1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 20 de Abril de 2010:
Meus caros camarigos editores
Tenho pensado na forma de festejar o aniversário da Tabanca Grande que se aproxima.
Quis escrever alguma coisa que marcasse o dia.
E fui andando "por qui, por li", como se diz na minha terra e... nada!
Numa procura que estava a fazer de textos antigos para um trabalho em mãos, deparei-me com algo que escrevi e publiquei no meu blogue, depois do nosso Convívio de 2007.
Ao lê-lo percebi que seria a melhor homenagem que poderia fazer ao nosso espaço de tertúlia e amizade.
Anexo o texto.
Porque o mesmo contêm a expressão viva daquilo que eu vivo como homem de fé, compreenderei se acharem que não o devem publicar como "presente" de aniversário, por eventual critica de "proselitismo".
Tal não me passa pela cabeça, mas, volto a dizer, compreenderei perfeitamente a vossa decisão.
Ficará a intenção e a minha sempre constante amizade e camaradagem, para melhor dizer, camarigagem.
Um abraço deste camarigo
Joaquim
ENSINAMENTO DE VIDA
Tive um fim-de-semana muito ocupado, mas sobretudo vivido muito intensamente.
No Sábado estive num almoço convívio com ex-combatentes da Guiné, (onde estive de 1971 a 1973), e hoje, Domingo, participei na Sé de Leiria, na celebração da Eucaristia de Ordenação de um Presbítero, o Marco, e um Diácono, o Marcelo, que pertence desde a primeira hora à nossa Comunidade Luz e Vida.
Perguntarão o que tem uma coisa a ver com a outra, e também eu perguntei isso mesmo ao meu Deus e Senhor, que sempre nos dá algum ensinamento sobre o que vai acontecendo no dia-a-dia das nossas vidas.
No almoço convívio, (de muitos ex-combatentes que se reúnem num blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné), estavam por isso mesmo, muitos camaradas de armas, (como nos costumamos chamar), de diversas idades, proveniências e unidades militares, dos quais muitos não se conheciam ainda pessoalmente.
No entanto, o sentir, a identificação de algo comum, a unidade de uma experiência colectiva, a comunhão de todos estes sentimentos e vivências, fazia com que nos sentíssemos todos iguais, todos irmanados, todos acolhedores, todos no fundo como um só, embora tão diferentes nas nossas vidas, desde a idade, à política e com certeza à religião.
Na Eucaristia da Ordenação do Marco e do Marcelo, estávamos também pessoas de diversas idades, diversas experiências de vida, locais diferentes, diferentes “sentires”, diferentes modos de viver a Fé, mas no entanto, todos unidos, acolhedores, sorrindo uns para os outros, querendo dar as mãos, e na diversidade, comungando a e na unidade com o Senhor Nosso Deus.
E então o que é que em eventos tão diferentes, se pode encontrar como ensinamento para a vida?
E a resposta é a própria vida, a vida que se dá, que se entrega, a vida que se recebe, a vida que se predispõe para os outros e dos outros para nós.
Com efeito, na guerra, colocamos a nossa vida nas mãos dos outros, dos que estão ao nosso lado, que nos acompanham e que às vezes apenas conhecemos ali, enquanto os outros nos entregam as suas vidas, confiando em que as vamos proteger com as nossas próprias vidas.
Só com essa entrega mútua de confiança, é possível sobreviver na guerra.
Essa vivência faz-nos identificar com todos os que estiveram na guerra, no nosso tempo, no nosso sitio, ou tempos e sítios totalmente diferentes.
Quando nos encontramos, conhecendo-nos ou não, apesar de todas as diferenças que possam existir entre cada um, abraçamo-nos, acolhemo-nos e comungamos de um mesmo sentimento: a vida que continuamos a ter.
Na vivência da Fé, na e em Igreja, a vida só tem sentido se for uma oferta permanente a Deus, e por Deus aos outros.
Só posso viver e crescer em comunhão com os outros e para os outros, senão arrisco-me a perecer na primeira dificuldade, a cair na primeira tentação.
A minha salvação só tem sentido na salvação dos outros e os outros contam com a minha entrega em oração por eles, como eu conto com a sua entrega em oração por mim.
Pode mesmo chegar-se um dia ao extremo de termos, por amor, de dar a vida pelos outros, entregando-nos confiantemente nas mãos do Criador, como ainda hoje tantos fazem, em nome de Deus, pelos seus irmãos.
E não interessa onde estamos, onde nos encontramos, no nosso país ou outro qualquer, porque nos identificamos e reconhecemos nessa entrega de amor a Deus e aos outros.
Na guerra os outros confiam que eu os protegerei e contam com as minhas capacidades, como eu conto com as deles, para chegarmos sãos e vivos ao nosso ponto de partida.
Na Igreja, os outros contam com as minhas orações, com o meu testemunho de vida, como eu conto com o deles, para crescermos juntos na Fé e alcançarmos a Salvação, que nos foi dada por Jesus Cristo Nosso Senhor.
A entrega da nossa vida, pelos outros e dos outros por nós, leva-nos a este encontro de comunhão de sermos um só com o mesmo objectivo.
A diferença está em que, na guerra a finalidade é preservarmos a nossa vida, muitas vezes aniquilando a vida do outro.
Na vivência da Fé, em Igreja, a finalidade é a salvação do outro com a entrega da nossa vida, alcançando também a nossa salvação.
Monte Real, 30 de Abril de 2007
JMA
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)
Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P622: O 6º aniversário do nosso blogue (17): Quem disse que hoje não havia rancho melhorado ? (Torcato Mendonça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Um dos maiores escritores sueco e escandinavo,August Strindberg,disse:"Como eu ás vezes ainda gostaria de ter Deus e o Céu.Seria ,pelo menos,um bom abrigo." Caro Joaquim um grande abraco amigo.
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