sexta-feira, 22 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Guiné> Zona Leste > Enxalé > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > Foto do grupo

Foto: © Henrique Matos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, Henrique Matos, enviada com data de 16 de Maio último:


Caro camarada Luís Graça:

Não vou repetir o que outros camaradas disseram sobre a emoção de ter encontrado casualmente este Blogue. Já passei muitas horas a ler quase tudo, agora que tenho tempo com o estatuto de aposentado.

Como fui o 1.º comandante do Pel Caç Nat 52 e pisámos o mesmo chão - pelotão e o chão que o Beja Santos bem conheceu - aqui vai o meu pedido para entrada na tertúlia, juntando as fotografias da praxe e ainda uma do pelotão.


Identificação:
Henrique José de Matos Francisco, mais conhecido só por Henrique Matos
Posto: Alf Mil Art
Zona de acção: Enxalé - Porto Gole
Nado e criado na Ilha de S. Jorge, Açores

Luís Graça:

Em 10 de Agosto de 1966 (recordo-me por ter sido 4 dias após a inauguração da Ponte sobre o Tejo, então Salazar) embarquei para a Guiné no Rita Maria, na chamada rendição individual.

Depois Bolama, que foi o meu curto IAO, onde já me esperava o Pel Caç Nat 52, composto por pessoal metropolitano (Furriéis Milicianos Vaz, Altino e Monteiro e 1ºs Cabos Cunha, Castanheira e Pires) e o restante pessoal do recrutamento local englobando três 2ºs Cabos (um era cabo-verdiano, penso que se chamava Félix).

Passados alguns dias, saímos numa LDM para o Enxalé, ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca.

Na mesma ocasião também sairam de Bolama:

(i) o Pel Caç Nat 53, do Alf Mil Serra, que ficou no Xime em reforço à CCAÇ 1550;

(ii) o Pel Caç Nat 51, do Alf Mil Perneco, que foi para Guileje;

(ii) e o Pel Caç Nat 54, do Alf Mil Marchand, que foi inicialmente para Mansabá mas passado pouco tempo também foi parar ao Enxalé.

Este é o começo da minha história. Se me for permitido, continuarei...

Um grande abraço,
Henrique Matos

2. Mensagemd e boas-vindas do Carlos Vinhal:

Caro Camarada Henrique Matos:

Cabe-me a mim dar-te as boas vindas em nome do Luís Graça. Respeitaste as formalidades para ser admitido como camarada e amigo na nossa Caserna Virtual, enviando as tuas fotos, coisa que muitos que cá estão há mais tempo ainda não fizeram, e dizendo algo de ti.

Como poderás ver na página da nossa tertúlia, as normas de convivência entre nós são fáceis de cumprir. Longe vão os tempos do RDM. Aqui já não há postos e tratamo-nos por tu.

Esperamos de ti estórias e fotografias para enriquecer ainda mais o conteúdo do nosso Blogue.

Se puderes estar presente no nosso próximo encontro, possivelmente a acontecer ainda este ano, vais conhecer pessoalmente muitos de nós e aquilatar o bom ambiente que se vive quando nos juntamos.

Em nome do Comandante Luís Graça e de todos os tertulianos sê, pois, bem-vindo.
Recebe um fraternal abraço
O camarada
Carlos Vinhal


3. Mensagem enviada ao resto da tertúlia:

Camaradas e amigos:

De acordo com instruções do Luís apresentei em nome de todos os tertulianos as boas vindas ao novo camarada Henrique Matos. Anotem o seu endereço na vossa lista de contactos.

Já agora vem, a talho de foice, o seu bom exemplo ao enviar no seu mail de apresentação as fotos respectivas, para figurar na galeria dos tertulianos. Aos camaradas mais antigos que ainda o não fizeram, lembro que o devem fazer logo que possam.

Um abraço para todos

O Camarada
Carlos Vinhal
___________

Nota dos editores do blogue:

(1) Sobre a CCAÇ 1439 (madeirense) e a CCAÇ 1550, ver o relato autobiográfico de Abel de Jesus Carreira Rei, nascido em 1945, filho de operário vidreiro, ex-combatente da Guiné (1967/68), natural da Maceira, Leiria, e actualmente residente em Embra, Marinha Grande > post de 1 Maio de 2005 > Guiné 69/71 - X: Memórias de Fá, Xime, Enxalé, Porto Gole, Bissá, Mansoa (Abel Rei)

Trata-se de um diário, com passagens seleccionadas pelo editor do blogue. Não consegui descobrir a unidade a que pertenceu (só seu que éuma CART, com quatro grupos de combate) . Com a devida vénia e os nossos agradecimentos (pela foto e pelos excertos de texto), aqui vai o endereço: Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné - 1967/1968). Diz o autor: "Esta é a história verdadeira que eu escrevi: não a história que eu gostaria de escrever". Trata-se de um diário que vai do dia 1 de Fevereiro de 1967 a 19 de Novembro de 1968. (LG):

Abel Rei

Fonte: © Carlos Barros (2005) (com a devida vénia...)

Portal da Marinha Grande




(...) "O nosso camarada (1º cabo, ao que depreendo da leitura) (...) partiu em 1 de Fevereiro de 1967 no N/M Uíge (...) desembarcou em Bissau, sob um calor sufocante, apanhou uma LDG, ouviu os primeiros tiros (dos fuzileiros, que abateram uma pretensa canoa dos turras) e, caso curioso, não desembarcou no Xime, mas em Bambadinca... No nosso tempo (1969/71) era impensável uma LDG aventurar-se pelo Geba Estreito (L.G.)

(...) Desembarcámos em Bambadinca pelas treze horas, e daí seguimos para Fá [Mandinga], onde iria ser o nosso primeiro aquartelamento na Guiné (...).


(...) "Em 21 de Fevereiro de 1967, o nosso homem está destacado no Xime, aquartelamento da CCAÇ 1550:

Neste quartel de Xime, onde temos permanecido desde a saída de Fá, está-se em contacto permanente com os indígenas, que vivem à entrada numa tabanca, com enorme população, sendo alguns deles soldados dum pelotão de nativos. Já percorri a mesma, e tive o primeiro contacto com as bajudas(raparigas adolescentes nativas), em companhia de camaradas mais velhos, que pertencem à Companhia de Caçadores nº 1550, cá destacada, e comecei a [papaguear] o crioulo. Como curiosidade tive nos braços um garoto mulato, talvez fruto da passagem dos primeiros militares brancos, por cá, no início da guerra.


"Em 25 de Fevereiro o autor vai em patrulha com a companhia estacionada no Enxalé, a CART 1439… O Enxalé ficava a norte do Rio Geba, em frente ao Xime (...). Escreve o nosso cabo, quando regressa de Porto Gole ao Enxalé:

Hoje pude avaliar quão grandes teriam sido as dificuldades que os nossos antecessores sofreram, e eu ainda terei de sofrer (?). A água, que costuma ser bebida com comprimidos e filtrada, bebeu-se por todos, sofregamente, sem olhar a limpeza e origem. Bebia-se todo o líquido que nos aparecia, quer nas poças do terreno, ou nos poucos cursos de água, fosse ele da cor que fosse!…

"Em 12 de Março, o baptismo de fogo na região do Xime. O autor não nos dá indicações precisas onde se desenrolou a operação, diz apena foi a este do Xime...

(...) "De 19 a 23 de Março, participa numa dramática operação ao Burontoni, na região do Xitole (Op Guindaste) (...).

(...) "Em 15 de Abril de 1967, as NT sofrem um duro revés em Porto Gole… 7 mortos:

Dia trágico, este, para quantos se encontravam no 'Inferno' de Bissá!

Em Porto Gole, estando de serviço à meia-noite, ouvi fortes rebentamentos, e enormes clarões, lá para as bandas de Bissá. Contudo não pude averiguar ao certo o local, onde durante mais de uma hora [houve] constante tiroteio (...). Procurámos entrar em contacto pela via rádio, mas eles não deram sinal, pelo que deduzimos ser alguma operação apoiada com os obuses de Mansoa, como muitas vezes estamos habituados
(...).

(...) "Em 14 de Maio de 1967, estamos em Bissá, um aquartelamento com oito abrigos, arame farpado e iluminação a… petromax!... E onde há alferes milicianos chicos (como também havia no nosso tempo!)…

"Por outro lado, vejam, no registo do dia 12 de Junho de 1967, como era perigoso brincar com armadilhas!

"Em 16 de Setembro, quatro mortos numa mina anticarro (...).

"Em Outubro de 1967 a série negra continua, com mais mortos (...)

"Em 29 de Novembro de 1967, há o relato de uam dramática operação à região de Madina [Madina / Belel, no regulado do Cuor]" (...)

(...) "No final de Dezembro de 1967, o nosso cabo Rei está destacado no Enxalé e a 23 relata a sua viagem a Bafatá, para fazer compras d Natal! (...).

(...) "Em Fevereiro de 1968, o nosso cabo goza as suas merecidas férias em Bissau, hospedado na pensão Chantre... Nesse mês, a base aérea de Bissalanca tinha sido atacado pelo PAIGC... E em frente a Bissau, Tite é atacada (...).

(...) "Em 1968, a escrita do diário torna-se mais rara. Em 1 de Junho de 1968 há outra dramática descrição de um contacto com o IN, de que resultou entre outras baixas a captura de um elemento das NT (...).

(...) "O último registo do diário são os preparativos para o regresso a casa, depois de 22 meses de comissão. E as últimas confidências, já escritas no N/M Uíge, em 19 e 20 de Novembro de 1968" (...)

O Diário do nosso camarada Abel Rei (de quem não tenho qualquer contacto, telefone ou email, apenas o do Portal da Marinha Grande onde o texto foi reproduzido) pode ser lido aqui, com todos os detalhes:

Entre o Paraíso e o Inferno (De FÁ a BISSÁ): Memórias da Guiné (1967/1968)

01/02/1967 a 07/02/1967

14/02/1967 a 18/02/1967

19/02/1967 a 21/02/1967

24/02/1967 a 26/02/1967

04/03/1967 a 05/03/1967

11/03/1967 a 15/03/1967

18/03/1967 a 21/03/1967

02/04/1967 a 04/04/1967

14/04/1967 a 17/04/1967

05/05/1967 a 12/05/1967

14/05/1967 a 15/05/1967

12/06/1967

10/09/1967 a 16/09/1967

08/10/1967 a 16/10/1967

29/11/1967 a 14/12/1967

30/12/1967 a 05/01/1968

01/02/1968 a 03/03/1968

01/06/1968 a 03/06/1968

10/11/1968 a 19/11/1968

Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)

Guyiné > Zona Leste > Bafatá > Soldado africano ferido em combate > 1970 > "Estou a comandar a tropa africana de grande valentia, vivemos dentro de um mato muito cerrado perto do principal rio da Guiné, que é o Geba. Dentro em breve, vou fazer o primeiro ano da comissão que, confesso-te, tem sido muito dura mas sinto que vou sair daqui um homem muito diferente daquele que conheceste quando te dei instrução em S. Miguel", escreve o Beja Santos ao seu antigo instruendo açoriano, José Braga Chaves, colocado em Moçambique.

Foto: © João Varanda (2005). Direitos reservados. O João Varanda, de Coimbra, foi Fur Mil na CCAÇ 2636 (Có/Pelundo e Teixeira Pinto; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1969/71) .


51ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 30 de Maio de 2007.


Meu caro Luís, não é por perfeccionismo, o texto que vos enviei ontem tinha bastantes gralhas, os bloguistas merecem respeito. Falo aqui na Ópera Tosca e na 9ª Sinfonia de Beethoven. Quando almoçarmos (espero que em breve), levar-te-ei, gostava muito que estes discos aparecessem no blogue. Não tenho ideia do que possa ser uma boa ilustração para este episódio, para além dos livros que já seguiram ontem. Talvez Bafatá, talvez Missirá, à tua escolha. O próximo episódio refere-se ao Ieró Djaló, de que tu tens uma fotografia cedida pelo Luis Casanova, esse gigantão a brincar com crianças em Missirá. (...). Estou ansioso por ver os bilhetes postais que milagrosamente descobri e te enviei. Nada mais por ora e um abraço para os dos do Mário. Aproveito para te dizer que o tema de fundo que proponho para o nosso almoço é o I Volume da Operação Macaréu à Vista. Mário

Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)

por Beja Santos


Para Filipe da Nazareth Fernandes

Querido Padrinho,

O seu valioso presente chegou a semana passada e não tenho palavras para lhe agradecer. Um pacote de livros da Portugália era mesmo o que eu estava a precisar. Já li Rumor Branco, de Almeida Faria e acabo de ler esta edição dos Contos do Oscar Wilde, primorosamente traduzidos pelo Cabral de Nascimento. O Padrinho já me tinha oferecido De Profundis e O Retrato de Dorian Gray que desapareceram na voragem do incêndio que tivemos aqui em Março passado. Estes contos, que só conhecia um ou dois, são uma verdadeira surpresa pelo jogo que o Wilde empresta ao discurso do adulto que retorna a infância. São contos de fadas, alegóricos a esse século XIX de tanta dureza industrial e, ao contrário de Dickens, Wilde socorre-se da ironia para falar da vilania e da insensibilidade dos ricos. Subtil e extremamente fino nas imagens, introduz moralidade naqueles que se excedem na ânsia de conhecer tudo sobre todos, o reizinho que vai ser coroado é odiado pelos súbditos devido a assumir a simplicidade e, como num milagre, Deus substitui os trajes humildes durante a coroação por vestidos muito belos.

A Portugália está de parabéns pela apresentação estética das suas edições e pela escolha dos tradutores. O Espectro de Canterville devia ser dado nas aulas de tradução Inglês/Português!

Fico muito contente sabendo que a Madrinha está de boa saúde bem como os vossos filhos.

A minha vida prossegue sem alterações: temos que patrulhar e montar vigilância todos os dias num local que fica a 12,5 Km do meu quartel, é um cansaço grande, às vezes percorremos esta caminhada com calor tórrido (a primeira vez vi árvores a bailar no ar julguei que estava a delirar, pensava que este fenómeno só acontecia nos desertos), outras vezes debaixo de tempestade (as chuvas tropicais desabam imprevistamente, parecem amostras do dilúvio universal) e situações há em que vivemos as 4 estações do ano numa só caminhada (por exemplo, saio debaixo de chuva de madrugada, irrompe o calor, secamos, volta a chover, andamos por terrenos pantanosos, aparece outra vez o sol, botas, meias e todo o fardamento parece que encarquilham, é um cheiro nauseabundo, agravado pelo suor que deixa branco o camuflado esverdeado). Às vezes, temos que fazer este percurso duas vezes por dia.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > 1968 > Pel Caç Nat 52 > "Tudo aqui é difícil, mando-lhe hoje uma fotografia da nossa padaria onde o soldado Jobo Baldé prepara a farinha dentro de uma caixa de munições de bazuca", escreve o Beja Santos em carta ao seu padrinho Filipe da Nazareth Fernandes.

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

Não lhe cheguei a dizer mas deixei em Lisboa, ainda sem publicação, as suas recordações acerca da ida do grupo de Pauliteiros de Cércio, pouco antes da Segunda Grande Guerra ter rebentado, que tinham ido exibir-se num espectáculo no Royal Albert Hall. Lembro-me muito bem dos aspectos picarescos do seu depoimento escrito, ficou na minha secretária em Lisboa. Tinham-lhe pedido na Casa de Portugal em Londres para o Padrinho acompanhar este grupo de pauliteiros que depois foi muito elogiado na imprensa britânica. O que eu nunca mais esqueci foi a caminhada dos pauliteiros no metro de Londres, vestidos a preceito, de bigodes farfalhudos e de garrafão na mão, com o acompanhamento da gaita de foles e paulitos, a exigir bacalhau com batatas antes da récita. Outro aspecto que guardei foi eles terem recusado fazer uma vénia para agradecer ao público - "O português não dobra a cerviz ao estrangeiro, agradecemos sempre com a cabeça bem levantada". Prometo-lhe que cuidarei destas impressões e do seu orgulho em ter andado com gente de Miranda do Douro no centro de Londres.

Ainda guardo uma esperança de poder ir de férias a Lisboa, tive dois dias de prisão, recorri do castigo que considero duro e desproporcionado a alguma negligência, que não sei se não existem em todos os quartéis. O Padrinho sabe que fui educado pela minha mãe na arrumação, nos valores do trabalho e nos princípios da disciplina. Este aquartelamento alberga muita população civil, a própria tropa é constituída por naturais, não é fácil, ainda por cima vivendo como vivemos com as maiores dificuldades, manter a ordem quando à volta do quartel, e mesmo dentro, há espaços com culturas de batata doce, tomate, beringela e couves, eles são rurais que entram e saem para ir buscar comida, trazer mangos e papaias, às vezes os meus soldados, que já eram caçadores, deslocam-se para o mato e levam civis e depois trazem porcos de mato ou gazelas.

Tudo aqui é difícil, mando-lhe hoje uma fotografia da nossa padaria onde o soldado Jobo Baldé prepara a farinha dentro de uma caixa de munições de bazuca. Os bidões de água, quando as viaturas estão empanadas, rolam pela estrada dois quilómetros até à fonte. Ao anoitecer, haja bom ou mau tempo, a iluminação do quartel é feita com petromaxes, pode imaginar o sobressalto em que vivemos, temos a promessa de um gerador eléctrico, tudo é arrancado a ferros, desde toalhas de mesa até caçarolas. Mas o pior de tudo é este clima que abala profundamente a saúde, tenho presentemente uma boa parte dos soldados doente, fazemos prodígios mandando os menos doentes para as emboscadas nocturnas à volta do quartel e os outros vão a Mato de Cão, que é o tal local por onde passam barcos militares e civis que trazem as tropas e os abastecimentos para esta região que se chama o Leste.

Não o incomodo mais com estes pormenores. Peço-lhe que diga à Madrinha o muito amor que lhe dedico, e se falar com o Jorge ele seguramente lhe falará da violência desta guerra já que ele foi oficial pára-quedista. Receba a gratidão do seu afilhado que nunca o esquece.


Para o José Braga Chaves, no SPM 4374

Meu estimado José Braga Chaves,

É bom receber cartas de um soldado e querido amigo mariense, ainda por cima com fotografia, em Moçambique. Imagina tu que com a tua carta veio a de um grande amigo meu que partiu há dias para a região de Cabo Delgado, onde creio que a guerra está muito acesa. Claro que me lembro muito de ti e do pelotão de marienses, e do Natal de 1967 que passámos juntos com uma grande festa nos Arrifes. Tenho muito orgulho em vocês e fico muito contente com os teus planos de ires viver com a Lúcia de Fátima na ilha de S. Miguel.

Já escrevi ao Dr. Furtado Lima, daqui da Guiné, e não deixei de lhe agradecer a operação que ele fez ao teu dedo indicador da mão direita. A guerra aqui é um pouco diferente da que tu me contas, não podemos fazer essas grandes viagens em colunas militares, 100Km aqui eram minas, emboscadas, o Inferno. Estou a comandar a tropa africana de grande valentia, vivemos dentro de um mato muito cerrado perto do principal rio da Guiné, que é o Geba. Dentro em breve, vou fazer o primeiro ano da comissão que, confesso-te, tem sido muito dura mas sinto que vou sair daqui um homem muito diferente daquele que conheceste quando te dei instrução em S. Miguel. Vamos manter o nosso contacto, diz à Lúcia de Fátima que vos desejo as melhores felicidades finda esta guerra onde estamos. Recebe a grande estima de um amigo que só te quer bem.


Para Angela Carlota Gonçalves Beja

Querida Mãezinha,

Chegaram os livros e não tenho palavras para lhe agradecer a sua atenção. A Manuela parece que consegue o transporte gratuito das toneladas de revista que nos manda através do Movimento Nacional Feminino. Fale, por favor, com ela, os livros e as revistas são sempre muito apreciados. Eu tinha encomendado a História da Novela Policial, de Fereydoun Hoveyda na Livraria Torrens, estava completamente esquecido de o ter feito, eu depois faço contas consigo.

Agora que acabei de ler o livro, lembro-me com saudade de certos livros seus que li com grande prazer desde as aventuras de Sherlock Holmes, de Conan Doyle, passando pelo Arsene Lupin, Comissário Maigret até às novelas de Edgar Allan Poe. Partilho da maior parte das opiniões deste autor, desde classificar de pedante Philo Vance de S. S. Van Dine até às considerações depreciativas sobre Simon Templair de Leslie Charteris.

A propósito, consegui em Bafatá, um verdadeiro achado de sorte, Os Crimes do Bispo, por S. S. Van Dine. Vance, na exibição da sua cultura chega a ser grotesco mas depois a natureza do problema, a originalidade de uma melodia infantil que é utilizada por uma mente doentia para assinalar os seus diferentes crimes, a escrita palpitante, por vezes tumultuosa, as pistas deliberadamente falseadas para lançar o leitor na completa incerteza e o gigantesco último acto onde Vance induz o assassino a uma forma de suicídio involuntário, tudo leva a que se leia esta narrativa poderosa com renovada satisfação, a despeito de se perder, na releitura, a curiosidade pela solução final. Vou levar estes livros para si.

Ainda bem que está melhor e que planeou as suas férias com o meu sobrinho nas termas de S. Pedro do Sul. Por aqui, estamos na época das chuvas, tenho muitos soldados doentes, estão a subtrair-me parte do efectivo, já pedi para me ir embora, é pura loucura termos um patrulhamento diário de 25 Km, emboscadas nocturnas, trabalhamos nas condições mais adversas na melhoria ou na conservação dos dois aquartelamentos, manter a segurança com máximo rigor durante 12 horas, ter sempre um efectivo no quartel na previsão de um ataque inimigo, dizem-me para ter paciência, podia ser muito pior, eu podia estar a ser atacado várias vezes ao dia, até já houve quem me dissesse que eu me devia dar por muito feliz, não tenho casos de suicídio, o número de mortos é reduzido e a loucura não se vê muito de perto...

Dentro de dias parto para Bissau, vou ser testemunha no julgamento de um soldado que adormeceu e deixou fugir um prisioneiro. Já escrevi ao Comandante Teixeira da Mota a informá-lo que eu o vou visitar. Logo que saiba exactamente a data, comunico-lha para marcarmos uma hora e eu telefonar-lhe.

Vou a Bafatá tratar dos documentos para o meu casamento. Agradeço-lhe do coração que compreenda que as minhas decisões estão tomadas e que já me basta o sofrimento que tenho na guerra. Rezo pelas suas melhoras, não me canso de louvar ao Senhor a benção de ser seu filho. Receba muitos beijinhos e a saudade de quem lhe deve a vida e tudo o mais.



Guiné > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1968 ou 1969 > O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo, 1968/69, num dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria, que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, passando poela temível Ponta Varela, na na confluêncioa do Rios Geva e Corubal e o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Manutenção Militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava o "ventre da guerra" de toda a Zona Leste.
Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006). Direitos reservados.


Guiné > Bissau > 19 de Abril de 1970 > Cristina Allen, com quem Beja Santos irá casar, no dia seguinte, em Bissau, sendo o David Payne e a esposa padrinhos de casamento. O Mário escrevia-lhe praticamente todos os dias detalhadíssimos aerogramas, contando-lhe o seu dia a dia de Missirá. A Cristina era estudante universitária finalista. Tirou férias para casar. Voltou para Lisboa, ao fimd e 20 dias. O Mário irá findar a sua comissão em Agosto de 12970. embarcando no Carvalho Araújo que levou 15 dias a chegar a Lisboa, "distribuinndo pelo caminho tropas e cadáveres"...

Legenda do Beja Santos: "A Cristina chegou a 18 de Abril e praticamente nunca saiu de Bissau a não ser umas curtas visitas a Safim, Nhacra e Quinhamel. Não podíamos, evidentemente, ir passear a quaisquer teatros de operações. Durante os praticamente 20 dias que ela aqui viveu, visitámos as amizades feitas em Bambadinca e Bissau e fomos recebidos regularmente pelo David Payne, Emílio Rosa e mulheres. Não resistíamos à curiosidade de andar pelos mercados, ver artesanato e pequenas festas locais. Muitas vezes, o Cherno acompanhou-nos, insistia que não havia pausas no seu papel de guarda-costas".

Foto e legenda: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

Para Cristina Allen

Meu adorado amor,

Dentro em breve, já está confirmado, parto para Bissau para me apresentar no Tribunal Militar. Vou ser testemunha de defesa de um soldado da milícia de Missirá, Ieró Djaló, que adormeceu e deixou escapar o prisioneiro de Quebá Jilã.

Espero aproveitar esta viagem meteórica para tratar dos assuntos dos materiais de construção civil e do gerador, pois chegou uma informação a dizer que tinha sido deferido o pedido do gerador para Missirá. Tu não podes imaginar o que este gerador irá alterar para melhor a nossa segurança. Logo que anoitece , espalhamos por 6 pontos correspondentes à vigilância dos sentinelas petromaxes que são muito sensíveis às correntes de ar, apagam-se frequentemente, é um risco tremendo para quem lhes muda as camisas e os reacende, imagina que há rebeldes a ver, não pode haver melhor alvo humano! Espero igualmente encontrar-me com a Maria Luísa e o Pedro Abranches e o Comandante Teixeira da Mota, é tudo uma questão de ter tempo e eles estarem disponíveis. Logo que saiba a data, comunico-te para nos ouvirmos ao telefone nos correios de Bissau.

Estive em Bafatá (não sei se já te disse, mas se já disse repito) a tratar dos documentos. Houve momentos hilariantes, o secretário do administrador perguntava-me se eras da Província ou da Metrópole, queria saber se o casamento era com ou sem separação de bens e falou mesmo em convenção antenupcial. Depois disse-me quer era preciso uma certidão completa narrativa, uma certidão de baptismo (no caso de querermos casar religiosamente) e para irmos pensando se queremos o casamento com separação de bens.

Finda estas formalidades, fui comprar a 9ª Sinfonia de Beethoven interpretada pela Suisse Romande e dirigida por Ernest Ansermet e com 4 solistas de luxo: Joan Sutherland, Norma Proctor, Anton Dermotta e Arnold Van Mill. Mas acabei por perder a cabeça e comprei por 400 escudos uma versão fabulosa da Tosca, com a Callas, Tito Gobbi e Carlo Bergonzi. É impressionante a qualidade desta gravação, a intensidade dramática da Callas, o poder representativo de Gobbi que nos chega aos ouvidos, a coloratura de Bergonzi, que eu considero um dos maiores tenores verdianos de todos os tempos.

À saída do estabelecimento o Campino apresentou-me a mulher que ele comprou recentemente (sei que isto te faz muita confusão, mas uma rapariga aqui custa cerca de 2 vacas e alguns milhares de escudos, o que é muito curioso é a facilidade com que se podem divorciar as mulheres, tendo mesmo a liberdade de pedir o divórcio).

Sei que estás muito ocupada com as últimas frequências e parece que a Filosofia Contemporânea ficará para exame. Se em Bissau eu receber boas notícias quanto ao meu recurso, juro-te que nos casaremos em Lisboa. Mas continuo a hesitar quanto à possibilidade de dares aqui aulas e ficares torturada e sozinha em Bissau. Não tenho escondido no correio mais recente a dor que me provoca as cartas que vou recebendo da minha mãe e as tuas próprias queixas. É evidente que quem está na guerra sou eu, mas nunca supus este volume de tensões e como eles me desalentam.

Não te querendo trazer mais ansiedade, todos os patrulhamentos que fazemos diariamente a Mato de Cão são verdadeiros exercícios de ouvido à escuta, olhos à procura de minas e de emboscadas, haja calor, friagem, chuvas torrenciais, orvalho no capim, picadas inundadas ou enlameadas. Habituei-me a gostar do mundo que me rodeia, os cajueiros em flor, o porte gigantesco dos bissilões, as árvores do pau de sangue e pau preto. Habituei-me a achar natural as couves, as beringelas, o tomate, os mangais e as papaias, dentro e fora do quartel, como se esta fosse a ordem natural do mundo. Habituei-me ao capim alto de onde podem sair emboscadas, habituei-me a suspirar por Canturé com os seus laranjais de fruta ácida e limoeiros donde se avistam morros vistosos de baga-baga. Tiro partido da mata luxuriante a caminho do planalto de Mato de Cão, um dos locais mais lindos do mundo. Então, agradeço a Deus esta possibilidade de amar o que me foi oferecido, a devoção dos meus soldados, o estarmos vivos. Sim, estarmos vivos, embora enterrados neste sofrimento. E fico por aqui, exprimindo-te esta dor de te escrever para tão longe, sempre saudoso e sabendo que sou tão estimado por ti. Que todos os meus beijos atravessem rapidamente este oceano e cheguem hoje a Lisboa. Até amanhã.

__________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 15 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa

Posts da série Operação Macaréu à Vista, de 39 a 27:


23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1623: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (39): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (1)

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1600: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (38): Missirá, a Fénix renascida

10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1578: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (37): O horror do Hospital Militar 241 e o grande incêndio de Missirá

10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1577: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (36): Bissau, um grande teatro de luz e sombras

4 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1561: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (35): O Fado Hilário, em Mansambo, antes do internamento no Hospital Militar de Bissau

23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1486: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (31): Abelhas africanas assassinas

25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1442: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (29): Finete contra Missirá mais as vacas e o bombolom dos balantas

10 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1418: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (28): Sol e sangue em Gambiel

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1399: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (27): Sinopse: os meus primeiros 150 dias

Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > Imagens de Guileje, que me chegaram sem legendas... (LG)

Fotos: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


Mensagem do Amaro Samúdio (1):

Caro Luís Graça:

Em 19 de Maio do corrente ano Os Gringos, como se intitularam, encontraram-se em Montemor-O-Velho. Já lá vão 33 anos que não sabíamos de ninguém. Hoje cerca de 50 já sabem que não morremos. Dos diversos Distritos da Metrópole e dos Açores, de França, da Alemanha,dos EUA, estamos ligados.

Naturalmente temos tido algumas más notícias. São 33 anos. Sentí que devia falar desta estória. Dois camaradas no mesmo dia foram feridos. Com um estive a almoçar.Outro morreu.

Imaginas, certamente, quanto difícil foi escrever estes acontecimentos mas há alturas em que contar, transmitir, falar, faz bem.

Isto de falar, e ouvir falar, da Guiné está a mexer com quem por lá passou e também com a ideia de, passados 35 anos, encontrar amigos que connosco estiveram nas longínquas terras da Guiné, nomeadamente em Guileje. Tm as partes boas mas também as más.

Temia quando, com o Fernando Mendes e Amândio Pires, resolvemos pôr mãos há obra para encontrarmos e reunirmos a CCAÇ 3477, deparar-me com as duas situações.

Era norma as Companhias montarem e localizarem as minas e armadilhas montadas daí. Existia, empre que havia uma rendição, o tira umas e põe outras.

Com a previsível chegada de uma nova Companhia, a partir de 25 de Outubro de 1972, pelo que tenho anotado, começaram a levantar-se algumas minas e armadilhas. air para a mata era de facto o mais difícil não só pelo perigo mas também pelas muitas e muitas horas a andar, por trilhos, em corta mato, etc. etc.

A saída, no dia 8 de Novembro de 1972, ás 06.45, era para levantar armadilhas nas imediações do quartel. Era uma saída fácil.

Já tinham sido detonadas três armadilhas quando, sem qualquer aviso, há um rebentamento. O Amândio Pires, furriel de minas e armadilhas, tinha caído numa armadilha.

Estava a dar as duas injecções, obrigatórias naquelas situações, quando se ouve outro rebentamento. O enfermeiro Mário Azevedo tinha tomado a iniciativa de trazer uma maca, enganou-se no trilho e caiu noutra armadilha.

Foram ambos evacuados para Bissau. Ambos regressaram e tal como eu desembarcaram do Uíge em 22 de Dezembro de 1973.

Nesta odisseia de encontrar cerca de 60 Metropolitanos e 101 Açorianos sabia que iria ter muitas alegrias mas também algumas tristezas.

O Amândio Pires está bem e recomenda-se. Almoçámos juntos e a alegria do encontro, estampada nos nossos rostos, durou até ás 17.00 horas

O Mário Azevedo, passados dois anos de ter chegado da Guiné, teve um acidente de automóvel e faleceu.

Isto de tentar reunir, ao fim de 33 anos , os GRINGOS DE GUILEJE tem sido outra Guerra (2).


Os Gringos de Guileje juntos de novo ao fim de 33 anos


Um Abraço
A.Samúdio

_____________

Notas de L.G.:

(1) Amaro Munhoz Samúdio foi 1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Nov 1971/ Dez 73) , a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Piratas de Guileje, a que pertencia o nosso camarada José Casimiro Carvalho, ex-fur mil de operações especiais.

(2) Sobre os Gringos de Guileje, vd posts:

11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)

8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1478: Unidades de Guileje: Coutinho e Lima, ligado ao princípio e ao fim (Nuno Rubim)

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

15 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1431: Guileje: Quem (e quando) construiu os abrigos de cimento armado (Pepito / Nuno Rubim)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

Guiné 63/74 - P1868: Força Aérea Portuguesa: Cor Pil Av Moura Pinto, um grande comandante, um grande líder (Victor Barata)

Guiné > Bissalanca > Base Aérea nº 12 > Clube de Especialistas > 1973 > Festa de aniversário de um camarada da FAP > Principais convidados: o comandantes da Base, Cor Pil Av Moura Pinto (á esquerda) Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira (à direita).

Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Victor Barata (ex-Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, Bissalnaca, 1971/73). Vive em Vouzela, onde é empresário.


O Grande Comandante! (1)

Camaradas, há personagens na nossa vida que, pela sua conduta, actos praticados ou simples acções, nos marcam para sempre.

Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das virtudes do ser humano é saber respeitar-se mutuamente.

A foto que te envio recorda um aniversário no Clube de Especialistas, na Base Aérea nº 12, em Bissalanca, em que os convidados eram ao comandantes da Base, o da esquerda, Cor Pil Av Moura Pinto, o da direita , Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira.

Pois bem,vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, sisudo,alto, magro com grandes qualidades humanas.

Isto passa-se no ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea estava a perder Grandes Homens na frente de combate, companheiros do diaa dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem mais cedo: Ten Cor Pil Av Brito, Maj Pil Av Montovani e Furriéis Pil Av Baltazar e Ferreira (2).

A instabilidade estava instalada, o receio - principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades - apoderou-se por se desconhecer o tipo de arma utilizada para abater os nossos aviões.

É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES, o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo (3):

Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil. Em seguida afirmou ter duas certezas,uma fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência como oficial.

A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda também se dizia em poucas palavras: ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido.

Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os audazes". Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos.

Faltava na sala o único piloto, furriel Santos, por se encontrar de serviço às operações. Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura, o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções. Diz-lhe o Cor Moura Pinto:

-Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero, quem vai fazer a evacuação sou eu.

Voltou-se para a assistência e perguntou:
- Meus senhores, quem quer colocar alguma questão? - Reinou o silêncio entre toda a gente.
- Se não têm perguntas, eu já disse tudo e, como há coisas mais importantes a fazer,vou-me embora. Foi fazer a evacuação.

O desfecho desta reunião teve um impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.

Descanse em paz, meu COMANDANTE!

Victor Barata
__________

Notas de L.G.:

(1) Há uma outra versão publicada em 17 de Junho de 2007 > Blogue do Victor Barata > Especialistas da Base Aérea 12 (Guiné, 1965/74)


(2) Vd. post de 21 de Junho de 2007 Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

(3) Fonte: A Força Aérea na Guerra de África, de Luís Alves de Fraga, Coronel da FAP na reserva. Lisboa: Editora Prefácio. Vd. blogue Fio de Prumo, de Luís Alves de Fraga

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

1. Mensagem de Arnaldo Sousa, enviada em 31 de Maio último, ao nosso camarada Vitor Barata, com conhecimento ao editor do blogue:

Caro Vítor Barata (1):

Antes de mais um abraço pois estivemos na BA 12 na mesma altura, penso eu. Fui mecânico de Fiat G91, de 1973 a Agosto de 74, tendo dado assistência na linha da frente a alguns aviões que não regressaram, nomeadamente ao Ten Cor Almeida Brito, comandante do Grupo Operacional 1201, o qual fazia parelha com o Cap Pinto Ferreira.

Anexo uma lista onde constam todos os aviões abatidos no ex-ultramar por acidente ou combate . O avião de que falam, abatido em 68 foi em Julho (e não em Março), e a fonte é fidedigna, pois o blogue é escrito por ex-pilotos da FAP [Callsign AFP].

Nunca tinha entrado no site Luís Graça & Camaradas da Guiné, dei de caras com um ex-colega da FAP e BA12. Espero encontrar-te no sábado, 2 de Junho, na base de Monte Real no encontro anual da Associação de Especialistas da FAP (2).

Quanto ao site do Luís Graça & Camaradas da Guiné, penso que é um grande contributo para a história da guerra de África, e que terá de continuar a ser enrriquecida com todos os contributos possíveis. Espero que os contributos do pessoal da FAP tambem apareçam, pois as histórias existem e é preciso contá-las.

Um abraço para ti e também para o Luís Graça

Arnaldo Sousa

2. Comentário de L.G.: Obrigado, Arnaldo. Espero que voltes ao nosso convívio. Com o Victor passarias a ser o segundo representante da FAP na nossa tertúlia ou tabanca grande. Queremos conhecer melhor os camaradas que estiveram na FAP. Tu mesmo deves ter estórias para contar sobre a Guiné, vista do ar... Um abraço. Luís
_______________________


Blogue Callsign AFP (Informação sobre o passado e o presente da Força Aérea Portuguesa: pilotos, aeronaves, esquadras de voo e eventos históricos).


15 de Setembro de 2006 > Fiat G.91 - Aeronaves destruídas durante a Guerra do Ultramar (3)

Lista de aeronaves Fiat G.91 destruídas durante a Guerra do Ultramar, devido a acidentes ou em acções de combate :



Data: 22/02/1967

Piloto: Maj. Armando Augusto dos Santos Moreira (Comandante da Esq. 121)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5407"
Causa: explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.
(Esq. 121, Guiné)


O míssil SA-7. Fonte: Wikipedia
Data: 28/07/1968

Piloto: TCor. Francisco da Costa Gomes (Comandante do Grupo Operacional 1201)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5411"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7 mm) disparado a partir da fronteira da Guiné-Conakry.
(Esq. 121, Guiné) (4)

Data: 15/03/1973

Piloto: Ten. Emílio José Lourenço †
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5429"
Causa: explosão prematura de bomba.
(Esq. 702, Moçambique)

Data: 25/03/1973

Piloto: Ten. Miguel Cassola Cardoso Pessoa
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5413"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq. 121, Guiné)

Data: 28/03/1973

Piloto: TCor. José Fernando de Almeida Brito † (Comandante do Grupo Operacional 1201)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5419"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq. 121, Guiné)

Data: 01/09/1973

Piloto: Cap. Carlos Augusto Wanzeller
Aeronave: Fiat G.91R/4 "5416"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7mm).
(Esq. 121, Guiné)

Data: 04/10/1973

Piloto: Cap. Alberto R. Cruz
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5409"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7mm).
(Esq. 121, Guiné)

Data: 31/01/1974

Piloto: Ten. Victor Manuel Castro Gil
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5437"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq. 121, Guiné)

† Pilotos que faleceram.

________

Notas de L.G.:


(1) Posts do Victor Barata, ou sobre a FAP e a queda de aeronaves, em combate, na Guiné:

27 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1703: Álbum das Glórias (11): O autocarro da carreira Bissau/Bissalanca (Victor Barata)

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

14 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1661: Tertúlia: Notícias de Lafões, do Rui Ferreira, do Carlos Santos e da nossa gloriosa FAP (Victor Barata)

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)

9 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73)


(2) Vd. post de 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1765: Convívios (8): 30.º Almoço anual dos Especialistas da Força Aérea que estiveram na Guiné, 26 de Maio de 2007 (Victor Barata)


(3) Bold da minha responsabilidade. Das sete aeronaves Fiat G-91 perdidos na Guiné, seis foram abatidas pelo PAIGC mas só três o foram pelo fogo do SAM-7 Grail, o míssel terra-ar, de origem soviética, introduzido em 1973.

(4) Vd. posts de:

21 de Junho de 2007> Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

6 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1737: Confirmo que vi um de dois Fiat ser abatido, em 1968, quando fazia a cobertura de uma coluna para Gandembel (Zé Teixeira)

4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1731: Não há registo, no Arquivo Histórico da FAP, de nenhuma areonave abatida no sul da Guiné em 28 de Março de 1968 (Victor Barata)

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1724: Em 1968 eu vi ser abatido um Fiat G.91 sob os céus de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Março de 1968 (Idálio Reis)

Guiné 63/74 - P1866: Álbum das Glórias (15): Adeus, Bissau (Humberto Reis)



Guiné > Bissau > Imagens de diferentes épocas: as primeiras duas de cima, são de Março de 1971, quando o Humberto Reis e a maior parte dos quadros metropolitanos da CCAÇ 12 (ex-CCAÇ 2590) - incluindo o editor do blogue - regressavam à Metrópole, no T/T Uíge... A terceira imagem é o Humberto, à civil (ainda com ar de periquito), no início da comissão (2º semestre de 1969), provavelmente tirada numa das escapadelas do Humberto a Bissau. Quem é que não se desenfiou, para ir a Bissau por uns dias (1) ? Quem é que não guarda saudades de Bissau, apesar de tudo ? ... No caso do Humberto que disse Adeus a Bissau, em Março de 1971, ele não deixaria de voltar ao local do crime, vinte e cinco anos anos depois, em 1996... Aqui o vemos, na última das fotos, frente ao mítico cais do Pijiguiti (ou Pdjiguiti, como se lê)... (LG).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Fotos: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do Humberto Reis, com data de 9 de Maio último:

Amigos Tertulianos:

Já passaram 36 anos mas recordo-me deste dia perfeitamente. Foi a 17 de Março de 1971 quando a bordo do UÍGE deixávamos Bissau para trás (1). E lá ia, connosco, o velho Patrulha para nos proteger até ao farol da ilha de Caió [, em frente à Ilha de Jeta, depois do Canal do Geba].

Quantos de vocês não passaram por esta alegria? Quase todos. Só os mais novos é que vieram por avião (gente fina é outra coisa).

Um abraço
Humberto Reis
_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1577: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (36): Bissau, um grande teatro de luz e sombras

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1299: Antologia (54): Transporte de tropas, por via marítima e aérea (CD25A / UC)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)

9 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Amigos para sempre (Tony Levezinho, CCAÇ 12)

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

Guiné 63/74 - P1865: Blogoterapia (22): Adelaide Gramunha Marques, tem aqui em Monção um amigo e um irmão (António Pinto)

1. Mensagem do nosso camarada António Pinto, enviada ontem a Adelaide Gramunha Marques:


Dª. Adelaide Crestejo:


Deixe-me tratá-la por minha Irmã Adelaide, porque se eu considerava o MARQUES (1) como meu Irmão e o meu melhor Amigo que tive na Guiné, considero não ser abuso fazer tal pedido.


Estou bastante emocionado pois, quando abri as mensagens ou vou ao blogue da Tertúlia, o que faço constantemente, vi uma mensagem desse grande Senhor, que se chama LUÍS GRAÇA (que já tive o privilégio de conhecer pessoalmente) cujo assunto se referia ao nosso Irmão, que sofregamente li e reli.


Ao ler veio-me à memória, já um bocado gasta, tanta coisa que, com certeza, não vou poder descrevê-las todas. Mas isto é sem dúvida um princípio.


Mal possa vou procurar no meu pequeno espólio de guerra e ver se encontro algumas fotos, para além das que eu já enviei para o blogue. No entanto com as várias mudanças de residência muita coisa se perdeu.


Hoje só quero mandar uma mensagem para a Adelaide saber que existe aqui em Monção ( sou de V. N. de Gaia, fiz toda a minha vida no Porto, mas depois de reformado, eu e minha Mulher, refugiámo-nos neste sossego) um Amigo, que gostaria imenso de a conhecer para falarmos e recordar esse grande Homem, que a maldita guerra, que fomos obrigados a fazer, ceifou duma maneira cruel.


Para já deixo aqui os meus contactos:


António de Figueiredo Pinto
Lugar da Cova
Valadares
Apartado 100
EC Monção
4950-909 Monção


Telefone fixo > 251 531 855
telemóvel > 911 029 056


e-mails: >
antoniopinto67@sapo.pt
ninhodavo@sapo.pt


Amanhã não prometo entrar em contacto pois tenho que fazer vários exames médicos, pois a idade (68) já não perdoa, mas breve voltarei.


Uma boa noite e um abraço do


Pinto


2. Comentário de L.G.:


Obrigado, António. São de grande nobreza as tuas palavras. Fico de algum modo feliz por o nosso blogue proporcionar momentos de solidariedade e grandeza humanas, como este. Ao mesmo tempo, é espantoso como, mais de 40 anos volvidos sobre os acontecimentos, tudo isto ainda mexe profundamente com as nossas emoções e os nossos sentimentos. À nossa amiga Adelaide, dirijo-lhe formalmente o convite para ficar na nossa Tabanca Grande o tempo que entender e precisar… Continuaremos a lutar pelo nosso direito à memória.


Mantenhas (como dizíamos lá na Guiné), para os dois.




3. Mensagem da Adelaide, enviada esta madrugada:


Meu caro amigo Luís, obrigada pelas suas palavras de conforto e pela rapidez com que me pôs em contacto com o Sr. António Pinto.


Vou tentar ainda hoje responder ao email que ele me enviou e que me deixou muito confortada pois vejo e sinto nas palavras dele que o meu irmão teve na Guiné se mais não foram, pelo menos UM grande amigo, UM irmão.


Pelo vosso trabalho um bem hajam e que Deus os acompanhe sempre assim como ás vossas familias.


O Luís diz que o Martinho já nos deixou há 42 anos e é verdade, mas para mim esse dia está tão presente na minha memória como se tivesse sido ontem.


A única diferença é que nos habituamos a viver com a ausência e a valorizar os momentos que tivemos de convivio como os mais preciosos deste mundo.


Obrigada meu caro amigo e bom trabalho para todos.


Adelaide G. M. Crestejo
_________


Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Maio/Agosto de 1968 > A construção do aquartelamento de Gandembel requereu muitas canseiras envoltas em perigo permanente, para que se garantisse alguma segurança aos nosso homens, uma vez que eram alvo de inúmeros e consecutivos ataques inimigos.

Foto 309 > "A chegada dos 2 obuses... A chegada de armamento pesado, como metralhadoras e obuses, revelaram-se de enorme importância na defesa do aquartelamento

Foto 310 > "Os obuses devidamente apontados "

Foto 311 > "A água que fluía pelo Balana, tornava-se abundante. E assim, já se tornava possível usufruí-la com uma certa sofreguidão e contentamento... Na imagem, o posto das 'lavagens', que servia para lavar a roupa e para a higiene pessoal simples.

Foto 312 > "Outro posto, o dos duches. Em geral, a água era sujeita a aquecimento solar através do uso de garrafões de vidro de 10 litros".

Foto 313 > "Havia até direito para quem quisesse usar o banho de imersão"

Foto 314 > "Limpeza, com queimada das ramadas.... Os trabalhos de limpeza eram permanentes. No exterior, cada vez mais se procurava alargar a capacidade de visão"

Foto 315 > "Trabalhos de manutenção da parte interior... Havia sempre que realizar infra-estruturas de apoio, casos de um paiol bem fortificado, um armazém, e outras para um merecido descanso "

Foto 316 > "Na construção de uma arrecadação"

Foto 317 > "O hastear da bandeira em Gandembel... No simbolismo do hastear da bandeira nacional, a 27 de Junho, marcava-se um facto de enorme relevância, pois que considerávamos que as casernas já detinham as condições suficientes para lá nos alojarmos"

Foto 318 > "Eu próprio, envolto por 236 invólucros das granadas de RPG-7"

Foto 319 > "Spínola quis ver verificar os efeitos do grande ataque de 15 de Julho... E, apesar de tudo, fizemos gala em montar uma singela guarda de honra ao Comandante-Chefe"

Foto 320 > "E nestas acções, a aeronave trazia sempre algo. Desta vez, uns cunhetes de armamento que se descarregam, enquanto o ferido espera a oportunidade de ser levado até ao Hospital Militar"


Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


VII Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 11 de Fevereiro de 2007.Continuação.


Os ataques e flagelações mantinham-se a um ritmo praticamente diário, a que nos íamos habituando, pois que a generalidade das detonações era resultado da acção de morteiros 82, e a maioria das granadas continuava a deflagrar na periferia. Os morteiros ainda não estariam devidamente assestados, e tornava-se necessário e urgente ter que acabar as obras do aquartelamento, com condições mínimas de segurança.


27 de Junho de 1968: O simbólico hastear da bandeira


E com as casernas a serem consideradas como terminadas, uma das grandes preocupações da Companhia chegava ao fim, e o próprio quartel de Gandembel já apresentava todas as características de uma razoável fortificação de campanha.

Para testemunhar este feito, a 27 de Junho, fez-se hastear a bandeira nacional, com o respeito, a dignidade e a solenidade merecidos, e a partir daquele data, sempre drapejou num cuidado mastro. E já que me refiro a este símbolo, um outro exemplo que retrata o que só em Gandembel poderia acontecer: o estandarte da Companhia, que estava arrumado na secretaria, a funcionar numa tenda de campanha, viria a ser muito esfarrapado por acção de estilhaços de rockets, e assim chegou à nossa unidade mobilizadora, o Regimento de Infantaria 15, em Tomar.

15 de Julho de 1968: ataque, de meia-hora, às duas da madrugada; um morto e uma dezena de feridos evacuados para Bissau


O PAIGC, nas suas escaramuças quotidianas, procurava tomar conhecimento do nosso modo de reacção. A não ser alguma flagelação de armamento ligeiro, com os guerrilheiros mais próximos, a contra-resposta era pronta e denotava alguma firmeza e intensidade, pondo a funcionar todo o arsenal bélico disponível. Porém, já tomávamos uma atitude mais contida quanto aos ataques de morteiros, não dando grande utilização aos 2 morteiros 81, nem aos 2 obuses que já tinham sido devidamente posicionados. Todavia, a 15 de Julho, cerca das 2 horas da madrugada, desencadeia-se um intenso ataque ao aquartelamento, mesmo junto ao arame farpado, e com uma duração superior a meia hora.

O inimigo dispõe o seu efectivo paralelamente à estrada, com a instrução plena do modo de actuação de cada. Vinha fortemente apostado em fazer rombo, mesmo intuído do propósito de assalto, quer pela intenção de destruir as 2 casernas-abrigo que lhe eram frontais, quer no rompimento de uma abertura nas fiadas do arame.

Esse efectivo devia ser bastante poderoso, atendendo aos fortes quantitativos de armamento ligeiro empregues, com especial ênfase na utilização das metralhadoras ligeiras e dos famigerados RPG-7, em que deixou 236 invólucros, como de milhares de munições das metralhadoras. Antes, a bateria de morteiros, fez detonar mais de 3 centenas de granadas.

Da incomensurável refrega, uma destas casernas cede parcialmente aos impactos que nela incidiram, e do resultado das deflagrações, um conjunto infindo de estilhaços entra no interior da mesma, provocando 1 morto e mais de uma dezena de feridos, dos quais 6 seriam evacuados para Bissau, ainda que 2 deles em mau estado, e que seriam enviados para Lisboa.

O morto, foi o alferes José Araújo, do Pelotão de Nativos, recém-chegado apenas há 12 dias. Lembro esta data, de má memória, com a emoção própria dos que a viveram muito intensamente, dado o comportamento gigante de alguns elementos da Companhia que, ao saírem das suas casernas e sem qualquer protecção, como os homens dos lança-granadas e dos morteiros 60, ripostaram de tal modo, que calaram o inimigo e lhe frustraram os seus intentos. E o apontador daquela Browning, mesmo em frente ao inimigo.

Heróis em causa própria, homens que perante o perigo, pareciam transformar-se, ao mostrarem o seu denodo e estoicismo, e que se agigantavam de modos tão distintos: os que denotavam uma frieza de comportamento invulgar, outros que pareciam exultar quando lhe aparecia uma situação para aliviarem ódios acumulados.


Uma derrota para Nino Vieira


A seu modo, cada um fazia libertar as suas pulsões conflituais. E, passados os momentos de turbulência, tudo serenava e cada um como que se recolhia, quem sabe, procurando ler a sua desgraçada sina. Quantos momentos de silêncio, em busca de uma resposta vinda não sei donde, mas os sentimentos preferiam toldar-se, e então ficávamos mais suspensos nos pensamentos tresvariados.

Na altura, afirmou-se que este ataque tinha sido o maior de todos que alguma vez o PAIGC desencadeara. Em resultado dos indícios que deixou no terreno, inúmeros e bem visíveis, e como sua testemunha, não tenho grandes dúvidas que se retirou com pesadas baixas. O objectivo perpetrado não foi concretizado. Saldou-se num malogro.

Creio mesmo que Nino Vieira perdera a sua maior aposta desde sempre, fracassando rotundamente, e não conseguindo minimamente viabilizar os seus velados interesses, sai vergastado ao peso da derrota, e humilhado pelo desmoronamento da sua estratégia de crença, tudo indicia que se retira da zona.


15 de Julho de 1968: o ataque mais aterrador


Mas o PAIGC continuou, mesmo assim, bastante empenhado na zona, tanto que Gandembel, viria posteriormente a ser sujeito a outros ataques de grande violência, mas o de 15 de Julho, foi de longe o mais aterrador, jamais esquecido pelos que o viveram. Julgo que o PAIGC se apercebeu de vez, que tinha no interior de um pequeno aquartelamento, um conjunto de homens atentos e de têmpera rija, e prontos a não admitirem ousadias deste jaez.

Passados apenas 3 dias, Spínola aterra de novo em Gandembel. Prestámos-lhe uma singela guarda de honra, e sinto nos seus olhos alguma comoção, ao pedir para a findar. Quer tomar conhecimento in situ do que tinha acontecido, e o grupo que o secunda sobe para o tecto da caserna-abrigo que tinha sido alvo dos impactos dos rockets. Passado pouco tempo, quando lhe estavam a ser referenciadas as posições que o inimigo assumira no ataque, eclodem algumas granadas de morteiro 82, ainda que bem fora do arame farpado.


Spínola estatelado no chão de Gandembel


Os militares que estavam com ele, saltam do cimo do abrigo (2,5 a 3 metros) para procurarem refúgio. Torna-se óbvio que Spínola é o que encontra mais dificuldades, e no seu salto para o solo, estatela-se, criando uma situação pouco abonatória para a sua condição de Comandante-Chefe.

Embora não denotando qualquer incómodo, julgo que este incidente representou o início de um julgamento que tinha de rever consigo mesmo, quanto ao destino a reservar para Gandembel. E com os seus acompanhantes, o helicóptero descola rumo a um outro destino.

A intensa movimentação do PAIGC, com um contingente dotado de uma enorme experiência, altamente fortalecido com armamento muito mais evoluído e eficaz, naturalmente que teria de preocupar Spínola, já que o desenrolar das situações com que éramos assiduamente confrontados, poderia até levar ao desastre total, que teria de evitar a todo o custo.

Também não poderia subestimar o estado anímico das tropas, que pareciam estar cerceadas, como que abandonadas a si mesmas. Aqui me parece, que Spínola olhou bem de frente para essa gente, e não lhe foi difícil reconhecer que havia ali um punhado de homens numa tenaz luta de sobrevivência, e saíra cabisbaixo como que denotando uma grande apreensão.

Julguei, então, que Spínola iria gizar do modo que julgava como decisivo, todo um plano táctico fiável e consequente, tendente a minimizar esta situação. Fá-lo-á?


19 de Julho de 1968: uma roquetada destrói o forno, ficando o pessoal 3 semanas sem pão(!)


Muito certamente tomara conhecimento que uma rocketada destruíra mais uma vez o forno num ataque a 19 de Junho, e ficámos durante cerca de 3 semanas, sem pão, qualquer tipo de carne ou peixe exceptuando dobrada desidratada e chouriço.

Enganava-se a fome, na base de apenas rações de combate, arroz, batata desidratada, café, marmelada, chouriço, feijão. As ementas pouco variavam, onde a bianda cabia sempre, e até a marmelada a acompanhou.

Também dificilmente chegavam bebidas e em especial a desejada cerveja; mas, mesmo esta, a existir muito espaçadamente, era ingerida à temperatura ambiente, pois que só havia 2 frigoríficos, um para a cozinha e outro no posto de enfermagem.


28 de Julho de 1968: é abatido um dos Fiat G-91 que bombardeavam Salancur



Mas já há muito tempo, e quase todos os dias, pela tarde, vinham 2 Fiats G-91 a descarregarem bombas sobre a zona de Salancaur, de que se dizia terem abrigos inexpugnáveis. E destas tentativas intimidantes da aviação militar, surge a 28 de Julho mais um dos casos inesperados, e que seria o primeiro a acontecer na Província nestas circunstâncias.

Neste dia, parte da Companhia tinha ido montar protecção a uma coluna de reabastecimentos, de modo que em Gandembel restavam apenas 2 grupos − o meu e o do Pelotão de Caçadores Nativos.

Ouve-se, vindo de longe e dos lados da fronteira, uns estampidos de metralhadora pesada. E passados alguns momentos, um soldado chama-me a atenção que se notava uma chama na cauda de um dos Fiats. Prontamente, via rádio, deu-se conhecimento ao piloto. E vejo nos céus, o avião a fazer uma curva acentuada, direccionando-se para o lado da fronteira. E quando a aeronave, já com chamas bem visíveis, passava sobre Gandembel, distingue-se um pára-quedas que se ejecta do mesmo, e que vem a cair cerca de 3 a 4 centenas de metros a sul do aquartelamento, com o Fiat a despedaçar-se em parte incerta, mas muito próximo da fronteira. Um documento oficial, refere que o piloto era um tenente-coronel, de nome Costa Campos.

Aparentemente, o local da queda, não oferecia perigos para o seu resgate, desde que se conhecessem os locais das armadilhas em volta do arame farpado.

Procurei de imediato arranjar um grupo com metade dos efectivos disponíveis, e então fomos ao encontro do piloto. Escondido num arbusto, estava o homem sem distinção da sua patente, e despojado da sua pistola de cintura [mais tarde foi encontrada, e julgo que era uma Walther].
Já vínhamos a caminho do aquartelamento, e algumas aeronaves com helicópteros e T-6 o sobrevoava, pelo que, franqueada a entrada, logo um dos helicópteros aterrava para o levar rumo a Bissau.


Perícia e sangue-frio do piloto do Fiat abatido

O abate desta aeronave teve uma certa repercussão a nível da Província, e muito certamente reforçou os ânimos dos combatentes locais do PAIGC. Contudo, não deixarei de notar, que a probabilidade de uma bala anti-aérea, em acertar num desses supersónicos Fiats, era ínfima. Mas, o que é inegável, é que o avião se perdeu, e a perícia do piloto também foi notável para a integridade da sua própria pessoa, pois se tivesse caído em local fora do nosso horizonte de referência (não mais de 2 Km), não dispunha de condições para ir à sua procura. E muito provavelmente, o piloto seria capturado pelo inimigo.


4 de Agosto de 1968: 4 mortos e 2 feridos graves, numa coluna logística


Sempre esta dualidade da sorte e do azar, que nos espreitava na leveza de cada duro momento. E eis que desponta o malfadado dia 4 de Agosto, da forma mais aziaga para a Companhia, como resultado de uma famigerada coluna provinda de Aldeia Formosa, e que reportarei no capítulo das colunas de reabastecimento.

A Companhia perde por morte num único dia, 4 dos seus elementos: o furriel Abel Simões, de Carapêtos, concelho de Montemor-o-Velho; dos soldados António Moreira e Eduardo Pacheco, ambos do concelho de Paços de Ferreira e respectivamente das freguesias de Seroa e Frazão, e de Manuel Pacheco, de Lousa, concelho de Castelo Branco. Há também mais 2 feridos graves, com evacuação para Lisboa.

E este dia, o mais funesto de todos, delimita este meu segundo capítulo sobre o pesadelo de Gandembel/Ponte Balana.

E Changue-Iaia, que há uma quinzena antes, já nos tinha roubado a presença do alferes Francisco Trindade, gravemente ferido nos membros inferiores pelo accionamento de uma mina anti-pessoal, ficaria a perdurar muito tempo em cada um de nós, e aqui, muito contundentemente criou-se um clima de vazio e de insegurança, a deixar chagas profundas e traumáticas, muitas das quais se mostravam renitentes em sarar. E os dias sequentes, mostram um conjunto de homens em desespero, à beira da queda no precipício.

E neste mesmo dia, Spínola lançou a única oportunidade que lhe restava, onde poderia colher resultados positivos, e que só passaria pela vinda de tropa de elite para entrar mata adentro, de forma a domar o inimigo. Era urgente haver tropa operacional, que muito para além do arame farpado de Gandembel, fosse à sua procura e o enfrentasse, coarctando-lhe os seus intentos, as suas veleidades.

Mas já tinha passado tanto tempo, que não se perspectivava ser muito fácil pôr em prática esta estratégia, pelo que haveria que, doravante, se obter um melhor apoio logístico, em especial na componente alimentar, a fim de Gandembel se transfigurar e de conseguir maior sossego.
Mas, tal estratégia viria a ter resultados positivos?

E para todos vocês, um até breve.


Um abraço do Idálio Reis.
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Nota de L.G.:

(1) Vd. último post da série > 23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço