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Nota do editor
Último post da série de 27 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26531: Parabéns a você (2354): Luís Cardoso Moreira, ex-Alf Mil Sapador Inf da CCS/BART 2917 e BENG 447 (Bambadinca, Nhabijões e Bissau, 1970/72)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 1 de março de 2025
Guiné 61/74 - P26540: Os nossos seres, saberes e lazeres (671): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (194): From Southeast to the North of England; and back to London (13) (Mário Beja Santos)
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Queridos amigos,
Vejo-me forçado a dar o dito por não dito, fizera uma visita apressada ao acervo fotográfico do que fora a visita à Galeria Courtauld, afinal ficara por mostrar um bom punhado de imagens de obras-primas da pintura europeia. A despedida de Londres fica para a semana, ainda restam algumas imagens do que vi na Galeria Courtauld e o mínimo que posso dizer é que esta galeria é um precioso tesouro. Há visitas gratuitas em Londres ao British Museum, à Tate Gallery, à National Gallery, à National Portrait Gallery, ao Museu Vitória e Alberto, santuários de visita obrigatória; a Courtauld pode custar entre 10 a 12 libras, importância aproximada para visitar o acervo da Royal Academy of Arts. Londres tem aquele tempero das amplas superfícies, da multiplicidade de lugares de oferta completa para qualquer ângulo do lazer, desde uma famosa feira da ladra em Portobello ao Museu Imperial da Guerra, a área dos teatros, a sumptuosidade do Tamisa, a zona residencial das docas, etc. etc. Estou pronto para regressar, haja proventos e saúde.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (194):
From Southeast to the North of England; and back to London – 13
Mário Beja Santos
O homem põe e a câmara fotográfica do smartphone dispõe. Isto de começar a extrair imagens do arquivo e dizer que estava feita a visita à Galeria Courtauld, era uma tirada fora da realidade. Como visitante bem-comportado, e ainda com carga energética, andei por todos os andares e procurei contemplar as obras mais significativas, de acordo com uma leitura prévia que fizera ao conteúdo da galeria. Penitencio-me, por um lado, de dar o dito por não dito, ainda vão sobrar algumas imagens antes de me pôr a andarilhar pelas margens do Tamisa até ao Parlamento, por outro considero que ofereço ao leitor a recordação de um lote de obras-primas que enformam a nossa civilização e cultura, são peças genuinamente representativas. Vamos à visita e deixamos para a semana a despedida de Londres.
Entrada da Courtauld Gallery no edifício da Somerset House
Autorretrato com a orelha cortada, Van Gogh, 1889.
O genial pintor fez este seu autorretrato em janeiro de 1889, uma semana após ter deixado o hospital, fora acometido por uma crise que o levou a cortar uma boa parte da sua orelha esquerda (aqui mostra-se o penso na orelha direita porque ele pintou-se a olhar ao espelho, tivera uma grande crise de desespero depois de uma discussão com o pintor Paul Gauguin. O que assoma frontalmente é a sua vontade de viver e o seu entusiasmo em voltar à pintura.Ponte de Courbevoie, por Georges Seurat, cerca de 1886-87.
Seurat tinha recentemente desenvolvido a técnica do pontilhismo que registou esta vista do rio Sena, ponto a ponto cria-se uma imagem com uma mistura de cores na paleta. Tinham surgido novas teorias óticas que sugeriam que esta técnica tornava a pintura mais vibrante. Ora o resultado é de uma melancolia e repouso, e ganhou ênfase com as árvores verticais e os mastros dos barcos. A indústria química lá ao fundo é um alerta de que Courbevoie se estava rapidamente a transformar num subúrbio industrial de Paris.Pintura de Cecily Brown (1969) intitulada Desorientada pela sua reflexão, 2021.
Cecily fez este trabalho num painel curvo no topo da histórica escadaria de Courtauld. Quando o edifício abriu ao público em 1780, o painel continha uma pintura a deusa Minerva e as musas da arte. O trabalho da artista abarca envolve o espetador numa visão sonhadora da pintura trabalhada entre a abstração e a figuração. Alusões a trabalhos artísticos que ela particularmente admira vêm à superfície. Por exemplo, a figura do banhista à direita da parte central faz uma alusão ao quadro Le Déjeneur sur l’herbe de Édouard Manetl. Há em toda a pintura uma flutuação entre o passado e o presente.A Trindade com Dona Maria Madalena e João Baptista, por Sandro Botticelli, à volta de 1491-94.
Esta peça de altar é uma das pinturas mais importantes de Botticelli no Reino Unido. A visão da Trindade domina a obra: Deus Pai sustenta a cruz com o sacrifício do seu filho enquanto a pomba do Espírito Santo paira entre eles.Cristo e a Adultera, por Pieter Bruegel o Velho, 1565.
Nos degraus do Templo de Jerusalém, Cristo para a execução da mulher condenada à morte por apedrejamento devido ao adultério. Então que Cristo escreve na areia que quem estiver sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe a pedra. É um trabalho invulgar de Bruegel que usou unicamente cinzentos sombreados, uma técnica conhecida por “grisaille”. De forma genial, Bruegel criou uma multidão, deixando os tons claros exclusivamente para o primeiro plano.Paisagem com a Fuga para o Egito, por Pieter Bruegel o Velho, 1563.
Trata-se de um recorrente tema presente na pintura medieval e renascentista, Maria, José e Jesus fogem para o Egito devido à perseguição de Herodes. A soberba e dramática paisagem nada tem a ver com a Flandres, talvez Bruegel tenha guardado a sua recordação da travessia dos Alpes, e o que há de muito admirável neste pequeno quadro é a profunda extensão da paisagem, deixando para o primeiro plano a cena da atribulação da viagem.Adão e Eva, por Lucas Cranach o Velho, 1526.
Cranach pintou o momento fatal da desobediência a Deus, Eva trinca a maçã da árvore da sabedoria, a única árvore proibida no Jardim do Éden. Adão, depois de hesitar, toma o fruto e o casal é banido em castigo. O pintor pretende dar-nos a imagem de animais em paz, uma serenidade que em breve se perderá. Cranach terá feito cerca de 50 versões deste assunto, este é um dos seus maiores quadros e porventura o mais belo.Retrato de Francisco de Saavedra, por Goya, 1798.
O que há de mais singular na execução desta obra é o contraste entre a falta de pormenores e a sumptuosidade e solenidade habituais dos retratos do tempo. Francisco de Saavedra está centrado numa figura sentada com um braço encostado a uma mesa. Saavedra era o ministro das Finanças da Corte de Espanha, a pintura foi encomendada por um amigo de Saavedra, o ministro da Justiça Gaspar de Jovellanos.(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 22 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26519: Os nossos seres, saberes e lazeres (670): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193): From Southeast to the North of England; and back to London (12) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P26539: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXII: Mansabá, novembro de 1970, por ocasião da missa de sufrágio por alma do alf mil art MA, Armando Couto, da CART 2372, vitima de mina IN
Foto nº 1 e 1A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > "Cerimónia fúnebre" (possivelmente a missa de sufrágio que o Padre Zé Neves rezou em Mansabá, no dia 11 de outubro de 1970, em memória do malogrado Alf Mil Art MA Armando Couto, da CART 2732, vítima de uma mina IN cinco dias antes, como nos informa o Carlos Vinhal). O edifício parece ser o do posto administrativo.
Foto nº 2 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Cerimónia fúnebre em homenagem ao Alf Mil Art MA Armando Couto: a presença dos Homens Grandes de Mansabá
Foto nº 3 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Em segundo plano, à esquerda, a casa do chefe de posto; a messe de oficiais ficava em frente ao posto, junto ao edifício do Comando e Secretaria" (segundo a informação do Carlos Vinhal)
Foto nº 4 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Putos
Foto nº 5 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Putos que estavam a guardar o gado: vendo a coluna passar...
Foto nº 6 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Entrada, vindo de Bafatá...Ao fundo o quartel, com destaque para o inevitável depósito de água, como nos restantes quartéis (excelente referência para a artilharia do IN)
Foto nº 6A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > O aquartelamento visto da entrada (de quem vinha de Bafatá, a sudeste)
Foto nº 7 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Um poilão centenário, gigante, que morreu de pé (1): vítima de um temporal, acabou por ser cortado mais tarde pela engenharia militar...
Foto nº 7A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Um poilão centenário, gigante, que morreu de pé (2)...
Foto nº 8 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Futura avenida
Foto nº 8A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Moranças
Foto nº 9 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Espaldáo do morteiro 81
Foto nº 9A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Pormenor do espaldão do morteiro 81 e, ao fundo, à esquerda, o "castelo"
Foto nº 10 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Chegada do mato: um bazuqueiro...
Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > 1970> Fotos do álbum do Padre José Torres Neves.
Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do Ernestino Caniço (zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da Guiné, do padre missionário José Torres Neves):
Data - 01/02/2025, 20:10
Assunto - Fotos do Álbum Padre Zé Neves
Caros amigos, boa noite;
Que a saúde esteja no alto, nosso bem mais precioso.
Anexo mais fotos de Mansabá, do álbum do Padre Neves.
Sobre Mansabá existem mais 20 fotografias que serão enviadas oportunamente.
Grande abraço,
Ernestino Caniço
Anexo mais fotos de Mansabá, do álbum do Padre Neves.
Sobre Mansabá existem mais 20 fotografias que serão enviadas oportunamente.
Grande abraço,
Ernestino Caniço
2. Nota do editor LG:
Continuação da publicação das fotos relativas a Mansabá, do álbum da Guiné do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).
Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, tendo sido um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971. Veio recentemente de África, vive agora em Lisboa com a boniuta idade de oitenta e muitos.
Por Mansabá passaram diversos camaradas nossos, que fazem parte da Tabanca Grande, o Carlos Vinhal e tantos outros: Francisco Baptista, José Carvalho, Vitor Junqueira, Ernesto Duarte, António Pimentel, António J. Pereira da Costa, Ernestino Caniço, Carlos Pinto, Jorge Picado, Manuel Joaquim, José Rodrigues, etc. (são apenas alguns dos nomes que nos vêm à cabeça)...
Sobre Mansabá temos cerca de 340 referências no nosso blogue. Em 11 de novembro de 1970, foi criado ou reativado o COP 6, com sede em Mansabá, abrangenmdo os subsetores de Mansabá e Olossato. O objetivo era assegurar a continuação e o bom andamento da construção da estrada Mansabá-Farim.
Sobre Mansabá temos cerca de 340 referências no nosso blogue. Em 11 de novembro de 1970, foi criado ou reativado o COP 6, com sede em Mansabá, abrangenmdo os subsetores de Mansabá e Olossato. O objetivo era assegurar a continuação e o bom andamento da construção da estrada Mansabá-Farim.
3. Comentários dos nossos camaradas que andaram por estas bandas :
(i) Césdar Dias:
Luis, o Padre Neves visitava todos os destacamentos do sector de Mansoa, os mais próximos era visita de médico, nos outros ficava alguns dias, como Mansabá fez parte do sector de Mansoa ele não deixaria de se preocupar com a guarnição, mas não fomos contemporaneos pois eu estive em Mansabá de novembro de 70 a fevereiro de 71, e não me recordo do Padre Neves ter lá ido nessa data.
Mas o Padre Neves provavelmente esteve em Mansabá antes do sector passar para o COP6.
Na foto n.º 9 (*) aparece ao fundo, na estrada de acesso a Mansabá, um gigantesco oiláo, muito velhinho, que um temporal derrubou. Foi preciso vir a Engenharia para o remover. Enquanto lá permaneceu causou imensos transtornos ao tráfego local, principalmente nas horas de ponta.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 às 15:49:00 WET
(ii) Carlos Vinhal:
Caro César Dias: O Pe. Neves rezou em Mansabá, que me lembre, uma Missa de sufrágio, no dia 11 de outubro de 1970, em memória do malogrado Alf Mil Art MA Armando Couto, da CART 2732, vítima de uma mina IN 5 dias antes.
Como bem referes, Mansabá passou a sede do COP6 em meados de Novembro, deixando a CART 2732 de estar adstrita ao BCAÇ 2885.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 às 17:22:00 WET
(iii) Carlos Vinhal:
(,,,) Na estrada Mansoa-Mansabá, só em 1973 morreram 18 camaradas, entre metropolitanos e guineenses. Em Janeiro de 1972 morreram 2 camaradas da minha CART 2732.
(ii) Carlos Vinhal:
Caro César Dias: O Pe. Neves rezou em Mansabá, que me lembre, uma Missa de sufrágio, no dia 11 de outubro de 1970, em memória do malogrado Alf Mil Art MA Armando Couto, da CART 2732, vítima de uma mina IN 5 dias antes.
Como bem referes, Mansabá passou a sede do COP6 em meados de Novembro, deixando a CART 2732 de estar adstrita ao BCAÇ 2885.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 às 17:22:00 WET
(iii) Carlos Vinhal:
(,,,) Na estrada Mansoa-Mansabá, só em 1973 morreram 18 camaradas, entre metropolitanos e guineenses. Em Janeiro de 1972 morreram 2 camaradas da minha CART 2732.
No meu tempo, entre Mansabá e Farim, rebentou em julho de 1971 uma mina no Bironque, aparecendo outra em dezembro, no mesmo local, detectada pelos meus camaradas da 2732 e levantada por mim.
Fazer colunas entre Mansoa e Farim nunca foi pacífico. (...)
Fazer colunas entre Mansoa e Farim nunca foi pacífico. (...)
(iv) Carlos Vinhal:
Nas fotos 12 e 12A parece-me reconhecer o abrigo da Mancarra. Posso estar enganado.
O Castelo era um ponto muito importante na defesa de Mansabá, estava integrado na povoação. Situado na estrada Mansoa-Farim, onde havia uma bifurcação para a alameda de acesso à Porta de Armas do quartel. Estava equipado com um Breda que cobria uma área muito abrangente. Confesso que não me lembro do nome dos nossos militares que lá viviam em permanência.
(v) Ernestino Caniço:
Não era infrequente a deslocação do Padre Neves aos aquartelamentos do setor de Mansoa, nomeadamente a Mansabá.
Pelo menos uma vez, quando eu estava em Mansoa, acompanhei-o a Mansabá tendo-nos deslocado em avioneta Dornier (já relatei esse episódio neste blogue). Terá deixado de ir a Mansabá quando esta passou a ser a sede do COP 6, como referem os amigos César Dias e Carlos Vinhal.
Como diz o Carlos Vinhal, fazer colunas entre Mansoa e Farim nunca foi pacífico. Eram frequentes as emboscadas entre Cutia e Mansabá na zona da serração (normalmente as colunas eram “protegidas” por uma Daimler do meu pelotão, até não ter peças para a sua manutenção). Por essa razão o pelotão acabou por ser desativado, apesar das minhas tentativas de aquisição das indispensáveis peças.
Durante o alcatroamento da estrada Bironque – Farim (K3) os ataques eram praticamente diários. A estrada Mansabá - Bironque já estava alcatroada.
A estrada Bissau Mansoa era apelidada a linha de Sintra (segundo um capitão meu amigo e ex colega de liceu, já falecido, quando fui comandar a coluna que o escoltou de Bissau a Mansoa, para integrar o BCAL 2885). (mais tarde penso que houve um ataque entre Mansoa e Nhacra).
sábado, 11 de janeiro de 2025 às 16:18:00 WET
(*) Último poste da série > 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26370: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXI: Mansabá, a "avenida", "o castelo"... (legendas precisam-se)
sábado, 11 de janeiro de 2025 às 16:18:00 WET
(Revisão/ fixação de texto, legendagem complementar, edição e numeraçáo das fotos: LG)
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26370: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXI: Mansabá, a "avenida", "o castelo"... (legendas precisam-se)
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26538: Notas de leitura (1776): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Quando escreveu em parceria com António Estácio sobre os chineses na Guiné (3) (Mário Beja Santos)
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Queridos amigos,
Não é, de todo, uma completa novidade a referência à presença de chineses na colónia da Guiné e hoje na Guiné-Bissau, fruto da descendência de quem aqui chegou no virar do século, com o estatuto de degredado, António Estácio já escrevera um trabalho sobre o assunto, e mais tarde a parceria com Philip Havik aclarou não só o histórico dos degredados em África, por ordem das potências coloniais, como se completou a radicação dos chineses na Guiné, tanto no Sul como no Norte, como se ficou a conhecer melhor a sua descendência. Indubitavelmente, esses chineses tiveram um papel fulcral a aprimorar as variedades de arroz, tal qualificação também veio a ajudar o aparecimento de muitos outros ponteiros, caso de Manuel Pinho Brandão, assim este Sul se transformou no celeiro da Guiné. Os autores não tiraram conclusões apressadas sobre a institucionalização destas comunidades chinesas em África, há estudos por fazer, mas as imagens do artigo que publicaram na revista Africana Studia mostram como é indesmentível o que eles fizeram em prol do movimento agrícola guineense.
Um abraço do
Mário
Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné:
Quando escreveu em parceria com António Estácio sobre os chineses na Guiné (3)
Mário Beja Santos
Procurando dar continuidade aos trabalhos do investigador Philip Havik relacionados com a Guiné Portuguesa, recordamos o artigo que ele escreveu em parceria com o nosso saudoso confrade António Estácio sobre a presença dos chineses na colónia. A chegada de populações não autóctones era devida ao envio de pessoal ligado à governação, comércio, trato marítimo, tropa. As potências coloniais socorriam-se de marginais e de contestatários, degredados de múltiplas razões, desde o homicídio ao furto.
Os autores recordam:
“Estima-se que entre 1607 e 1775 mais de 50 mil degredados tenham sido enviados, pelos tribunais estatais e da Igreja Católica (incluindo os tribunais do Santo Ofício) para possessões ultramarinas, servindo como mão-de-obra, como pessoal militar e administrativo.”
E, adiante:
“As sentenças variavam entre seis meses à perpetuidade. Ao longo dos tempos é de notar uma mudança nos países de origem dos degredados, por exemplo após a Guiné obter autonomia administrativa de Cabo Verde em 1879, os cabo-verdianos continuavam a constar nos registos, mas a Guiné passa a receber mais degredados de Angola e São Tomé, facto que se manteve até ao final do século XIX. Ao mesmo tempo, registava-se um crescente uso político do exílio forçado, à base de condenações por insubordinação, motim e revolta criam uma concentração de opositores à monarquia em Bissau e em Bolama. Muitos dos degredados, sobretudo aqueles condenados a sentenças superiores a cinco anos, acabam por sucumbir a doenças tropicais. Alguns dos chineses recém-chegados também pereceram pouco tempo após a sua chegada, contudo, por estarem acostumados a um clima tropical asiático, provavelmente, resistiram melhor às intempéries da Guiné.”
Os autores referem-se às mudanças operadas no fim do tráfico de escravos e no início da plantação de culturas de renda. “No caso da Guiné, esta transformação baseou-se na introdução de amendoim e a colheita de amêndoas de palmeira (chamada coconote na Guiné). Ao mesmo tempo, a cultura de arroz também sofreu alterações profundas, através da comercialização, na região da África Ocidental, de variedades originárias da Ásia, por comerciantes da Gâmbia. A região do Casamansa até à Serra Leoa era tradicionalmente conhecida como a Costa do Arroz. Nos meados do século XIX, a crescente procura por parte dos colonos, de embarcações de cereais para a sua subsistência e exportação, fez com que outras variedades, vindas da Ásia, fossem introduzidas”.
Recorda igualmente o debate sobre a presença de comunidades de origem chinesa e dos seus descendentes na atual África do Sul só agora começa a ser feito, esta descendência era descrita como “coolies”. Os chineses chegaram em número reduzido à Guiné Portuguesa, e marcaram a história e a sociedade, matéria deste estudo.
É no contexto do processo de ocupação efetiva, do século XIX para o século XX que se operou a chegada de ponteiros de origem cabo-verdiana que na região do Tombali adquiriram terrenos para o cultivo do amendoim. Os autores falam num colono belga que tinha uma feitoria no rio Cacine, Pierre Puvel, tinha obtido uma concessão de 400 hectares em 1899 para exportação de borracha, Puvel fundou quatro feitorias nas margens do rio Cacine. Também pela região andou o general Henrique Dias de Carvalho, em 1898/9, com o propósito de adquirir terrenos, em nome de terceiros, tratou-se de uma época em que se pensou entregar a Guiné a uma companhia majestática, operação falhada. O então governador da Guiné enviou para Lisboa algumas amostras de arroz cultivado pelos Balantas, valorizava-se a produção de arroz, e os autores citam diferentes opiniões favoráveis ao cultivo do arroz, o principal alimento da população.
Chegou um grupo de chineses em 1895. “Existem indícios nos arquivos que, pelo menos, dois chineses, de nome Chan-a-leng e Las-Asseng, que se dizem oriundos de Macau e eram à época residentes em Bolama, terem feito um pedido para a sua repatriação em 1909. Enquanto o primeiro tinha sido condenado a sete anos de degredo, o segundo foi sentenciado a oito anos de degredo pelo crime de roubo. Outra questão que suscita dúvidas fundadas é o facto de estes recém-chegados serem chamados ‘macaístas’ , quando se tratavam de chineses vindos da região de Cantão, que emigraram para a Guiné.”
O escritor Fausto Duarte, que também foi funcionário administrativo faz referência a esta presença chinesa, dando-os como hábeis navegadores e pescadores com grande conhecimento da zona costeira, e também cultivadores de arroz em terrenos lodosos na região dos Bijagós, criaram sinergias importantes com as populações da zona de Catió, localizada entre os rios Tombali e Cumbidjã e encostadas às ilhas de Como e Caiar. “O rio Cumbidjã – junto com os seus afluentes – sem dúvida, o melhor curso fluvial em todo o curso da Guiné para a criação de arrozais; as marés fazem-se sentir rio acima até os afluentes, o rio de Hebi, Sare e Balana, numa extensão de mais de 80 kms. O facto de hoje ter nas suas margens muitas povoações cuja população trabalha os extensos arrozais demonstra que aquela escolha foi acertada.”
Dado importante, sublinhado pelos autores, é a atração chinesa pela zona do Tombali, provavelmente no período de 1915-1920 fazendo parte do fluxo migratório interno, do Norte para o Sul, houve fixação a Norte do rio Geba, a partir de Canchungo. “Apesar dos chineses terem aberto o caminho, os Balantas acabaram por se tornar os donos das sementeiras de arroz, o que lhe permitiu, mais tarde, reivindicar os direitos de usufruto da terra. O povoamento correu de forma pacífica, pelo menos inicialmente, porque os migrantes Balantas fizeram contratos com os Nalus.”
O governador Vellez Caroço procurou limitar a expansão desenfreada de pequenos ponteiros, deu-se a instalação de ponteiros de maior dimensão, europeus e mestiços nesta região de Catió, cresceu o cultivo de arroz e a partir dos anos 1930 introduziram-se estímulos à produção de arroz para exportação. Os autores descrevem a evolução do quadro da produção, recordando que houve aceitação e integração de muitos membros da comunidade chinesa na Guiné. “Estes laços, que também incluíram casamentos à moda da terra, foram marcados por uma reciprocidade, no sentido de permitir a cada parceiro obter certos benefícios, por exemplo acesso a produtos da terra, cuidados de saúde ou acesso privilegiado às chefias locais obtidas através das esposas. Inversamente, os sócios ou parceiras nativas receberam artigos de origem estrangeira e conseguiram contactos, apoios e bens".
O estudo de Havik e Estácio não esquece as lutas da libertação, referindo que alguns membros da comunidade luso-chinesa se juntaram ao PAIGC, como houve também quem tivesse entrado em rutura com Amílcar Cabral, outros emigraram para a Guiné-Conacri. “Apesar do conflito e das mudanças políticas que se seguiram, ainda se encontram descendentes da de terceira, quarta e quinta geração na Guiné-Bissau, por exemplo na região de Catió, onde se instalaram os primeiros chineses, mas também em Portugal para onde emigraram, a partir dos anos 1960.” Falta investigação sobre as comunidades chinesas em África e sobretudo nas antigas colónias portuguesas, “investigação que poderia dar resposta a várias questões como determinar se podemos sequer falar de uma diáspora chinesa ou de várias e se existem identidades sino-africanas ou se variam segundo o seu país ou região de destino.”
O leitor mais interessado por este estudo poderá ter acesso ao artigo publicado no n.º 17 da Revista Africana Studia - Edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, através do link https://ojs.letras.up.pt/index.php/AfricanaStudia/article/view/7379/6763.
António Estácio
_____________Notas do editor:
Vd. post de 21 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26516: Notas de leitura (1774): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: A sua colaboração num livro de arromba, Orlando Ribeiro em 1947, na Guiné (2) (Mário Beja Santos)
Último post da série de 24 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26524: Notas de leitura (1775): Um outro olhar sobre a Marinha na guerra da Guiné em "Os Mais Jovens Combatentes, A Geração de Todas as Gerações, 1961-1974", por José Maria Monteiro; Chiado Books, 2019 (2) (Mário Beja Santos)
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Guiné 61/74 - P26537: Humor de caserna (105): Ir às meninas ao Pilão, todo pipi, de calça e camisinha branca, e pingalim debaixo do braço... Mas o terreno estava "minado"... (José Ferraz de Carvalho, Tabanca da Diáspora Lusófona)
1. O José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, ou apenas José Ferraz de Carvalho é um camarada da diáspora lusófona: ex-Fur Mil, Op E Esp, CART 1746, e QG/CTIG Xime e Bissau, 1968/70); radicado em Austin, Texas, EUA, desde meados de 1970; tem duas dezenas de referências no nosso blogue; faz parte da Tabanca Grande desde 19 de novembro de 2011; é autor da série "Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz", de que se publicaram 13 postes, de novembro a dezembro de 2011. Ainda há tempos nos contactou, espero que continue a seguir o nosso blogue.
É um homem com um especial sentido de humor como se comprova com esta "história pícara" de uma ida noturna ao Pilão, com um amigo do peito (e de farras). Ele chamou-lhe um "acidente" (*)... Eu acho que é um eufemismo... E mais: uma parábola sobre a nossa guerra... Na altura, escrevi o seguinte comentário:
(...) Quer se goste ou não, o Pilão fazia parte do "anedotário" e do "imaginário" do Zé Tuga...
Pergunto-me: como é que tu, 40 anos depois, te foste lembrar desse "acidente", associado à "friday night fever" (febre de sexta feira à noite) ?...
Sim, porque no Pilão, no nosso tempo, todos os dias da semana eram de "febre de sexta-feira à noite", de segunda a domingo, sobretudo para os "desenfiados" do mato como o teu amigo A.T....
Confesso, sem qualquer pinga de pudor, que ri sozinho que nem um perdido ao editar o teu poste... Tens um piadão a contar esta cena (caricata) e ao descreveres o infortunado mas pimpão do teu amigo como "o maestro do cagalhão"...
Podemos discutir por é que os seres humanos têm uma especial temdência para se rirem do ridículo, do grotesco, do burlesco, do pícaro, do caricato... A tua "pequena história", que nada tem de heróico, ajuda a compreender a necessidade que nós, os operacionais, a malta que vinha do mato, tínhamos de "humanizar" o nosso absurdo quotidiano e de mantermos algumas das rotinas que nos prendiam ao fio da vida...
Como diria um sisudo académico que eu conheço, isto dava uma tese de doutoramento... se a academia portuguesa tivesse um bocadinho do teu "sense of humor"...
Luis Graça sábado, 26 de novembro de 2011 às 21:01:00 WET
Luis Graça sábado, 26 de novembro de 2011 às 21:01:00 WET
Humor de caserna > Ir às meninas ao Pilão, todo pipi, de calça e camisinha branca e pingalim debaixo do braço... Mas o terreno estava "minado"...
por José Ferraz de Carvalho (Austin, Texas)
Um dos meus amigos fixes desse tempo era um furriel miliciano, destacado no Cacheu, que sempre que conseguia, desenfiava-se e aparecia em Bissau, quase sempre de madrugada.
Abreviadamente, era o A. T....Vinha bater a porta do meu quarto sempre com a burra e o mesmo grito:
− Zé, acorda vamos pró Pilão que as meninas estão à miii...nha espera!!!
Ora bem, quase sempre durante a minha estadia em Bissau, conseguia que o "nosso primeiro", responsável pela distribuição de alojamentos, se esquecesse de que no meu quarto havia duas camas. Portanto, quando os meus amigos vinham a Bissau, sabiam que tinham onde ficar...
Numa dessas visitas, o A.T. comprou um pingalim de pau santo, igual ao meu, que usava quando eu ia ao Pilão. Era uma excelente arma de defesa porquanto, se houvesse necessidade, partia-se com o joelho e tinhamos dois punhais improvisados...(truque aprendido em Lamego).
Como eu ia dizendo, numa dessa visitas, depois de se recompor e depois do jantar, era da ordem a visita ao Pilão, depois de o A.T. ter feito, durante o dia, o respectivo reconhecimento. Dizia ele então:
− Ó Zé, descobri estas meninas e temos que lá ir hoje à noite, pá.
Abreviadamente, era o A. T....Vinha bater a porta do meu quarto sempre com a burra e o mesmo grito:
− Zé, acorda vamos pró Pilão que as meninas estão à miii...nha espera!!!
Ora bem, quase sempre durante a minha estadia em Bissau, conseguia que o "nosso primeiro", responsável pela distribuição de alojamentos, se esquecesse de que no meu quarto havia duas camas. Portanto, quando os meus amigos vinham a Bissau, sabiam que tinham onde ficar...
Numa dessas visitas, o A.T. comprou um pingalim de pau santo, igual ao meu, que usava quando eu ia ao Pilão. Era uma excelente arma de defesa porquanto, se houvesse necessidade, partia-se com o joelho e tinhamos dois punhais improvisados...(truque aprendido em Lamego).
Como eu ia dizendo, numa dessa visitas, depois de se recompor e depois do jantar, era da ordem a visita ao Pilão, depois de o A.T. ter feito, durante o dia, o respectivo reconhecimento. Dizia ele então:
− Ó Zé, descobri estas meninas e temos que lá ir hoje à noite, pá.
A.T. estava convencido que era o Adónis de toda a Guiné, não só do Pilão. Nessa noite parece que o estou a ver vestido a rigor, todo pipi, de calças e camisinha branca, e de pingalim debaixo do braço.
Arrancámos pró Pilão e fomos para uma área que eu desconhecia, o que me preocupava e perguntava-lhe:
− Ó pá, tu sabes para onde vais ? Parece-me bem que não...
O A.T. respondia-me:
− Sei, sei, é por aqui...
E lá íamos cada vez mais embrenhados em território inimigo... Noite de lua nova, escuro como breu, a única coisa que eu via era o branco do A.T.... De repente o A.T. desaparece da minha vista (ia vários passos à minha frente) e, antes que eu pudesse falar, ouvi-o vociferar:
− Ah, foda-se!| Porra! C... ! Ó Zé, ajuda-me!...
− Porra, onde é que estás ?− pergunto eu...
O A.T. respondia-me:
− Sei, sei, é por aqui...
E lá íamos cada vez mais embrenhados em território inimigo... Noite de lua nova, escuro como breu, a única coisa que eu via era o branco do A.T.... De repente o A.T. desaparece da minha vista (ia vários passos à minha frente) e, antes que eu pudesse falar, ouvi-o vociferar:
− Ah, foda-se!| Porra! C... ! Ó Zé, ajuda-me!...
− Porra, onde é que estás ?− pergunto eu...
− Aqui, pá!
Acendi o isqueiro e com a pouca luz que dava vi que o A. T. tinha caído numa fossa de merda, atascando-se até ao peito e de pingalim na mão a gesticular... Parecia o maestro dos cagalhões!...
− Ó Zé, ajuda-me! Foda-se!...
Tirei o meu cinto, passei-lhe uma ponta e ajudei-o a vir para terra firme... Ah, meu Deus, e o cheiro..., poça!
E aí fomos os dois andando em busca de lugares conhecidos com o A.T., caminhando de pernas abertas, e deixando um rasto de merda... E os dois, às gargalhadas.
Lá chegámos ao pé do quartel da PSP onde entrei para chamar um táxi para o levar para o hospital militar onde recebeu um banho de antibióticos e mais não sei quantos medicamentos.
O resto deste acidente: o taxista que chegou quando viu o estado em que estava o A. T., disse logo:
− Não, senhor, não entra no carro, nunca mais tiro esse cheiro do assento!
Por sua vez, os cabrões da PSP não deixaram o A. T. usar os seus chuveiros. Lá consegui uma mangueira da PSP. O A.T. despiu-se e eu de mangueira na mão a dar-lhe um duche como se estivesse a lavar um cavalo...
Já mais limpo e tremer de frio, lá o meti no táxi e toca a ir pró hospital... Arrancámos, e agora imaginem a malta do hospital quando aí chegámos, de táxi, com um passageiro nu em pelota e a tremer de frio... Disse o médico que o viu:
− Teve muita sorte e lavar-se foi muito boa ideia...
O resto deste acidente: o taxista que chegou quando viu o estado em que estava o A. T., disse logo:
− Não, senhor, não entra no carro, nunca mais tiro esse cheiro do assento!
Por sua vez, os cabrões da PSP não deixaram o A. T. usar os seus chuveiros. Lá consegui uma mangueira da PSP. O A.T. despiu-se e eu de mangueira na mão a dar-lhe um duche como se estivesse a lavar um cavalo...
Já mais limpo e tremer de frio, lá o meti no táxi e toca a ir pró hospital... Arrancámos, e agora imaginem a malta do hospital quando aí chegámos, de táxi, com um passageiro nu em pelota e a tremer de frio... Disse o médico que o viu:
− Teve muita sorte e lavar-se foi muito boa ideia...
− OK, o que não sabe é que, sem essa lavagem, tínhamos que vir à pata para o hospital.
Graças a Deus o A.T. não só sobreviveu a este acidente como recuperou a sua saúde. Em 1974 quando levei a minha então esposa a Portugal para conhecer o resto da minha família e amigos, tive o prazer de o convidar para vir jantar connosco e estivemos noite fora à conversa:
− E lembras-te disto... e lembras-te daquilo ?...
Sinto enormes saudades desse amigo e camarada. (**)
(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, itálicos, título)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 26 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9101: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (7): Um acidente... no Pilão
(**) Último poste da série > 23 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26522: Humor de caserna (104 ): "Ontem fui ao Pilão, o que não quer dizer que fui às p..." (Bissau, 16 de dezembro de 1973, in: António Graça de Abreu, "Diário da Guiné", Lisboa, Guerra e Paz, 2007).
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Guiné 61/74 - P26536: A Nossa Poemateca (9): Cesário Verde (1855-1886): Excertos de "Nós", seguidos de "O sentimento de um ocidental"
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Cesário Verde, por Columbano (1887) |
Escreveu meia centena de poemas.... Mas que poemas!... "O sentimento de um Ocidental" é um das obras-primas da nossa poesia...
A sua genialidade só foi reconhecida "post-mortem", e logo por outros grandes poetas como o Fernando Pessoa.
Na primeira parte do poema "Nós", de que selecionei uns exertos, Cesário Verde evoca o surto de febre amarela que atingiu Lisboa em 1857 que terá contagiado entre 16 a 17 mil pessoas (perto de 10% do total da população lisboeta) e provocado mais de 5 mil mortes.E dois anos antes, tinha havido um o surto de cólera.
Se bem que o séc. XIX venha marcar o fim das grandes epidemias que, ao longo de séculos vitimaram as populações europeias, surgem novos problemas de saúde, com a industrialização e a urbanização da Europa.
Se bem que o séc. XIX venha marcar o fim das grandes epidemias que, ao longo de séculos vitimaram as populações europeias, surgem novos problemas de saúde, com a industrialização e a urbanização da Europa.
No nosso país, por exemplo, em menos de um quarto de século, e em duas ocasiões, a cólera irá fazer dezenas de milhares de vítimas mortias: cerca de 40 mil em 1833, em plena guerra civil, um terço dos quais na capital (as valas comuns deram depois origem aos cemitérios dos Prazeres e do Alto de São João); e aproximadamente 9 mil em 1855-56.
Embora as estatísticas de mortalidade, na época, possam variar de autor para autor, de fonte para fonte, a cólera tornou-se a doença epidémica, por excelência nas cidades em grande expansão, resultantes do do desenvolvimento do capitalismo industrial.
A cólera passara a ser conhecida dos portugueses com a chegada à Índia onde era endémica.
Já a febre amarela é originária da América Central. Há notícia de que terá chegado a Portugal continental no ínício da década de 1720: a primeira epidemia de febre amarela ter-se-á manifestado em Lisboa, no Outono de 1723. Ao fim de três meses terá feito mais de seis mil vírimas mortais, nas zonas de maior densidade populacional.
No caso do surto de febre amarela de 1857, as áreas mais afectadas em Lisboa foram inevitavelmente as dos bairros populares (como Alfama, Mouraria, Madragoa, Bairro Alto), onde se concentravam as chamadas classes laboriosas, misturadas com o lumpen-proletariado, e onde continuavam a ser péssimas as condições de higiene e salubridade (sobrehabitação, falta de saneamento básico, de água potável, de recolha do lixo, etc.), agravadas pela subnutrição e sistema imunitário enfraquecido.
Registam-se igualmente importantes surtos de febre tifóide e de tifo, embora estas doenças tendam a regredir a partir de 1865. Mas, mesmo ainda em 1923, Ricardo Jorge considerava Lisboa, no seu estilo tão castiço e peculiar quanto hiperbólico, como "uma das cidades mais infectamente tíficas" (sic) da Europa...
Cesário Verde era bebé aquando da epidemia de febre amarela de 1857. Mas este acontecimento ficou na memória da família Verde, que era de origem italiana. O seu pai, abastado agricultor e comerciante de ferragens na baixa lisboeta, fez aquilo que os ricos faziam na época: retirar a família para o campo. Neste caso, para a sua quinta em Linda-A-Pastora, hoje união das freguesias Carnaxide Queijas, concelho de Oeiras. Aí Cesário Verde enamora-se pelas delícias do campo e dá-nos conta da modernização da agricultura da época.
_______________
NÓS
I
Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.
Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!
Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.
Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.
Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na "city", que desterros!
Sem canalização, em muitos burgos ermos
Secavam dejeções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!
Uma iluminação a azeite de purgueira,
De noite amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons d'inferno outros arruamentos.
Porém, lá fora, à solta, exageradamente,
Enquanto acontecia essa calamidade,
Toda a vegetação, pletórica, potente,
Ganhava imenso com a enorme mortandade!
Num ímpeto de selva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se! E depois houve soberbos partos.
Por isso, o chefe antigo e bom da nossa casa,
Triste d' ouvir falar em órfãos e em viúvas,
E em permanência olhando o horizonte em brasa,
Não quis voltar senão depois das grandes chuvas.
Ele, dum lado, via os filhos achacados,
Um lívido flagelo e uma moléstia horrenda!
E via, do outro lado, eiras, lezírias, prados,
E um salutar refúgio e um lucro na vivenda!
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para lá; somos provincianos,
Desde o calor de maio aos frios de novembro! (...)
Excertos, NÓS - I, in "O Livro de Cesário Verde: 1873-1886, posfácio e fixação de texto, António Barahona. Edição definitiva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, pp. 98-100. (Com a devida vénia...)
I
Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.
Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!
Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.
Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.
Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na "city", que desterros!
Sem canalização, em muitos burgos ermos
Secavam dejeções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!
Uma iluminação a azeite de purgueira,
De noite amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons d'inferno outros arruamentos.
Porém, lá fora, à solta, exageradamente,
Enquanto acontecia essa calamidade,
Toda a vegetação, pletórica, potente,
Ganhava imenso com a enorme mortandade!
Num ímpeto de selva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se! E depois houve soberbos partos.
Por isso, o chefe antigo e bom da nossa casa,
Triste d' ouvir falar em órfãos e em viúvas,
E em permanência olhando o horizonte em brasa,
Não quis voltar senão depois das grandes chuvas.
Ele, dum lado, via os filhos achacados,
Um lívido flagelo e uma moléstia horrenda!
E via, do outro lado, eiras, lezírias, prados,
E um salutar refúgio e um lucro na vivenda!
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para lá; somos provincianos,
Desde o calor de maio aos frios de novembro! (...)
Excertos, NÓS - I, in "O Livro de Cesário Verde: 1873-1886, posfácio e fixação de texto, António Barahona. Edição definitiva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, pp. 98-100. (Com a devida vénia...)
2, E depois do "Nós", leia-se "O Sentimento de um Ocidental": longo poema, de 44 estrofes, dividido rigorosamente em 4 partes de 11 estrofes cada uma; cada estrofe, por sua vez, é composta por quadras (4 versos).
As rimas são, em geral, interpoladas e emparelhadas (segundo o esquema ABBA), com 12 sílabas métricas (alexandrino) e um verso de 10 sílabas (decassílabo) no primeiro verso de cada estrofe.
As 4 partes do poema correspondem a menos de metade do dia (que vai do entardecer à noite cerrada):
- Parte I: Avé-Marias;
- Parte II: Noite fechada;
- Parte III: Ao Gás;
- Parte IV: Horas mortas.
Com Cesário Verde, a poesia abre-se a (e celebra-se com) os cinco sentidos... Fica aqui uma amostra (para ler ou reler) (a primeira quadra de cada parte; e a IV parte - Horas mortas - completa).
O sentimento de um ocidental
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. (...)
II Noite Fechada
II Noite Fechada
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de dom! (...)
III Ao gás
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arripia os ombros quase nus. (...)
IV Horas mortas
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhoes! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
(Bold, a vermelho, nosso: LG)
3. A versão completa do poema pode ser encontrada na Net, a conmeçar por aqui, mas por favor comprem o livro em papel, "O Livro de Cesário Verde: 1873-1886", edição da Assírio & Alvim, Lisboa, 2004 (a grande casa editorial da poesia).
E leiam-no de vez em quando em voz alta e... a qualquer hora!.... E repitam, de preferência ao entardecer, no miradouro da Senhora do Monte, na Graça, em Lisboa, mesmo a abarrotar de tuque-tuques e de turistas:
"Se eu não morresse, nunca! E eternamente / Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! ")...
____________
Último poste da série > 10 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26482: A Nossa Poemateca (8): José Gomes Ferreira (Porto, 1900 - Lisboa, 1985), por Mário Gaspar
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26535: As nossas geografias emocionais (48): Bissau, Cupelon / Pilão: histórias pícaras - Parte II (Raul Castanha, ex-alf mil cav, CPM 3335, 1971/73; Albano Costa, Ernesto Duarte e outros)
1. O Pilão, em Bissau, nos anos 60/70, tal como o Bairro Alto e o oCais do Sodré, em Lisboa, até aos anos 5'0/60, presta-se a comentários e histórias pícaras.
Mas quem provavelmente conheceu melhor o Pilão (ou Cupelon, ou Cupelum, hoje) foram os nossos camaradas da Polícia Militar. Como é o caso do Raul Castanha, ex-alf mil cav, CPM 3335(Bissau, jan 1971/jan 1973), nosso grão-tabanqueiro n´813 (*).
Já o desafiámos, pode ser que ele abra o livro. Dele e doutros camaradas fica uma seleção de comentários à postagem do Facebook da Tabanca Grande, 23/2/2025, 18:22)
Nunca houve cabeças cortadas no Pilão, e a própia prostituição fazia parte da economia de guerra...Como em todos os teatros de guerra... Infelizmemnte não há estudos sobre esta realidade dita marginal... e eu até agora ainda estou â espera de descobrir a letra (já não digo a música) do Fado do Pilão, à semelhança do Fado do Bairro Alto. (...) (Postagem do Facebook da Tabanca Grande, 23/2/2025, 18:22)
(i) Raul Castanha
Muito bem. Não tenho nenhuma dúvida do que era o Pilão nos anos de 71 a 73. Um enorme e desorganizado bairro onde viviam centenas de pessoas sem qualquer tipo de condições.
Aliás, algumas rusgas efectuadas no local provaram que elementos desse movimento circulavam livremente por lá recolhendo informações e visitando familiares.
O célebre bar do Djacir, que era cozinheiro na messe da PM na Amura, era das mais influentes fontes de informação local.
(ii) Albano Costa
Eu fui ao Pilão quando cheguei à Guiné "todo branquinho e tenro piriquito" com um "velhinho" da nossa tropa. Depois fui para o mato e só voltei a Bissau já no fim.
Boa noite.Saudações Paulistas
(xi) Tabanca Grande Luís Graça
Camaradas: vamos lá por tirar dúvidas.... Cupilon, Cupilom, Cupelon, Cupelum ou Pilão ?
(...) Dizer que o Pilão era um gigantesco bordel é um insulto para os seus habitantes da época... E para as NT. E que se cortavam cabeças de "tugas", era outra enormidade... Que havia alguma animação noturna por aqueles lados, havia, e às vezes alguns distúrbios: não vale a pena negar, escamotear, branquear a realidade de uma prostituição, tolerada, a começar pelas autoridades militares e civis...e pelo próprio PAIGC (viviam lá simpatizantes e militantes, dizia-se)...
Nunca houve cabeças cortadas no Pilão, e a própia prostituição fazia parte da economia de guerra...Como em todos os teatros de guerra... Infelizmemnte não há estudos sobre esta realidade dita marginal... e eu até agora ainda estou â espera de descobrir a letra (já não digo a música) do Fado do Pilão, à semelhança do Fado do Bairro Alto. (...) (Postagem do Facebook da Tabanca Grande, 23/2/2025, 18:22)
(i) Raul Castanha
Muito bem. Não tenho nenhuma dúvida do que era o Pilão nos anos de 71 a 73. Um enorme e desorganizado bairro onde viviam centenas de pessoas sem qualquer tipo de condições.
A grande curiosidade era a a diversidade das suas gentes, Ao lado da morança de um religioso, podia existir uma venda de todo o tipo de bujigangas. As moranças onde em especial cabo-verdianas se dedicavam á prostituição também tinham as suas áreas particulares.
Eram, de facto, para além de uma necessidade para a tropa uma fonte de rendimento e também uma central de informações muito valiosas para o PAIGC e acredito que em alguns casos também para as NT.
Aliás, algumas rusgas efectuadas no local provaram que elementos desse movimento circulavam livremente por lá recolhendo informações e visitando familiares.
O célebre bar do Djacir, que era cozinheiro na messe da PM na Amura, era das mais influentes fontes de informação local.
(ii) Albano Costa
Eu fui ao Pilão quando cheguei à Guiné "todo branquinho e tenro piriquito" com um "velhinho" da nossa tropa. Depois fui para o mato e só voltei a Bissau já no fim.
Ainda em Guidage um amigo africano natural do Pilão me disse: "Costa se fores ao Pilão e tiveres problemas, diz que estiveste em Guidage e és meu amigo".
E veio a dar jeito eu dizer que era amigo do Papo Seco.
(iii) Ernesto Pacheco Duarte Duarte
Eu gosto assim ! O pilão era um pedacito diferente de aquele Bissau !
Com muita gente boa ! Talvez também gente má !
(iii) Ernesto Pacheco Duarte Duarte
Eu gosto assim ! O pilão era um pedacito diferente de aquele Bissau !
Com muita gente boa ! Talvez também gente má !
As cervejas eram grandes ! Encontrei lá pessoas que não encontrei noutros lugares !
Para mim o pior era o tamanho das cervejas e a água de Lisboa !
Para mim o pior era o tamanho das cervejas e a água de Lisboa !
Se calhar muita gente que lá não foi, fala ! Há muita gente que nunca foi ao mato e fala !
(iv) Fernando Pinto
22 meses em BISSAU , Pilão sempre controlado por chulos cabo-verdiano e tropas especiais!
(v) Jorge Pedro
Passei no Pilão várias vezes. A primeira vez no dia que cheguei à Guiné e possivelmente por ser um puro periquito, fui lá na “maior”. A verdade é que não conhecia a realidade do bairro.
(iv) Fernando Pinto
22 meses em BISSAU , Pilão sempre controlado por chulos cabo-verdiano e tropas especiais!
(v) Jorge Pedro
Passei no Pilão várias vezes. A primeira vez no dia que cheguei à Guiné e possivelmente por ser um puro periquito, fui lá na “maior”. A verdade é que não conhecia a realidade do bairro.
Depois em maio do ano seguinte em 1973, voltei lá e como todos os que lá iam, íamos à procura de “alguma coisa”. Nunca encontrei o que procurava porque também não me esforcei e precisava dos “pesos” para matar a barriga de misérias. A “coisa” que todos procuravam ficava para segundo plano.
Depois em agosto de 1974, voltei lá e aí, já com outra consciência e conhecimento da cultura guineense, apercebi-me e verifiquei “in loco” as verdadeiras condições daquele povo que ali habitava.
Guardo uma enorme simpatia e alguma gratidão, pois entrei vivo, sai vivo e não vi sinais de sevícias corporais levada a efeito pelo genuíno e simples habitantes do Pilão.
É um lugar iconico do nosso imaginário. Quem esteve na Guiné sabe que haviam dois lugares que tínhamos de conhecer: o Pilão e o café Bento. Fiquem bem com as nossas memórias.
(vi) António Soares
Andei muitas vezes à noite e sozinho no Pilão, nessa altura não tinha medo, hoje tenho receio de certo bairros seja dia ou noites, Zambujal e afins
(vii) Tabanca Grande Luís Graça
Obrigado, Raul, sabes do que falas, foste oficial da PM, emn Bissau, em 1971/73... Mas gostava de ler mais depoimentos.
(viii) Henrique Teles Claudino
Estava em Bissau, p'raí em 1970, numa gelataria na avenida, quando começaram a explodir granadas no pilão. E viam-se as chamas das moranças incendiadas . Foi um incidente com os fuzileiros e os naturais.
(ix) Juvenal Sacadura Amado
O Pilão conheci superficialmente quando participei num piquete. As coisas estavam assanhas e vi pouco e não via jeito de sair dali para fora... Novembro de 72?
(x) Nicolau Esteves
Também fui lá umas duas vezes não tenho certeza se 65 ou 66.
(vi) António Soares
Andei muitas vezes à noite e sozinho no Pilão, nessa altura não tinha medo, hoje tenho receio de certo bairros seja dia ou noites, Zambujal e afins
(vii) Tabanca Grande Luís Graça
Obrigado, Raul, sabes do que falas, foste oficial da PM, emn Bissau, em 1971/73... Mas gostava de ler mais depoimentos.
(viii) Henrique Teles Claudino
Estava em Bissau, p'raí em 1970, numa gelataria na avenida, quando começaram a explodir granadas no pilão. E viam-se as chamas das moranças incendiadas . Foi um incidente com os fuzileiros e os naturais.
(ix) Juvenal Sacadura Amado
O Pilão conheci superficialmente quando participei num piquete. As coisas estavam assanhas e vi pouco e não via jeito de sair dali para fora... Novembro de 72?
(x) Nicolau Esteves
Também fui lá umas duas vezes não tenho certeza se 65 ou 66.
Não posso reclamar fui muito bem atendido. A moça era muito legal e a situação estava apertada por isso foi muito bom.
Boa noite.Saudações Paulistas
(xi) Tabanca Grande Luís Graça
Camaradas: vamos lá por tirar dúvidas.... Cupilon, Cupilom, Cupelon, Cupelum ou Pilão ?
No meu tempo (1969/71), a malta dizia Pilão... Na planta da cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, de 1981 (portanto, já pós-independência) , vem Cupelon (de Cima e de Baixo),na parte setentrional, ladeada à direita pela nossa conhecida Estrada de Santa Luzia...
Cupelon era, então, o terno correto, em crioulo... Cupilão é um aportuguesamento... Pilão é uma corruptela... Mas era o termo mais frequente usado pelas NT... Mais recentemente vo o topónimo Cupulum ... Há o Cupelum Futebol Clube que disputa a 1ª divisão (e que foi fundado em 2002, é o clube do bairro)...
Em suma, só os "tugas" usavam o termo "Pilão" (não confundir com o aluno do Instituto dos Pupilos do Exército)... De qualquer modo, os nossos lexicógrafos estão-se cag*ndo (é o termo) para o "linguajar" dos antigos combatentes...
(xii) António Soares
Hoje ė mais perigoso andar de noite em Lisboa do que as noites no Pilão com as bajudas e tudo apenas a claridade da noite... Gente boa , sincera e podíamos voltar as costas sem medo , hoje nem armado de G3 eu me aventuro com esta gentalha, feia, porca e falsa,
(xiii) Abilio Duarte
Eu e uns camaradas da minha CART 11, fomos uma vez ao Pilão, desafiados por um velho combatente, que conhecia lá um bailarico. Quando entrámos lá , ainda era dia. Pois, quando foi para sair, já bastante tarde, e o destino era a estrada que ia para o Aeroporto, foi um caso muito sério. Escuridão total, e sem luzes publicas, estavávos em 1969, quando fomos a Bissau, jurar bandeira com os Fulas.
(xiv) Libério Lopes
Dos 24 meses de Guiné o último foi passado em Bissau, abril de 1965. Tocou-me passar uma noite de ronda no Pilão.
(xii) António Soares
Hoje ė mais perigoso andar de noite em Lisboa do que as noites no Pilão com as bajudas e tudo apenas a claridade da noite... Gente boa , sincera e podíamos voltar as costas sem medo , hoje nem armado de G3 eu me aventuro com esta gentalha, feia, porca e falsa,
(xiii) Abilio Duarte
Eu e uns camaradas da minha CART 11, fomos uma vez ao Pilão, desafiados por um velho combatente, que conhecia lá um bailarico. Quando entrámos lá , ainda era dia. Pois, quando foi para sair, já bastante tarde, e o destino era a estrada que ia para o Aeroporto, foi um caso muito sério. Escuridão total, e sem luzes publicas, estavávos em 1969, quando fomos a Bissau, jurar bandeira com os Fulas.
(xiv) Libério Lopes
Dos 24 meses de Guiné o último foi passado em Bissau, abril de 1965. Tocou-me passar uma noite de ronda no Pilão.
Nunca vivi um silêncio tão pesado como o daquela noite. Demos várias voltas pelo bairro e nem uma pessoa vimos. Algumas luzes dentro das casas desapareciam com o aproximar das viaturas.
Sabia da fama do bairro e íamos preparados para tudo mas, felizmente, nada aconteceu
(xv) Fernando Pereira
Por vezes, as confusões que por lá ocorriam eram provocadas pelos nossos militares.
(xvi) Tabanca Grande Luís Graça
Raul, mais histórias do Pilão serão bem vindas.
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(xv) Fernando Pereira
Por vezes, as confusões que por lá ocorriam eram provocadas pelos nossos militares.
(xvi) Tabanca Grande Luís Graça
Raul, mais histórias do Pilão serão bem vindas.
(Seleção, fixação / revisão de texto, negritos: LG)
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Notas do editor LG:
(*) Vd, poste de13 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21166: Tabanca Grande (499): Raul Castanha, ex-alf mil PM, CPM 3335 (Bissau, jan 1971 / jan 1973): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 813
(**)Último poste da série > 26 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26529: As nossas geografias emocionais (47): Bissau, Cupelon / Pilão: histórias pícaras - ParteI I (Rogério Cardoso, ex-fur mil mec auto, CCAÇ 643, Bissorã, 1964/66).
(**)Último poste da série > 26 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26529: As nossas geografias emocionais (47): Bissau, Cupelon / Pilão: histórias pícaras - ParteI I (Rogério Cardoso, ex-fur mil mec auto, CCAÇ 643, Bissorã, 1964/66).
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