quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22959: Agenda cultural (798): Apresentação do livro "Guerra, Paz... e Fuzilamentos - Guiné 1970-1980" da autoria de Manuel Bernardo, dia 15 de Fevereiro, pelas 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 90 - Oeiras. A obra será apresentada pelo Coronel Tirocinado Comando Raul Folques

C O N V I T E


GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980

Da autoria do Cor. Manuel Amaro Bernardo

BARROSO da FONTE

Por ocasião dos 28 anos da inauguração do Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, situado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, chega aos escaparates das melhores livrarias do país, a obra: GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980.

Assina este livro de livros, o Coronel Manuel Amaro Bernardo que nasceu em Faro, em 1939 e que é «um oficial reformado do Exército Português. Desde 1977, passou a fazer investigação sobre a História Contemporânea mais recente, tendo publicado nove livros até 2013». Extratos desses livros relacionados com a Guiné, mais aditamentos posteriores, reaparecem, em 472 páginas, algumas das quais já faziam parte de outra obra com idêntico título, em 2007.

Não conheci pessoalmente este meu coetâneo, ele do quadro permanente e eu miliciano. Mas a sua vasta obra, coerente, patriótica, disciplinada e rigorosa sempre me alentou a formar e a formatar essas virtudes culturais e cívicas que me nortearam, como jornalista e autor, nestes 68 anos de militância ininterrupta que completo em 24 deste mês. Na minha biblioteca pessoal, exposta ao público, na Cidade Berço, que chegou a ter vinte e três mil títulos, antes de enviar partes para Timor, Câmara de Montalegre e associações periféricas, consegui adquirir, cerca de um milhar de obras de militares de todas as ideologias. Prefaciei várias, editei dúzias (como editor) e como recensor literário, li muitos mais.

Confesso que uma leitora que pessoalmente não conheço mas que me privilegia com a sua amizade e a qual considero, uma espécie de anjo da guarda de todos, frequenta, em Lisboa, os centros culturais recomendáveis para as apresentações de livros.

A Editora Âncora, por exemplo, pegou no programa «Fim do Império» que foi criado pelo Coronel Manuel Barão da Cunha, quando foi funcionário da Câmara Municipal de Oeiras, no sector Cultural.

A maior parte dos livros dos militares de Abril, quer do quadro quer milicianos, primam pela entrega das obras que nos últimos 25 anos se têm publicado. Os amigos do livro, já conhecem os locais das apresentações. E, mal sabem de mais um, logo partilham essa presença, mesmo à distância.

Com mais esta obra assim aconteceu. Acabei de ler, reler e anotar elementos para uma recensão. Manuel Amaro Bernardo, Alberto Ribeiro Soares, Jorge Golias, Jorge Lage, Manuel Barão da Cunha, todos coronéis da Guerra do Ultramar, são figuras de alto nível intelectual e académico que aprecio ter à mão para reconhecer que todos fizemos parte do mesmo ciclo. Esse ciclo prejudicou a todos, quer os profissionais das armas, quer os milicianos. Aqueles viram interrompidas as suas carreiras às portas do generalato. No meu caso que foi o de muitos milhares, que atrasaram os seus cursos superiores o seu casamento, a reconstrução das suas vidas familiares. Nunca, alguém, corrigiu esta aberração. Mas ela existe desde que a democracia ficou institucionalizada. Esse quisto, quicá furúnculo gangrenoso, é irreversível

Compensações? Somente os 310 ex-políticos e juízes que durante toda a sua vida receberão, mensalmente, pensões de luxo, entre 883 e os 13.666 euros. Mas estas verbas, conhecidas por «subvenções mensais vitalícias» nada têm a ver com os restantes rendimentos do trabalho profissional desses sortudos.

Este livro de um comentador bem documentado, obriga a uma reflexão sobre os 48 anos de democracia em construção. Edição da Âncora - programa Fim do Império.

Barroso da Fonte

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22932: Agenda cultural (797): Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, Lisboa: exposição temporária, de 13/1 a 20/3/2022: "A Guerra Guardada: Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)

Guiné 61/74 - P22958: Historiografia da presença portuguesa em África (302): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (6) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Abril de 2021:

Queridos amigos,
Do que até agora se transcreveu do importantíssimo trabalho de Senna Barcelos, a continuidade que o autor pretendeu dar à sua ampla investigação que se inicia com as primeiras viagens à região da Senegâmbia, e passando por três dinastias, dá perfeitamente para compreender o papel subalterno que era politicamente conferido à subcolónia, tudo era decidido em Cabo Verde, o governador punha e dispunha, embora as nomeações para Cacheu e Bissau viessem de Lisboa. O que agora se reporta corresponde ao período de intervenção de Honório Pereira Barreto, que sai claramente engrandecido na narrativa de Senna Barcelos. Barreto não só compra porções de território e oferece-os à Coroa, como troca correspondência bem frontal com os franceses em Gorée. E os ingleses também estão à espreita, não querem só a Serra Leoa, ambicionam estacionar no Rio Grande de Buba e apoderar-se de Bolama. Tudo é sempre precário em Bissau, como iremos ver na continuação e conclusão destes Subsídios para a História da Guiné e de Cabo Verde, parte IV, 1910, sublevações, homicídios, raptos, cercos à fortaleza e à povoação limítrofe serão fartura.

Um abraço do
Mário



Um oficial da Armada que muito contribuiu para fazer a primeira História da Guiné (6)

Mário Beja Santos

São três volumes, sempre intitulados Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, as partes I e II foram editadas em 1899, a parte III, de que ainda nos ocupamos, em 1905; o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada, oficial distinto, condecorado com a Torre e Espada pelos seus feitos brilhantes no período de sufocação de sublevações em 1907-1908, no leste da Guiné. 

O levantamento exaustivo a que procede Senna Barcelos é de relevante importância e não há nenhum excesso em dizer que em muito contribuiu para abrir portas à historiografia guineense.

Estamos em 1837, Honório Pereira Barreto está atentíssimo ao que se passa na região do Casamansa, assiste à gradual infiltração francesa. Em 16 de junho, dava conta ao Ministro da Marinha e do Ultramar da ida do governador da Gorée ao rio Casamansa numa escuna de guerra, com o fim de ocupar uma das margens, fazendo-se ali um estabelecimento comercial. Enviou-lhe cópias da correspondência trocada entre as novas autoridades e o comandante e governador do Senegal. O governo de Lisboa manifesta-se pouco sensível à gravidade da situação. Ora a presença a francesa tem o seu histórico. 

Foi em 1828 que o negociante francês comprou aos gentios na foz do Casamansa a Ilha dos Mosquitos (hoje Ilha Carabane), onde fez depósitos para guardar mancarra e outros géneros comerciais. Sorrateiramente, compraram também os franceses em 1837 a um chefe Mandinga um terreno denominado Selho para ali estabelecer as suas feitorias. 

Forçada em Ziguinchor a passagem pelo rio acima, sem que a nossa diplomacia por essa época conseguisse sacudir dali os franceses, o governador da Gorée mandou levantar a fortaleza guarnecida de boa artilharia e tropa. Era a política do facto consumado. E inventou-se a patranha de que o território estava associado à França. Vejam-se os argumentos. O governador do Senegal escreve em 28 de abril de 1838 que muito antes dos ingleses e portugueses a França tinha criado estabelecimentos no Senegal e que em 1713 o Tratado de Utrecht, entre a França e Portugal, tinha reconhecido o direito da França. O governador francês pura e simplesmente inventava argumentos, será prontamente refutado, o Artigo 21º do referido Tratado de Utrecht previa que a França evacuasse todos os territórios portugueses. A refutação não ficou por aqui, foi-se à história, invocou-se a Crónica da Guiné de Zurara, a Bula Papal que erigiu o bispado de Cabo Verde e onde se reconhecia a legitimidade dos portugueses no descobrimento e posse da Guiné, adicionando mais elementos, como o Tratado Breve dos Rios da Guiné, de 1594, o seu autor foi André Alvares d’Almada, a Relação do Padre Fernão Guerreiro, de 1605 e a Descrição da Guiné escrita em 1669, por Francisco de Azevedo Coelho.

Senna Barcelos é minucioso em toda esta documentação sobre a presença francesa no Casamansa, a troca de correspondência com o Ministro da Marinha e Ultramar é abundante. Logo a carta de Sá da Bandeira, datada de 21 de junho de 1838 em que dá notícia que a rainha ordena ao governador-geral de Cabo Verde que expeça ordem ao governador de Bissau para que com a maior brevidade erija um forte com bandeira portuguesa na margem do sul da embocadura do rio Casamansa, no mesmo braço do rio em que se acha o estabelecimento francês feito em 1828. E há os protestos de Ziguinchor pela atitude soberana e provocatória de barcos de guerra franceses. O cinismo deixa de ter limites na gula francesa, veja-se a carta do comandante da ilha de Gorée, G. Dagorne enviada para Ziguinchor:

“Tenho a honra de vos informar oficialmente que acabamos de adquirir em nome de Sua Majestade, o rei dos Franceses, na aldeia mandinga de Selho, um terreno destinado para estabelecer uma feitoria. Estando convencido que as relações mais extensas, que esta circunstância vai estabelecer entre o comércio e os habitantes de Ziguinchor, serão úteis e agradáveis a ambos os lados, eu espero que as embarcações mercantes francesas, que navegarem no Casamansa para cima e para baixo, longe de experimentarem o menor embaraço neste lugar, onde comandais, acharão pelo contrário todo o bom acolhimento e benevolência, que prestam ordinariamente as nações civilizadas e amigas”.

Honório Pereira Barreto deu-lhe prontamente a resposta:

“Acabo de ser informado pelo comandante de Ziguinchor que Vossa Excelência a bordo de um navio de guerra passou aquele presídio, foi pelo rio acima e comprou um terreno aos Mandingas em Selho. Por este motivo o supradito comandante protestou contra semelhante ato e eu da minha parte me dirijo a Vossa Excelência para dizer que a compra que Vossa Excelência fez do terreno nada influi, muito bem sabe que não tinha direito algum de passar a bandeira portuguesa dentro do rio Casamansa; e que Vossa Excelência não fez mais do que usar do direito da força que nada valida, e assim eu protesto contra uma tal agressão por Vossa Excelência cometida”.

Todas estas peripécias estão minuciosamente inventariadas por Senna Barcelos, dá-se mesmo conhecimento ao governador da Gâmbia de tudo quanto se está a passar, mas da Gâmbia não chegaram os socorros pedidos por Honório Pereira Barreto. O governador do Senegal insiste com os direitos históricos franceses, sempre refutados e o governador de Cabo Verde informa da situação para Lisboa.

Mas os acidentes não acabam por aqui, vão-se estender a Bolama, isto enquanto Honório Pereira Barreto procura adquirir mais parcelas na Guiné. Ele passa por Bolama em dezembro de 1937, é governador da Guiné, e ratifica a posse da ilha, onde Caetano Mozolini e Aurélia Correia possuíam boas propriedades agrícolas e urbanas na região oeste. 

Barreto celebra em 25 de dezembro desse ano um acordo com Ondoton, rei do Chão de Intim, obrigando-se o governador a entregar a este rei mensalmente 12 frascos de aguardente e 25 libras de pólvora e o rei de Intim obriga-se a submeter toda e qualquer questão ou desavença à decisão do governador da Praia. Barreto compra o Ilhéu do Rei em novembro de 1839. Mas a chamada questão de Bolama já está em curso. O tenente Kellet, comandante do Brisk, deixou cometer os maiores desatinos em Bolama em dezembro de 1838, também aqui Senna Barcelos deixa abundantes referências à ação do governador. Barreto pede exoneração em 1839, e é-lhe concedida. Da força existente em Cabo Verde e Guiné, era assim a sua distribuição na Guiné em 1840: 96 em Bissau, 39 em Cacheu, 13 em Farim, 10 em Ziguinchor (com um alferes), 4 em Bolor, 15 em Geba (com um alferes), 15 em Bolama (com 2.º sargento e um cabo), um total de 184 militares. São crónicas as insubordinações das forças militares de Bissau. Em 18 de novembro de 1840 passou a Bissau o Major Alois de Rolla Dziesaski, será governador de Bissau em diferentes períodos.

(continua)


Mapa histórico da Senegâmbia em 1707
Rio Casamansa
Estátua de Honório Pereira Barreto em Bissau, período colonial. O Estado independente ainda não reviu a sua posição com um dos seus pais-fundadores
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Notas do editor

Poste anterior de 26 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22941: Historiografia da presença portuguesa em África (300): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (5) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22956: Historiografia da presença histórica portuguesa em África (301): mapa francês dos anos de 1680 que mostra a região de Casamansa, Cacheu Farim e Bissau

Guiné 61/74 - P22957: Parabéns a você (2031): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Mansoa, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22948: Parabéns a você (2030): Luís Graça, Fundador e Editor deste nosso Blogue, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

Guiné 61/74 - P22956: Historiografia da presença histórica portuguesa em África (301): mapa francês dos anos de 1680 que mostra a região de Casamansa, Cacheu, Farim e Bissau

 

La coste d'Afrique | A costa ocidental de África


La coste d'Afrique depuis la  rivière de Gambie  jusques à celle de |Cherbe (?) ou Madrebombe (?), presentée à Monsieur  "monseigneur de Pontchaulyaire (?) | Mapa da costa da África Ocidental desde o rio Gâmbia ao de Cherbe  (?) ou Madrebombe (?), apresentado a Monsenhor de Pontchaulyaire (?)

Eschelle de quarante lieuz (?) françaises et anglaises | Escala de quarenta lugares (?) franceses ingleses


Royaume de Cazamance | Reino de Casamansa

Feloupes sauvages |  Felupes selvagens



Feloupes sauvages | Felupes selvagens 

Feloupes dociles | Felupes pacíficos ... Fort portuguais | Forte português (Bol0l)...Royaume des Baguns  | Reinos dos Banhuns


 Farim colonie portugais... Gesves (?), colonie portugaise | Farim, colónia portuguesa... Geba (?), colónia portuguesa


Cacheau, colonie portugaise... Bolol... île de Boulama... Bissaau | Cacheu, colónia portuguesa, Bolol...Ilha de Bolama,,,Bissau

R. de St. Domingue... Bolol,  Mata de Poutama (?) | Rio de São Domingos...  Bolor/Bolol... Mapa de Putama



Fotos (e legendas): © João Schwarz da Silva (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de
 João Schwarz da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, nº 768, desde 30 de março de 2018. (Recorde-se que o João nasceu em Alcobaça em 1944, e foi para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do seu avô Samuel Schwarz em Lisboa, em 1953, voltou para Bissau onde frequentou o Colégio Liceu Honório Barreto, onde a mãe era professora, até à sua vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960; vive em Paris; é o autor da página Des Gens Intéressants, onde tem perpetuado as memórias de amigos e familiares; Tem já uma dezena e meia  de referências no nosso blogue.)


Data - quarta, 26/01/2022, 08:52

Assunto - Mapas da Guiné

Caro Luis

Nas minhas andanças pela BNF - Biblioteca Nacional de França, em Paris,  descobri um mapa muito interessante que mostra a região da Guiné nos anos 1680. Aparentemente o mapa est baseado nas viagens de um Michel de la Courbe que era delegado da companhia do Senegal e que visitou Cacheu, Bissau e Farim.

Aqui vão as imagens.

Um grande abraço

João Schwarz da Silva

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22941: Historiografia da presença portuguesa em África (300): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (5) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22955: O nosso blogue em números (79): Em 2021 publicámos em média 95 postes por mês... e não falhámos um único dia do ano... Palmas, por favor, para a nossa pequena equipa editorial que já pratica o teletrabalho muito antes da pandemia...



Gráfico nº 11 - Nº de postes publicados por mês no ano de 2021(n=1142)

Infografia: Carlos Vinhal (2022)





Quadro nº 1 - Mapa-resumdo do nº de postes publicados por mês e por editor, no ano de 2021 (n»1142)

Infografia: Carlos Vinhal (2022)


Gráfico nº 12 - Nº de postes publicados por mês  e por editor no ano de 2021(n=1142)

Infografia: Carlos Vinhal (2022)


1. É bom que os nossos leitores saibam que este blogue é mantido por uma pequena equipa que funciona à distância, e há muitos anos: neste momento, temos 4 editores, mas na prática, o essencial do trabalho assenta em duas pessoas, o Carlos Vinhal (que vive em Leça da Palmeira, Matosinhos, distrito do Porto), e o Luís Graça (que vive, desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, essencialmente na Lourinhã, distrito de Lisboa).  

Temos ainda o Eduardo Magalhães Ribeiro (Maia) e o Jorge Araújo (sediado em Almada, mas vivendo neste momento em Abu Dhabi, nos Emiratos Árabes Unidos). 

Até 2009 ainda pudémos contar com a colaboração ativa (e preciosíssima) do Virgínio Briote.  Razões imponderáveis de saúde fizeram  com que ele hoje seja um editor jubilado, mas de cujo conselho nunca prescindimos sempre que a ocasião se oferece: contimua também a estar ao alcance de um clique ou de uma chamada de telemóvel.

O Jorge Araújo devia já estar tecnicamente habilitado a editar os seus próprios postes, e nomeadamente os das séries "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate", "Tabanca dos Emiratos"... Na prática, quem é o "editor final" dos seus trabalhos é o Luís Graça. 

2. Em 2021 publicámos 1142 postes: o mês de fevereiro foi o que teve mais postes (n=125) e o mês de agosto o que teve menos (n=80) (Gráfico nº 11). A média mensal andou nos 95. 

No Quadro nº 1 e no Gráfico nº 12, faz-se a distribuição por mês e por editor.  No total de postes editados pelo Luís Graça (n=577) estão contabilizados 17  que são da autoria do Jorge Araújo.

O Jorge Araújo tem passado, desde 2019, algumas temporadas nos Emiratos Árabes Unidos, onde a sua esposa é professora numa prestigiada universidade árabe. Por outro lado, no ano lectivo de 2020/21 ele estava ainda no activo, como professor do ensino superior politécnico, E neste momento continua em Abu Dhabi, a ultimar dois livros, o que lhe deixa pouco tempo livre para alimentar o nosso blogue com os seus postes sempre originais e surpreendentes.

Em 2020  a havia já  mais de meia centena de referências com o marcador "Jorge Araújo". Boa parte tinha a ver com os postes da sua autoria, relacionados com séries como "(D)o outro lado do combate"  ou "Memórias cruzadas" ou ainda "Ensaios"... 

Esses postes eram  enviados diretamente por ele para o blogue, em formato de rascunho. A inserção de fotos e os "acabamentos" ficavam por conta do editor Luís Graça. E como tal eram contabalizados.  Agora está a enviá-los só por email. Continuamos à espera de poder resolver esse problema, com tempo e vagar, e dando assim o seu a seu dono. 

O Magalhães Ribeiro tem-se limitado, nos últimos anos, a editar os postes do José Saúde, que lhos envia diretamente.

3. Como já o dissémos em anos anteriores, uma das  particularidades do nosso blogue é que, quer faça sol, quer faça chuva, seja domingo ou feriado, há sempre alguém a trabalhar e a publicar, todos os dias, um poste ou mais postes... E isso verificou-se ao longo de mais estes doze meses pandemia de Covid-19. Não creio que tenhamos falhado algum dia...

Alguns dos postes que editamos todos os dias podem ficar "agendados" de um dia para o outro (, é o caso, por exemplo,  dos postes da série "Parabéns a vocês", que estão ao cuidado do Carlos Vinhal)... Como se costuma dizer, é comida pronta a usar, que fica no frigorífico de um dia para o outro...

Há uma boa articulação entre os  editores, em especial o Carlos Vinhal e o Luís Graça, que se apoiam mutuamente... Estão de resto, os dois sempre à distância de um clique... tal como o Jorge Araújo (, também reformado de fresco...) e o Eduardo Magalhães Ribeiro (que se reformou já  em 2019).
 
4. Como fazemos todos os anos,  fica aqui, desde já, registado, em letra de forma, um voto de louvor aos nossos coeditores, os dois  do Norte, o Carlos Vinhal e o Eduardo Magalhães Ribeiro, e o outro do sul, o Jorge Araújo: na qualidade de fundador do blogue, eu, Luís Graça, não me canso de louvar a sua lealdade, dedicação, generosidade e competência. 

São valores que não têm preço, a par do forte espírito  de corpo que nos anima há muito. Mas tenho que destacar aqui o nome do Carlos Vinhal que, na realidade, tem sido o pilar do blogue, desde há muito... 

Disse-o o ano passado, e não era exagero: se ele cair, o blogue cai...Por isso rezo todos os dias, aos nossos bons irãs, acocorados no alto do poilão da Tabanca Grande, para nos deem vida e saúde para continuar a poder dar voz aos "amigos e camaradas da Guiné". 

(Infelizmente, para mim, o ano de 2021 foi um "annus horribilis" com problemas de saúde que ainda não superei na totalidade, daqueles que nos tocam a todos à medida que a idade vai avançando... Mesmo assim acho que me aguentei, menos mal!... E continuo  dizer, não sem algum  humor negro, citando  o "meu pai, meu velho, meu camarada": "Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas"...). 

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22907: O nosso blogue em números (77): em 2021, apesar da dupla fadiga pandémica e bloguística, tivemos uma média de 4,5 de comentários por poste, igual à do ano anterior...


Vd postes anteriores da série:

10 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22895: O nosso blogue em números (76): Quem nos visita continua a usar o Chrome (38,7%) como navegador, e o Windows (72%) como sistema operativo.

7 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22885: O nosso blogue em números (75): Globalizados, somos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (40%), EUA (25%), Brasil (5%), França (5%) e Alemanha (4%)... Pela primeira vez, aparece a Suécia no "Top 10" e a Guiné-Bissau no "Top 20"

4 de janeiro de 2022 > 4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22875: O nosso blogue em números (74): em 2021, tivemos 25 "baixas mortais" e 31 novos membros da Tabanca Grande (dos quais 13 a título póstumo)... Somos agora, entre vivos e mortos, 855 grã-tabanqueiros

4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22875: O nosso blogue em números (73): em 2021, tivemos 25 "baixas mortais" e 31 novos membros da Tabanca Grande (dos quais 13 a título póstumo)... Somos agora, entre vivos e mortos, 855 grã-tabanqueiros

Guiné 61/74 - P22954: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIII: Velhice vai no Bissau, Ó-lé-lé...lé-lé...


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Buba > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74 > 27 de Junho de 1974> O pessoal  "instalado" na LDG batizada com o nome do nosso capitão, Vasco da Gama, a caminho de Bissau... “Tudo ao molho e Fé em Deus”... Nada de euforias!


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74 >  25 de Junho de 1974 > Aqui vamos nós… sem euforias... a caminho de casa
 
Fotos (e legendas): © Carlos Machado / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto 3 > Guiné > Bissau > c. 1960/70 > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). (Cortesia do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)



Paz &  Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (**)

Parte XXIII - … VELHICE VAI NO BISSAU, “Ó-LÉ-LÉ-LÉ-LÉ…”


Entretanto, lá chega o dia, há muito desejado, de deixarmos o Cumbijã, com destino a Bissau (riscando o último “pau” na caserna), em trânsito para a peluda.

Coisa estranha!,  na partida não se sentia o entusiasmo normal destas situações. Compreensível, tendo em conta o fim (ainda que tacitamente) das hostilidades.

Deixamos o Cumbijã à guarda da companhia que havia abandonado Guileje, a CCAV 8350. Um reencontro, fraterno, mas estranho, depois de Estremoz. O normal seria a nossa substituição por periquitos e não por alguém tão velhinhos quanto nós, como era o caso da CCav 8350. Estava, obviamente, em curso algo de injusto para uma companhia que passou por um dos momentos mais dramáticos da guerra na Guiné.

Ao passarmos o cavalo de frisa, abandonando definitivamente Cumbijã, uma lágrima senti ao canto do olho. Não sei se de alegria pela partida, se de tristeza pelas perdas e sofrimento de tantos camaradas e elementos nativos, questionando-me: porquê?

Afinal tudo se resolveu da noite para o dia (de 24 para 25 de Abril de 1974)!? Eu, só sei que não sei! Alguém que me explique,  que eu estou muito cansado...

Ao fazermos o caminho de Cumbijã para Buba  (Foto nº 1) para apanharmos a LDG para Bissau, junto à bolanha das “Touradas”, um grupo de elementos do PAIGC emerge da mata, armados até aos dentes e nós já completamente desarmados (senti arrepios na espinha), acenando com as mãos e as armas. 

Foi um momento muito estranho, dava a sensação que do dia para a noite o mundo tinha virado do avesso. Ficamos na dúvida se foi um gesto fraterno ou de alívio (passe a presunção). Grupos do PAIGC tinham já ido, creio eu, a todos os aquartelamentos da zona numa visita de cortesia e ao mesmo tempo para falarem com as populações sobre os rápidos desenvolvimentos que iriam conduzir à independência.

Vivi com alguma perplexidade, a forma como gerimos o fim das hostilidades. Esta feliz fotografia publicada no Blogue (paradigma do momento) fala por si!


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974: visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, fazendo as "honras da casa" (*). O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado.)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Um dos beligerantes sempre se apresentando armado até aos dentes enquanto o outro, completamente desarmado, de mãos nos bolsos e de palito ao canto da boca.

Muita... muita negligência, muita descontração e muita “fé...zada” que o Natal é todos os dias…

Nunca a companhia se encontrou ou falou com grupos do PAIGC, nem nunca fomos contactados para os receber (talvez porque não tínhamos população?). Soubemos que passados uns dias depois da nossa saída, estes entraram, a seu pedido, em Cumbijã.

Em Bissau foi descanso, muitos bifes com batatas fritas, muita...muita ostra, com cerveja e ás vezes, imaginem! vinho verde branco fresquinho.

A minha perceção, chegado a Bissau, era o de um clima de “fim de guerra” e ao mesmo tempo tenso.

Só conheci Bissau, fugazmente, nos momentos de partida e regresso de férias, pelo que não dava para comparar. Contudo, era evidente um ambiente de descompressão, que sempre acontece com o fim da guerra, por parte dos militares, mas, ao mesmo tempo, de um nervosismos indisfarçável dos europeus aí residentes: quadros de empresas, funcionários públicos e principalmente comerciantes. O semblante do proprietário da escola de condução, meu instrutor, onde tirei a carta, gritava através do seu silêncio ensurdecedor em cada aula.

Quanto à população em geral a vida continuava, nas suas rotinas de sempre, como se nada tivesse acontecido… ou estivesse para acontecer.

Deu para comprar um terço de um carocha (o carro pertencia a 3), onde o Gouveia me ensinou a conduzir, e um relógio “Citizen” (excelente relógio que ainda hoje funciona) para gastar os últimos pesos

Deu ainda para tirar a carta de condução, em tempo recorde, graças às lições do Gouveia (no meu ⅓ de carocha), com exame no dia anterior ao embarque para Portugal. Incumbi o camarada Mourato, furriel periquito do meu pelotão, para me enviar a dita carta logo que estivesse pronta. 

A carta tardou tanto a chegar que resolvi inscrever-me numa escola de condução para tirar uma nova. Felizmente, antes do exame lá recebi o dito papel com as desculpas do Mourato que não a enviou, por correio, com receio que a mesma não chegasse ao destino dada a anarquia reinante de fim do império. Acabou por ma enviar já em Portugal.

Galinha Gorda... por muito dinheiro

Já em Bissau (a conhecer e a viver um pouco do seu dia dia), éramos chamados a fazer proteção à cidade.

Bissau, em grande parte do seu perímetro, tinha uma proteção de arame farpado com vários pontos de vigia ao longo do seu percurso.

Quando entrava de serviço, uma das funções era fazer a ronda, de jipe com um condutor, por todos os postos de vigia assegurando que todos os soldados estavam nos seus postos e em alerta. Era evidente o desleixo nos postos de vigia dado que se tinha já interiorizado que a guerra tinha acabado.

Num dos postos de vigia, da responsabilidade de soldados da companhia, parei para conversar um pouco. Logo me arrependi porque de imediato vem na minha direção uma mulher esbaforida, a queixar-se de não sei do quê, não conseguindo perceber absolutamente nada do que dizia dada a pressa com que falava. Apercebo-me que os soldados,  em vez de ficarem comigo para me protegerem daquele “ataque” de fúria da mulher, todos se afastam, com um sorriso entre dentes.

Percebi logo que havia história. A mulher, um pouco mais calma, vai ao chão e pega numa pena de galinha e aponta para os soldados. Mistério fácil de desvendar, para este “Sherlock Holmes” do Cumbijã. Estamos perante um crime cheio de rabos de palha: o rancho do almoço estava intacto e junto ao posto de vigia uma fogueira ainda mal apagada.

Exerci a minha autoridade (?) fazendo uma acareação entre as partes. Dizia a mulher: "Estes militares foram à minha tabanca, roubaram, mataram e comeram a minha galinha".

Os soldados afirmaram: "Concordamos com tudo o que a mulher disse menos o rouba da galinha já que foi a mesma (a galinha) que entrou, sem autorização, no nosso posto de vigia, pondo em risco a nossa segurança"…

Assim se chegou à reconstituição do “crime”: Um soldado, que já tinha feito ali serviço, tomou de ponta aquela galinha. Trouxe umas sementes da caserna para a aliciar a entrar na guarita seguindo o carreiro de sementes, deixadas por ele, da tabanca até à guarita, acabando aqui por a matar. Perante a galinha morta, depois de conferenciarem, tomaram a decisão mais sensata de assá-la e comê-la.

Todos assumiram o pecado da “gula” ao afirmarem: "Assámos a galinha e todos a comemos. Soube-nos também como se fosse roubada... mas não foi!"

Afinal não foi nada fácil atribuir culpas, pelo que fui colocando pesos (dinheiro) na mão da mulher até ela se calar. Ou seja: Paguei, mas não comi… mas também não pequei de gula!

Continua...


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Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.(*)

O livro, saído neste último Natal de 2021, aguarda a melhor oportunidade para a sua apresentação ao público. 

Mas podem desde já serem feitos pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro.

Os pedidos devem ser feitos para o e-mail: jscosta68@gmail.com, indicando o endereço postal.
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22861: Notas de leitura (1404): Joaquim Costa, "Memórias de guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina. Guiné: 1972/74", Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp. - Parte I: "E tudo isto, a guerra, para quê ? Não sei"...

(**) Último poste da série > 16 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22911: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXII: Os torneios de futebol e a Cilinha que não veio, e a notícia do 25 de Abril que só chegou a 26...

Postes anteriores (faz agiora um ano que começámos a publicar esta série, que já deu um livro):

20 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22824: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXI: A "marcha louca" na véspera do Natal de 1973

26 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22754: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XX: outras guerras, outros protagonistas: os mosquitos, as abelhas, as formigas, as matacanhas...

12 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22711: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIX: As hortinhas... dos "durões"

2 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22682: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVIII: A ração de combate

11 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22621: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVII: a minha "bigodaça”... que tanto incomodou os senhores da guerra

22 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22561: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVI: O regresso de férias e o terceiro murro no estômago

31 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22499: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XV: Férias em julho/agosto de 1973... e o teste da cerveja

25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22482: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIV: " Bora lá... para a nova casa, Nhacobá" (Op Balanço Final)


8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22350: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final)

23 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo

7 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22261: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X: a segunda "visita dos vizinhos" (com novo ataque ao arame)

26 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22225: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IX: O primeiro murro no estômago

1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

13 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22100: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VII: Cumbijã: a nossa modesta casinha, os picadores e a crueldade das minas

24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

27 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21953: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III: Depois de Chaves, Estremoz, RC 3, onde fomos formar companhia...

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)

Guiné 61/74 - P22953: Fauna & flora (18): mais dois animais emblemáticos das fábulas guineenses: o búfalo (bufre em crioulo) e o elefante (nhiuá, em fula)








Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, adapt, de brochura  abaixo citada (s/d), pág. 13 (*)


1. No conto "O Cativeiro dos Bichos", reproduzido no poste P22951 (**), há referência a mais dois "bichos" do "bestiário" da Guiné-Bissau, dois mamíferos, o búfalo e o elefante, que hoje importa conhecer melhor para proteger  (***)


(...) Houve um tempo em que todos os seres viviam na mais foi perfeita harmonia e a paz reinava por toda a parte. Isto passou-se antes de ter nascido uma garça chamada Macute e que ficará para sempre como o anjo mau que perverteu o mundo.

Foi o caso que numa manhã de sol, quando as manadas de búfalos pastavam nas lalas verdejantes de Bambadinca, uma garça ainda nova e inexperiente, ao esburgar com o bico as carraças de um búfalo, picou-o profundamente, o que o levou a dar um sacão com a cauda, sacão que apanhou a garça e a fez cair ! (...)


(...) Mandou o bicho homem chamar o rei dos bichos que andam e que é, contra o que se pensa, o elefante. (...)



2. Não creio que algum de nós, antigos combatentes,  tenha posto a vista em cima de búfalos e elefantes, durante a guerra... A não ser talvez o "básico de Bambadinca" que, contava-se, um dia, quando estava de sentinela, acordou todo o quartel e as tabancas à volta, aos tiros de G3 em posição de rajada... 

 Interpelado pelo graduado que fazia a ronda, jurou que tinha visto uma manada de elefantes junto ao arame farpado... Em Angola e Mooçambique talvez fosse mais fácil, na época,  encontrar elefantes em plena natureza...

Tanto o elefante como o búfalo são hoje animais rarosquer nas savanas quer nas florestas da Guiné-Bissau. (Vd. infografias acima reproduzidas). E, teoricamente, estão protegidos por lei.  Mas a caça furtiva e sobretudo o abate das árvores de grande porte são dois dos factores apontados pelo IBAP (Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas, da Guiné-Bissau)  para o desaparecimento progressivo (e se calhar irreversível) destas e doutras espécies de animais de grande porte, emblemáticos,  e que, no passado, existiam em abundância.

Acrescente-se os seus nomes tradicionais nalgumas das línguas dos povos da Guiné-Bissau:


O nome científico do búfalo é Syncerus manus planiceros (Bly); em crioulo é Bufre;  em balanta, Impungde; em fula, Edá; e Siô, me mandinga.



Quanto ao elefante: o nome científico é Loxodonta cyclotis (Matsch). Os fulas chamam-lhe Nhiuá; para o futa.fula é Maubá; em madinga diz-se Samom; em manjaco, Olom; em papel, Oinga; e em saracolé, Turé.

_____________

Notas do editor:

(*) Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d (Disponível em formato pdf, aqui, no sítio do IBAP ,
https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf)

(**) Vd. poste de 31 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22951: Antologia (83): O Cativeiro dos Bichos, conto de Artur Augusto Silva (Cabo Verde, 1912 - Guiné-Bissau, 1983), escrito na Prisão de Caxias, em 1966, e que era uma fabulosa fábula que tinha também uma contundente crítica, implícita, à hipócrita política colonial do Governo Português da época

(***) Último poste da série > 10 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22794: Fauna & flora (17): três animais das fábulas guineenses: o leão, o lobo (hiena) e a lebre

Vd. poste anterior > 24 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22401: Fauna & flora (16): Répteis da Guiné-Bissau que é preciso conhecer e proteger: 2 crocodilos, o crocodilo-do-Nilo (Lagarto) e o Lagarto preto; e duas linguanas (a de água e de mato)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22952: Notas de leitura (1415): "Guerra da Guiné", da autoria do Coronel Fernando Policarpo; Quidnovi, 2006 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro 2019:

Queridos amigos,

Devemos ao Coronel Fernando Policarpo a única obra divulgativa sobre a Guerra da Guiné. A estrutura da súmula é escorreita, mas hoje é duvidoso que as grandes linhas que ele enuncia tenham a consistência que manda o rigor histórico. 

Primeiro, sabe-se hoje mais sobre os acontecimentos que antecederam o ataque ao quartel de Tite, em 20 de janeiro de 1963, a subversão, mesmo na sua fase armada, já existia. 

Segundo, manter uma linguagem profundamente crítica para o período da governação Schulz, e quase que abençoando toda a governação Spínola, mais do que uma deformação dos acontecimentos é não apreciar os meios de que um e outro dispuseram e muito menos ter em conta a gradual qualidade de armamento do PAIGC. Oxalá o Coronel Fernando Policarpo reveja o seu livro, é indispensável que os leigos disponham de uma obra clara e sintética à mão, coisa que hoje as livrarias não dispõem para oferecer.

Um abraço do
Mário



As duas edições da Guerra da Guiné pelo Coronel Fernando Policarpo

Beja Santos

A 1.ª edição da "Guerra da Guiné", da autoria do Coronel Fernando Policarpo é de 2006, Quidnovi, faz-se igualmente menção à Academia Portuguesa de História. 

É uma obra com bom grafismo, ilustrações a propósito, elaborada para grande divulgação, contempla dados essenciais e em extratexto apresenta referências a personalidades que têm a ver com a História da Guiné como Honório Barreto ou Teixeira Pinto, Marcello Caetano e Spínola, Alpoim Calvão e Marcelino da Mata, Raúl Folques e Carlos de Azeredo, Carlos Fabião, há menções à Casa Gouveia, ao Massacre do Pidjiquiti, a Amílcar Cabral, Luís Cabral, Nino Vieira, Rafael Barbosa, a Guiné como berço do MFA.

Fernando Policarpo, atendendo à natureza do projeto divulgativo, soube atender ao essencial: Conferência de Berlim, a partilha de África e os desafios postos ao Governo Português; a ascensão dos nacionalismos africanos e o papel da ONU ao longo de todo este grande combate político; o essencial da História da Guiné, as caraterísticas físicas do território, a sua economia, as suas etnias; a fundação do MFA e o percurso de Amílcar Cabral, organização das forças de guerrilha; o autor estabelece duas fases para o conflito: de 1963 a 1968, de 1968 a 1974, hoje sabe-se que esta arrumação é alvo de controvérsia; explica-se o elementar das manifestações da subversão, a principal implantação do PAIGC no interior do território e a resposta das Forças Armadas; a narrativa é linear se bem que por força da condensação o autor não destrinça a fase preparatória da subversão na natureza da ocupação e o arranque da beligerância, acontece que a passagem de Louro de Sousa para Arnaldo Schulz é feita e precisa de ser clarificada de acordo com os meios disponíveis e pela situação, de um modo geral obliterada, da divisão das populações e até da diáspora para os países limítrofes, redesenhou-se um território e em função dele, com população fixada ou por razões meramente de estratégia militar, criaram-se destacamentos, ao longo de todo este período como na chamada segunda fase do conflito, enquanto se manteve uma grande constância no equipamento usado pelas forças portuguesas os guerrilheiros foram gradualmente sendo dotados de melhor equipamento, tudo se ia complicando pelo poder de iniciativa das forças guerrilheiras, aos poucos, as forças fixadas no solo foram sendo obrigadas a uma rotina desgastante e a uma vigilância perpétua, o que condicionava largamente o seu poder de iniciativa. 

Podem tecer-se comentários às respostas estratégicas de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz face à pulverização das populações, ao separar das águas, mas não é correto dizer-se que os comandos militares, até 1968, cederam sempre a iniciativa aos guerrilheiros, deixando-se ir a reboque da sucessão de incursões bem sucedidas, permitindo a criação de bases avançadas permanentes, denunciando ao inimigo uma incontornável incapacidade de lidar com a nova realidade militar; a Comissão para o Estudos das Campanhas de África tornou pública em 2016 a Resenha Histórico-Militar referente aos aspetos da atividade operacional na Guiné, aí fica bem claro que houve iniciativas ofensivas, de pendor dissuasor, havia que proteger populações, itinerários, deu-se a resposta compatível com os meios, provavelmente sem o toque de asa que pode levar a guerrilha a ceder; esta contextualização só virá a ficar elucidada quando se proceder à investigação científica do que foram os quatro anos do mandato de Arnaldo Schulz.

O Coronel Fernando Policarpo enfoca a segunda fase do conflito e a orientação de Spínola, não deixa de informar que se multiplicaram os meios e os efetivos de tropas especiais e que apareceu dinheiro para aldeamentos estratégicos, alargou-se a propaganda, etc. O autor fala da procura da solução política, da operação Mar Verde, da progressiva africanização da guerra (há um grande mito sobre esta africanização, como se não viesse do passado um CIM – Centro de Instrução Militar que em Bolama fabricava unidades de caçadores nativos e milícias, procedeu-se à reciclagem da polícia administrativa, o que se seguiu foi a formação de companhias de caçadores e, separadamente, a formação de companhias de comandos e fuzileiros).

Em 1971, escreve o autor, a política de concentração da população nos aldeamentos estratégicos tinha provocado a desertificação de áreas geográficas consideráveis, mas fora do arame farpado a insegurança era total. Contudo, bem vistas as coisas, esta insegurança já vinha do passado, fora do arame farpado, regra geral, era terra de ninguém, a insegurança tocava a guerrilha e a contraguerrilha. E diz também o autor que recrudesciam as flagelações e que os militares apresentavam um elevado grau de desgaste físico e psicológico (como se no passado este quadro não fosse semelhante). 

E diz igualmente o autor que, contrariamente ao desgaste e lassidão evidenciados pelas tropas portuguesas, o PAIGC demonstrava enorme pujança operacional. Fica-se sem entendimento de quais os milagres produzidos pela estratégia de Spínola. Este desentende-se com Marcello Caetano, dá-se o assassinato de Amílcar Cabral, a guerra recrudesce, entram os mísseis terra-ar em ação. E assim termina o autor: 

“Não nos parece polémico concluir que no caso concreto do teatro de operações da Guiné a revolução ocorrida em Portugal, no dia 25 de Abril, foi providencial pois, tendo em conta a progressiva degradação da situação militar, era previsível o colapso do exército português num período relativamente curto, que poderia oscilar entre seis meses a um ano, dependendo essa incerteza apenas do facto do Comando-Chefe ignorar se o PAIGC iria, ou não, introduzir no teatro de operações novos sistemas de armas e meios de mobilidade que permitissem evoluir para operações do tipo convencional, como já Spínola antevira um ano antes”.

A nova edição da obra data de 2010, é também da Quidnovi e da Academia Portuguesa de História, é seguramente o mesmo texto com muito menos imagens, infelizmente a revisão deixou passar muitas gralhas, e não atualiza a bibliografia. 

O Coronel Fernando Policarpo continua a ser o autor da única versão de grande divulgação da Guerra da Guiné, daqui lhe deixamos o apelo para que, à luz dos estudos mais recentes, reatualize a sua obra, a opinião pública precisa ter uma fonte informativa bem fundamentada.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22946: Notas de leitura (1414): Depoimentos de combatentes cabo-verdianos na Guiné: André Corsino Tolentino e outros (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22951: Antologia (83): O Cativeiro dos Bichos, conto de Artur Augusto Silva (Cabo Verde, 1912 - Guiné-Bissau, 1983), escrito na Prisão de Caxias, em 1966, e que era uma fabulosa fábula que tinha também uma contundente crítica, implícita, à hipócrita política colonial do Governo Português da época


Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro > c. 1957 > O pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), com os filhos, da esquerda para a direita, João, Iko (já falecido) e Carlos (1949-2014). Cortesia de João Schwarz da Silva, que nos diz que a data deve ser "provavelmente 1957"... Teria então o Pepito (, nascido em Bissau, em 1949) os seus oito anos... Esta casa será durante alguns anos, até à morte do Pepito, a sede da Tabanca de São Martinho do Porto...

Foto (e legenda): © João Schwarz da Silva (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Bissau > Contracapa do livro de contos, de Artur Augusto Silva, O Cativeiro dos Bichos  (edição de autor, Bissau, 2006 ).  Na realidade, tratou-se de uma edição dos três filhos do autor (Henrique, João e Carlos Schwarz, em homenagem à memória, ao talento e ao exmplo cívico do seu pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), que viveu na Guiné-Bissau, de 1949 a 1966, e depois, de 1976 até à data da sua morte.
 

1. Porque muitos dos nossos leitores mais recentes, nunca ouviram falar sequer do seu nome, aqui vai um pequeno apontamento biográfico sobre o autor deste livro de contos, Artur Augusto Silva (1912-1983) (, que tem 32 referências no nosso blogue). 

Para quem quiser ter uma informação mais detalhada e contextualizada, ver aqui a sua biografia, profusamente ilustrada, da autoria do seu filho João Schwarz da Silva, na sua página, Des Gents Intéressants" (em francês e em português).

Artur Augusto Silva


(i) Nasceu a 14 de Outubro de 1912, em Cabo Verde, na Ilha da Brava, "a ilha dos poetas, das flores e das mulheres bonitas", a ilha que foi também po berço do grande poeta Eugénio Tavares (1867-1930);

(ii) ainda estudante, foi director da revista Momento, revista que pretendia ser a réplica lisboeta da Presença, de Coimbra, e onde se propunha abrir uma Tribuna Livre com outros jovens escritores e intelectuais, "em que livremente se discutisse e todos pudessem falar";

(iii) na Metrópole (como então se dizia), "publicou vários artigos, fez reportagens, dirigiu saraus literários, organizou exposições de arte moderna, promoveu conferências culturais na Casa da Imprensa, na Sociedade Nacional de Belas Artes e em vários outros locais de Portugal";

(iv) licenciou-se em Direito em 1938, pela Universidade de Lisboa;

(v) em 1939, partiu para Angola onde trabalhou como Secretário do Governador Geral;

(vi) de 1941 a 1949 exerceu advocacia em Lisboa, em Alcobaça e em Porto de Mós, na região da Estremadura: dessa experiência, humana e profissional, colheu o autor matéria-prima para alguns dos seus contos, publicados no livro "O Cativeiro dos Bichos", como o Zé Faneca, pescador da Nazaré;

(vii) em 1949, partiu para a Guiné onde foi advogado, notário e substituto do Delegado do Procurador da República;

(viii) foi também Membro do Centro de Estudos da Guiné, juntamente com António Carneiro mas também com  Amílcar Cabral (de quem era grande amigo e com quem viajou várias vezes);

(ix) participou, em 1949, na criação do Colégio-Liceu de Bissau, onde a sua esposa, dra. Clara Schwarz da Silva, foi professora;

(x) visitou vários países africanos, recolhendo elementos que mais tarde lhe serviriam para escrever, entre outros livros, Os Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas, tendo-se tornado um especialista em direito consuetudinário;

(xi) cidadão empenhado, africano nacionalista, jurista corajoso, fez questão de defender presos políticos guineenses, muitos deles seus amigos "ou que passaram a sê-lo, acusados de sedição pela potência colonial"; mais concretamente, "foi defensor em 61 julgamentos, um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações";

(xii) em 26 de agosto de 1966,  foi preso pela PIDE, ao chegar ao aeroporto de Lisboa, situção violenta e arbitrária que ele recordará sempre  "com dor e revolta";

(xiii) esteve preso em Caxias, durante 4 meses, sem culpa formada;

(xiii) em 23 de dezembro de 1966, "por intervenção de Marcelo Caetano e de outros responsáveis políticos, que embora discordassem das suas ideias políticas o admiravam como homem de carácter, foi libertado, mas proibiram-lhe que regressasse à Guiné, sendo-lhe fixada residência em Lisboa";

(xiv) em 1967, "Marcelo Caetano, convidou-o para ir trabalhar como advogado na Companhia de Seguros Bonança. Também Adriano Moreira o convidou para leccionar no Instituto de Ciências Ultramarinas, o que ele recusou, fazendo ver ao portador do convite a incoerência de o terem prendido pelas suas ideias sobre o colonialismo português e depois o convidarem para leccionar matérias relacionadas com Africa".

(xv) em 1976, de visita à nova República da Guiné-Bissau, foi convidado pelo então Presidente Luís Cabral para trabalhar como juiz no Supremo Tribunal de Justiça;

(xvi) foi professor de Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau;

(xvii) faleceu em Bissau, a 11 de Julho de 1983, com 70 anos.


2. Em homenagem ao autor, à sua esposa, Clara Schwarz (1915-2016) (que foi durante anos a decana da Tabanca Grande), e aos filhos de ambos,  Iko, já falecido, João Schwarz da Silva (que vive em Paris, e é também nosso grã-tabanqueiro) e  Carlos Schwarz da Silva, Bissau, 1949 - Lisboa, 2012), o nosso querido e saudoso Pepito (cofundador e histórico líder da AD - Acção para o Desenvolvimento), republicamos aquele que é um dos contos que mais gostamos deste livro de contos, e que deu o título à obra, "o Cativeiro dos Bichos" (pp. 57/63).

Trata-se uma fabulosa fábula (, se nos é permitido  o pleonasmo) do tempo em que os animais falavam, e que, escrito em 1966, na Prisão de Caxias, tinha também uma contundente crítica,  implícita,   ao sistema colonial, à sua política e à sua justiça; recorde-se que na época era governador (e comandante-chefe) da Guiné o General Arnaldo Schulz, o mesmo que o expulsou da sua tão amada terra de adopção,  e que o mandou prender, à chegada a Lisboa, através do longo braço armado da PIDE, e que se depois se opôs ao seu regresso à Guiné: em ofício da subedelegação da PIDE de Bissau, de 19/12/1966, é transmitida ao Diretor-Geral da PIDE a opinião do Governador de que "aquele Senhor não deve voltar à Guiné, pelo menos enquanto se mantiver o terrorismo" (sic).

A propósito das "fábulas guineenses", veja-se também a série que temos estado a reproduzir, a partir do livro  "Lendas e contos da Guiné-Bissau", da autoria de J. Carlos M. Fortunato ("Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.],  s/l, Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017,  102 pp,  ISBN 978-989-8661-68-5 (*`*)

Recorde-se que na cultura dos mais diversos povos as fábulas  (, contos populares,) são também uma forma, indireta, de denunciar e criticar  os abusos do poder dos mais fortes.   Muitas delas, incluindo as  fábulas guineenses,  encerram lições segundo  as quais os animais mais fortes, como o leão ou o "lobo" (hiena), podem ser  vencidos pela "audácia", "coragem",  "inteligência" e "cooperação" dos mais fracos. 



O Cativeiro dos Bichos (pp. 57-63)

por Artur Augusto Silva  (*)


A história que ides ler foi-me contada na tabanca de Quebo, no sertão da terra dos fulas, por um homem chamado Umarú Só, velho para além de toda a idade e que por ser velho e sábio conhecia os segredos do mundo e as suas maravilhas.

Vou narrá-la por palavras minhas, porque sei que não me perdoariam o uso daquele estilo floreado, exuberante, por vezes difuso mas sempre poético que os fulas usam para contar uma história.

Houve um tempo em que todos os seres viviam na mais foi perfeita harmonia e a paz reinava por toda a parte. Isto passou-se antes de ter nascido uma garça chamada Macute e que ficará para sempre como o anjo mau que perverteu o mundo.

Foi o caso que numa manhã de sol, quando as manadas de búfalos pastavam nas lalas verdejantes de Bambadinca, uma garça ainda nova e inexperiente, ao esburgar com o bico as carraças de um búfalo, picou-o profundamente, o que o levou a dar um sacão com a cauda, sacão que apanhou a garça e a fez cair !

As coisas teriam ficado por aqui se não fora a garça Macute que, de longe, presenciou o caso e porque queria tornar-se raínha das aves, logo engendrou um plano que a conduzisse à satisfação dos seus desejos.

Andou de terra em terra convocando uma grande reunião de todos os bichos que voam para tomarem conhecimento da maior afronta que jamais fora praticada sobre um ser vivente.

Chegado o dia da reunião, ali se encontrou toda a bicharada que povoa os ares, 
desde a águia-real, de peito branco e palavra e bico adunco, até ao colibri que é mais pequeno que a pequena flor. Vieram os papagaios vestidos de cinzento e peitilho vermelho, vieram todos os patos, desde o marreco ao ferrão, vieram as galinhas, incluindo as perdizes e as galinhas da Guiné todas louçãs na sua vestimenta preta de bolas brancas, vieram os mergulhões de longo bico plumagem verde, azul, preta e branca, veio toda a casta de pardalada que enxameia os céus, vieram as abetardas no seu voo lento e majestoso e, por fim, chegaram as borboletas no seu voo saltitante e colorido.

Reunidos todos, a garça Macute declarou que era necessário escolher um presidente que dirigisse os trabalhos mas, quando esperava ser investida no cargo, teve a desilusão de ver que optavam pela águia-real.

A águia-real soltou três assobios e declarou aberta a assembleia.

Logo a garça Macute levantou uma questão prévia:
– Vejo aqui as nossas boas amigas, as avestruzes, mas afigura-se-me que elas não são aves. Com efeito, desde que que o mundo é mundo, não há notícia de que uma avestruz tenha voado. Elas fazem parte dos bichos que andam e, por isso, não devem tomar parte da nossa reunião.

Todas as garças grasnaram em sinal de assentimento e estabeleceu-se um certo burburinho, prontamente reprimido pelo presidente que declarou ir pôr po caso à votação.

A coruja, sábia reconhecida por todos, pediu a palavra e disse:
– O problema posto pela nossa companheira, a garça, não é novo e muitas têm sido as opiniões ventiladas sem que se chegue a qualquer conclusão. Se é verdade que a avestruz tem asas, não é menos certo que nunca se serve delas para voar. Em minha opinião, devem ser classificadas entre os bichos que andam e não entre os que voam.

Como, após tão sábio resumo, ninguém quisesse usar da palavra, a águia pôs o caso à votação, e por maioria esmagadora foi decidido que as avestruzes não eram aves, mas sim bichos que andam.

Então a águia convidou a garça a dizer do motivo da reunião, e Macute começou:
– As aves são neste mundo em que vivemos, os animais mais nobres e mais valentes. Nunca uma de nós sofreu qualquer vexame ou insulto sem que imediatamente respondesse. Ora, devo dizer-vos que é com o coração oprimido de indignação e raiva que vos vou contar que há dias, na bolanha de Bambadinca, uma de nós, precisamente uma garça, foi vítima de agressão por parte de um búfalo. Devo acrescentar que o caso não pode ficar assim e por isso proponho que se declare guerra sem quartel a todos os bichos que andam.

Uma vozearia infernal atroou os ares e os abutres eram, de entre todas as aves, quem mais grita fazia, apoiando tão dignos sentimentos.

Um pardalito que estava presente, voltou-se para um jagudi que mostras de grande contentamento e ainda disse:
– O que vocês querem é que haja guerra para poderem comer a carne dos que morrem.

Logo o jagudi, gritando traidor, deu-lhe uma sapatada em três tempos o engoliu.
- Calma! Calma! - gritava a águia-real, receosa de não ter mão na assembleia.

Serenados um pouco os espíritos, a águia deu a palavra ao primeiro orador inscrito, o periquito. Este começou por dizer que a afronta fora grave mas, em seu entender, deveria averiguar-se primeiro se as coisas se tinham passado conforme o relato da garça, porque não via razão para que um búfalo magoasse uma garça, sem qualquer razão. Propunha, pois, uma comissão de inquérito.

O papagaio, segundo orador, citou alguns precedentes em que o comportamento dos bichos que andavam para com os bichos que voam demosntrava crueldade e propôs que o caso fosse levado ao conhecimento do bicho homem que possui discernimento mais do que suficiente para resolver o conflito.

As corujas apoiaram e depois de muitos oradores terem falado, foi resolvido levar o caso ao bicho homem. Formada a comissão que se avistaria com o bicho homem, dissolveu-se a assembleia, no meio de grande excitação.

O papagaio, como falador de grandes conhecimentos, presidia à comissão de queixa, a qual se dirigiu ao bicho homem para fazer as suas lamúrias.

Ouviu o bicho homem as mágoas da passarada e ali jurou que iria investigar, para que se fizesse inteira e completa justiça. Voltassem daí a sete dias, para ouvir a sua resolução.

A passarada retirou-se em boa ordem e o bicho homem ficou a esfregar as mãos de contente porque em sua cabeça surgira um plano.

Mandou o bicho homem chamar o rei dos bichos que andam e que é, contra o que se pensa, o elefante.

Veio este acompanhado de numeroso séquito do qual fazia parte o seu melhor conselheiro, o macaco.

Exposto o motivo da convocação, logo ali declarou o elefante que as intenções da bicharada que anda eram pacíficas e que nunca, até aquele momento, qualquer dos seus súbditos fizera mal a outrem, facto que devia ser do conhecimento do bicho homem que tudo sabe.
– Na verdade, na verdade – retorquiu o homem. 
– Mas há uma queixa e é necessário saber quem tem razão. Parece-me que seria melhor que os bichos que andam nomeassem um delegado e os que voam, outro, para trazerem a minha presença, as alegações de cada parte e as provas a produzir...

Todos concordaram e ficou estabelecido que daí a sete dias e se realizaria o julgamento do caso.

Sete dias passados e à hora marcada, reuniu-se a grande assembleia e o bicho homem, dizendo que ambas as partes lhe mereciam o maior respeito e consideração e que, assim, não podia dar a direita a um e a esquerda a outro, propõs que o representantre de cada parte ocupasse a direita durante meia hora e que a primeira posição fosse tirada à sorte.

Constituído o Tribunal, entraram o macaco como advogado, dos bichos que andam e mais vinte e sete testemunhas, logo seguido pelo papagaio, representante dos bichos que voam, com vinte e cinco testemunhas.

Historiou o homem o diferendo em poucas palavras e pediu ao papagaio, como advogado da parte acusadora, que dissesse da sua justiça.

Falou o papagaio com perfeita dicção e clareza, citando vários confrades seus e algumas palavras que ouvira aos homens, o que lhe valeu aplausos até dos bichos que andam. 

Empertigou-se o macaco, abriu os braços como já vira em comícios do bicho homem e analisou, um por um, os argumentos do papagaio e a sua queixa. Falou no amor, na justiça piedade, em todos os sentimentos nobres e a tal ponto comoveu a bicharada que voa, fez chorar um pardal estouvado e brincalhão como todos os pardais.

Exposta a questão, iniciou o bicho homem a audição das testemunhas e quer as de acusação, quer as de defesa, declararam nada saber do assunto.

Concedida novamente a palavra aos advogados, estes excederam-se em citações: foram épicos, heróicos, patéticos, fizeram chorar a assembleia e, logo a seguir fizeram-na rir desabridamente e foi numa das suas tiradas mais sublimes que o macaco, demonstrando rara intuição científica, classificou o homem de seu primo. O Chimpanzé que estava seguindo a peroração nos menores detalhes, comentou em à parte: primo, mas degenerado.

Depois desta afirmação solene do macaco, os jornais e revistas que o bicho homem publica, começaram-na citando obstinadamente, pelo que hoje é ponto assente a existência de tal parentesco.

O bicho homem suspendeu a sessão por uma hora, ao cabo da qual reentrou para ler a sentença. Era uma longa peça de considerandos e que começava por afirmar que "em virtude de se não ter provado a queixa dos bichos que voam, mas convindo fazer justiça, profiro a seguinte sentença: Julgo a acusação improcedente mas, tendo em atençao que a paz é um dever indeclinável de todos os espíritos sãos, e para poder reservá-la, determino que me sejam entregues como reféns e para garantia da paz futura, um animal de cada uma das espécies que voam que andam".

Eliminava magnanimamente custas, dada e manifesta pobreza das partes.

Todos animais, tanto os que voam como os que andam, aplaudiram delirantemente tão sagaz decisão e só o macaco, fiado no parentesco com o bicho homem, quis recorrer da decisão, alegando que "começara a escravatura".

Ninguém o quis ouvir, a decisão ficou sem recurso (recurso para quem? perguntava o papagaio) e o bicho homem começou encaminhando a bicharada para currais e capoeiras previamente instalados por sua indústria.

A verdade é que com o correr dos anos as palavras do macaco tiveram plena comprovação, pois o bicho homem nunca mais soltou nenhum dos reféns e porque estes se reproduziam e o bicho homem não tinha com que alimentá-los, passou a comer deles cada vez com mais apetite.

Se acontecia alguém perguntar ao homem a razão de tão prolongado cativeiro, respondia: como querem que eu os liberte se ainda ontem vi um milhafre pilhar um rato e comê-lo em três tempos? É com sacrifício, com muito grande sacrifício que dou de comer à bicharada, mas mesmo com sacrifício devo manter a minha palavra honrada e a minha justiça proverbial.

É certo que ensinei os bois a trabalhar para mim; é certo que como a carne dos bichos e uso das suas penas e da sua pele em utensílios que fabrico, mas não é menos verdade que todos devem conhecer a minha isenção. Estou esperando que os bichos consigam uma promoção social que os habilite a entrar no concerto dos seres civilizados para, então, lhes dar a liberdade que eu desejo mais do que eles.

Se a história é verdadeira, não posso assegurá-lo pois que os factos passaram-se há muitos anos e não conheci o bicho homem que fez tal justiça; mas, porque Umarú Só é pessoa séria, incapaz de inventar, estou em crer que eles se verificaram conforme a narrativa.

(Prisão de Caxias, 1966) (***)

 [Revisão / fixação de texto, incluindo negritos,  para efeitos de publicação deste poste: LG, com a devida vénia ]



Arbitrariamente detido pelo PIDE em 26 de agosto de 1966, ao chegar ao aeroporto de Lisboa, acusado de "exercer actividades contra a segurança do Estado" (sic),  esteve preso em Caxias 4 meses, sem culpa fomada. Foi solto em 26 de dezembro, sem julgamento, por ordem do subdiretor da PIDE, José Barreto Sacchetti.  Repare-se no primeiro documento acima, a assinatura, perfeitamente legível, do agente da PIDE que deteve o advogado Artur Augusto Silva: Benedito Pereira André (que em 1974 era chefe de brigada; terá morrido recentemente, aos 89 anos).


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Notas do edtor:

(*) Vd. poste de 20 de maio de  2006 > Guiné 63/74 - P775: Antologia (38): O cativeiro dos bichos de Artur Augusto Silva (Luís Graça)