar e ouvir uma anedotazinha, contava aquela do dramático caso do patrício que se queria suicidar e, subindo ao quinto andar do prédio, de lá gritava que estava farto da vida e que se iria mandar dali a baixo; o povoléu juntou-se todo à espera do desfecho do drama, quando a mulher do suicida em desespero gritou:
- Oh homem, não faças isso porque eu só te pus os cornos, não te pus asas!
Estava Mamadu e aquela malta toda na bagunçada, quando de repente aparece a enfermeira alferes pára.
Ao ver a malta por ali sentada, correu com a soldadesca toda. Mamadu, agora sentado na maca, também ele teve ordem de despejo para se pôr a andar. Verificando o protagonismo que a Sra. Alferes estava a tomar, o furriel resolveu também manter o seu. Deu-se então um diálogo interessante.
Mamadu desceu da maca e informou:
- Saiba Vossa Senhoria, meu alferes, que eu não vou abandonar esta posição, se há alguém que tenha de pedir autorização para permanecer neste local não sou eu, pois quem é aqui o responsável neste momento, é este maltrapilho do mato e que se apresenta a Vossa Senhoria, Furriel Miliciano Mamadu, comandante do Piquete com a responsabilidade total pela segurança desta tenda, bem como de todas as aeronaves que se encontram na pista. Não tenho as divisas nos ombros, porque no mato é adorno que não usamos. A boina preta está superiormente autorizada.
Grande discurso!...
A Sra. Alferes enfermeira sorriu e repostou:
- São todos iguais, têm todos a escola do vosso capitão!... Mas bem podia estar com roupa em condições!
- Saiba, a Sra., Meu alferes, que a minha lavadeira Miriam se encontra em Catió com montes de roupa à espera de portador, pelo que não posso ter a honra de lhe satisfazer o desejo. Mas, como sabe melhor do que eu, para morrer tanto faz estar de smoking como de camisa rota, o importante é estar lavada!
- Machistas de merda!
Foi a resposta que o furriel recebeu. Tinha razão a alferes enfermeira!
Extractos de: Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente. Ed. autor, Cucujães, 2000. pp. 99-101
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)
(**) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas
(***) 16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2443: Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente (8) - Parte VII: O prisioneiro Malan é usado como guia (Mário Fitas)
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3913: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (3): Quanta chuva, Mário ?
1. Mensagem de Joana Santos, com data de 16 de Fevereiro de 2009:
Caro Luís Graça,
Remeto mais um texto que a minha mãe escreveu para o Blogue.
Ela lamenta que seja um pouco chocante. Mas foi assim que se passou.
Cumprimentos,
Joana
2. Em Bissau, controlado desespero (III)
Inquieta quietude
[Título e fixação do texto: Editores C.V. / L.G.]
Começaram as visitas. Primeiro, as minhas; depois, as dele, que tinha licença para ver-me em casa. Vivemos tardes de amor. E eu, sozinha, passava as manhãs na rua, comprando cajus e cocos no mercado, algumas folhas de cola, uma curiosidade.
Diziam que aquilo dava força e experimentei. Dava mesmo. Da experiência científica soltou-se um energético e solitário charleston (não há mais divertida – e difícil – dança de precário equilíbrio de pés, do corpo todo, aparentemente desconjuntado!). Nesse estado me encontrou, uma vez, a bajuda. Deitei-lhe a língua de fora. E ela abanou-me, empurrou-me para a casa de banho. E, no espelho, vi uma palhaça, de língua encarnada, que ria, ria… Bastava de loucuras. Lavei, escovei, o vermelhão fora-se. Mas, no meu sistema, dissipara-se a moleza tropical.
Claríssimas manhãs de Bissau.
Insomne, já nem dois comprimidos me ajudavam, atravessava as noites e, cedo, postava-me à janela que se abria sobre o pátio, aguardando a chegada da Joana. Dava-lhe escassas ordens e partia, buscando o sombreado das árvores, atenta à inigualável beleza dos nativos, fulas, futa-fulas, mandingas, os mais belos. Às sabadoras brancas, ao colorido dos panos femininos, ao comportamento dos periquitos e maçaricos, às crianças com os pequenos rostos manchados de tinha, às vozes agudas, às risadas, ao meu leproso. Não comprava nada, nada me induzia aos gastos em sedas libanesas.
Pessoas havia que já me conheciam:
-Corpo s’tá bom?
-S’tá bom.
Conhecera uma senhora cuja avó ainda fora animista. Decidi perguntar à minha bajuda Joana, manjaca era ela. Fui ao pátio, coloquei os dedos na terra, acariciei um cacto, abri os braços, fiz de pássaro… depois, o sinal da cruz:
– Eu, cristã… e tu? – um dedo no seu peito. E ela, muito séria, persignou-se:
- Avemaria... - disse.
Que sabia ela do significado daquela oração? Afinal, de animismo nada aprenderia, e só, muitos anos volvidos, assistiria a uma prática de culto animista, numa longínqua montanha da cadeia do Pamir…
De resto, outras coisas me ocupavam. Como matar a fome? Que cozinhar? Como chegar ao hotel, para jantar, fugindo aos assobios e a um provável beliscão da tropa branca?
Em breve, muito em breve, o Mário chegaria a casa. Faria transportar duas camas do Q.G. e armá-las-ia no meu quarto, com grande estrondo.
Andava inquieto, expectante.
A poucos dias do seu aniversário (31 de Maio), consegui, por intermédio de um vizinho, bacalhau. E foi, enquanto preparava o enorme pirex de arroz, receita longa e complicada, que, súbita, irrompeu a estação das chuvas. O Mário não estava.
Chovia em catadupas. Corri para a rua, molhei-me toda, voltei ao forno, a roupa a secar-se-me no corpo.
Trinta e um de Maio de 1970. Quanta chuva, Mário? Vinte e cinco.
Um dia, dois dias, quantos, antes que ele partisse? Não recordo. Na sua ausência, um outro amor crescera – Bissau, a suja, colorida, mal crescida cidade africana, o cinzento opaco do Geba, junto ao cais, o céu atravessado de helicópteros, suspensas notícias, indo e vindo, silêncio povoado pelo longínquo matraquear do medo.
Nela aprendi que o belo não é o perfeito, que o belo pode ser, também, o feio em ignota desmesura, estado de alma, inquieta quietude, inesperada transigência.
Mas foi, talvez, no segundo dia após o seu aniversário, que o meu marido começou, à noite, a tirar, de cima do armário, malas e sacos (“Eh, menino, esse saco é meu!”, perdi-o). Atirava, lá para dentro, roupas, os livros, os discos, todos os seus pertences. Olhava, espantada, o renascer da obsessão. Que dormisse eu, disse. Ele iria muito cedo. Virou-se para a parede, adormeceu. Mas eu, não.
E muito, muito cedo, já vestida, ao canto da janela, aguardava o dia. Ele enfiava o camuflado, bem passado. Corri à casa de banho, arrebatei a gilette, o creme de barbear, a pasta, o pente, a água-de-colónia que lhe dera. Saco adentro! Um beijo de raspão na face do "adorado amor”. Corri atrás dele, batera com a porta, não a abriria eu.
Despi-me de novo, sem fome. Dois comprimidos de Vesparax chegariam? Chegaram. E fez-se noite.
Não dera por nada, por ninguém. Arrastei-me, ensonada, até à cozinha. O interminável bacalhau, lá estava ele, no frigorífico. E, com o pano dos tachos sobre a mesa, a colher de sopa na mão, comi-o gelado, de dentro do pirex. Lá iria, de novo, o meu manjar para o frio.
Peguei num livro, atirei-o contra a parede.
Há coisas que nos ficam na memória. Essa de me levantar e afagar a capa do livro é uma delas. E, depois, outra: as luzes apagaram-se, calou-se a ventoinha. Tacteando, lá descobri o copo e os comprimidos. Dois? Três? – Já não sei.
Foi só com o barulho da porta da entrada, que alguém parecia querer deitar abaixo, que acordei.
- Joana - gritava - A porta. O meu… o meu….
Não era capaz de me lembrar de como se dizia “roupão”. Mas a bajuda, certeira, percebeu e atirou-mo, saiu correndo, abriu a porta.
Ali estava, já tarde, na soleira, o Alexandre, boininha debaixo do braço, prazenteiro.
- Então o que era aquilo? - perguntava, e eu:
- Que dia é hoje? Quando é que o Mário foi?- E ele:
- Ontem, não te lembras? Feriste-te nos pés?
Não, não me tinha ferido. Olhei de relance para os pés e para o chão da sala. Sangue. Deve ter percebido alguma coisa que eu não entendia. Queria que chamasse a Inês? O David?
- O David - concordei.
Disse-me que era tempo de voltar para Lisboa, que ia tratar, quanto antes, da passagem. Estava eu de acordo? Estava.
Em que logro me deixara escorregar de alma e corpo inteiros? Onde era essa cidade de Bolama, que me fora vagamente prometida? O talvez? Que fazia eu ali? Impunha-se-me a lealdade: se o meu marido voltara para donde viera, seria porque não podia fazê-lo de outro modo.
Entretanto, a minha gente já se mexia em reboliço. A bajuda e a engomadeira tiravam lençóis, lavavam o chão, mas, na casa de banho, ainda havia mais pegadas. Talvez tivesse sido esse o primeiro dos meus abortos espontâneos.
Uma perda é o impossível, sem remédio.
Breves, os cinquenta e três dias estavam a chegar ao fim.
Cristina Allen
Fevereiro de 2009
__________
Nota de CV:
Vd. postes da série de:
9 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...
e
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!
Caro Luís Graça,
Remeto mais um texto que a minha mãe escreveu para o Blogue.
Ela lamenta que seja um pouco chocante. Mas foi assim que se passou.
Cumprimentos,
Joana
2. Em Bissau, controlado desespero (III)
Inquieta quietude
[Título e fixação do texto: Editores C.V. / L.G.]
Começaram as visitas. Primeiro, as minhas; depois, as dele, que tinha licença para ver-me em casa. Vivemos tardes de amor. E eu, sozinha, passava as manhãs na rua, comprando cajus e cocos no mercado, algumas folhas de cola, uma curiosidade.
Diziam que aquilo dava força e experimentei. Dava mesmo. Da experiência científica soltou-se um energético e solitário charleston (não há mais divertida – e difícil – dança de precário equilíbrio de pés, do corpo todo, aparentemente desconjuntado!). Nesse estado me encontrou, uma vez, a bajuda. Deitei-lhe a língua de fora. E ela abanou-me, empurrou-me para a casa de banho. E, no espelho, vi uma palhaça, de língua encarnada, que ria, ria… Bastava de loucuras. Lavei, escovei, o vermelhão fora-se. Mas, no meu sistema, dissipara-se a moleza tropical.
Claríssimas manhãs de Bissau.
Insomne, já nem dois comprimidos me ajudavam, atravessava as noites e, cedo, postava-me à janela que se abria sobre o pátio, aguardando a chegada da Joana. Dava-lhe escassas ordens e partia, buscando o sombreado das árvores, atenta à inigualável beleza dos nativos, fulas, futa-fulas, mandingas, os mais belos. Às sabadoras brancas, ao colorido dos panos femininos, ao comportamento dos periquitos e maçaricos, às crianças com os pequenos rostos manchados de tinha, às vozes agudas, às risadas, ao meu leproso. Não comprava nada, nada me induzia aos gastos em sedas libanesas.
Pessoas havia que já me conheciam:
-Corpo s’tá bom?
-S’tá bom.
Conhecera uma senhora cuja avó ainda fora animista. Decidi perguntar à minha bajuda Joana, manjaca era ela. Fui ao pátio, coloquei os dedos na terra, acariciei um cacto, abri os braços, fiz de pássaro… depois, o sinal da cruz:
– Eu, cristã… e tu? – um dedo no seu peito. E ela, muito séria, persignou-se:
- Avemaria... - disse.
Que sabia ela do significado daquela oração? Afinal, de animismo nada aprenderia, e só, muitos anos volvidos, assistiria a uma prática de culto animista, numa longínqua montanha da cadeia do Pamir…
De resto, outras coisas me ocupavam. Como matar a fome? Que cozinhar? Como chegar ao hotel, para jantar, fugindo aos assobios e a um provável beliscão da tropa branca?
Em breve, muito em breve, o Mário chegaria a casa. Faria transportar duas camas do Q.G. e armá-las-ia no meu quarto, com grande estrondo.
Andava inquieto, expectante.
A poucos dias do seu aniversário (31 de Maio), consegui, por intermédio de um vizinho, bacalhau. E foi, enquanto preparava o enorme pirex de arroz, receita longa e complicada, que, súbita, irrompeu a estação das chuvas. O Mário não estava.
Chovia em catadupas. Corri para a rua, molhei-me toda, voltei ao forno, a roupa a secar-se-me no corpo.
Trinta e um de Maio de 1970. Quanta chuva, Mário? Vinte e cinco.
Um dia, dois dias, quantos, antes que ele partisse? Não recordo. Na sua ausência, um outro amor crescera – Bissau, a suja, colorida, mal crescida cidade africana, o cinzento opaco do Geba, junto ao cais, o céu atravessado de helicópteros, suspensas notícias, indo e vindo, silêncio povoado pelo longínquo matraquear do medo.
Nela aprendi que o belo não é o perfeito, que o belo pode ser, também, o feio em ignota desmesura, estado de alma, inquieta quietude, inesperada transigência.
Mas foi, talvez, no segundo dia após o seu aniversário, que o meu marido começou, à noite, a tirar, de cima do armário, malas e sacos (“Eh, menino, esse saco é meu!”, perdi-o). Atirava, lá para dentro, roupas, os livros, os discos, todos os seus pertences. Olhava, espantada, o renascer da obsessão. Que dormisse eu, disse. Ele iria muito cedo. Virou-se para a parede, adormeceu. Mas eu, não.
E muito, muito cedo, já vestida, ao canto da janela, aguardava o dia. Ele enfiava o camuflado, bem passado. Corri à casa de banho, arrebatei a gilette, o creme de barbear, a pasta, o pente, a água-de-colónia que lhe dera. Saco adentro! Um beijo de raspão na face do "adorado amor”. Corri atrás dele, batera com a porta, não a abriria eu.
Despi-me de novo, sem fome. Dois comprimidos de Vesparax chegariam? Chegaram. E fez-se noite.
Não dera por nada, por ninguém. Arrastei-me, ensonada, até à cozinha. O interminável bacalhau, lá estava ele, no frigorífico. E, com o pano dos tachos sobre a mesa, a colher de sopa na mão, comi-o gelado, de dentro do pirex. Lá iria, de novo, o meu manjar para o frio.
Peguei num livro, atirei-o contra a parede.
Há coisas que nos ficam na memória. Essa de me levantar e afagar a capa do livro é uma delas. E, depois, outra: as luzes apagaram-se, calou-se a ventoinha. Tacteando, lá descobri o copo e os comprimidos. Dois? Três? – Já não sei.
Foi só com o barulho da porta da entrada, que alguém parecia querer deitar abaixo, que acordei.
- Joana - gritava - A porta. O meu… o meu….
Não era capaz de me lembrar de como se dizia “roupão”. Mas a bajuda, certeira, percebeu e atirou-mo, saiu correndo, abriu a porta.
Ali estava, já tarde, na soleira, o Alexandre, boininha debaixo do braço, prazenteiro.
- Então o que era aquilo? - perguntava, e eu:
- Que dia é hoje? Quando é que o Mário foi?- E ele:
- Ontem, não te lembras? Feriste-te nos pés?
Não, não me tinha ferido. Olhei de relance para os pés e para o chão da sala. Sangue. Deve ter percebido alguma coisa que eu não entendia. Queria que chamasse a Inês? O David?
- O David - concordei.
Disse-me que era tempo de voltar para Lisboa, que ia tratar, quanto antes, da passagem. Estava eu de acordo? Estava.
Em que logro me deixara escorregar de alma e corpo inteiros? Onde era essa cidade de Bolama, que me fora vagamente prometida? O talvez? Que fazia eu ali? Impunha-se-me a lealdade: se o meu marido voltara para donde viera, seria porque não podia fazê-lo de outro modo.
Entretanto, a minha gente já se mexia em reboliço. A bajuda e a engomadeira tiravam lençóis, lavavam o chão, mas, na casa de banho, ainda havia mais pegadas. Talvez tivesse sido esse o primeiro dos meus abortos espontâneos.
Uma perda é o impossível, sem remédio.
Breves, os cinquenta e três dias estavam a chegar ao fim.
Cristina Allen
Fevereiro de 2009
__________
Nota de CV:
Vd. postes da série de:
9 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...
e
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3912: Iniciativas da ADFA em Lisboa (2): Em busca das Enfermeiras Pára-quedistas (Luís Nabais / Victor Barata)
1. Para conhecimento da Tertúlia, uma vez que a iniciativa da ADFA em homenagear os nossos camaradas da Força Aérea se tornou irreversível e adquiriu uma dimensão superior à que os organizadores esperavam.
Mensagens trocadas nos dias 13 e 15 de Fevereiro de 2009:
2. De Luís Nabais para o nosso Blogue:
Carlos:
Quero agradecer o empenho que puseste na minha mensagem (*).
O impacto foi muito maior do que eu/nós esperávamos, mas uma coisa ressalta e que eu/nós não podemos deixar de sentir e concordar.
Todos, mas todos, têm falado nas ex-enf paraquedistas, na altura um número reduzidíssimo pelo que tenho lido, mas que ninguém deixa de referenciar.
Assim, faz um aditamento para serem/ou nos contactarem, já que só temos o contacto de uma, senhora já com alguma idade, mas que nos escreveu uma carta extremamente enternecedora, e a quem iremos contactar para se juntar a nós brevemente num almoço pessoal.
Agradeço uma vez mais o teu empenho e o do Luis (que espero ver breve por lá)
Abraço
Luis Nabais
3. Mensagem de Luís Nabais com data de 15 de Fevereiro de 2009, dirigida ao nosso camarada Victor Barata, Especialista da Força Aérea, que mantém vivo e actuante a página Especialista da Base Aérea 12, Guiné 65/74.
Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné
Caro Barata:
Como verás abaixo, vou pedir ao Carlos Vinhal e Luís Graça a publicação no nosso blog do que escreveste, e que, podes crer, me/nos tocou (falo por todos aqueles que devem a vida às vossas acções).
Quero que saibas que a ideia não é só minha. O Presidente da Delegação de Lisboa, Francisco Janeiro, foi quem primeiro falou no assunto, e nós Direcção, agarramos a ideia com unhas e dentes, para concretizar.
O Carlos Vinhal vai com certeza compor e publicar, do facto espero que não te ofendas pelo pedido de publicação na íntegra.
Tens o meu mail, sabes a morada da ADFA, tens o blog... estarás sempre em casa, se e quando apareceres.
Falaremos mais
Abraço e Bem-Hajas pela força que nos deste.
Luis Nabais
4. Na mesma mensagem vinha para o nosso Blogue:
Caro Carlos:
Começo a ficar "vaidoso" com a aceitação da ideia.
Vamos ter gente.
Levanta-se-nos o problema de não ter contacto com as enfermeiras paraquedistas (afinal elas voavam com estes homens que queremos homenagear), mas aí, o nosso blog pode por certo, ajudar.
Peço-te que publiques e aguardar mais contactos.
Como podes ver, o Barata já disse presente, de uma forma que me tocou profundamente, e vai tocar por certo todos aqueles que lerem isto.
Abraço Carlos, e vamos em frente nesta ideia de agradecer àqueles que nos evacuaram, tantas vezes debaixo de fogo.
Luis Nabais
5. Fica agora a mensagem a que se refere o camarada Luís Nabais
Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné.
Companheiro Luis Nabais.
Sou Victor Barata editor do Blog "especialistasdaba12.blogspot.com", espaço este que foi criado por pilotos e especialistas da Força Aérea que operaram na Guiné.
Ao ver o Blog do Luís Graça, onde também pertenço como Tertuliano, li o teu email no intuito da ADFA homenagear-nos!
Pois Companheiro, a emoção apoderou-se de mim ao sentir o vosso reconhecimento pela nossa árdua missão.
Não resisti e de imediato reproduzi e comentei no nosso blog o seguinte:
Nós, ADFA, estamos e pensar fazer um almoço/homenagem aos antigos pilotos e mecânicos de aeronaves, que estiveram na Guiné.
Podes publicar, para saber se há interessados? Pensamos que seja em Abril.
É nossa intenção fazê-lo em Lisboa na sede da ADFA.
O Chefe da Força Aérea vai estar lá também, e tenho já confirmados alguns nomes, alguns ex-comandantes da TAP!
A data ainda não está definida, embora apontemos para um sábado Abril.
Quero também informar que já temos mais um psiquiatra a trabalhar connosco (dois, agora), que poderão fazer consultas "particulares" (o preço será informado aquando da marcação, caso não tenham ADME), e também Clínica Geral.
Claro que, recordo novamente, não tendo ADM, a consulta será por inteiro, mas são 30€ (com estacionamento e almoço, agora a 4,50 €).Estou/estamos a envidar esforços para ter muito brevemente estomatologia.
Tentaremos, logo que possível, acordos com ADSE ou outras entidades - não ainda -, infelizmente, mas garanto brevidade!
Abraço
Luís Nabais
VB:Companheiros da ADFA, representada pelo Luís Nabais, com alguma surpresa e emoção até, que lemos e publicamos esta vossa iniciativa.
Surpresa porque sempre, e ainda hoje, o pessoal da FAP é alvo de diversas opiniões extremamente injustas por parte de muitos que cujo o objectivo da sua participação no TO eram, à época, era defender o seu gabinete e os respectivos escudos, os pesos se calhar nem precisavam deles para a vida que faziam... Em contrapartida, reconheço a angustia e o desespero que existiu muitas vezes que era solicitada a nossa presença e esta não era correspondida, obrigando-vos a criarem uma opinião revoltante em relação a nós.
Só não fizemos o que não pudemos. Muitas evacuações foram feitas em condições que vós próprios (ADFA) sabem melhor que ninguém, pondo em risco a nossa própria vida, para salvar a dos outros que infelizmente muitas vezes não valeu de nada e outras que deixou as marcas que muitos de vós ostentam hoje!
Os pilotos, em que condições forneciam o apoio a aéreo?
Recordam-se, certamente, numa semana do ano de 1973, quantos perderam a vida!?
A geografia da Guiné,cujo ponto mais alto +/- 400m é Madina de Boé, o que equivale a dizer que quando uma aeronave descolava de Bissalanca era visível em todo o território, não tinhas árvores ou trincheiras para nos refugiarmos, enfim, os companheiros em terra precisavam de nós.
Pois bem, Luís, se permites, e como os últimos são sempre os primeiros, esqueceram-se de integrar nessa homenagem aquelas cujo o seu empenho na Guerra da Guiné foi louvável, aquelas que salvaram muitas vidas, aquela meia dúzia de pessoas que não tinha mãos a medir, ao ponto de uma delas ter perdido a vida, talhada pelo hélice de um DO 27, quando se preparava para salvar a vida dos outros, AS NOSSAS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS!
Não podem ser esquecidas, Luís!
O Nosso Bem Haja.
Peço-te desculpa, mas estas verdadeiras COMPANHEIRAS DE GUERRA, não podem ser esquecidas neste evento.
Luís, dispõe do nosso/teu blog para o que achares oportuno, tudo faremos para que o vosso desejo seja um êxito.
Aguardo um teu comentário a isto e o que queiras publicar no Blog.
Saudações Aeronáuticas
Victor Barata
Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.
6. Comentário de CV:
Caros camaradas Tertulianos, quem tiver conhecimento do paradeiro de alguma das senhoras Enfermeiras Paraquedistas, verdadeiros Anjos da Guarda, que literalmente desciam dos céus para nos auxiliar nos momentos mais trágicos das nossas jovens vidas, façam favor de contactar o Luís Nabais ou o Victor Barata.
A iniciativa da ADFA é louvável e os deficientes, mais que ninguém, reconhecem o quanto valiosa foi a acção dos nossos camaradas das Força Aérea onde se incluem, por voarem, os Pilotos, Mecânicos e Enfermeiras Pára-quedistas. Não podemos contudo esquecer, os Especialistas que em terra tudo faziam para manter operacionais as aeronaves.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3887: Iniciativas da ADFA em Lisboa (Luís Nabais)
Mensagens trocadas nos dias 13 e 15 de Fevereiro de 2009:
2. De Luís Nabais para o nosso Blogue:
Carlos:
Quero agradecer o empenho que puseste na minha mensagem (*).
O impacto foi muito maior do que eu/nós esperávamos, mas uma coisa ressalta e que eu/nós não podemos deixar de sentir e concordar.
Todos, mas todos, têm falado nas ex-enf paraquedistas, na altura um número reduzidíssimo pelo que tenho lido, mas que ninguém deixa de referenciar.
Assim, faz um aditamento para serem/ou nos contactarem, já que só temos o contacto de uma, senhora já com alguma idade, mas que nos escreveu uma carta extremamente enternecedora, e a quem iremos contactar para se juntar a nós brevemente num almoço pessoal.
Agradeço uma vez mais o teu empenho e o do Luis (que espero ver breve por lá)
Abraço
Luis Nabais
3. Mensagem de Luís Nabais com data de 15 de Fevereiro de 2009, dirigida ao nosso camarada Victor Barata, Especialista da Força Aérea, que mantém vivo e actuante a página Especialista da Base Aérea 12, Guiné 65/74.
Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné
Caro Barata:
Como verás abaixo, vou pedir ao Carlos Vinhal e Luís Graça a publicação no nosso blog do que escreveste, e que, podes crer, me/nos tocou (falo por todos aqueles que devem a vida às vossas acções).
Quero que saibas que a ideia não é só minha. O Presidente da Delegação de Lisboa, Francisco Janeiro, foi quem primeiro falou no assunto, e nós Direcção, agarramos a ideia com unhas e dentes, para concretizar.
O Carlos Vinhal vai com certeza compor e publicar, do facto espero que não te ofendas pelo pedido de publicação na íntegra.
Tens o meu mail, sabes a morada da ADFA, tens o blog... estarás sempre em casa, se e quando apareceres.
Falaremos mais
Abraço e Bem-Hajas pela força que nos deste.
Luis Nabais
4. Na mesma mensagem vinha para o nosso Blogue:
Caro Carlos:
Começo a ficar "vaidoso" com a aceitação da ideia.
Vamos ter gente.
Levanta-se-nos o problema de não ter contacto com as enfermeiras paraquedistas (afinal elas voavam com estes homens que queremos homenagear), mas aí, o nosso blog pode por certo, ajudar.
Peço-te que publiques e aguardar mais contactos.
Como podes ver, o Barata já disse presente, de uma forma que me tocou profundamente, e vai tocar por certo todos aqueles que lerem isto.
Abraço Carlos, e vamos em frente nesta ideia de agradecer àqueles que nos evacuaram, tantas vezes debaixo de fogo.
Luis Nabais
5. Fica agora a mensagem a que se refere o camarada Luís Nabais
Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné.
Companheiro Luis Nabais.
Sou Victor Barata editor do Blog "especialistasdaba12.blogspot.com", espaço este que foi criado por pilotos e especialistas da Força Aérea que operaram na Guiné.
Ao ver o Blog do Luís Graça, onde também pertenço como Tertuliano, li o teu email no intuito da ADFA homenagear-nos!
Pois Companheiro, a emoção apoderou-se de mim ao sentir o vosso reconhecimento pela nossa árdua missão.
Não resisti e de imediato reproduzi e comentei no nosso blog o seguinte:
Nós, ADFA, estamos e pensar fazer um almoço/homenagem aos antigos pilotos e mecânicos de aeronaves, que estiveram na Guiné.
Podes publicar, para saber se há interessados? Pensamos que seja em Abril.
É nossa intenção fazê-lo em Lisboa na sede da ADFA.
O Chefe da Força Aérea vai estar lá também, e tenho já confirmados alguns nomes, alguns ex-comandantes da TAP!
A data ainda não está definida, embora apontemos para um sábado Abril.
Quero também informar que já temos mais um psiquiatra a trabalhar connosco (dois, agora), que poderão fazer consultas "particulares" (o preço será informado aquando da marcação, caso não tenham ADME), e também Clínica Geral.
Claro que, recordo novamente, não tendo ADM, a consulta será por inteiro, mas são 30€ (com estacionamento e almoço, agora a 4,50 €).Estou/estamos a envidar esforços para ter muito brevemente estomatologia.
Tentaremos, logo que possível, acordos com ADSE ou outras entidades - não ainda -, infelizmente, mas garanto brevidade!
Abraço
Luís Nabais
VB:Companheiros da ADFA, representada pelo Luís Nabais, com alguma surpresa e emoção até, que lemos e publicamos esta vossa iniciativa.
Surpresa porque sempre, e ainda hoje, o pessoal da FAP é alvo de diversas opiniões extremamente injustas por parte de muitos que cujo o objectivo da sua participação no TO eram, à época, era defender o seu gabinete e os respectivos escudos, os pesos se calhar nem precisavam deles para a vida que faziam... Em contrapartida, reconheço a angustia e o desespero que existiu muitas vezes que era solicitada a nossa presença e esta não era correspondida, obrigando-vos a criarem uma opinião revoltante em relação a nós.
Só não fizemos o que não pudemos. Muitas evacuações foram feitas em condições que vós próprios (ADFA) sabem melhor que ninguém, pondo em risco a nossa própria vida, para salvar a dos outros que infelizmente muitas vezes não valeu de nada e outras que deixou as marcas que muitos de vós ostentam hoje!
Os pilotos, em que condições forneciam o apoio a aéreo?
Recordam-se, certamente, numa semana do ano de 1973, quantos perderam a vida!?
A geografia da Guiné,cujo ponto mais alto +/- 400m é Madina de Boé, o que equivale a dizer que quando uma aeronave descolava de Bissalanca era visível em todo o território, não tinhas árvores ou trincheiras para nos refugiarmos, enfim, os companheiros em terra precisavam de nós.
Pois bem, Luís, se permites, e como os últimos são sempre os primeiros, esqueceram-se de integrar nessa homenagem aquelas cujo o seu empenho na Guerra da Guiné foi louvável, aquelas que salvaram muitas vidas, aquela meia dúzia de pessoas que não tinha mãos a medir, ao ponto de uma delas ter perdido a vida, talhada pelo hélice de um DO 27, quando se preparava para salvar a vida dos outros, AS NOSSAS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS!
Não podem ser esquecidas, Luís!
O Nosso Bem Haja.
Peço-te desculpa, mas estas verdadeiras COMPANHEIRAS DE GUERRA, não podem ser esquecidas neste evento.
Luís, dispõe do nosso/teu blog para o que achares oportuno, tudo faremos para que o vosso desejo seja um êxito.
Aguardo um teu comentário a isto e o que queiras publicar no Blog.
Saudações Aeronáuticas
Victor Barata
Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.
6. Comentário de CV:
Caros camaradas Tertulianos, quem tiver conhecimento do paradeiro de alguma das senhoras Enfermeiras Paraquedistas, verdadeiros Anjos da Guarda, que literalmente desciam dos céus para nos auxiliar nos momentos mais trágicos das nossas jovens vidas, façam favor de contactar o Luís Nabais ou o Victor Barata.
A iniciativa da ADFA é louvável e os deficientes, mais que ninguém, reconhecem o quanto valiosa foi a acção dos nossos camaradas das Força Aérea onde se incluem, por voarem, os Pilotos, Mecânicos e Enfermeiras Pára-quedistas. Não podemos contudo esquecer, os Especialistas que em terra tudo faziam para manter operacionais as aeronaves.
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3887: Iniciativas da ADFA em Lisboa (Luís Nabais)
Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)
Guiné > Zona Leste > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento (1966). Uma das raras imagens do aquartelamento e tabanca de Madina do Boé, que conhecemos. Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presume-se que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-capitão miliciano da CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, membro da nossa Tabanaca Grande, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66 (autor do livro Uma campanha na Guiné, 1965/67) (*).
Guiné-Bissau> Picada de Cheche-Gabu > 1998 > Quase trinta anos depois da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969, ainda eram brutalmenmte vísiveis os sinais das emboscadas e das minas que fizeram do triângulo do Boé (Cheche, Beli e Madina) um verdadeiro cemitério para os homens e as suas máquinas de guerra... Fotos tiradas pelo Xico Allen na viagem, de 1998, que fez à Guiné, tendo percorrido entre outras a estrada de Quebo (Aldeia Formosa) - Madina do Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego)...
Fotos: © Xico Allen (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do Miguel Pessoa (na foto à esquerda, ao lado da esposa , Giselda Antunes), com conhecimento ao António Matos, ambos ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74:
Assunto - Madina do Boé [ 24 de Setembro de 1973]
[Bold a cor, da responsabilidade do editor L.G.]
Caro Luís:
Tendo em atenção os comentários já surgidos ao poste sobre a declaração da independência da Guiné-Bissau (*), apenas posso deixar-te aqui algumas ideias, pois a memória por vezes prega-nos partidas e a documentação existente é pouca ou nenhuma (o que é o meu caso pessoal).
Os registos na caderneta de voo, pelo menos naquela época, limitavam-se a referir o modelo e matrícula do avião, o tipo de missões efectuadas (ATIP, BOP, RFOT, etc.), o local de descolagem e aterragem e o tempo de voo efectuado nas diversas condições de tempo (contacto com o terreno, por instrumentos, etc).
No caso do Fiat, que por norma descolava e aterrava na BA12, apareceria na caderneta BA12-BA12-Local (nem aparece a localização dos objectivos). Essa parte era objecto de um relatório de missão, em que se relatava o local, a acção desenvolvida, os resultados obtidos, os comentários achados adequados.
Ora, esses relatórios eram entregues nas Operações do GO1201, analisados nas Informações do Grupo Operacional e disseminados pelos pilotos naquilo que fosse importante reter. Após o 25 de Abril, quando se começou a antever a retirada das nossas forças da Guiné, grande parte desse material foi destruída - daí a dificuldade que hoje temos em reconstruir um determinado acontecimento daquela época.
É por isso que, quando se fala de Madina do Boé, temos dificuldade em rever o nosso papel nessa data (digo temos porque estive a falar com o António Matos sobre este assunto).
De uma coisa tenho a certeza: Naquela data não se bombardeou a zona do antigo aquartelamento, o que me parece lógico, dadas as implicações que um eventual massacre entre a assistência poderia ter a nível internacional. Naquele período fizeram-se reconhecimentos fotográficos na área, não se tendo detectado quaisquer movimentos (de guerrilheiros ou de população).
Tenho missões registadas na minha caderneta, em todos os dias à volta dessa data, mas não posso lembrar-me onde foram efectuadas - isso não ficou explicitado. E o mesmo se passa com o António (que, a propósito, me autorizou a falar em nome dele).
Recordo-me que próximo dessa data se preparou uma missão com forças terrestres (paraquedistas? operações especiais?) que foram colocadas na zona de Madina, não tendo referenciado ninguém no local (lembro-me que alguém teve a iniciativa de levar uma faiança das Caldas, que deixou no terreno com uma dedicatória para um importante guerrilheiro do PAIGC).
Na visita que fiz ao Guileje, em 1995, em conversa com uma figura importante do PAIGC, foi-me confirmado que o local da cerimónia não tinha sido propriamente em Madina do Boé (por ser facilmente referenciado) mas mais a sul - fiquei com a ideia que esse "mais a sul" seria até para lá da fronteira.
Sem pretender botar sapiência cá para fora, limitei-me a tentar dar alguns esclarecimentos sobre este período importante da História da Guiné - da nossa História e da do lado oposto. Se vires algum préstimo nestas linhas, publica-as.
Um abraço. Miguel Pessoa
PS 1 - Um particular para ti:
Depois de ter lido referências às cerca de 400 missões que tinha feito na Guiné como comprovativo do esforço que a Força Aérea fez na Guiné, antes e depois do Strela, fiquei com receio de ter exagerado no número, embora o tivesse na cabeça como referência. Como sabes, por vezes uma declaração errada pode afectar a credibilidade de tudo o que dissemos antes (por mais verdadeiro que fosse).
Já descansei a alma, pois entretive-me a contar as missões efectuadas na minha caderneta de voo - 408 (o que está de acordo com a minha afirmação inicial), 409 se contarmos com o voo em que fui abatido (por pudor, não registei na caderneta os 20 ou 25 minutos que estive no ar no dia 25MAR73, pois parece-me que, para contar como missão, é de bom tom devolver o avião no fim do voo...).
O número peca por pequeno, embora eu tenha 4 meses de atenuantes. De qualquer modo, o António Matos terá feito bastantes mais.
PS 2 - Por favor expurga deste texto tudo o que possas considerar melindroso ou possa pôr alguém em causa.
2. Comentário de L.G.:
Como tu próprio me disseste ao telefone, tu eras um simples tenente piloto aviador (tal como o António Matos). É bom lembrá-lo. Não tinhas que pensar globalmente, apenas localmente. Muitas das decisões, muitos dos actos e omissões, nossos e dos nosso IN de então, ainda estão (ou ficaram) no segredo dos deuses... Isso não nos impede de partilhar aquilo que sabíamos ontem e que sabemos hoje, tentando uns com os outros juntar as mil e uma peças do puzzle...
Muitos dirão que é um verdadeiro suplício de Sísifo, que nunca lá chegaremos, ao cume da montanha (neste caso, da verdade). Respondo: não estamos a competir com ninguém, a não ser contra o tempo (inexorável)... Estamos a lutar contra nós próprios e a ignorância dos outros, nossos contemporâneos, que nunca souberam onde ficaram o Cheche ou Madina do Boé. Já que lá estivemos, na Guiné, entre 1963 e 1974, queremos conhecer e compreender o que lá andámos a fazer, o como e o porquê... É natural, é legítimo, é o único direito que não nos podem roubar ou negar...
Há falhas na nossa memória individual, há grandes lacunas no conhecimento de muitos acontecimentos de que fomos actores ou testemunhas... Eu não estava lá em 24 de Setembro de 1973, mas já tinha pago o bilhete, sob a forma de trabalhos (es)forçados entre Maio de 1969 e Março de 1971, para ver o resto do filme...
Adorei, Miguel, essa do boneco das Caldas. Havia tugas com sentido de humor. Aliás, havia gajos com sentido de humor, de um lado e de outro. Temos, no nosso blogue, alguns grandes humoristas da guerra. Já aqui publicámos textos de antologia, como os do Jorge Cabral ("Cabral só há um, o de Missirá, e mais nemhum", diria o Corco Só, mítico guerrilheiro, morto em combate, comandante da base - barraca... - de Madina / Belel, um dos raros comandantes fulas do PAIGC, que deixava papéis nas árvores do Cuor, em 1969, com ameaças de morte ao nosso camarada Beja Santos)...
Obrigado, Miguel, obrigado, António, pelos vossos dois cêntimos para este novo dossiê... Há mais malta disposta a dar mais uns tantos cêntimos para este peditório... É pouco ? Não, é muito, é de gente generosa e solidária.... Que não nos falte, Miguel, o tempo e a pachorra. Ah!, já me ia esquecendo de te dizer: aprecio a tua honestidade intelectual... De facto, contabilizaste apenas (!) 408 missões (completas e bem sucedidas).
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)
Guiné-Bissau> Picada de Cheche-Gabu > 1998 > Quase trinta anos depois da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969, ainda eram brutalmenmte vísiveis os sinais das emboscadas e das minas que fizeram do triângulo do Boé (Cheche, Beli e Madina) um verdadeiro cemitério para os homens e as suas máquinas de guerra... Fotos tiradas pelo Xico Allen na viagem, de 1998, que fez à Guiné, tendo percorrido entre outras a estrada de Quebo (Aldeia Formosa) - Madina do Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego)...
Fotos: © Xico Allen (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do Miguel Pessoa (na foto à esquerda, ao lado da esposa , Giselda Antunes), com conhecimento ao António Matos, ambos ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74:
Assunto - Madina do Boé [ 24 de Setembro de 1973]
[Bold a cor, da responsabilidade do editor L.G.]
Caro Luís:
Tendo em atenção os comentários já surgidos ao poste sobre a declaração da independência da Guiné-Bissau (*), apenas posso deixar-te aqui algumas ideias, pois a memória por vezes prega-nos partidas e a documentação existente é pouca ou nenhuma (o que é o meu caso pessoal).
Os registos na caderneta de voo, pelo menos naquela época, limitavam-se a referir o modelo e matrícula do avião, o tipo de missões efectuadas (ATIP, BOP, RFOT, etc.), o local de descolagem e aterragem e o tempo de voo efectuado nas diversas condições de tempo (contacto com o terreno, por instrumentos, etc).
No caso do Fiat, que por norma descolava e aterrava na BA12, apareceria na caderneta BA12-BA12-Local (nem aparece a localização dos objectivos). Essa parte era objecto de um relatório de missão, em que se relatava o local, a acção desenvolvida, os resultados obtidos, os comentários achados adequados.
Ora, esses relatórios eram entregues nas Operações do GO1201, analisados nas Informações do Grupo Operacional e disseminados pelos pilotos naquilo que fosse importante reter. Após o 25 de Abril, quando se começou a antever a retirada das nossas forças da Guiné, grande parte desse material foi destruída - daí a dificuldade que hoje temos em reconstruir um determinado acontecimento daquela época.
É por isso que, quando se fala de Madina do Boé, temos dificuldade em rever o nosso papel nessa data (digo temos porque estive a falar com o António Matos sobre este assunto).
De uma coisa tenho a certeza: Naquela data não se bombardeou a zona do antigo aquartelamento, o que me parece lógico, dadas as implicações que um eventual massacre entre a assistência poderia ter a nível internacional. Naquele período fizeram-se reconhecimentos fotográficos na área, não se tendo detectado quaisquer movimentos (de guerrilheiros ou de população).
Tenho missões registadas na minha caderneta, em todos os dias à volta dessa data, mas não posso lembrar-me onde foram efectuadas - isso não ficou explicitado. E o mesmo se passa com o António (que, a propósito, me autorizou a falar em nome dele).
Recordo-me que próximo dessa data se preparou uma missão com forças terrestres (paraquedistas? operações especiais?) que foram colocadas na zona de Madina, não tendo referenciado ninguém no local (lembro-me que alguém teve a iniciativa de levar uma faiança das Caldas, que deixou no terreno com uma dedicatória para um importante guerrilheiro do PAIGC).
Na visita que fiz ao Guileje, em 1995, em conversa com uma figura importante do PAIGC, foi-me confirmado que o local da cerimónia não tinha sido propriamente em Madina do Boé (por ser facilmente referenciado) mas mais a sul - fiquei com a ideia que esse "mais a sul" seria até para lá da fronteira.
Sem pretender botar sapiência cá para fora, limitei-me a tentar dar alguns esclarecimentos sobre este período importante da História da Guiné - da nossa História e da do lado oposto. Se vires algum préstimo nestas linhas, publica-as.
Um abraço. Miguel Pessoa
PS 1 - Um particular para ti:
Depois de ter lido referências às cerca de 400 missões que tinha feito na Guiné como comprovativo do esforço que a Força Aérea fez na Guiné, antes e depois do Strela, fiquei com receio de ter exagerado no número, embora o tivesse na cabeça como referência. Como sabes, por vezes uma declaração errada pode afectar a credibilidade de tudo o que dissemos antes (por mais verdadeiro que fosse).
Já descansei a alma, pois entretive-me a contar as missões efectuadas na minha caderneta de voo - 408 (o que está de acordo com a minha afirmação inicial), 409 se contarmos com o voo em que fui abatido (por pudor, não registei na caderneta os 20 ou 25 minutos que estive no ar no dia 25MAR73, pois parece-me que, para contar como missão, é de bom tom devolver o avião no fim do voo...).
O número peca por pequeno, embora eu tenha 4 meses de atenuantes. De qualquer modo, o António Matos terá feito bastantes mais.
PS 2 - Por favor expurga deste texto tudo o que possas considerar melindroso ou possa pôr alguém em causa.
2. Comentário de L.G.:
Como tu próprio me disseste ao telefone, tu eras um simples tenente piloto aviador (tal como o António Matos). É bom lembrá-lo. Não tinhas que pensar globalmente, apenas localmente. Muitas das decisões, muitos dos actos e omissões, nossos e dos nosso IN de então, ainda estão (ou ficaram) no segredo dos deuses... Isso não nos impede de partilhar aquilo que sabíamos ontem e que sabemos hoje, tentando uns com os outros juntar as mil e uma peças do puzzle...
Muitos dirão que é um verdadeiro suplício de Sísifo, que nunca lá chegaremos, ao cume da montanha (neste caso, da verdade). Respondo: não estamos a competir com ninguém, a não ser contra o tempo (inexorável)... Estamos a lutar contra nós próprios e a ignorância dos outros, nossos contemporâneos, que nunca souberam onde ficaram o Cheche ou Madina do Boé. Já que lá estivemos, na Guiné, entre 1963 e 1974, queremos conhecer e compreender o que lá andámos a fazer, o como e o porquê... É natural, é legítimo, é o único direito que não nos podem roubar ou negar...
Há falhas na nossa memória individual, há grandes lacunas no conhecimento de muitos acontecimentos de que fomos actores ou testemunhas... Eu não estava lá em 24 de Setembro de 1973, mas já tinha pago o bilhete, sob a forma de trabalhos (es)forçados entre Maio de 1969 e Março de 1971, para ver o resto do filme...
Adorei, Miguel, essa do boneco das Caldas. Havia tugas com sentido de humor. Aliás, havia gajos com sentido de humor, de um lado e de outro. Temos, no nosso blogue, alguns grandes humoristas da guerra. Já aqui publicámos textos de antologia, como os do Jorge Cabral ("Cabral só há um, o de Missirá, e mais nemhum", diria o Corco Só, mítico guerrilheiro, morto em combate, comandante da base - barraca... - de Madina / Belel, um dos raros comandantes fulas do PAIGC, que deixava papéis nas árvores do Cuor, em 1969, com ameaças de morte ao nosso camarada Beja Santos)...
Obrigado, Miguel, obrigado, António, pelos vossos dois cêntimos para este novo dossiê... Há mais malta disposta a dar mais uns tantos cêntimos para este peditório... É pouco ? Não, é muito, é de gente generosa e solidária.... Que não nos falte, Miguel, o tempo e a pachorra. Ah!, já me ia esquecendo de te dizer: aprecio a tua honestidade intelectual... De facto, contabilizaste apenas (!) 408 missões (completas e bem sucedidas).
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)
Guiné 63/74 - P3910: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (22): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte I)
Fundação Mário Soares > Dossiês Temáticos da do Arquivo e Biblioteca > Guiledje: Na Rota da Independência da Guiné-Bissau: Simpósio INternacioanld e Guiledje, 1-7 de Março de 2008 > "Ocupação do Quartel de Guiledje pelo PAIGC, 22 de Maio de 1973: bandeira do PAIGC hasteada no quartel de Guiledje.[05360.000.267] · Documentos Amílcar Cabral (13/23)" [Rectificação da legenda: a entrada do PAIGC em Guileje deu-se três dias depois, em 25 de Março de 1973].
Foto: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2009).
1. Mensagem do Coutinho e Lima, Cor Art Ref (aqui na foto, à esquerda, major de artilharia, comandante do COP5, na inauguração do bar de sargentos, aquartelamento de Guileje, 15 de Março de 1973)
Comentário sobre a apreciação de A RETIRADA DE GUILEJE , feita por António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*)
[Revisão, fixação de texto, itálicos e negritos: editor L.G.]
1ª. Parte
Quando o livro A RETIRADA DE GUILEJE (**) passou a ser do domínio público, admiti que o mesmo, tal como o Gen Espírito Santo escreveu no Prefácio, "…levantará comentários, merecerá repúdios e receberá aplausos”.
Esperava que, nomeadamente quem discordasse da decisão que tomei, o fizesse de forma racional, objectiva e séria. Não foi o que aconteceu com a apreciação do Sr Ten Gen (na situação de Reserva) da Força Aérea, António Martins de Matos, ao apresentar uma crítica facciosa, porque não isenta, superficial, porque não analisa as causas e não é verdadeira, porque contem afirmações e conclusões falsas.
Posto isto, vamos aos factos.
Diz o Sr Ten Gen que:
“…não pretendo demonstrar que a minha verdade é melhor que a verdade dos outros”.
Relativamente à Retirada de Guileje não há diversas verdades, mas sim A VERDADE DOS FACTOS, que é o subtítulo do livro; cada comentador tem a sua versão, sendo que a do Sr Ten Gen é a “versão aérea”.
Fiquei a saber que, após "a chegada dos mísseis Strela, as missões passaram a ser mais efectivas (novo armamento até aí não utilizado)”.
Era interessante saber qual o armamento até aí não utilizado e porquê; no que respeita a evacuações, a partir de Guileje, a eficácia passou a ser nula, já que a Força Aérea deixou de as fazer.
“Do que vivi in loco…”
A vivência do Sr Ten Gen foi única e simplesmente uma vivência do ar, na verdadeira acepção da palavra; embora com uma visão abrangente da Zona de Acção, que até lhe permitia localizar as bases de fogos inimigas, demonstrou um grande desconhecimento da situação em terra.
Uma das conclusões, após a leitura do livro, é:
“Desde 6 de Maio que os Gr Comb de Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel (excepção feita à tentativa de coluna a 18 de Maio…”.
Esta conclusão é uma mentira.
Basta ler o Anexo V (pág 408); neste, são referidas colunas de reabastecimento nos dias 7, 11, 14 e 16 MAI, isto é, 4 colunas.
Diariamente, era realizado o abastecimento de água, a cargo de 2 Gr Comb; porque se tratava de uma actividade de rotina, não é referida no livro.
No dia 18 MAI, à tarde, foi feito o reabastecimento de água, este com alguns percalços (ver pág. 200, resposta à 7ª Pergunta e pág 266, comentário 1.).
A última saída de Gr Comb realizou-se na manhã do dia 19 MAI, para um patrulhamento e evacuação de feridos, na direcção de Mejo, até ao Rio Afiá. A propósito desta evacuação, leia-se, na pág. 47, a mensagem (6):
“NÃO SATISFAÇÃO … EVACUAÇÕES (Y)…”, bem como as pág. 42 e 43 – 11. Visita a Guileje do Sr General Comandante-Chefe, em 11 MAI 73.
Refere-se que, por falta de evacuação (garantida pelo Sr Comandante-Chefe e não cumprida), um Cabo Metropolitano acabou por morrer, 4 horas depois de ter sido gravemente ferido.
O que o Sr Ten Gen naturalmente quereria dizer era que, a partir de 19 MAI (e não 6 MAI), não mais saíram Gr Comb de Guileje. E este procedimento tem uma explicação; face à certeza de não haver evacuações, a partir de Guileje, qual era o Comandante responsável que, atribuía missões de alto risco aos seus subordinados, sem estar garantido o seu socorro, se necessário; havendo feridos graves, acabariam por morrer, como já acontecera em 18 MAI; foi esta a razão por que o Comandante das forças, em Guileje, responsavelmente, não mandou sair tropas do quartel, depois de 19 MAI73.
"… o Guileje não podia estar cercado…"
No livro, só há uma referência a cerco; é a mensagem (37), na pág. 60, enviada de Guileje, no dia 21 MAI, às 14h15: “ESTAMOS CERCADOS POR TODOS OS LADOS”.
Esta mensagem, que está também na contra-capa do livro, foi da autoria do Sr Capitão Quintas, Comandante da guarnição, na minha ausência; foi a apreciação que fez da situação, naquele preciso momento.
È evidente que o quartel não estava cercado, porque se o estivesse, eu e 2 Gr Comb vindos de Gadamael não teríamos entrado, ao fim da tarde do dia 21 MAI. Mas não tenha a mais pequena dúvida o Sr Ten Gen que o cerco estava a apertar; na tarde desse dia 21 MAI, um grupo inimigo actuou do lado de Mejo, pela primeira vez; eram forças do 3º CE (Corpo de Exército), que tinham chegado para reforçar o dispositivo do PAIGC (ver pág 55 e 56, mensagem (27), enviada pela Repartição de Informações). Naturalmente não vinham para nenhuma colónia de férias...
Porque o cerco não estava completo, foi possível efectuar, com pleno êxito, a retirada na manhã do dia 22 MAI, tirando partido do efeito de surpresa, de tal modo que o Inimigo continuou a flagelar Guileje até ao dia 25 MAI, quando entrou no aquartelamento deserto.
E seria interessante saber quais foram as ordens que o Comando-Chefe deu à Força Aérea para vigilância e actuação na área; procurei colher elementos, no Arquivo Histórico Militar do Estado Maior da Força Aérea, relativamente ao emprego desta na zona de Guileje, no período de 22/25 MAI, mas nada consegui. Com o quartel vazio, era mais que certo que o PAIGC, a curto prazo, lá entrasse; com um reconhecimento adequado, durante aquele período, poderia o Inimigo ser surpreendido, nomeadamente quando chegasse a Guileje, constituindo um objectivo altamente remunerador e uma oportunidade única que foi perdida pela Força Aérea.
O Sr Ten Gen afirma ainda:
“Prova disso é o facto de terem fugido cerca de 600 pessoas…”.
Sendo uma pessoa responsável, o Sr Ten Gen sabe muito bem que não houve uma fuga (saída precipitada e desordenada), mas sim uma retirada, devidamente comandada, de acordo com as circunstâncias concretas no local. Fuga, ou melhor, debandada, verificou-se, mais tarde, em Gadamael (a seu tempo lá irei) (***).
“Há a confirmação de que as bocas de fogo se situavam para além da fronteira…”.
É fácil fazer afirmações; o Sr Ten Gen, para dar credibilidade ao que afirma, terá que apresentar provas concludentes do que afirma, acerca da localização das bases de fogo inimigas. A sua reacção à intervenção do Nuno Rubim (os alcances podiam ser superiores), quando este indicou os alcances máximos das armas utilizados pelo PAIGC contra Guileje, é tão gratuita quanto a afirmação supra.
Nós, em Guileje, tínhamos a certeza que as bases de fogos estavam bem dentro do nosso território; com os meios expeditos de que dispúnhamos, pudemos verificar que, uma base de fogos do Morteiro 120 se situava a cerca de 4 kms; sendo o alcance máximo desta arma 5700 metros, era impossível estar para lá da fronteira e atingir o quartel, porque verificámos variadíssimos rebentamentos de granadas de 120 dentro do arame farpado.
“…os obuses de 14 cm… só esporadicamente foram usados…”
Mais uma conclusão errada, frontalmente desmentida no livro.
Com efeito, pode verificar-se, nomeadamente nas declarações que prestaram no processo, os Oficiais presentes em Guileje, (Respostas à 5ª. Pergunta, pág 190 a 200), em que todos foram unânimes em afirmar que as reacções pelo fogo às flagelações inimigas eram feitas também pelos Obuses de 14 cm.
Na pág 247, o Sr Alf Mil Pinto dos Santos, Comandante do 15º Pelotão de Art, em Guileje, declarou (Resposta à 6ª Pergunta) que:
“…executei cerca de 70 tiros…”, em reacção à emboscada de 18MAI; o mesmo Oficial afirma que, no início do período, havia cerca de 400 munições completas.
Contrariamente ao PAIGC, que mostrava não ter qualquer restrição no consumo de munições, especialmente de Armas Pesadas, o COP 5 tinha gravíssimos problemas nesse domínio; desde o início do ataque, porque não sabíamos quanto tempo ia durar, houve a preocupação de adoptar um consumo parcimonioso, especialmente com as munições das Armas Pesadas, Artilharia incluída, pois tínhamos a certeza, especialmente depois da emboscada do dia 18, impedido que foi o acesso por estrada a Gadamael, que se houvesse uma situação de emergência, não seríamos reabastecidos.
Recordo que em Guidage, houve que proceder a um reabastecimento de munições de emergência, no próprio dia do início do ataque – 8 MAI (ver pág 88, mensagem de 081525MAI73). Em Guileje, tal não seria possível, dado que a Força Aérea tinha cancelado, para esta localidade, todo e qualquer vôo; não questiono esta decisão, mas limito-me a constatar factos.
Concluindo, os 2 Obuses de 14 cm (no início apenas um, porque o outro chegou avariado), reagiram pelo fogo às flagelações inimigas, quando foi considerado oportuno, mas sempre tendo em atenção a reduzida quantidade de granadas existente.
“Guileje, uma manobra de diversão, para desviar a FAP de Guidage…”
A acção do Inimigo em Guidage teve início em 8 MAI 73; o Comando-Chefe hipotecou a quase totalidade das suas reservas, no reforço a esta guarnição.
Não estão incluídos, no meu livro, elementos de informação acerca da intenção do PAIGC, relativamente a Guidage, porque isso não foi objecto da minha investigação.
No que a Guileje diz respeito, remeto o Sr Ten Gen para o Anexo VI (pág 410); à data do relatório de interrogatório nº 108 (27 DEZ 72, antes da criação do COP 5), ficou a saber-se:
“…o IN pretende fazer um ataque com bastante força a Guileje, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de Guileje. Para isso, ficaram em Kandiafara alguns elementos que vieram recentemente de um estágio de Artilharia na Rússia, para fazerem reconhecimentos na área de Guileje e preparar essa acção”.
Na pág 359, o ex-Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva, refere:
“Foi em Agosto ou Setembro de 1972…que Cabral me confiou a tarefa de preparar as condições de um ataque em força sobre Guileje…”.
No artigo, transcrito do Jornal Público, é descrita a minuciosa preparação e os reconhecimentos efectuados, tendo em vista a concretização do “ataque em força a Guileje”.
Dos dois documentos resulta, para mim, com toda a evidência, que o PAIGC planeou, com vários meses de antecedência, a acção sobre Guileje e que esta acção constituía um objectivo prioritário; se assim não fosse, como se explica que Cabral tenha afirmado (pág 358): “Se o quartel de Guileje cair, cai tudo à volta”.
O Comando-Chefe que, certamente, tinha mais elementos de informação sobre as intenções do PAIGC, parece que não os teve em consideração; só assim se compreende que não tenha tomado nenhuma medida preventiva, para fazer face à acção em força sobre Guileje, pré-anunciada com muita antecedência.
Guileje não foi uma manobra de diversão; pelo contrário, o ataque a Guidage foi, para o PAIGC um objectivo secundário, com a intenção de “obrigar” o Comando-Chefe a dividir as suas forças, de reforço aos dois ataques: Guileje, objectivo prioritário e Guidage, acção secundária.
Certamente que nem o PAIGC imaginava que a actuação do Comando-Chefe lhe fosse tão favorável, ao reforçar Guidage como o fez, deixando a guarnição de Guileje entregue à sua sorte, sem qualquer espécie de reforço. E nem se argumente que, tendo Guidage sido atacado em primeiro lugar, havia que avançar com socorro imediato; certamente que aquela guarnição, em posição muito crítica, teria que receber reforço de emergência.
Não é porém aceitável a actuação do Comando-Chefe, quando não antecipou o que iria acontecer em Guileje que, de acordo com as informações disponíveis, tinha obrigação de prever o que se tinha como certo e, quando se impunha o seu reforço, este não foi accionado.
“A questão que se põe é a de saber porque razão as missões no Guileje não terão tido sucesso?”
Esta pergunta terá que ser formulada, pelo Sr Ten Gen, à Força Aérea.
"…igualmente por falha do Guileje, que já não era capaz de indicar de onde tinham partido os ataques, limitando-se a afirmar “bombardeiem todas as
matas à volta do quartel”.
“Vamos comprar uma B52 e já voltamos…
Na pág. 57, a mensagem (30), enviada da CCAV 8350 (Guileje), em 210710 MAI73, refere:
“REF 1582/BM NOTAL
INFORMO DEVEM ESTAR ORLA MATA. ESTOU SER ATACADO. PRECISO
REFORÇO URGENTE HELI-CANHÃO, PESSOAL, FIAT”
A mensagem 1582/BM (nº 27, pp 55/56), tinha sido recebida da Rep. de Informações (201900 MAI73), referindo a presença do “3º C.E. NAS MATAS DE MEJO”.
Foi, certamente, na sequência dessa mensagem 30, que o então Ten Pilav Matos sobrevoou Guileje, em apoio de fogo. Perante o teor da dita mensagem, pode depreender-se a situação vivida em terra; o pedido de bombardeamento à volta do quartel era inadequado, por razões de segurança; a sugestão do Piloto para utilizarem a Artilhraia foi, igualmente, pouco inteligente, porque esse emprego, que teria de ser na modalidade de tiro directo, acarretava também problemas de segurança.
A resposta com “raiva” de “Vamos comprar uma B52 e já voltamos”, de “mau gosto”, como escreve o Sr Ten Gen (eu diria de péssimo gosto), só demonstra a incompreensão de quem está a ver Guileje de cima e não fazia ideia, nem tentou fazer um pequeno esforço, para imaginar o que se passava em terra. A raiva descarregada sobre o Fur Alfaiate, que não tinha culpa nenhuma do que estava a acontecer, melhor seria despejada sobre as forças do Inimigo.
Em Guileje, o pessoal não dormia, desde a noite de 18/19, até àquela data já contabilizava 30 flagelações e não tinha em quem descarregar a sua raiva.
“…a comparação dos números de mortos e feridos em Guidage e Guileje é, por si
só, clarificadora do que efectivamente ocorreu nesse período e de quem mais ne-
cessitava de apoio”.
Não admirava que em Guidage tivesse já havido mais mortos e feridos, porque esta guarnição tinha sido fortemente reforçada com Fuzileiros, Paraquedistas e Comandos e outras forças; além disso, Guileje dispunha de abrigos de cimento armado, construídos pela Engenharia Militar, nos quais se recolheram, desde o início das flagelações, todos os militares, milícia e população. Foi esta a principal razão, por que não houve grande número de baixas (infelizmente, tivemos um morto).
Já que Guileje não tinha tido direito a nenhum reforço, restava-nos a Força Aérea que, pela voz de um dos seus Pilotos, achava que a sua missão era mais necessária em Guidage. Ainda bem que esse Piloto não tinha poder de decisão, pois se o tivesse, certamente teríamos tido menos Apoio Aéreo do que aquele que recebemos.
(CONTINUA)
2. Comentário de L.G.:
No próprio dia de recepção do texto, 2 de Fevereiro, dei conhecimento do seu teor ao António, em primeira mão... Disse-lhe:
Procuro ser leal para com todos os membros da nossa Tabanca Grande. Logo verás o que tens a dizer, se achares que vale a pena responder... Se quiseres responder, podemos juntar as duas peças...
Ele respondeu-me logo a seguir, no dia 3, nestes termos:
Caro amigo: Obrigado pela informação. Não é minha intenção responder aos comentários do Cor Coutinho e Lima. A razão é simples, o responder a comentários, dos comentários, dos comentários, .... só serve para alimentar guerras e guerrinhas para as quais não estou interessado.
Digo o que tenho a dizer, quem achar que está correcto muito bem, quem não achar e expressar a sua visão contrária, igualmente muito bem, todos têm direito à sua (deles) opinião.
Se no caso do Nuno Rubim acabei por responder ao comentário, foi apenas pelo facto de, escudando-se no seu papel de “historiador e dono da verdade” os seus escritos terem “quase” aflorado a ofensa verbal. Não é o caso do Cor Coutinho e Lima, cujo texto, ainda que divergente do meu, em termos de educação é absolutamente correcto, com um único senão de ser escrito com o coração.
Conforme te disse, para mim este assunto está encerrado. (...)
Mais tarde, a 11 de Fevereiro, mandei-lhe o seguinte mail:
(...) As polémicas/controvérsias provocam sempre alguma tensão... Ao fim destes três anos e meio, com mais de 300 membros e cerca de 3870 postes, a malta do blogue (que é a malta dos três ramos das FA que passaram pela Guiné, 1963/74), já aprenderam a viver e a conviver com as suas diferenças e as suas comunalidades... Tens aqui uma bela montra, plural, respeitável, séria, solidária, para mostrares e reforçares o papel da FAP na Guiné... Todos reconhecemos que esse historial (glorioso e generoso) não é ainda suficientemente bem conhecido... Espero a vir-te a conhecer pessoalmente, tal como aconteceu há dias com o Miguel Pessoa e a Giselda. (...)
_____
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
11 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim
8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)
29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)
20 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3764: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (16): As CCAV 8350 e 8351: Tão perto e tão longe (Vasco da Gama)
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3754: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (14): Pode não ser-se herói e dar provas de coragem (José Manuel Dinis)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)
15 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)
14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
11 de Janeiro de 2009 > Guíné 63/74 - P3725: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (10): PAIGC dispara um milhar de granadas entre 18 e 22 de Maio de 1973
8 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3712: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (9): Para breve a 2ª edição do livro (Luís Graça)
6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)
2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)
31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)
14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)
27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)
31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)
(**) Alexandre Coutinho e Lima, Cor Art: A retirada de Guileje: a verdade dos factos. LInda-a Velha: DG Edições. 2008. c. 22/24€ (incluindo portes de correio). Para adiquirir o o livro, escrever ou telefonar para o autor:
Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq1500 – 599 LISBOA
Telefone: 217608243Telemóvel: 917931226
Email: icoutinholima@gmail.com
(***) Vd. também os postes de :
24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)
27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
Foto: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2009).
1. Mensagem do Coutinho e Lima, Cor Art Ref (aqui na foto, à esquerda, major de artilharia, comandante do COP5, na inauguração do bar de sargentos, aquartelamento de Guileje, 15 de Março de 1973)
Comentário sobre a apreciação de A RETIRADA DE GUILEJE , feita por António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*)
[Revisão, fixação de texto, itálicos e negritos: editor L.G.]
1ª. Parte
Quando o livro A RETIRADA DE GUILEJE (**) passou a ser do domínio público, admiti que o mesmo, tal como o Gen Espírito Santo escreveu no Prefácio, "…levantará comentários, merecerá repúdios e receberá aplausos”.
Esperava que, nomeadamente quem discordasse da decisão que tomei, o fizesse de forma racional, objectiva e séria. Não foi o que aconteceu com a apreciação do Sr Ten Gen (na situação de Reserva) da Força Aérea, António Martins de Matos, ao apresentar uma crítica facciosa, porque não isenta, superficial, porque não analisa as causas e não é verdadeira, porque contem afirmações e conclusões falsas.
Posto isto, vamos aos factos.
Diz o Sr Ten Gen que:
“…não pretendo demonstrar que a minha verdade é melhor que a verdade dos outros”.
Relativamente à Retirada de Guileje não há diversas verdades, mas sim A VERDADE DOS FACTOS, que é o subtítulo do livro; cada comentador tem a sua versão, sendo que a do Sr Ten Gen é a “versão aérea”.
Fiquei a saber que, após "a chegada dos mísseis Strela, as missões passaram a ser mais efectivas (novo armamento até aí não utilizado)”.
Era interessante saber qual o armamento até aí não utilizado e porquê; no que respeita a evacuações, a partir de Guileje, a eficácia passou a ser nula, já que a Força Aérea deixou de as fazer.
“Do que vivi in loco…”
A vivência do Sr Ten Gen foi única e simplesmente uma vivência do ar, na verdadeira acepção da palavra; embora com uma visão abrangente da Zona de Acção, que até lhe permitia localizar as bases de fogos inimigas, demonstrou um grande desconhecimento da situação em terra.
Uma das conclusões, após a leitura do livro, é:
“Desde 6 de Maio que os Gr Comb de Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel (excepção feita à tentativa de coluna a 18 de Maio…”.
Esta conclusão é uma mentira.
Basta ler o Anexo V (pág 408); neste, são referidas colunas de reabastecimento nos dias 7, 11, 14 e 16 MAI, isto é, 4 colunas.
Diariamente, era realizado o abastecimento de água, a cargo de 2 Gr Comb; porque se tratava de uma actividade de rotina, não é referida no livro.
No dia 18 MAI, à tarde, foi feito o reabastecimento de água, este com alguns percalços (ver pág. 200, resposta à 7ª Pergunta e pág 266, comentário 1.).
A última saída de Gr Comb realizou-se na manhã do dia 19 MAI, para um patrulhamento e evacuação de feridos, na direcção de Mejo, até ao Rio Afiá. A propósito desta evacuação, leia-se, na pág. 47, a mensagem (6):
“NÃO SATISFAÇÃO … EVACUAÇÕES (Y)…”, bem como as pág. 42 e 43 – 11. Visita a Guileje do Sr General Comandante-Chefe, em 11 MAI 73.
Refere-se que, por falta de evacuação (garantida pelo Sr Comandante-Chefe e não cumprida), um Cabo Metropolitano acabou por morrer, 4 horas depois de ter sido gravemente ferido.
O que o Sr Ten Gen naturalmente quereria dizer era que, a partir de 19 MAI (e não 6 MAI), não mais saíram Gr Comb de Guileje. E este procedimento tem uma explicação; face à certeza de não haver evacuações, a partir de Guileje, qual era o Comandante responsável que, atribuía missões de alto risco aos seus subordinados, sem estar garantido o seu socorro, se necessário; havendo feridos graves, acabariam por morrer, como já acontecera em 18 MAI; foi esta a razão por que o Comandante das forças, em Guileje, responsavelmente, não mandou sair tropas do quartel, depois de 19 MAI73.
"… o Guileje não podia estar cercado…"
No livro, só há uma referência a cerco; é a mensagem (37), na pág. 60, enviada de Guileje, no dia 21 MAI, às 14h15: “ESTAMOS CERCADOS POR TODOS OS LADOS”.
Esta mensagem, que está também na contra-capa do livro, foi da autoria do Sr Capitão Quintas, Comandante da guarnição, na minha ausência; foi a apreciação que fez da situação, naquele preciso momento.
È evidente que o quartel não estava cercado, porque se o estivesse, eu e 2 Gr Comb vindos de Gadamael não teríamos entrado, ao fim da tarde do dia 21 MAI. Mas não tenha a mais pequena dúvida o Sr Ten Gen que o cerco estava a apertar; na tarde desse dia 21 MAI, um grupo inimigo actuou do lado de Mejo, pela primeira vez; eram forças do 3º CE (Corpo de Exército), que tinham chegado para reforçar o dispositivo do PAIGC (ver pág 55 e 56, mensagem (27), enviada pela Repartição de Informações). Naturalmente não vinham para nenhuma colónia de férias...
Porque o cerco não estava completo, foi possível efectuar, com pleno êxito, a retirada na manhã do dia 22 MAI, tirando partido do efeito de surpresa, de tal modo que o Inimigo continuou a flagelar Guileje até ao dia 25 MAI, quando entrou no aquartelamento deserto.
E seria interessante saber quais foram as ordens que o Comando-Chefe deu à Força Aérea para vigilância e actuação na área; procurei colher elementos, no Arquivo Histórico Militar do Estado Maior da Força Aérea, relativamente ao emprego desta na zona de Guileje, no período de 22/25 MAI, mas nada consegui. Com o quartel vazio, era mais que certo que o PAIGC, a curto prazo, lá entrasse; com um reconhecimento adequado, durante aquele período, poderia o Inimigo ser surpreendido, nomeadamente quando chegasse a Guileje, constituindo um objectivo altamente remunerador e uma oportunidade única que foi perdida pela Força Aérea.
O Sr Ten Gen afirma ainda:
“Prova disso é o facto de terem fugido cerca de 600 pessoas…”.
Sendo uma pessoa responsável, o Sr Ten Gen sabe muito bem que não houve uma fuga (saída precipitada e desordenada), mas sim uma retirada, devidamente comandada, de acordo com as circunstâncias concretas no local. Fuga, ou melhor, debandada, verificou-se, mais tarde, em Gadamael (a seu tempo lá irei) (***).
“Há a confirmação de que as bocas de fogo se situavam para além da fronteira…”.
É fácil fazer afirmações; o Sr Ten Gen, para dar credibilidade ao que afirma, terá que apresentar provas concludentes do que afirma, acerca da localização das bases de fogo inimigas. A sua reacção à intervenção do Nuno Rubim (os alcances podiam ser superiores), quando este indicou os alcances máximos das armas utilizados pelo PAIGC contra Guileje, é tão gratuita quanto a afirmação supra.
Nós, em Guileje, tínhamos a certeza que as bases de fogos estavam bem dentro do nosso território; com os meios expeditos de que dispúnhamos, pudemos verificar que, uma base de fogos do Morteiro 120 se situava a cerca de 4 kms; sendo o alcance máximo desta arma 5700 metros, era impossível estar para lá da fronteira e atingir o quartel, porque verificámos variadíssimos rebentamentos de granadas de 120 dentro do arame farpado.
“…os obuses de 14 cm… só esporadicamente foram usados…”
Mais uma conclusão errada, frontalmente desmentida no livro.
Com efeito, pode verificar-se, nomeadamente nas declarações que prestaram no processo, os Oficiais presentes em Guileje, (Respostas à 5ª. Pergunta, pág 190 a 200), em que todos foram unânimes em afirmar que as reacções pelo fogo às flagelações inimigas eram feitas também pelos Obuses de 14 cm.
Na pág 247, o Sr Alf Mil Pinto dos Santos, Comandante do 15º Pelotão de Art, em Guileje, declarou (Resposta à 6ª Pergunta) que:
“…executei cerca de 70 tiros…”, em reacção à emboscada de 18MAI; o mesmo Oficial afirma que, no início do período, havia cerca de 400 munições completas.
Contrariamente ao PAIGC, que mostrava não ter qualquer restrição no consumo de munições, especialmente de Armas Pesadas, o COP 5 tinha gravíssimos problemas nesse domínio; desde o início do ataque, porque não sabíamos quanto tempo ia durar, houve a preocupação de adoptar um consumo parcimonioso, especialmente com as munições das Armas Pesadas, Artilharia incluída, pois tínhamos a certeza, especialmente depois da emboscada do dia 18, impedido que foi o acesso por estrada a Gadamael, que se houvesse uma situação de emergência, não seríamos reabastecidos.
Recordo que em Guidage, houve que proceder a um reabastecimento de munições de emergência, no próprio dia do início do ataque – 8 MAI (ver pág 88, mensagem de 081525MAI73). Em Guileje, tal não seria possível, dado que a Força Aérea tinha cancelado, para esta localidade, todo e qualquer vôo; não questiono esta decisão, mas limito-me a constatar factos.
Concluindo, os 2 Obuses de 14 cm (no início apenas um, porque o outro chegou avariado), reagiram pelo fogo às flagelações inimigas, quando foi considerado oportuno, mas sempre tendo em atenção a reduzida quantidade de granadas existente.
“Guileje, uma manobra de diversão, para desviar a FAP de Guidage…”
A acção do Inimigo em Guidage teve início em 8 MAI 73; o Comando-Chefe hipotecou a quase totalidade das suas reservas, no reforço a esta guarnição.
Não estão incluídos, no meu livro, elementos de informação acerca da intenção do PAIGC, relativamente a Guidage, porque isso não foi objecto da minha investigação.
No que a Guileje diz respeito, remeto o Sr Ten Gen para o Anexo VI (pág 410); à data do relatório de interrogatório nº 108 (27 DEZ 72, antes da criação do COP 5), ficou a saber-se:
“…o IN pretende fazer um ataque com bastante força a Guileje, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de Guileje. Para isso, ficaram em Kandiafara alguns elementos que vieram recentemente de um estágio de Artilharia na Rússia, para fazerem reconhecimentos na área de Guileje e preparar essa acção”.
Na pág 359, o ex-Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva, refere:
“Foi em Agosto ou Setembro de 1972…que Cabral me confiou a tarefa de preparar as condições de um ataque em força sobre Guileje…”.
No artigo, transcrito do Jornal Público, é descrita a minuciosa preparação e os reconhecimentos efectuados, tendo em vista a concretização do “ataque em força a Guileje”.
Dos dois documentos resulta, para mim, com toda a evidência, que o PAIGC planeou, com vários meses de antecedência, a acção sobre Guileje e que esta acção constituía um objectivo prioritário; se assim não fosse, como se explica que Cabral tenha afirmado (pág 358): “Se o quartel de Guileje cair, cai tudo à volta”.
O Comando-Chefe que, certamente, tinha mais elementos de informação sobre as intenções do PAIGC, parece que não os teve em consideração; só assim se compreende que não tenha tomado nenhuma medida preventiva, para fazer face à acção em força sobre Guileje, pré-anunciada com muita antecedência.
Guileje não foi uma manobra de diversão; pelo contrário, o ataque a Guidage foi, para o PAIGC um objectivo secundário, com a intenção de “obrigar” o Comando-Chefe a dividir as suas forças, de reforço aos dois ataques: Guileje, objectivo prioritário e Guidage, acção secundária.
Certamente que nem o PAIGC imaginava que a actuação do Comando-Chefe lhe fosse tão favorável, ao reforçar Guidage como o fez, deixando a guarnição de Guileje entregue à sua sorte, sem qualquer espécie de reforço. E nem se argumente que, tendo Guidage sido atacado em primeiro lugar, havia que avançar com socorro imediato; certamente que aquela guarnição, em posição muito crítica, teria que receber reforço de emergência.
Não é porém aceitável a actuação do Comando-Chefe, quando não antecipou o que iria acontecer em Guileje que, de acordo com as informações disponíveis, tinha obrigação de prever o que se tinha como certo e, quando se impunha o seu reforço, este não foi accionado.
“A questão que se põe é a de saber porque razão as missões no Guileje não terão tido sucesso?”
Esta pergunta terá que ser formulada, pelo Sr Ten Gen, à Força Aérea.
"…igualmente por falha do Guileje, que já não era capaz de indicar de onde tinham partido os ataques, limitando-se a afirmar “bombardeiem todas as
matas à volta do quartel”.
“Vamos comprar uma B52 e já voltamos…
Na pág. 57, a mensagem (30), enviada da CCAV 8350 (Guileje), em 210710 MAI73, refere:
“REF 1582/BM NOTAL
INFORMO DEVEM ESTAR ORLA MATA. ESTOU SER ATACADO. PRECISO
REFORÇO URGENTE HELI-CANHÃO, PESSOAL, FIAT”
A mensagem 1582/BM (nº 27, pp 55/56), tinha sido recebida da Rep. de Informações (201900 MAI73), referindo a presença do “3º C.E. NAS MATAS DE MEJO”.
Foi, certamente, na sequência dessa mensagem 30, que o então Ten Pilav Matos sobrevoou Guileje, em apoio de fogo. Perante o teor da dita mensagem, pode depreender-se a situação vivida em terra; o pedido de bombardeamento à volta do quartel era inadequado, por razões de segurança; a sugestão do Piloto para utilizarem a Artilhraia foi, igualmente, pouco inteligente, porque esse emprego, que teria de ser na modalidade de tiro directo, acarretava também problemas de segurança.
A resposta com “raiva” de “Vamos comprar uma B52 e já voltamos”, de “mau gosto”, como escreve o Sr Ten Gen (eu diria de péssimo gosto), só demonstra a incompreensão de quem está a ver Guileje de cima e não fazia ideia, nem tentou fazer um pequeno esforço, para imaginar o que se passava em terra. A raiva descarregada sobre o Fur Alfaiate, que não tinha culpa nenhuma do que estava a acontecer, melhor seria despejada sobre as forças do Inimigo.
Em Guileje, o pessoal não dormia, desde a noite de 18/19, até àquela data já contabilizava 30 flagelações e não tinha em quem descarregar a sua raiva.
“…a comparação dos números de mortos e feridos em Guidage e Guileje é, por si
só, clarificadora do que efectivamente ocorreu nesse período e de quem mais ne-
cessitava de apoio”.
Não admirava que em Guidage tivesse já havido mais mortos e feridos, porque esta guarnição tinha sido fortemente reforçada com Fuzileiros, Paraquedistas e Comandos e outras forças; além disso, Guileje dispunha de abrigos de cimento armado, construídos pela Engenharia Militar, nos quais se recolheram, desde o início das flagelações, todos os militares, milícia e população. Foi esta a principal razão, por que não houve grande número de baixas (infelizmente, tivemos um morto).
Já que Guileje não tinha tido direito a nenhum reforço, restava-nos a Força Aérea que, pela voz de um dos seus Pilotos, achava que a sua missão era mais necessária em Guidage. Ainda bem que esse Piloto não tinha poder de decisão, pois se o tivesse, certamente teríamos tido menos Apoio Aéreo do que aquele que recebemos.
(CONTINUA)
2. Comentário de L.G.:
No próprio dia de recepção do texto, 2 de Fevereiro, dei conhecimento do seu teor ao António, em primeira mão... Disse-lhe:
Procuro ser leal para com todos os membros da nossa Tabanca Grande. Logo verás o que tens a dizer, se achares que vale a pena responder... Se quiseres responder, podemos juntar as duas peças...
Ele respondeu-me logo a seguir, no dia 3, nestes termos:
Caro amigo: Obrigado pela informação. Não é minha intenção responder aos comentários do Cor Coutinho e Lima. A razão é simples, o responder a comentários, dos comentários, dos comentários, .... só serve para alimentar guerras e guerrinhas para as quais não estou interessado.
Digo o que tenho a dizer, quem achar que está correcto muito bem, quem não achar e expressar a sua visão contrária, igualmente muito bem, todos têm direito à sua (deles) opinião.
Se no caso do Nuno Rubim acabei por responder ao comentário, foi apenas pelo facto de, escudando-se no seu papel de “historiador e dono da verdade” os seus escritos terem “quase” aflorado a ofensa verbal. Não é o caso do Cor Coutinho e Lima, cujo texto, ainda que divergente do meu, em termos de educação é absolutamente correcto, com um único senão de ser escrito com o coração.
Conforme te disse, para mim este assunto está encerrado. (...)
Mais tarde, a 11 de Fevereiro, mandei-lhe o seguinte mail:
(...) As polémicas/controvérsias provocam sempre alguma tensão... Ao fim destes três anos e meio, com mais de 300 membros e cerca de 3870 postes, a malta do blogue (que é a malta dos três ramos das FA que passaram pela Guiné, 1963/74), já aprenderam a viver e a conviver com as suas diferenças e as suas comunalidades... Tens aqui uma bela montra, plural, respeitável, séria, solidária, para mostrares e reforçares o papel da FAP na Guiné... Todos reconhecemos que esse historial (glorioso e generoso) não é ainda suficientemente bem conhecido... Espero a vir-te a conhecer pessoalmente, tal como aconteceu há dias com o Miguel Pessoa e a Giselda. (...)
_____
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
11 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim
8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)
29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)
20 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3764: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (16): As CCAV 8350 e 8351: Tão perto e tão longe (Vasco da Gama)
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3754: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (14): Pode não ser-se herói e dar provas de coragem (José Manuel Dinis)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)
15 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)
14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
11 de Janeiro de 2009 > Guíné 63/74 - P3725: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (10): PAIGC dispara um milhar de granadas entre 18 e 22 de Maio de 1973
8 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3712: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (9): Para breve a 2ª edição do livro (Luís Graça)
6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)
2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)
31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)
14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)
27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)
31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)
(**) Alexandre Coutinho e Lima, Cor Art: A retirada de Guileje: a verdade dos factos. LInda-a Velha: DG Edições. 2008. c. 22/24€ (incluindo portes de correio). Para adiquirir o o livro, escrever ou telefonar para o autor:
Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq1500 – 599 LISBOA
Telefone: 217608243Telemóvel: 917931226
Email: icoutinholima@gmail.com
(***) Vd. também os postes de :
24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)
27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)
Guiné-Bissau > Região do Boé > Madina do Boé (?) > 24 de Setembro de 1973 > Imagens da cerimómia da proclamação da independência por parte do PAIGC, na presença de convidados e imprensa estrangeira, segundo a revista PAIGC Actualités, n º 54, Outubro de 1973.
1. Comentário de Luís Graça ao poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8
Uma pergunta para a qual ainda não encontrei resposta:
(i) As autoridades portuguesas (e em especial o Com-Chefe e a nossa polícia política, a DGS) sabiam que, no dia 24 de Setembro de 1973, o PAIGC iria proclamar unilateralmente, com pompa e circunstância, a independência, numa região libertada, a sudeste, neste caso na região do Boé, perto da fronteira com a República da Guiné-Conacri...
(ii) Gostava de saber em que sítio exactamente teve lugar a cerimónia da independência... (Alguém conhece as coordenadas? ).
(iii) A movimentação de pelo menos 120 representantes do Partido, mais os convidados estrangeiros, mais os dirigentes, mais as forças de segurança (não falando dos figurantes...) não poderia facilmente passar despercebida à FAP, que de resto tinha voltado a ser dona dos céus da Guiné...
(iv) Por que é que a FAP não actou nesse dia, sob os céus do Boé ? Não para provocar um massacre de civis (incluindo estrangeiros, o que poderia ter graves repercussões diplomáticas...) mas para afirmar a nossa soberania ou, pura e simplesmente, como prova de força...
O Nº 54 da revista PAIGC Actualités não fornece quaisquer dados para uma resposta a esta questão. Era um órgão de propaganda (ideológica), não de informação (jornalística)... para consumo externo. Obviamente.
Há tempos, (...) conheci o Eng Mário Cabral, que pertenceu ao primeiro governo da Guiné-Bissau, saído da declaração de independência em Madina do Boé. O nome dele e o cargo são, resto, referidos neste nº do PAIGC Actualités, de Outubro de 1973: Eng MÁRIO CABRAL, Sub-Comissário para o Controlo Económico e Financeiro...
(...) O Mário Cabaral (que não tem qualquer parentesco com o Amílcar Cabral nem o Luís Cabreal) é hoje um dos muitos quadros guineenses que viVE fora do seu país natal. Neste caso vive em Portugal. (...).
Na conversa que tive com ele, ...) ele contou-me que estava em Madina do Boé e da preocupação dos militares do PAIGC em relação à segurança. O ambiente era de festa, havia decorações penduradas nas árvores, havia muitas centenas de pessoas espalhadas pela mata, havia muitas mesas e cadeiras, etc., nada que não se visse do ar...
Ele na altura era um jovem, engenheiro, um quadro do exterior (julgo que nunca andou na guerrilha), e compreensivelmente não se sentiria muito confortável num lugar como aquele, num país em guerra...
O que poderia ter acontecido, se a nossa Força Aérea tivesse recebido ordens para bombardear as posições do IN, no dia 24 de Setembro de 1973 ?
Na altura não tive tempo de fazer essa pergunta ao Mário Cabral... Mas gostava de a fazer hoje, a ele, e outros dirigentes e militantes do PAIGC, ainda vivos, que viveram esse momento histórico...
E, já agora, os nossos pilotos... O que diz as suas cadernetas de voo nesse dia ? (...)
2. Idem, do António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Catió, 1972/4):
Eu também não entendo porque a Força Aérea não actuou. A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? Na altura eu soube que um mês depois da proclamação da Independência, o general Bettencourt Rodrigues foi de héli a Madina do Boé, até levou um jornalista alemão que fez uma reportagem. Não encontraram rigorosamente ninguém. (**)
Escrevi isso no meu Diário e há dois anos atrás em conversa com o Cap Mil, José Blanco, secretário pessoal do Spínola e do Bettencourt (1972/74), o meu velho amigo José Blanco confirmou-me que era mesmo verdade, o Bettencourt tinha ido mesmo a Madina do Boé, de héli.Talvez os nosso homens da Força Aérea possam acrescentar mais dados.
Um abraço,
António Graça de Abreu
________
´
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3847: (Ex)citações (15): São momentos destes em que nos tresmalhamos nos carreiros e nas neblinas cobrindo as bolanhas (Mário Fitas)
(**) Vd.Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, p. 16~6.
Cufar, 6 de Dezembro de 1973
O governador, general Bettencourt Rodrigues, foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos [, em 6 de Fevereiro de 1969,] pelas NT, devido à ausência de interesse estratégico da região no extremo da sudeste da Guiné.
O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC ter usado aquela 'zona libertada' para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária.
1. Comentário de Luís Graça ao poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8
Uma pergunta para a qual ainda não encontrei resposta:
(i) As autoridades portuguesas (e em especial o Com-Chefe e a nossa polícia política, a DGS) sabiam que, no dia 24 de Setembro de 1973, o PAIGC iria proclamar unilateralmente, com pompa e circunstância, a independência, numa região libertada, a sudeste, neste caso na região do Boé, perto da fronteira com a República da Guiné-Conacri...
(ii) Gostava de saber em que sítio exactamente teve lugar a cerimónia da independência... (Alguém conhece as coordenadas? ).
(iii) A movimentação de pelo menos 120 representantes do Partido, mais os convidados estrangeiros, mais os dirigentes, mais as forças de segurança (não falando dos figurantes...) não poderia facilmente passar despercebida à FAP, que de resto tinha voltado a ser dona dos céus da Guiné...
(iv) Por que é que a FAP não actou nesse dia, sob os céus do Boé ? Não para provocar um massacre de civis (incluindo estrangeiros, o que poderia ter graves repercussões diplomáticas...) mas para afirmar a nossa soberania ou, pura e simplesmente, como prova de força...
O Nº 54 da revista PAIGC Actualités não fornece quaisquer dados para uma resposta a esta questão. Era um órgão de propaganda (ideológica), não de informação (jornalística)... para consumo externo. Obviamente.
Há tempos, (...) conheci o Eng Mário Cabral, que pertenceu ao primeiro governo da Guiné-Bissau, saído da declaração de independência em Madina do Boé. O nome dele e o cargo são, resto, referidos neste nº do PAIGC Actualités, de Outubro de 1973: Eng MÁRIO CABRAL, Sub-Comissário para o Controlo Económico e Financeiro...
(...) O Mário Cabaral (que não tem qualquer parentesco com o Amílcar Cabral nem o Luís Cabreal) é hoje um dos muitos quadros guineenses que viVE fora do seu país natal. Neste caso vive em Portugal. (...).
Na conversa que tive com ele, ...) ele contou-me que estava em Madina do Boé e da preocupação dos militares do PAIGC em relação à segurança. O ambiente era de festa, havia decorações penduradas nas árvores, havia muitas centenas de pessoas espalhadas pela mata, havia muitas mesas e cadeiras, etc., nada que não se visse do ar...
Ele na altura era um jovem, engenheiro, um quadro do exterior (julgo que nunca andou na guerrilha), e compreensivelmente não se sentiria muito confortável num lugar como aquele, num país em guerra...
O que poderia ter acontecido, se a nossa Força Aérea tivesse recebido ordens para bombardear as posições do IN, no dia 24 de Setembro de 1973 ?
Na altura não tive tempo de fazer essa pergunta ao Mário Cabral... Mas gostava de a fazer hoje, a ele, e outros dirigentes e militantes do PAIGC, ainda vivos, que viveram esse momento histórico...
E, já agora, os nossos pilotos... O que diz as suas cadernetas de voo nesse dia ? (...)
2. Idem, do António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Catió, 1972/4):
Eu também não entendo porque a Força Aérea não actuou. A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? Na altura eu soube que um mês depois da proclamação da Independência, o general Bettencourt Rodrigues foi de héli a Madina do Boé, até levou um jornalista alemão que fez uma reportagem. Não encontraram rigorosamente ninguém. (**)
Escrevi isso no meu Diário e há dois anos atrás em conversa com o Cap Mil, José Blanco, secretário pessoal do Spínola e do Bettencourt (1972/74), o meu velho amigo José Blanco confirmou-me que era mesmo verdade, o Bettencourt tinha ido mesmo a Madina do Boé, de héli.Talvez os nosso homens da Força Aérea possam acrescentar mais dados.
Um abraço,
António Graça de Abreu
________
´
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3847: (Ex)citações (15): São momentos destes em que nos tresmalhamos nos carreiros e nas neblinas cobrindo as bolanhas (Mário Fitas)
(**) Vd.Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, p. 16~6.
Cufar, 6 de Dezembro de 1973
O governador, general Bettencourt Rodrigues, foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos [, em 6 de Fevereiro de 1969,] pelas NT, devido à ausência de interesse estratégico da região no extremo da sudeste da Guiné.
O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC ter usado aquela 'zona libertada' para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária.
Também é verdade que não encontraram vivalma na antiga povoação do Boé, destruída pela guerra em anos passados. Onde estavam os heróis do PAIGC que declararam a independência da Guiné em Madina do Boé ? Talvez não estivessem longe, mas ninguém os viu ?
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)
1. Mensagem de José Carmino Videira Azevedo (*), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71), com data de 21 de Janeiro de 2009:
José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança.
Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"
Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.
Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.
Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor.
Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que
ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra.
Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma.
Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:
- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.
Obrigado meu amigo onde quer que estejas.
Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009
2. Comentário de CV:
Caro José Carmino, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.
Peço desde já desculpa pelo tempo que demorei em publicar a tua apresentação, mas houve uma mensagem minha para ti a que não respondeste e daí esta confusão.
O nosso Editor Luís Graça disse-me que falaste com ele via telefone. Soube assim que és autarca na tua freguesia, que és um periquito nestas coisas dos computadores e que tens na memória, presentes, muitas histórias para nos contares.
Adivinhas que estou a falar da tristemente célebre Operação Ostra Amarga.
Dizes também que estavas por perto quando da carnificina dos nossos camaradas Majores e seus acompanhantes, mortos cobardemente, pois não considero um acto de guerra matar pessoas indefesas. Foram assassinados, é o termo.
Sendo assim, esperamos que comeces a narrar os acontecimentos em que intervieste, para que conheçamos, cada vez com mais pormenores, os casos mais marcantes da guerra da Guiné. Cada um de nós é uma pequena peça deste gigantesco puzzle que nos cabe montar.
Deixo-te o abraço de boas-vindas da ordem, em nome da Tertúlia que te acolhe de braços abertos.
Ficam agora as fotos que nos enviaste.
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53): José C. Videira Azevedo, Sold. Cond. CCav 2487/BCav 2868 (Bula, 1969/70).
Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)
José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança.
Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"
Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.
Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.
Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor.
Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que
ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra.
Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma.
Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:
- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.
Obrigado meu amigo onde quer que estejas.
Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009
2. Comentário de CV:
Caro José Carmino, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.
Peço desde já desculpa pelo tempo que demorei em publicar a tua apresentação, mas houve uma mensagem minha para ti a que não respondeste e daí esta confusão.
O nosso Editor Luís Graça disse-me que falaste com ele via telefone. Soube assim que és autarca na tua freguesia, que és um periquito nestas coisas dos computadores e que tens na memória, presentes, muitas histórias para nos contares.
Adivinhas que estou a falar da tristemente célebre Operação Ostra Amarga.
Dizes também que estavas por perto quando da carnificina dos nossos camaradas Majores e seus acompanhantes, mortos cobardemente, pois não considero um acto de guerra matar pessoas indefesas. Foram assassinados, é o termo.
Sendo assim, esperamos que comeces a narrar os acontecimentos em que intervieste, para que conheçamos, cada vez com mais pormenores, os casos mais marcantes da guerra da Guiné. Cada um de nós é uma pequena peça deste gigantesco puzzle que nos cabe montar.
Deixo-te o abraço de boas-vindas da ordem, em nome da Tertúlia que te acolhe de braços abertos.
Ficam agora as fotos que nos enviaste.
José Carmino Azevedo > Bissalanca
José Carmino Azevedo > Bolanha de Biombo
Bula
José Carmino Azevedo > Bula
José Carmino Azevedo > Bula > Parada
José Carmino Azevedo > Nhacra
__________Nota de CV:
(*) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53): José C. Videira Azevedo, Sold. Cond. CCav 2487/BCav 2868 (Bula, 1969/70).
Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)
Guiné 63/74 - P3907: Bibliografia de uma guerra (42): Escritor Combatente: "A Geração do Fim" (Mário Beja Santos)
1. Parte de uma mensagem de Mário Beja Santos, com data de 16 de Fevereiro de 2009 dirigida ao nosso Editor Luís Graça:
Meu caro Luis,
[...]
É só para te lembrar que no dia 18 de Fevereiro, pelas 16 horas, tem lugar na Livraria-Galeria Municipal Verney mais um debate do ciclo "Escritor Combatente".
Desta feita, trata-se da obra "A Geração do Fim", de 21 oficiais de Infantaria do curso de 1954/58. Se não tiveres aí a imagem, por favor, diz-me para eu ta mandar. Em 23 de Maio, pelas 15.30 horas, no ciclo de encontros dedicados à temática da guerra colonial, vou participar na apresentação dos nossos livros na Biblioteca Municipal de Alverca. Qualquer dia, com completa surpresa, e com autorização da Lourdes Teixeira da Mota, envio-te o relato do ataque a São Domingos, em 1961, por malta da FLING.
Um grande abraço do Mário
2. Comentário de CV
Sobre este evento foi publicado pelo nosso camarada Virgínio Briote o P3629 (*), de que destacamos:
ESCRITOR COMBATENTE: O FIM DO IMPÉRIO
Em Oeiras, em 2009, na Livraria-Galeria Municipal, Rua Cândido dos Reis, 90, no Centro Histórico de Oeiras, galeria.verney@cm-oeiras.pt
Tel: 21 440 83 91/2;
Às terceiras quartas-feiras de cada mês, de Janeiro a Maio de 2009, às 16h00.
Estacionamento com entrada pela Av. dos Combatentes em Oeiras.
Por iniciativa do Núcleo de Oeiras da Liga dos Combatentes (ligadoscombatentesoeiras@clix.pt), tel. 214 430 036, e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.
Serão realizados os seguintes encontros:
(ii) 18 de Fevereiro de 2009:
A Geração do Fim, de 21 oficiais de Infantaria do Curso de 1954/1958, com o Tenente-Coronel José Aparício e o Coronel José Parente.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3629: Bibliografia de uma guerra (41): Escritor Combatente: Encontros em Oeiras (Manuel A. Bernardo / V. Briote)
Meu caro Luis,
[...]
É só para te lembrar que no dia 18 de Fevereiro, pelas 16 horas, tem lugar na Livraria-Galeria Municipal Verney mais um debate do ciclo "Escritor Combatente".
Desta feita, trata-se da obra "A Geração do Fim", de 21 oficiais de Infantaria do curso de 1954/58. Se não tiveres aí a imagem, por favor, diz-me para eu ta mandar. Em 23 de Maio, pelas 15.30 horas, no ciclo de encontros dedicados à temática da guerra colonial, vou participar na apresentação dos nossos livros na Biblioteca Municipal de Alverca. Qualquer dia, com completa surpresa, e com autorização da Lourdes Teixeira da Mota, envio-te o relato do ataque a São Domingos, em 1961, por malta da FLING.
Um grande abraço do Mário
2. Comentário de CV
Sobre este evento foi publicado pelo nosso camarada Virgínio Briote o P3629 (*), de que destacamos:
ESCRITOR COMBATENTE: O FIM DO IMPÉRIO
Em Oeiras, em 2009, na Livraria-Galeria Municipal, Rua Cândido dos Reis, 90, no Centro Histórico de Oeiras, galeria.verney@cm-oeiras.pt
Tel: 21 440 83 91/2;
Às terceiras quartas-feiras de cada mês, de Janeiro a Maio de 2009, às 16h00.
Estacionamento com entrada pela Av. dos Combatentes em Oeiras.
Por iniciativa do Núcleo de Oeiras da Liga dos Combatentes (ligadoscombatentesoeiras@clix.pt), tel. 214 430 036, e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.
Serão realizados os seguintes encontros:
(ii) 18 de Fevereiro de 2009:
A Geração do Fim, de 21 oficiais de Infantaria do Curso de 1954/1958, com o Tenente-Coronel José Aparício e o Coronel José Parente.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3629: Bibliografia de uma guerra (41): Escritor Combatente: Encontros em Oeiras (Manuel A. Bernardo / V. Briote)
Guiné 63/74 - P3906: Expedição Humanitária 2009 (4): 25 toneladas de ajuda, 897 caixotes, 22 expedicionários... E obrigado, povo meu (José Moreira)
1.Mensagem do José Moreira, presidente da Associação Memórias e Gentes, com sede em Taveiro - Coimbra (*):
[Negritos do editor, L.G.]
Caro camarada Luis Graça,
Com muita mágoa, ainda não foi possível, relatar no 'nosso' Blogue, a envolvência desta Associação na mobilização de imensos parceiros, que comungam connosco nestas campanhas de solidariedade para com o povo da Guiné. Todos, mas mesmos todos, estamos altamente empenhados para que esta missão seja mais uma vês um êxito.
É esta a razão do nosso silêncio, pois o trabalho tem sido imenso.
Já estamos mais tranquilos, pois o contentor marítimo com 25 toneladas já está em Bissau (finalmente!).
Desde Novembro passado, nós, as nossas mulheres, filhos e netos, assim como gente anónima, fizemos a triagem e encaixotamos 897 caixotes de: brinquedos, roupa para bebé, criança, adolescentes e adultos, calçado para os mesmos grupos etários, muito material didáctico, legos, livros de histórias, contos, romances e alguns escolares, roupa de hospital, material hospitalar, soros diversos, medicamentos e ainda material para, finalmente, Bissau ter um parque infantil (este ano levamos um escorrega completo, novinho em folha, 2 tabelas de basquete e um baloiço duplo, pois para o ano queremos continuar a apetrechar o mesmo).
A expedição deste ano parte de Coimbra já no próximo dia 20 (6ª Feira), às 9 horas, do Largo da Portagem em Coimbra.
Dos 22 expedicionários [, incluindo a malta da Tabanca de Matosinhos,], uma vez mais, vão senhoras.
Para já é tudo!
Só quero expressar o meu reconhecimento ao povo a que eu pertenço, de ser tão solidário. BEM-HAJAM a todos, o povo, sobretudo as crianças da Guiné, agradecem.
Recebe um abraço,
José Moreira
Nota - A maior parte dos bens hospitalares vão, na sua maior parte, para o sul: Quebo, Fulacunda, Buba, Catió e uma aldeia de nome Capiane (Catió), onde surgiu o primeiro surto de cólera 2008 (é a 1ª vez que esta zona vai ser contemplada); claro que levamos também outros bens.
2. Comentário de L.G.:
José (que eu ainda não tenho o grato prazer de conhecer pessoalmente, e dar o Alfa Barvo apertado, ao vivo, que tu mereces pelo teu trabalho solidário):
Gostaria, no fim desta expedição, no regresso, de ler e dar a ler (através do blogue) as tuas notas, as tuas emoções, as alegrias de quem leva um pouco de consolo e de conforto aos guineenses, homens, mulheres e crianças, pais, educadores, professores...
Sei que não vais ter rempo para te coçares, mas podes pedir a alguém que leve um caderninho de viajante e vá tomando umas notas (horas, lugares, pessoas, actividades...), além da máquina fotográfica. Tiramos muitas fotografias...mas depois não pomos (ou não sabemos pôr) as legendas...
Em suma, um pequeno diário da tua expedição... É bom para ti, para a tua associação, para os teus expedicionários/as, para os teus/vossos futuros colaboradores, etc. Daqui a uns anos, encostas às 'boxes' e é preciso continuadores...
Não basta fazer, e saber fazer, e fazer bem, como só tu sabes fazer... Permite a minha opinião: também é preciso saber mostrar aos outros (cá e lá, nos nossos blogues, nas nossas páginas...) o que fazemos (muito com tão pouco) e como fazemos (bem).
Aceita esta dica: arranja um(a) expedicionário(a) que seja calmo(a), organizado(a) e observador(a) para esta tarefa... No final da viagem, podes mostrar, a todos nós, as alegrias (e as canseiras) da viagem. E se quiseres partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, tanto melhor.
Boa viagem, camarada. E que Deus/Alá te proteja. A ti e ao resto da equipa e da equipagem (máquinas incluídas)... Se passares pelo Xime, Amedalai, Bambadinca, Mansambo, Xitole, Saltinho... parte mantenhas com os meus queridos nharros da CCAÇ 12 (1969/71) onde eu fui, noutra encarnaçãO, o Furriel Henriques... Tem também, se puderes, uma palavra de compaixão para com todos os mortos, de morte matada, naquela guerra, que se transformaram em irãs, bons e maus, povoandos poilões de Madina Colhido ao Poindon, da Ponta do Inglês ao Fiofioli... A todos os guineenses, leva sobretudo uma palavra de esperança e de confiança.
Um Alfa Bravo. Luís
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3902: Expedição Humanitária (3): Mensagem do Pepito para o Paulo Santiago, o Zé Moreira, o Xico Allen e o Julião Sousa
16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)
16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros
[Negritos do editor, L.G.]
Caro camarada Luis Graça,
Com muita mágoa, ainda não foi possível, relatar no 'nosso' Blogue, a envolvência desta Associação na mobilização de imensos parceiros, que comungam connosco nestas campanhas de solidariedade para com o povo da Guiné. Todos, mas mesmos todos, estamos altamente empenhados para que esta missão seja mais uma vês um êxito.
É esta a razão do nosso silêncio, pois o trabalho tem sido imenso.
Já estamos mais tranquilos, pois o contentor marítimo com 25 toneladas já está em Bissau (finalmente!).
Desde Novembro passado, nós, as nossas mulheres, filhos e netos, assim como gente anónima, fizemos a triagem e encaixotamos 897 caixotes de: brinquedos, roupa para bebé, criança, adolescentes e adultos, calçado para os mesmos grupos etários, muito material didáctico, legos, livros de histórias, contos, romances e alguns escolares, roupa de hospital, material hospitalar, soros diversos, medicamentos e ainda material para, finalmente, Bissau ter um parque infantil (este ano levamos um escorrega completo, novinho em folha, 2 tabelas de basquete e um baloiço duplo, pois para o ano queremos continuar a apetrechar o mesmo).
A expedição deste ano parte de Coimbra já no próximo dia 20 (6ª Feira), às 9 horas, do Largo da Portagem em Coimbra.
Dos 22 expedicionários [, incluindo a malta da Tabanca de Matosinhos,], uma vez mais, vão senhoras.
Para já é tudo!
Só quero expressar o meu reconhecimento ao povo a que eu pertenço, de ser tão solidário. BEM-HAJAM a todos, o povo, sobretudo as crianças da Guiné, agradecem.
Recebe um abraço,
José Moreira
Nota - A maior parte dos bens hospitalares vão, na sua maior parte, para o sul: Quebo, Fulacunda, Buba, Catió e uma aldeia de nome Capiane (Catió), onde surgiu o primeiro surto de cólera 2008 (é a 1ª vez que esta zona vai ser contemplada); claro que levamos também outros bens.
2. Comentário de L.G.:
José (que eu ainda não tenho o grato prazer de conhecer pessoalmente, e dar o Alfa Barvo apertado, ao vivo, que tu mereces pelo teu trabalho solidário):
Gostaria, no fim desta expedição, no regresso, de ler e dar a ler (através do blogue) as tuas notas, as tuas emoções, as alegrias de quem leva um pouco de consolo e de conforto aos guineenses, homens, mulheres e crianças, pais, educadores, professores...
Sei que não vais ter rempo para te coçares, mas podes pedir a alguém que leve um caderninho de viajante e vá tomando umas notas (horas, lugares, pessoas, actividades...), além da máquina fotográfica. Tiramos muitas fotografias...mas depois não pomos (ou não sabemos pôr) as legendas...
Em suma, um pequeno diário da tua expedição... É bom para ti, para a tua associação, para os teus expedicionários/as, para os teus/vossos futuros colaboradores, etc. Daqui a uns anos, encostas às 'boxes' e é preciso continuadores...
Não basta fazer, e saber fazer, e fazer bem, como só tu sabes fazer... Permite a minha opinião: também é preciso saber mostrar aos outros (cá e lá, nos nossos blogues, nas nossas páginas...) o que fazemos (muito com tão pouco) e como fazemos (bem).
Aceita esta dica: arranja um(a) expedicionário(a) que seja calmo(a), organizado(a) e observador(a) para esta tarefa... No final da viagem, podes mostrar, a todos nós, as alegrias (e as canseiras) da viagem. E se quiseres partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, tanto melhor.
Boa viagem, camarada. E que Deus/Alá te proteja. A ti e ao resto da equipa e da equipagem (máquinas incluídas)... Se passares pelo Xime, Amedalai, Bambadinca, Mansambo, Xitole, Saltinho... parte mantenhas com os meus queridos nharros da CCAÇ 12 (1969/71) onde eu fui, noutra encarnaçãO, o Furriel Henriques... Tem também, se puderes, uma palavra de compaixão para com todos os mortos, de morte matada, naquela guerra, que se transformaram em irãs, bons e maus, povoandos poilões de Madina Colhido ao Poindon, da Ponta do Inglês ao Fiofioli... A todos os guineenses, leva sobretudo uma palavra de esperança e de confiança.
Um Alfa Bravo. Luís
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3902: Expedição Humanitária (3): Mensagem do Pepito para o Paulo Santiago, o Zé Moreira, o Xico Allen e o Julião Sousa
16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)
16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros
Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8
IV (e última) parte da revista mensal PAIGC Actualités, nº 54, Outubro de 1973, um número histórico de que nos foi enviado uma cópia, digitalizada pelo nosso amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro, mais conhecido na Tabanca Grande como o pira de Mansoa.
O Eduardo foi Fur M Op Esp na CCS do BCAÇ 4612 (Guiné, 1974). Como ele gosta de recordar, foi o útimo português a arrear, em 9 de Setembro de 1974, a última bandeira portuguesa no antigo CTIG, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.
As páginas 7 e 8, agora transcritas, foram traduzidas do francês para português pelo Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, os Tigres de Cumbijã (1972/74). (*)
Militante nº 1 do nosso PARTIDO e fundador da nação, AMÍLCAR CABRAL - inspirador e dirigente de todas as mudanças e realizações efectuadas no nosso país durante os últimos dezassete anos, tinha anunciado a 31 de Dezembro de 1972, na sua mensagem de ano novo ao nosso povo e aos novos combatentes, um acto transcendente da história do nosso povo :
O NASCIMENTO DO NOSSO ESTADO SOBERANO
Foto ( a toda a largura das pp. 7 e 8) (legenda): "Fiéis á memória imortal do nosso Partido, os 120 representantes legítimos do nosso povo completam a tarefa daquele que está nas origens de todas as nossas vitórias".
"No decurso do corrente ano e logo que possível e achado conveniente, reuniremos a Assembleia Nacional Popular da Guiné, para cumprimento da primeira missão histórica de que foi incumbida: a proclamação do nosso Estado, a criação de um executivo para esse Estado e a promulgação de uma lei fundamental - a primeira Constituição da nossa história- que constituirá os fundamentos da vida activa da nossa nação africana.
"Quer isto dizer: Representantes legítimos do nosso povo escolhidos pelas populações e eleitos livremente por cidadãos conscientes e patriotas do nosso povo:servirá para afirmar perante o mundo que a nossa nação africana forjada na luta, está irreversivelmente decidida a caminhar para a independência, sem esperar pelo consentimento dos colonialistas portugueses, e que portanto baseado neste princípio, o Executivo do nosso Estado, será sob a direcção do nosso Partido, o PAIGC, o único, verdadeiro e legítimo representante do nosso povo face a todos os problemas nacionais e internacionais que lhe digam respeito.
"Da situação de colónia que dispõe de um movimento de libertação, cujo povo já libertou durante os dez anos de luta armada a maior parte do território nacional, passamos à situação de um país que dispõe do seu próprio Estado e que tem uma parte do seu território nacional ocupado por forças armadas estrangeiras.
"Esta mudança radical na situação do nosso país corresponde à realidade concreta da vida e da luta do nosso povo da Guiné, baseando-se nos resultados concretos da nossa luta, e tem o apoio firme de todos os povos e governos africanos, tal como de todas as outras forças anti- colonialistas e anti - racistas de todo o mundo.
"Enquadra-se nos princípios da Carta das Nações Unidas e nas resoluções adoptadas por esta organização internacional, nomeadamente na sua XVII sessão.
"Nada, nenhuma acção criminosa ou manobra ilusionista dos colonialistas portugueses impedirá que o nosso povo africano senhor do seu próprio destino e consciente dos seus direitos e deveres, dê este passo transcendente e decisivo em direcção ao objectivo fundamental da nossa luta: a conquista da independência nacional e a construção, na paz e na dignidade reconquistadas, do seu verdadeiro progresso, sob a direcção exclusiva dos seus próprios partidários e sob a bandeira gloriosa do nosso Partido.
«...Futuramente, com a evolução da nossa luta, criaremos igualmente a primeira Assembleia Nacional Popular nas Ilhas de Cabo Verde. A reunião conjunta dos membros destes dois organismos formará a Assembleia Suprema do povo da Guiné e de Cabo Verde".
Total apoio dos Países não-alinhados ao movimento de libertação nacional
O nosso camarada Aristídes Pereira, secretário geral do Partido, assistiu á quarta Conferência magna dos Países não alinhados que teve lugar em Argel de 5 a 9 de Setembro. O nosso dirigente foi indicado para usar da palavra em nome dos movimentos de libertação africanos.
A conferência dos chefes de Estado e dos governos dos países não alinhados, ao tomarem conhecimento que o nosso Partido vai em breve proclamar o Estado da Guiné Bissau, pediu aos estados membros do movimento dos não-alinhados, que apoiem política e diplomaticamente o nosso Estado, logo que este seja proclamado.
PAIGC ACTUALITÉS - Boletim de informação editado pela Comissão de Informação e Propaganda Comité Central do PARTIDO AFRICANO PARA A INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E CABO VERDE. Correspondência: C.P. 298 - Conacri (República da Guiné) - C. P. 2319 - Dacar (Senegal)
__________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série: 2 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3846: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (2): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 3-4
10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3864: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (3): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 5-6
O Eduardo foi Fur M Op Esp na CCS do BCAÇ 4612 (Guiné, 1974). Como ele gosta de recordar, foi o útimo português a arrear, em 9 de Setembro de 1974, a última bandeira portuguesa no antigo CTIG, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.
As páginas 7 e 8, agora transcritas, foram traduzidas do francês para português pelo Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, os Tigres de Cumbijã (1972/74). (*)
Militante nº 1 do nosso PARTIDO e fundador da nação, AMÍLCAR CABRAL - inspirador e dirigente de todas as mudanças e realizações efectuadas no nosso país durante os últimos dezassete anos, tinha anunciado a 31 de Dezembro de 1972, na sua mensagem de ano novo ao nosso povo e aos novos combatentes, um acto transcendente da história do nosso povo :
O NASCIMENTO DO NOSSO ESTADO SOBERANO
Foto ( a toda a largura das pp. 7 e 8) (legenda): "Fiéis á memória imortal do nosso Partido, os 120 representantes legítimos do nosso povo completam a tarefa daquele que está nas origens de todas as nossas vitórias".
"No decurso do corrente ano e logo que possível e achado conveniente, reuniremos a Assembleia Nacional Popular da Guiné, para cumprimento da primeira missão histórica de que foi incumbida: a proclamação do nosso Estado, a criação de um executivo para esse Estado e a promulgação de uma lei fundamental - a primeira Constituição da nossa história- que constituirá os fundamentos da vida activa da nossa nação africana.
"Quer isto dizer: Representantes legítimos do nosso povo escolhidos pelas populações e eleitos livremente por cidadãos conscientes e patriotas do nosso povo:servirá para afirmar perante o mundo que a nossa nação africana forjada na luta, está irreversivelmente decidida a caminhar para a independência, sem esperar pelo consentimento dos colonialistas portugueses, e que portanto baseado neste princípio, o Executivo do nosso Estado, será sob a direcção do nosso Partido, o PAIGC, o único, verdadeiro e legítimo representante do nosso povo face a todos os problemas nacionais e internacionais que lhe digam respeito.
"Da situação de colónia que dispõe de um movimento de libertação, cujo povo já libertou durante os dez anos de luta armada a maior parte do território nacional, passamos à situação de um país que dispõe do seu próprio Estado e que tem uma parte do seu território nacional ocupado por forças armadas estrangeiras.
"Esta mudança radical na situação do nosso país corresponde à realidade concreta da vida e da luta do nosso povo da Guiné, baseando-se nos resultados concretos da nossa luta, e tem o apoio firme de todos os povos e governos africanos, tal como de todas as outras forças anti- colonialistas e anti - racistas de todo o mundo.
"Enquadra-se nos princípios da Carta das Nações Unidas e nas resoluções adoptadas por esta organização internacional, nomeadamente na sua XVII sessão.
"Nada, nenhuma acção criminosa ou manobra ilusionista dos colonialistas portugueses impedirá que o nosso povo africano senhor do seu próprio destino e consciente dos seus direitos e deveres, dê este passo transcendente e decisivo em direcção ao objectivo fundamental da nossa luta: a conquista da independência nacional e a construção, na paz e na dignidade reconquistadas, do seu verdadeiro progresso, sob a direcção exclusiva dos seus próprios partidários e sob a bandeira gloriosa do nosso Partido.
«...Futuramente, com a evolução da nossa luta, criaremos igualmente a primeira Assembleia Nacional Popular nas Ilhas de Cabo Verde. A reunião conjunta dos membros destes dois organismos formará a Assembleia Suprema do povo da Guiné e de Cabo Verde".
Total apoio dos Países não-alinhados ao movimento de libertação nacional
O nosso camarada Aristídes Pereira, secretário geral do Partido, assistiu á quarta Conferência magna dos Países não alinhados que teve lugar em Argel de 5 a 9 de Setembro. O nosso dirigente foi indicado para usar da palavra em nome dos movimentos de libertação africanos.
A conferência dos chefes de Estado e dos governos dos países não alinhados, ao tomarem conhecimento que o nosso Partido vai em breve proclamar o Estado da Guiné Bissau, pediu aos estados membros do movimento dos não-alinhados, que apoiem política e diplomaticamente o nosso Estado, logo que este seja proclamado.
PAIGC ACTUALITÉS - Boletim de informação editado pela Comissão de Informação e Propaganda Comité Central do PARTIDO AFRICANO PARA A INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E CABO VERDE. Correspondência: C.P. 298 - Conacri (República da Guiné) - C. P. 2319 - Dacar (Senegal)
__________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série: 2 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3846: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (2): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 3-4
10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3864: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (3): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 5-6
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