Caros camaradas.
Esta coisa vai para o Vinhal, que julgo ser (ainda) o editor de serviço.
Não sei se se lembram, mas já lá vão uns tempinhos, que deixei a "boca" que era capaz de ser boa ideia criar-se uma série para as nossas músicas e livros dos velhos tempos. Seria uma forma de sair do ramerrame em que na altura a Tabanca se encontrava.
Pois bem, adiro esta causa com prazer. E com fotos.
Uma delas, muito imagem pessoal. Creio que é do Natal.68. Já navegou muito, a dita. Na messe nova dos Sargentos de Catió, assim chamada, haviam por lá as Bandas Desenhadas do Mikey e outras cenas equivalentes.
Claro que a foto foi feita para mandar para a família. Não me lembro de haver outro género de literaturas por lá. Nem quem levou para lá os livrinhos.
Fui sempre um amante de leitura deste pequeno. Era cliente habitual de um alfarrabista na Rua do Almada, por acaso era uma senhora a dona. Camiliana de todos os costados. Aprendi muito com ela. E comprava também livros na Civilização em suaves prestações de 20 escudos mensais.
Havia um senhor Sírio em Catió com uma loja tipo tem tudo - cujo nome não há maneira de me lembrar - a quem comecei a comprar livros entre outras coisas. Músicas também. Melhor discos. Como já conhecia Jorge Amado (Gaca 3, Paramos-Espinho, Dezembro 67 - Capitães da Areia lido na clandestinidade) tudo que consegui deste autor fui adquirindo. O único que chegou aos dias de hoje foi os Pastores da Noite. Os outros, incluindo uma edição antiga de Gabriela Cravo e Canela, alguém em Catió ficou com eles.
Como vim antes do pelotão para Bissau para fazer aquelas porcarias dos espólios e passagem do acervo para o substituto e etc., pedi para me encaixotarem as minhas coisas. Chegou tudo direitinho menos os livros. Que seriam mais de 20. Na minha colecção estava incluída uma edição recente (1967 ou 68) da Antologia Erótica e Satírica de Autores Portugueses da autoria de Natália Correia. Clandestino. Foi-me vendido pelo meu alferes Xarez na altura da nossa mobilização a trabalhar no ramo, ainda no Barco Niassa.
Durante a minha estadia no Hospital Militar em Bissau, frequentei a Biblioteca que lá havia. Foi aí que conheci Ferreira de Castro e a Selva. Quando estive adido à CCS do BART 2865, do saudoso Tenente Coronel Belo de Carvalho e do tristemente célebre Major Melo, um 1.º Sargento, gente boa, de quem não me lembro o nome, natural de Coimbra, emprestava-me livros que tinha trazido consigo. Confidenciava-me que se sentia estúpido por não ter acesso a "coisas" para ler. E no meio de tanta ignorância, salvam-lhe as brincadeiras e os passatempos com alguns furriés. Bebíamos dele a sua sabedoria.
Os meus Pais de vez em quando mandavam-me o Jornal A Bola. Gostava desde há muito de ler o Jornal e especialmente as crónicas do Carlos Pinhão. Eram crónicas de Português puro e foi ele que me ensinou a distinguir "Estória" de "História".
A Selva comprei-a em 1970.
A Gabriela, provàvelmente a minha aquisição n.º 4 deste livro tem dois anos.
Todas as outras desapareceram com empréstimos.
Caro Carlos, aproveita daqui o que quiseres.
Um abraço do
Jorge
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Nota do editor
Último poste da série de 4 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12385: O que é que a malta lia, nas horas vagas (4): a revista "Flama", o jornal "A Bola"... e o livro de contos e narrativas do Armor Pires Mota, "Guiné, Sol e Sangue" (Braga, Pax ed., 1968) que havia na biblioteca... (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)
10 comentários:
É engraçado na Guiné em todos os sítios onde estive acho que nenhum tinha biblioteca ou até qualquer arremedo de biblioteca.
Não tenho ideia nenhuma de mesmo em Bigene haver.
Sendo assim só li banda desenhada e cowboyadas.
O único livro sério que levei e li as vezes que precisei foi o Manual de Medicina Doméstica escrito pelo médico dos Hospitais de Lisboa Samuel Maia.
Ajudou-me muitas vezes a tirar dúvidas e a proceder mais correctamente onde os meus apontamentos eram demasiado vagos, ou em capítulos que nem sequer versavam.
Por aquilo que me lembro achava também que não tinha o ambiente adequado à leitura de grandes obras.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira - Ex-Fur. Mil. Enf. -Cart. 2412 Bigene - Binta - Guidage e Barro.
Curiosamente e porque referes os Senhores Ferreira de Castro e o Carlos Pinhão, deixa-me só que te diga, que conheci os dois e com ambos fiz amizade. Tenho até A Selva, com dedicatória especial cá para o rapaz e um livro do Pinhão, também autografado, mas essa dedicatória é especial demais. Um abraço do
Veríssimo Ferreira
Jorge, saúdo a tua intervenção, e o teu testemunho para esta série. É interessante que tenhas destacado, entre os teus autores preferidos, o Carlos Pinhão.... Eu, que não lia "A Bola" (por estúpido preconceito, a não ser as "gordas", os títulos de caixa alta... era o jornal preferido do "meu pai, meu velho, meu camarada") também perdi as famosas crónicas do Carlos Pinhão...
Releio agora, na Net, uma nota biográfica sobre ele:
(...) "Mestre na arte de escrever, poeta, cronista, passou também a ser jornalista desportivo na altura em que entrou para "Os Sports". Deu também o seu contributo ao "Mundo Desportivo", "Diário Popular", "Século Ilustrado", "Público" e "A Bola", onde ingressou em 1955 e permaneceu mais de 30 anos. Aqui ficou célebre o seu espaço “A duas colunas” cuja leitura era muito apreciada por todos os seus fãs. Os leitores dos jornais "Marca" (Espanha), "France Soir" (França) e "Les Sports" (Bélgica) também usufruíram dos seus trabalhos de excelência.
O autor foi o responsável pela introdução da crónica e do conto no jornalismo desportivo. Fora do jornalismo, destacou-se como escritor de literatura infanto-juvenil, tendo escrito obras bastante diversas uma vez que publicou livros, não só de literatura infantil, como também de humor, poesia e crónicas.
O seu primeiro livro publicado para crianças foi "Bichos de Abril", que teve um sucesso imediato. Posteriormente publicou "Gaivotas Com Óculos", "O Professor do Pijama Azul", "O Coelho Atleta" e a sua "Escola de Desporto". O último livro do autor publicado ainda em vida foi "Abril Futebol Clube". Foi ainda publicada uma edição póstuma do livro intitulado "João Campeão". O autor publicou mais de uma dezena de livros para crianças, dando sempre às suas histórias ritmo e fantasia. O desporto também esteve presente nos seus livros infantis, sendo disso exemplo, "O Coelho Atleta", "Escola de Desporto" e "Abril Futebol Clube". O autor projetou ainda uma colecção para o desporto intitulada "Agora Que Sou Crescido", mas faleceu antes de a ter executado." (...) (*)
Obrigado, Jorge, por relembrares a memória de um dos nossos compatriotas que amou a sua terra e a sua cidade, bem com a nossa língua, e que sabia escrever como poucos hoje em dia...
Na realidade, o jornal "A Bola" desse tempo foi mais do que um trissemanário de desporto... Mas, já agora, diz-me se tens ideia de quanto ficava, na Guiné, uma assinatura de "A Bola"...
(*) Fonte: Wiki Educação > Pinhão, Carlos
http://wiki.ued.ipleiria.pt/wikiEducacao/index.php/PINH%C3%83O,_Carlos
Antes de responder ao Luís, queria escrever ao amigo editor Carlos Vinhal, que não mencionei Os Livros que me Roubaram. Presumo apenas que lá ficaram por uma certa negligência da malta do meu quarto, ou outra coisa qualquer. Para quási toda a malta eu trazia coisas de muito maior valor do que livros e discos. Mais de 12 garrafas de Wuiskie velho, mas muito velho, e não faltou nem uma.
Respondendo ao Luís: Não sei quanto custava a assinatura do Jornal porque nunca a fiz. No tempo de BART 1913 os meus pais mandavam-me pelo correio as edições de segunda e sábado. Mas nem sempre. Depois, já no tempo do BART 2865, não valia a pena enviarem-me porque o tal 1º muito bacano recebia-a com assiduidade, Creio que ele, sim, tinha assinatura.
Ainda sobre o Carlos Pinhão, a sua crónica n'A Duas Colunas, com uma foto encimada pelo Cais das Colunas, era publicada aos sábados. na última página, guardada exactamente para comentários e/ou crónicas de vários jornalistas.
Ainda do Pinhão, lembro-me de uma crónica ou pré-comentário de um jogo que ele veio fazer ao Porto entre o Salgueiros e contra não sei quem. Uma delícia. Mas estávamos antes de 67 de certeza absoluta. Ele foi almoçar a um tasco à Ribeira e depois veio misturado com a rapaziada até Vidal Pinheiro. Era preciso contornar a censura para saber escrever as coisas, não escritas verdadeiramente, mas que entendíamos na perfeição. Uma saudade dos seus escritos. Conheço mais ou menos a sua vida e a sua obra.
Um abraço
Ora viva o pessoal!
Tratava-se de gente da pesada, pelo que, no território, não haveria muito interesse em manter bibliotecas, ou outras maneiras de activar as carolas, que se queriam servis à causa. O problema é que a causa andava um bocado incoerente, e acabou por se transtornar noutra causa.
Também não encontrei "arremedos" de bibliotecas. Mas havia lojas em Bissau onde poderíamos adquirir livros. Até no Gabu, no meio da tralha de panos, cassetes, pregos, chinelos, pilhas, etc, por vezes despontavam livros.
Por outro lado, principalmente as namoradas, porque eram mais expeditas quanto às nossas necessidades, uma vez por outra enviavam livros metropolitanos. Assim, pelo menos no que me disse respeito, a malta fazia pequenas bibliotacas, e os livros circulavam por todos os que se interessassem. No entanto, é verdade, os hábitos de leitura nao estavam arreigados, mesmo entre os que tinham mais formação escolar.
Quero aqui manifestar ao Jorge, o meu pesar pelo extravio da "Antologia" organizada pela Natália Correia, com ilustrações de Cruzeiro Seixas. Só muito mais tarde, há uns 15 anos, adquiri um exemplar meio amarelado da primeira edição, onde está inscrito a lápis o preço do alfarrabista: 15.ooo.00 (quinze contos). No entanto, a crise terá atenuado aquele valor, porque durante o mês passado encontrei para leilão outro exemplar que terá resistido à inflação e com uma base de licitação por valor idêntico.
Jorge, vê lá o que perdeste!
Já agora, pouco depois de distribuída a obra pelas livrarias, a "extinta" foi encarregada de a recolher, pelo que sobraram pucos exemplares.
Coisas do outro tempo.
Abraços fraternos
JD
Tens a certeza, meu caro Watson, aliás admor (com letra minúscula que de Watson não tem nada)?
Tenho em meu poder um livro com um carimbo a dizer "oferta", "Fundação Gulbenkian" que trouxe de Barro que me "esqueci" de entregar, como e porquê, não sei!
Se havia biblioteca? Acho que não, de certeza que não e nem sequer arremedos. Se havia livros não me lembro, mas acho que sim?. Se haviam muitos ou poucos, também não me lembro, mas acho que haviam no nosso bar, que era a messe de oficiais e sargentos donde veio este livro.
O Alf Cardoso recebia montes de revistas e deixava-as na nossa Tabanca para quem quisesse ler. A propósito eu tinha uma assinatura do JN e recebia o jornal de todos os dias, só que quando me chegavam ás mãos, eram ás dúzias de cada vez.
Um abraço
cumprim/jteix
Já aqui em tempos citei a "Antologia Erótico-Satírica Portuguesa"... e reproduzi um poema do António Maria Eusébio, o Cafalate (1820-1911), de Setúbal.
Escrevi a propósito: "não foi uma anologia qualquer, foi a "Antologia da Poesia Erótico-Satírica Portuguesa", saída em 1966, e logo posta no índice dos livros proibidos pelo regime de Salazar!... Lembro-me bem do escândalo que foi, na época, a saída deste livro, logo confiscado!...
"Que tristeza, a de um país, ou melhor, de ume elite dirigente, beata, balofa, hipócrita, inquisitorial, falsamente puritana, que tinha acabado, em 1963, de mandar fechar as 'casas de pass' e de pôr fim à proibição do casamento das... enfermeiras (que vigorava desde os anos 40)!!!
"A famosa Antologia, editada pela Natália Correia, foi uma pedrada no charco e uma lufada de ar fresco numa sociedade que precisava cada vez de respirar o ar fresco da liberdade"...
Esse meu comentário vem no poste
21 DE MARÇO DE 2009
Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/03/guine-6374-p4065-as-nossas-queridas.html
A propósito da Antologia, quero acrescentar um pormenor de não pouca relevância, foi uma edição Afrodite, do Fernando Ribeiro de Melo. Dêm uma olhada à editora e ao editor, para avaliarem sobre uma certa inquietação, irreverência, e qualidade, no contexto do que diz o Luís: uma sociedade que precisava cadavez (mais) de respirar o ar fresco da liberdade.
JD
Caro Camarada Jorge Portojo
Sou o camrada Manuel Gomes ex 1º cabo radiotelegrafistado stm que em agosto de 1970 passei por Catió estive com o B. 2865, não sei se recordas já comentei algumas coisas contigo e ficou no ar de comunicar sobre o encontro do b. 2865.
Chegou as minhas mãos a data desse encontro que é dia 16 de Maio em Bairrada (Anadia)caso estejas enterressado em estar presente com esses camaradas darei mais imformação se é de interesse para ti
O meu contacto : manueldiaspt@gmail.com
Abraço Manuel Gomes
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