terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23945: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (4): Mensagens recebidas nos últimos dois meses de 2022


Formulário de Contacto do Blogger: disponível na coluna estática, do lado esquerdo do blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Seleção de mensagens recebidas através do Formulário de Contacto do Blogger, em novembro e dezembro de 2022 (*). 

Não é preciso lembrar que este é um veículo importante de comunicação imediata e fácil entre os leitores e os editores do blogue.

Nalguns casos, já houve uma resposta direta dos nossos editores ou um reencaminhamento para outros destinatários. Também num caso ou noutro a mensagem pode já ter dado origem a um poste.

Algumas destas mensagens são extremamente lacónicas, limitando-se a cumprimentar-nos, o que de qualquer modo nos sensibiliza, mas não vamos publicá-las aqui. Noutros casos, os autores procuram antigos camaradas... Outras há que são incompletas ou imprecisas, ou têm a ver com outros territórios que não a Guiné (Angola, Moçambique, Brasil, etc.).

Evitamos, em princípio, divulgar o endereço de email de cada um destes contactos, a menos que haja interesse para o próprio (nos casos, por exemplo, em que divulga um livro ou a realização de um encontro; ou procura informação que extravasa o âmbito do blogue, o qual, como é público e notório, é centrado nos antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, que estiveram na Guiné, no período que vai entre 1961 e 1974).

Em 2023, prometemos ser mais céleres na divulhação e resposta a estas mensagens, 
Omitimos, por princípio,  as expressões protocolares (saudações, cumprimentos, etc.). A lista está organizada cronologicamente por nome, nalguns casos a subunidade, a data  e a hora.


Novembro / Dezembro de 2022


Jorge Paes da Cunha Freire, CART 1612 | domingo, 25/12/2022, 13:05

Começo por desejar um Feliz Natal a todos!

Desde há um tempo deixei de receber o emails diários, que apreciava muito,
embora quase não interagisse, Agradeço que voltem a mandar-me as niotificações por email!
Um abraço a todos!


Jorge, obrigado. Já publicámos a tua mensagem. Temos 845 leitores a seguir o blogue por email. Alguns queixam-se do mesmo problema. O que eu sugiro, é que voltes a carregar na tecla "seguir" e voltar a adicionar o teu endereço de email. (Ver coluna estática do blogue, ao alto, do lado direito). 

Por outro lado, gostávamos que integresses a nossa Tabanca Grande, dando a cara e partilhando as tuas e outras memórias. Estamos a fazer a campanha dos "900" (membros da Tabanca Grande) até ao final deste ano. Infelizmente, não tenmos nenhum representante da tua companhia, a CART 1612 (Bissorá, Buba, Aldeia Formosa, 1966/68)


Paulo Gastão Oliveira Sanca | 
André Cardoso, 'comando' |
22/12/2022, 16:02


Boa tarde, Luís, sou Paulo, filho de André Cardoso,  que é comando português, falecido em 2011, gostaria que publicassem  um artigo falando um pouco da história do meu querido pai.

Obrigado,  se precisar de mais informações e documentos me fala,  vou fornecer porque tudo está na minha mão.

Paulo, em que época e em que subunidade esteve o teu querido pai e nosso camarada ? Presumimos que tenha sido na Guiné. Não temos, infelizmente, nenhuma referência ao seu nome. Manda-nos, pois, o que puderes: um pequeno texyo, com algumas fotos para começar... Pelo teu endereço de email, julgo que vives no Brasil, não ? Um bom ano novo de 2023.

José Domingos de Sampaio Rocha | BART 3844
 e Emissor de Nhacra | 20/12/2022, 16:18

Sou do Bart 3844 - Farim,  durante um ano. Depois passei a comissão civil, como responsável pelo emissor de Nhacra, da Emissora Nacional.


Camarada Rocha, gostávamos de saber mais sobre a tua experiênciaa na Guiné, e nomeadamente em Nhacra, na Emissora Nacional.


Carlos Sangreman | 
19/12/2022, 19:02

Recebi durante muito tempo os vossos mails, Mas com a pandemia desapareceram. Posso voltar a receber?

 Obrigado, vê a resposta que demos acima, ao Jorge Freire.

  

António Carlos Morais Silva | 
17/12/2022, 22:47

O 'homem grande' Amílcar Cabral", disse ainda o chefe de Estado, ao anunciar a entrega à família do Grande Colar da Ordem da Liberdade "em nome de Portugal". "Como esperar um dia mais para prestar uma homenagem por tanto tempo adiada?"

Assim se desonra a memória dos 1127 expedicionários Mortos em Combate nas
terras da Guiné. Amparado no grande Miguel Torga repito: “Somos, socialmente, uma
colectividade pacífica de revoltados”.

Meu caro Morais da Silva, o seu justíssimo e oportuno protesto já aqui foi publicado, no blogue, na devida altura (Poste P23892).


Albano Dias da Costa | CCAÇ 413 | 
14/12/2022, 18:59

    
Em 63/65, estive na zona do Oio, como alferes mil. na CCaç 413 sediada em Mansoa.. O vosso blog faz-me reviver esses tempos. Agradeço o seu envio. Um forte abraço.

Obrigado, camarada, sei que és coautor do livro "Nos celeiros da Guiné" (Albano Dias Costa e José Sá-Chaves, Lisboa: Chiado Editora, 2015). Não te queres juntar aos demais amigos e camaradas da Guiné ?... Algumas partes do vosso livro poderiam aqui ser reproduzidas. Quanto a seguires o blogue por email, vê o que eu disse acima ao camarada Jorge Freire, que é um dos nossos 845 seguidores.
 


Victor Mestre | CCAÇ 797 |  13/12/2022, 06:10


Caros camaradas sou o Victor Mestrem ex furriel miliciano, da CCAÇ 797 e se o Mário Leitâo quiser falar sobre o malogrado Julio Lemos estou às ordens. Saudações para todos.

Obrigado, Victor, já encaminhei a tua mensagem para o nosso camarada Mário Leitão, de Ponte de Lima. Temos várias referências à tua CCAÇ 797. Mantem contacto conosco e, se assim o entenderes, junta-te a nós. Far-te-á bem.


Victor Mestre | CCAÇ 797 | 
11/12/2022, 06:47

Sou o nº 8  da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi..
..


Nuno Silva | José Manuel do Carmo Silva | 
CCAÇ 1486 | 8/12/2022, 22:43

O meu pai esteve na Guiné, companhia de cacadores 1486, Fulacunda. Era furriel
miliciano, Josá Manuel do Carmo Silva, já faleceu.

Tenho algumas fotos se quiser posso enviar.

Obrigado, Nuno, infelizmente não temos nenhum representante, no blogue, da subunidade do falecido teu pai, a CCAÇ 1486. Manda-nos fotos com legendas, para um destes endereços dos editores: luis.graca.prof@gmail.com | carlos.vinhal@gmail.com


 Joaquim Rocha Gregório | 
CART 2715 | 
 27/11/2022, 21:18

Obrigado pelo teu poema.Verdadeiro, passado perto da Ponta do Inglês. Eu
fazia parte do 4º pelotão da CART 2715, o mesmo do malogrado furriel Cunha. Ia nessa operação... Que.descanse em paz.

Camarada Gregório, gostava que te juntasses ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...O Xime foi o nosso inferno. Tens aqui o meu  endereço de email: luis.graca.prof@gmail.com.


Joaquim Garrett | CTIG, 1968/70 |
 04/12/2022, 10:26

Camaradas, bom dia, Agradecia que me informem sff se estou inscrito no blogue. Em caso negativo o que é necessário para o fazer.
Obrigado, Um abraço
Guiné 1968/1970.

Caro Joaquim Garrett: Presumimos que te queiras juntar à nossa tertúlia. Se sim, manda-nos uma foto tua actual e outra do nosso tempo de Guiné, fardado, que permitam fazer fotos tipo passe para os nossos arquivos.

Queremos saber o teu posto, especialidade, Companhia e Batalhão (se for o caso), datas de ida e volta da Guiné, localidades por onde andaste, etc. Podes, caso queiras, mandar-nos uma pequena história que te tenha marcado particularmente, com fotos legendadas, ou texto onde fales de ti para te conhecermos melhor. 

Caso queiras ver anunciado o teu aniversário, manda a tua data de nascimento para publicarmos o postalinho natalício.

Ficamos na expectativa das tuas novas notícias. Em nome da tertúlia e dos editores em particular, deixo-te um abraço e votos de boa saúde. O camarada e amigo, Carlos Vinhal


Manuel Moura Alves | 
CTIG, Jan/set 1974 | 
04/12/2022, 10:32

2ª CCaç da BCaç 4518, 
 Cancolim /Galomaro, de Janeiro a Setembro de 74, Guiné. Cumprimentos.



Fernando D.F, Ferreira Santos |
 30/11/2022, 21:06

Sendo um antigo combatente da Guiné,  sigo com muita atencão o blogue.

Um santo natal e muita saúde para o Luis Graca.


Afonso Machado |
24/11/2022, 13:30


Boa tarde. Tenho um familiar que fez parte da 7ª comissão móvel da PSP na província ultramarina da Guiné entre 1965 e 1970. Foi Guarda de 2 classe. Gostava de saber um pouco mais de informações sobre esse meu familiar. Não sei se me conseguem ajudar.
Trata-se do Manuel Bimba Flores, Guarda de 2ª classe da PSP.
Obrigado desde já.

 Temos algumas referências (cerca de meia dúzia) à PSP e à 7* Companhia Móvel.  O Afonso pode ver aqui... De qualquer modo, fica o seu pedido e o seu contacto: afonso-s-machado@sapo.pt



José Manuel de Carvalho Pereira | 
22/11/2022, 22:30

Há anos que faço pesquisas no vosso blogue. Haverá algum elemento ou elementos que tenham passado pelas fileiras da PSP no Ultramar, e que possa ter fotos dos uniformes e emblemas usados lá? É para uma investigação que ando a fazer sobre as nossas forças de segurança do ex Ultramar.

Muito Obrigado e um forte abraço.

Caro leitor: Temos algumas referências (cerca de meia dúzia) à PSP no CTIG ,.. De qualquer modo, fica aqui o seu pedido e o seu contacto: josempereira1@gmail.com


José Farias Homem | 
16/11/2022, 18:08

Boa tarde, vocês fazem um óptimo trabalho.  Cumprimentos.


Fátima Soledade Santos Cardoso Pereira | 
Resende | 17/11/2022, 00:03

Procuro informação sobre dois combatentes que morreram na Guiné e são meus conterrâneos, naturais de Resende:. José Loureiro, morreu afogado no dia 6 de fevereiro de 1969 e José Miranda também falecido no dia 11.12.1969, este dado como desaparecido. Obrigada


Cara amiga Fátima Pereira;

(...) Com respeito ao seu tio José Loureiro, ele foi um dos 47 mártires do desastre da travessia do rio Corubal no dia 6 de Fevereiro de 1969. Pertencia à Companhia de Caçadores n.º 2405/Batalhão de Caçadores n.º 2852.

No nosso Blogue temos um marcador com 31 referências (este: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/desastre%20do%20Cheche

que a levará a todos os postes publicados sobre este trágico acontecimento. As publicações vão aparecendo, da mais moderna para a mais antiga, tendo a amiga Fátima, de ao fundo cada página,  clicar em "Mensagens antigas" até lhe aparecer a indicação de que não há mais nenhuma. Ficará com uma visão muito alargada do sucedido. Foi o dia mais triste da guerra na Guiné.

Com respeito ao seu tio José Miranda, é que não conseguimos ajudar. Não encontrei nenhum registo da sua morte porque em caso de não aparecimento de cadáver, nenhum militar era dado como morto mas sim como desaparecido. Veja se consegue saber algum destes elementos: Posto militar, especialidade, unidade a que pertencia na Guiné (Companhia ou Batalhão), locais onde esteve e data de ida e regresso.

Sem alguns destes elementos é quase impossível saber algo deste nosso malogrado camarada. Ficamos ao seu inteiro dispor para qualquer esclarecimento.

Os nossos cumprimentos, Carlos Vinhal, Co-editor (...)


José Manuel Ferreira Cardoso |
15/11/2022, 09:48

Sr. Luís Graça, eu sou afilhado de baptismo do João Gomes Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851, Có, Mansabá, Olossato, 
1968/70. Agradecia se possível o contacto dele, pois perdi todo o contacto há mais de 25 anos. Desde já os meus agradecimentos e um bem haja a todos. 

Aqui tens o endereço de email, já antigo, do João Gomes Bonifácio:  lusocan@sympatico.ca 

Ele tem uma dúzia de referências no nosso blogue. 

Publicamos também o teu  endereço de email para o caso de ele nos ler:  josemfcardoso@hotmail.com


José Maria Pinela |
 2/11/2022, 11:28

Por ser dia de finados, aqui estou a fazer a minha prova de vida, já que muitos dos nossos camaradas, conforme a lista de nomes, aqui publicada, não têm já essa oportunidade uma vêz que já partiram deste mundo. Mas a vida é assim mesmo, que fazer?! Um grande abraço, e que para o ano que vem, a lista não tenha aumentado muito! É bom viver, mas com Saúde, Saudações.


Elísio Carvalho dos Santos | 
01/11/2022, 20:54

O que tenho de fazer para ser amigo ? Cumprimentos,

Caro camarada Elísio: Muito obrigado pelo teu contacto. Julgo que te estás a referir a pertencer à tertúlia do nosso Blogue. Para o efeito, manda-nos: Uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, fardado.

Diz-nos o teu nome, posto militar, especialidade, Companhia e Batalhão em que foste para a Guiné, datas de ida e volta, locais onde estiveste, etc. Podes, se quiseres, contar uma história acompanhada de fotos com legendas à parte, onde conste o local, a data e quem são os retratados. Futuramente podes colaborar connosco enviando textos com histórias passadas lá na Guiné e fotos para publicarmos. Abraço, Carlos

Guiné 61/74 - P23944: Blogoterapia (310): Não estou bem, e como anteriormente já dissera, voltei a ir para o "Corredor da Morte" (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art, Minas e Armadilhas da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 2 de Janeiro de 2023:

Caros Camaradas Luís, Carlos e Todo o Blogue,
É do Vosso conhecimento que fui hospitalizado no Hospital das Forças Armadas (HFAR) em janeiro de 2022 e de 35 depois transferido para a Clínica de São José de Camarate.
Após Alta volto a ser hospitalizado em 25 dias em julho. Para cúmulo regressei ao HFAR no dia 30 de dezembro, encontrando-me hoje em casa, tendo de ser internado amanhã de Urgência no Hospital de Santa Maria.

Não estou bem, e como anteriormente já dissera voltei a ir para o "Corredor da Morte". A Medicina no meu caso falhou desde o início. Um exemplo: - Pesava em janeiro 100 quilogramas e após um mês tinha 58,5. Julgo estar neste momento com 70 quilos.
Em lugar de se virarem para o coração (sou cardíaco), foram à procura de outros problemas.

Camaradas, não entendo este nosso grande SNS.
Alimento-me, pessimamente, de iogurtes, queijo fresco, sopa e pouca fruta devido a diabetes.

Abraços para toda a Tabanca, em breve, se possível darei novas.
Mário Vitorino Gaspar

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23844: Blogoterapia (308): As desejadas férias e a angústia do regresso à Guiné (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné 61/74 - P23943: Boas festas 2022/23 (15): Mensagens dos nossos camaradas e amigos: Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF; Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico e E. Esteves de Oliveira

BOAS FESTAS DOS NOSSOS CAMARADAS


1. Mensagem de Ano Novo do nosso camarada Hélder Sousa, (ex-Fur Mil TRMS, TSF - Piche e Bissau, 1970/72), com data de 31 de Dezembro de 2022:

Caros amigos, amigas, conhecidos simplesmente, membros das diversas entidades que comigo interagem e "outros".

Antes do mais, aproveito para agradecer assim, coletivamente, a todos quantos saudaram e formularam votos e desejos e aos quais, por razões diversas, não correspondi oportunamente.

Agora, que está a acabar a época das "boas festas" e das "festas felizes", quando o "Bom Natal" já passou e o "Feliz Ano Novo" está quase a findar, aproveito então para também vos comunicar que os meus desejos para o novo calendário é que:
- haja muita saúde (quem não quer?) embora se saiba que isso, em larga medida, não depende só dos nossos desejos;
- haja dinheiro suficiente para levar a vida sem sobressaltos (quem não quer?), embora também se saiba que há tantos imponderáveis que afetam e interferem nesse desejo;
- haja uma maior fraternidade entre os homens (quem não quer?), embora também se saiba que os valores do dinheiro, do endinheiramento, da ganância, se sobrepõem;
- haja um primado da amizade, da solidariedade, em detrimento do egoísmo, embora se saiba que isso é, com os valores praticados atualmente, algo muito distante de poder ser realizável.

Portanto, como desejos, acho que não estão mal formulados.
As suas concretizações é que são outra conversa!

Saúdo-vos então com uma frase que dois amigos, já falecidos, costumavam utilizar para sintetizar um programa de comportamento e que é pratiquem "vidas simples e pensamentos elevados".

Então, entrado na onda, bom novo Ano Novo.

Hélder Sousa


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2. Mensagem do nosso camarada Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com data de 31 de Dezembro de 2022:

Hoje, na rua, uma prostituta que me conhece:

Bom dia senhor doutor Adão.
Hoje não "trabalhei" nadinha!
Fogo, que miséria!
Pode ajudar-me com alguma coisinha, senhor doutor?

Um Ano melhor para todos
Adão Cruz


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3. Mensagem de um nosso leitor, e camarada, chegada ao Blogue através do Formulário de Contacto do Blogger:

É só para partir mantanhas e enviar os meus votos de um bom ano com saúde para todos os camaradas da Tabanca Grande, e não só.

Um alfa-bravo sincero.

Cumprimentos,
E. Esteves de Oliveira

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23940: Boas festas 2022/23 (14): reflexões de um transmontano da Terra de Miranda: "no fim de tudo, as flores murcham e morrem e as saudades também" / "ne l fin de todo, as flores murchan i morren, las suidades tamien" (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)"

Guiné 61/74 - P23942: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVI: Op Faena e Açor, abril de 1965, no sector de Buba


Guiné > Região de Quínara > Subsector de Buba > Grupo Comandos Fantasmas > Abril de 1965 > De regresso a Bissau. Amadu Djaló, de sumbiá 
[12] na cabeça, ao lado do Tomás Camará, de quico. (Foto publicada na pág. 122. Não é indicada a fonte.)


Guiné > Região de Quinara > Sector de Buba  > Grupo Comandos Fantasmas > Abril de 1965 > O grupo em Antuane. Amadu Djaló é o segundo da direita para a esquerda, na fila dos ajoelhados. (Foto publicada na pág. 119. Não é indicada a fonte.)

Comentário adicional do VB: "Nestas duas primeiras fotos aparece já o João Parreira. Na 1ª foto está na fila de cima , é o 3º a contar da direita; aparece também na 2º foto e é também o 3º da direita, fila de pé."
 

Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, (i)  o cor inf 'comando' ref Raul Folques e  (ii) o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (1935.2022) (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e ainda (iii) o nosso saudoso   Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)

Comentário adicional do VB: "A foto com o cor Folques e o ten ben. Bruno foi tirada por mim em Monsanto no restaurante do Clube de Caça, quando lhe fomos entregar o projecto do livro para que procedessem à revisão dos temas em que apareciam e corrigissem os erros que detectassem".

O Amadu tornou-se membro da Tabanca Grande em 16 de maio de 2009.  Um mês antes, em 15 de abril de 2010  realizou-se a sessão de apresentação do seu livro de memórias  livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.). Na altura, o Amadu foi apresentado como; (i) um grande contador de histórias, dotado de uma prodigiosa memória; (ii) como um homem bom, recto e profundamente religioso; (iii) bem como um grande operacional que serviu, com coragem e dedicação o exército colonial português, a partir de 1962, até ao fim (já como alferes comando graduado, na CCAÇ 21,  Bambadinca, 1973/74).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do Amadu, neste caso  relativas ao tempo em que integpu o Gr Comandos "Fantasmas" (comandado pelo alf mil cmd Saraiva, entretanto promovido a tenente e depois capitão).  

Estamos em abril de 1965 e o Amadu está prestes a abandonar o grupo. Depois da participação na Op Ebro (março de 1965), seguem-se as Op Faena e Açor (em abril de 1965), (*)

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. 

A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. E muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro.

O  nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965, e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) fez generosa e demoradamente as funções de "copydesk". É já aqui em tempos  relembrou  o "making of" deste livro.  

(...) "Boa noite, Caros Camaradas Carlos e Luís: Obrigado pelo excelente trabalho de edição que tem sido feito sobre o livro do Amadú. E naturalmente trazem-me à memória o ano que levou a preparar o livro. Quase todos os dias o Amadú tocava à campainha para mais um dia de trabalho. Almoçava comigo (não era grande garfo, por falta de dentes) e muitas vezes prosseguíamos pela tarde fora até o levar ao comboio em Entre-Campos. Foram uns tempos muito interessantes que me fizeram recuar mais de 40 anos.

Lamentavelmente o negócio não foi devidamente esclarecido entre as partes e julgo que a pressa em levar por diante o projecto (as folhas já tinham passado por mais que uma mão) interferiu com o desentendimento que se seguiu. Mas levámos a peito o projecto e fomos até ao fim, o lançamento do livro. (...)



Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


 Crachá do Gr Comandos Fantasmas



Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVI: Op Faena e Açor, abril de 1965, na região de Quitafine, sector de Buba (pp. 118-123)

por Amadu Bailo Djaló


(i) O alerta dos javalis


Em abril [1] de 1965, deslocámo-nos para Buba, num barco carregado com géneros.

O tenente Saraiva  
[será capitão mil 'comando' em junho] deu as instruções. Nós abandonávamos o barco, entre Buba e Antuane. Nesse local, onde deveríamos sair do barco, como não havia porto, o barco encostava à margem e nós devíamos entrar na água e internarmo-nos na mata.

Eu ia à frente, era o primeiro homem. Quando acabámos de abandonar o barco, cada um ia-se amarrando aos ramos das árvores para sairmos da água. Depois de todo o pessoal estar em terra firme, começámos a marcha, com cuidado, até darmos com a estrada que ligava Buba a Empada.

Ia connosco um guia, o Amiro [2] que,  segundo o que o tenente nos disse, tinha abandonado a guerrilha.

Alcançada a estrada, seguimos nela até ao cruzamento de Bantael Silá. Aqui, entrámos na picada com o sol a desaparecer. Estava tudo a correr conforme o que fora planeado. Fomos andando até darmos com a entrada para a tabanca de Bantael Silá, que estava abandonada. Rodeámos a zona e entrámos na bolanha de Fran Roncante, local escolhido para montar uma emboscada.

Havia uma grande operação[3] na zona[4], com forças de Fulacunda, Buba e Empada[5]. Paraquedistas tinham sido lançados a oeste da bolanha e nós posicionámo-nos a leste da mesma.

O objectivo era apanhar os elementos que estivessem em fuga da batida que as outras forças estavam a fazer, cada uma a entrar pelo seu lado. Estávamos bem escondidos, próximos da bolanha, junto a um carreiro que vinha de Antuane para Fran Roncante. Ficámos ali, toda a noite, sem termos visto ninguém a passar. Passaram perto da zona onde estavam os páras e ouvimos tiroteio nessa direcção.

Deslocámo-nos para a tabanca de Antuane, onde, conforme as instruções devíamos permanecer até a operação terminar. Quando avistámos as casas, abrimos em linha e avançámos, cautelosamente. Malas arrombadas e muitos objectos espalhados, foi o que vimos. Tinha sido a tropa que por aqui tinha passado, tinham devassado tudo, à procura de armamento. Ocupámos este local e mantivemo-nos lá durante dois dias [6], até que ao terceiro dia, fomos recolhidos e regressámos a Buba.

O tenente Saraiva quis aproveitar a nossa estadia em Buba, para fazermos outra operação. Descansámos uns dias e,  depois do tenente regressar de Bissau, onde tinha ido tratar dessa operação [7], preparámo-nos para a saída.

Era dia da festa dos carneiros e os milícias rejeitaram a ideia de saírem connosco nesse dia, por causa de ser um dia santo. Então, adiámos a saída dois dias, o que foi bom para nós porque aproveitámos para presenciar e gozar também a festa.

No dia combinado [8], logo pela manhã, pusemo-nos em marcha, de viaturas até Nhala, e aqui ficámos a aguardar a tropa que vinha de Quebo. Nós e esse pessoal deveríamos caminhar juntos até um certo local e aqui separávamo-nos e cada um seguia para o seu objectivo.

O pessoal de Quebo chegou por volta das 17h00 e duas horas depois, começámos a marcha. O nosso objectivo era a tabanca de Portugal e o da companhia [9] do capitão Lacerda era a tabanca de Canconte, que era maior. Segundo os planos, o pessoal de outra companhia ficaria encarregado de picar a estrada que ia para Incassol. Quando chegámos ao cruzamento para a tabanca de Portugal, o nosso grupo meteu para a esquerda, em direcção ao nosso objectivo. Eram mais ou menos 03h00 da madrugada, quando nos separámos da companhia que ia connosco.

Não havia a indicação sobre o lugar exacto onde ficaria o nosso objectivo. Evitando fazer barulho, caminhámos com muita precaução até ao meio da tabanca. Javalis que ali estavam, alarmados com a nossa chegada, levantaram-se todos de uma vez, com enorme barulho, até nós apanhámos um susto. 

Instintivamente, deixámos o caminho, entrámos pelo lado esquerdo, andámos sempre paralelos, até darmos com o objectivo. Devem ter ouvido também o barulho dos javalis, porque,  de repente, uma rajada de tiros passou por cima de nós. O yenente Saraiva, que ia à frente, atirou logo no sentinela, o Kássimo passou para a frente e eu era o terceiro do grupo. Depois passámos ao ataque, demos com um corpo caído, começámos a passar revista às casas e não descobrimos nada de interesse, para além da arma do sentinela.


(ii) Cozinhando um caldeirão cheio de arroz, 
óleo de palma e um pouco de piripiri

Nesta altura, deviam ser 06h00. Prosseguimos a marcha até uma tabanca grande, chamada Gã Maligue. Nesse momento, pela rádio deram-nos a indicação para nos mantermos naquele local até nova ordem, porque na nossa direcção vinha o pessoal da companhia do capitão Lacerda. Tínhamos ouvido tiroteio, que vinha da zona de Canconte, por onde eles andavam. Revistámos as casas de ponta a ponta. Encontrámos arroz, óleo de palma e sal e preparámos uma refeição.

O Tomás Camará e o Braima foram buscar água, eu arranjei um pote que estava ali e aproveitei para cozinhar um caldeirão cheio de arroz, óleo de palma e um pouco de piripiri. Tivemos comida para o dia todo. Para os europeus arranjei uma tigela, para os africanos um prato e para o Tenente Saraiva um prato só para ele. Os europeus não gostaram muito, comeram pouco, mas o tenente comeu o prato todo.

Chegou depois o capitão Lacerda e perguntou pelo Saraiva, que estava ali perto. Convidámo-lo também a provar o nosso arroz. Como o prato do tenente já estava vazio, enchemo-lo de arroz e o Sabali Camará, que era um soldado dele, deu-lhe o prato cheio. Ele comeu mas não gostou muito.

Continuámos no local, à espera de instruções, até às 17h00[10], quando recebemos ordem para retirar. Fomos para Incassol, que não era longe. Já ouvíamos o ruído das viaturas, mas andámos ainda cerca de uma hora. Então, o tenente Saraiva perguntou ao capitão se não seria melhor o nosso grupo ficar ali, a patrulhar a zona. Procurámos um local para passarmos a noite. E aqui vou contar uma pequena história que se passou comigo e com o Braima Bá, meu amigo e companheiro dos Comandos.

Quando eu, o cabo Tomás Camará e o Kássimo estávamos a arranjar um local para passar a noite, vimos o Braima procurar um lugar para ele, um pouco afastado de nós. Eu perguntei-lhe por que é que ele ia ficar tão longe de nós e foi então que ele veio para a nossa beira.

Estávamos a começar a dormir, começámos a ser atacados com morteiros. A primeira granada caiu perto de nós, mesmo no local onde o Braima esteva a procurar lugar para dormir. A granada causou-nos três feridos. O Aquino foi um deles, terminou aqui a carreira militar.

O pessoal de Buba começou a responder ao ataque, mas houve um azar. Um dos milícias, que estava connosco, disparou a bazuca contra um ramo de uma árvore grande, que estava mesmo à frente dele e os estilhaços da granada causaram-lhe morte imediata[11] e atingiram ainda vários outros companheiros.

Passámos a noite no local, até que de manhã chegaram helicópteros para procederem às evacuações. Regressámos em direcção às viaturas e chegámos a Buba ainda de manhã. Passámos lá o resto do dia, despedimo-nos dos companheiros e na manhã seguinte[13] regressámos de barco a Bissau.

(Continua)
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Notas do autor ou do editor (VB):

[1] Nota do editor: 11/12 abril de 1965.

[2] Um fula, que tinha abandonado a guerrilha e que, acompanhado de 10 pessoas, se apresentou às nossas tropas com dez armas.

[3] Nota do editor: Operação “Faena”.

[4] Nota do editor: zona do Batalhão Caçadores 513.

[5] Nota do editor: das CCav 703, CCaç 594, CMil 11 e Pel Fox 888.

[6] 11 e 12 abril 1965.

[7] Nota do editor: operação “Açor”.

[8] Nota do editor: 20 Abril 1965

[9] Nota do editor: CCav 703

[10] Nota do editor: 21 abril 1965.

[11] Nota do editor: o nome deste milícia não consta no obituário geral da guerra no Ultramar.

[12] Barrete fula. Eu preferia usá-lo porque a água da chuva, mesmo que fosse muita, não entrava e aproveitava para meter dentro dele o maço de cigarros e os fósforos.

[13] Nota do editor: 23 abril 1965.


[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]
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Nota do editor:

(*) Vd, poste anterior da série > 29 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23928: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XV: Op Ebro, março de 1965, ajudando o BCAV 490 a reocupar Canjambari

Guiné 61/74 - P23941: Parabéns a você (2133): António Ramalho, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23933: Parabéns a você (2132): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23940: Boas festas 2022/23 (14): Reflexões de um transmontano da Terra de Miranda: "no fim de tudo, as flores murcham e morrem e as saudades também" / "ne l fin de todo, as flores murchan i morren, las suidades tamien" (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)

 

1. Mensagem do Francisco Baptista que pertence,  histórica, geográfica e socioantropológicamente falando, à "Terra de Miranda" e cujos antepassados há 100 anos falavam mirandês, língua hoje quase só circunscrita a Miranda do Douro e algumas freguesias de Vimioso ... 

Foi alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72). É autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia". Quisemos fazer-lhe esta "surpresa", arriscando "traduzir" em mirandês o texto que nos mandou em português, em resposta a um desafio nosso aos escritores transmontanos, durienses e demais nortenhos (*)... Achamos que fica bem na série "Boas festas 2022/23", que até aos Reis ainda é Natal (**)... E que espero que ele, na volta do correio, nos corrija alguma calinada (do tradutor automático)... Gostei, Francisco, de voltar a ler a tua prosa enxuta e saborosa, e para mais "dobrada" em mirandês (que a grande maioria dos portugueses, a começar pelos sulistas,  não sabe que é a nossa segunda língua oficial, desde 1999...).

Data - 31/12/2022, 17:35  

Assunto - Um conto de Natal

Luís, meu caro camarada e amigo:

Muito obrigado, com algum atraso, peço desculpa, acho que ando fora da mãe, aparvalhado, sem inteligência, sem jeito, sem arte. Como eu, andarão muitos camaradas, transmontanos e não só. Elogio o teu esforço em reanimar tantas almas mortas, nelas me incluo, para reanimar o Blogue que criaste para todos e ao qual te tens dedicado tanto. 

Querendo compensar, um pouco e mal, o teu esforço, envio-te tardiamente este texto, mal engendrado, e um pouco plagiado de outros de um tal Francisco Baptista, um provinciano que não consegue sair da sua aldeola transmontana. 

Bom Ano para ti e para  a tua simpática família. Podes não ter boas pernas mas continuas a ter boa cabeça. O Blogue e os camaradas da Guiné continuam a precisar dela. Um grande abraço.

PS - No texto poderás incluir este prefácio, se assim o entenderes, talvez o melhor. 

    

"No fim de tudo,  as flores murcham e morrem e as saudades também / "ne l fin de todo, as flores murchan i morren, las suidades tamien" 

Francisco Baptista (Brunhoso, Mogadouro, Terrra de Miranda)

Saudades da lareira da casa da aldeia, com os toros de carrasco ou sobreiro, em brasa,  os galhos de freixo e outra lenha miúda a  fazer labaredas altas e coloridas, toda essa pintura quente, viva e bela, embala-me. Traz-me à memória os antepassados que conheci e outros que não conheci.   

Suidades de la lume de la casa de l'aldé, culs tuoros de carrasco ó subreiro, an brasa,  ls galhos de frezno i outra lenha miúda la  fazer labaredas altas i queloridas, to essa pintura caliente, biba i guapa, ambala-me. Traç-me a a mimória ls antepassados que conheci i outros que nun conheci.  


Saudades de um quadro à lareira, numa noite fria com o "lume" quase apagado, em cinzas e aquele meu avô velhinho (mais novo do que eu sou agora) a estendê-lo à procura de algumas brasas e o meu pai, que também gostava desse homem que não era pai dele, a sorrir com ar trocista.
 
 Suidades dun quadro a la lume , nua nuite frie cul "lume" quaije apagado, 
an cinzas i aquel miu abó belhinho (mais nuobo de l que you sou agora)  
la stendé-lo  a la percura d'alguas brasas i l miu pai, que tamien gustaba 
desse home que nun era pai del, a sorrir cun aire trocista.   

Os meus sonhos de garoto dissipam-se ao ouvir e ler nos meios de comunicação social os relatos da meteorologia revoltada, com longos dias de seca, ondas de calor e de seca, incêndios, depois longos dias de chuva, inundações, derrocadas, temporais, ciclones, contra a natureza regulada por quatro estações, acompanharam o meu crescimento.

Ls mius suonhos de garoto dissipan-se al oubir i ler ne ls meios de 
quemunicaçon  social ls relatos de la meteorologie reboltada, cun longos dies de seca , óndias de  calor i de seca, ancéndios, depuis longos dies de chuba, inundaçones, derrocadas ,  temporales, ciclones, contra la natureza regulada por quatro staçones,  qu'acumpanhórun l miu crecimiento .


O passado vive comigo e traz-me também à memória os dois anos passados na Guiné, a combater por um Império sem futuro, havia duas estações, a estação seca e a época das chuvas, há algum tempo o meu amigo Cherno Baldé disse-me que estavam desreguladas.

L passado bibe cumigo i traç-me tamien a a mimória ls dous anhos passados na Guiné, a cumbater por un Ampério sin feturo, habie dues staçones, la staçon seca i la época de las chubas, hai algun tiempo l miu amigo Cherno Baldé dixe-me que stában çreguladas.


Tento fugir da modorra que a chuva constante provoca, aliada à cor de chumbo dos dias que cai sobre nós como uma cortina escura. Os estudiosos e cientistas do clima e das suas alterações dizem que os erros cometidos pela ganância das grandes empresas e dos governos não poderão ser emendados nos próximos decénios pelo que todo este rol de calamidades, desgraçadamente vai sobrar para os nossos filhos e netos.

 Tento  fugir de la modorra  que la chuba custante proboca , aliada a a quelor  de chombo de ls dies  que cai subre nós cumo ua cortina scura. Ls studiosos i cientistas de l clima i de las sues altaraçones  dízen  que ls erros cometidos pula ganáncia de las grandes ampresas  i de ls gobiernos nun poderán ser emendados ne ls próssimos decénios pul que to este rol  de calamidades, çgraçadamente  bai sobrar pa ls nuossos filhos i nietos 

  

Por toda a Terra estes  fenómenos atmosféricos e outros  mais terríveis irão acontecer. A Terra, revoltada contra  tantos maus tratos que os homens têm cometido contra ela que a poderá  converter naquele Inferno assustador que os padres nas igrejas pintavam  com as piores chamas e sofrimentos para amedrontar os cristãos pecadores. Tempo que as igrejas cristãs santificaram  para consagrar  a um  Deus que se quis fazer homem para conhecer melhor a espécie humana. 

Por to la Tierra estes  fenómenos atmosféricos i outros  mais terribles eiran acuntecer. La Tierra, reboltada contra  tantos malos tratos que ls homes ténen cometido contra eilha que la poderá  cumberter naquel Anfierno assustador que ls padres nas eigreijas pintában  culas piores chamas i sofrimientos para amedrontar ls crestianos pecadores. Tiempo que las eigreijas crestianas santificórun  para cunsagrar  a un  Dius que se quijo fazer home para coincer melhor la spece houmana. 


Este tempo húmido e cinzento amarrota-nos a roupa e a alma. A minha alma está vazia,  nua como a árvore sem folhas que vejo lá fora. Entre dias das festas de Natal, em alegres convívios familiares, com bons  manjares, bacalhau, couves, rabanadas, sonhos, bolo-rei, peru, cabrito, e bom vinho caímos neste hiato  de  dias tristes e monótonos enquanto aguardamos  que o Ano Novo nos  faça renascer com o novo ciclo da Terra com  outra  vitalidade e entusiasmo do eterno retorno do Planeta Azul.  É o tempo da celebração da festa dos rapazes e dos imortais que, confiantes no avanço da medicina, acreditam que nunca irão morrer.    

Este tiempo húmido i cinzento amarrota-mos la roupa i l'alma.  A mie alma stá bazie,  znuda cumo l'arble sin fuolhas que beijo alhá fura. Antre dies de las fiestas de Natal, an alegres cumbíbios fameliares,  cun buonos  manjares, bacalhau, berças, rabanadas, suonhos, bolho-rei, peru, chibo, i bun bino caímos neste hiato  de  dies tristes i monótonos anquanto aguardamos  que l Anho Nuobo ne ls  faga renacer cul nuobo ciclo  de la Tierra cun  outra  bitalidade i entusiasmo de l'eiterno retorno de l Planeta Azul.  Ye l tiempo de la celebraçon de la fiesta de ls rapazes i de ls eimortales  que,  cunfiantes ne l'abanço de la medecina, acraditan que nunca eiran morrer.   

  

Mas morremos, morremos todos os dias, enquanto crescemos , enquanto envelhecemos, mesmo quando a natureza se renova. Devemos morrer porque a Terra é limitada e não tem lugar para imortais. Sejamos lúcidos e solidários e aceitemos dar o lugar às gerações mais novas. O silêncio, a apatia, a melancolia, o cansaço de viver, ou a crença de algum Deus que suavize a nossa partida, que nos deem a lucidez e a coragem necessária. Com a promessa ou a ilusão de paraísos dos mares do sul, das ilhas encantadas ou do céu quando se pinta de azul, ou sem promessas ou ilusões encarando o nosso destino , com a naturalidade de quem viu os nossos antepassados regressar ao pó da Terra.

Mas morremos, morremos todos ls dies, anquanto crecemos , anquanto ambelhecemos, mesmo quando la natureza se renoba. Debemos morrer porque la Tierra ye lemitada i nun ten lugar para eimortales. Séiamos lúcidos i solidairos  i aceitemos dar l lugar a las geraçones mais nuobas.  L  siléncio, l'apatie, la melancolia, l cansaço de bibir, ó la fé d'algun Dius que suabize la nuossa partida, que ne ls den la lucideç i la coraige neçaira.  Cula promessa ó l'eiluson de paraísos de ls mares de l sul, de las ilhas ancantadas ó de l cielo quando se pinta d'azul,  ó sin promessas ó eilusones ancarando l nuosso çtino , cula naturalidade de quien biu ls nuossos antepassados regressar al pó de la Tierra.


No fim de tudo, que a todos nos espera, as flores murcham e morrem, as saudades também.

Felicidades para todos em 2023 , a felicidade é um estado de espírito, ao alcance de todos, os crentes, os não crentes, os pobres, os ricos, os sábios e os ignorantes.

Ne l fin de todo, que a todos ne ls spera, las flores murchan i morren, las suidades tamien.

Felicidades para todos an 2023 , la felicidade ye un stado de sprito, al alcance de todos, ls crentes, ls nun crentes, ls pobres, ls ricos, ls sábios i ls eignorantes.

Tradutor Pertués -> Mirandés (Com a devida vénia...)
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Guiné 61/74 - P23939 O nosso blogue em números (81): atingimos o final do ano de 2022 com um total de 13,9 milhões de visualizações de páginas: houve uma quebra de 30% em relação a 2021

 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

1. C
ontinuamos a publicar alguns números sobre a nossa atividade bloguística em 2022 (*). 

O nosso blogue atingiu, no final do último ano, cerca de 13,9 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...). Segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger , essa estatística foi assim apurada:

(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até maio de 2006;

e (ii) c. 12,1   milhões, desde então até 31/12/2022 (Gráfico 2).

Houve um quebra de  30 % relativamente ao ano anterior (**). Essa quebra é mais acentuada no 1º semestre (n=290 mil visualizações) do que no 2º (n=330 mil visualizações (Gráfico nº 3). Em média, tivemos 1700 visualizações por dia.

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador; o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de maio de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero....


Gráfico nº 2A - Evolução das visualizações de página ao longo do ano de 2022
Fonte: Blogger (2023)


2. Achamos que não vale a pena desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos, de acordo com a experiência passado, que o movimento é variável conforme os meses, as semanas e os dias:  por exemplo, houve vários picos, em 2022, com valores acima das 5 mil  visualizações diárias, no 2º semestre, com valores que chegaram mesmo  a ultrapassar os dez mil  (em 25/11/2022) e os mais de 12600 (20/9/2022 e 1/12/2022) (Gráfico nº 3).  No último mês, por exemplo, o nº de visualizações foi de 73 mil (200 mil nos últimos três meses), superior à média mensal (=51,8 mil)

Mas estes  picos não têm qualquer significado estatístico (são "outliers"): em geral estão associados à atividade de robôs que fazem capturas de página. O nosso blogue é seguido, regularmente, por exemplo pelo Arquivo.pt (que em 2022 fez 4 capturas de páginas). (Como é sabido, "o Arquivo.pt  é uma infraestrutura de investigação que permite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996. O principal objetivo é a preservação da informação publicada na Web para fins de investigação".)

Por outro lado, o nosso servidor, o Blogger, faz hoje mais controlo, do que no passado, sobre o SPAM e outras visitas indesejáveis na caixa de cometários.

3. Já agora, e por simples curiosidade, indicam-se "os  cinco postes mais visualizados"  ("Top Five") durante o ano de 2022:







Com 1, 81 mil visualizações > 6 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22974: In Memoriam (426): Paz para a alma de todos os nossos camaradas que morreram no desastre de Cheche, faz hoje 53 anos...Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade... Estupidamente!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)









Com 639 visualizações > 1 de abril de 2019 > 2019 > Guiné 61/74 - P19640: (De)Caras (126): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte III (Jorge Araújo)




Como já o temos dito (***), a expressão "postes mais visualizados" não quer dizer os "postes mais comentados" nem sequer os "mais lidos... O poste pode ter sido, num dado dia, clicado "n" vezes, sem nunca sequer ter sido lido...

Estes resultados têm, pois, que ser vistos com muitas reservas e cautelas... Não significam necessariamente "maior popularidade" ... Por exemplo, não temos meios para distinguir o interesse dos leitores e as pesquisas feitas por robôs... Repare-se, entre estes cicno postes, só dois foram publicados em 2022... E há dois (P21145 e P21522) que voltam a aparecer no "Top Five" (nos cinco mais visualizados)...

É bom ter em conta que o  título da série e os marcadores, descritores ou "tags", ou o próprio título do poste, também podem influenciar a pesquisa... Neste caso, por exemplo, o poste P21145, da autoria do José Belo, dirige-se a um público-alvo, o "macho ibério" (sic), muito mais vasto do que os "antigos combatentes da Guiné" (mesmo que, entre estes útimos,  também pudesse haver admiradores das altivas e distantes suecas, louras e de olhos azuis...). 

(Continua)

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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 16 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22910: O nosso blogue em números (78): Os vinte postes com maior nº de visualizações ao longo dos 12 meses do ano de 2021...

Guiné 61/74 - P23938: Notas de leitura (1539): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
É inequívoco que o coronel Luís Cadete não incorre na prosápia de escrever memórias para as candeias da História, o que ele nos lega é uma diversidade de situações que ajudam a iluminar uma importante região da Guiné em guerra, num período que vai de 1966 a 1968. Creio que é a primeira vez que temos uma água-forte de Mejo e a sua importância no chamado corredor de Guileje onde, igualmente, se irá implantar, no final da governação de Schulz, o octógono de Gandembel; dá-nos o conhecimento das etnias ali conviventes, nesta vasta região onde ele fala de Aldeia Formosa, de Fulacunda, de Buba, das operações de reabastecimento e das singularidades do dia-a-dia. Confessa abertamente que nutria um certo desdém por certas chefias, faz brilhar gente valorosa, heróis anónimos, e sabe prender a nossa atenção em descrições manifestamente dolorosas, como veremos mais adiante, com o incêndio de Contabane, não poupa críticas ao então comandante-chefe, Spínola, pelo abandono daquela posição. Ainda há muito mais para dizer. Teimo que este livro merece muito mais do que a curtíssima edição que lhe destinaram.

Um abraço do
Mário



Muita atenção, há aqui páginas que passarão à posteridade, temos Mejo na literatura! (2)

Mário Beja Santos
Coronel Luís Carlos Loureiro Cadete, ontem e hoje

A
obra intitula-se "Noites de Mejo", o autor assina Luís Cadete, viremos a saber que de seu nome completo é Luís Carlos Loureiro Cadete, foi comandante da CCAÇ 1591, a quem também dedicou o livro, conjuntamente com os seus soldados guineenses. Escreveu estas histórias em 2016 e publicou-as em 2022, edição de autor com produção da Âncora Editora. Deu algum trabalho chegar ao livro, que não está no circuito comercial, o que é profundamente de lamentar, há aqui páginas admiráveis, não faltam tiradas bem urdidas de tragicomédia, revelando ternuras da aculturação, a vida dura num dos pontos mais ásperos que a guerra da Guiné ofereceu aos militares portugueses.

São histórias soltas, como diz o autor, “fruto das minhas recordações e de conversas tidas com camaradas em volta da mesa”, e não será por acaso que se cita Eça de Queiroz: “Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia”, isto para recordar que nem sempre estamos em Mejo, saltitamos por vários lugares, aliás a estadia em Mejo não chegou aos 9 meses, e vale a pena recordar que muito mais tarde (1988-1991) Luís Cadete desempenhou funções como Adido de Defesa junto das embaixadas de Portugal em Bissau, Dacar e Conacri.

Privilegio algumas das suas descrições, pelo rigor e luminosidade. Um exemplo:
“É Buba uma quase península nas cabeceiras do Rio Grande de Buba, vasta massa de água salgada que ali chega, em sucessivas e intricadas ramificações, vinda do mar.
Sede do comando do Batalhão, tinha anexa uma tabanca com numerosa população que vivia da pesca e de serviços prestados à tropa ali aquartelada.
Militarmente, estava exposta à observação e ao tiro direto do inimigo, facto assombroso que constituía um violentíssimo pontapé nas normais mais elementares da Tática.”


Não esconde juízos implacáveis a comportamentos de seus superiores, como escreve a propósito da visita do General Schulz a Aldeia Formosa, sai do helicóptero e conversa com a figura grada da população civil, o Cherno Rachide Djaló, este apresenta-se imponente na sua elevada estatura, de balandrau e solidéu imaculadamente brancos, o governador pergunta a esta entidade espiritual o que é que o povo da Aldeia Formosa precisa, Rachide Djaló responde em Fula: “Havia aqui, antes da guerra, um posto sanitário e uma maternidade que foram fechados sem o povo perceber qual a causa. Precisamos muito do posto e da maternidade a funcionarem e precisamos também de escola para os meninos. Queremos que nos mandem professores, mas não padres, porque já temos religião. A tropa desta companhia fez um posto médico na tabanca, com camas da tropa, mas não chega; precisamos de médico. É isto que nós precisamos.”

É igualmente preciso a falar da topografia de Mejo e vizinhança:
“Sobe-se para o planalto a partir da bolanha do lado de Mejo, por uma rampa curta, mas íngreme, que dá acesso a uma reta que desemboca diretamente na pista da tabanca e aquartelamento de Guileje.
Daqui desce-se, suavemente para o entroncamento desta estrada com a que vem de Gadamael Porto e segue para a chamada Ponte do Balana, nome do curso superior do rio Cumbijã, a Norte; do topo da pista oposto a Guileje, que se desenvolve num esporão do planalto, desce-se para as numerosas e labirínticas ramificações do rio Cacine de densa vegetação, a Sul; para Norte, coberto de mato denso, estende-se o planalto cortado pelo Cumbijã do qual se sobe, de novo, para outra zona planáltica onde se situam Contabane, Aldeia Formosa (Quebo) e Mampatá.
À esquerda de quem desce para o cruzamento, a cerca de 300 metros, encontra-se uma nascente onde a Companhia de Guileje se abastecia de água e que também dessedentava grupos de terroristas que por ali passavam.”


As suas memórias, inevitavelmente, também se orientam para aqueles episódios burlescos que mais ou menos quem esteve no mato provou, caso do aparecimento repentino da cobra, a bravura anónima de um bazuqueiro, o desespero de se chegar ao quartel e se descobrir que falta uma secção, o caricato de certas reuniões com o corpo do Estado-Maior, com as suas ninharias e inequívoca falta de conhecimento do terreno, a chegada de um oficial do quadro permanente que vinha confortado com gira-discos e canções da moda, os desastres do fornecimento, em que se pedia x de uma quantidade de carne de vaca e apareceram 50 quilos de queijo flamengo, as teimosias do régulo Sambel Baldé, de Mampatá Bacirgo que não tinha problemas de passar a fronteira e punir quem lhe vinha beliscar a vida no regulado. Histórias muito bem contadas que deliciarão não só os antigos combatentes.

Mas vê-se que o autor tende prescrever águas-fortes de locais por onde passou, e dá-nos informações cuidadas, extremamente úteis para quem vier a fazer a historiografia de todos estes locais por onde a guerra grassou e como cada um se posicionou:
“[Quebo] Região eminentemente Fula há vários séculos, nela pontificava o velho régulo Baró Baldé cujo irmão, Leonel, era professor primário, lecionando na residência a expensas suas. Era também sede do chefe espiritual da nação Fula, o famoso e muito respeitado Cherno Rachide Djaló, homem entendido nas coisas do Corão. Quanto mais não fosse, só por isto, Quebo era terra importante, até do ponto de vista estratégico, na guerra que se travava na Guiné.
Naquela vasta e importante região que se estendia, a Sul do rio Corubal, entre os limites ocidentais do regulado de Mampatá e a fronteira com a República da Guiné, vivia-se, nessa altura, em paz. Dizia-se, lá pelos QG de Bissau, e não só, que essa se situação se devia à presença de tão prestigiada figura, mesmo além-fronteiras, como era o Cherno Rachide Djaló. Dizia-se que atuar na citada região seria prejudicial à estratégia do PAIGC. Ou seja, o Cherno era um dos elementos da estratégia do comandante-chefe para a região. Daí, quiçá, os fracos meios atribuídos. De resto, os quadrilheiros do PAIGC só atuavam, ocasionalmente, no regulado de Cumbijã, mais próximo do rio do mesmo nome, a Sul.

Mas nem todos acreditavam naquela interpretação, e com razão como se viu em finais de 1968, durante o consulado do general Spínola. E os primeiros a não acreditarem naquela interpretação eram os régulos, nomeadamente o de Contabane.
E tinham razão para tal.
Como muito bem sabiam as altas-chefias, porquanto as informações fluíam dos régulos e do Cherno para o comando de Companhia e deste para os escalões superiores, há muito que os terroristas, ao mais alto nível político-militar, rondavam a zona para lá da fronteira, reconhecendo o terreno em busca do melhor sítio para se instalarem.”


O autor, quando necessário, não deixa de referir o horror e os padecimento da guerra, caso daquele furriel B, dotado de espírito de missão que fora apanhado em cheio pela deflagração das granadas e projetado de costas alguns metros de distância: “A calote craniana saltara-lhe da cabeça, deixando entrever a massa encefálica; no trono eviscerado, apenas o coração teimava em pulsar pendurado da aorta; dos braços, apenas os úmeros, descarnados, recordavam terem existido ali os membros superiores, enquanto as artérias femorais, meio desbridadas, esguichavam qual repuxo num filme de terror.”


O capitão Nuno Rubim, nosso confrade, comandante de Companhia em Guileje, 1966
Aldeia Formosa em tempos de guerra, com a pista de aviação ao fundo. Com a devida vénia a José da Mota Vieira
Cherno Rachide, Aldeia Formosa, 1973, festa Fula da matança do carneiro, fotografia do nosso estimado confrade Vasco da Gama, ele está perto dessa grande figura espiritual

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 26 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23917: Notas de leitura (1536): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23930: Notas de leitura (1538): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (10) (Mário Beja Santos)

domingo, 1 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23937: O nosso blogue em números (80): em 2022, publicámos 1068 postes, pouco menos do que em 2021, mas ainda assim na casa dos 3 por dia em média...


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

1.  Melhor Ano Novo de 2023, caros/as leitores/as!... Livre das maleitas que, de uma maneira ou doutra, nos têm atingido, individual ou coletivamente,

Aqui vão, logo no primeiro dia do ano, alguns elementos do nosso "relatório & contas"... Fazemo-lo,  não por  imperativo legal (ou até ético), mas apenas pelo gosto de cultivar a nossa "memória".

Estes dados estatísticos, para além da "prestação de contas" (que são devidas aos membros da Tabanca Grande, a quem nos lê, a quem nos comenta, a quem nos escreve, a quem nos divulga, a quem nos segue, a quem nos acarinha...), também servem para memória futura.  

 E começando pelo Gráfico nº 1, vê-se que "ainda continuamos vivos", ao fim de quase 19 anos a "blogar" ... Enfim, e tudo isto apesar dos problemas de saúde de alguns de nós, e do desaparecimento de tantos outros (alguns dos nossos melhores),  
 apesar do cansaço bloguístico, apesar do desfalque da equipa de coeditores (o Jorge Araújo, embora atento e ativo continua longe, nos Emiratos Árabes Unidos), etc., etc.

Recorde-se que o nosso blogue nasceu muito timidamente, e por acaso, em 23/4/2004... E nesse ano só se publicaram... quatro (!) postes. Ninguém, seguramente, previa a sua longevidade: publicar quase 24 mil postes na Net, em  é uma "eternidade... 


2. O número de postes publicados, durante o ano de 2022, foi de 1068, ligeiramente inferior ao de  2021 (n=1140). Houve uma quebra de 6,7%. Acentua-se, todavia,  a tendência descrescente, verificada desde há 8/10 anos, o que faz parte da "ordem natural das coisas"... Grosso modo, estamos a publicar 3 postes por dia...

Como curiosidade, refira-se que o nosso recorde, inultrapassável, foi o ano de 2010, em que atingimos um valor máximo, histórico, de 1955 postes publicados (!)  (cerca de 5,4 postes por dia)...  Mas não estamos aqui para bater recordes...

Como temos dito noutras ocasiões, já não temos a mesma genica, amesma pedalada,  a mesma saúde, a mesma motivação... E muitos de nós já esgotaram as "memórias" do seu baú... 

Enfim, o blogue já não pode ter a mesma frescura, o mesmo encanto, a mesma capacidade de atração  dos melhores anos (grosso modo, até 2014). 

Carlos Vinhal
Neste ano que passou (2022),  também falharam novas entradas, como veremos noutro poste e aumentou a lista dos que "da lei da morte já se libertaram"...

A nossa gratidão vai para quem, em 2022,  alimentou o nosso blogue, mandando-nos material para publicar!... Seria impossível listar todos os "autores" dos 1068 postes publicados. 

E pessoalmente estou também muito grato aos nossos coeditores, com destaque para o incansável e insubstituível Carlos Vinhal  (foto à direira),  bem como colaboradores permanentes, comentadores, leitores... !
(LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 2 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22870: O nosso blogue em números (72): afinal, nem tudo correu mal... Em mais um "annus horribilis", o de 2021, publicámos 1140 postes, o que está dentro da média dos últimos cinco anos...

Guiné 61/74 - P23936: Mi querido blog, por qué no te callas?! (9): O nosso blogue à lupa dos lentes de Coimbra... Pequeno resumo da tese de doutoramento de Verónica Ferreira que nos caracteriza assim, em entrevista à Lusa: (i) uma espécie de comunidade de antigos combatentes à procura de um sentido para a participação na guerra colonial; (ii) com um lado nostálgico de partilha de memórias, mas também de revolta pelo sacrifício inútil e não reconhecido; (iii) com um postura defensiva e uma visão algo lusotropicalista do conflito; e (iv) onde há muitos "pequenos silêncios" e alguns tabus


Uma das imagens ícones (e mais plagiadas) do nosso blogue: o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, 1969/71, no subsetor do Xitole do setor L1, Bambadinca, a atravessar uma lala.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.

[Edição e legendagem : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Antigos combatentes criam sentido de comunidade 
em blogues e Facebook, revela estudo

29-12-2022 11:22 | Porto Canal  / Agências (com  a devia vénia...)

Uma investigadora da Universidade de Coimbra analisou a participação em blogues e em grupos de Facebook de antigos combatentes na Guerra Colonial, espaços onde estes homens criam um sentido de comunidade, mesmo que com “silêncios” sobre aquele período.

O tema foi objeto de estudo da tese de doutoramento de Verónica Ferreira, investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, no âmbito do projeto de investigação CROME, que tem como objetivo fazer uma história da memória das guerras coloniais e de libertação combatidas entre o Estado português e os movimentos independentistas africanos.

O doutoramento centrou-se nas narrativas dos antigos combatentes em blogues (com especial foco para o maior blogue de veteranos, “Luís Graça & Camaradas da Guiné”) e em grupos da rede social Facebook.

Para Verónica Ferreira, a presença dos antigos combatentes em meios digitais espelha a necessidade dos próprios de “formarem uma espécie de comunidade”, de falarem das suas experiências passadas e de lhes darem um sentido.

Apesar de no Facebook e nos blogues a construção de narrativas ser diferente (nos blogues, há uma maior diversidade de relatos, enquanto o Facebook aparece como uma espécie de fórum), há “linhas narrativas transversais”, disse à agência Lusa a investigadora.

Verónica Ferreira nota que, para lá daquilo que é partilhado, das histórias ou experiências, é importante perceber “quais os silêncios que existem”.

“É preciso perceber a história da qual não se fala. Aquilo que se fala é sobretudo de um sentimento de revolta, por não haver reconhecimento do Estado do sacrifício dos combatentes. O silêncio surge em relação à violência perpetrada”, constatou, dando ainda conta de outros “pequenos silêncios”, como a homossexualidade, que não é falada, ao contrário de temas difíceis que acabam por ser abordados como a deserção ou filhos que foram deixados lá.

Segundo a investigadora, a violência cometida na guerra é evitada nos relatos que são partilhados e, no caso da relação com mulheres durante o período em que foram mobilizados, o assunto é “abordado de forma coloquial, em linguagem de caserna, nunca se analisando a violência por de trás dessas relações”.

Para Verónica Ferreira, “há uma postura defensiva” nos antigos combatentes, mesmo que não exista uma “narrativa homogénea”.

“Existem muitos combatentes, com contextos diferentes, com posições ideológicas diferentes, mas há uma linguagem defensiva, mesmo em relação àqueles que se posicionam de forma crítica, porque há sempre uma tentativa de justificar a participação” na Guerra Colonial, vincou.

Para a investigadora, que para além de análise dos blogues e grupos de Facebook também entrevistou colaboradores do blogue “Luís Graça”, há uma “perspetiva de legitimação da guerra”.

“Foram pessoas que viveram a guerra e têm que encontrar algum sentido para aquilo que viveram. Há uma tentativa de encontrar uma linha coerente para contar uma história de vida, que os satisfaça e que faça sentido”, notou.

Para além dessa postura defensiva, há também um lado nostálgico de contar as suas vivências, de reencontrar camaradas e de abordar as memórias de um momento em que “foram protagonistas da História”.

Se o diálogo entre antigos combatentes é sobretudo cordial, surgem, mesmo assim algumas tensões, que acabam por resvalar mais no Facebook, onde “é um pouco mais visível uma secção mais conservadora dos combatentes”.

Para Verónica Ferreira, apesar de ter havido sempre um esforço da extrema-direita para tentar cooptar os antigos combatentes, “nunca foi bem-sucedido”.

Essas tentativas são visíveis no Facebook, havendo inclusive um grupo ligado ao partido Ergue-te (antigo PNR), mas a cooptação “não parece que tenha sido bem-sucedida”, constatou.

Ao mesmo tempo, quer no Facebook quer nos blogues, a visão da Guerra Colonial é uma visão “lusotropicalista”, que olha de forma benevolente para a ocupação portuguesa, mesmo naqueles que se posicionaram contra a guerra.

A investigadora realça ainda a importância de se preservar o material que vai sendo partilhado e publicado nos blogues, especialmente em “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, realçando que aquele espaço “é um manancial imenso de documentação, de relatos, de história oral”.

“Não existem programas que preservem aquela riqueza de material para além do esforço do Luís Graça e dos restantes camaradas. Seria uma perda imensa se o domínio fechasse e deveria haver um esforço para recolher e preservar aquele material de forma mais consistente”,
defendeu.

Notícia do Porto Canal | Agência Lusa, que nos chegou já ao findar do ano de 2022, pela mãos dos nossos camaradas Carlos Pinheiro e Miguel Pessoal. Fica bem na série "Mi querido blog", para inaugurar o ano de 2023  (**)... Fixação de texto / links / negritos: LG.
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