domingo, 24 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21802: In Memoriam (382): Isabel Levezinho (1952-2020): (e)terna lembrança, um mês depois da sua partida para a última viagem, sem regresso, que um dia todos teremos de fazer (Luís Graça)


 



Vila do Bispo > Cabo de São Vicente, a 4 km da ponta de Sagres >  "A foto que junto, foi tirada no Cabo de São Vicente em 8 de janeiro de 2014. [Estou confinado, em Paço d'Arcos,]. Se estivesse em Sagres, teria mais escolha, mas gostei desta pelo enquadramento".

Foto (e legenda): © António Levezinho  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Ainda "embrulhado" com a penosa burocracia decorrente da morte da sua companheira de uma vida, o António Levezinho (Tony, para os amigos, "meu amigo do peito e mano", desde os tempos duros da Guiné), deu "luz verde" à minha intenção de, um mês depois da sua morte, fazer aqui um pequena homenagem pública à Isabel Levezinho (1952-2020).

Manifestei-lhe o meu desejo de lhe dedicar um soneto. E ele respondeu-me de imediato:

(...) "Onde ela agora estiver, a nossa Isabelinha vai sentir-se muito honrada e feliz por merecer o teu desejo de lhe escreveres um soneto. Sobre ela o que de mais marcante no seu carácter me atrevo a referir era uma certa tendência natural para evitar ser 'o centro da sala' "(...)

Do que ele me confidenciou (e de que me pediu a natural reserva), destaco apenas a carreira da Isabel na Galp:

 (...) "Profissionalmente, foi diligente e também fez carreira a pulso. A área financeira foi sempre o seu campo de atuação (adorava números) e do que me foi dado a perceber, sentia-se como peixe na água a fazer gestão diária de tesouraria, tendo deixado na banca, com quem tinha que negociar saldos, uma boa imagem. " (...)

Casaram-se cedo, em 1970, ela 18 anos, e o Tony na Guiné... Ainda tentou, em vão, ir com ele nas férias... Teria sido penoso, para todos, ela acompanhá-lo, para mais numa zona de guerra. O Tony voltou em março de 1971. E ela foi mãe antes dos 20. 

O Tony tem dois filhos e um neto, o Di, que hoje faz 14 aninhos (, um grande alfabravo de parabéns, para ele, que os netos dos nossos camaradas nossos netos são!).

(... ) "Em Sagres [, na casa do Martinhal], já fora da vida ativa, dedicou-se à aprendizagem de algumas artes  decorativas.  Dessa experiência ficaram, nomeadamente, alguns tapetes de Arraiolos os quais ainda hoje decoram as nossas casas.  Contudo 'a menina dos seus olhos' era o jardim onde passava muito do seu tempo, sempre a 'inventar' algo mais para só de lá sair agarrada às costas.

"Já tenho muitas saudades daqueles fins de tarde em que lhe 'gritava': ainda não achas que já são horas de parar?" (...)

O coração deixou de bater no dia 24 de dezembro último, logo pela manhã (*)... 

As palavras que o Tony me escreveu anteontem, e que me tocaram, serviram para inspiração do meu soneto. Disse-lhe, em resposta: 

(...) "Vou-me esforçar por lhe (e te) escrever um soneto bonito...Na realidade, não posso evocá-la sem ti....sem a tua cumplicidae, o teu compareinhismo e o teu amor... Chegar aos 50 anos, como casal, foi muito bonito,e deixar esse testemunho de vida, para os teus filhos e para o teu neto e para os teus amigos, é muito tocante, e faz-nos muito bem a todos, é a forma mais saudável de fazermos o luto pela perda (sempre irreparável e absurda) de quem amamos"...

Mandei-lhe esta manhã o soneto, acabado de ultimar, e ele deu-me o OK para o publicar no blogue, partilhando-o com as bons camaradas e amigos que ele aqui tem e que privaram, alguns, com a Isabel:

(...) "Ainda hoje parece ter sido um pesadelo, mas a verdade é que levaram-nos a Isabel faz já um mês. As saudades não param de aumentar e apenas as recordações mitigam esta dor que nos tomou a todos. O teu bonito soneto envolve a imagem da Isabel em amor e saudade, na medida certa das palavras que lhe dedicas." (...)

O Tony é membro da nossa Tabanca Grande desde 9 de maio de 2006. (**)

2. In Memoriam: Isabel Levezinho (1952-2020): 

uma (e)terna lembrança


Querida Isabel, há um mês que partiste, 

Em viagem sem regresso, deixando os teus

Devastados, crendo porém que lá nos céus,

Das almas boas, tens lugar, e que ele existe.

 

Sabem que não desistirás dos teus amores,

Mantendo para eles um jardim secreto,

E, por isso mesmo, sem acesso direto,

Mas que transforma dor e saudades em flores.

 

Haverá momentos difíceis, fins de tarde,

Em Paço d’Arcos, em Sagres, no Martinhal,

Em que o corpo sangra, em que a alma arde.

 

Mas também, por certo, um canteiro florido,

E nele verão teu sorriso matinal,

Como se, p’ra eles, nunca tivesses morrido.


Luís Graça, 
Lourinhã, 24 de janeiro de 2021, 6h00

____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 25 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21692: In Memoriam (378): Isabel Levezinho (Lisboa, 1952 - Oeiras, 2020), esposa do Tony Levezinho (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... A sua memória fica inscrita, a título póstumo, no lugar nº 824, sob o fraterno e simbólico poilão da Tabanca Grande (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 9 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P735: Tabanca Grande: António Eugénio da Silva Levezinho (Tony Levezinho) da CCAÇ 12

4 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada! Olá Amigo!

Estou aqui! Não dizer mais nada.
E é melhor que não diga!

Um Abraço do
TZ

Anónimo disse...

Antonio Levezinho (by email)
24 jan 2021 15:46

Obrigado Luis

A Isabel, se em vida, alguma vez duvidou do que une o Luís Graça e o Tony Levezinho até ao fim das suas vidas, teria aqui o respetivo "certificado de autenticidade".

Eu digo que não. Ela sabia muito bem (porque aprendeu) o quanto vale uma amizade incondicional.

Beijos para vocês.

Cuida-te, por favor.

Tony

Anónimo disse...

eduardo estrela (by email=
24 jan 2021 15:49

Amigo, companheiro e camarada Luís!

Bonito soneto, linda homenagem. Não tive o privilégio de conhecer a Sra. mas tenho a certeza que ficou embevecida com as tuas palavras. O ritmo melodioso que imprimes aos teus poemas, jogam bem, neste caso em particular, com uma Sra. que tinha o bom gosto de amar as flores. Para o Levezinho, do qual me recordo muito bem dos tempos de Tavira, o meu abraço fraterno.
Eduardo Estrela

Anónimo disse...


César Dias (by email)
24 jan 2021 15:57

Luis, embora não tenha conhecido a Isabel, estou solidário com a tua homenagem, pois a lembrança que tenho do Levezinho, é garantia que seria uma grande senhora, mulher e mãe.Aqui deixo um abraço solidário aos familiares na pessoa do Levezinho.

Para ti Luis, também um forte abraço e obrigado por te lembrares que o destino nos juntou há 50 anos, em Tavira.

César Dias