sábado, 13 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25380: Os nossos seres, saberes e lazeres (623): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (149): No Museu Militar de Lisboa, o mais antigo da cidade (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
É de facto o mais antigo museu de Lisboa, e num local cheio de história, por aqui houve arsenais, fundições, estaleiros, até se chegar ao Arsenal Real do Exército, e depois foi a fase de aformosear o interior do edifício, há para ali salas deslumbrantes, combinam a azulejaria e artilharia, a pintura e a escultura. Não deixa de intrigar como houve dinheiro a rodos para tornar todas aquelas salas deslumbrantes e dinheiro para pagar a Sousa Lopes, Columbano, Rafael e Gustavo Bordalo Pinheiro, Malhoa, Carlos Reis, Veloso Salgado, a coleção de peças de artilharia não podem deixar ninguém indiferente, tal como os 26 painéis de azulejos nos esplendoroso Pátio dos Canhões. E ao consultar a publicação Roteiro dos Museus Militares descobri que há um núcleo museológico destinado às Ex-Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, estou absolutamente seguro que lá irei encontrar a indumentária que usámos entre a cidade e a floresta equatorial.

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (77): No Museu Militar de Lisboa, o mais antigo da cidade - 1

Mário Beja Santos

Vezes que não sei contar que entrei por esta majestosa fachada do Museu Militar de Lisboa, encimada pela escultura de Teixeira Lopes, À Pátria, entrei pelo Pátio dos Canhões, virei à direita, para frequentar o Arquivo Histórico-Militar, estávamos no ano de 2011 e eu ultimava o livro "A Viagem do Tangomau", eram pesquisas sobre unidades militares que tinham passado pelo Leste, antes de 1968, e depois. E não havia um assomo de curiosidade para dar uma volta ao edifício e entrar no museu. E um dia adquiri uma publicação intitulada Roteiro dos Museus Militares, edição By The Book, 2019, ardido pela curiosidade de ter uma cartografia dos ditos museus militares, que os há em Bragança, Porto, Elvas, Alverca e Ovar, Lisboa, Buçaco, não faltam os da Madeira e dos Açores e até a fragata de D. Fernando II e Glória. Creio que estes são os museus que estão na órbita do Ministério da Defesa Nacional, temos também os centros interpretativos, como os do Vimeiro e de Aljubarrota, mas não fazem parte deste roteiro. Fiquei a salivar sabendo que há um núcleo museológico das Ex-Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, sito no Campo de Santa Clara, espero oportunidade para lhe bater à porta.

Este local do Museu Militar de Lisboa tem mesmo história, aqui assentou o antigo Real Arsenal do Exército, local onde D. Manuel I, cerca de 1488, mandara construir as tercenas (arsenais ou estaleiros), das Portas da Cruz, indo por aí fora, e depois de fábrica de pólvora, oficinas de fundição, em 1760 concluiu-se por ordem do Marquês de Pombal aqui o Real Arsenal do Exército. Os interiores foram enriquecidos com talha dourada, pinturas e murais e estatuária de artistas portugueses. No reinado de D. Maria II, o edifício passou a dominar-se Museu de Artilharia, em 1926 mudou de nome para Museu Militar e em 2006 para Museu Militar de Lisboa.
Neste Pátio dos Canhões há aqui um vislumbre de grandeza, como se pode ler no desdobrável oferecido ao visitante, “A coleção de peças de artilharia em bronze é considerada uma das mais completas a nível mundial, e cujas peças são preciosos documentos históricos, tanto pelas suas inscrições e símbolos heráldicos, como pelas suas ornamentações bem ao estilo das épocas das respetivas fundições. A azulejaria é constituída por 26 painéis de azulejos, dos séculos XVIII, XIX e princípios do séc. XX, que representam os factos mais notáveis da história nacional, no período compreendido em 1139 e 1918.”

A fachada principal, obra de Teixeira Lopes
Pátio dos Canhões, ao fundo era o Arquivo Histórico-Militar e lá em cima vê-se o ponto alto do zimbório do Panteão Nacional, perto do largo de Santa Clara
Pátio dos Canhões, uma mostra do potencial em bronze e uma bela azulejaria de relance
É o mais antigo museu da cidade de Lisboa, o seu valioso património museológico impressiona. O que nos é dado a observar resulta fundamentalmente dos trabalhos desenvolvidos em finais do séc. XIX e inícios do séc. XX em que o então diretor, general José Eduardo Castelbranco, fez decorar novas salas com trabalhos dos nossos melhores artistas da época. E daí este museu arrogar-se a uma vasta compilação de quadros dos nomes mais sonantes da pintura portuguesa do séc. XIX e inícios do séc. XX, caso de Sousa Lopes, Columbano, Malhoa, Carlos Reis ou Veloso Salgado. E há também as peças de escultura executadas por Delfim Maya, Rafael Bordalo Pinheiro e José Núncio.
Na parte mais antiga do museu há equipamentos como esta balança ou carro usado para o transporte das colunas do Arco da Rua Augusta, de dimensão gigantesca, como se pode ver
Berlinda do séc. XVIII, reinado de D. José, restaurada pela Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra
Há muito para ver neste Museu Militar: uniformes, barretinas, capacetes, a evolução das armas, inúmeros objetos que aludem à participação de Portugal em conflitos bélicos. Da coleção de artilharia de bronze já falámos, há depois a profusão decorativa dos tetos, como aqui se exemplifica.
A exuberância azulejar, a riqueza do mármore e a ornamentação de uma peça de artilharia, estamos a passar do rés-do-chão para o primeiro andar.
Outro detalhe, cada sala tem a sua singularidade pictórica, os frescos estão muito bem restaurados.
“Rendição nas Trincheiras”. Soldados portugueses na frente de batalha em França, quadro da autoria de Sousa Lopes
Carvalho Araújo em combate com o submarino alemão, um dos mais significativos episódios de heroísmo da nossa participação na Primeira Guerra Mundial

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 6 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25345: Os nossos seres, saberes e lazeres (622): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (148): No Museu Agrícola da Atalaia, uma obra de respeito (Mário Beja Santos)

2 comentários:

Morais Silva disse...

Em breve o acervo do Museu Militar de Lisboa será enriquecido com uma sala dedicada à guerra do Ultramar 1961-1974. Acontecimento tardio que mostra quão pouco o esforço e doação ao País de milhares de ex-comabatentes, mereceu a atenção e desvelo das sucessivas tutelas. Tradição muito antiga retratada pelo padre António Vieira...
"Se servistes à pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma"

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Boa notícia. Mais vale tarde que nunca.

Um esforço derradeiro deve ser feito, por todos nós, a começar, pelas Forças Armadas (também guardiães da nossa memória como povo), de recolha, de entre os antigos combatentes e seus familiares, de tudo o que (objetos, fotos, aerogramas, cartas, e outros documentos) possa estar direta ou indiretamente relacionado com a guerra de África / guerra do ultramar / guerra colonial... e que corre o sério risco de ir parar ao caixote do lixo â medida em que a nossa geração vai desaparecendo...

Veja-se o fraco espólio que temos dos nossos expedicionários, os nossos pais, que estiveram, na II Guerra Mundial (a patrtir de 1941), nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde) em missão de soberania...