1. Em mensagem do dia 7 de Janeiro de 2013, o nosso camarada J.L. Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil e Catió, 1964/66), enviou-nos este poema para publicação:APAT(R)IA
Ardem-me os olhos
E amarga-me a boca.
O coração me sangra
Dentro do peito.
Acordo atónito,
No terror deste Portugal de Abril,
Atraiçoado e traído.
Está tudo apático!...
Paralíptico, asséptico, seco e amorfo.
Andam à solta ladrões nos quintais
Ao pé das galinhas!
Não há caçadeiras!
Nem ladram os cães!...
Só para a caça!...
Ó que desgraça!
O abade ressona!
O regedor esgravata!
Os presidentes, sem guelra,
Andam nas feiras…
Enfiando barretes…
Exibem gravatas
E comem pipocas!
Mas que sujeira de gente de trampa...
Medra nestas paradas desertas,
Sem tropas…
Só mangas de alpaca
E sebo nas botas!...
Apanhem, ao menos,
Os fueiros das vacas !
E escavaquem-lhes os ossos das costas,
Se é qu’inda há costas erguidas de gente,
Com vergonha na cara!...
Choro de dor, vergonha e de raiva,
Neste País de tanta honra e glória
Na história!?...
Ouvindo Hélène Grimaud tocando Chopin
Zehlendorf, 7h41m do dia 7 de Janeiro de 2013
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
2. Comentário dos editores:
Joaquim: Fizemos uma brincadeira com o título do teu poema: APATIA... Achamos que ficava bem o R, entre parênteses: APAT(R)IA... Vista de Berlim, a pátria está a sofrer de apatia... Todos o sentimos, mesmo às portas da capital... Espero que os nossos leitores o entendem como um grito de revolta, patriótico, apesar de irónico, de um antigo combatente, um grande palmeirim, que deu o melhor de si nas bolanhas e savanas da Guiné... (LG)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10909: Blogpoesia (315): Em louvor da CART 566 (Bissau, Bissorã, Olossato e Bissorã, jul 64/ out 65) (Viçoso Caetano)
16 comentários:
Bitte, bitte, Mein Herr!
Ap(r)a tia. Que poema(?)...
Valha-nos a serenidade inteligente e triste de Frederico Chopin.
Abraço,
António Graça de Abreu
Ó Abreu! És capaz de esclarescer de que lado estás? Da serenidade de Chopin?...Da apatia da pátria ou do poema?...para a gente entender...
JGomes
Parabéns por este poema escaldante em tempo de Inverno.
Que este ajude a aquecer a temperatura e leve ao rubro os corações deste povo para, de forma serena e enquanto possível, resolver a situação deste País.
BS
Camarada Mendes gostei do Poema é lindo tambem gostei do seu comentario é pena que defacto nao sejamos mais reconhecidos pelo aquilo que fizemos eu tambem estive na Guiné em 69/70 Bula e Bissorã mas maisor dor do que o meu reconhecimento é ver foto por onde passei estar tudo destruido tenho imenssa saudades mas da Guiné que conheci para o amigo Mendes e todos que estiveram a defender o território da Guiné um forte abraço Alfredo Miranda
Gostei de ler e soletrei para entender bem.
Mas o fueiro, (ou estadulho) levou-me ao país que já não existe.
Ao país rural dos portugueses que não estudaram até aos 30 anos de idade.
Aquilo é que era uma crise!
Aos 11 anos já eram(os) "agrónomos" e "veterinários", podavam, agricultavam e pastoreavam.
Ma como se diz: Tudo se cria!
JLGomes sabe que à fueirada não se resolve, mas ajudava.
Cumprimentos
"Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer."
Fernando Pessoa - Livro do Desassossego
Todos, Coelhos, Cavacos, Sócrates,Durões, Lopes, Mários Soares, Caetanos, Salazares.
Alguns ainda piores do que outros.
Que fazer?
De que lado estou estou?
Vai a seguir.
Abraço,
António Graça de Abreu
"Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida".
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, (outra vez!)
De que lado estou, após oito anos fora da terra onde nasci, oito anos de vida na Ásia, em África, na América?
Estou do lado da minha Pátria, PORTUGAL.
Abraço,
António Graça de Abreu
Como eu te entendo meu camarada, meu colega e meu amigo, mesmo sem nos conhecermos pessoalmente.
Por curiosidade veio-me às mãos uma fotografia em que eu estou sentado no lugar do condutor de um jipe da tropa e que diz o seguinte: Última vez que peguei em armas para fazer fogo.
Carregueira, 15 de Maio de 1967 e foi mesmo pois na Guiné só uma vez levei uma pistola Walter numa operação, mas não precisei de utilizá-la.
Será que na Guiné tive mais sorte do que vou ter na minha Pátria.
Gostei muito do teu poema.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Ó Abreu! Confessas que estás do lado da Pátria?
De qual delas? Da que está por cima ou da que está por baixo...espezinhada e explorasa por aquela?
Nesta matéria não há lugar para perdões!...
Tem de se repor as coisas no seu lugar. Com Justiça. Acabar com exploradores.
E não faz nenhum sentido estar a pedir a Deus que o faça por nós!...
Quem se sente espezinhado é que tem a obrigação de se libertar...
As citações que fazes do Fernando Pessoa, tiradasdo seu contexto podem parecer muito bonitas...mas não fazem sentido nenhum...Toda a gente podia encontrar nel, muitas outras demonstrando exactamente o avesso...
E já agora. Puseste um ponto de interrogação envergonhadamente embrulhado entre parêntesis. Ainda o manténs?...Sei que escreves umas coisas...Atreve-te a escrever um poema idêntico que expresse a tua posição. Para se poder comparar...
Não quero dizer com isto que eu escreva melhor que tu...
Com que autoridade puseste lá a interrogação?...
A cultura não tem fronteiras, camarada...é livre como o mar.
Um abraço verdadeiramente patriótico para toda a gente.
J.Gomes
Eu te agradeço, Velho Camarada.
Li e, vindo para baixo, apareceu o Chopin. Parei. O Chopin começou a soltar notas e tu, no meu reler, a soltares poesia que me causava um misto de sensações diferentes e nem te consigo explicar...revolta, necessidade de tomar mais forte posição, não sei, sei, isso sim, ser tempo de dizer basta a esta modorra que se arrasta...
Vou copiar (imprimir) o que tão bem escreveste e me emocionou ou...não sei.
Abraço-te, T.
Um abraço aos Editores.
APATIA a PÁTRIA APAT(R)IA ....espectacular.
Confunde-se hoje, talvez, como muitos a confundiram outrora.
Pátria, Mátria ??? e a Poetisa de boquilha e cigarro declamando ...versejando... ou, porque não, na Assembleia falando, dizendo palavras assertivas...eram tempos diferentes esses. Natália era Açoriana e essas Ilhas tão boas gentes têm dado a este nosso, ainda é nosso?,País. Meu é...
Ab,T.
António Rosinha, a universidade da vida é muito importante... Há coisas que os "urbanos" não sabem porque não lhes passaram pela mão (muito menos pelo pelo)...
Chamaste-nos a atenção para o termo "fueiro"... Ainda os vi, em 1975 e anos subsequentes, em terras de Douro e Minho... Os carros de bois a chiar, carregados de milho ou de mato, por aqueles montes acima e abaixo... Em Paredes de Viadores, ainda nem sequer tinha chegado o vulgaríssimo "motocultivador"... Fizeste bem em recordar o Portugal profundo, rural, da parceria agrícola e da parceria pecuária, o Portugal dos "fidalgos", dos pequenos properietários, dos rendeiros e dos cabaneiros...
Do dicionário Priberam:
(i) fueiro
(latim funarius, -a, -um, de corda)
s. m.
1. Cada um dos paus que se erguem nos lados do leito do carro de bois ou de atrelado.= ESTADULHO
2. Pau grosseiro. = CACETE, ESTACA, ESTADULHO
(ii) fueirada
s. f.
1. Pancada com fueiro.
2. Conjunto de fueiros.
PS - O nosso Joaquim, tanto quanto sei, é transmontano, não é minhoto... (By the way, um grande xicoração para ele; não deixes arrefecer esse coraçãozinho em Berlim!)...
Segundo o Camilo (Castelo Branco), o minhoto resolvia os conflitos à chapada e à paulada... O transmontano, esse, sobretudo em matéria de "honra e propriedade", atirava para matar...
Meu caro Joaquim Gomes
Na sequência do poema, dizes:
"Nesta matéria não há lugar para perdões!...
Tem de se repor as coisas no seu lugar. Com Justiça. Acabar com exploradores".
Ora aí está, vamos ser nós, portugueses, o primeiro país na História do Mundo a acabar com os exploradores.
Houve várias tentativas de acabar com os exploradores, como sabes,
a União Soviética (deu uma tenebrosa ditadura e o Putin) a China (deu uma tenebrosa ditadura e
um imparável capitalismo selvagem), houve Cuba (deu uma pesporrenta e defeituosa ditadura e o Fidel) há a Coreia do Norte (com uma tenebrosa ditadura e um povo miserável), enfim isto de acabar com os exploradores tem que se lhe diga, será preciso acabar com todos os homens, primeiro.
Na Austrália, na Alemanha, na Escandinávia, no Canadá, no Japão, nos EUA não acabaram com os exploradores e são os países com os melhores níveis de vida em todo ao globo.
Tenho seis livros de poesia publicados e mais onze de prosa.
Não sou nada de especial, mas se tiveres paciência e interesse, lê, eu estou lá todo.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Sinto um amargo na boca .
Morro de sede.
Não me deixa beber.
Sinto uma dor no meu peito.
Queria correr e não posso,
Só p´ra te acudir.
Andam fantasmas à solta,
Como corvos famintos,
Que eu não posso espantar.
Queria dormir e sonhar
E não posso.
Abriram as portas reais
Às hordas de abutres da tróika.
Ó se e dependesse de mim!...
Atava-lhes uma corda ao pescoço,
Iam todos bem presos,
Lá p'rós fundos do mar.
Zehlendorf, 9 de Janeiro de 2013
2h16m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Caro Abreu
Sem querer entrar em polémicas, porque as nossas posições ficaram perfeitamente definidas, devo dizer-te só isto:
. Dentro da cruel Ditadura que oprime o Povo português, salvo raras excepções, só consegue publicar quem tem dinheiro.
.. Quantidade nunca foi necessariamente sinónimo de qualidade.
O que li de teu, aqui no blogue, gostei.
...Tenho muita coisa escrita. Prosa e poesia.Em quantidade e qualidade.
Um abraço
J.Gomes
Sem nenhuma polémica, finalmente entendi o teu poema.
É preciso, segundo as tuas palavras, combater a "cruel Ditadura que oprime o Povo português" e acabar com os "exploradores".
E vai de meter poesia, conforme teu o julgamento, no blogue. O que faz falta é agitar a malta, já lá dizia
o velho Zeca Afonso.
E o juízo dos velhos também faz falta. Falo por mim que tenho pouco juízo e 65 anos.
Alles gut in Deutschland, ich habe
auch fast ein Jahr in Hamburg gelebt.
Também vivi um ano na Alemanha, tudo de bom na democracia alemã onde vives. Ou será que por aí também é uma ditadura, mas menos cruel?
Abraço,
António Graça de Abreu
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