quarta-feira, 2 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22250: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (86): pedido de colaboração do dr. Ming, sediado em Londres, para projeto de investigação sobre o monumento, mandado erigir em Bolama, em 1931, por Mussolini, "ai caduti di Bolama"


Guné > Bolama > c. 2016 > Monumento italiano , com a inscrição "Mussolini: Ai caduti di Bolama" > "Uma bela fotografia de Francisco Nogueira para o mais belo monumento Arte Deco da Costa Ocidental Africana, com a cordialidade do Mário Beja Santos" (, enviada ao dr.Ming, em 2 do corrente)... Fonte: Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape - “Bijagós, Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016 (com a devida vénia...)



Guiné > Bolama > Agosto de 1966 > O José António Viegas, de pé, no pedestal do "monumento aos pilotos italianos"... "Se me lembro uma das coroas era da fábrica Fiat"...

Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor, dr. Ming, devidamente identificado, investigador académico, oriundo de uma prestigada universidade inglesa:

Date: quarta, 2/06/2021 à(s) 13:45
Subject: Bolama.
 
Sou investigador, baseado em Londres,  e tenciono desenvolver um projeto de investigação acerca do monumento italiano sito na Ilha de Bolama (Guiné-Bissau) e chamado "Monumento ai caduti di Bolama" (em português: "Monumento aos caídos de Bolama").

O monumento foi erguido pela ditadura de Mussolini no decurso do ano 1931 após cinco pilotos e tripulantes italianos terem falecido ao largo de Bolama a 6 de janeiro de 1931 no contexto das primeiras travessias aéreas transatlânticas entre a Europa e a América do Sul.

Vista a relativa escassez de informações sobre este assunto na literatura científica, estou à procura de fotografias e queria solicitar quaisquer informações gerais, técnicas ou históricas,  suscetíveis de me ajudar neste projeto.

Agradecendo de antemão todas as sugestões, endereço ao blogue as minhas melhores saudações.

Fico ao seu dispor para mais informações.

Saudações académicas,

Dr. Ming
Endereço de correio eletrónico:    bolamamonument@gmail.com 

PS - Muito obrigado, Luís Graça, pela sua pronta resposta ao meu pedido de ajuda e por disponibilizar os links dps postes que eu não consegui encontrar, para além do

Parabéns pelo seu site que contém inumeráveis informações pelo estudo e pela memória dum tão importante período da história de Portugal e da Guiné. A fim de manter um relativa anonimato na fase inicial da pesquisa, resolvi, até por sugestão sua, indicar apenas o meu apelido. Além disso, receio poder receber milhares de spams se o meu endereço eletrónico, pessoal ou profissional, fosse compartilhado no espaço público da Internet.

2. Resposta do nosso editor; 

Caro Ming: retomando a nossa conversa, obrigado pelas suas referências elogiosas ao blogue, e por ter aceite a minha sugestão para publicar a sua mensagem original, com as necessárias (e aconselháveis) adaptações,

Faço daqui apelo a mais contributos dos nossos leitores... Muitos dos militares portugueses, entre 1961 e 1974, passaram por Bolama, por aí haver um Centro de Instrução Militar,

Por outro lado, recordo aos meus camaradas que os acadmécios gostam de ser discretos em relação ao que estão a fazer e onde, nomeadamente na faze inicial dos seus projetos.

Saudações académicas, Luis Graça, Ph D

PS - Vou reencaminhar o seu pedido original ao nosso colaborador permanente e membro deste blogue coletivo, o Mário Beja Santos, autor do poste P17810:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/09/guine-6174-p17810-historiografia-da.html

Mas aproveito para lhe indicar os links de outros postes com referências ao monumento "ai caduti de Bolama", com conhecimento aos seus autores,

Se nos autorizar, publicamos a sua mensagem no nosso blogue... É possível que ainda apareçam mais informações (e nomeadamente fotos) deste monumento erigido pela Itália de Mussolini aos seus aviadores caídos em Bolama, no Arquipélago dos Bijagós, em 1931.

Boa saúde, bom trabalho. O editor, Luís Graça, Ph D.

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https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/11/guine-6374-p7212-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/08/guin-6374-p2030-o-cruzeiro-das-nossas.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/02/guine-6374-p14213-historiografia-da.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/11/guine-6374-p10713-memoria-dos-lugares.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/09/guine-6374-p6979-actividade-da-cart-730.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/12/guine-6374-p5404-postais-ilustrados-17.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2005/08/guine-6374-clxxiii-informacao.html

3. Resposta do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos:

Meu prezado Ming, o blogue e eu agradecemos-lhe os elogios, fazemos votos para que o seu trabalho venha a ser muitíssimo bem-sucedido. Falei há pouco com a Dr.ª Helena Grego, da Biblioteca da Sociedade de Geografia, pedi-lhe a amabilidade de ver nas publicações oficiais da Guiné o registo do acidente aéreo que vitimou membros da equipa que vinha fazer a viagem de travessia do Atlântico Sul, a partir de Roma. No meu livro sobre o BNU - Banco NacionalUltramarinio, da Guiné, creio que refiro superficialmente o que escreveu o delegado do banco.

Haverá com certeza referências à inauguração do monumento, ilustrações sobre o mesmo não faltam, houve uma tentativa a seguir à independência para o dinamitar, ficou felizmente intacto. Amanhã à tarde vou para a biblioteca ver o que existe e depois escrevo-lhe. Com muita cordialidade, Mário Beja Santos (...)

Guiné 61/74 - P22249: Historiografia da presença portuguesa em África (265): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (2) (Mário Beja Santos)

Sociedade de Geografia de Lisboa > Sala Algarve


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
 
Já se abarcou o período inicial das sessões, encetadas em 1876, estamos em 1882 e pareceu-me útil uma contextualização do pensamento destes sócios-fundadores, há diferentes abordagens sobre as suas motivações, inicio aqui uma digressão interpretativa, desta feita dada pelo historiador Valentim Alexandre, que me parece elucidativa. 

São inúmeras as referências aos exploradores que vão da costa à contracosta, aliás dentro da Sociedade de Geografia é a Comissão Africana que tem o trabalho preponderante, Angola e Moçambique são os pratos de substância de labuta dos sócios. Enfatiza-se o realce dado aos caminhos-de-ferro em calorosos debates, tanto em Angola como em Moçambique e aqui se respigam alguns parágrafos sobre a importância que os sócios dão ao caminho-de-ferro em Angola. 

Valentim Alexandre recorda que o caminho-de-ferro de Moçambique aparece com ligação ao Transvaal, não é por acaso, ali se começam a explorar diamantes e ouro. Como é evidente, estamos a caminhar a passos largos para a Conferência de Berlim, há potências como a Bélgica, a França e a Alemanha que não estão a gostar mesmo nada das partilhas acordadas entre Portugal e a Grã-Bretanha. Caminhamos para uma época de viragem, Berlim irá impor regras de ocupação que irão abrir portas a um novo patamar de ocupação político-militar, Portugal não escapará a essas regras.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (2)

Mário Beja Santos

Continuando a leitura das atas das sessões dos primeiros anos da Sociedade de Geografia de Lisboa, justifica-se plenamente uma tentativa de contextualização do pensamento destes homens que se reuniam tão assiduamente para falar das explorações no interior africano de Serpa Pinto, ou de Capelo e Ivens, que discutiam tão ardorosamente a questão dos caminhos-de-ferro, a criação de instituições superiores de Administração Colonial, entre outros importantes tópicos.

Recorre-se ao que escreve o historiador Valentim Alexandre em "Velho Brasil, Novas Áfricas, Portugal e o Império (1808-1975)", Edições Afrontamentos, 2000. A propósito da emergência do nacionalismo radical, que preside a atmosfera destas reuniões, escreve o autor:

“Na década de 70, a política colonial portuguesa ganha um novo fôlego. Para isso contribuem elementos de vária natureza, uns de ordem geral, outros ligados mais diretamente à vida do Império. Conta-se entre os primeiros a conjuntura de relativa prosperidade financeira vivida após o fim da guerra entre o Brasil e o Paraguai, em 1870, que propiciou o aumento das remessas dos emigrantes, facilitando a aplicação de fundos, antes muito escassos, nas empresas coloniais, públicas e privadas. 

Quanto ao Império, o facto fundamental fora o fecho do mercado de Cuba às importações de escravos, pondo finalmente termo ao comércio negreiro transatlântico realizado a partir da costa ocidental de África. Assim se libertavam capitais e energias para outras atividades; em Angola, cresce a navegação no Quanza, como eixo de comunicação comercial com o Interior, dando-se início ao ciclo da borracha; em Moçambique abrem-se novas perspetivas por virtude da descoberta de diamantes e posteriormente de ouro no Transvaal e também da inauguração do canal de Suez, em 1869, que aproximava a região da Europa.

É neste quadro que se insere a ação de Andrade Corvo, Ministro do Ultramar e dos Negócios Estrangeiros durante grande parte dos anos 70. A ideia central da sua política estava na abertura do Império ao exterior, associando Portugal às demais nações da Europa na tarefa de ‘civilizar’ a África 

(…) Andrade Corvo defendia igualmente um expansionismo moderado em África, não excedendo nunca os limites dos recursos disponíveis (…) O anti-escravismo de Corvo refletiu-se na lei de 29 de Abril de 1875, que extinguiu o trabalho civil no Ultramar (…) Mas o nacionalismo imperial não tinha a sua única voz no campo político. Para além de influenciar as posições dos dois grandes partidos do constitucionalismo monárquico – o Regenerador e o Progressista – , a corrente nacionalista radical exprimia-se com a maior virulência nos órgãos do Partido Legitimista e sobretudo do Partido Republicano, recentemente formado, que ganha força e capacidade de mobilização precisamente na campanha contra o Tratado Lourenço Marques, por ele repetidas vezes atacado como uma manifestação de enfeudamento do país à Grã-Bretanha”.

E aqui se destaca um outro parágrafo:

“Do ponto de vista institucional, a resposta ao Tratado de Lourenço Marques encontrou expressão na Sociedade de Geografia de Lisboa, fundada em 1875, com grande peso na política colonial do último quartel de oitocentos. Em geral, a sua atividade era a de um formidável grupo de pressão, em defesa dos ‘direitos históricos’, resultantes das descobertas e de antigos atos de posse e de exercício de soberania no continente negro”.
Estamos agora em 1882, a chamada Comissão Africana está ativíssima, quem preside à Direção da Sociedade já não é o visconde de S. Januário, é Barbosa du Bocage. Em janeiro, informa-se que Paiva de Andrada visitara a região de Zambeze e apresentara uma proposta com caráter de urgência para que um emissário de Sua Majestade fosse regular as questões de Manica e Sofala, propunha que fosse criado o Comando Militar de Manica, que ao Capitão-Mor de Manica, como ao Capitão-Mor de Inhambane fosse dada a graduação de coronel. Os sócios discutem que era dado como inadiável alargar a ocupação portuguesa pelo interior de Moçambique.

Neste enquadramento, aparece a proposta inédita do sócio senhor Alan para que se abandonasse o Forte de Ajudá, para que a bandeira portuguesa não continuasse a sofrer certas afrontas. Atenda-se ao teor da proposta:

“Considerando que a ocupação do Forte de S. João Baptista de Ajudá não tem objetivo algum, económico, político ou social; Considerando que essa ocupação só tem sido e é origem contínua de afrontas humilhações para a bandeira portuguesa e que se torna impossível desafrontá-la digna e briosamente, em consequência da especial natureza do terreno e difíceis comunicações com o mar, proponho que a Sociedade de Geografia de Lisboa consulte o governo acerca da inadiável necessidade de desocupar aquele ponto em nome da honra e do decoro nacional”.

Discutiu-se o parecer a enviar ao Governo sobre a construção do caminho-de-ferro de Lourenço Marques, houve debates acesos, mudando-se de agulha houve quem dissesse que o caminho-de-ferro em Angola era uma questão de vida ou de morte. E surgiu uma proposta para erigir em Lisboa, na Praça do Restelo, ou outro local, uma estátua ao Infante D. Henrique, que seria feita por subscrição nacional e para a qual se solicitaria ao Governo de Sua Majestade a cedência das peças necessárias, procedentes das nossas fortalezas e navios de guerra, dadas como inaproveitáveis para o combate. 

E que a meteorologia já fazia parte dos avanços da civilização, tome-se nota da proposta para criar um posto meteorológico na ilha de S. Vicente que estivesse em relações com o Observatório Meteorológico do Infante D. Luís, visitável no Jardim Botânico, ao lado da Escola Politécnica. Em 20 de junho de 1882 fala-se pela primeira vez da Guiné Portuguesa. Luciano Cordeiro acusou a receção de carta do governador Pedro Inácio de Gouveia manifestando empenho que se constituísse uma secção da Sociedade de Geografia de Lisboa para o que pedia que fossem nomeados sócios ou indivíduos da lista proposta pela mesa.

Em dezembro de 1882, a Sociedade de Geografia proclama Luciano Cordeiro como seu Secretário Permanente, como distinção especial. Um aspeto que não deixa de chamar a atenção nestas sessões é que os sócios também falam da metrópole, e foi calorosa e entusiástica a forma como alguém fez a exaltação do termalismo no Gerês, referindo que se trata de água para medicação de um grande número de doenças do fígado ou complicações gástricas.

Mas são os debates sobre os caminhos-de-ferro que geram a apresentação de propostas bem substantivadas, é o caso do importante documento sobre a necessidade e urgência do caminho-de-ferro em Angola, vejam-se os seguintes parágrafos:

“Fácil é mostrar que a construção de algumas vias férreas naquela província ultramarina é não só necessária mas ainda urgente, como meio de assegurar o nosso domínio naquelas regiões, e como um dos instrumentos mais poderosos e essenciais da sua civilização e progresso. Em aqueles dilatados domínios portugueses falecem totalmente os meios de comunicação, que o mesmo é dizer que o transporte das coisas e pessoas se faz empregando o homem como animal de carga.

A ligação dos centros de ação e direção governativa e civilizadora com diferentes entrepostos afastados da costa, e que devem ser escolhidos como chaves de toda a circulação interna, e que como pontos capitais estratégicos, não só na acessão restrita e militar da palavra, como no sentido das operações comerciais ou de qualquer caráter civilizador, é também necessidade patente.

No estado presente das coisas não há verdadeira personalidade política ou administrativa naquela província ultramarina. Há apenas diferentes agrupamentos de indivíduos em um estado rudimentar de civilização, situados a grandes distâncias uns dos outros e sem nexo algum entre si. Nestas circunstâncias a ação governativa não tem a força necessária para exercer-se com toda a eficácia na manutenção e respeito das leis e dos princípios de moral, justiça e humanidade que regem as sociedades policiadas.

Tem a província de Angola poucas águas-correntes suscetíveis de converter em linhas de navegação, e se recorrêssemos a esse expediente que nem seria pouco dispendioso, nem muito adequado para linhas-gerais de comunicação, só alcançaríamos tardiamente alguns rios canalizados sem comunicação entre si.

Com o caminho-de-ferro conseguirá o Governo outras vantagens que não alcançaria com as estradas. Além dos lucros da exploração ou sua partilha, poderá reembolsar em um prazo mais ou menos longo os capitais despendidos na construção. Vê-se em tudo quanto fica dito que não há fundamento sólido que possa ser invocado para preferir as estradas ordinárias aos caminhos-de-ferro, quando se trata de estabelecer comunicações a grande distância”
.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22226: Historiografia da presença portuguesa em África (264): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22248: (In)citações (185): A escrita da vida, poema breve (Joaquim Pinto de Carvalho, régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Lourinhã / Cadaval)


Cinfães > 22 de maio de 2021 > Joaquim Pinto de Carvalho e Maria do Céu Pienteus (Tabanca do Atira-te ao Mar, Lourinhã / Cadaval), no parque de Lazer de Pias, junto ao rio Bestança,afluente do rio Douro, que nasce a mais de 1200 metros de altitude, na serra de Montemuro, e desagua em Porto Antigo, 13,5 km e meio depois. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Joaquim Pinto Carvalho, Cadaval, 30 de maio de 2021, em dia de aniversário (*) 

 [Natural do Cadaval, vive na Lourinhã, foi alf mil, CCAÇ 3398, Buba, e CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73. Tem mais de 4 dezenas de referências no blogue] (**).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de :

30 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22238: Manuscrito(s) (Luís Graça) (202): Parabéns, régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Joaquim Pinto Carvalho, muita saúde e longa vida porque tu mereces tudo!

terça-feira, 1 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22247: 17º aniversário do nosso blogue (11): O nosso querido mês de férias: como ganhei o "Prémio Governador da Guiné" e tive direito a uma viagem, atribulada, no "Se-Cais-Morres" (Sky Master), da FAP, em 1964, até Lisboa, via aeroporto do Sal, Cabo Verde (Alcídio Marinho, 1940-2021)


Douglas C54 Skymaster, da Força Aérea dos EUA. Desenvolvido pela Douglas Aircraft Company, teve o seu primeiro voo em 1938, Produziram-se cerca de 1200 unidades entre 1942 e 1947. Deixou de estar operacional em 1975. [A nossa FAP recebeu 17 aviões, C-5r4 e EDC Skymaster entre 1947 e 1974, segundo informação de António Luís, um dos editores da página Pássaro de Ferro . Crónica da Aviação, onde também colaboração o nosso grã-tabanqueiro José Matos]

Foto: Cortesia de Wikipedia.


1. Há uns anos atrás éramos todos mais novos e tínhamos histórias para contar... Do tempo em que fizemos a guerra pensando em, com ela, ganhar a paz... na Guiné, entre 1961 e 1974... 

 Hoje estamos todos (ou quase todos) a lamber as feridas da guerra e da vida... O tempo é inexorável e não perdoa. O nosso blogue fez,  em 23/4/2021,  dezassete anos de vida... O que é muito, na Net, nas redes sociais... E é muito na vida de um homem, neste pobre planeta que queremos deixar saudável e seguro para os nossos netos e bisnetos...

partir daqui, o nosso blogue está a prazo (, aliás, sempre esteve, como cada um de nós): um dia destes morre de ataque cardíaco, ou de AVC, ou de Civid-19,  ou de Alzheimer ou de cancro no pâncreas...  Ou passado a ferro na passagem de peões. Os blogues também morrem, tal como os que o fazem e os leem... É triste mas é verdade... 

E tudo isto vem a propósito do nosso saudoso camarada Alcídio Marinho que foi para a cova sem contar (por escrito) tudo o que viu,  viveu e sofreu  na Guiné, como fur mil da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65). 

Em sua homenagem (e em louvor do nosso blogue, que está a  comemorar em 2021 dezassete anos de vida), voltamos a reproduzir uma deliciosa história do Alcídio Marinho, publicada na série "O nosso querido mês de férias" (*)


2.  O  nosso querido mês de férias  > Como ganhei o "Prémio Governador da Guiné" e tive direito a uma viagem, atribulada, no "Se-Cais-Morres" (Sky Master), da FAP, em 1964, até Lisboa, via aeroporto do Sal, Cabo Verde 

por Abílio Marinho (1940-2021)

A minha vinda de férias à metrópole teve uma estória curiosa.

Até meio do ano 1964, creio que ninguém era autorizado a vir de férias à Metropole, quem queria gozar férias e tinha direito, ia para Bissau.

Ora, como o 3.º pelotão da CCAÇ 412 fora destacado para o Enxalé, de 28 de outubro de 1963 a 25 de janeiro de 1964, então comecei a montar armadilhas todos os dias, por carolice e necessidade, e,  como não tinha curso, fui agraciado com um louvor pelo Comandante da Companhia, o  Capitão Braga (de alcunha o "Lambreta",  pois com os lábios fazia um barulho que se assemelhava a uma lambreta) [de seu nome completo, Manuel Joaquim Gonçalves Braga, cap inf].

Quando já estava em Cantacunda (de junho de 1964 a fevereiro de 1965), perto de Fajonquito, durante o mês de outubro, tivemos conhecimento que o sr. Brigadeiro Schulz [, um ano depois promovido a general,] , havia instituído um prémio, o "Prémio Governador da Guiné", para agraciar os combatentes que se notabilizasse na efectivação de baixas ao inimigo ou outros feitos em combate.

Qual foi o meu espanto, quando recebi a informação do sr. Capitão Braga que me havia sido atribuído o referido prémio e que podia ir gozar um mês de férias onde desejasse. Assim marquei a minha vinda a casa.

Como já não se passava na estrada, Bafatá - Banjara - Mansabá - Mansoa - Bissau, tive que ir para Bissau de barco. À época os barcos iam até ao Capé e Contuboel. Tomei o barco em Bafatá e rumei a Bissau, no dia 30 de outubro de 1964.

Embarquei em 31 de outubro de 1964, em Bissalanca, num avião da Força Aérea (Dakota-Skymaster ou "Se-Cais-Morres"), rumo ao Sal, Cabo Verde, com passagem pelo aeroporto militar dos Gambos, nas Canárias,  mas quando chegámos a Lisboa, estava uma tempestade enormíssima, pois que todos os aeroportos da Península Ibérica estavam encerrados. Quando estava a amanhecer,  olhamos pelas janelas e só víamos mar e depois depois uma ilha, era a ilha do Sal, outra vez.

No avião vinha, no meio, um motor de um F-86 (!)  e um paraquedista,  de maca, acompanhado de uma enfermeira,  e outros militares.

Desembarcámos e fomos comer às instalações da CCaç 413 que havia ido connosco para
a Guiné, com destino a Mansoa, tendo a meio da comissão sido deslocada para a ilha do Sal, Cabo Verde.

Aí comemos lagosta a todas as refeições, eles já enjoavam a lagosta. Éramos todos conhecidos pois como nós também pertenciam ao BC 10, Chaves,  e os sargentos éramos todos do mesmo curso, o de 1961.

O Aeroporto do Sal  só tinha uma pista e no final da mesma havia a torre de controle.

Na tarde desse dia, tornamos a embarcar e,  quando arrancámos para levantar, ouvimos um estrondo, provocado pela da rebentação de um pneu e só parámos a cerca de 5 ou 6 metros da torre.

Como não havia pneu suplente,  ficámos três dias no Sal até chegar um pneu, no avião da TAP. No dia 3 de novembro de 1964, reembarcámos para Lisboa onde chegamos no dia 4.

Passei essas Férias em Amarante, Chaves, Verin (Espanha), (onde tinha uma namorada espanhola) e Porto. 

Passados os trinta dias apresentei-me nos Adidos, em Lisboa, mas não havia alojamento, fui instalar-me numa Pensão na Rua Rodrigo da Fonseca, a aguardar passagem aérea para Bissau, o que veio a suceder só no dia 6 de dezembro de 1963. 

Chegado a Bissau apanhei um barco civil, para Bafatá, seguindo de novo até Cantacunda.

Nas Canárias comprei um relógio por 500 escudos e uma máquina fotográfica Konica também por 500 escudos.

Do outro pessoal da CCAÇ 412,  apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá

Alcidio Marinho
Porto, 22 de setembro de 2015 às 13:18

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Notas do editor:


Restantes postes da série:

7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15211: O nosso querido mês de férias (17): Vim a casa uma vez, em agosto de 1965, na TAP, num Super Constellation, como simples passageiro... e estava longe de imaginar que cinco anos depois estaria aos comandos de um Caravelle, como piloto da mesma, saudosa, companhia... (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

6 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15209: O nosso querido mês de férias (16): Férias em Bissau para tirar a carta de condução de pesados (Abel Santos)


6 de Outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15205: O nosso querido mês de férias (15): em agosto de 1971, entre a praia da Nazaré e as tertúlias de Vila Franca de Xira... enquanto em Lisboa, tudo na mesma, isto é, a vida corria... (Hélder Sousa)

5 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15204: O nosso querido mês de férias (14): À procura de aconchego, e de amor temperado com algumas paródias, que um mês, naquele tempo, passava muito depressa (José Manuel Matos Dinis)

1 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15185: O nosso querido mês de férias (13): Os soldados não se podiam dar o luxo de ter férias (José Manuel Cancela, ex-sold ap metr, CCAÇ 2382, 1968/70) / Proporcionei a alguns soldados do meu grupo de combate umas modestas férias em Bolama (António Murta, ex-alf mil inf., 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513, 1973/74)

30 de setembro de 2015 > Guiné 63/73 - P15183: O nosso querido mês de férias (12): Era para entrar de Licença em Agosto, mas fui vítima de uma injustiça, acabando por a gozar de 22 de Setembro a 26 de Outubro (Mário Vitorino Gaspar)


27 de setembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15165: O nosso querido mês de férias (7): Entre 15 de Fevereiro e 21 de Março de 1971, a ilusão de estar longe da guerra (Carlos Vinhal)

27 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15164: O nosso querido mês de férias (6): Vim duas vezes a casa... Da primeira vez, regressei a 18/12/1968, para passar obrigatoriamente o Natal em Bambadinca... Apanhei uma boleia no DO 27 do meu amigo Honório (Ismael Augusto, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)

27 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15163: O nosso querido mês de férias (5): vim uma vez a casa, a Vila Nogueira de Azeitão, em 18/9/1965, mas o Super Constellation da TAP, por avaria, só partiu a 22... A viagem custou-me 6160$70 (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem,

26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15160: O nosso querido mês de férias (4): Vim duas vezes à metrópole: na 2ª vez, beneficiei de mais 5 dias de licença, por ter tido um louvor em combate... (E, mais tarde, beneficiei da isenção do pagamento de propinas dos meus filhos quando entraram na universidade) [José Augusto Miranda Ribeiro, ex-fur mil da CART 566 (Cabo Verde, Ilha do Sal, 1963/64, e Guiné, Olossato, 1964/65)]

26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15159: O nosso querido mês de férias (3): 10 de março de 1970: eu a partir e o ministro do ultramar, Silva Cunha, a chegar, no mesmo Boeing 707, da TAP

22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15143: O nosso querido mês de férias (2): os testemunhos de Henrique Cerqueira ("Em Bissau, dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro"), José Carlos Gabriel ("A minha filha, de 5 meses, teve um choque muito grande ao ver-me no aeroporto, de bigode") e João Silva ("Foi ótimo vir no inverno, a saudade era do frio")

22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15138: O nosso querido mês de férias (1): Maio de 1969: nessa altura o bilhete de ida e volta, na TAP, custava 4 mil escudos (Paulo Raposo, ex-alf mil Inf, MA, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

(**) 11 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22192: 17º aniversário do nosso blogue (10): por que é que das "lavadeiras" ao "sexo em tempo de guerra" vai um passo ? (Carlos Arnaut / Cherno Baldé / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22246: Agenda Cultural (772): Convite para a apresentação online do romance "Angoche - Os fantasmas do Império", por Carlos Vaz Ferraz; Porto Editora, 2021



1. Mensagem do nosso camarada Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial, com data de 31 de Maio de 2021:

Minhas amigas e meus amigos,
Tenho o prazer de vos convidar para a apresentação do romance "Angoche - Os Fantasmas do Império", da Porto Editora.

Esta apresentação será feita online, através dos links que constam deste email. Terá lugar amanhã, dia 1 de Junho, das 21 às 22 horas. Será moderada pelo editor Vasco David, desenrolar-se-á sob a forma de uma conversa, com interrogações e dúvidas, entre mim e o comandante Carlos de Almada Contreiras, que fez parte de um dos navios portugueses envolvidos no bloqueio do Porto da Beira, em 1966. Será possível a intervenção dos assistentes.

Trata-se de um romance cujo enredo procura desvendar os interesses que estiveram na origem do que aconteceu ao navio mercante Angoche e à sua desaparecida tripulação, e, a partir dos interesses, chegar aos seus autores.
As personagens do romance são homens e mulheres envolvidos, como tantas vezes acontece, em situações que os ultrapassam.
As respostas a que cheguei são apenas deduções e premonições do que poderia ter acontecido.
A Porto Editora e eu estamos a procurar a melhor oportunidade para uma apresentação ao vivo, sujeita aos condicionalismos do tempo presente.

Aqui vos deixo os links para a apresentação do dia 1 de Junho:
Youtube - https://youtu.be/qXJkFzqA7Us
Facebook - https://www.facebook.com/PortoEditora/posts/4114022285301916
Facebook (evento) - https://www.facebook.com/events/2668635700093451/



Sinopse:

Nacala, 23 de abril de 1971. Um navio da Marinha mercante portuguesa parte desse porto moçambicano com destino a Porto Amélia (hoje, Pemba). A bordo leva a tripulação e um civil, num total de vinte e quatro almas, bem como um importante carregamento de material de guerra destinado ao Exército português no Ultramar. No dia seguinte, de madrugada, um petroleiro encontra esse mesmo navio, de seu nome Angoche, à deriva, incendiado e sem ninguém a bordo, como se de um navio-fantasma se tratasse. De imediato, a PIDE/DGS abre um inquérito. Os relatórios iniciais mencionam duas explosões, e as teorias para o que aconteceu surgem em catadupa. Não faltam presumíveis culpados a quem apontar o dedo, mas não há provas. Para adensar o mistério, na noite do desaparecimento do Angoche, uma portuguesa, que trabalhava num cabaré da cidade da Beira e é tida como amante de um oficial da Marinha, cai de um edifício. Suicídio ou assassinato, as circunstâncias da sua morte nunca são verdadeiramente esclarecidas, e a dúvida paira… Depois do 25 de Abril, os relatórios da PIDE/DGS desaparecem. A carcaça do navio, ancorado no porto de Lourenço Marques, acaba por ser afundada. Se testemunhas houve, não falam. Estes são os factos. A partir deles, Carlos Vale Ferraz constrói um romance puramente ficcional, embora essencial e certeiro, sobre moralidade e heroísmo; e onde se demonstra como a imagem de um país se pode construir, não de verdade e justiça, mas da glorificação dos seus mais vergonhosos feitos.


Com a devida vénia a Almedina
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22228: Agenda Cultural (771): Publicação do romance "Além do Bojador", de Manuel Fialho (nova edição reunida e revista), editado por Grupo Narrativa (Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548)

Guiné 61/74 - P22245: O nosso blogue por descritores (2): Alcídio Marinho (com 23 referências)

   


ALCÍDIO JOSÉ GONÇALVES MARINHO (1940-2021)
Ex-Fur Mil Inf,  CCAÇ 412, "Os Capacetes Verdes"  (Bafatá, 1963/65)


1. Inaugurámos  há dias uma nova série, "O nosso blogue por descritores" (*)... Com mas de 5 mil "descritores", de A a Z, torna-se difícil (se não impossível) aos nossos leitores fazer uma pesquisa exaustiva de um determinado tema ou assunto no nosso blogue que já tem 17 anos de existência e mais de 22 mil e duzentos postes.


O descritor "Alcídio Marinho" (com mais de 2 dezenas de referências no nosso blogue) será o poste seguinte  esta série. Hoje, o nosso camarada, falecido em 29 do mês passado, foi a enterrar, no cmeitério de Cedofeuta , no Porto **). Em sua homenagem aqui a lista dos postes em que o seu nome aparece como descritor. Cada poste é refenciado por:

(i) data;
(ii) número de ordem (cronológica);
(iii) série em que vem inserido;
(iv) título (e subtítulo);
(v) autor(es) (dentro de parênteses, no final) (não aparecendo este campo, o poste é, por defeito, da autoria de um ou mais editores do blogue)

A listagem só não traz o link de cada poste, porque seria muito consumidor de tempo para os editores recuperá-lo. Mas os nossos leitores podem consultar o poste inserindo o seu número na janela do canto superior esquerdo do blogue, antecedido sempre da consoante P, de poste: por exemplo poste P8809 (que marca a sua entrada na Tabanca Grande).  Para facilitar a sua leitura, a lista vai com postes sem negrito e com negrito, intercalados.


O nosso blogue por descritores (2): Alcídio Marinho
(que tem mais de 2 dezenas de referências)

1 de junho de2021 > Guiné 61/74 . P22244: In Memoriam (397): Com o Alcídio Marinho (1940-2021), ultrapassamos a centena de amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que "da lei da morte já se libertaram" (n=103)... Quase um quarto dos falecimentos (n=25) ocorreu em 2020 e 2021 (últimos 5 meses), ou seja, em plena pandemia de COVID-19.

 31 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22243: In Memoriam (396): Alcídio José Gonçalves Marinho (1940-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes" (Bafatá, 1963/65)

 15 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21170: O segredo de... (32): Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)... "Também tenho um víquingue na minha árvore genealógica"

27 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20598: Fotos à procura de... uma legenda (115): O caçador e empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, o "nho Manel Djoquim" (1901-1977) andaria no mato... com uma pistola-metralhadora FBP m/948 ou m/961 ?

17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19021: Os nossos capelães (8): Adelino Apolinário da Silva Gouveia, do BCAÇ 506: "Os filhos da p... matam-me!"... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

25 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17795: Memória dos lugares (364): Quem se lembra (ou ouviu falar) da tabanca de Portugal, a seguir aos rápidos de Cusselinta e à Ponte Carmona (em ruínas) (carta do Xitole, 1955)? Seria distinta de "Gã Portugal" que terá existido, também na margem esquerda do Rio Corubal, mas na península de Gampará... (Luís Graça / Cherno Baldé / Alcídio Marinho / Luís Branquinho Crespo / Luís Marcelino / Mário Pinto / António Murta)

13 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17464: (De) Caras (80): Também levei uma encomenda, no regresso de férias em novembro de 1963, a pedido da mãe de um camarada... Era uma lata de salpicões em azeite, para um soldado que estava em Fulacunda e que, infelizmente, morreria entretanto numa emboscada... Acabámos por comer os salpicões em Cantacunda... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17106: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (24): o alferes "periquito" que escoltei até Buruntuma num domingo de agosto de 1964 e que nesse mesmo dia atravessou a fronteira e desapareceu... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

17 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16962: (Ex)citações (323): em 1963 já havia um jornal "Nô Pintcha", a stencil... Apanhámos vários exemplares, na Ponta do Inglês, em 28 de janeiro de 1964, com um título de caixa alta: "Os colonialistas também têm mercenários"... Numa foto, via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha... Esse indivíduo era eu (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16691: Agenda cultural (512): SIC: Programa "Perdidos e Achados", em 29 de outubro passado: onde estavam os repórteres da guerra colonial, onde estavam os nossos fotocines?

10 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16585: (Ex)citações (319): O cap inf José Abílio Lomba Martins que eu conheci, no Enxalé, em novembro de 1963, antigo professor da Academia Militar, cmdt da CCAÇ 556 (Bissau, Enxalé, Bambadinca, 1963/65) (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65) 

 17 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16497: Memória dos lugares (346): Em abril de 1963, eu fui, com uma secção, de Taibatá (subsetor do Xime) até Satecuta (subsetor do Xitole), atravessando a mata do Fiofioli, e falei com o chefe e a população da tabanca de Satecuta, espantados por nos ver... Regressei pelo mesmo caminho, a tempo de almoçar a Taibatá... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

14 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)

 8 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16463: Memória dos lugares (344): Amarante, boas recordações da minha infância e juventude (1945-1963)... (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

 29 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16246: (De)Caras (43): Domingos Ramos, o "incendiário do leste": (i) João Cá, de seu nome de guerra; (ii) antigo 1º cabo miliciano das NT; (iii) amigo e camarada do Mário Dias (, do 1º CSM, Bissau, 1959): (iv) reconhecido em Bafatá, no bairro da Nema, por volta de maio de 1963, por Alcídio Marinho e Mamadu Baldé; (v) volta a encontrar o amigo e antigo camarada "tuga" nas matas do Corubal, em 1965: e (vi) "tem a felicidade de morrer em combate", em Madina do Boé, em 10/11/1966, ao lado do 'internacionalista' cubano Ulises Estrada...

 23 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15891: Convívios (733): Encontro do pessoal da CCAÇ 412 (1963/65), dia 14 de Maio de 2016, na Mealhada (Alcídio Marinho, ex-Fur Mil)

 3 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15192: O segredo de ... (27): A minha prenda de Natal de 1963: a destruição de Sinchã Jobel, com o meu engenhoso fornilho montado numa mala de cartão... (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

 28 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15168: O nosso querido mês de férias (8): Ganhei o "Prémio Governador da Guiné", embarquei em 31/10/1964 num Dakota Skymaster ("se cais, morres"), tive uma viagem atribulada... Do outro pessoal da CCAÇ 412 apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, 1963/65)

 8 de setemnbro de 2015 > Guiné 63/74 - P15090: (Ex)citações (290): Que ele havia, no meu tempo, coisas estranhas no céu, havia... Se eram aeronaves inimigas ou ovnis, não sei... (Henrique Cerqueira, Bissorã, 1972/74; Alcídio Marinho, Xitole e Bafatá, 1963/65)

22 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14502: Convívios (667): Encontro comemorativo do 50.º aniversário do regresso à Metrópole da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), a levar a efeito no próximo dia 9 de Maio de 2015 em Chaves (Alcídio Marinho)

 23 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13318: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (40): Tanto eu como o meu filho Richard e os meus cunhados Mateus e Florinda Oliveira que vieram da América, adorámos este convívio (Júlio da Costa Abreu, Amsterdão, Holanda)

 9 de abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9720: Convívios (409): Encontro/Almoço do pessoal da CCAÇ 412, dia 12 de Maio de 2012 na Mealhada (Alcídio Marinho)

 23 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8809: Tabanca Grande (302): Abram alas, camaradas, temos aqui mais um “velhinho”, o Alcídio Marinho, do Porto, Miragaia, ex-Fur Mil, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)

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Guiné 61/74 - P22244: In Memoriam (397): Com o Alcídio Marinho (1940-2021), ultrapassamos a centena de amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que "da lei da morte já se libertaram" (n=103)... Quase um quarto dos falecimentos (n=25) ocorreu em 2020 e 2021 (últimos 5 meses), ou seja, em plena pandemia de COVID-19.


CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65) > 2015 > Convívio dos "Capacetes 
Verdes" que celebraram os 50 anos do seu regresso a casa...  Não conseguimos identificar o local.  Foto da página do Facebook do Alcídio Marinho.


1. O Alcídio [José Gonçalves] Marinho (1930-2021), ex-fur mil inf, está assinalado com rectângul9 a amarelo. Era membro da nossa Tabanca Grande desde 23/9/2011, sentando-se no lugar nº 520 à sombra do nosso poilão. Tem mais de duas de dezenas de referências no nosso blogue.

O Alcídio Marinho  Era natural do Porto, vivia na freguesia de Miragaia. Estava reformado da Petrogal. Passou grande parte da sua infância e juventude em Amarante. Andou na escola Colégio S. Gonçalo, em Amarante. Foi um dos animadores dos convívios da sua companhia. Participou igualmente em 4 encontros nacionais da Tabanca Grande (de 2011 a 2014).

Foi Prémio Governador da Guiné em 1964. (Merece uma leitura ou releitura o poste P15168, com o relato da sua atribulada viagem de férias à Metrópole, num Dakota Skymaster.)

Conheci-o, a ele e à sua companheira Rosa, em Monte Real, em 2011 (Foto à esquerda, cortesia de Manuel Resende). 

Na conversa que tive com ele fiquei a saber que a sua  CCAÇ 412, sediada em Bafatá, tinha uma vasta zona de acção, que ia de Cantacunda ao Enxalé, a norte do Rio Geba, e de Bambadinca ao Xitole, ao longo da margem direita do Rio Corubal (aquilo que mais tarde, seis anos depois, no meu tempo, era já "preenchido" por 2 batalhões, um em Bafatá e outro em Bambadinca, ou seja, por mais de 2 mil homens em armas, incluindo subunidades adidas e pelotões de milícia).

Era um homem afável e com excelente memória.   Combateu, no leste da Guiné, nos "anos de chumbo" de 1963/65. Foi pena que não tenha querido ou podido  passar a escrito algumas das suas muitas memórias desse tempo. 

Vai hoje a enterrar, no cemitério de Cedofeita, no Porto (*). À sua companheira, Rosa, à sua filha, Gabriela, e demais familiares e amigos íntímos e camaradas de armas, apresenta a Tabanca Grande as suas mais sentidas condolências. É um dos nossos bravos que parte para o Olimpo dos Combatentes. (LG)



2. Com a morte, ocorrida no passado dia 29,  do Alcídio Marinho (1940-2021) (*), são já 103 os amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que deixaram a Terra da Alegria, em 17 anos da nossa existência enquanto blogue, de acordo com o conhecimento que temos. Haverá, eventualmente, mais casos que, por uma razão ou outra, não chegaram ao nosso conhecimento em devido tempo.

Num total de 840 membros (registados), os falecidos representam 12,3 %. Desses 103, 11 morreram em 2020 e 14 nos últimos cinco meses de 2021. Temos, assim,  um total de 24,2% de grã-tabanqueiros que morreram durante a pandemia de COVID-19.  É uma lista já impressionante. 

Saibamos honrar a sua memória e lembrá-los com saudade.


Lista alfabética  dos amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=103): 

Agostinho Jesus (1950-2016)
Alcídio Marinho (1940-2021)
Alfredo Dinis Tapado (1949-2010)
Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017)
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
Américo Marques (1951-2019)
Aniceto Rodrigues da Silva (1947-2021)
António da Silva Batista (1950-2016)
António Dias das Neves (1947-2001)
António Domingos Rodrigues (1947-2010)
António Manuel Carlão (1947-2018)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)
António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
António Rebelo (1950-2014)
António Teixeira (1948-2013)
António Vaz (1936-2015)
Armandino Alves (1944-2014)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)
Aurélio Duarte (1947-2017)

Carlos Cordeiro (1946-2018)
Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (1929-2021)
Carlos Filipe Coelho (1950-2017)
Carlos Geraldes (1941-2012)
Carlos Marques dos Santos (1943-2019)
Carlos Rebelo (1948-2009)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Clara Schwarz da Silva (1915-2016)
Cláudio Ferreira (1950-2021)
Cristina Allen (1943-2021)


Daniel Matos (1949-2011)
Domingos Fernandes (1946-2020)

Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)

Fernando Brito (1932-2014)
Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011)
Fernando Franco (1951-2020)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
Francisco Parreira (1948-2012)
França Soares (1949-2009)

Gertrudes da Silva (1943-2018)

Humberto Duarte (1951-2010)

Inácio J. Carola Figueira (1950-2017)
Isabel Levezinho (1953-2020)
Ivo da Silva Correia (.c 1974-2017)

João Barge (1945-2010)
João Cupido (1936-2021)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010)
Joaquim da Silva Correia (1946-2021)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Joaquim Vicente Silva (1951-2011)
Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)
Jorge Rosales (1939-2019)
Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017)
José António Almeida Rodrigues (1950-2016)
José Augusto Ribeiro (1939-2020)
José Barreto Pires (1945-2020)
José Ceitil (1947-2020)
José Eduardo Alves (1950-2016)
José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2021)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017)
José Manuel P. Quadrado (1947-2016)
José Maria da Silva Valente (1946-2020)
José Marques Alves (1947-2013)
José Moreira (1943-2016)
José (ou Zé) Neto (1929-2007)
José Pardete Ferreira (1941-2021)

Leopoldo Amado (1960-2021)
Libório Tavares (Padre) (1933-2020)
Lúcio Vieira (1943-2020)
Luís Borrega (1948-2013)
Luís Encarnação (1948-2018)
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Luís Henriques (1920-2012)
Luís Rosa (1939-2020)

Mamadu Camará (c. 1940-2021)
Manuel Amaral Campos (1945-2021)
Manuel Carneiro (1952-2018)
Manuel Castro Sampaio (1949-2006)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Manuel Moreira de Castro (1946-2015)
Manuel Varanda Lucas (1942-2010)
Marcelino da Mata (1940-2021)
Maria da Piedade Gouveia (1939-2011)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)
Mário Vasconcelos (1945-2017)

Nelson Batalha (1948-2017)

Paulo Fragoso (c.1947-2021)

Raul Albino (1945-2020)
Rogério da Silva Leitão (1935-2010)

Teresa Reis (1947-2011)

Umaru Baldé (1953-2004)

Vasco Pires (1948-2016)
Victor Alves (1949-2016)
Victor Condeço (1943-2010)
Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)
 
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22243: In Memoriam (396): Alcídio José Gonçalves Marinho (1940-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes" (Bafatá, 1963/65)

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22243: In Memoriam (396): Alcídio José Gonçalves Marinho (1940-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes" (Bafatá, 1963/65)

IN MEMORIAM


ALCÍDIO JOSÉ GONÇALVES MARINHO (1940-2021)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65

Comentário deixado hoje mesmo por Gabriela Marinho no Poste 15192:

Informo com pesar que o vosso camarada e meu querido pai Alcídio Marinho faleceu no dia 29 de Maio de 2021.

O funeral será realizado no dia 1 de Junho às 9h30 na Igreja de Cedofeita, Porto, e a missa de Sétimo dia no dia 5 de Junho às 19h00 na mesma igreja.

Gabriela Marinho


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O malogrado camarada Alcídio Marinho participou, acompanhado da sua esposa Rosa, no VI Encontro Nacional da Tabanca Grande de 21 de Abril de 2011, sendo formalmente apresentado à tertúlia pelo nosso editor Luís Graça, no Poste P8809 de 23 de Setembro do mesmo ano.

Participou ainda e sempre acompanhado da Rosa, nos VII; VIII e IX Encontros Nacionais (2012 a 2014).

Monte Real, 14 de Junho de 2014 - A última participação do casal Alcídio e Rosa Marinho nos nossos Encontros Nacionais
Monte Real, 21 de Abril de 2011, VI Encontro Nacional - Primeira participação do casal Alcídio e Rosa Marinho que empunham o Guião da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes"

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Nota do editor:

O nosso obrigado à Gabriela por nos ter dado a notícia que niguém queria ler.

Parece um lugar comum, mas sempre que um camarada de armas nos deixa, somos acometidos de um sentimento de perda. Os que ficam, ficam mais sós, os que partem vão engrossar o "batalhão" dos que da lei da morte se vão libertando.

À esposa Rosa, à filha Gabriela e aos demais familiares, deixamos as nossas mais sentidas codolências e a certeza que o seu ente querido jamais será esquecido por esta tertúlia de velhos combatentes da Guiné.

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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22209: In Memoriam (395): António Pinto Rebolo (1944-2021), ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), advogado do Porto, meu vizinho e meu amigo (Virgílio Teixeira)

Guiné 61/74 - P22242: Notas de leitura (1359): "Impérios ao Sol, a luta pelo domínio de África”, por Lawrence James; Edições Saída de Emergência, 2018 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Agosto de 2018:

Queridos amigos,
Na trajetória desta recensão ouvir-se-á falar na supremacia branca e nas doutrinas da inferioridade negra, no exato momento em que certas potências coloniais vão recrutar em África forças militares que eram consideradas destemidas e ferozes, serão muito úteis nas guerras mundiais que se seguirão. África foi um teatro de guerra e um reservatório de combatentes. O autor lembra-nos que pouco antes do início do conflito Londres e Berlim caminhavam para um acordo para retalhar Angola e Moçambique a seu favor. A I Guerra Mundial fez ascender o nacionalismo, o Egito tornou-se no farol das independências. No prelúdio da II Guerra Mundial, aspirava-se a novos impérios, Mussolini e Franco foram bons exemplos. As correntes a favor da independência foram minoritárias até à II Guerra Mundial, a partir de 1945, ninguém ignorava que se tinham levantado novos ventos.
Tudo começara em 1941, na Carta do Atlântico Roosevelt deixava bem claro que os velhos impérios iriam ter curta vida.

Um abraço do
Mário


“Impérios ao Sol, A Luta pelo Domínio de África”, por Lawrence James (3)

Beja Santos

“Impérios ao Sol, a luta pelo domínio de África”, por Lawrence James, Edições Saída de Emergência, 2018, põe em imenso ecrã as ambiguidades deste conceito de progresso e de missão civilizadora e de ocupação que se forjou a partir de 1830, aproximadamente; desvela uma luta sem quartel para tomar posse de domínios por todo o continente, entre 1882 e 1918, no Egito e no Sudão, na África Austral, no Congo, em combate religioso; assistimos à ascensão dos nacionalismos, a presença de contingentes africanos em duas guerras mundiais para medir as consequências do que se seguiu, aproveitando a boleia da Guerra Fria; e de 1945 a 1990 o continente africano foi mudando de look, todos os povos se encaminharam para a independência; e assim chegamos aos últimos dias da África branca.

O africano, no momento exato em que se consolidavam os impérios europeus, ocupava um escalão inferior nos conceitos raciais. Inventaram-se as mais estrambóticas “doutrinas” para justificar estas considerações sobre o indígena ou autóctone: imperfeições genéticas, indolência, superstição, canibalismo, até a promiscuidade sexual. Serão postas em prática pseudodoutrinas antropológicas, medição da caixa craniana e das linhas do rosto, por exemplo. Depois, veio o assombro pelas manifestações da arte: estátuas, placas de bronze, máscaras, ourivesaria. Não chegou para demover o racismo, continuou-se a justificar o corte de mãos e de narizes e o chicote.

Retenha-se que estamos a caminho do nacionalismo chauvinista, instaurara-se a supremacia branca e a paranoia da pureza racial. O que os colonialistas admiravam era poder usar a ferocidade de africanos nas tropas. Em 1912, a França alargou o recrutamento militar obrigatório à Argélia e à África Ocidental como primeiro passo para a criação de um exército africano para servir na Europa.

A questão sexual também será motivo de estudos, muitos artistas sentir-se-ão atraídos pelos temas do harém, das odaliscas, as paixões românticas. Em contrapartida, hábitos e influências de origem europeia ir-se-ão difundindo por toda a África, os seus mediadores serão os membros da classe média negra da África do Sul e o funcionalismo africano.

África e as suas riquezas não foram a questão central que levou à eclosão da I Guerra Mundial, os Impérios Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria e Turquia) e os Aliados (Grã-Bretanha, França e Rússia) disputavam influências mundiais, precisavam de cereais, de petróleo, em primeiro lugar. E precisavam de gente para combater, que foram igualmente buscar a África, num cenário de guerra total. A Grã-Bretanha, a França e a Alemanha recrutaram mais de dois milhões de africanos, queriam reforçar os seus exércitos na Frente Oriental e no Próximo Oriente. Senegaleses e argelinos combateram em Gallipoli, milhares de fellahin egípcios foram recrutados para defender as bases e linhas de comunicações britânicas. África foi um teatro de guerra, a Alemanha estava numa posição fragilíssima, não podia contar com a sua Marinha de guerra, as parcelas coloniais estavam entregues à sua sorte e em 1916, os Camarões, a Togolândia e o Sudoeste Africano estavam em poder dos Aliados. O que restava do Exército Alemão nos Camarões retirou-se para a pequena colónia espanhola do Rio Muni. O autor recorda que nos meses que antecederam a deflagração da guerra os governos britânicos e alemão haviam discutido entre si a repartição das colónias portuguesas.

As campanhas em África foram bem planeadas. As forças alemãs opuseram uma forte resistência em todas as suas colónias, distinguiu-se na África Oriental o General Paul von Lettow-Vorbeck cujas colunas invadiram Moçambique e a Rodésia do Norte.

E não se pode iludir que a guerra no Norte de África e na África Ocidental estava imbuída de uma forte componente ideológica, guerra religiosa, o forte sentimento nacional egípcio, a manipulação de árabes contra turcos. Com tanta participação numa guerra mundial que não lhes pertencia, foi fermentando o nacionalismo, recorde-se que no tempo da guerra entravam em propulsão o comunismo, o fascismo e o nazismo, as democracias parlamentares apareciam desacreditadas. Hitler não sonhava com África, limitou-se a examinar o projeto que podia levar à expulsão de todos os judeus da Europa para Madagáscar; Mussolini queria um império à porta, a Líbia, a Abissínia e a Somália e o comunismo soviético encarava o africano como um potencial revolucionário. Estas novas ideologias foram invadindo uma África que possuía uma nova cartografia depois do confisco das colónias alemãs.

O Egito apareceu na vanguarda da independência, encontrou pela frente a intransigência britânica. Só que o exemplo do Egito foi uma inspiração para os nacionalistas indianos. Apareceram de forma incipiente movimentos nacionalistas em Marrocos e na Argélia, o Islão era um aliado desses movimentos. Os senegaleses começaram a manifestar-se, o movimento pela independência encontrou figuras de proa em George Padmore, natural da Trindade, Jomo Kenyatta e mais tarde Nkrumah (Costa do Ouro), Julius Nyerere (Tanganica), Lamine Senghor (Senegal), Kenneth Kaunda (Rodésia do Norte), Nnamdi Azikiwe (Nigéria) e Hastings Banda (Niassalândia), todos eles educados em missões. O embate foi inevitável, as forças imperiais sabiam que tudo mudara, estes movimentos eram minoritários, a independência total parecia distante. Só que uma nova Guerra Mundial acelerou as mentalidades, o processo imperial entretanto estava a viver más experiências. Primeiro a Espanha, perdera praticamente todo o seu império, lançou-se numa atividade colonial em Marrocos, em 1904 Espanha e França acordaram secretamente em partilhar Marrocos, com os franceses a ganhar. 

É aqui que se vai estrear Francisco Franco, daqui partirá logo no início da guerra civil de Espanha, em 1936. É bem interessante o capítulo que Lawrence James consagra a esta força marroquina e a estes oficiais devotos e reacionários que ficarão à espreita de uma oportunidade para entrarem em guerra com os republicanos. Franco sonhava com um império colonial. “Em 1940, solicitou aos alemães que lhe cedessem a Córsega, a Tunísia, o Djibuti e as bases navais de Toulon, Ajaccio e Mers-el-Kébir, na costa argelina, planeando invadir o Sudão e a Somalilândia britânica”. Pretensões que deixaram Hitler indiferente, tais como as de Mussolini, que pretendia anexar o Quénia, o Egito, a Nigéria e a Libéria. Não menos interessante é o capítulo que o autor dedica a África das vésperas da guerra. E assim chegamos a uma guerra que quando findou em 1945, deixara os africanos numa expetativa de liberdade, tinham andado a combater a favor da liberdade dos europeus e da sua independência, e em prol dos valores democráticos, queriam o mesmo para si. E vão tê-lo.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22221: Notas de leitura (1358): "Impérios ao Sol, a luta pelo domínio de África”, por Lawrence James; Edições Saída de Emergência, 2018 (2) (Mário Beja Santos)