quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26397: Os nossos seres, saberes e lazeres (663): Convite para a apresentação pública do livro "Orando em Verso III", da autoria do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, dia 24 de Janeiro de 2025, pelas 21h30, no Salão 1 da Igreja Matriz da Marinha Grande

C O N V I T E



Na sexta feira, dia 24, às 21h30, no salão 1 da nossa igreja da Marinha Grande, terá lugar a apresentação do meu terceiro livro “Orando em Verso III”.

A apresentação será feita pelo meu amigo Padre Armindo Castelão Ferreira, que aceitou o nosso convite para viver connosco esta minha alegria.

Tenho de agradecer muito ao Padre Patrício Oliveira, meu amigo e meu pároco, todo o trabalho que teve na concepção, paginação, etc., deste livro, bem como a óptima fotografia do autor colocada na badana do livro e que também está impressa neste convite.

Muito obrigado pelo fantástico trabalho.

Tenho também de agradecer muito à minha amiga Daniela Sousa a excelente fotografia da capa do livro, que engrandece o livro, sem a mínima dúvida.
A fotografia é do grande crucifixo que faz parte do espólio artístico da Paróquia da Marinha Grande.

Claro que o meu maior agradecimento vai para Deus, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, que, no Seu infinito amor, conseguiram moldar a “pedra dura” que eu era, (e ainda sou um pouco), e levar-me a escrever coisas que eu próprio não consigo, por vezes, abarcar.

À minha Mãe do Céu, dizer obrigado por tantas vezes me dar a mão quando me perco no caminho.

Todos estão convidados a juntarem-se a nós nesta noite de grande alegria para mim.

A receita da venda deste livro reverte inteiramente para a Paróquia da Marinha Grande, particularmente para o fundo para a construção do Centro Pastoral, que tanto desejamos e necessitamos na nossa paróquia.

Quem não quiser ou puder estar presente, mas quiser adquirir o livro, pode fazê-lo enviando um email para – orandoemverso@gmail.com – expressando essa intenção e na resposta será indicado o modo como poderá adquiri-lo.

Marinha Grande, 15 de Janeiro de 2025
Joaquim Mexia Alves


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Sobre o autor:

Joaquim Mexia Alves nasceu em Maceira Liz em 1949, mas viveu sempre em Monte Real e Lisboa. Desde 2003, vive na Marinha Grande. Passou por África numa comissão militar na Guiné (1971-1973) como alferes miliciano de operações especiais e trabalhou em Angola nos anos 1974 e 1975.

Educado por pais católicos, frequentou colégios católicos dos irmãos Maristas, Franciscanos e Dominicanos. Ainda frequentou dois anos do curso de Medicina. Na adolescência, afastou-se da fé cristã e da Igreja, mas por volta dos 40 anos encontrou, no Renovamento Carismático Católico, a espiritualidade que o fez reencontrar a fé cristã e marcou o seu regresso empenhado à Igreja.

Fez o Curso Geral de Teologia, no Centro de Formação e Cultura da Diocese de Leiria-Fátima. Pertenceu aos órgãos nacionais do RCC e é, hoje em dia, membro do Board Nacional do Percurso Alpha. Pertence à equipa de liderança pastoral da sua paróquia da Marinha Grande, onde é também ministro extraordinário da comunhão.

É casado, pai de quatro filhos e avô de cinco netos. É autor de dois livros, Orando em Verso e Orando em Verso II, ambos editados pela Paulus.
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Nota do editor

Último post da série de 11 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26378: Os nossos seres, saberes e lazeres (662): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (187): From Southeast to the North of England; and back to London (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26396: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (11)

Foto 83 > Julho de 1970 > Olossato > Dia da Cavalaria > Parada Militar > Alferes Silva, Furriel João Moreira e Ramalho e os sodados do 4.º grupo de combate.
Foto 84 > Julho de 1970 > Olossato > Dia da Cavalaria > Parada Militar > CCAV 2721
Foto 85 > Julho de 1970 > Olossato > Dia da Cavalaria > Parada Militar > Capitão Tomé, Arfouche (Chefe de Posto) e Homens Grandes do Olossato.
Foto 86 > Julho de 1970 > Olossato > Arfouche > Libanês, Chefe de Posto
Foto 87 > Jullho de 1970 > Olossato > Furriéis Ramalho e João Moreira, junto ao bar e messe oficiais e sargentos
Foto 88 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira
Foto 89 > Julho de 1970 > Olossato > Em cima: Furriéis Lopes, Poupinha, Ramalho e João Moreira. Em baixo: Furriéis Oliveira e Pereira.
Foto 90 > Julho de 1970 > Bilhete de Identidade Militar de João Moreira

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 9 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26367: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (10)

Guiné 61/74 - P26395: (In)citações (260): Em louvor das nossas "tabancas" (ou tertúlias de antigos combatentes) (Angelino Santos Silva, escritor, natural de Paredes, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72)

1. Reprodução, com a devida vénia, de postagem no Facebook da Tabanca Grande, com data de 10 do corrente, às 23:00,  da autoria do nosso camarada Angelino Santos Silva, natural de Recarei, Paredes, escritor, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72, e que será o nosso próximo grão-tabanqueiro, passando (finalmente!) a sentar-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 897.

Frequenta, com alguma regularidade, as Tabancas do Norte, com destaque para a Tabanca de Matosinhos,
a Tabanca da Maia, e o Bando do Café Progresso. (E julgamos que também a Tabanca dos Melros,
 em Fânzeres, Gondomar.)


Tertúlias de combatentes
 
por Angelino Santos Silva


A Geração que entre 1961 e 1974/75 demandou por terras de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau para cumprir a Missão de Defender a Pátria, uma vez regressada a casa, criou um evento social até aí desconhecido nos hábitos dos portugueses: pelo menos uma vez por ano encontram-se algures num ponto intermédio do país, de modo a reunirem o maior número de Combatentes e aí confraternizarem, falando das suas vivências em África. 

Desde início criaram o hábito de levarem as esposas, depois filhos e depois netos, incluindo genros e noras. E assim tem sido a saga dos Combatentes ao longo de mais de 50 anos, após regresso definitivo a casa.

Há gente, que estando um pouco afastada destes “Encontros”,  estranha e se interroga, como o tema “Guerra” pode aproximar, direi, apaixonar tanta gente para, ano após ano conversarem alegremente de uma vida onde é suposto ter havido “sangue, suor e lágrimas”. E morte. 

E houve tudo isto. E mais. Houve cansaço, dor, mutilados, febres e outras doenças, especialmente maleitas “apanhadas pelo clima”, quando a cabeça não aguentava a pressão de viver num ambiente de guerra. Mas também houve alegrias, bebedeiras, sorrisos, cantorias e camaradagem. E algo comum a todos, que nos fez esquecer agruras e raivas por vermos um camarada mutilado ou morto ao nosso lado: o facto de termos 22, 23, 24 anos e a força de sermos jovens. Como esquecer, como não falar, como não confraternizar pela vida fora, pelo menos uma vez por ano?

Talvez pelas condições específicas da luta na Guiné-Bissau, os camaradas Combatentes que estiveram nesta Província, ao longo dos anos foram criando grupos que designam por Tabanca. E todos se mantêm ligados, quer pelas redes sociais, quer pelos “Encontros Anuais “ e há mesmo quem se encontre todos os meses e semanas. Eu, que fiz a guerra na Guiné, percebo como é importante para nós.

Das várias Tabancas que conheço e/ou participo, no passado dia 8 estive a confraternizar na Tabanca – O Bando do Café Progresso,  das Caldas à Guiné. Trata-se de um grupo simpático que há alguns anos se reúne religiosamente todos os meses. Como todos os grupos que conheço, este é também um grupo eclético pelo que nas conversas entre camaradas, além da vida da tropa, fala-se de outros temas, de A a Z, conforme o momento.

Desta vez o Ferreira marcou o encontro para a terra – que nela vive – mas esqueceu-se de nos avisar, que só um GPS concebido pela NASA nos levaria lá, sem a ajuda de um forasteiro que encontrássemos pelo caminho. Mas chegamos. E valeu a pena.

Boa comida nos serviram no restaurante. As “entradas” foram diversas e de boa qualidade e as tripas muito bem confecionadas e do agrado de todos. Desta vez a tertúlia teve a presença de algumas senhoras e cavalheiros da terra do Ferreira, gente simpática e alegre. Rosinha, dona do restaurante - porque coincidiu com o seu aniversário - prendou-nos com um belíssimo bolo e brindou-nos com alguns fados. 

Logo a seguir à refeição e antes das cantorias e conversas, foram declamados dois poemas: "Sextante", dito de forma magistral por Ricardo Figueiredo; e "Geração Africana", por mim. Algumas lágrimas surgiram ao canto do olho dos mais sensíveis.

Da próxima que lá for, vou de barco até a eclusa da barragem, subo e vou a correr por lá acima até chegar à Rua da Marroca, local do restaurante da Rosinha.

Um abarço, saúde om ano para todos Combatentes e suas família.
Angelino dos Santos Silva

Combatente na Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau

PS - Deixo-vos com os dois poemas :

SEXTANTE

Tracei a vida a régua e esquadro
como se fora uma quadricula
estudei ângulos, revi a deriva
e lancei as sortes no xadrez da vida

Nas contas usei a tabuada
mexi números, tracei a equação
somei pelos dedos da mão
dividi a sorte pela raiz quadrada
e fui à vida de bota fardada

Em águas turvas naveguei
por mar em tempos navegado
ao chão da selva cheguei
dormi sem cama, comi sem mesa
joguei às escondidas de arma na mão
e nesta complicada equação
pisei a linha e perdi o norte

Quis o sextante livrar-me da morte
voltei à vida sem trunfos na mão
lancei os dados em busca da sorte
ganhei ao xadrez, perdi ao gamão
nos cálculos imperfeitos da equação

Traz-me o sextante nesta aflição
realinho a quadricula a régua e esquadro
cálculo o risco, sou enganado
consulto as linhas da palma da mão
e aguardo as sortes da equação

E a vida se faz, fazendo
umas vezes parada, outras correndo
em matemáticas de contas incertas
umas vezes erradas, outras certas
e as contas desta equação
apenas se fecham nas tábuas de um caixão.


GERAÇÃO AFRICANA

Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos.

Percorremos o lado negro da vida
tropeçamos na face má da sorte
e andamos por trilhos e picadas da morte.

Talvez com sorte digo eu
muita sorte dizemos nós
quando em passos cuidados e tremidos
caminhamos sem rumo e sem norte
lutando para segurar a vida
matando para sacudir a morte.

Já lá fui e lutei
Já lá fomos e lutamos
Já lá sorrimos e penamos.

E abrimos a caixa de pandora
e antes de virmos embora
enfrentamos medos e emboscadas
carregamos sonhos e granadas
corremos perigo e aflição
bebemos água da bolanha
comemos colados ao chão
adormecemos de arma na mão
socorremos camaradas feridos
beijamos rostos estendidos
cerramos os punhos cantando
festejamos a vida chorando
deixamos os sonhos esquecidos
zangamo-nos com deus e o diabo
apertamos a raiva mordida na mão
e levamos a cabo heroica missão
deixamos áfrica
e regressamos a casa
mais leves de coração.

Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos
E pouco pedimos em troca.

Apenas… respeito e consideração.
Da vida e das mãos se faz uma nação.
Das lágrimas de um povo se faz História.
Da Geração Africana se fará Memória.

Poemas da autoria de Angelino Santos Silva, 
disponíveis na sua página do Facebook)

Guiné 61/74 - P26394: Humor de caserna (97): O anedotário da Spinolândia (XV): O comandante do destacamento de Cabedu... a quem Spínola perguntou pelo plano de defesa (Rui A. Ferreira, 1943-2022)



1. Mais uma história (daquelas "rocambolescas da guerra"...) contada pelo nosso saudoso camarada Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), ten cor inf ref, que fez duas comissões no CTIG, a última como cmdt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72): além de ter sido um grande operacional, foi também um talentoso escritor, tendo-nos deixado três livros de memórias; natural de Angola (antiga Sá da Bandeira, hoje Lubango), viveu parte da sua vida em Viseu, cidade que muito amava, onde tinha muitos amigos  (como o protagonista desta história) e onde faleceu.


O comandante do destacamento de Cabedu... a quem Spínola perguntou pelo plano de defesa (*)

por Rui A. Ferreira (1943-2022)



O meu amigo Manuel Cerdeira (**), atualmente coronel reformado da administração militar, cumpriu uma comissão na Guiné, como alferes miliciano atirador de infantaria.

Tendo saído do barco que o transportou até Bissau, diretamente para uma lancha da marinha, que o foi depositar, a si e ao seu grupo de combate, no aquartelamento de Cabedu, cuja guarnição era então composta por dois pelotões de atiradores e, sendo que, como era o mais antigo, passou nestes termos a ser o comandante militar de Cabedu.

Passados uns tempos, recebeu a visita do próprio general Spínola, que a certa altura lhe perguntou:

− Então, e o plano de defesa ?

Ao que o bom do Cerdeira respondeu:

− Não sei o que é isso.

− Então, quando são atacados o que é que fazem ?

− Fazemos fogo.

− Para onde ?

− Para onde pensamos que eles estão.

− Então, e não veio cá ninguém ajudá-lo a fazer um plano de defesa ?

− Não, senhor, o meu general foi o único até agora.

Spínola voltou para o helicóptero, foi à sede do batalhão (***), fez subir para o mesmo o comandante e foi largá-lo em Cabedu  e deixou-lhe TPC (trabalho de casa):

− Daqui a 15 dias volto cá a buscá-lo,quando o plano de defesa estiver pronto.

Para concluir a história, foi o comandante punido com uns quantos dias de prisão e devolvido à metrópole.


Fonte: Excerto de Rui Alexandrino Ferreira - "Quebo: nos confins da Guiné". Coimbra: Palimage, 2014, pág. 348.

( Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, itálicos, título: LG)


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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26391: Humor de caserna (96): "O mê Zé disse isso ?!"... O epílogo engraçado da história do impaludado (Alberto Branquinho)

Vd. poste de 4 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26348: Humor de caserna (91): O anedotário da Spinolândia (XIV): "Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!"... (Mário Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gandembel e Ganturé, 1967/69)


Cor SAM ref Manuel C. A. G. Cerdeira 
(1946-2023)

(**) Trata-se do cor SAM Manuel Carlos de Almeida Guerra Cerdeira, natural de Viseu (1946- 2023)(Curso de Saída da AM: 1974); foi alf mil at inf, OE, tendo cumprido uma comissão de serviço no CTIG, em Cabedu,  no subsetor de Catió (1969/70), comandando dois Gr Com da CART 2476  (Catió e Cabedu, 1969/70), setor S3 (Catió, BART 2865).

Ingressou depois  na Academia Militar em outubro de 1970 (Patrono do Curso: “Major Neutel Simões de Abreu”), concluindo a parte curricular do Curso de Administração Militar (AdMil) em 1973, sendo, após frequência do tirocínio na Escola Prática de Administração Militar (EPAM/Lisboa - 1973/1974), promovido a alferes.

Elemento da primeira hora do MFA, integrou o grupo de oficiais que assumiu o comando da Escola Prática de Administração Militar (EPAM/Lisboa) na madrugada de 25Abril74 bem como o grupo de comando que  garantiu a  ocupação e a defesa dos Estúdios da RTP no Lumiar, no âmbito na “Operação Fim de Regime”.

Fez depois a sua normal carreira militar: tenente (1974), capitão (1977), major (1986), tenente-coronel (1994) e coronel (1996). Destaque para uma Comissão de Serviço na Bósnia e Herzegovina, integrado no Destacamento de Apoio de Serviços (DAS) da Força Nacional Destacada “FND-IFOR/BÓSNIA” (1996).

(***) Catió, sector S3, englobando 3 subsetores, Catió, Cufar e Bedanda, e posteriormente (em out69) mais 3, Cacine, Gadamael e Guileje. Nesta altura, a responsabilidade do setor S3 era do BART 2865 (fev 69 / dez 70), que teve dois comandantes: TCor Art Mário Belo de Carvalho e TCor Art António José de Melo Machado.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26393: Historiografia da presença portuguesa em África (461): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos em 1891, chegamos a 1892 (18) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
É o final da governação de Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, irá entrar em funções Luís Vasconcelos e Sá. No acto de posse do novo governador, o secretário-geral interino, o capitão Passalagua, produz uma peça impressionante, não esconde o tumulto em que vive a província, as operações no Geba, as sequelas da guerra do Forreá, a necessidade de expulsar Mussa Moló, as hostilidades de Papéis, Balantas e Grumetes na ilha de Bissau; debelavam-se as sublevação, faziam-se acordos de paz, tudo era precário, o capitão Viriato Zeferino Passalagua dirá mesmo ao recém-chegado governador que ele está ao comando de uma província onde tem que combater e destruir um a um os obstáculos. E começa-se o ano de 1892 com uma espantosíssima concessão de terrenos a dois condes de apelido Buttler, concessões extensíssimas, espalhadas por todo o território, terão morrido à nascença, a vida das sociedades agrícolas e comerciais na Guiné, com exceções daquelas que irão prosperar como a Gouveia e a Sociedade Comercial Ultramarina, tiveram vida meteórica.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos em 1891, chegamos a 1892 (18)


Mário Beja Santos

Como se procurou sublinhar no texto anterior, o Governador Augusto Rogério Gonçalves dos Santos envolveu-se na operação a que chamou Guerra de Geba; no ano anterior houvera outro foco de incêndio, a Península de Bissau, hostilidades de Papéis, Balantas e Grumetes, fora debelada. Quanto à guerra de Bissau, o Governador tomara decisões: nomeou um oficial da classe dos capitães, conhecedor da ilha, Caetano Alberto da Costa Pessoa, tudo correu bem; a guerra de Geba envolveu lanchas canhoneiras a cooperar com a coluna de operações na circunscrição de Geba, sufocada a rebelião era louvado o capitão Zacarias de Sousa Lage pela dedicação, coragem, brio e valor militar e mérito com que dirigira as operações. E no rol dos louvores também apareceram civis:
“Tendo chegado ao meu conhecimento os serviços que a este Governo levaram diversos negociantes estabelecidos em Bissau, quando foi organizada a coluna de operações que devia bater os revoltosos na circunscrição do presídio de Geba, cujos serviços são dignos de ser tomados na maior consideração da sua natureza e importância, atendendo às circunstâncias em que foram prestados:
Hei por conveniente louvar os cidadãos seguintes:
Cidadãos franceses Gentil Maffrá e Benjamin Potin pelo oferecimento que fizeram como agentes da casa Blanchard & Companhia, de duas embarcações para transportarem tropas a Geba e não terem exigido frete por material que para ali foi transportado em embarcações diversas pertencentes à casa que representam;
Súbdito alemão Otto Schacht, como representante de Bernardo Soller; pelo oferecimento que fez de duas embarcações para conduzirem força e género a Geba, e duzentas libras de pólvora para auxiliares, e por ter gratuitamente posto à disposição do comandante militar de Bissau uma embarcação para descarregar carvão de pedra que estava a bordo do vapor Bissau;
José Sebastião de Sena, súbdito português, por ter oferecido um bote para transportar arroz para os auxiliares em Geba – e uma chalupa para transportar a esta capital uma força vinda do Geba;
Ricardo Barbosa Vicente, súbdito português, por ter oferecido uma chalupa para o desembarque do carvão de pedra que estava a bordo do vapor da empresa nacional.”


A 22 de junho de 1891 mudamos de Governador, agora é o tenente-coronel Luís Vasconcelos e Sá, toma posse com pompa e circunstância, recebe as laudes do secretário-geral interino, capitão Zeferino Passalagua. Avisa o novo Governador que a área da província é grande, porém a esfera de ação do domínio português é limitada. Fora dos pontos por nós ocupados e além de uma faixa com a escassa largura de 120 metros em volta dos muros ou das paliçadas que delimitam esses escassos pontos da presença portuguesa, a nossa autoridade e o nosso prestígio são iguais a zero, diz o secretário-geral interino. Entende não dever dizer na cerimónia as causas do abatimento, o novo Governador irá ler os documentos oficiais, limita-se a dizer a quem chega que os diversos selvagens que povoam esta região não conhecem o deslumbramento da civilização e do progresso – "são hoje tão selvagens como há quatro séculos quando ocupámos esta colónia; enquanto não conseguirmos civilizá-los, não conseguirmos também que o nosso prestígio se alevante e a nossa autoridade seja conhecida e respeitada.” E vai continuando a dizer verdades como esta: A não ser na ilha de Bissau, em que a nossa autoridade é respeitada, nos outros pontos é permanente o desassossego. Refere o que se passou no Forreá, que em Buba é preciso uma vigilância permanente, o presídio de Geba também não goza de tranquilidade e na sua circunscrição há permanente rebelião; o secretário-geral interino não esquece os dissabores provocados por Mussa Moló. E termina assim a sua alocução:
“Vem Vossa Excelência governar-me a província onde tem que combater e destruir um a um os obstáculos, os atritos e as dificuldades que a todo o momento hão de surgir, para prejudicar todos os projetos que Vossa Excelência conceber para bem administrar esta colónia; e quanto mais sublimes e grandiosos forem esses projetos, maior será a luta em que Vossa Excelência terá de empenhar-se para conseguir alevantar a província do marasmo, que a definha.”

Início de novo ano, há estrangeiros a cobiçar as terras da Guiné. No Boletim Official n.º 2, de 9 de janeiro, vemos que o Governo está pronto a cedências, através da Direção Geral do Ultramar, do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar. Recorda-se que há consideráveis tratos de terrenos incultos na Guiné, completamente desaproveitados pelos indígenas, são necessários modernos processos agrícolas que assegurem um rápido desenvolvimento moral e intelectual dos habitantes, e depois de vários consideramos decreta-se a concessão para explorações agrícolas cruciais à companhia ou sociedade que for legalmente constituídas pelos súbditos franceses, conde Buttler e conde Raoul Buttler, os terrenos públicos baldios, e são citados territórios manjacos, parte de território das Balantas e Brames situados entre a margem esquerda do rio Cacheu, terrenos na margem direita do rio Geba perto de S. Belchior, territórios limitados a Oeste pelo mar, ao Sul pela margem direita do rio Cacheu até Farim, ao Norte pela fronteira franco-portuguesa… Tudo isto é impressionante, vai até à ilha das Cobras ao Norte de Bolama e às ilhas Caraxe, Caravela e Galinhas. Reza o decreto que ficavam expressamente excluídos da concessão todos os terrenos ocupados e plantados pelo gentio, a companhia devia estar legalmente constituída dentro de um ano, ficando para todos os efeitos sujeita às leis portuguesas. E dizem-se quais as obrigações da sociedade concessionária: explorar agricolamente os terrenos da sua concessão e introduzir novas culturas, até hoje não empreendidas na Guiné; a fazer a exploração vegetal, a fazer todas as obras necessárias para a canalização e navegabilidade do rio Corubal; a ceder ao Governo português os terrenos que forem precisos para a construção de caminhos de ferro, estradas, fortificações, alfândegas ou quaisquer outras obras ou estabelecimentos do Estado. Ao que se sabe, nenhuma concessão foi criada.

Morança do Régulo de Chulame. Manjacos. Região de Cacheu, por Fernando Schiappa de Campos, 1959. Imagem da exposição Habitats tradicionais da Guiné-Bissau¸ que decorreu no Museu Nacional da História Natural e da Ciência, em 2018
Fortaleza de São José da Amura, na atualidade
Todos ao aeroporto de Bolama, é um modesto campo de aviação, vão chegar os aviadores portugueses, 2 de abril de 1925

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26362: Historiografia da presença portuguesa em África (460): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, começou a última década do século XIX (17) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)


Guiné > Região do Oio > 
Jumbembem > CART 730 (1964/66) e CCAÇ 1565 (1966/68) > Domingo, 10 de julho de 1966 > Um dia trágico: pormenor da evacuação do cap mil inf Rui Romero, na foto a ser transferido para a maca do helicóptero Alouette II... A enfermeira paraquedista é (pou parece ser)  a alf Maria Rosa Exposto. (*)

Em primeiro plano, de costas, e quico na mão, o 1.º cabo operador cripto Florival Fernandes Pires, natural de Portalegre, que foi, com o Artur Conceição, sold trms, uma das primeiras testemunhas das circunstâncias trágicas em que morreu o cap mil inf Rui Anónio Nuno Romero, cmdt da CCAÇ 1565, de 32 anos, casado, pai de 2 filhas menores, natural de Portalegre, residente em Lisboa, filho de pai militar, desenhador de construção civil a frequentar o curso de arquitetura quando foi chamado para o curso de capitães.

O Artur Conceição estava a 2 metros do local da tragédia. Embora já cadáver, o corpo do malogrado oficial foi levado de helicóptero para o Hospital Militar de Bissau  e o funeral realizou-se um mês e tal depois em Lisboa, no cemitério do Alto de São João. A enfermeira na foto parece ser a Rosa Exposto, do curso de 1964, segundo apurámos junto do nosso camarada Miguel Pessoa e das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas Giselda Pessoa e Maria Arminda.

A CCAÇ 1565 foi mobilizada pelo RI 1, partiu para o TO da Guiné em 20/4/1966, e regressou a 22/1/1968. Esteve em Bissau, Jumbembem, Canjambari e Bissau. Comandantes, além do cap mil inf Rui António Nuno Romero: cap inf José Lopes e cap mil inf José Alberto de Sá Barros e Silva (vivia em Lisboa em 2007).

Por sua vez, a CART 730 / BART 733, foi mobilizada pelo RAL 1, partiu para o TO da Guiné em 8/10/1964, e regressou a 14/8/1966. Pasou por Bironque, Biossorã, Jumbembem e Farim, Foi seu comandante o cap art Amaro Rodrigues Garcia. O BART 733 esteve em Bissau e Farim.

Foto ( e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).

Maria Arminda Santos: (...) "A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião.

"Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem." (...)  (**)

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Maria Rosa Exposto, ex-alf grad enfermeira paraquedista

Brevet nº 2846, 26-4º enf nov 64




1. O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ? Há tempos correu, por aí,  pelos "mentideros" das redes sociais, a notícia da tua morte... O que nos deixou sobressaltados... Boato ? Mentira ? Verdade ? Quem desejaria a tua morte, a ti, que salvaste tantas vidas ?!... 

Mas nenhuma das tuas antigas camaradas (a Rosa Serra, a Maria Arminda, a Giselda...) puderam confirmar ou infirmar essa infeliz notícia, que esperamos, de todo o coração, seja falsa.

Infelizmente, não temos dados biográficos detalhados sobre ti, Rosa. Não sabemos onde vives. E o que é feito de ti... Havia três enfermeiras paraquedistas com o nome ou apelido Rosa: 

  • a Rosa Serra (que é membro da nossa Tabanca Grande, minhota de V. N. Famalicão);
  • Maria Rosa Mota (com o casamento, Maria Rosa Mendes) (que vive em Faro, presumindo nós que é algarvia);
  • e tu, Maria Rosa Exposto (transmontana de Bragança, dizem-nos).
Sabemos que fizeste  a tua primeira comissão na Guiné. Como alferes graduada. Estiveste com a Maria Arminda. Republicamos acima  uma foto em que tu apareces na evacuação do cap mil inf Rui Romero, "vítima de acidente com arma de fogo", em 10 de julho de 1966. 

É muito provável que depois da Guiné tenhas passado também pelos TO de Angola e Moçambique. E, tudo indica, pelos dois ou três teus escritos (no vosso livro, "Nós, enfermeiras paarquedistas", 2ª ed., 2014) que tenhas voltado à Guiné em 1969.

Não sabemos a que curso pertenceste mas deverá ter sido o 4º curso (1964) (o 5º Curso é já de 1966). Segundo tu própria nos contas, no livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", a tua "primeira comissão foi na Guiné, após um pequeno 'estágio' nos Açores" (pág, 175). Não dizes o ano, mas terá sido em 1966, a avaliar pela foto que nos mandou o nosso camarada Artur Conceição (que vive na Amadora, ex-sold trms, CCAÇ  730, 1964/66).

Sabemos que és transmontana de Bragança. E estudaste enfermagem em Coimbra (pág. 175), na então Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (hoje integrada, desde 2004, na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra).

A Rosa Serra (que foi a corrdenador do vosso livro) não também não me soube responder a algumas questões que lhe pus a teu respeito. Sabe que tu eras mais velha (a Rosa Serra nasceu en 1946, tu provavelmente em 1942). E, há uns anos atrás, quando te telefonou, ficou a saber que já eras viúva e tinhas um filho. A Maria Arminda não falava  contigo  há um ano. Sabia que vivias para os lados de Portalegre. 

Também não sabemos qual era o teu apelido de casada. Mas tudo indica que o teu nome completo seja Maria Rosa Exposto Olivença.  Encontrei-o no "Diário da República" (II Série, nº 168, de 24/7/1986): foste promovida, por progressão na carreira, desde 1/1/1986, à categoria de enfermeira de grau 1, 3º escalão, do quadro geral do pessoal civil da Força Aérea... Terás lá ficado até quando ? 

Participaste  no livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2014). Desse livro vamos destacar o seu testemunho de vida (pág. 403).

Não te conhecemos pessoalmente. Mas queremos que te juntes a nós, com os amigos e camaradas da Guiné, queremos que se sentes à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, ao lado da Giselda, da Rosa Serra, da Maria Arminda, da Aura Teles e da Ivone Reis (que infelizmente já morreu em 2022).

Recordemos que terminas o teu depoimento, para o vosso livro coletivo, com um agradecimento à FAP pela oportunidade que te deu de te realizares como ser humano e como enfermeira, e com palavras de grande nobreza para com aqueles com quem trabalhaste e conviveste: "Nunca vos esqueci nem esquecerei!"...

Não nos cansamos de lembrar, no nosso blogue, que  vocês, as ex-enfermeiras paraquedistas, são as únicas mulheres a quem, "de jure" e "de facto", podemos chamar camaradas de armas, no sentido puro e duro da etimologia da palavra...  




Fonte: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 4032 (com a devida vénia)  (***)

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Notas do editor:



(**) Vd. postes de



Guiné 61/74 - P26391: Humor de caserna (96): "O mê Zé disse isso ?!"... O epílogo engraçado da história do impaludado (Alberto Branquinho)


1. A história do impaludado da CART 1689 / BART 1913, contada pelo Alberto Branquinho no seu livro de 2013, "Cambança final", e reproduzida no poste P26377 (*), teve um "fim feliz". 

Os nossos leitores (os leitores do Branquinho) têm direito a saber qual foi então esse "desfecho".  É um outro microconto, este inédito. Chegou-nos no próprio dia 11, pelo correio eletrónico. Ficamos a saber que o alferes Abreu da história é um "alter ego" do autor. E que o impaludado que queria mandar a notícia da sua morte à mulher, aproveitando a ida de férias do alferes à metrópole, se chamava Zé P...na [ P...ena ?  P...estana ? P...atarrana ? ... Para o caso não interessa, o Alberto Branquinho quer protegê-lo, e o Zé tem direito ao anonimato].

Aproveitou o nosso escritor (e ilustre camarada) para esclarece que, desde 2005 saíram 11 títulos sus ( e não oito, como tinhamos  informado) (*), mais uma 2ª edição (do "Por Século e meio" - romance com acção principal entre Barca d'Alva e Porto/Foz). 

Desses onze, há três sobre a Guiné: 

  • "Cambança" (2005 e 2009), 
  • "Cambança Final" (2013) e 
  • "Deixem a guerra em paz" (2019).


"O mê Zé disse isso ?!"...  O epílogo engraçado da história do impaludado 

por Alberto Branquinho



A situação (*) teve um epílogo engraçado muitos anos depois.

O impaludado do texto que  o blogue publicou, e que, afinal, se chama Zé, apareceu pela primeira vez (e com a mulher) num encontro da Companhia.

Meio a choramingar, dirigiu-se-me de braços abertos:

− Ó meu alferes!

E abraçámo-nos.

A mulher dele observava-nos deliciada e sorridente. Então dirigi-me a ela:

− A senhora não esteja a rir. Olhe que aqui o seu marido estava muito doente quando eu vim cá de férias e pediu-me para lhe telefonar a dizer-lhe que morreu a pensar em si.

− O mê Zé disse isso?

Imediatamente, se agarrou a ele e a mim. E não parava de chorar:

− Ele disse isso? Disse?

Aí o Zé (também a choramingar), soltou-se do abraço e desatou a bater na mulher (controladamente...), que continuava abraçada a mim sem parar de chorar,,,  E ele repetia, repetia:

 − Ó mulher, pára lá com isso! Ora não querem lá ver esta!

Juntou-se à nossa volta um grupo dos que estavam a chegar, que olhavam espantados sem perceber porque o Zé batia na sua própria mulher (que continuava abraçar-me e a chorar).

Era assim o Zé P....na. (**)

Alberto Branquinho, Lisboa, 11 jan 2025 18:44
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26377: Humor de caserna (94): "Ó meu alferes, telefone à minha mulher e diga-lhe que morri a pensar nela!" ... Ou para o que davam as sezões!... (Alberto Branquinho, "Cambança Final", 2013)

(**) Último poste da série > 13 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26386: Humor de caserna (95): Os meus Natais de 66 e 67 no HM 241, em Bissau (António Reis)

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26390: Banco do Afeto contra a Solidão (31): O Valdemar Queiroz regressa amanhã à rua de Colaride, depois de uma "nomadização hospitalar", tranquiliza-nos o Eduardo Estrela...


Valdemar Queiroz


1. Estranhei, há dias, o "silêncio bloguístico" do Valdemar Queiroz... Temi logo o pior: "foi de charola para o hospital, querem lá ver ?!"... (Ele sofre de doença crónica, uma DPOC, e vive sozinho em casa, em Agualva-Cacém; a família mais próxima está nos Países Baixos.)

Telefono-lhe, uma, duas, três vezes...Nada. Na sexta passada, às 10:07, mandou.me uma mensagem telegráfica:

"Obrig Luís stop Outra vez hospital stop Bateria fraca stop".

Só me dei conta no sábado. às 15:51, escrevi-lhe um msn: 

"Imaginei logo, camarada. Estamos no pico da gripe... Náo apanhes nenhuma bactéria hospitalar, irmãozinho. Nada de beijos às bajudas. Boa recuperação. Luis".

Alertei alguns amigos, que lhe devem ter telefonado, e  com mais sorte do que eu. Agradeceu, no domingo, às 12:29:

"Muito obrigado, meus grandes amigos. Elas(as bactérias)  bem querem, mas nós cá vamos aguentando as emboscadas. Abraço. Valdemar".

O Eduardo Estrela mandou-me um mail, hoje, às 13:39 com boas notícias:

"O nosso amigo Valdemar Queiroz acaba amanhã a nomadizacão hospitalar e regressa ao conforto do seu aquartelamento. Notícia recolhida há minutos junto dele.

Abraço para todos, saúde da boa.
Eduardo".


2. Comentário nosso editor:

Estamos bem quando os amigos também o estão . Temos de saber uns dos outros. Pelo menos, preocuparmo-nos uns com os outros. Bom regresso a penates, Valdemar.  Saúde da boa, que da má (vade retro, Satanás!)...já temos que chegue!

Não abuses das nomadizações. Já não temos "caixa de ar" nem "pernas" para essas andanças...E os hospitais, em especial no inverno, não são sítios recomendáveis.  Só se ouvem histórias de amigos e conhecidos: "apanhou uma bactéria, e lerpou"... 

Vens recuperado, é isso que importa. Bom regresso à rua de Colaride. Aproveita os bons dias de sol de inverno... mas de quico na cabeça ou à sombra do n0sso poilão, que é mágico e protetor.  Um abraço da malta toda. Luís
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Guiné 61/74 - P26389: Efemérides (448): Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar da União de Freguesias de Freigil e Miomães do Concelho de Resende (Fátima's)


1. Mensagem das nossas amigas Fátima Soledade e Fátima Silva, filhas de antigos combatentes do ultramar, enviada ao nosso Blogue no dia 11 de Janeiro de 2025, com um convite para a cerimónia de homenagem aos Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar naturais da União de Freguesias de Freigil e Miomães, Concelho de Resende, a levar a efeito na Igreja Matriz de Santa Maria de Freigil, no dia 15 de Fevereiro pelas 15 horas e na Igreja Matriz de S. João Batista Miomães, no dia 22 do mesmo mês, também às 15 horas.

Boa noite, Carlos Vinhal:
Esperamos que se encontre bem de saúde. Aproveitamos para lhe desejar um Bom Ano.
Continuamos com as cerimónias de homenagem aos Combatentes do Ultramar.
No próximo mês, as mesmas irão realizar-se na União de Freguesias de Miomães e Freigil.
Gostaríamos que as publicasse.
Reporte os nossos cumprimentos ao Professor Graça.

Muito gratas por todo o apoio prestado.
Fátima´s

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Nota do editor

Último post da série de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26214: Efemérides (447): Faz hoje 53 anos que a 35.ª CCmds chegou a Bissau a bordo no navio Angra do Heroísmo (Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Cmd)

Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > Forte (séc. XVII) > 1995 > Giselda Antunes Pessoa entre os "despojos do Império". Foi a primeira, das ex-enfermeiras paraquedistas, a integrar a Tabanca Grande, em 20 de fevereiro de 2009 (*). Em 1995, ela e o marido, o cor pilav ref, Miguel Pessoa, voltaram ao CTIG, com uma equipagem de filmagem da SIC. Como se vê pela imagem, o forte do Cacheu estava ao abandono. Foi de objeto de recuperação e requalificação em 2004, com recurso a fundos disponibilizados  pela União das Cidades Capitais de Língua Oficial Portuguesa (UCCLA)

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Base Escola de Tancos > 1970 > 7.º curso de paraquedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.


Foto (e legenda: © Giselda Pessoa (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Winston Churchil, num discurso que fez na Câmara dos Comuns, em 20 de agosto de 1940, proferiu a frase mais famosa (ou uma das mais famosa) de toda a II Guerra Mundial: "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos"... 

Referia-se, neste caso,  às tripulações, inglesas e aliadas, da Royal Air Force, que, em inferioridade numérica, travaram a épica e decisiva batalha da Grã-Bretanha contra a Luftwaffe alemã.

Parafraseando o grande estadista inglês, e numa escala e num contexto completamente diferentes (o da guerra colonial portuguesa, de 1961/74), podemos também dizer que "nunca tantos deveram tanto a tão poucas"...  

Queremos com isso evocar, dar a conhecer melhor e homenagear o papel das nossas 46 enfermeiras paraquedistas, jovens, todas  elas voluntárias, que foram as primeira mulheres, portuguesas, a envergar, a entre nós,  uma farda militar, a partir de 1961.

Um terço já morreu e poucas das que estão vivas terão opotunidade de acompanhar esta série.  Das 46 houve trinta que participaram com as suas memórias, fotos e testemunhos na elaboração do livro "Nós, enfermeiras paraquedistas" (ed. lit. Rosa Serra, 2ª ed., Porto, Fronteira do Caos, 2014, 439 pp.).

Destas 30, há pelo menos 5 que são membros da Tabanca Grande: 

Oito destas nossas camaradas de armas participaram no filme da Marta Pessoa, "Quem Vai à Guerra" (2011)
  • Aura Teles
  • Cristina Silva,  
  • Ercília Pedro
  • Giselda Pessoa,
  • Júlia Lemos,
  • Maria Arminda Santos, 
  • Natércia Neves, 
  • Rosa Serra.

Já se passaram mais de 10 anos do lançamento do livro "Nós, enfermeiras paraquedistas" (que teve como prefaciador o prof Adriano Moreira, entretanto falecido com 100 anos, em 2022). Com a benevolência das autoras (e da editora), temos vindo a republicar no blogue alguns excertos das suas histórias, quer na série "Humor de caserna" quer em postes avulsos...

Esta nova série "Nunca Tantos Deveram a Tão Poucas" é uma forma de as continuar a homenagear e de tentar também suscitar a produção de depoimentos dos nossos camaradas da Guiné que foram objeto dos seus cuidados ou que com elas conviveram... 

Não vai ser fácil, porque elas eram mesmo poucas e na época pertenciam à FAP, prestando serviço na BA 12, em Bissalanca.  O seu contacto com a malta do exército era pontual, por ocasião de evacuações no mato ou nos quartéis do interior. De qualquer modo mais histórias sobre este tema serão bem vindas. 


Infelizmente também não há estatísticas sobre a sua atividade. Quantas evacuações terão feito, no TO da Guiné (e também em Angola e Moçambique) ? E recorde-se que não eram apenas de feridos ou doentes militares, mas também de população civil, de mulheres grávidas a crianças, sem esquecer combatentes do PAIGC, feridos, aprisionados, e até combatentes estrangeiros como o capitão cubano Peralta...

Óbvio que também não podemos esquecer aqui o resto das tripulações dos helicópteros (AL II e AL III), avionetas (DO-27) e outros aviões (Dakota...) que as nossas enfermeiras paraquedistas integravam, nomeadamente pilotos e especialistas (na época, "mecânicos").  A todos eles, a nossa gratidão .Ajudaram a  salvar muitas vidas... O seu trabalho (bem como o de todos o pessoal dos serviços de saúde militar, incluindo o do HM 241 e doo HMP - Hospital Militar Princopal)  está sempre no nosso espírito:  médicos, enfermeiros, técnicos de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, administrativos, condutores de ambulância, etc. , sem esquecer os capelães.

O descritor Os nossos médicos tem 418 referências... Outros: os nossos enferemeiros (152); os nossos capelães (86); HM 241 (165); Hospital Militar Principal (28), etc. 

2. A Giselda Pessoa foi a primeira a entrar para o nosso blogue (*).  É também aquela com quem temos convivido mais, nomeadamente nos encontros das nossas tabancas. Com ela,  a Rosa Serra e a Maria Arminda também falamos ao telefone. A Aura devo tê-la visto uma vez ou duas vezes.

Vamos aqui reproduzir uma das singelas (e tocantes) histórias com que  a Giselda se estreou no nosso blogue (**). Recorde-se que fez uma comissão de 28 meses no CTIG, entre 1972 e 1974, que não era frequente entre as enfermeiras paraquedistas que, ao fim de a um ano, mudavam para outro teatro de operações. (#)  Da Guiné é tem inúmeras histórias.

Natural de São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa (conterrânea, por tanto, do escritor Miguel Torga),  frequentou a Escola de Enfermagem do Hospital de S.João, no Porto, em 1966. Começou a trabalhar como enfermeira,  em 1968, no Serviço de Urgência do S.João. 

Tinha uma irmã, Antonieta,  também enfermeira, então integrada na Força Aérea como enfermeira paraquedista, e que lhe dava notícias de África.  Mas "foi um pouco por acaso que numa deslocação a Lisboa à Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea, alguns dos presentes me incentivaram a inscrever-me no novo curso que estava em preparação".  

(...) "Assim, em 1970 acabei por frequentar o curso de paraquedismo na Base Escola em Tancos, o 7º constituído por enfermeiras civis. Das nove que constituíam o curso acabaram oito, iniciando nós então um rodopio entre a base-mãe, os Açores, Guiné, Angola e Moçambique.

"No meu caso pessoal, fui inicialmente colocada em Moçambique durante todo o ano de 1971, onde se pode dizer que tive um período de férias razoável, pois para além de curtos períodos em Nacala e Nampula, estive essencialmente baseada em Lourenço Marques. Aí prestava apoio no serviço de saúde, o que incluía deslocações periódicas a Lisboa, acompanhando e apoiando os militares evacuados, inicialmente no DC-6, mais tarde nos Boeing 707.

"Deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada." (***)


Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste...

por Giselda Pessoa


No decorrer de uma evacuação que tinha como objectivo um aquartelamento no nordeste da Guiné, o helicóptero aterrou na placa, onde embarcou o militar  evacuado. No decorrer dessa operação, aproximou-se do AL-III um furriel daquela unidade, o qual se me dirigiu com um pedido fora do vulgar. Explicou-me que com ele estava naquele quartel a sua mulher, sendo ela a única branca que ali vivia; e que, não vendo nenhuma branca há já muitos meses, certamente apreciaria falar comigo por uns momentos. 

 Expliquei-lhe que o facto de transportarmos um ferido e o pouco combustível de que dispunhamos não permitia prolongar a nossa estadia ali. Mesmo assim, ele montou a sua motoreta e foi buscar a mulher, para a levar junto de nós. 

A espera prolongou-se por mais tempo do que aquele de que dispúnhamos, o que levou o piloto a decidir-se por descolar, com grande pena minha. Já no ar, tive a possibilidade de ver aproximar-se da placa a motoreta com o furriel, trazendo a mulher à boleia. Ali chegados, apenas teve ela tempo para nos acenar enquanto o AL-III rodava em direcção a Bissau. 

 Senti naquele momento um desgosto enorme por não ter podido proporcionar àquela mulher um momento de carinho e de solidariedade, de que ela tanto necessitaria. E imagino a sua frustação quando não lhe foi possível partilhar de uns momentos de proximidade com alguém que lhe recordaria outras companhias e outros ambientes deixados há muito para trás. (**)

Giselda Pessoa 

 
 (#) As comissões das enfermeiras paraquedistas variavam entre seis meses e um ano, o que provocava uma constante rotação do nosso pessoal. Vá-se lá saber porquê, fui optando por prolongar a minha estadia na Guiné, muito provavelmente devido ao ótimo ambiente que ali se vivia e também por me sentir realizada no trabalho que ali desenvolvia, numa atmosfera que não deixava esconder a guerra que nos rodeava. 

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, itálicos e título: LG)

 

3. Comentário do editor  L.G.: 

 Como tive ocasião de dizer â Giselda, na altura em que ela foi apresentada pelo Carlos Vinhal à Tabanca Grande, nesta "caserna virtual"...  "somos todos generais de muitas estrelas, somos todos VIP, somos todos importantes, isto é, somos todos camaradas (um termo castrense ou militar, por excelência)"... 

Não fazíamos na altura nem fazemos hoje distinção de idade, género, nacionalidade, posto, especialidade, arma, condição social, estatuto, estado de saúde, risco de morrer... 

Enfim, fiz questão de sublinhar qua a sua entrada na Tabanca Grande, em 2009,  "nada tinha a ver com feminismo ou, muito menos, com o politicamente correcto: conquistaste por direito próprio, nos céus da Guiné, o direito de estar aqui em pleníssima igualdade com os outros camaradas, da Força Aérea, da Marinha ou do Exército"...

 Mas não se podia escamotear o facto de ser ela "a primeira mulher militar", e ainda por cima enfermeira e paraquedista, "a entrar para o nosso blogue" (em boa verdade, o corpo de enfermeiras paraquedistas já tinha sido extinto há 30 anos, em 1980)...

Depois tratava-se de "uma mulher do Norte, corajosa, determinada e... bem disposta".

Em terceiro lugar, era "uma profissional de saúde, uma enfermeira (uma profissão que foi durante muito tempo estigmatizada, a ponto de o Estado Novo proibir as enfermeiras de se casarem, proibição essa, fundamentalista, que só acabou em... 1963!"). 

Esta (a primeira história da Giselda que publicámos no blogue) tinha, além disso,  o mérito de revelar uma outra faceta da sua personalidade: além de enfermeira paraquedista valente, destemida e competente, e de saber contar uma boa história, a Giselda era(é) uma grande camarada, sensível e solidária, e uma grande portuguesa... 

Sabíamos que era a primeira de outras histórias passadas no TO da Guiné, "terra de paixão e de solidariedade, terra vermelha, inferno verde, labirinto de bolanhas, mangal, rios e braços de mar, céus de chumbo, que nunca mais ela, o Miguel, eu e todos nós poderíamos esquecer... De resto, a Giselda e o Miguel voltaram lá em 1995, eu em 2o08, e muitos de nós também uma ou até mais vzes.

E finalizava com o seguinte comentário;

"Não podias estar impunemente 28 meses na Guiné, nos anos de brasa de 1972/74, naquela terra e naquela guerra, e chegares agora ao quilómetro 62 da tua vida e dizer: 'Não, por favor, não mais Guiné!... Nem já sei onde fica !'). 

"Morcões, abram alas, vai entrar uma camarada, uma grande senhora!"

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(**) Este excerto foi reproduzido no poste de 28 de fevereiro de 2009> Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)

Faz também das várias histórias da Giselda, no citado livro, "Nòs, enfermeiras paraquedistas" (2014, pp. 318-319).