quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21843: A Nossa Marinha (1): LDM 203 e LDM 302 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)



Guiné > s/l > c. setembro de 1964  >  LDM (Lancha de Desembarque Média) 203... que devia  estar a  fazer serviço entre Bissau e Catió, abastecemdo as NT no sul.

Foto (e legenda): © Rui Ferreira (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Nunca andei numa LDM, só nas LDG... No Rio Geba, "ó para lá e ó para cá", ou seja, no início da comissão, em 2 de junho de 1969, rio Geba acima, até ao Xime, e depois no fim da comissão, em março de 1971, de regresso a Bissau, rio Geba abaixo...  Penso que foi na mesma  LDG, a "Bombarda" (105, mais tarde, "rebatizada"  201).

Mas não é das LDG [, Lanchas de Desembarque Grandes]  que quero falar hoje, mas sim  das LDM, das Lanchas de Desembarque Médias, onde nunca andei. 

Uma foto da LDM 203, acabada de se publicar no nosso blogue (*), despertou-me a curiosidade sobre estas unidades da nossa Marinha, de que sei pouco ou quase nada,

E a quem recorrer ? Naturalmente, ao blogue "Reserva Nacional", do nosso amigo e camarada Manuel Lema Santos, que o criou e mantem desde 2016, com grande paixão, competência e dedicação... 

Sem desprimor para outras páginas sobre a nossa Marinha, esta é uma verdadeira enciclopédia, de consulta obrigatória,  sobre a nossa armada, nomeadamente do tempo da guerra do ultramar / guerra colonial.


Lisboa > Monumento aos Combatentes
do Ultramar > 10 de junho de 2019 
(antes da era da pandemia Covid-19) 
> Manuel Lema Santos e Luís Graça.

Foto: LG (2019)



Aconselho, por isso, os nossos leitores a consultar o poste de 7 de abril de 2020 > 

O Manuel Lema Santos (que tem cerca 
de 6 dezenas de referências no nosso blogue) foi nosso camarada no TO 
da Guiné ( 1.º tenente da Reserva Naval,
 ex-imediato da NRP Orion (1966/68), 

Escreveu o Manuel Lema Santos:

(...) "Da classe 200, foram cinco 
as LDM - Lanchas de Desembarque Médias fabricadas. Estas unidades, 
construídas nos Estados Unidos da América  foram modernizadas nos estaleiros navais 
da Argibay  [, em Alverca]. (...)

"Em 13 de Janeiro de 1964 foram aumentadas ao efectivo dos navios da Armada as LDM 201, LDM 203, LDM 204 e LDM 205" (...)

Depois de efectuass as necessárias "provas e testes", estas unidades navais "foram transportadas para a Guiné em navios mercantes, onde permaneceram sempre enquanto operacionais até serem abatidas ao efectivo" (, no princípio da década de 1970, e mais concretamente, no caso da LDM 203, em junho de 1971).


Das suas caracterísricas técnicas destaque-se o seguinte, de acordo com o Manuel Lema Santos:

(i) Deslocamento máximo: 50 toneladas;
(ii) Comprimento (fora a fora): 15, 28 metros;
(iii) Calado máximo  (distância da quilha do navio à linha de flutuação): 1,22 metros
(iv) Velocidade máxima: 9,2 nós ou milhas marírimas (c. 17 km)
(v) Autonomia: 460 milhas (c. 850 km)
(vi) Armamento: 1 metralhadora Oerlikon Mk II 20 mm + 2 metralhadores MG 42, de 7,62 mm
(vii) Lotação: 6 praças
(viii) Capacidade de transporte: 1 destacamento de fuzileiros (80 homens) ou 20 toneladas de carga ou 1 camião de 6 toneladas ou 2 jipes

Diz ainda o nosso camarada Manuel Lema Santos:

(...) "Muitos oficiais da Reserva Naval desempenharam missões de comando que integraram aquelas unidades navais em múltiplas missões operacionais de fiscalização, escolta, embarque e transporte de fuzileiros, militares de outros ramos, população em geral, nos comboios logísticos com material, equipamentos e abastecimentos.

"Com uma guarnição de 6 homens, comandadas por um Cabo de Manobra, foram, em conjunto com todas as outras classes de LDM presentes na Guiné, um importante suporte da estrutura operacional e logística da Marinha." (,..)

"Que se enalteça a competência, coragem, esforço e dedicação das suas guarnições, no bom êxito conseguido das inúmeras e arriscadas missões que lhes foram atribuídas, algumas delas pagas com o sacrifício da própria vida." (...)

2. E aqui, acrescento eu,  nunca é demais evocar e relembrar a epopeia da LDM 302,  a cuja tripulação pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira (1947-2011), natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968. 

Infelizmente, este meu conterrâneo, vizinho, amigo e condiscípulo, nascido no mesmo ano que eu, morreu prematuramente aos 64 anos, com o posto de sargento chefe reformado (*)

Escrevi há uns anos atrás (*):

(...) "A epopeia da LDM 302 e dos seus bravos marinheiros merece ser melhor conhecida de todos nós. Na altura do ataque de 19 de dezembro de 1968 bem como no de 10 de junho de 1968, o Ludgero fazia parte da sua guarnição como maquinista fogueiro. São factos que eu só agora vim a saber. E quero partilhá-los com os amigos e camaradas da Guiné, que acompanham o nosso blogue bem como com os meus conterrâneos e ainda a família do meu amigo, em especial o seu filho e os seus irmãos, bem como a mãe do seu filho, Maria Teresa Henriques, natural da Atalaia.

Que a terra te seja leve, meu amigo e camarada!... E que a gente da nossa terra saiba cultivar a tua memória e a memória dos nossos antepassados que têm o mar no seu ADN !" (...)

____________

Notas do editor:
 

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Manuel, camarada:

Espero que não leves a mal por ter citado o teu preciosíssimo blogue...

Chegou-me às mãos uma foto da LDM 203, a navegar algures (presumo que entre Bissau e Catió), em 1964, no "mare nostrum"... Penso que a podes utilizar, foi editada por mim, o original pertence ao Rui Ferreira, filho de uma camarada nosso, infelizmente já falecido...

Aproveitei para relembrar a epopeia da LDM 302.

Não preciso de te dizer para te cuidares e poupares. Vejo que o teu blogue continua de vento em popa... Criei, no nosso (onde tem cerca de 60 referências...) uma nova série, "A Nossa Marinha"... Pode ser que apareçam mais fotos das nossas sempre queridas unidades navais...

Li também o teu poste sobre as (des)venturas da LDG Bombarda, de saudosa memória... Andei nela e vi-a várias vezes no Xime, que era a porta de entrada no Leste, como sabes...

Tenho uma história passada com a LFG Orion, nos anos 1969/70, quando esteve atracada ao cais, em reparação, e era então o melhor restaurante de Bissau... Um dia destes mando-ta.

E vamos a ver quando é que chegamos ao 1º ano da era pós-Covid (de que Deus nos livre!)... Só oiço malta a chorar a perda de amigos e familiares. Ou gente que apanhou um "cagaço" dos antigos... Que a doença, como diz o povo, vem a cavalo e vai a pé...

Um alfabravo, Luís

Anónimo disse...

mls [Manuel Lema Santos] (by email)
4 fev 2021 10:41

Caro Luis Graça,

As minhas primeiras palavras são para o filho de um Camarada falecido que, pese embora o desgosto que tão pesada carga negativa arrasta para família e amigos, estará certamente em descanso. Entre os melhores, porque cumpriu o que lhe foi exigido.

Grato pelas referências feitas que, infelizmente, correspondem a um trabalho a "solo", o que não deveria suceder em qualquer situação. Há responsabilidades históricas colectivas institucionais que me não pertencem ainda que, pessoalmente, pudesse ser um colaborador entre tantos que poderiam manter viva a chama da Marinha que, tal como nos restantes ramos das Forças Armadas parece em vias de extinção.

Como é do conhecimento generalizado fui "apenas" um oficial da Reserva Naval (1TEN lic) entre 1.712 admitidos pela Briosa entre 1958 e 1975 a que se adicionaram mais 1.886 entre 1976 e 1992. Dos primeiros que desfilaram enquanto esteve no palco a Guerra do Ultramar, cerca de 1.000 daqueles camaradas estiveram nos vários teatros de guerra, especialmente em Angola, Moçambique e Guiné. Vou mesmo mais longe nos meus considerandos já que, mesmo em Macau, esteve um oficial RN e, em Timor, outros dois camaradas completamente ignorados. A LFG «Orion», 1966-1968, num teatro difícil, complementou a minha formação social e humana, pouco atractivo para jovens recém-saídos da Casa Paterna, universitário IST e com 24 anos de percurso na vida. Contudo, repetiria aquela rota tendo em conta o caminho que me foi permitido percorrer, com as opções que tive de fazer como qualquer comum mortal.

Sobre as LDM, tema sobre que tenho divagado bastante disfrutem. A nossa Linha de Horizonte de vida, contrariando Eduardo Galeano, está a ficar bastante mais próxima cada dia que navegamos.

Cuidem-se!
Forte abraço,
MLS