domingo, 17 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20356: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte II


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  31


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  23 

Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  26



Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  21


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº   22


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  30


 Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  27


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  24


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 25


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº   28


 Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 20


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos, na posse do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69). 

Foram-lhe enviadas, sem legendas,  por um português, das suas relações,  empresário do setor hoteleira, que ele de momento não está autorizado a identificar. São fotos, muitas delas aéreas, com interesse documental para aqueles, como nós, que conheceram Bissau, que continuam a lá ir ou querem ainda lá ir.  As fotos devem ter sido tiradas no início da década de 2010, e algumas serão mais antigas. Mas são de alguém que ama muito a cidade de Bissau...onde vive. E onde a gente vive é a nossa terra!...

É de recordar aqui, a propósito das fotos de Bissau de hoje e de outros lugares da Guiné-Bissau, o que escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, quando lá voltou em novembro de 2015: 

"Gostaria de te contar uma conversa que tive com um colega do meu filho de Bambadinca - ele diz que os poucos turistas que vão à Guiné, gostam de tirar fotos ao que há de mais desagradável, explorando a imagem do lixo, da pobreza, etc. Pelo respeito que tenho a esta gente, pelo amor que tenho a esta terra, pelo sonho de lá voltar, não esperem de mim tais imagens. Eu sou assim!!!!"...

Legendas (da responsabilidade do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Nº 20 - À esquerda, o edifício do Hospital Nacional Simão Mendes, na  Rua Eduardo Mondlane, que vai ter ao cemitério municipal.

Nº 21 - Bissau Velho, praça do Pindjiguiti, instalações portuárias,

Nº 22 - Em primeiro plano, o Hotel Coimbra, nas traseiras da Catedral... (Era o antigo edifício do estabelecimento Nunes & Irmão Lda).

Nº 23 - Baixa, com duas grandes artérias: a Av Amílcar Cabral (que desce até ao porto) e Rua Eduardo Mondlane (a antiga Rua Eng Sá Carneiro) que a interceta; em primeiro plano, reconhece-se a Catedral, com o recinto bem delimitado por um muro branco; e antes o edifício Coimbra Hotel e Spa (em forma de U).

Nº ´24, 25, 27 - O edifício dos Correios, Telégrafos e Telefones. O projeto de arquitetura do edifício, foi desenhado por Lucínio Cruz (Gabinete de Urbanização Colonial ) em 1950, tendo o mesmo arquiteto elaborado o projeto definitivo em 1955. Fica localizado na Av Amílcar Cabral, frente à Catedral.

Nº 26 - O cais do Pindjiguiti, o porto, as instalações portuárias, a marginal (Av 3 de Agosto), Bissau Velha, o Geba, o ilhéu de Rei... A Av Amílcar Cabral desemboca na Praça Pindjiguiti, onde se monumento com o busto do "pai da Pátria", Amílcar Cabral... Na altura em que a foto foi tirada, ainda não existiria o monumento Mon di Timba ou Sinku Dedus, no lado direito da praça do Pindjiguiti.

Nº 28 -  O  edifício do Hotel Coimbra, na Av Amílcar Cabral, 1082, à direits de quem sobe. O sítio Kalma Soul, guia turístico sobre a Guiné-Bissau, diz o seguinte ssobre este conceituado hotel de 3 estrelas:



Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Foto do estabelecimento de Nunes & Irmão Lda, hoje Hotel Coimbra. Cortesia da página do Facebook de Hotel Coimbra
"Um hotel no centro da cidade, junto a Catedral de Bissau. Oferece aos hóspedes um espaço com piscina, ginásio, spa e também sala de reuniões para os hóspedes em viagem de negócios. O restaurante do hotel tem um buffet variado e segundo os hóspedes, muito saboroso. O pequeno almoço é servido num bonito e bem tratado jardim. O hotel fica a poucos metros de locais que merecem a sua visita, como por exemplo, o do Porto de Bissau, a zona mais antiga da cidade, Bissau Bedjo e a Praça dos Mártires de Pindjiguiti."

Tem também uma livraria, a livraria Coimbra. O Hotel está instalado no antigo estabelecimento, um dos mais importantes ds época colonial, Nunes & Irmão Lda.  O negócio continua na família há 3 gerações.

Nº 30 - Troço da Av Amílcar Cabral

Nº 31 - Av Amílcar Cabral (antiga Av República), Baixa, Porto de Bissau, Amura (à esquerda), Catedral (Torres) (em primeiro plano)



Guiné-Bissau > Bissau >  3/11/2015 > Praça dos Mártires de Pindjiguiti (acabada de  inaugurar em  em 3/8/2015, depois de um a polémica requalificação)... O grupo escultórico também é conhecido por  Mom di Tima ou Sunku Dedus.  Os nomes de cerca de 6 dezenas de marinheiros e outros trabalhadores portuários, que foram mortos na sequência da repressão da greve de 3 de agosto de 1959, foram gravados no monumento, por iniciativa da CM de Bissau.

Foto: © Adelaide Barata Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados.[ Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




Cortesia de Vd. Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização Colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ]  


Guiné 61/74 - P20355: Blogpoesia (646): "Pé-ante-pé sobre o mar...", "Páginas inúteis" e "Brincando com as formas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Pé-ante-pé sobre o mar…

Fui pé-ante-pé sobre o mar.
Silencioso e aventureiro.
Sem receio do Adamastor.
Quis chegar ao outro lado, curioso de ver como seria.
Arribei à praia de Vera Cruz.
Lá estava a Cruz da primeira Missa.
Onde chegaram nossos heróis.
Enseada ampla e bela.
Tudo estava em estado virgem.
Descendentes dos mesmos indígenas, muito ciosos de sua história.
A Mãe-Natureza os cuida bem.
Têm os mesmos traços as casas e igrejas que os portugueses deixaram.
Dali, de tão longe, olhei o Portugal, do outro lado.
Donde vem o Sol.

Senti orgulho…

Berlim, 10 de Novembro de 2019
20h00m
Noite cerrada
Jlmg

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Páginas inúteis

Páginas em branco.
Antecedem a história.
Folhas inúteis.
Folhas caídas.
Nem presente nem passado.
Órfãos.
Sem pai nem mãe.
Sempre à espera de quem os adopte.

Espaços brancos de assinatura.
Quem lhes dera a sorte de verdejar de vida.
Para contarem a outra história.
Cada olhar tem sua mirada.
Cada mirada uma fracção.
Ouvir de todos para se julgar bem.
Espaços em branco de nada servem e falseiam a conclusão.
E, muitas vezes, o que vem antes é a porta do que virá depois…

Berlim, 12 de Novembro de 2019
10h56m
Jlmg

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Brincando com as formas

Pega dum seixo cravado no chão,
Crava-lhe os olhos, procurando bem fundo, sua alma imortal.
Define-lhe o busto.
A cabeça e o tronco.
Alisa-lhe as faces.
Desenha-lhe os olhos.
O sobrolho suave.
Rasga-lhe a boca, de lábios carnudos.
Esboçando um sorriso.
Lhe alonga o nariz, um nada adunco.
Sugere-lhe os cabelos escorrendo para os ombros.
As orelhas espreitando ariscas.
Alonga-lhe o colo.
Lhe lembra Adónis.
Prende-lhe uns braços roliços que terminam nas mãos.
Atribui-lhe uns dedos com minúcia de arte.
Parece um artista atento, frente a um piano.
Só falta a canção…

Ouvindo Pyotr Tchaikovsky - Swan Lake
Berlim, 16 de Novembro de 2019
11h40m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20330: Blogpoesia (645): "Afinar as cordas", "Cavalos selvagens" e "Suavemente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20354: Tabanca dos Emiratos (1): Cacei aqui, a 8 mil quilómetros de distância, às 16h02 (12h02, daí), mais um número redondo, o 9,7 milhões de visualizações do nosso blogue... Um forte abraço desde Abu Dhabi (Jorge Araújo)


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 1


Foto nº 2

Emiratos Àrabes Unidos > Abu Dhabi > Novembro de 2019 > Jorge Araújo, o régulo da Tabanca dos Emiratos,  no Bairro de Al Bateen

Legendas das fotos: A 1.ª identifica o nome do Bairro e a entrada no recinto da Festa. A 2.ª dá uma ideia, original, como se pode aproveitar uma lambreta para outros fins. A 3.ª, no exterior do recinto, junto ao mar, vendo-se ao fundo alguns dos edifícios (Torres) que referimos acima. A 4.ª, e última por hoje, as mesmas Torres, agora de tamanho ampliado, de estilo arquitectónico modernista e sofisticado (futurista).

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e coeditor Jorge Araújo;

Data - 16 de novembro de 2019, 12h29

Assunto - Notícias da "Tabanca dos Emiratos"

Caríssimo Camarada Luís,
Bom tarde, desde Abu Dhabi.

Ao ter conhecimento das boas notícias do P20338, relacionadas com o nascimento de uma bebé, de nome Clarinha (neta), não podia deixar de reservar as primeiras palavras para te enviar os nossos Parabéns, extensivos aos restantes membros da família Graça, pelo novo e importante papel na sociedade - o de avô.

Trata-se de uma outra responsabilidade democrática, por permitir partilhar muitos saberes e outras tantas experiências acumuladas ao longo da vida - a dos avós.

Que assim seja, por muitos e longos anos, em completa harmonia e felicidade de todos.

Em segundo lugar, a integração nesta nova experiência nos «Emirates» está a processar-se dentro do que era expectável. A vida tem desta coisas: "comissões (missões) de serviço"... umas aqui, outras ali e outras mais além, pois estamos sempre em movimento, como resposta aos vários apelos...

Por cá, quase tudo é em (à) grande. Habitações na vertical (Torres), algumas com mais de sessenta andares, com duas dezenas de apartamentos por andar. Estradas com (até) seis faixas de rodagem. Altas temperaturas durante o dia. Contexto sociocultural particular, onde interagem sujeitos dos cinco continentes. Cidade considerada a mais segura do planeta nos últimos dois anos. É, de facto, outro mundo... outra realidade.

Os dias de trabalho semanal vão de domingo a 5.ª feira, sendo a 6.ª feira e o sábado, os dias de descanso. Ontem (15.11), a meio da tarde, fomos até ao Bairro de Al Bateen assistir/participar num evento popular, com actividades de animação para todas as idades, abertas a nacionais e estrangeiros, prática tradicional aos fins-de-semana.

Junto quatro fotos alusivas. A 1.ª identifica o nome do Bairro e a entrada no recinto da Festa. A 2.ª dá uma ideia, original, como se pode aproveitar uma lambreta para outros fins. A 3.ª, no exterior do recinto, junto ao mar, vendo-se ao fundo alguns dos edifícios (Torres) que referimos acima. A 4.ª, e última por hoje, as mesmas Torres, agora de tamanho ampliado, de estilo arquitectónico modernista e sofisticado (futurista).


Finalmente, antecedendo a saída para Al Bateen, em visita ao blogue para actualização de conteúdos, conseguimos "caçar mais um número redondo" - o 9.700.000 (nove milhões e setecentos mil - eram 16h02 (aqui) ou 12h02 (aí, a cerca de oito mil quilómetros de distância). Esta cifra ficará, também, para memória futura.

Termino, desejando-vos um óptimo fim-de-semana, como muita saúde e felicidade.
Com um forte abraço, desde Abu Dhabi,
Jorge Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Acompanhando a esposa, que está a trabalhar na Zaed University, , o nosso coeditor Jorge Araújo vai estar, pelo menos neste ano letivo de 2019/20, em Abu Dhabi... Passa a ser o nosso "português das Arábias"... Os ingleses tem o Lawrence, e nós temos o Araújo.

Os camaradas e amigos da Guiné  que por lá passarem, em Abu Dhabi, podem contar com a sua hospitalidade...dele e da doutora Maria João Figueiras.

Aproveito para dar os parabéns à nossa amiga Maria João e desejar-lhe boa sorte para a sua carreira internacional como professora e investigadora na área da pscologia da saúde, onde já tem um brilhante currículo, sendo até ao passado ano letivo exercido funções como professora associada no Instituto Piaget, Monte da Caparica, Almada. Maria João Figueira é doutorada em psicologia da saúde pelo Kings College, University of London (2000).

Tínhamos, de resto, intenção de a convidar para integrar a nossa Tabanca Grande, já que ela tem acompanhado ao longo dos anos o nosso blogue e participado, por diversas vezes,  nos nossos encontros nacionais, em Monte Real. Vamos formalizar, oportunamente, esse convite.

O Jorge Araújo em véspera de partir para Abu Dhabi, no passado dia 3 escreveu-nos esta simpática mensagem: "Ainda que a distância, entre nós, passará a ser significativa, vou tentar acompanhar a publicação dos textos no blogue, com a ajuda dos instrumentos tecnológicos ao nosso dispor. Mesmo com um novo quotidiano, que será diferente do de cá, prometo dar seguimento às minhas narrativas, enviando-as daquela região do globo. Estás, desde já, convidado a visitar-nos. Entretanto, faço votos para que continues a recuperar (bem!) das tuas maleitas." (...)

Aberta uma nova tabanca, a dos Emiratos, fica desde nomeado como régulo o Jorge Araújo, até por uma razão simples: o nosso blogue tem horror ao vazio e a nossa missão, civilizadora,  é "criar uma, duas, três, muitas tabancas"...

Ao Jorge e à Maria João só podemos desejar o melhor do mundo, porque eles merecem tudo. E agradeço, em meu nome e da minha família, os vossos parabéns pelo nascimento da Clara Klut da Graça, filha do João Graça e da Catarina Klut, que também são "psis". A menina e a mãe estão bem. E o pai, naturalmente, anda radiante... O avô, esse, anda a tirar um curso intensivo para tentar ser um bom avô... A avô, essa, já lhe leva a dianteira...
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Guiné 61/74 - P20353: Os nossos seres, saberes e lazeres (364): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Aí por 1630, o Vale das Furnas teve forte sacudidela, fugiu gente aterrorizada, depois a vida retomou a sua normalidade, os capitães donatários puseram a economia a funcionar. A ter-se em conta o que escreve o fidalgo Senna de Freitas em "Uma Viagem ao Vale das Furnas em Junho de 1840", gente abastada aqui tinha os seus bens, caso do Conde da Ribeira, o Brigadeiro Pacheco de Castro, o Barão das Laranjeiras, entre outros.
Por essa época havia mais de 600 vacas, centenas de cabras e ovelhas poucas. E o Fidalgo da Casa Real dava pormenores da vida turística de então:  
"As pessoas que vão ao Vale das Furnas fazem excursões em burrinhos à vila da Povoação, à Ribeira Quente, ao Pico da Vara (que é o mais alto da ilha), à Achada das Furnas, ao Pico da Vigia, à Lagoa, às matas d'Alegria, à cascata da Briosa, à cascata das Camarinhas".
As águas tinham fama como termais, saúde, lazer e ambiente edénico concorreram para que o Vale das Furnas se tenham tornado num dos locais mais procurados pelos seus jardins, panorâmicas, lagoas, piscinas e o espetacular território das furnas, não há nada de parecido em Portugal e arredores.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (6)

Beja Santos

Vale das Furnas equivale a dizer: furnas ferventes, matas-jardins, lagoa, uma porta para o paraíso. O viandante acoitou-se no Parque Terra Nostra, a sua origem remonta a 1775, o então cônsul dos EUA, Thomas Hickling, fez aqui construir a sua residência de verão, a Yankee Hall. Dois séculos depois, aquilo que era uma área inicial de dois hectares, expandiu-se com jardins de água, alamedas sombrias, canteiros de flores, vieram especialistas portugueses e ingleses para ordenar o jardim, chegaram igualmente árvores de todo o mundo. Quando surgiu o hotel, o parque era o complemento natural, o espaço de lazer para contemplar mais de três mil árvores e espécies arbustivas, com um jardim de camélias sem igual. Mas voltemos ao livro “Uma Viagem ao Vale das Furnas em Junho de 1840”, do Fidalgo e Comendador da Ordem de Cristo Bernardino José de Senna Freitas. Estes geiseres são impressionantes, ninguém lhes pode ficar insensível. O fidalgo descreve minuciosamente as caldeiras uma a uma, aqui fica um exemplo:  
“Em distância, talvez de trinta passos da caldeira grande, uma outra atrai a nossa admiração. Esta caldeira está em posição cavernosa; em remotos tempos era denominada caldeira do polme, e hoje caldeira de Pedro Botelho: com impetuosidade estrondosa, que atemoriza as pessoas que observam, se eleva acima do seu nível de água lodosa, ou espécie de lava, muito quente, com espesso fumo envolto naquele polme, tornando-se difícil ver-se a sua horríssona boca, ou cratera: esta espécie de lava, que aquela furna expele, segundo alguns viajantes, é semelhante à do Vesúvio”.




Então, não é que saindo do Vale logo nos abeiramos de jardins onde, fruto da estação, despontam as azáleas. O viandante ajoelha-se para ver se entende aquele brilho metalizado que irradia das pétalas, será dos minérios da terra, da luz do céu destapado? Não tem resposta, mas que não há azáleas como estas está certo e seguro que não há, em qualquer outro ponto do mundo.


Voltamos à panorâmica da casa do cônsul Hickling e das transformações posteriores. A piscina de água férrea é de visita obrigatória, toma-se banho a qualquer hora do dia ou da noite, está sempre quentinha. Depois convém limpar bem para não vir para o duche carregado de “ferrugem”, pode ter consequências desagradáveis para a roupa do dia-a-dia. Consolado com este banho, e pensando que o fidalgo Senna de Freitas diz que são muito boas estas águas para as dores reumáticas e outras maleitas, segue-se um passeio pelo Parque Terra Nostra.



Para captar as cores do paraíso há que esperar por uma certa luz, e depois embrenhamo-nos pela Alameda Ginkgo Biloba, pelo caminho podemos dar com fetos, dálias, verónica, begónias e lobélias, pressente-se que as hortênsias vão rebentar dentro de pouco tempo. O património florestal tem-se desenvolvido aqui, temos agora jardins com plantas endémicas, de fetos e de cycas, o jardim de flores e plantas anuais, isto para já não falar no prodigioso jardim das camélias.




Há monumentos dentro do parque, desde bustos à ”Memória aos Viscondes da Praia”. Sempre que aqui vem, o viandante embeiça-se pelo Mirante “O Açucareiro”, está marcado pelo romantismo, a vista é um desfrute, se está bom tempo até é aprazível estar aqui a ler uma revista ou um livro antes de retomar a marcha.




E aqui nos detemos, não há visita em que não se venha saudar este vetusto metrosidero, estes grandes proprietários micaelenses como o Visconde da Praia ou José do Canto rivalizaram em trazer estas espécies exóticas, tiveram sucesso, medraram e são pontos de encanto nos respetivos jardins. Espera-se que tenham gostado. E espera-se igualmente que o leitor nos acompanhe no passeio pela Lagoa das Furnas e na Mata-jardim José do Canto.
É já a seguir.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20327: Os nossos seres, saberes e lazeres (363): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20352: O Cancioneiro da Nossa Guerra (12): "Até p'ró ano outra vez", um "faduncho" do Francisco Santos (ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65; poeta popular de Sarilhos Grandes, Montijo): "Mas nós cá vamos passando, /As lembranças vão ficando, / Conservando alguma fé; / Nem que seja de bengala, / Eu reúno em qualquer sala / P'ra relembrar a Guiné"...


Francisco Santos, um dos bravos do Cachil, da CCAÇ 557 (1963/65), 
e um dos poetas  da nossa Tabanca Grande; nascido em Sarilhos Grandes, Montijo, em 1942.

"Em Sarilhos eu nasci / e fui como outros tantos, / no Montijo, perto daqui, / registaram Francisco dos Santos. // Comecei a ouvir depois, / ainda menino eu lembro, / que nasci em quarenta e dois / no dia quinze de Dezembro. // Sarilhos Grandes me criou, / só para a Guiné eu saí, / sou feliz aonde estou, / tudo o que tendo é aqui. " (...) 









O Francisco Santos, hoje com  77 anos, ex-1º cabo motorista rádio telegrafista, da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), poeta popular, residente em Sarilhos Grandes, Montijo, membro da nossa Tabanca Grande desde 12 de maio de 2009, todos os anos abrilhanta o convívio anual da companhia com uns versinhos da sua lavra. Este ano foi em Alenquer, e mais uma vez não falhou. Aqui ficam, para enriquecer o Cancioneiro da Nossa Guerra (**) . Os ficheiros chegaram-nos por mão do incansável  e sempre leal José Colaço.

O Chico é um notável exemplo, para todos nós, do ex.combatente que se recusa a "arrumar as botas".  Motorista de profissão, agora reformado, além da escrita criativa, está envolvido, tanto quanto sei, nas atividades da sua terra, e nomeadamente tem um grande carinho pela sua banda filarmónica, a da Academia de Música União e Trabalho (AMUT), de cujos órgãos sociais faz ou já fez parte.  Tem colaboração (poética) dispersa pelo nosso blogue. E eu há tempos, em resposta a uns versos de agradecimento ao nosso blogue, respondi-lhe também em verso:

"Foi p’ra connosco gentil / O poeta do Cachil, / Onde foi soldado de aço, / Vive agora em Sarilhos,  / Terra de paz, sem cadilhos, / E é amigo do Zé Colaço."

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Notas do  editor LG:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20331: Convívios (909): XXXI Encontro de Confraternização Anual da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Alenquer, no passado dia 9 de Novembro de 2019... Ou a usura do tempo... (José Colaço)

(**) Último poste da série > 7 de julho de  2019 > Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

Guiné 61/74 - P20351: Agenda cultural (713): Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais Data: 27 de novembro 2019, às 17:00. Local: Lisboa, ISCTE-IUL, Sala C1.01




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

Data: 27 de Novembro 2019, às 17:00
Local: ISCTE-IUL (ISCTE-IUL, Lisboa)



O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre: 

“ARQUIVOS e FONTES para o ESTUDO dos CONTEXTOS COLONIAIS”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes:


Ana Canas (AHU e CH-ULisboa;

Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL);
 

João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL);
Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL);
 
e Mário Beja Santos; 

e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 pelas 17h00.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20350: Parabéns a você (1710): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68) e TCor Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Furriel de Artilharia do 9.º Pel Art (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor:

Último poste da série de  15 e novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20346: Parabéns a você (1108): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20349: (In)citações (139): Recuperação do Monumento Português de Newport, EUA: "Pelo que tem de significado hstórico, pela sua ligação ao oceano que une portugueses e norte-americanos, pela sua importância na afirmação da Comunidade Luso-Americana, o Presidente da República saúda todos os compatriotas que asseguram a preservação do Monumento Português em Newport (excertos de carta, pessoal, enviada ao João Crisóstomo, em data de 4/11/2019)


Newport, Brenton Park, Portuguese Discovery Monument.
Foto de João Crisóstomo (2019)
Cópia de carta do PR, gentilmente cedida pelo João Crisóstomo, Nova Iorque (*), que acaba de publicar, no nosso blogue, um poste sobre o supracitado monumento (**).

"O Monumento às Descobertas Portuguesas é uma homenagem aos navegadores portugueses da Idade de Ouro da exploração marítima, que se estendeu desde o início dos anos 1400 até ao final de 1500. O Monumento é a jóia da coroa da Fundação do Monumento Português, cuja missão é apoiar as comunidades luso-americanas. O Parque está disponível para uso do público e a Fundação incentiva essas comunidades a descobrir tudo o que o Parque tem para oferecer!"

Fonte: tr. de "Portuguese Discovery Monument"
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  15 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20348: Memória dos lugares (399): O Monumento das Descobertas Portuguesas, em Brenton Park, Newport, R. I., Estados Unidos, réplica ds "Rosa dos Ventos" em Sagres (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona)

(**) Último pste da série >  2 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20030: (In)citações (138): A minha Guerra da Guiné: a Leste, algo de novo... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)


Guiné 61/74 - P20348: Memória dos lugares (401): O Monumento das Descobertas Portuguesas, em Brenton Park, Newport, R. I., Estados Unidos, réplica ds "Rosa dos Ventos" em Sagres (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona)




EUA > Newport, R.I. > Brenton Park > 2019 >  "Portuguese Discovery Monument" >  O João e a Vilma Crisóstomo mais o Rui Chamusco, de visita a este singular monumento aos navegadores portugueses.

Fotos (e legenda): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



The Portuguese Discovery Monument is a tribute to the Portuguese navigators of the Golden Age of maritime exploration, which spanned from the early 1400’s to the late 1500’s. The Monument is the crown jewel of the Portuguese Monument Foundation, whose mission is to support Portuguese-American communities. The Park is available for use by the public and the Foundation encourages those communities to discover all that the Park has to offer!

O Monumento à Descobertas Portuguesas é uma homenagem aos navegadores portugueses da Idade de Ouro da exploração marítima, que se estendeu desde o início dos anos 1400 até ao final de 1500. O Monumento é a jóia da coroa da Fundação do Monumento Português, cuja missão é apoiar as comunidades luso-americanas. O Parque está disponível para uso do público e a Fundação incentiva essas comunidades a descobrir tudo o que o Parque tem para oferecer!

Fonte: "Portuguese Discovery Monument"  (tr. para português: Google translator / LG)




I. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), nosso camarada da diáspora, a viver desde 1975 em Nova Iorque, conhecido ativista social (de causas como as Gravuras de Foz Coa, Timor Leste ou Aristides Sousa Mendes), recentemente promovido a régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona (que é tão grande como o mundo):

Date: sábado, 2/11/2019 à(s) 09:37

Subject: "Monumento das Descobertas",  nos Estados Unidos


1. HELP… SOS…

Aos meus "amigos no facebook" e outros amigos a quem quero partilhar o que segue:

Como não percebo nada de Facebook, e é com pena que o admito, pois gostaria bem de poder fazer como a gente que "sabe nadar nesta piscina como um peixe" e eu, como um desesperado que nela caiu e não sabe nadar, apenas me resta pedir uma mão para não me afogar… peço aos meus amigos a quem vou enviar este rmail para me fazerem o o favor de pôrem isto nas suas páginas de Facebook, já que eu por mais voltas dê não sou capaz: consigo escrever, mas é sóm mas não sou capaz de incluir as fotos.

E eu acho que isto é uma coisa que deve ser conhecida por todos. E porque acho assim, já enviei isto para a nossa televisão ( RTP) em Portugal; enviei para alguns amigos que têm blogues ( também não sei mexer nisso, a não ser ler o que eles já publicam…) ; mas até ao momento ainda não sei se publicaram ou não!…

Dentro de dias "vou voltar à carga",  deslocando-me com um jornalista meu amigo que se mostrou muito interessado em escrever sobre isto. Mas, como todos me dizem que hoje em dia a melhor maneira de se fazer conhecer algo é públicá-lo no Facebook… quem receber isto ( se acharem que vale a pena, como eu acho,} por favor "partilhem" o que segue. E se acharem que é trabalho demais porem no facebook… pelo menos ficam a saber.

A todos um grande abraço do
João


João Crisóstomo
Nova Iorque


II. A história é a seguinte:

Tive o privilégio de ter comigo aqui em Nova Iorque durante três semanas um grande amigo meu, Rui Chamusco. E, para não dizer que "foi a Roma e não viu o papa", tentei mostrar-lhe não só Nova Iorque como alguns outros lugares que eu achei que ele devia conhecer: Washington, Filadélfia, as Cataratas de Niágara e Boston…

E nesta última volta aproveitei para lhe mostrar alguns lugares relacionados com motivos portugueses, já que nós portugueses, apesar do muito pouco que sobre isso é falado e sabido, tivemos um grande papel e influência na história dos Estados Unidos. E foi neste ultimo passeio que se passou o que segue, de que as fotos que junto, nos ajudam a compreender o interesse e importância para todos os portugueses.

Um dos grandes entusiastas e impulsionadores da história portuguesa nos Estados Unidos foi o nosso saudoso Dr. Luciano da Silva de quem muitos em Portugal se devem recordar bem: entre muitas outras coisas, ele tinha um programa em que, como médico,   "dava consultas" para Portugal através da televisão para os seus clientes/doentes… Muito conhecido ainda pelos seus livros, um dos quais deu origem ao filme "Cristóvão Colombo",  de Manuel de Oliveira , premiado com o prémio de Ouro em Cannes; pelo Museu da Pedra de Dighton e outros projectos em que se envolveu.

Ele fazia-me o favor da sua amizade e eu visitava-o ocasionalmente . Numa destas visitas, fazendo-se cicerone,   levou-me a visitar vários pontos de interesse entre os quais o "Brenton Park", onde me mostrou o "Monumento dos Descobrimentos", que era uma réplica da "Rosa dos Ventos" em Sagres no Algarve. 

Além do monumento em si, de muito interesse histórico, este lugar "tocava-me de perto" e e o Dr. Luciano sabia disso, pois que o lugar tinha sido antes propriedade de Jacqueline Kennedy Onassis, que patrocinou a minha vinda para os Estados Unidos e para quem eu trabalhei muitos anos. 

Este monumento construído em 1988 e que chegou a receber a visita de Mário Soares em 1997, encontrava-se então já com problemas de manutenção e necessitava ser reparado: O original foi desenhado pelo Luso-americano João Chartres de Almeida e as pedras originais foram importadas de Vila Viçosa, Portugal. Mas devido ao vento e à acção corrosiva da água do mar, cedo começaram a absorver água e estavam já a cair aos bocados. E o Dr. Luciano preocupava-se com o futuro deste parque. Finalmente em 2007, considerando que eram um perigo para o público,   foram removidas ficando apenas três peças.

O Monumento fica na ponta duma saliência de terra que se projecta mar dentro, mesmo em linha directa com o nosso promontório em Sagres cuja ideia deu origem a este projecto.

Em 2013 a Cåmara Municipal de Newport, influenciada sem dúvida pelo interesse dos líderes da importante comunidade portuguesa, resolveu criar uma comissão para a reparação do monumento e no ano seguinte, 2014, desta vez com pedras de granito do norte de Maine ( nordeste dos Estados Unidos), o monumento foi reconstruído e "re-inaugurado". Estas estão dispostas como no original, num semi-circulo, representando os "pontos cardeais". No centro está um alto monumento retangular em pedra; e do conjunto consta ainda uma "esfera armilar" —o único original que resta do primeiro monumento-- representando o nosso bem conhecido instrumento de origem portuguesa que possibilitou as viagens pioneiras dos nossos navegadores.

Soube que no ano passado, para comemorar o 30º  aniversário da sua construção em 1998, este monumento recebeu a visita do nosso Embaixador em Washington, Domingos Fezas Vital, numa cerimónia a que se associaram o comandante Maurício Camilo e os tripulantes do Navio Sagres que nessa altura se encontravam de visita aos Estados Unidos. 

O tema e informações relevantes estão devidamente exibidas e explicadas numa grande placa informativa (bem protegida ) em destaque logo na entrada do parque. Faltavam porém os nomes dos nossos navegadores que constavam no monumento original, mas que os mencionados factores corrosivos fizeram desaparecer.

E foi esta a nossa grande surpresa: ao aproximarmos-nos do local vi duas pessoas junto ao monumento e reparei o que de longe me um grande painel colado, cobrindo grande parte do monumento. E, curioso, dirigi-me imediatamente para verificar do que se tratava. Nesse grande painel colado ao monumento constavam os nomes dos nossos grandes navegadores, e foi-me explicado que estavam a fazer um "check final" para ver a posição definitiva em que os nomes iam ser gravados no monumento, o que previa devia ser feito dentro de duas ou três semanas…

Eu e o Rui e minha eslovena esposa, Vilma,  também não podíamos esconder o nosso contentamento. Segundo Robert Silva, que organizou e coordenou a cerimónia no ano passado, não há outro monumento deste tipo em todos os Estados Unidos. Este é de facto um monumento de que todos os portugueses aqui, em Portugal e em toda a parte do mundo se podem orgulhar, agora ainda mais pela maneira altiva, abrangente e agradável em que se finalmente se apresenta a todos os que aqui vêm visitar este lugar.

As duas primeiras fotos foram tiradas neste dia e a 3ª foto mostra o monumento com a inscrição dos nomes já gravados, que me enviaram há dias.

Parabéns, portugueses. Parabéns, Portugal!

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Guiné 61/74 - P20347: Notas de leitura (1236): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (32) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Aqui se fazem tréguas na indagação do que terá sido o pensamento estratégico dos dois Comandantes-Chefes que precederam Spínola, não se perca de vista que a história da guerra da Guiné carece fundamentalmente de uma investigação sistemática ao período que vai de 1962 a 1968, pairam ainda muitas nebulosas, há muita pesquisa em arquivos por fazer, a verdade histórica continua altamente condicionada.
Veio à ribalta o Capitão José Pais, que comandou a CCAÇ 14, em Farim, e abre-se o livro do diário de JERO, em Binta, em meados de 1964, andava tudo numa deriva, vai chegar a tropa do Capitão do Quadrado, entrou tudo num virote.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (32)

Beja Santos

“Muitos colegas foram feridos
os azares vão aparecendo.
Quando já estavam curados
o Diogo Augusto ia morrendo.

Ao caminharem pela estrada
feriram o furriel Ferreira
e no David à sua beira
acertaram com uma granada.
Nesta grande emboscada
Marques e Varela atingidos,
nos momentos aborrecidos
o Santos aleijou uma mão.
Neste mês de S. João
muitos colegas foram feridos.

O 490 a penar
muitos feridos já tem
e 6 baixas também
e não deixam de actuar.
Estão a ter muito azar
sempre com ataques sofrendo.
Vão o tempo percorrendo
nos arredores de Farim
e até que se chegue ao fim
os azares vão aparecendo.

O Garcês se aventurou,
pelo Comandante foi louvado.
Depois de ter rastejado
duas armas apanhou.
A sorte o acompanhou
mas tiveram azar muitos soldados:
depois de dois meses passados,
Varela e seu companheiro
foram feridos num carreiro
quando já estavam curados.

Helicóptero mandaram chamar
e para Bissau os levou.
O Varela na Amura ficou
levando o tempo a coxear.
O Santos, no Hospital Militar,
a operação lhe vai fazendo
12 dias não comendo,
começou a emagrecer
depois de tanto sofrer,
Diogo Augusto ia morrendo.”

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É da mais elementar justiça, já que continuamente aqui se fala em Farim, sede do BCAV 490, procurar uma peça literária alusiva, felizmente que ela existe. No dobrar do século, como é do conhecimento dos interessados, a literatura da guerra da Guiné viu uma das suas dimensões reforçada, o género memorial, começaram a aparecer livros de memórias às catadupas em detrimento do romance, novela, conto e até historiografia. “Coisas de África e a Senhora da Veiga”, por José Pais, edição de autor, 2001, é um grande livro de memórias, um documento inusitado pela fala do coração. O então Capitão José Clementino Pais era já um experimentado oficial do Exército: alferes, foi prisioneiro na Índia; depois, combateu para os lados de Nambuangongo; teve seguidamente uma comissão em Cabo Verde, e à quarta foi de vez, arribou à Guiné à frente da CCAÇ 14, feriu-se com gravidade em Farim, seguiram-se três anos de internamento hospitalar. É uma prosa onde não há enxúndia, é tudo económico e hábil, tem recorte de relatório. O desfiar das recordações anda sempre à volta de uma questão central que é cuidadosamente demarcada e depois segue em espiral. São narrativas avulsas que podem navegar entre o sentimental e a bruteza mais dura que a guerra consente. Para quem testou tal prosa, é bem penoso, constrangedor mesmo, diante desta arquitetura de contos reduzidos à medula, quase agrestes na geometria, ensaiar o resumo desta prosa de primeiríssima qualidade.
Fiquemos aqui com uma tocante história de amor, “A Xuxa e o soldado Marquito”.

“O Cabo Sila procurou nosso capitão, coisa de dimensão tamanha se passa na tabanca, envolve pessoal da CCAÇ 14, tropa Mandinga, sediada no perímetro de Farim, e convém esclarecer que quartel no sentido habitual do termo era coisa que não havia: uma arrecadação e um cubículo que servia de gabinete ao capitão, ao 1.º Sargento e a um Cabo ajudante entregue à papelada. Os poucos furriéis habitavam numa casa na povoação e os soldados na tabanca. É nisto que começa a história.

- Então diga Sila. Que se passa?
- Tem mesmo ‘pobrema’ nosso capitão. Tem menininha que gosta mesmo do soldado Marquito e já fugiu de casa do pai três “vez” para ir ter com Marquito!
- Então o que há a fazer é casá-los. Se gostam assim tanto um do outro!?
- Mas, nosso capitão, Xuxa é Fula e Marquito é Mandinga.

E Sila continou:
- Tem ainda outro ‘pobrema’ mais difícil.
- Sim. Diga lá.
- Menininha já casou com sobrinho do ‘Homem Grande’ de Jumbembem e ‘Homem Grande’ veio ontem na coluna para saber o que se passa.

Havia para ali coisa séria e explosiva. Foi chamado Marquito, confirmou tudo mas não tinha 3 mil pesos para casar com a Xuxa. Chamou-se a autoridade religiosa, não havia problema de casar Fula com Mandinga, a questão era devolver o dinheiro ao ‘Homem Grande’ de Jumbembem. À cautela, nosso capitão convocou reunião com toda a tabanca, até o chefe administrativo compareceu. Nosso capitão até cita o Corão. Chegou-se a um compromisso, nosso capitão adianta os 3 mil pesos, Marquito depois pagará em prestações. Nosso capitão, finda a reunião, pergunta a Sila se a reunião tinha corrido bem. 
- Muito bem nosso capitão. Mas agora ‘vai ter pobrema’, vais ter muito soldado a querer casar!

No dia seguinte, o primeiro-sargento, alarmado, comunicou que 27 soldados também queriam casar.
Estabeleceram-se umas regras que o General Comandante-Chefe, Spínola de seu nome, aprovou e casaram-se todos.
Só os que ainda não tinham ‘mujer’.”

E já que estamos em maré literária, é igualmente de elementar justiça abrir alas a um documento que faz parte da História, o diário da CCAÇ 675, conhecido como o 1.º Volume de “Dois Anos de Guiné”. É a todos os títulos um texto singularíssimo. Será porventura o primeiro diário de uma unidade militar na Guiné, meticulosamente escrito e documentado. Quem lhe deu letra de forma foi um furriel-enfermeiro de nome José Eduardo Reis de Oliveira, JERO assim ficará conhecido. O comandante da companhia era Alípio Tomé Pinto. O livro foi dado à estampa em 1965, em edição pirata, tivesse o Estado-Maior do Exército conhecimento desta ousadia e o hoje General Tomé Pinto passaria por muitos amargos de boca, descaro como este nunca se vira, contar tintim por tintim a história da unidade militar, logo a partir de maio de 1964, viagem a partir de Lisboa, chegada ao estuário do Geba, instrução operacional e em junho, no fim do mês, a companhia vai para Binta, Tomé Pinto ficará conhecido como o Capitão de Binta ou o Capitão do Quadrado.
Logo a descrição do aquartelamento:
“O local tinha uma forma mais ou menos rectangular, limitada por vedações de arame farpado num perímetro de cerca de 800 metros. Na ‘arquitectura’ de Binta avultavam a estrutura enorme de seis grandes barracões que tinham servido para armazéns de mancarra, agora abandonados e cheios de imundícies. Existiam ainda quatro habitações de pedra e cal, pequenas, duas das quais habitadas por famílias indígenas, uma outra onde dormiam os soldados do pelotão do Alferes Sequeira, da CCAV 489, que desde há três meses se encontrava na região, rodeada por bidons cheios de terra e troncos de palmeira, e ainda outra habitada por um indígena funcionário da Casa Gouveia. Os arruamentos eram regulares mas mal cuidados, com montes de lixo por toda a parte.
Disseminada ao longo de um caminho que saía do aquartelamento, estendia-se durante cerca de dois quilómetros a tabanca de Binta, com alguns bons edifícios de adobe e cal, e com muitas moranças, agora quase na totalidade desabitadas. A referir ainda uma importante serração de um metropolitano de nome Ribeiro, na Província há cerca de 30 anos, importante negociante de madeiras”.

Houvera uma receção com tiroteio, Tomé Pinto não está pelos ajustes, inicia a 3 de julho o reconhecimento da região envolvente, vão começar os estragos. População controlada pelo PAIGC anda por ali muito perto. Há nativos que são cercados, recusam a parar, são abatidos. Entra-se na tabanca de S. João. Junto à tabanca foram encontradas uma mala com manuscritos antigos, e três bicicletas, uma delas carregada com um saco de arroz, catanas e ferramentas agrícolas.
A seguir, parte um contingente para uma batida à região de Lenquetó, situada a cerca de 12 quilómetros de Binta:
“Passámos pelo esqueleto carbonizado de uma camioneta da serração de Binta que o inimigo havia destruído há poucos meses.
Às 4.45 horas estávamos perto do nosso objectivo. Ouviu-se por momentos com nitidez no silêncio da noite o ruído característico do pilão. Não muito longe cães latiram. Lentamente, a distância que nos separava de Lenquetó foi percorrida. Às 5.15 horas começou-se o envolvimento da tabanca, instalando-se em meia-lua os dois grupos de combate. Poucos momentos depois, viram-se alguns indivíduos sair caminhando na nossa direcção, sendo-lhes gritado que fizessem alto. Retrocederam rapidamente fazendo fogo de pistola de dentro da tabanca. As nossas tropas abriram fogo e durante alguns momentos 70 armas automáticas crepitaram fragorosamente numa mensagem de morte. A reacção do inimigo embora diminuta fez-se sentir. Um ‘suicida’ descortinou o nosso Capitão em pé e avançou para ele correndo com um ‘canhangulo’ em posição de fogo. Foi abatido depois de meia dúzia de passos”.

Esta mentalidade ofensiva vai continuar, chegam ou louvores, sucedem-se as batidas, os golpes de mão, as emboscadas com êxito, faz-se contacto com a população no Senegal, começam as obras de beneficiação, as forças do PAIGC começam rapidamente a sentir que a vida não lhes corre de feição, toda aquela região era cultivada por população controlada, todo aquele mês de julho vai permitir à CCAÇ 675 um relativo e provisório domínio de terreno.
Nem tudo são rosas, e JERO passa ao papel o que se viveu em 29 de julho de 1964:
“Quando anoiteceu, uma secção comandada por um cabo, foi emboscar-se junto da serração, apenas a 50 metros do aquartelamento, com a missão de aprisionar qualquer indivíduo que viesse a sair da casa de um nativo, que se suspeitava querer passar para os terroristas.
Tinha havido o cuidado de recomendar a todos os soldados para não fazerem fogo, pois se na verdade alguém saísse de tal casa suspeita, não levaria armas. Só em última instância e em caso de fuga utilizariam as armas. Infelizmente, apesar de todas estas recomendações e de não correrem qualquer espécie de perigo do exterior, a fatalidade aconteceu.
Um soldado, já depois da secção instalada, ao deslocar-se por detrás de um colega seu, foi tomado inexplicavelmente por um inimigo e atingido com um tiro à queima-roupa.
O estampido alarmou toda a gente e momentos depois soube-se da triste novidade.
Socorrido o mais rapidamente possível ainda no local do desastre pelo médico e enfermeiro da companhia, logo se verificou ser desesperado o seu estado. Conduzido depois ao posto de socorros do aquartelamento, entrou em coma, vindo a falecer poucos minutos depois.
O infeliz soldado, de nome Augusto Gonçalves, de Santiago do Cacém, veio assim a acabar de maneira estupidamente trágica os seus dias, morto por um próprio colega em que a noite e o medo fizeram disparar precipitadamente a sua G3.
Mas a vida não pára e a nossa missão iria continuar.
Embora com o luto na alma, não cruzaríamos os braços nem nos deixaríamos abater pela fatalidade.
Em breve o inimigo voltaria a sentir a força e a coragem indómita da tropa de Binta. E os resultados obtidos no nosso primeiro mês de operações falavam melhor do que ninguém do valor e da qualidade dos homens da 675”.

Depois desta viagem a um livro de memórias e a um diário (deste, voltaremos a falar) vamos regressar à “Resenha Histórico-Militar da Guiné” neste período de 1964, impõe-se procurar um pouco de luz para perceber como os altos comandos procuraram sustar a sublevação, organizar populações aterrorizadas, contrariar um inimigo ainda mal municiado mas já determinado, em 1964 o PAIGC está posicionado a pé firme na região Sul, a população pulverizou-se, quem ficou debaixo da bandeira portuguesa vive no perímetro dos destacamentos, quase todos eles na orla marítima, os outros, perto da fronteira ou no interior, irão sendo sistematicamente flagelados, instala-se o corredor de Guileje; ainda em 1963, forças do PAIGC atravessaram o Corubal, instalaram-se relativamente perto do Xime, cultivam bolanhas e não estão muito longe do Xitole; e consolidaram posições nas matas do Morés, vão estabelecendo corredores a partir do Senegal. Reconheça-se, entre outros méritos, que esta Resenha Histórico-Militar abre alguma luz sobre o delineamento estratégico de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz, em termos de investigação é insuficiente, é certo e seguro que há muito papel nos arquivos dos ministérios da Defesa Nacional e do Ultramar que precisam de ser pacientemente examinados e sistematizados para se perceber qual o alcance da linha estratégica que os dois primeiros Comandantes-Chefes imprimiram à máquina militar, desde que começou a luta armada até à chegada do Brigadeiro António de Spínola.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 8 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20324: Notas de leitura (1234): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (31) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20333: Notas de leitura (1235): “Astronomia”, por Mário Cláudio; Publicações D. Quixote, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20346: Parabéns a você (1709): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20342: Parabéns a você (1107): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 (Guiné, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enfermeira Paraquedista (1961/70)