Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > A unidade que esteve mais temp em Guileje, 20 meses e seis dias... O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, eveacuado para o HM 241, em Bissau. Nesta época ainda não existiam os Helicópteros Alouettes III...
Fotos: © Alberto Pires (Teco)./ AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > As três peças de artilharia, de calibre 11,4 cm, ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma.
Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das três peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma. A CCAÇ 3325 foi subtituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje, a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973)
Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das três peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma. A CCAÇ 3325 foi subtituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje, a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973)
Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Direitos reservados.
A CCAV 8350 foi a unidade, a seguir à CCAÇ 1477, que esteve menos tempo em Guideje: 6 meses e 1 dias (de 21/11/72 a 22/5/73). Onze companhias passaram por Guileje, desde Fevereiro de 1964: as CCAÇ 495, 726, 1424, 1477, a CART 1613, a CCAÇ 2316, a CART 2410, as CCAÇ 2617, 3325, 3477, e, por fim, a CCAV 8350...
Infogravura: © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados
1. Mensagem, de 29 de Outubro últumo, do Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350 (Guileje, 1972/73), um dos últimos membra entrar na nossa Tabanca Grande (*):
Olá, meus amigos
Tal como prometido no meu mail de de 27 de Outubro, passo a reescrever em formato normal o mail em devido tempo [ 30 de Agosto] enviado sob o título "Ainda e sempre Guileje". (**).
Olá, amigos:
Chamo-me Victor Alfaiate, [sou técnico de contas,] e era o já muitas vezes referido neste Blogue, Furriel de Transmissões da CCav 8350 - Piratas do Guileje, quando da retirada de 22 de Maio de 1973.
Há cerca de dois anos que acompanho regularmente o Blogue e, fundamentalmente, porque acho que relembrar factos que se pretendem esquecidos, quando recordados, ainda nos emocionam e fazem sofrer, embora não acredite que quem viveu aquele inferno alguma vez consiga esquecê-lo, havia decidido, mesmo quando o meu nome foi citado por mais de uma vez, não intervir numa discussão que considero inútil e que certamente não conduzirá nunca a qualquer conclusão.
De facto, haverá sempre quem concorde e quem discorde, especialmente porque não estiveram lá, com a decisão tomada pelo Sr. Major Coutinho e Lima, fazem-se comparações com situações que não são de modo algum comparáveis porque totalmente diferentes, fazem-se sondagens com intuitos que desconheço, mandam-se palpites e bitaites sem qualquer fundamento e com total desconhecimento de causa, porque não estiveram lá, pois se tivessem vivido a situação em si pensariam certamente de outra maneira.
No entanto, e como sei que o assunto vai ser objecto de nova abordagem na série "A Guerra" que a RTP vai exibir brevemente, achei por bem tentar esclarecer e rebater algumas das opiniões aqui formuladas, algumas bastante pertinentes, outras nem tanto e outras ainda, no meu modesto entender, autênticas calinadas.
Isto porque decidir (neste caso opinar) em seara alheia é sempre muito fácil, difícil é tomar a decisão certa na hora certa, e análises posteriores feitas principalmente por quem não viveu as situações poderão muitas vezes conduzir a julgamentos em praça pública com os consequentes prejuízos para as pessoas intervenientes. Sem pretender tirar a ninguém o direito de opinião, bom seria que quem não viveu a situação se deixasse de palpites e bitaites.
Eu estive lá e estou totalmente de acordo com o abandono de Guileje.
Confesso não ter lido ainda o livro do Sr. Major Coutinho e Lima, penitencio-me de tal omissão, mas como me encontro ausente do país não me foi possível adquiri-lo. No entanto como pessoa séria e honesta que é, penso que terá narrado a realidade dos factos efectivamente ocorridos, pelo que e correndo o risco de vir a ser algo polémico e até talvez injusto, não posso deixar de considerar que, contrariando algumas das teses aqui defendidas, é minha opinião pessoal, só a mim responsabilizando portanto, que a actuação da Força Aérea no que respeita ao apoio a Guileje deixou muito a desejar, para não a considerar mesmo completamente ineficaz.
Passo a explicar:
1ª. Fase - Até 25 de Março de 1973 (queda do avião do Sr. Tenente Pessoa)
A acção da Força Aérea no Guileje limitava-se às acções de rotina como fazia em todo o território da Guiné que, sendo de certo modo importantes, não podem de modo algum ser consideradas indispensáveis:
Entrega de Correio
Uma ou duas vezes por semana os senhores pilotos eram, como já referiu o meu camarada Manuel Reis, recebidos na pista por menina fardada, garrafa de whisky e gelo. Bebiam um copo, deixavam o correio e partiam para outro aquartelamento. Todos sabemos como o correio era importante para quem vivia ou sobrevivia naqueles buracos isolados, mas a realidade é que depois de 25 de Março nunca mais foram a Guileje entregar correio e sobrevivemos.
Protecção as colunas
Os senhores Pilotos chegavam a Guileje por volta das 09,30h. (os pelotões estavam no mato desde as 06,00h da manhã). Aterravam o avião DO-27 na pista e deslocavam-se para o Bar de oficiais ou para o gabinete do comando onde passavam a manhã a cavaquear e a beber uns copos. Por volta das 11,00 h levantavam vôo, sobrevoavam a coluna e aterravam novamente até a chegada da mesma o que se verificava por volta das 13,00 h. Após o que ou almoçavam ou regressavam de imediato a Bissau. (No Guileje não havia ar condicionado). Como efeito dissuasor poderão ter tido alguma importância, mas a realidade é que até 18 de Maio nunca houve qualquer problema com as colunas realizadas, pelo que a sua acção foi praticamente nula. Aliás para a coluna de 18 de Maio e para as realizadas anteriormente não houve qualquer espécie de apoio aéreo.
2ª. Fase - Após 25 de Março de 1973:
No início de Maio o Sr. General Spínola deslocou-se a Guileje para dar conhecimento de que, devido ao aparecimento dos mísseis, a Força Aérea deixaria de efectuar tais acções rotineiras, que tivéssemos paciência com os atrasos de correio, mas que ao mesmo tempo estivéssemos descansados porque o apoio aéreo em caso de ataques do PAIGC e as evacuações de doentes ou feridos estariam sempre garantidas.
Nada mais falso.
18 de Maio de 1973 - 07,00 horas
Dois grupos de combate e o pelotão de milícias que se deslocavam para fazer protecção a uma coluna de reabastecimento são fortemente emboscados a cerca de 2 Km do quartel. É pedido apoio aéreo que é recusado com a alegação de que as condições atmosféricas ou climatéricas não permitiam o levantamento dos aviões. Concluindo: As temperaturas no Guileje estavam demasiado quentes.
18 de Maio de 1973 - 08,30 horas
É pedida evacuação para os feridos na emboscada que entretanto haviam sido trazidos para o quartel. Não houve, como se sabe, qualquer evacuação e um dos feridos, o Cabo Rabaço, faleceu na enfermaria de Guileje cerca de três a quatro horas depois, quando - se a evacuação tivesse sido efectuada, como nos havia sido prometido - , em cerca de 40 minutos estaria no hospital de Bissau. Poderia ter morrido na mesma, nunca o saberemos, mas a realidade é que os efeitos psicológicos sobre a restante guarnição não teriam sido tão nefastos como foram. Ver morrer um amigo naquelas condições destrói de imediato quaisquer defesas psicológicas que qualquer ser humano naquelas circunstâncias ainda possa ter. De um modo geral todos nos sentimos de imediato abandonados à nossa sorte.
Como é sabido, as evacuações só foram efectuadas no dia seguinte por via fluvial para Gadamael e daí para Cacine onde então a Força Aérea os foi buscar, só não morrendo mais ninguém porque felizmente , embora alguns feridos fossem graves, a gravidade não era suficiente para lhes provocar a morte.
21 de Maio à tarde:
Já iremos ao diálogo por mim travado com o Sr Tenente Martins de Matos, mas como não tínhamos transmissões uma vez que as antenas exteriores da rede Racal tinham sido todas destruídas e sempre que tentávamos repará-las éramos de imediato corridos a ataques de RPG, ao entardecer foi-nos prometido que sempre que possível seriam efectuados vôos de reconhecimento para se ir tomando conhecimento do decorrer da situação.
Nova mentira.
Não sei se a Força Aérea teria meios para efectuar vôos nocturnos, possivelmente não, mas a realidade é que nunca mais vimos ou ouvimos qualquer avião a sobrevoar Guileje que, como se sabe, foi abandonado no dia seguinte sem que fosse possível comunicar o facto a ninguém, uma vez que apesar das diversas tentativas de transmissão feitas pela rede AVP-1 a mensagem nunca chegou a ser transmitida. O que se não verificaria se, ao amanhecer, tal como nos haviua sido prometido, a Força Aérea se tivesse deslocado a Guileje num dos tais vôos de reconhecimento.
Posto isto vamos ao famigerado dialogo do B-52, uma vez que o Sr. tTenente Martins de Matos apenas o refere na parte que lhe interessa para defesa da sua tese de que Guileje não estava cercado, quase me fazendo parecer um apanhado do clima que não dizia coisa com coisa.
21 de Maio - Meio da manhã:
Mais uma flagelação. Mais um pedido de apoio aéreo. Chegam dois aviões, sabemos que eram dois pelo ruído que faziam, porque nem sequer os víamos tal a altitude a que voavam.
O Sr. tenente pergunta-me porque motivo a artilharia não respondia ao fogo do PAIGC, pergunta a que efectivamente respondi, que era para não referenciar o quartel.
Desculpa esfarrapada.
Qualquer pessoa minimamente inteligente teria percebido que se tratava de uma desculpa, pois se todos os impactos das granadas do PAIGC se verificavam praticamente dentro do perímetro do aquartelamento, este estava mais que referenciado pelo que os motivos teriam que ser forçosamente outros. O que se passava é que estávamos convictos de que as nossas transmissões com o avião eram escutadas pelas forças inimigas e não podíamos dizer que não respondíamos com artilharia porque pura e simplesmente não tinhamos artilharia.
Como é sabido, os senhores de Bissau haviam ordenado a substituição dos 11,4 (3) pelos obus 14 (2), um deles inoperacional e o outro desregulado, retirando os 11,4 para os quais havia bastantes munições antes de se proceder à regulação dos 14, regulação essa que certamente nunca seria efectuada pois para tal era necessária observação aérea e, como é sabido, se a Força Aérea não ia fazer evacuações muito menos deslocaria um avião a Guileje para fazer observação aérea.
Acresce ainda o facto do numero de munições existentes em Guileje para os 14 ser bastante diminuto. As munições estavam em Gadamael para virem nas colunas que nunca chegaram a realizar-se. Tivéssemos nós os 11,4 e outro galo cantaria certamente, pois o alferes Santos, o Paiva e o Queiroz teriam tratado do assunto de outra maneira. Agora com o 14 só se fosse para fazer barulho pois os efeitos práticos seriam nulos.
De seguida o Sr. tenente pergunta-me de onde estávamos a ser atacados a que respondi que não sabia uma vez que elas choviam de e por todo o lado e que inclusivamente naquele momento estávamos a ser flagelados, pelo que seria fácil ele verificar de onde vinham as saídas (os tipos estavam mesmo à vontade e gozavam connoscp, a Força Aérea por cima e eles a atacar ao mesmo tempo. Daí a minha afirmação inicial sobre a ineficácia da Força Aérea.
O Sr. Tenente respondeu-me que não via nada, ao que retorqui que à altitude a que se encontrava era impossível ver alguma coisa, pois se nós não viamos os aviões que eram tão grandes como é que eles, àquela altitude, poderiam ver alguma coisa no meio da mata, portanto que bombardeasse as matas em redor do aquartelamento. Então, soube-o agora, o Sr. tenente irritou-se e respondeu com raiva que ia ali comprar um B-52 (Bombardeiro norte-americano) para fazer isso e já voltava. Claro que a resposta teve que ser imediata e disse-lhe que fosse antes comprar um C... Não gostou da resposta e ameaçou:
- Veja como fala que aqui é um largo e dois estreitos (tenente-coronel).
Apenas lhe respondi:
- Sou só furriel mas estou a levar nos cornos.
Depois disto não houve mais qualquer conversa com os aviões, penso que terão largado as bombas, onde não sei, e regressado ao ar condicionado de Bissau.
Agora não posso deixar de referir que talvez o Sr. Tenente tenha dito "veja como fala que aqui é um dois estreitos" (Tenente) que era efectivamente o seu posto. Não creio que se fizesse passar por aquilo que não era. É possível, mas ao longo destes trinta e seis anos sempre estive convicto de ter falado com um Sr. Tenente-Coronel.
Este diálogo foi presenciado por todos os operadores de rádio que comigo se encontravam no posto de transmissões, permitam-me que os referencie como os sete magníficos das transmissões: o Antunes; o Carriço; o Lopes; o Carlinhos; o Pires; o Silva e o Faustino. E ainda pelo meu amigo Cabo Cripto Carvalho.
Quanto à boca do Colaço de que, com tal resposta teria borrado o fato todo, quero esclarecê-lo que ao fim de quatro dias naquele inferno já não ha mais nada para borrar, as borradas já foram todas feitas, já estamos por tudo.
Passados todos estes anos não posso deixar de fazer ao Sr. Tenente Martins de Matos duas simples perguntas:
(i) Raiva ... Porquê? ....... Por ter deixado as loirinhas geladas e o ar condicionado de Bissalanca? Nós não tinhamos ar condicionado, loirinhas há 4 dias só quentes e estavamos a levar porrada. O Sr. Não entendeu isso.
(ii) Ameaças... Para quê?. Davam-me uma porrada e mandavam-me para o Guileje que era o quartel para onde, como ja foi referido, mandavam os correcios. Já lá estava.
Diz o Sr. tenente que num só dia foram efectuadas sete ou oito operações sobre Guileje. Pergunto quais foram os resultados práticos dessas operações? Para mim: nenhuns, como se viu, continuámos a ser atacados, sem que os atacantes, como ficou demonstrado, mostrassem qualquer receio da Força Aérea.
É com base no que atrás deixo relatado que, como referi , considero que a actuação da Força Aérea no apoio a Guileje não foi a mais adequada, primando ainda por uma completa ineficácia. Por culpa de quem? Não sei, mas acho que mais alguma coisa poderia e deveria ter sido feita. Aliás tinha-nos sido prometido.
Quanto à Força Aérea estamos conversados.
Amanhã enviarei a 2ª. parte do mail referenciado.
Um Abraço.
Victor Alfaiate
2. Segunda (e última) parte do texto "Ainda e sempre Guileje", enviada a 29 de Outubro último
Olá meus amigos
Passo a reescrever, tal como me foi solicitado, em formato normal, a 2ª. parte do meu mail "Ainda e Sempre Guileje", que no inicio de Setembro havia remetido e que não pôde ser publicado por ser todo escrito em maiúsculas.
Passemos agora a outros pontos, talvez ainda mais polémicos, mas que, como verão têm, na minha opinião, um certo fundamento.
Como é sabido, desde o final de 1972, inicio de 1973, que andávamos a ser alertados para a possibilidade de intensificação das acções do PAIGC na zona sul da Guiné. Como Furriel de Transmissões da Companhia, tinha conhecimento de muitas coisas.
Porquê então desarmar Guileje, retirando-lhe a Artilharia ao substituir os 11,4 pelos [obuses] 14, inoperacionais e desregulados? Porquê retirar os 11,4 antes de se instalarem devidamente os 14? E Munições? Havia muitas para os 11,4 mas eram praticamente inexistentes para os 14. Estavam em Gadamael para irem nas colunas e nunca chegaram a Guileje.
Era sabido que durante a época das chuvas Guileje ficaria isolado por alguns meses, havendo necessidade de nos meses de Maio e Junho se efectuarem colunas quase diárias com vista ao reabastecimento de víveres e munições que permitissem à guarnição subsistir durante tal período de isolamento.
Porquê então foi negado o apoio de tropas especiais que permitissem a efectivação de tais colunas de reabastecimento? As guarnições de Guileje e Gadamael não tinham condições para, por si só, concretizarem tais operações. Como poderiam ainda, como aqui tem sido defendido, efectuar os normais patrulhamentos se estavam totalmente empenhadas nas colunas? Responda quem souber.
Para os que defendem que seria possível a manutenção do aquartelamento
Efectivamente os abrigos ainda resistiriam mais alguns dias às flagelações do PAIGC. É um facto. Convém no entanto referir que tais abrigos estavam dimensionados para instalar um grupo de combate, cerca de 30 homens, mas que praticamente haviam sido tomados de assalto pela população, que na tabanca não tinha as mesmas condições de segurança, pelo que havia abrigos onde conviviam dia e noite mais de 150 pessoas, incluindo crianças que nem à rua vinham fazer as mais elementares necessidades fisiológicas.
Já imaginaram o ambiente de calor e cheiro nauseabundo existente em tais abrigos ao fim de 4 dias? E se fosse ao fim de 10 dias? Seriam autênticos focos de infecções de paludismo, malária e outras doenças. Alguém duvida?
Felizmente no Posto de transmissões não vivemos tal situação, uma vez que o mesmo, com cobertura de chapas de zinco que após as primeiras flagelações estava mais perfurada que um queijo suíço, tinha uma cave (abrigo) com cobertura de troncos de palmeira, alguns já meio podres mas sob os quais nos abrigávamos quando das flagelações e que nos protegia dos estilhaços, porque se alguma granada lhe acertasse em cheio certamente iríamos todos desta para melhor.
Mas sempre preferíamos estar ali , com menos segurança que nos abrigos onde o ambiente era verdadeiramente insustentável. Aliás o Furriel que morreu em Guileje teve a infelicidade de se tentar abrigar no abrigo do morteiro, que não tinha as mesmas condições de segurança e sobre o qual caiu uma granada, cujo rebentamento, para além de lhe provocar a morte, ainda danificou uma das paredes do posto de rádio, uma vez que tal abrigo se situava relativamente próximo.
Abastecimentos:
Como também já foi por demais referido, os depósitos de géneros e a cozinha estavam totalmente destruídos e com eles a maioria dos géneros armazenados, incluindo rações de combate. Os silos de arroz da população tinham ardido. Como alimentar então durante mais dias cerca de 800 pessoas?
E água? Como também é sabido e nunca é demais referir Guileje não possuía nenhum poço. O existente era a cerca de 4 Kms. Quem iria buscá-la ? Não podemos esquecer que não havia qualquer tipo de evacuações a partir de Guileje e uma das primeiras acções da guerrilha seria certamente tentar impedir o acesso ao poço. Que fazer em caso de contactos de que resultassem mortos e feridos? Os feridos morreriam certamente por falta de evacuação e os mortos teriam que ser enterrados lá.
Transmissões:
Uma das medidas existentes na Guiné era manter o Posto de Rádio em escuta permanente, existindo no Guileje dois tipos de rádio: O "Racal" com um alcance considerável, mas que necessitava de antenas exteriores e o "AVP-1" com um alcance bastante reduzido.
Como é sabido as antenas exteriores foram totalmente destruídas e sempre que tentávamos repará-las éramos de imediato atacados com RPG, pelo que não tivemos possibilidade de o fazer. Como contactar então com o exterior ou permitir que alguém nos contactasse para tomar conhecimento da situação existente? Se qualquer Grupo de Combate tentasse sair, como fazer com as transmissões? Quando do regresso do Sr. Major Coutinho e Lima a Guileje, na tarde do dia 21 de Maio, como não havia contacto rádio, quando se viram vultos ao fundo da pista, a primeira reacção foi correr para as valas pois pensou-se que eram as forças do PAIGC que iriam atacar o quartel.
Como sobreviver mais dez ou quinze dias em tal situação, pois seria este o espaço de tempo mínimo necessário para que os Senhores de Bissau se apercebessem da real situação existente em Guileje e eventualmente se decidissem pelo envio de reforços e mantimentos. Se o PAIGC não nos tivesse entretanto capturado ou chacinado a todos, o que encontrariam esses reforços quando eventualmente conseguissem chegar a Guileje? O que duvido! Um número ilimitado de mortos. Uma guarnição totalmente destruída quer física quer psicologicamente. E não tenhamos dúvidas, as baixas sofridas pelas tropas que eventualmente nos tentassem socorrer seriam certamente em número muito superior as sofridas em Guidaje e Gadamael, porque, ninguém duvide, o PAIGC estava em força nas matas de Guileje.
Para os que defendem que Guileje nunca esteve cercado
Pergunta-se:
- Quem atacou a população quando pretendeu ir à agua aos poços da bolanha a cerca de 1 Km. do quartel?
- Onde estavam os grupos que fizeram a emboscada de 18 de Maio? Certamente se mantiveram no terreno. Ninguém me convence do contrário.
- Quem nos atacava com RPG, sempre que tentávamos proceder à reparação das antenas das transmissões? Deixaram-nos baixar os mastros e sempre que tentávamos levantá-los éramos de imediato atacados com RPG. Não era minha especialidade mas penso que o alcance de tal arma não é assim tão grande, o que prova que estavam relativamente próximos.
- Quem entrou em Guileje três dias depois do seu abandono, se os bombardeamentos continuaram por mais 3 dias certamente teriam que estar próximos para entrarem de imediato nas instalações após acabarem os bombardeamentos. Se não estivessem próximos demorariam com certeza mais dias a chegar. Não seria assim?
- Se essas forças não estivessem já no terreno, como seria possível ao PAIGC organizar tão rapidamente o ataque a Gadamael? Será que deslocou forças de Guidaje? Certamente que não. Será que foram as forças que atacaram Guileje que posteriormente atacaram Gadamael? Certamente que sim. Ou será que a emboscada sofrida pelo Grupo do Sr. Alferes Branco de que resultaram 4 mortos e os ataques de que foram vitimas as tropas pára-quedistas nunca existiram? Foram simples obras de ficção?
Não. O que se passava é que as forças do PAIGC estavam em força nas matas que circundavam Guileje.
Para os que acham haver vozes discordantes da decisão tomada pelo Sr. Major Coutinho e Lima.
- Quero apenas referir que tenho ido a todos os convívios organizados ao longo destes anos, só falhei o último porque se realizou ao domingo e não tinha qualquer vôo que me permitisse estar aqui na 2ª. Feira e nunca encontrei nenhum militar que não estivesse de acordo com o abandono de Guileje, antes pelo contrário em todos há um certo sentimento de gratidão pelo Sr. Major Coutinho e Lima pois se reconhece que com tal decisão lhes terá possivelmente salvo a vida. Apareceu agora o Constantino Costa que pelos vistos terá um certo sentimento de frustração por não ter sido herói (morto).
Agora e analisando tudo o que atrás deixei referido, não posso deixar de colocar uma dúvida que há alguns anos me assaltou e que nunca comentei com ninguém, vou fazê-lo hoje pela 1ª. vez:
Será que alguma vez alguém pretendeu salvar Guileje e a sua guarniçao???
Todos sabemos que o Comando Chefe considerava que militarmente não havia solução para a Guerra da Guiné.
Todos sabemos que o mesmo preconizava uma solução política para o diferendo.
Todos sabemos que Lisboa não aceitava essa situação preferindo a derrota militar a negociação com os apelidados terroristas.
Todos sabemos que os valores da política se sobrepõem muitas vezes aos valores humanos.
Temos exemplos recentes que comprovam a teoria de que os fins justificam os meios.
Que impacto teria na opinião píblica nacional e internacional o massacre de uma guarnição???
Não seria Lisboa obrigada a aceitar as novas regras do jogo???
Sei que parece uma barbaridade , mas só assim se justificariam muitas das omissões, na minha opinião , ocorridas no socorro a Guileje.
São dúvidas para que nunca obteremos certamente respostas mas que nos deixam muito que pensar.
Gadamael
Sobre Gadamael e os seus heróis, talvez escreva um dia, porque contrariamente a muitos que aqui têm vindo fazer comentários sem ter vivido qualquer situação de guerra e sem querer ser herói que nunca fui, confesso que sempre tive muito medo, mas também estive lá - sempre. Estava no posto de rádio quando os capitães comandantes de companhia foram feridos, estive no espaldão do obus 14 a ajudar o alferes Santos quando a respectiva secção foi dizimada, estive com o 1º Sargento Dias Ferreira a comer um cabritinho grelhado que a população tinha abandonado bem regadinho com vinho tinto "Dão-Grão Vasco", salvo milagrosamente do depósito de géneros que entretanto também havia sido destruído.
Um abraço.
Victor Alfaiate
3. Comentários adicionais: Luís Graça, Miguel Pessoa
3.1. Mensagem de L.G. enviada ao Victor Alfaiate, de 9 de Novembro:
Com a franqueza, frontalidade e camaradagem que nos caracteriza, dou-te conhecimento do mail que enviei ao Miguel Pessoa, o ex-tenente Pilav abatido em 25 de Março de 1973, à tua porta, e a resposta que ele me deu... Duas das pessoas visadas no teu texto são nossos camaradas da FAP, ele, o António Martins de Matos (AMM), mas também por tabela o Victor Tavares, que era mecânico (Melech) e a Giselda, enfermeira-pára-quedista, entre outros... De facto, as generalizações são sempre abusivas... No fundo, o que importa é contares a tua versão, com serenidade e objectividade... Gostaria mesmo que entrasses paa o nosso blogue, pela porta grande e que no nosso próximo se sentisses confortável a dar um abraço a estes nossos camaradas da FAP... Fica bem. Um abraço. Luís.
3.2. Mail do Luís Graça para o Miguel Pessoa:
Miguel:
Vou-te pedir que te ponhas no papel, não de actor (da guerra colonial), mas de "provedor do leitor do blogue" (que tem as suas regras editoriais, etc.)...Queria que lesses o texto do Victor Alfaiate, que foi Fur Mil Trms dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) ao tempo da retirada do quartel... Estava lá também quando foste abatido... Há referências à tua "pessoa, e sobretudo ao tex-tenente pilav AMM e, genericamente, à rapaziada valente da BA 12, que são no mínimo "deselegantes"... Mais: se não corresponderem aos factos, são provocadoras e insultuosas... Mas, por outro lado, representam uma das versões dos acontecimentos de Guileje...
Se tu e os teus camaradas acharem que o texto é INSULTUOSO, não o publicarei... Não consigo demover o Victor a corrigir as expressões a AMARELO... Ele vive no estrangeiro (Suíça ou coisa assim). E ainda reage a "quente" (é o problema de muita malta da guerra...). Se ele te conhecesse, a ti, ao AMM, à Giselda, ao Victor, etc., não escreveria isto neste estilo e tom (que, de facto, eu não aprecio nem quero promover)...Quero que o blogue conte "a verdade e só a verdade" (sem paninhos quentes...) mas também quero que seja um "escola de tolerância" e um "lugar de camaradagem"...
Lê só o texto dele e o meu, ambos de 29 de Outubro. Sê o mais sincero, franco e leal comigo. Um bj à Giselda. Aquele abraço para ti, com todo o meu apreço e amizade. Luís
3.3. Resposta do Miguel Pessoa:
Caro Luís
Plagiando o nosso camarigo Mexia Alves, parece-me que já dei o que tinha a dar para este peditório. Acho ridículo andarmos a querer arranjar entre nós culpados para aquilo que cada um, à sua maneira, sofreu há 35 anos atrás.
Entristece-me o estilo usado pelo Victor Alfaiate (que não conheço de qualquer lado - a não ser que tenha sido ele quem me deu pelo rádio o rumo para o sítio onde fui "abonado"...), mas teria sido óptimo que não tivesse "metido toda a gente no mesmo saco" e utilizado expressões que ofendem o brio profissional do pessoal envolvido.
Seria para mim fácil pôr-me de fora desta discussão. Entre 26MAR73 e 18AGO73 não voei na Guiné, antes tendo sido evacuado para Lisboa, onde recuperei das mazelas. Mas, mesmo de fora, não gosto de ver os meus camaradas a serem achincalhados com afirmações no mínimo deselegantes, para não dizer grosseiras. Exemplos:
Quando íamos ao Guileje (onde éramos sempre bem recebidos) era-nos oferecida uma bebida de boas-vindas. Por norma (e falo por mim e por alguns que conheço bem) aceitávamos uma lata de refrigerante (normalmente Coca-Cola ou 7-Up), evitando a ingestão de bebidas alcoólicas, o que seria prejudicial para a missão que efectuávamos. Daqui a pouco só falta dizer que íamos para lá embebedarmo-nos...
Quanto ao convívio com o Maior do aquartelamento, era uma questão de boa educação partilharmos um momento disponível com alguém em quem muitas vezes descobríamos interesses comuns e que, pela solidão em que se encontrava, encarava estes momentos como uma fuga ao seu quotidiano. Foi assim, por exemplo, que eu conheci o Cap [Mil] Quintas, então responsável pelo aquartelamento.
O ar condicionado referido pelo Ten Matos é uma figura de retórica - os nossos quartos não tinham ar condicionado, antes uma janela que estava geralmente aberta, protegida por uma rede de mosquiteiro. Ar condicionado só numa das salas da Esquadra, mas parece-me um bocado mesquinho, lá por alguns não poderem usufruir desse conforto, que os restantes tivessem que abdicar dele, "só para nivelar por baixo"... Ah, lamento dizê-lo, os nossos Fiats também tinham um sistema de ar condicionado - desculpem o luxo...
Qunto às "loiras frescas", eram produto a evitar durante as horas de serviço, pelos motivos já apontados atrás.
Ofensivo, dizer "o homem do rádio"? Olhem que eu não me ofendia se alguém dissesse "o homem do Fiat" ou "o tipo do Fiat", ou mesmo "o gajo do Fiat"...
Quanto à ineficácia da Força Aérea neste caso, utilizo as palavras do próprio Victor Alfaiate, pois também não reconheço competência para proferir essa afirmação a quem não tem conhecimento profundo do que se passava na casa dos outros... Sabe-se que numa guerra a ocupação do terreno é essencial para que ela possa evoluir a nosso favor. A aviação pode ajudar a ganhar a superioridade num dado momento, mas isso não resulta a médio e longo prazo se não houver o devido empenhamento das forças no terreno... Longe de mim apontar o dedo ao pessoal isolado no mato mas, por favor, não apontem o dedo para mim (nós, Força Aérea)! Será melhor procurarem noutro local...
As declarações do VA não me irritam mais do que outras anteriores, pois já estou habituado a ver as pessoas disfarçarem a sua inépcia descarregando a responsabilidade noutro que esteja mais à mão! E pensava eu que todos tínhamos sido vítimas desta guerra estuporada...
Um abraço. Miguel Pessoa
PS - Quanto aos comentários que envolvem o AMMatos, ele será a pessoa mais indicada para os analisar.
4. A publicação, na íntegra, do texto do Victor Alfaiate - que, profissionalmente, é técnico de contas - obteve o parecer favorável dos meus co-editores.
[Fixaçãode texto / revisão / bold / título: L.G.]
____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 4 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5403: Tabanca Grande (193): Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350 (Guileje, 1972/73)
(**) Vd. os últimos postes desta série, Dossie Guileje /Gadamael 1973:
24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)
3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)
14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)
5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)
23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)
31 comentários:
AMIGO E CAMARADA DE GUINÉ VICTOR ALFAIATE, QUE GRANDE E BOM RELATO QUE FAZES SOBRE OS ACONTECIMENTOS DE GUILEJE, DESDE QUE CHEGUEI HÁ GUINÉ EM SETEMBRO DE 73 QUE OUVIA FALAR DESSES ACONTECIMENTOS TRÁGICOS QUE VOCÊS PASSARAM EM GUILEJE, E SÓ UM CEGO É QUE NÃO VÊ QUE TUDO O QUE ESTÁ NO LIVRO DO CAMARADA COUTINHO E LIMA E TUDO O QUE ACABAS-TE DE DIZER NO NOSSO BLOGUE E TODA A VERDADE DO QUE SE PASSOU EM GUILEJE, SEMPRE DEFENDI O ABANDONO DE GUILEJE SÓ QUE QUANDO FALAVA NO BLOGUE LEVAVA LOGO NA CABEÇA DE CERTA GENTE QUE NÃO SABE OU NÃO QUERO SABER DA VERDADE, O PROBLEMA FOI TÃO FORTE QUE FIZERAM O NOSSO CAMARADA COUTINHO E LIMA ABANDONAR O BLOGUE E FOI O QUE FIZ QUANDO REFERI NO POSTE QUE AJUDEI O PAIGC COM COMBUSTÍVEL, TODA A GENTE DIZ QUE É UM BLOGUE ONDE SE RESPEITA A OPINIÃO DE CADA UM, MAS QUANDO A OPINIÃO É CONTRÁRIA, AQUI DEL-REI ATÉ HÁ FUZILAMENTOS,CAMARADA NÕ ME ALARGO MAIS,VICTOR EU TENHO O LIVRO DO AMIGO E CAMARADA COUTINHO E LIMA E NÃO ME IMPORTE DE O FAZER CHEGAR A TI COMO EMPRÉSTIMO VISTO QUE JÁ O LI, MANDA-ME UM EMAIL COM A TUA DIRECÇÃO QUE EU TE ENVIO. AMILCARJVENTURA@GMAIL.COM.
UM ABRAÇO DO TAMANHO DO MUNDO E UM FELIZ NATAL PARA TI E TUA FAMÍLIA.
Amílcar, afinal estás de volta, sinal de que felizmente não foste "fuzilado"...
Julgo que recorreste a um metáfora, para dramatizar a ideia de que, mesmo num espaço que se pretende livre e plural, feito por e para camaradas da Guiné, nem sempre é fácil sujeitarmo-nos ao escrutínio, à crítica, à avaliação dos outros...
A crítica entre pares, embora serena e objectiva, é sempre necessária... até para os "cegos" poderem ver, distinguir, analisar, compreender, explicar...
Mal dos grupos, das sociedades, dos povos e dos Estados que silenciam os do "contra", e impoem o pensamento único, a visão única (e logo totalitária) das coisas, dos acontecimentos, da história...
Não confundas, pois, discordância com fuzilamentos... Usaste uma expressão, forte, que eu não posso deixar passar em branco: "Quando a opinião é contrária, aqui el-rei, até há fuzilamentos"...
Enfim, devo ressalvar que estou aqui a expressar-me, não como editor (que não posso ou não devo) mas como membro da Tabanca Grande, como tu...
Por outro lado, e da última vez que falei, ao telefone com o Coutinho e Lima (como faço com outros camaradas), ele não me manifestou a intenção de "abandonar o blogue" (embora tenha feito um reparo a um texto dele que está há muito na "fila de espera" - prometi publicá-lo por estes dias, propícios à paz, à reflexão, à tolerância, à compaixão, etc.... Concluo, portanto, que estás mais actualizado do que eu...
Dito isto, congratulo-me com o facto de a nossa Tabanca ser já suficientemente GRANDE para nela cabermos todos, ou quase todos os que não se auto-excluem, e que aceitam que é possível, tal com na Guiné (que tem 32 etnias), haver um tabanca, 'pluri-étnica', com gente da Régua, do Porto, de Tomar, de Lisboa, de Silves, do Funchal, de Angra do Heroísmo, de Bissau, de Farim, de Mansoa, de Iemberém...
Um abraço aos dois (e já agora ao Coutinho e Lima, que apanha por tabela... mas que, quanto sei, apresentou recentemente na sua terra, lá no Minho, a 3ª edição do seu livro).
Aqui está um comentário com conta peso e medida, por quem vivenciou os acontecimentos. Escritos um pouco a quente.
Será que é possíve escrever a frio, apesdar do tempo passado, por quem viveu tão profundamente o drama?
Recordo um amigo de infancia que também viveu estes acontecimentos e os de Gadamael- o Fernando Nacimento,um dos "corrécios" atirado para lá de castigo. Hoje bastante perturbado, que se esconde e foge de falar do que viveu por lá.
Sem dúvida que foste corajoso ao escreveres a visão dos acontecimentos tão realista.
creio que é com testemunhos destes, retirada a carga emocional, que se faz história.
Bem hajas e continua, pois deves muita coisa para contar.
Caros amigos
Acabei de ter conhecimento deste post.
Confesso desde já ter ficado surpreendido pelo conteúdo, mais pelo facto de alguém me querer ofender e à organização a que pertenço, mais ainda por não ter sido alertado pelos editores do que se estava a preparar.
Penso ter o direito a uma resposta, a qual espero enviar até ao final da tarde.
um abraço
António Martins de Matos
Curioso o apoio incondicional do furriel Amílcar Ventura a este texto do furriel Victor Alfaiate. Cada um sabe as linhas com que se cose.
O Victor é um dos heróis que abandonou Guileje, de mala na mão, com mais 600 pessoas, rompendo o cerco dos homens do PAIGC que só três dias depois se aperceberam que os portugueses e a população já não estavam em Guileje.
O Amilcar Ventura é outro herói. É aquele rapaz de Pirada que desviava gasóleo da Nossas Tropas e ia entregar os bidons aos guerrilheiros do PAIGC para eles abastecerem as viaturas com que, apartir do Senegal, avançavam, carregados de material de guerra,para flagelar e atacar os nossos destacamentos e aquartelamentos de fronteira, tentando provocar a morte e a destruição entre as Nossas Tropas e as populações que connosco viviam.
Será que estou a dizer alguma mentira?
Se estou,por favor corrijam-me.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Curioso o apoio incondicional do furriel Amílcar Ventura a este texto do furriel Victor Alfaiate. Cada um sabe as linhas com que se cose.
O Victor é um dos heróis que abandonou Guileje, de mala na mão, com mais 600 pessoas, rompendo o cerco dos homens do PAIGC que só três dias depois se aperceberam que os portugueses e a população já não estavam em Guileje.
O Amilcar Ventura é outro herói. É aquele rapaz de Pirada que desviava gasóleo da Nossas Tropas e ia entregar os bidons aos guerrilheiros do PAIGC para eles abastecerem as viaturas com que, apartir do Senegal, avançavam, carregados de material de guerra,para flagelar e atacar os nossos destacamentos e aquartelamentos de fronteira, tentando provocar a morte e a destruição entre as Nossas Tropas e as populações que connosco viviam.
Será que estou a dizer alguma mentira?
Se estou,por favor corrijam-me.
Um abraço,
António Graça de Abreu
corrijo sim,quando abandonei Guileje, não vinha de mala na mão, porque infelizmente deixei lá tudo o que possuía. Vinha sim de Racal as costas. G3 na mão e camuflado que trazia no corpo, nada mais. Felizmente para ti e para muitos, não sabes o que isso é.
Já agora evitavas o comentário em duplicado, vimos logo a primeira.
Um abraço
Victor Alfaiate
Corrijo sim.
1º. - Não sou nem nunca quis ser herói.
2º. - Quando abandonei Guileje não vinha de mala na mão, porque infelizmente deixei lá tudo o que tinha. Vinha sim de RACAL as costas, G3 na mão e camuflado que trazia no corpo.
Felizmente para ti, certamente não passaste por situação idêntica.
Já agora evitavas o comentário em duplicado, vi logo à primeira.
Um abraço
Victor Alfaiate
Porque razão os comentários agressivos?
O tenente general já deu a sua versão da retirada de Guileje vista dos céus como ele muito bem disse.
Mas também há quem discorde, com ou sem razão, como ele a viu.
Agora surge o ex-furriel Victor Alfaiate a contar a sua situação vivida em terra e já há comentários críticos.
Mas em relação ao Victor Alfaiate com a excepção do Constantino, ainda não li não vi nada escrito dos que estavam em Guileje que possa pôr o mínimo de dúvida o que o Victor escreve no P5417.
Por isso que me perdoem aqueles que não concordam, mas continuo a crer nas mensagens dos que viveram aqueles momentos trágicos.
Um abraço Victor e obrigado por dares a conhecer a tua situação e dos teus nossos camaradas vivida no local.
Colaço.
Manuel Reis
Caro Amigo Alfaiate:
Mal mexe o tema Guileje, impera a troca de galhardetes e as piadas já gastas.
Não estás só. Contigo estão todos os camaradas que partilharam os mesmos momentos difíceis, com raras excepções, que só servem para confirmar a regra.
Falar na decisão tomada sobre Guileje é chover no molhado. As posições estão extremadas, nada a fazer.
Não concordo contigo na apreciação que fazes da actuação da F.A. Se é um dado inquestionável que, em Guilege, a sua ineficácia foi evidente, já o mesmo não se pode dizer da sua actuação em geral. Foram preciosos em algumas situações e a a sua limitação em meios humanos, materiais e de vôo fez apressar o fim da guerra na Guiné: A incapacidade das forças terrestres em controlar as situações mais difíceis, sem apoio aéreo, era complicado.
Gostei da pergunta que formulaste e das considerações que sobre ela teceste:"Será que alguma vez alguém pretendeu salvar Guileje e a sua guarnição"? Se recordarmos como se processou a anexação de Goa, Damão e Diu pela Índia encontramos um certo paralelismo.
Mas eu acrescento outra pergunta: Porque não foi TENTADA a reocupação de Guileje nesse mesmo dia?
O novo Comandante do COP5 já deu a sua justificação, quando foi inquirido no processo movido ao Coronel Coutinho e Lima. No entanto, com o devido respeito, permito-me discordar. O COP5 era formado pelos aquartelamentos de Guileje, Gadamael e Cacine e o seu Comandante, que às 10 horas tinha conhecimento da retirada e se encontrava em Gadamel, tinha tempo de sobra para reorganizar os grupos mais disponíveis e TENTAR a reocupação.A não existência de população permitia uma fácil acomodação nos abrigos e melhor movimentação.
Não pretendo atirar o odioso para cima dos outros, mas pimenta nos olhos dos outros é refesco e nos nossos arde...
Um abraço
Manuel Reis
Mas Reis, repara que eu friso bem que me refiro unicamente a actuação, da Força Aérea no apoio a Guilege, mais nada e correndo até o risco de ser injusto. não pondo nunca em causa a sua actuação no restante território. É a minha opinião e não vou alterá-la, sem que alguem me demonstre que não tenho razão.
UM abraço
Victor Alfaiate
Meu caro Alfaiate
A tua correcção parece-me correcta. Desculpa, vieste com o Racal às costas.
Mas há fotografias de alguns de vós, tiradas por vós, a abandonar calmamente Guileje numa fila comprida, com a população, em direcção a Gadamael de mala na mão. Não inventei nada, tão pouco o famoso cerco a Guileje.
Agora, sem nenhuma ironia. Eu estava em Mansoa no CAOP 1 (não tínhamos ar condicionado, tínhamos o Morés ali ao lado) quando vocês saíram de Guileje e reconheço o imenso sofrimento por
que passaram.A situação era difícil, quase insustentável. Aqui a diferença entre ti e mim está no quase.
Ainda muito pior passaram os camaradas de Guidage,(lá morreu um soldado meu!) com o ten.cor. Correia de Campos e depois Gadamael, com o meu bom amigo hoje general Manuel Monge, actual governador Civil de Beja. Dois militares do Quadro Permanente que honraram a farda que vestiam.
Não dou mais para este peditório, não volto a falar no assunto, mas para concluir de vez recordo que nem Guidage, nem Gadamael foram abandonadas.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Quanto a Guidage não quero nem devo pronunciar-me, não estive la.
Quanto a Gadamael será objecto de outro texto futuro, porque ai estive sempre e se não caíu foi porque o PAIGC na noite de 1 para 2 de Junho não quis, pois tinhamos sido todos apanhados a unha.
E se posteriormente não caíu não se deve ao teu bom amigo Sr. Capiãao Monge, mas sim ao facto de ter sido para lá deslocado a totalidade do Batalhão de Para-Quedistas, porque senão tinha caído mesmo.
Mas isso só sabe efectivamente quem lá esteve.
Um abraço.
Victor Alfaiate
Caro Victor Alfaite
Independentemente das razões para o abandono do Guileje, que não discuto mais, só aqui venho para te dizer, embora não tenha lá estado, que se Gadamael não caiu não foi porque o PAIGC não quis, porque ninguém é capaz de convencer ninguém que tendo o PAIGC a possibilidade de tomar um quartel com tropas portuguesas lá dentro não o fizesse.
Não o tomou porque aqueles que lá estavam, tu incluido pelos vistos, lutaram e resistiram.
Quanto á parte final de que só não caiu porque foram para lá oa Paraquedistas, devo lembrar que a tropa Paraquedista pertence ás Forças Armadas Portuguesas.
Futurologia é coisa para "videntes".
Abraço camarigo para ti e para todos
Caro amigo Alfaiate:
Se apenas te referes à ineficácia da actuação da Força Aérea em Guileje, estou de acordo contigo e isto foi testemunhado por todos nós.
Não está muito claro em algumas partes do teu texto.
Ficou o esclarecimento.
Um abraço
Manuel Reis
Manuel Reis
Caro amigo Mexia Alves pretendo apenas acrescentar algo ao que tu já sabes sobre Gadamael.
De facto se o PAIGC soubesse as condições de defesa, em que se encontrava Gadamael, no dia 1 de Junho de 73, tê-lo-iam tomado de assalto. Isto mesmo me é confirmado,em Cumbijã, depois do 25 de Abril, por Comissários políticos do PAIGC. Chegaram mesmo a admitir que foi o maior erro estratégico que cometeram, em toda a guerra. Claro que isto tem o valor que tem e não dou isto de barato.
Eu estava lá. Não houve luta, a nossa presença era carne para canhão.
Há alguns episódios dignos da nossa admiração, já relatados neste Blogue pelos amigos Seabra, Carvalho e agora Alfaiate.
Para fazeres uma pequena ideia,digo-te que não existiam no aquartelamento mais de 30 homens,dispersos pelas valas numa guarnição composta por mais de 400homens ( 2 companhias de quadrícula, dois grupos de milícias, 2 pelotões de artilharia e um pelotão de morteiros).
Quando cheguei do mato,no dia 1, de manhã, com 2 grupos de combate, encontrei um cenário de destruição, morte e desespero.
A meio da manhã do dia 1, com a evacuação dos dois C. Companhia, feridos, a ausência do Comandante do COP5 ( um Heli transportou-o na com o Comandante-Chefe) para Cacine, onde actuavam a partir daí,
Gadamael ficou sem Comando.
Para meu espanto fui responsabilizado pelo Comando de Gadamael, por algumas horas, segundo a opinião do Comandante do COP5!
Só ao Batalhão de Paraquedistas se deve a manutenção de Gadamael.
Já falei demais, amigo Mexia, mas nada disse que não tivesse presenciado.
Um abraço camarigo,
Manuel Reis
Boa Tarde Amigos Luis e Editores do Blog.
Fui alertado para este mail do Victor Alfaiate e defacto é,no minimo grosseiro!
Entre 71/73,algumas vezes ao Guileje,onde dormi algumas noites.O Victor esqueçe,ou não se quer lembrar,que por exemplo,os mecânicos da FAP,que não tinha essa formação nem eram obrigados a tal,corriam o risco a fazer evacuações salvar a vida de muitos,pondo em risco a sua própria vida.Nunca fui recebido por nenhuma menina,nem no Guileje nem outra qualquer pista.Nunca bebi, ou vi beber, bebidas alcoolicas aos meus companheiros de missão.Lembro a este Sr FURRIEL que o Nuno Almeida,mecânico da FAP,vive hoje com uma perna amputada por ir à Zona evacuar um militar.Esqueçe-se,ou não quer saber,que os Pilotos da FAP faziam diversas missões seguidas,muitas vezes sem cumprir as refeições.Mas para este Sr.FURRIEL o espaço aereo da Guiné devia ser só o Guileje.Como actualmente é Técnico de Contas,aconselho-o,se souber,assimilar a proporcionalidade de militares no terreno para os da FAP que tinham que assistir a toda a provincia.
Esqueçeu-se(a sua repulsa é tanta...)das Enfª Paraqª?
Por último devo dizer-lhe que conheci no Guileje o HOMEM E COMANDANTE mais correcto em toda a Guerra da Guiné Cap.Quintas.
Desejo~lhe um Feliz Natal e Um 2010 com revisão da matéria vivida no Guileje em relação ao pessoal da FAP
Caro Manuel Reis
Obrigado pela tua resposta e pela cordaliadade da mesma.
Dois ou três apontamentos.
O teu comentário vem confirmar para mim algo que eu vou percebendo em todas as histórias da Guiné, ou seja, que o PAIGC tinha bastante mais receio das tropas portuguesas do que estas do PAIGC.
Não é coisa nova e parece-me até "ancestral". lembro-me do ouvir relatos da India de quem lá esteve dizendo que as primeiras vagas de indianos a entrarem em Goa vinham nitidamente com muito medo e forçadas. Se é verdade não o posso dizer, mas foram vários os testemunhos que ouvi disso mesmo naquele tempo.
Veja-se que depois da saída do Guileje o PAIGC só entra passados três dias!
Por outro lado, o tal conhecimento que o PAIGC teria da situação, afinal não se comprova, o que significa sempre um factor surpresa.
Ainda dizer que não foi a primeira vez, nem será a última, que um pequeno punhado de homens se opõe com êxito ao inimigo.
De resto apreciações de comissários politicos, (como tu também afirmas), nada me dizem, pois por exemplo ainda não vi nunca ninguém do PAIGC assumir as suas derrotas no teatro de guerra.
O meu último comentário vai para a Força Aérea que sempre deu o seu melhor na Guiné, e ao que sei em Angola e Moçambique, e aos seus homens estou profundamente grato por tantas vidas que salvaram.
Abraço camarigo para ti Manuel Reis e para todos
Tenho o privilégio de ser amigo do Victor Alfaiate. Nas horas difíceis que tivemos juntos, pude apreciar a sua grande coragem e admiração que usou em benefício dos seus camaradas. Sou, além disso, testemunha presencial do facto de, em Gadamael, até como servente de artilharia improvisar ter actuado.
Dito isto, acho que a FAP - aqui representada pelo Victor Barata e pelo Miguel Pessoa - merece que lhe façam justiça.
Em Maio de 73, havia na Guiné seis pilotos de Fiat G91, incluíndo o Comandante da BA12 e o Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné. Entre 19 e 21 de Maio de 73, estes seis pilotos efectuaram, trinta passes de bombas (dezasseis em Guidage e catorze em Guileje), sendo que em 19MAI decorria a operação Ametista Real sobre o Cumbamori. São 5 voos de combate por piloto, o que representa um enorme esforço para as pessoas (incluíndo os especialistas da Base) e para o material. A estas acções há a acrescer, pelo menos três passes a metralhar, a baixa altitude, do Sr. Coronel (General) Lemos Ferreira sobre a Zona de Afiá-Mejo.
Sem a acção da tarde de 21MAI73, nesta área, duvido que fosse possível a retirada de Guileje.
Ademais a FAP não ia onde queria mas onde a mandavam. Sobretudo até onde a mandavam. E o problema de Guileje não se resolvia só, nem principalmente, com a Força Aérea.
João Seabra
Sobre a conversa do Victor Alfaiate com o António Martins Matos em que aquele terá pedido a este uma espécie de carpet bombing - correndo o risco de me tornar o pior dos maçadores (o que se repete), tenho ainda a dizer o seguinte:
Um piloto que presta apoio de fogo está em combate e tem o direito de esperar, das forças terrestres, indicações sobre o provável rumo do ataque, dadas por uma pessoa responsável.
Sendo certo que a função das Transmissões - passe o truísmo - é transmitir, a "pessoa responsável", em tais circunstâncias, não pode ser o pobre do Furriel de Transmissões.
Não era, à época, como já aqui foi dito, o "2º Comandante". Mas, fosse o 3º, o 4º ou o 5º, se tivesse motivos para supor que o Maior não estava no posto de transmissões, deveria lá ter aparecido. Fui compelido ao serviço militar na Guiné, mas ninguém me obrigaria (suponho) a ser oficial.
Está portanto resolvido o mistério do ATAP das 8,15horas do dia 21MAI73: eu não fui ao posto de transmissões nem que fosse para dizer: "Simbéli" ou "Kandiafara", ou indicar a posição de morteiro 120mm da noite anterior (rumo 100º distância 4-4,5 Km).
Outra questão é a de saber se se pode generalizar sobre o que aconteceu nesta ocasião.
Parece que não, atentas as declarações do Sr. Coronel Lemos Ferreira:
"Esta guarnição (Guileje) indicou sempre, como áreas a bater, Zonas entre Guileje e a fronteira, situadas a distâncias bastante diferentes, embora dentro do mesmo alinhamento geral...No caso particular deste último voo, foi a única vez que me pediram apoio na direcção oposta-Mejo".
João Seabra
P.S.: No comentário anterior, onde está "admiração" deveria estar "abnegação", e onde está "improvisar" deveria estar "improvisado".
Amigos
Não vou pronunciar-me sobre a retirada de Guileje, nem sequer fazer apreciações sobre a mesma, porquanto, não estive lá e felizmente não passei por esse pesadelo e nem sequer vou pronunciar-me sobre a tomada da decisão da retirada ou sobre a visão que cada um tem sobre esses momentos que viveu, deveras difíceis.
Pois cada um tem a sua própria visão dos factos.
Compreendo as diferentes reacções que cada camarada possa ter tido naquelas situações vividas, na medida em que, eu próprio passei por diferentes situações complicadas e tive reacções diferentes nesses momentos.
Dito isto, apenas quero salientar que não concordo com a expressão que se vem referindo “cerco de Guileje” porquanto, das provas documentais, documento escritos, fotografias, etc. resulta claro que não houve cerco ao aquartelamento de Guileje, tanto que, em lado algum li ou ouvi referências onde o IN estivesse posicionado durante o hipotético cerco.
Aliás, na audiência que um grupo de camaradas teve com o falecido Presidente Nino em 5 ou 6-3-2008 que se deslocaram à Guiné para participar no Simpósio de Guileje, onde estive presente, bem como, o Sr Cor Coutinho Lima, Luís Graça e outros, como não poderia deixar de ser, foi abordada a questão da retirada de Guilege.
Nessa audiência recordo que o Presidente Nino falou sobre os constantes bombardeamentos de artilharia do PAIGC ao aquartelamento de Guileje e disse também que tiveram conhecimento da retirada das NT do local posteriormente e que passados 3 dias foram lá com todas as cautelas possíveis, pois as NT poderiam ter deixado o local armadilhado.
Feito o reconhecimento da zona, retiraram sem efectuarem qualquer ocupação efectiva.
Em Março passado, estive novamente em Guilege, Gandembel, Candembe [corredor da morte] onde falei com um ex-Comandante que actuava na zona, o qual também acompanhou-nos durante o Simpósio ano passado e falámos sobre o tema.
Claramente lhe disse, argumentando com os testemunhos atrás invocados, que não tinha havido “cerco a Guileje” e ele concordou comigo.
Face aos testemunhos atrás mencionados, tenho para mim, que não existiu qualquer cerco a Guileje, salvo o devido respeito que é muito, por opiniões contrárias.
Com um abraço amigo, formulando desde já votos de um Santo Natal e um Feliz Ano Novo para todos os Bloguistas, seus familiares e amigos.
Carlos Silva
Ex-Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879
Respondendo ao Sr. Victor Barata (digo Sr. sem qualquer sentido depreciativo), quero apenas referir que até ao texto publicado, foram trocados vários mails com o Luís, donde ressalta que apenas me limitei a comentar a actuação da Força Aérea de uma forma Global no seu apoio a Guileje, não pondo nunca em causa o que foi feito noutros pontos do território, nem a actuação dos seus elementos.
Não posso no entanto deixar de referir que evacuações de Guileje, entre Novembro de 1972 e Maio de 1973, não foi feita nenhuma, a 1ª. vez que tal foi solicitado, não foram lá.
Desculpe, sem qualquer ponta de ironia, estou enganado, foi feita a evacuação do Sr. Tenente Pessoa, quando após o abate do seu avião o mesmo foi recuperado e trazido para Guileje, mas essa não foi solicitada por nós.
Um abraço
Victor Alfaiate.
Alias, para mim o assunto morre definitivamente aqui. Não penso voltar a fazer qualquer comentário ou escrever qualquer texto sobre a Guiné.
É a saída antes da entrada.
Tenho pena mas prefiro assim, já não tenho idade nem saúde para me enervar e chatear.
Continuem e transformem o Blogue o na tal cultura indiana que referi num dos tais mails enviados particularmente ao Luís, onde existem vacas sagradas que tem que permanecer intocáveis.
Eu como pertenço as castas mais baixas, afasto-me.
Um abraço de despedida a todos.
Victor Alfaiate
Caro Vitor Alfaiate;
Prometi não voltar ao assunto, Guiledje-Gadamael, mas desta vez, abro uma excepção para te dar a resposta que mereces, segundo o meu conceito.
Escreves rápido, mas dizes pouco. Usas de uma retórica viscosa e peçonhenta bem reveladora da tua faceta, mentirosa, relapsa e contumaz, próprias de uma vivência saloia e balofa.
Como bem sabes eu também fiz parte da CCa. 8350 e preveni-me para a possibilidade de aparecerem comunicações mirabolantes, omissas e deturpadas.
A falta de coragem de alguns levou a que se prestasse um mau serviço á Pátria.
Sibilinamente deixas escapar a ideia de que alguns militares alheios á ccav. 8350 foram os responsáveis pelo descalabro de Guiledje-Gadamael, deitando a mencha sobre homens de coragem, tantando enxovalhá-los de modo ignóbil.
Na tua mirabolante narrativa procuras ridicularizar alguns, mas naturalmente o ridiculo cai-te em cima, porque é fácil aos leitores contraditarem algumas das tuas afirmações.
Condescencer com a má fé ou, no minimo, com a tacanha falta de coerente inteligencia, para além de, imperdoávelmente, se negligenciar os valores militares, será dar credibilidade a quem não faz por a merecer.
Corre-se o risco de com tais figurantes - porta-vozes , se perder tempo, água e sabão.
Note-se que a (vossa)referida táctica se consubstancia na reiterada accção do "ataca e foge".
Não costumo fugir a uma boa polémica. Agora, ler alguns textos em que os termos utilizados roçam o insulto não agrada a ninguém.
Os teus argumentos estão desfalcados de um, curial e correcto fio condutor.
A lealdade, muito dificilmente se coadunará com a ardilosa (manhosa) ambiguidade permissiva de, calculados e preconcebidos "golpes de rins", que mais não consubstanciam que uma covarde, traiçoeira e enviesada, fuga, ás regras de uma séria polémica.
De resto a ausencia de seriedade, é notória na deliberada omissão de factos deveras importantes para desse modo permitir, e legitimar a deliberada fuga de Guiledje.
Fica assim demonstrada a superioridade moral de quem adopta tais procedimentos.
Por meu lado, aqui fica mais uma vez manifesto a minha maior relutância, se não, mesmo, repugnância, em voltar a contraditar as "aldrabices" que tais provocadores possam voltar a engendrar.
Quem assim procede, não merece crédito, nem respeito.
Será que, porventura, acreditas nas práticas extremistas que transformam uma mentira, mil vezes repetida, numa verdade?!
Desrespeita-te a ti próprio.
Cumprimentos.
Caro Amilcar Ventura;
"Vozes de burro não chegam ao ceu"
Cumprimentos
SÓ QUERO DIZER AOS CAMARADAS EDITORES
PARA SEREM IMPARCIAIS NOS COMENTÁRIOS
DOS NOSSOS CAMARADAS, NÃO PERCEBO O PORQUÊ DE UNS COMENTÁRIOS INSULTUOSOS
PARA COM ALGUNS CAMARADAS FICAM REGISTADOS E OUTROS SÃO LOGO RISCADOS
DO BLOGUE,ALGUMA COISA VAI MAL.
UM ABRAÇO AMIGO
Caro Constantino,
Num outro post tive a oportunidade de alertar que, como camarada na Guiné e combatente de Guilege que fostes, tinhas todo o direito ao contraditório e ao respeito.
São direitos que, afinal, todos temos.
Se condenei a forma pouco elegante como o ex-furriel Alfaiate se referiu a ti(e não só), não poderia, de forma alguma, deixar de fazer o mesmo em relação aos teus dois comentários aqui postados.
A elegância do que escrevemos passa, necessáriamente, pelo respeito que devemos uns aos outros. Independentemente das diferenças como encaramos as mesmas situações.
Saudações,
José Câmara
José da Câmara:
Aqui tens o Constantino no seu melhor!
Não tenho palavras para qualificar este discurso.
Um abraço amigo,
Manuel Reis
Palavras para quê!!!
Em comentários anteriores, relatei factos vividos em Gadamael, que confirmam a veracidade do que o Victor disse acerca das evacuações... «Furriel de Minas e Armadilhas de Espinho morreu porque "O monóculo" não permitia que os helis ali se deslocassem e assim se esvaiu a caminho de Cacine transportado num Sintex.»
Também relatei, que graças à Força Aérea (Fiats),tivemos algum descanso (tréguas)nos bombardeamentos massivos do PAIGC em Julho de 1973.
Disse ainda, que graças aos Paraquedistas, saímos ilesos de Gadamael...
Por último, quando chegámos a Gadamael, vi o Major Monge muito acabrunhado!
Saudações a todos e obrigado Victor pelo Racal...
Bernardo Godinho
Meus amigos. Este local devia ser utilizado para expor recordações vividas e não para ser usado como Feira de Vaidades por algumas pessoas. O que sofremos em Guileje, ou melhor, em memória dos que lá morreram ou ficaram feridos para toda a vida, e principalmente para aqueles que não se podem defender, devemos recordar passagens, que embora duras, tenham sido reais. Foi com esse sentimento que escrevi o meu blogue "Guileje3325-Vamos falar verdade". Tentar com a nossa experiência ali vivida, levar uma recordação verdadeira a todos, sem excepções. Sejamos sérios, e não valorizemos quem não merece ser valorizado. Os meus/nossos soldados merecem que digamos toda a verdade, pois eles, como nós, viveram no terreno a realidade.
Um abraço a todos.
Orlando Silva
Ex-Alferes Miliciano - "Cobra"
Enviar um comentário