Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19280: Parabéns a você (1537): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CART 3491 (Guiné, 1971/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19272: Parabéns a você (1536): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19279: (Ex)citações (347): Os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965, na frente norte, tempo em que a CCAÇ 675 ali se encontrava em quadrícula (José Eduardo Oliveira)
1. Em mensagem do dia 8 de Dezembro de 2018, o nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim,
1964/66), enviou-nos uma mensagem a propósito dos "Problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965", altura em que a CCAÇ 675 se encontrava em quadrícula na frente norte da Guiné.
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
OS PROBLEMAS DO PAIGC NA LOGÍSTICA DE SAÚDE EM 1965 (P19224)
ENTRE A LUCIDEZ E O DESESPERO DE LOURENÇO GOMES, RESPONSÁVEL PELA ÁREA DA SAÚDE NA FRENTE NORTE
O tema é de facto do meu tempo e da “frente” Norte da Guiné - a “minha” CCAÇ 675 esteve, entre Maio de 1964 e Abril de 1966, numa “quadrícula” com sede em Binta (a 20 kms. da sede do Batalhão em Farim).
E como Furriel Enfermeiro passei por muita coisa. Na guerra do “mato” e na paz do quartel.
Começo pelo meu conhecimento directo com a população nativa que vivia em Binta e em Guidage, que também pertencia à “minha” quadrícula.
Na nossa enfermaria de Binta tratámos alguns doentes com lepra, elefantíase, matacanha, malária, etc.
Refiro-me a “clientes” da população nativa porque no que respeita a militares o que mais tivemos foram casos de paludismo.
E apanhámos uma terrível epidemia de sarampo que matou dezenas de crianças da população civil em apenas um mês.
Também havia algum “folclore” nativo de doentes habituais da nossa enfermaria que se queixavam de “toco-toco”, para engolirem umas saborosas colheres de xarope para a tosse.
Os casos que atrás refiro dizem respeito a Binta.
Também me calharam algumas “estadias” em Guidage e confesso que as longas filas vindas de “pessoal” do Senegal ainda me estão na memória pelo sofrimento e desesperança daquela gente, que procurava junto da tropa alguma ajuda para as suas enfermidades. Lembro-me especialmente das mulheres, sempre carregadas de crianças famintas e esqueléticas!
A nossa vitória foi no segundo ano de comissão em que conseguimos recuperar população e “fazer” uma aldeia modelo, que chegou a ter mil habitantes.
Essa memória consta do meu livro “GOLPES DE MÃO´s”, editado em Abril de 2009.
E é tempo de referir os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 entre a lucidez e o desespero de Lourenço Gomes, responsável pela área da saúde na frente Norte.
Obviamente que os desconhecia à época mas deviam ser tremendos para “efectivos” que viviam na “clandestinidade”.
Se em estudos recentes a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que há menos de cinco médicos para cada grupo de 100 000 habitantes no país …as percentagens para os tempos de Lourenço Gomes deveriam ser negativas, para não dizer que seriam “abaixo de zero” !!!!
Os casos de malária afectam cerca de 9% da população.
A esperança de vida ao nascer vem crescendo desde 1990, mas continua a ser baixa. De acordo com a OMS, a esperança de vida para uma criança nascida em 2008 era de 49 anos. Apesar da redução de casos em países vizinhos, taxas de cólera foram notificadas em novembro de 2012, com 1500 casos apresentados e 9 mortes. Uma epidemia de cólera em 2008 na Guiné-Bissau afetou 14.222 pessoas e matou outras 225.
Em junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia do mundo, contendo dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países. Neste relatório foi apresentado que, em 2010, a taxa de mortalidade materna a cada 100.000 nascidos é de 1000 na Guiné-Bissau.
Por maior que fosse a lucidez de Lourenço Gomes em relação aos problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 o seu desespero deveria andar próximo dos 100% !
Grande abraço e até uma próxima.
José Eduardo Reis de Oliveira
JERO
PS. Natal Feliz e Haja Saúde.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
OS PROBLEMAS DO PAIGC NA LOGÍSTICA DE SAÚDE EM 1965 (P19224)
ENTRE A LUCIDEZ E O DESESPERO DE LOURENÇO GOMES, RESPONSÁVEL PELA ÁREA DA SAÚDE NA FRENTE NORTE
O tema é de facto do meu tempo e da “frente” Norte da Guiné - a “minha” CCAÇ 675 esteve, entre Maio de 1964 e Abril de 1966, numa “quadrícula” com sede em Binta (a 20 kms. da sede do Batalhão em Farim).
E como Furriel Enfermeiro passei por muita coisa. Na guerra do “mato” e na paz do quartel.
Começo pelo meu conhecimento directo com a população nativa que vivia em Binta e em Guidage, que também pertencia à “minha” quadrícula.
Na nossa enfermaria de Binta tratámos alguns doentes com lepra, elefantíase, matacanha, malária, etc.
Refiro-me a “clientes” da população nativa porque no que respeita a militares o que mais tivemos foram casos de paludismo.
E apanhámos uma terrível epidemia de sarampo que matou dezenas de crianças da população civil em apenas um mês.
Também havia algum “folclore” nativo de doentes habituais da nossa enfermaria que se queixavam de “toco-toco”, para engolirem umas saborosas colheres de xarope para a tosse.
Os casos que atrás refiro dizem respeito a Binta.
Também me calharam algumas “estadias” em Guidage e confesso que as longas filas vindas de “pessoal” do Senegal ainda me estão na memória pelo sofrimento e desesperança daquela gente, que procurava junto da tropa alguma ajuda para as suas enfermidades. Lembro-me especialmente das mulheres, sempre carregadas de crianças famintas e esqueléticas!
A nossa vitória foi no segundo ano de comissão em que conseguimos recuperar população e “fazer” uma aldeia modelo, que chegou a ter mil habitantes.
Essa memória consta do meu livro “GOLPES DE MÃO´s”, editado em Abril de 2009.
E é tempo de referir os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 entre a lucidez e o desespero de Lourenço Gomes, responsável pela área da saúde na frente Norte.
Obviamente que os desconhecia à época mas deviam ser tremendos para “efectivos” que viviam na “clandestinidade”.
Se em estudos recentes a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que há menos de cinco médicos para cada grupo de 100 000 habitantes no país …as percentagens para os tempos de Lourenço Gomes deveriam ser negativas, para não dizer que seriam “abaixo de zero” !!!!
Os casos de malária afectam cerca de 9% da população.
A esperança de vida ao nascer vem crescendo desde 1990, mas continua a ser baixa. De acordo com a OMS, a esperança de vida para uma criança nascida em 2008 era de 49 anos. Apesar da redução de casos em países vizinhos, taxas de cólera foram notificadas em novembro de 2012, com 1500 casos apresentados e 9 mortes. Uma epidemia de cólera em 2008 na Guiné-Bissau afetou 14.222 pessoas e matou outras 225.
Em junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia do mundo, contendo dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países. Neste relatório foi apresentado que, em 2010, a taxa de mortalidade materna a cada 100.000 nascidos é de 1000 na Guiné-Bissau.
Por maior que fosse a lucidez de Lourenço Gomes em relação aos problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 o seu desespero deveria andar próximo dos 100% !
Grande abraço e até uma próxima.
José Eduardo Reis de Oliveira
JERO
PS. Natal Feliz e Haja Saúde.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé
Guiné 61/74 - P19278: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LV: O hipopótamo que apareceu morto no rio São Domingos, afluente do rio Cacheu, precisamente há 50 anos
Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 1
Foto nº 3
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 11 de dezembro de 1968: o hipopótomo que apareceu morto no rio São Domingos, afluente do rio Cacheu
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)
CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:
T006 – UM HIPOPOTAMO EM SÃO DOMINGOS
T006 – UM HIPOPOTAMO EM SÃO DOMINGOS
I - Anotações e Introdução ao tema:
Um dia de Dezembro de 1968, mais propriamente no dia 11 de Dezembro, há 50 anos, apareceu no Rio São Domingos, que banha a povoação com o mesmo nome, um enorme hipopótamo que deu à costa, isto é veio parar ao nosso pequeno cais.
Todo o mundo se deslocou para ver a novidade, e não foi caso para menos, para mim, eu nunca tinha visto semelhante bicho, já morto e em estado de putrefacção.
O animal depois de feitas todas as vistorias que o assunto merecia, foi então carregado para uma GMC, ou então já nem me lembro bem, se foi mesmo arrastado pelo chão fora, e depois das cerimónias fúnebres compatíveis foi a enterrar em terrenos adjacentes ao nosso acampamento.
Ficou um cheiro nauseabundo, pois ainda lá ficou 1 ou 2 dias, não se sabendo a origem da morte, não foi esquartejado em peças e dividido pelas populações para consumo interno, matava a fome a muita gente, incluindo a tropa.
Ainda hoje, jaz lá no sítio a sua sepultura, sem direito a flores nem honras militares. Um episódio no mínimo curioso para todos, e para mim também.
II - Legendas das fotos:
F01 – O animal de costas e focinho para a frente, no cais de São Domingos no dia 11 de Dezembro de 1968;
F02 – O bicho virado ao contrário a ser preparado com cordas para o seu transporte, provavelmente no mesmo dia da sua ‘aparição’.
F03 – A GMC pronta para carregar, ou arrastar o enorme bicharoco, também no mesmo dia.
Em pé lá atrás em cima da GMC, eu e o alferes Figueiredo do Pel Rec, em 11Dez68.
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ1933 / RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
NOTA FINAL DO AUTOR:
# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #
Acabadas de Re-legendar, hoje, com as devidas alterações
Em, 2018-12-10
Virgílio Teixeira
Nota do editor:
Último poste da série > 6 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19262: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LIV: O aquartelamento de Piche, ao tempo da CCAV 1662
Último poste da série > 6 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19262: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LIV: O aquartelamento de Piche, ao tempo da CCAV 1662
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19277: Os nossos seres, saberes e lazeres (297): Ir a Monte Real, ao almoço de Natal da Tabanca do Centro, e ser abalroado por um camião na A8 a caminho de Aveiro (António Graça de Abreu)
O estado em que ficou o Hyundai, do António Graça de Abreu, vítima de acidente na A 8, em 28 de novembro de 2018, a caminho de Aveiro, depois de ter estado com os camaradas da Tabanca do Centro, no almoço de Natal.
Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do nosso camarada António Graça de Abreu, enviada em 3/12/2018, 1h50:
Um homem residente no Estoril dá aulas na Universidade de Aveiro e aproveita a quarta-feira para se juntar ao almoço de Cozido à Portuguesa, da D. Preciosa, com os fabulosos camaradas da Guiné, em Monte Real, Tabanca do Centro [, Vd. foto à esquerda: Monte Real, 28 de novembro de 2018; foto e legenda: cortesia de Miguel Pessoa, editor da revista Karas de Monte Real].
Dá depois umas voltas, vai a Vieira de Leiria, onde ainda tem família e, à noite, parte para Aveiro.
Um homem vai sossegado conduzindo o seu velho mas seguro Hyundai, na faixa direita de rodagem da A8, na viagem para a sua excelente Universidade. Noite escura. Um camião de onze toneladas não vê o Hyundai e entra pela traseira do carro a mais de 120 quilómetros por hora. O Hyundai ia a uns 100. O carro verde é projectado para fora da estrada, capota na vala lateral, bate na terra, desliza aos trambolhões durante mais de cem metros.
O pobre condutor, agarrado ao volante, procurar segurar-se dentro do habitáculo do Hyundai. O carro, aos tombos na berma da auto-estrada, resiste e acaba por parar na vala, em posição normal. Vidros partidos, saio pela janela. Estou vivo, não há sangue no meu corpo amassado pelo revoltear e enormes tropeções do veículo.
Chega o INEM, a polícia, bufo no balão, zero álcool, mas querem levar-me para o hospital. Não estou ferido, não parece haver nada partido, a não ser o automóvel. Estou vivo, a vida continua.
Na manhã seguinte, estou nas aulas com os meus alunos na Universidade de Aveiro, os deuses concederam-me a protecção divina que talvez eu mereça. E a Guiné deu-nos força, e coragem, e mais vida.
António Graça de Abreu
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19266: Os nossos seres, saberes e lazeres (296): Viagem à Holanda acima das águas (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P19276: Agenda cultural (664): 14.ª Tertúlia de Artes e Letras, dia 13 de Dezembro de 2018, pelas 15 horas no Clube Alto da Barra, comemorando os 50 anos de carreira literária de Manuel Barão da Cunha
C O N V I T E
14.ª Tertúlia de Artes e Letras
13 de Dezembro de 2018, 5.ª feira, 15h00,
Clube Alto da Barra
50 anos de carreira literária de Manuel Barão da Cunha
Estimados Sócio, Utentes e Convidados,
A Direção do CAB vem convidá-los para assistirem à 14.ª Tertúlia de Artes e Letras, coordenada pelo nosso sócio Cor. Dr. Manuel Barão da Cunha,
Temas:
"Tempo Africano, Aquelas longas horas", 5.ª edição, de Manuel Barão da Cunha, DG Edições; a 1.ª edição do livro Aquelas Longas Horas foi lançada há 50 anos, no Palácio da Independência; capa de Pedro Cunha;
"Radiografia Militar e os 4 DDDD?", do mesmo autor, de Âncora Editora e Programa Fim do Império; capa de Pedro Cunha.
Apresentação por General Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar e autor da nota prévia à 4.ª edição de Tempo Africano, de prefácio de Radiografia Militar e os 4 DDDD?, e de apresentação deste livro no Porto; articulada com passagem de fotografias de Daniel Gouveia e Pedro Cunha;
Com os nossos melhores cumprimentos.
P'la Direção
Maria Helena Chaves Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19275: Agenda cultural (663): Convite para o lançamento do livro "O Homem do Cinema", de Lucinda Aranha Antunes, dia 13 de Dezembro de 2018, pelas 19h00, na Biblioteca Municipal de Torres Vedras
Guiné 61/74 - P19275: Agenda cultural (663): Convite para o lançamento do livro "O Homem do Cinema", de Lucinda Aranha Antunes, dia 13 de Dezembro de 2018, pelas 19h00, na Biblioteca Municipal de Torres Vedras
C O N V I T E
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A propósito deste seu livro, Lucinda Aranha Antunes deu uma entrevista à RTP África, que foi para o ar no programa Causa e Efeito de 07 de Dezembro passado, que pode ser visto aqui: https://www.rtp.pt/play/p4263/e378645/causa-e-efeito, a partir do minuto 36.
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Notas do editor
Vd. poste de 3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19255: Agenda cultural (660): Lançamento do livro "O Homem do Cinema", por Lucinda Aranha Antunes; editora Alfarroba, levado a efeito no passado dia 18 de Novembro na FNAC do CC Vasco da Gama, em Lisboa
Último poste da série de 8 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19267: Agenda cultural (662): lançamento do Livro "Família Regalla: Hora da Verdade!", de Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, 5 de janeiro de 2019, pelas 18h30, no Hotel Aveiro Center, Aveiro
Guiné 61/74 - P19274: Notas de leitura (1129): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (5) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Setembro de 2016:
Queridos amigos,
Aqui se põe termo a uma tese audaciosa de que as lutas interétnicas são um dado da longa duração da violência na Guiné-Bissau, estruturaram as relações ao longo de séculos entre os povos da região, antes e depois da colonização.
Num livrinho precioso de um 2.º Sargento, de nome António dos Anjos que viveu na colónia depois da pacificação há um importante levantamento de lutas, a que podemos acrescentar a descida dos Fulas do Futa-Djalon, guerras sem quartel com os Mandingas e Beafadas, o que levou a profundas alterações na ocupação do território da colónia, no último quartel do século XIX. A despeito desta violência interétnica, cresceu a coligação animista face à ocupação colonial, foi o grande caldo de cultura do PAIGC.
Um abraço do
Mário
Guiné-Bissau:
O Estado é frágil, as sociedades rurais são a alma da nação (5)
Beja Santos
“Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest, Ohio University Press, 2003, é uma das investigações mais argutas e audaciosas que se publicaram no novo século sobre a Guiné pré-colonial, colonial e pós-colonial. Como se referiu em textos anteriores, o ponto de partida do investigador norte-americano é de que a fragilidade do Estado é um dado permanente daquele território, foram e são as sociedades rurais o esteio económico, social e cultural, sociedades com uma enorme capacidade volitiva para estabelecer acordos de interesse, por motivos de segurança ou de resistência, a despeito da sua autonomia, conseguindo preservar identidade no colonialismo e já na Guiné independente. A partir desta premissa maior, Joshua Forrest vai detetando sinais de que a sociedade civil rural multiétnica guineense assume compromissos de modo a que o poder maior, o do Estado, interfira o menos possível na sua autonomia, nas suas crenças, nos seus modos de comerciar, nas suas hierarquias. Os acontecimentos relacionados com a luta armada são eloquentes, diz o investigador, de que as sociedades rurais, umas cedo apoiaram o projeto do PAIGC, outras movimentaram-se em torno do projeto colonial e outras procuraram manter neutralidade. Mas tudo numa base interétnica, facilitado por um poder colonial frágil e pela pouca importância dada, nesta fase, à presença cabo-verdiana. O autor faz uma leitura de que os outros movimentos de libertação não tiveram qualquer popularidade porque ignoraram os compromissos interétnicos e não valorizaram os conceitos de autonomia das sociedades rurais.
Também para se entender a mobilização camponesa por parte do PAIGC é preciso ter em conta a memória sobre a brutalidade do processo de pacificação. Acresce que nas bases controladas pelo PAIGC, independentemente da intranquilidade das operações e dos bombardeamentos, as populações dispunham de acesso a produtos nos Armazéns do Povo, o que fazia sentir que era possível viver sem as compras feitas pelos representantes comerciais. Faço aqui um comentário de desagrado ao modo como o autor fala das práticas de terror praticadas pelos portugueses durante a luta armada, omitindo despudoradamente as práticas cometidas pelo PAIGC desde o assassínio, a destruição de povoações, o rapto, a colocação de minas nas estradas e as flagelações e emboscadas que, pela sua natureza, não escolhiam brancos ou negros. O PAIGC teve maiores facilidades de recrutamento em regiões de resistência anticolonial, caso dos Balantas, Oincas, Beafadas e Papéis. O investigador também pondera o papel ambivalente dos régulos, e no caso de imposição das autoridades portuguesas deste ou daquele régulo a população local limitou-se a tolerar a escolha dos portugueses, em muitos casos encontrou outras alternativas. Incluindo entre os chefes Fulas e Mandingas, predominantemente ao lado das autoridades portuguesas mantiveram-se compromissos com outras etnias que aceitaram viver nessas tabancas maioritárias de islamizados. A fraqueza do poder dos régulos trouxe imensas faturas que não ficaram esclarecidas depois da independência, inicialmente o PAIGC retirou poder aos régulos mas as populações locais logo reconfiguraram as suas hierarquias autónomas.
O legado pós-colonial aparece hoje bem estudado. Amílcar Cabral sonhara com um partido-Estado, a sua presença seria absoluta e contaria com uma ampla participação popular dada pelos comités de tabanca, em meio rural, e por comités de bairro, em áreas urbanas. Conquistada a independência, o PAIGC mostrou-se progressivamente menos influente, não possuía administração nem quadros políticos que merecessem a confiança absoluta das sociedades rurais. No fim dos anos 1970, a presença política nas sociedades rurais era uma sombra, ficara a memória de execuções públicas daqueles que tinham estado do lado do poder colonial, tudo se processara sem qualquer metodologia de reconciliação, a nova autoridade passou a ser temida sem ser respeitada. Joshua Forrest escalpeliza este sistema de participação e mostra como a identidade étnica se manteve preservada, apareceram novos régulos, reconfiguraram-se hierarquias, apareceram escolas islâmicas privadas, até a nova geração Balanta criou um movimento de combate aos valores sociais tradicionais, o Ki Yang-Yang, em Catió.
Tudo teve consequências entre um poder político autofágico, um partido-Estado que muito cedo abriu fissuras e se entregou a intrigas e corrupção, enfim, um governo fraco e inacessível às sociedades rurais que tiveram que encontrar novos caminhos para a economia agrícola enquanto a clique do partido tinha acesso a financiamentos para criar pontas, as comunidades rurais passaram a vender os seus produtos a comerciantes privados, não tinham confiança nas lojas do Estado, nem nos seus representantes, o comércio informal foi tomando conta de tudo até que nos anos 1980 se começou a passar da estatização para a privatização. Nasceram novos problemas para os quais o Estado não encontrava resposta: criara-se uma administração elefante, ingovernável, sem apetrechos e sem dinheiro para a pagar; sonhara-se com uma industrialização acelerada, tudo acabou em cacos; não se encontrou solução para o problema dos combatentes da liberdade da pátria, houve promessas de cooperativas, mas tudo não passou de promessas e estes combatentes tornaram-se aos poucos numa reserva de descontentamento; e as Forças Armadas foram ganhando relevo e desafetando-se do poder político, contrariando todo o modelo de regulação política instituído por Amílcar Cabral. Gera-se um estado de instabilidade interminável que vai conduzir a um devastador conflito político-militar que segundo Joshua Forrest ditará uma nova vitória para a sociedade rural civil. Será nestas comunidades que os rebeldes capitaneados por Ansumane Mané encontrarão o maior apoio, os velhos combatentes pôr-se-ão ao caminho para escorraçar as tropas estrangeiras. Em jeito de conclusão na análise do poder das populações rurais, o autor recorda que todo o século XX se pautou pela luta anticolonial, pela incapacidade do Estado em poder ter chegado a tais comunidades até que no final do século essas mesmas comunidades rurais repeliram tropas internacionais que se tinham prontificado a ajudar o ditador Nino Vieira. Temos pois um Estado frágil e uma formidável sociedade civil rural.
No capítulo das conclusões, Joshua Forrest faz uma notável apreciação e resumo das suas teses, apresenta-se em oposição aos trabalhos de Peter Karibe Mendy e René Pélissier quanto à natureza da luta étnica face ao poder colonial, ele considera sempre que a luta foi interétnica, sem prejuízo da identidade de cada etnia. A violência do Estado agravou a sua fragilidade, tanto na fase colonial como pós-colonial. E o que se passa nestas sociedades rurais está à vista de todos: refizeram-se regulados, melhorou a convivência interétnica, a ideia de chão marca a identidade de cada um dos cidadãos, as tradições não estão abaladas. O que se passa na Guiné-Bissau, observa o autor é igualmente percetível nas linhagens domésticas de todos os Estados frágeis da África subsariana.
Investigação altamente controversa, bem merecia que investigadores como Carlos Cardoso, Mamadu Jao, Tcherno Djaló, Leopoldo Amado, Julião Soares Sousa, do lado guineense, António Duarte Silva e Eduardo Costa Dias, do lado português, e outros investigadores internacionais, caso de Philip Havik, debatessem esta ousada argumentação onde se põe em confronto uma sociedade rural vibrante de costas voltadas para um Estado frágil.
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Notas do editor
Vd. postes anteriores de:
12 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19187: Notas de leitura (1120): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (1) (Mário Beja Santos)
19 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19207: Notas de leitura (1123): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (2) (Mário Beja Santos)
26 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19234: Notas de leitura (1125): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (3) (Mário Beja Santos)
e
3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19253: Notas de leitura (1127): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (4) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 7 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19264: Notas de leitura (1128): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (63) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé
Capa do livro"Voando sobre um Ninho de Strelas", de António Martins de Matos (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.)
António Martins de Matos, ex-ten pilav,
Bissalanca. BA 12, 10/5/1972 - 4/2/1974;
ten gen ref. |
Seleção, da responsabilidade do nosso editor, de algumas frases e pequenos excertos, dando um a ideia do conteúdo, memorialístico, do livro (**)
‘Não tenhas medo, pá [, cabo mecânico,], estás a voar com um piloto dos jactos!’ (p. 143).
‘Meu tenente, os fios das antenas dos rádios lá dos FTs vêm presos à cauda do avião, DO-27]’… Desculpem lá o incómodo, (...) oxalá o correio tenha valido a pena (p. 144).
A área que me tinha sido atribuída para patrulhamento e identificação de eventuais alvos era a zona Norte da Guiné. Fiz inúmeros voos de DO-27 sobre o Morés e a Caboiana, às voltas e mais voltas e à procura das tais “áreas libertadas”, nunca tive qualquer problema e… nunca as vi. (…) Tínhamos uma regra que, pelos vistos, o PAIGC respeitava (quem tem c…, tem medo), se disparassem um tiro contra uma aeronave não demorava mais de quinze minutos até essa área ser completamente bombardeada. Era assim em toda a Guiné, fosse no Choquemone, Morés, Caboiana ou Cantanhez (pp.145/146).
Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > A mesa dos "pilotaços", Miguel Pessoa e António Martins de Matos, dois ex-ten pilav, da Esquadra de Fiat G-91 "Os TIgres", Bissalanca, 1972/74.
Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Em 25 de março de 1973, nas imediações de Guileje, foi abatido o primeiro avião [por um Strela]. Era tripulado pelo tenente Miguel Pessoa (Fiat G-91, nº 5413), a Esquadra [121, ] passou a contar com apenas 3 pilotos (p. 147).
(...) A morte do tenente coronel Almeida Brito[, em 28 de março de 1973,] foi um duro golpe no moral dos pilotos, já que, para além de ser o piloto mais experiente na Guiné, era igualmente o nosso Comandante (p. 150).
A morte do tenente coronel Almeida Brito incomodou-me na altura, voltou a incomodar-me quinze anos depois e… ainda hoje me incomoda (p. 151).
Durante a manhã de 6 de abril de 1973 foram abatidos o furriel João Baltazar (DO-27) e o major Rolando Mantovani (T-6), tendo igualmente desaparecido o furriel Fernando Ferreira (DO-27) (p.152).
No dia seguinte vários acontecimentos ocorreram: (i) um piloto de Fiat G-91 “adoeceu” (…), dos 6 pilotos que a Esquadra devia comportar, já só restavam dois, um capitão (comandante da Esquadra) e um tenente; (ii) um piloto de AL-III arranjou uma maneira simples de terminar a sua Comissão de Serviço, estava a limpar a pistola, ela disparou-se, um tiro numa perna; (iii) alguns dos pilotos de AL-III recusaram-se a voar enquanto não lhes fosse explicada que arma era aquela (p. 152).
(…) De súbito e sem que ninguém o esperasse, apareceu nas Operações do GO12 um documento de origem americana com a T.O. (Technical Order) do míssil soviético SA-7 Grail, designado com o código NATO de ‘Strela’. Nunca acreditei em milagres, mas que os há… há (…) (p. 152).
Foi preciso morrerem pilotos, mecânicos, enfermeiros, militares do Exército, para que finalmente soubéssemos que arma nos alvejava e pudéssemos estudar as respetivas contramedidas (p. 153).
Com a aplicação das contramedidas estudadas (e não obstante o PAIGC ter disparado cerca de 60 mísseis), a FAP apenas teve mais um avião abatido, a 31 de janeiro de 1974 (, Fiat G-91, nº 5437), na região de Canquelifá-Copá, tendo o piloto sido recuperado na manhã seguinte (p. 157).
No meu entender o míssil Strela influenciou de algum modo a guerra mas não teve o papel determinante que alguns teimam em lhe querer dar (p 157).
(...) O que perturbou a atuação da FAP não foi o míssil em si mas sim o período em que desconhecíamos que arma era aquela, que foguete era aquele que nos perseguia (p. 13).
Por mim, (…) a arma que mais influenciou a guerra na Guiné, não foi o Strela, arma de defesa antiaérea, mas sim… o morteiro 120 mm (p. 158).
Também tínhamos uma outra maneira de demonstrar que continuávamos a voar, na volta das missões [, incluindo o ataque a bases como Kambera, em território da Guiné-Conacri, finalmente com a autorização de Spínola] passarmos uma rapada sobre os telhados de Bissau só para animar a malta… Grande gozo nos dava, passar a raspar os telhados da cidade a 400 Kts (740/km hora). O ‘Caco’ logo nos proibiu tal manobra (…) (p.162).
O “randar fantasma”… Também me constou que o homem que zelava pela sua manutenção acabou por ser promovido a “gerente de messe” (p. 184).
A Operação Ametista Real foi um marco importante na história da Guiné, mas não foi tão limpa quanto se propagandeou no briefing nem à posteriori, já que, ao contrário do que tinha sido prometido, alguns dos Comandos Africanos foram mortos e deixados no terreno. Pior,alguns foram deixados feridos e abandonados, vindo a ser executados no próprio local pelos guerrilheiros do PAIGC (p. 189).
“Não é minha intenção julgá-lo [, ao comandante do COP 5 que deu ordens para abandonar Guileje,] mas confesso que me incomoda as várias tentativas que vêm sendo feitas de o apresentar como um herói, que não foi. A sua retirada, apresentada por alguns como uma manobra bem executada, não foi mais que uma simples fuga, tivesse o Guileje efetivamente cercado, e teria sido o maior desastre das nossas forças em África” (p. 200).
(…) A minha homenagem ao BCP 12 (CCP 121, CCP 122 e CCP 123). Sem eles, Gadamael tinha seguido o destino de Guileje (p. 203).
Há muitos anos que continuo a ver e ouvir os “meus fantasmas”, em fuga de Gadamael, a pedirem-me ajuda e… continuam mortos e entalados no tarrafo do rio Cacine (p. 204).
Uma nova verdade aflorava, como se costuma dizer, clarinha para militares. Não iria ser por culpa dos homens no terreno que a guerra iria ser perdida mas sim pelas manobras e omissões político-militares das cúpulas em Lisboa (p. 210)
Na Força Aérea sempre foi assim, “serviço é serviço, conhaque é conhaque” (p. 216).
‘Em vez de andarmos à procura das formigas, o melhor será encontrarmos o formigueiro’. Estava lançado o mote para destruir Kandiafara (p. 223).
A mais famosa e importante base de apoio do PAIGC acabara de ser destruída [em 19 de setembro de 1973, data em que Spínola já tinha partido e o novo Com-Chefe ainda não tinha chegado]. E tinham razão os da Força Aérea, o novo comandante chefe [, general Bettencourt Rodrigues,] nunca mais nos deixou ir ao estrangeiro (p. 229).
Tenho saudades dos bons tempos passados na Guiné (p. 13)
Tenho saudades do meu Caco Baldé (p. 239)
Amo a minha Força Aérea (p. 299)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19257: Agenda cultural (661): "Voando sobre um ninho de Strelas", livro de memórias de António Martins de Matos, ten gen pilav ref. Sessão de apresentação: 11 de dezembro, 3ª feira, 18 horas, no Hotel Travel Park, na Av. Almirante Reis 64, Lisboa (metro Anjos). Estamos todos convidados.
(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19257: Agenda cultural (661): "Voando sobre um ninho de Strelas", livro de memórias de António Martins de Matos, ten gen pilav ref. Sessão de apresentação: 11 de dezembro, 3ª feira, 18 horas, no Hotel Travel Park, na Av. Almirante Reis 64, Lisboa (metro Anjos). Estamos todos convidados.
Guiné 61/74 - P19272: Parabéns a você (1536): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19268: Parabéns a você (1535): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 9 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19268: Parabéns a você (1535): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73)
domingo, 9 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19271: (Ex)citações (345): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte I - Amo a minha Força Aérea
António Martins de Matos, ex-ten pilav, Bissalanca. BA 12, 1972/74; ten gen ref, autor de"Voando sobre um Ninho de Strelas (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.) |
1. Para abrir o apetite para a sessão de lançamento do livro "Voando sobre um Ninho de Strelas", na próxima 3ª feira, às 18h00 (*), e a título de primeiras notas de leitura, aqui ficam algumas frases e pequenos excertos, selecionados pelo nosso editor.(**)
O autor dá-nos a honra se sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, como camarada da Guiné que foi (e é). Desde que o conheço, há coisa de 10 anos, sempre apreciei a sua camaradagem, lealdade, frontalidade e sentido de humor (, às vezes sarcástico). Tem uma qualidade que eu aprecio: não faz fretes a ninguém, é contra o "politicamente correto", diz o que pensa, é intelectualmente honesto, mas também sabe respeitar as opiniões dos outros.
Capa do livro |
Não lhe vou chamar "glorioso maluco das máquinas voadoras", porque ele ficaria logo furioso comigo... Mas acho que estarei a ser justo se disser que ele, o Miguel Pessoa e outros pilotos da FAP que estiveram connosco na guerra do ultramar / guerra colonial, e que voaram o Fiat G-91, enfrentando no TO da Guiné, a nova ameaça que representava o míssil terra-ar Strela (, são poucos esses pilotos, da Esquadra 121, contam-se pelos dedos das duas mãos...) , são credores da nossa admiração e do nosso orgulho. (Naturalmente, a nossa homenagem é extensível a todos os demais camarads da FAP.)
Para mais, o António Martins de Matos, sempre se deu bem com a malta de terra, mar e ar... E ainda hoje alinha nos convívios das nossas tabancas, a começar pelo encontro nacional, anual, da Tabanca Grande. E, não é de mais lembrar, foi aqui, nas páginas do nosso blogue, que ele descobriu a urgência, a paixão e o desafio da escrita. Ficámos todos a ganhar. (LG)
_______________
Nestes últimos anos tenho encontrado muitos amigos do Exército que estiveram comigo na Guiné, nos inúmeros aquartelamentos por lá espalhados e que, bem ou mal, algumas vezes tentei apoiar. Com eles acabei por cohecer uma outra visão da guerra, bem mais difícil que a minha(p. 12.
Não sei se é da velhice, se é do Alzheimer, mas tenho saudades dos bons tempos passados na Guiné (p. 13).
(…) Lista nominal dos 304 militares mortos em combate, apenas e só durante os 21 meses da minha passagem por terras da Guiné (…). Bem os gostaria de os ter podido ajudar melhor. É à memória destes 304 jovens que dedico o meu livro (p. 16).
Era o primeiro a escolher e podia ter optado por Luanda mas, por ter a noção que a guerra iria durar uns largos anos… preferi Bissau. Começava pelo pior, depois era só a melhorar. Eu sei, era jovem, não pensava (p. 35).
Na Academia Militar estudava-se o Clausewitz, como sendo a Bíblia das Guerras, mas faltavam os ensinamentos dos outros, dos que sabiam os conceitos de guerrilha, Che Guevara, Mao Tse Tung… (pp. 38/39).
À chegada a Nova Lamego abriram as portas da cauda do avião e logo se formou uma “feira de gente”, era “dia de São Avião” (p. 49).
(…) Encontrei uma cidade [, Bissau,] demasiadamente feia e suja (p. 53).
Com base nas primeiras impressões tornava-se desde logo evidente que aquela terra não nos pertencia (p. 55).
‘Ganda maçarico, isto aqui [, percurso Bissalanca-Bissau-Bissalanca,] é uma zona segura onde nada acontece’… (p. 56).
‘Ganda maçarico, isto aqui [, percurso Bissalanca-Bissau-Bissalanca,] é uma zona segura onde nada acontece’… (p. 56).
(…) Em resumo, lá tivemos que nos aguentar com o GINA [Fiat G.91]R-4 [, armado com 4 metralhadoras 12.7](…), tinha.nos dado mais jeito o R-3 dos canhões [, de 30 mm,] para, no Ultramar, não termos de andar a brincar às guerras (p. 62).
Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista (p.66).
O avião era abastecido com 3600 libras (1800 litros). (…) Numa missão normal para a zona Sul ou Norte, normalmente conseguíamos estar até cerca de uns quinze minutos na área. No ponto mais afastado da Base (, região de Buruntuma,) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era… zero (p. 67).
(...) Por que raio de razão os aviões [, DO-27,] estavam pintados de vermelho ? (p. 71).
Que diabo andariam aqueles cérebros em Lisboa a pensar ? Estariam a dormir ? Teriam lido o tal papel sobre a evolução das guerrilhas ? Se não leram, eram incompetentes! Se leram, eram… desleixados! (p. 84).
A Guerra do Ultramar arrastou-se por 13 longos anos. Durante todo esse tempo nunca em Lisboa se produziu uma Doutrina de Emprego dos Meios Aéreos que pudesse ser usada nas três Frentes, Guiné, Angola e Moçambique (p. 87).
Normalmente ao fim de 6 minutos após soar o alarme, a parelha [de Fiat G-91] estava no ar (p. 87).
Bastava o ruído da aeronave em aproximação para se obter um efeito dissuasor no PAIGC e moralizador nas nossas tropas (...), a melhor arma que o Fiat G-91 dispunha era o seu… ruído (…), o avião Fiat G-91 não era capaz de resolver a guerra na Guiné e muito menos a de Moçambique (p. 88).
(…) Os médicos nunca iam ao mato (material precioso ?), a missão era apoiada por uma enfermeira paraquedista (p. 90).
A população da Guiné tinha mais apoio [, em termos de evacuações por via aérea] do que (hoje) os habitantes das nossas aldeias de Trás os Montes (p. 90).
(…) Fico de cabelos em pé quando oiço alguém contar histórias do A e do B que voavam de porta aberta ou aos loopings ou com uns uísques no bucho… (p. 104).
‘Senhor major, aqui ninguém vai consigo, o senhor é que vai comigo’ (p. 106).
Com a manhã a chegar, logo o mistério que os “velhos” [do destacamento da FAP em Nova Lamego] me tinha feito recear, acabava por ser desvendado, alguém me acordava movimentando-me o sexo acima e abaixo, em ritmo bem compassado. Subitamente acordado, logo reparei na intrusa, vinda não sei de onde, negra e jovem, eventualmente demasiado jovem, seios erectos e o sorriso matreiro. Acordar destes só em África, de imediato um movimento envolvente no sentido de a tentar agarrar, logo ela rindo e recuando, dizendo com ar malicioso: ‘Ná ná, nem qui foras Tinente!’… (pp. 107/108).
Ao sexto mês de Comissão a neura já começava a produzir os seus efeitos (p. 125).
No final de janeiro de 73 soubemos do assassinato de Amílcar Cabral, algo que nos trouxe alguns pensamentos estranhos, tristes e confusos (p. 130).
Em termos de hierarquia militar havia enfermeiras com vários postos, de tenente a furriel. Nunca se sabia quem era quem, já que o seu fardamento habitual era com as botas da tropa, calças de camuflado e t-shirt branca, a melhor maneira de as tratar seria por “senhora enfermeira”. Logo se voltavam para nós, sorriso inquiridor, “Diga lá, senhor piloto”; não sei bem porquê, mas o coração acelerava-nos um pouco (p. 140).
Amo a minha Força Aérea (p. 299).
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19257: Agenda cultural (661): "Voando sobre um ninho de Strelas", livro de memórias de António Martins de Matos, ten gen pilav ref. Sessão de apresentação: 11 de dezembro, 3ª feira, 18 horas, no Hotel Travel Park, na Av. Almirante Reis 64, Lisboa (metro Anjos). Estamos todos convidados.
(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)
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Guiné 61/74 - P19270: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 72 (Fim): Fui com a ideia de que aquela terra era Portugal, quando parti para lá; regressei com a ideia de que estava num país estrangeiro.
Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
José Calduno da Silva, chaperio em Amarante |
Chegamos ao fim da viagem do "Dino" pelas suas memórias de Fulacunda, socorrendo-se do seu "roteiro literário-sentimental".
No capº 72, o último, conta como o exército lhe transmitiu, nove dias depois, a notícia da morte da sua mãe, Mabilde da Silva...
O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou.
Ver aqui nota detalhada dobre o autor e a sinopse dos postes anteriores.
2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto,
3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cap 72º (Fim)
72º (e último) Capítulo: A MENSAGEM
Quando aconteceu o maior drama por mim vivido nessa terra, já não devia estar lá.
Reconhecida internacionalmente por muitos países como Guiné-Bissau desde 1973, ainda hoje há quem pense que aquela terra era Portugal. Foi com essa ideia que parti para lá. Regressei com a ideia de que estava num país estrangeiro.
No dia 10 de Junho de 1974, cerca das cinco horas da manhã, sua excelência o senhor capitão Serrote chamou-me ao seu gabinete para me ler uma mensagem que o Jorge operador cripto decifrara:
- “Saiba nosso cabo que é com imensa pena e pesar que o informamos do falecimento da sua mãe. Condolências em nome do exército português”.
Creio terem sido estas as últimas palavras que ouvi da boca do meu capitão que ficou com o papel na mão.
“Em meu nome pessoal e de todos os elementos da nossa companhia lamentamos a sua perda. Sentidos sentimentos”.
Devia terminar aqui este livro mas a minha guerra “Em Nome da Pátria” continuou e, embora algumas coisas não as possa provar, por muito inimagináveis que lhes pareçam, são verdadeiras.
Exactamente, no mesmo dia em que recebo a notícia da morte da minha mãe, uma enorme conjugação de casualidades permitem-me fazer algo digno dum filme de James Bond. O meu 1º sargento, um homem acérrimo defensor da lei, acede a um pedido meu.
2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto,
72º (e último) Capítulo: A MENSAGEM
José e Amélia |
Quando aconteceu o maior drama por mim vivido nessa terra, já não devia estar lá.
Reconhecida internacionalmente por muitos países como Guiné-Bissau desde 1973, ainda hoje há quem pense que aquela terra era Portugal. Foi com essa ideia que parti para lá. Regressei com a ideia de que estava num país estrangeiro.
No dia 10 de Junho de 1974, cerca das cinco horas da manhã, sua excelência o senhor capitão Serrote chamou-me ao seu gabinete para me ler uma mensagem que o Jorge operador cripto decifrara:
- “Saiba nosso cabo que é com imensa pena e pesar que o informamos do falecimento da sua mãe. Condolências em nome do exército português”.
Creio terem sido estas as últimas palavras que ouvi da boca do meu capitão que ficou com o papel na mão.
“Em meu nome pessoal e de todos os elementos da nossa companhia lamentamos a sua perda. Sentidos sentimentos”.
Devia terminar aqui este livro mas a minha guerra “Em Nome da Pátria” continuou e, embora algumas coisas não as possa provar, por muito inimagináveis que lhes pareçam, são verdadeiras.
Exactamente, no mesmo dia em que recebo a notícia da morte da minha mãe, uma enorme conjugação de casualidades permitem-me fazer algo digno dum filme de James Bond. O meu 1º sargento, um homem acérrimo defensor da lei, acede a um pedido meu.
“Toda a companhia sabe que estou doente, por favor peça uma evacuação urgente e mande-me para o hospital de Bissau”.
Ainda hoje me parece ver a sua cara de espanto ao meu pedido. O que é certo é que, contra tudo e todos, sem tampouco informar o capitão e com a ajuda do meu amigo de transmissões, requisitou uma evacuação urgente. Quatro horas depois, estava em Bissau. Acho que ainda hoje ninguém sabe o que foi aquela avioneta fazer a Fulacunda. Eu pura e simplesmente desapareci. Iria aparecer mais tarde.
EPÍLOGO
Apenas trouxe comigo a farda de saída, o meu correio e fotografias. Tudo o resto, desde a G3 aos artigos do meu negócio, ficaram para trás num canto da cantina.
Mal a avioneta aterrou em Bissalanca, fui de táxi ter com o sargento Leão, pedir-lhe para me arranjar bilhete para a Metrópole. O 1º sargento Leão tinha a mala pronta para partir no dia seguinte, num avião da TAP. Vinha à Metrópole tratar de assuntos pessoais. Ainda teria de regressar. Achava ser impossível conseguir bilhete para mim, a menos que alguém desistisse, mas ia tentar.
Recordo que naquele tempo sair das colónias era uma prioridade para muitos civis, embora na Guiné não fosse tão grave como, por exemplo, Angola. Foi uma senhora vestida com uma saia vermelha e blusa preta, esposa dum oficial da polícia, que ao ouvir o drama que eu estava a passar conseguiu o bilhete. Custou seis contos mas, no dia seguinte, viajei para a metrópole, ao lado do sargento Leão.
Embora eu não tivesse intenção de o fazer, vou dizer-lhes quem era o sargento Leão. Trabalhei na Garagem Auto Seroa, em Paços de Ferreira, em 1969/70/71. Um dos meus patrões tinha um irmão no exército: era o Sargento Leão que em boa hora encontrei na Guiné.
No dia 11 de Junho, logo que aterrámos em Lisboa, liguei para Penafiel. Foi para a loja do Sr. Amaro que me conhecia muito bem. Identifiquei-me e perguntei se sabia dizer-me o horário do funeral da Senhora Mabilde da Silva, a minha mãe.
"Ó Claudino, o funeral já foi há dias ela morreu no dia 1, rapaz."
A minha Pátria demorara 9 dias a cumprir a sua obrigação de me informar da morte da minha mãe. Eu cumpri muito melhor a minha parte.
Para mim, a minha mãe viveu mais tempo do que na realidade viveu. Jamais perdoarei os dirigentes do meu país na época me fizeram.
O Leão ficou comigo até há hora do comboio e viemos os dois de Santa Apolónia até Campanhã.
Omiti até agora tudo o que fui lendo em que me referia à minha mãe. Não foi muito. A minha mãe não teve meios de me criar e entregou-me à minha avó. Isso nunca impediu de a respeitar; orgulho-me da minha mãe. Sem ela, eu não estaria aqui. Só passei uma festa com a minha mãe: Foi o último Natal, antes de assentar praça. Ainda bem que o fiz!
Reapareci a 27 de Agosto de 1974 no anexo do hospital militar em Campolide. Deram-me dois comprimidos enquanto lá estive, três semanas. Estava a piorar e os médicos não me ligavam nada. Sem passar cartão a ninguém, mais uma vez desapareci.
A minha companhia foi extinta em 26 de Setembro de 1974. Fui esperá-los a Lisboa. Os meus camaradas estiveram mais 112 dias na Guiné do que eu. Voltei a ser no fim, tal como fora no início, um privilegiado.
Quando pensava que já me chamava José Claudino da Silva, ainda surgiria nova situação caricata. O meu colega de trabalho (aquele sim!), o Abreu, pintor de automóveis, foi para a tropa alguns meses depois. Especialidade: cabo escriturário, colocado em Penafiel. Foi incumbido, juntamente com um tenente, de trabalhar no dossiê dos desaparecidos nas províncias ultramarinas.
Foi isto que ele me contou!
Ainda hoje me parece ver a sua cara de espanto ao meu pedido. O que é certo é que, contra tudo e todos, sem tampouco informar o capitão e com a ajuda do meu amigo de transmissões, requisitou uma evacuação urgente. Quatro horas depois, estava em Bissau. Acho que ainda hoje ninguém sabe o que foi aquela avioneta fazer a Fulacunda. Eu pura e simplesmente desapareci. Iria aparecer mais tarde.
EPÍLOGO
Apenas trouxe comigo a farda de saída, o meu correio e fotografias. Tudo o resto, desde a G3 aos artigos do meu negócio, ficaram para trás num canto da cantina.
Mal a avioneta aterrou em Bissalanca, fui de táxi ter com o sargento Leão, pedir-lhe para me arranjar bilhete para a Metrópole. O 1º sargento Leão tinha a mala pronta para partir no dia seguinte, num avião da TAP. Vinha à Metrópole tratar de assuntos pessoais. Ainda teria de regressar. Achava ser impossível conseguir bilhete para mim, a menos que alguém desistisse, mas ia tentar.
Recordo que naquele tempo sair das colónias era uma prioridade para muitos civis, embora na Guiné não fosse tão grave como, por exemplo, Angola. Foi uma senhora vestida com uma saia vermelha e blusa preta, esposa dum oficial da polícia, que ao ouvir o drama que eu estava a passar conseguiu o bilhete. Custou seis contos mas, no dia seguinte, viajei para a metrópole, ao lado do sargento Leão.
Embora eu não tivesse intenção de o fazer, vou dizer-lhes quem era o sargento Leão. Trabalhei na Garagem Auto Seroa, em Paços de Ferreira, em 1969/70/71. Um dos meus patrões tinha um irmão no exército: era o Sargento Leão que em boa hora encontrei na Guiné.
No dia 11 de Junho, logo que aterrámos em Lisboa, liguei para Penafiel. Foi para a loja do Sr. Amaro que me conhecia muito bem. Identifiquei-me e perguntei se sabia dizer-me o horário do funeral da Senhora Mabilde da Silva, a minha mãe.
"Ó Claudino, o funeral já foi há dias ela morreu no dia 1, rapaz."
A minha Pátria demorara 9 dias a cumprir a sua obrigação de me informar da morte da minha mãe. Eu cumpri muito melhor a minha parte.
Para mim, a minha mãe viveu mais tempo do que na realidade viveu. Jamais perdoarei os dirigentes do meu país na época me fizeram.
O Leão ficou comigo até há hora do comboio e viemos os dois de Santa Apolónia até Campanhã.
Omiti até agora tudo o que fui lendo em que me referia à minha mãe. Não foi muito. A minha mãe não teve meios de me criar e entregou-me à minha avó. Isso nunca impediu de a respeitar; orgulho-me da minha mãe. Sem ela, eu não estaria aqui. Só passei uma festa com a minha mãe: Foi o último Natal, antes de assentar praça. Ainda bem que o fiz!
Reapareci a 27 de Agosto de 1974 no anexo do hospital militar em Campolide. Deram-me dois comprimidos enquanto lá estive, três semanas. Estava a piorar e os médicos não me ligavam nada. Sem passar cartão a ninguém, mais uma vez desapareci.
A minha companhia foi extinta em 26 de Setembro de 1974. Fui esperá-los a Lisboa. Os meus camaradas estiveram mais 112 dias na Guiné do que eu. Voltei a ser no fim, tal como fora no início, um privilegiado.
Quando pensava que já me chamava José Claudino da Silva, ainda surgiria nova situação caricata. O meu colega de trabalho (aquele sim!), o Abreu, pintor de automóveis, foi para a tropa alguns meses depois. Especialidade: cabo escriturário, colocado em Penafiel. Foi incumbido, juntamente com um tenente, de trabalhar no dossiê dos desaparecidos nas províncias ultramarinas.
Foi isto que ele me contou!
“ Quando vi que o teu nome estava lá, disse ao tenente. Vai-me desculpar, senhor tenente, mas este nome conheço-o. O 1º cabo 158532/71 José Claudino da Silva não está desaparecido. Ele é chapeiro e trabalha na mesma oficina onde eu trabalho. Sei bem o nome dele José Claudino da Silva”.
Claro que fui chamado e apresentei-me no R.A.L. 5 para esclarecer a minha situação. Na minha caderneta militar, passei à disponibilidade em 23 de Setembro de 1975. Durante o meu “desaparecimento” da tropa, aproveitei para casar com a Amélia.
Na minha caderneta militar e na página das ocorrências extraordinárias, estão as frases:
1975. Transferido para o R.A.S.P. desde o dia 1 de Maio.
Reunida em sessão no H.M.P. confirmo o soldado 158532/71
APROVADO PARA TODO O SERVIÇO MILITAR
(LÁ VAMOS COMEÇAR TUDO DE NOVO)
VENCEU A POESIA
FIM
7 de Outubro de 2017
Texto original da autoria de
José Claudino da Silva
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___________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 27 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19237: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 71: A última carta (, "de amor, ridícula"), com data de 9 de junho de 1974, escrita sem saber que a sua mâe já tinha morrido no dia 1... Foi também a única, em centenas, que nunca chegaria ao destino...
Guiné 61/74 - P19269: Blogpoesia (598): "Montanha verde da saudade", "Não sei para onde ir..." e "Nunca é tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre
outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Montanha verde da saudade
Reclino minha cabeça na montanha verde da saudade.
Sorvo a temperança que sobe dos vales.
Me embriago nas delícias da brisa azul
que se solta livre do mar além.
Poiso ao de leve nas boninas coloridas como se fosse libelinha.
Sonho com as estrelas dum céu de Agosto.
Oiço as vozes lancinantes dos estrondos da história longínqua dos tempos.
Me recomponho feliz na paz do mar da consciência.
Ouvindo Händel Largo Orgel & Trompete
https://www.youtube.com/watch?v=eaxEWTJL6kw
Berlim, 8 de Dezembro de 2018
9h29m
JLMG
Não sei para onde ir...
Não sei para onde ir.
Vou para a Feira Popular.
Em qualquer noite do ano,
Um oásis de paz e de alegria.
Universal.
Muita luz. Muita vida a esvoaçar.
Há carrocéis. A roda gigante.
Carrinhos eléctricos.
O poço da morte.
Rostos contentes. Famílias inteiras de braço dado.
Da cidade e de fora.
Passeiam nas ruinhas.
Pipocas e farturas verdes.
Cheiro de sardinhas.
Assadas no carvão.
Restaurantes com fartura.
Vinho da pipa. Cerveja imperial.
Café do Brasil.
Tanta coisa mais...Um não acabar.
Que noitada bem passada!
Tudo foi.
Já não há...
E, porquê?
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 3 de Dezembro de 2018
7h29m
JLMG
Nunca é tarde...
Nunca é tarde para reparar nas coisas belas.
As mais pequeninas. Muito simples.
Estão na borda dos caminhos.
Flores sem nome.
Com libelinhas às cores.
Na casinha branca.
Muito baixinha.
Afitada a azul.
Um terreiro à frente.
Junto à estrada.
Com alegria dentro
e a dona ao sol.
A bordar o linho.
O sorriso puro, só a criança tem.
Um olhar profundo seus olhitos têm.
Que nos fulminam quando a olhamos.
Como ela vai bem.
Tão agasalhada.
Pela mão da mãe.
O esgar da jovem,
como se não fosse nada,
a fazer de conta,
quando um rapaz a mira
e a pareceu gostar.
Aquela fontinha eterna,
Onde nos leva a avó.
Faz o tanque cheio
e ainda rega o campo.
É um encanto vê-la.
O passarito só.
À mesma hora vem.
Canta seu rosário
e se vai embora.
O mendigo velho,
tão bondoso olhar.
Reza uma avé Maria,
quando lhe dão a esmola.
A padeirinha alegre,
com o açafate cheio,
corre a freguesia.
Deixa os seis paezinhos,
sem bater à porta.
A forja acesa,
ao raiar da aurora.
Como ama a vida
o ferreiro alegre.
Ouvem-se as pancadas
sobre o ferro em brasa.
O pedreiro chega
quando vem para casa.
Quem me dera agora
começar de novo.
Tanta coisa bela
Que nos passou ao lado.
Nunca será tarde.
Para saborear a vida.
Basta só querer...
Berlim, 6de Dezembro de 2018
9h25m
JLMG
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19252: Blogpoesia (597): "O render da Companhia...", "As carências" e "Magnos retrocessos...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Montanha verde da saudade
Reclino minha cabeça na montanha verde da saudade.
Sorvo a temperança que sobe dos vales.
Me embriago nas delícias da brisa azul
que se solta livre do mar além.
Poiso ao de leve nas boninas coloridas como se fosse libelinha.
Sonho com as estrelas dum céu de Agosto.
Oiço as vozes lancinantes dos estrondos da história longínqua dos tempos.
Me recomponho feliz na paz do mar da consciência.
Ouvindo Händel Largo Orgel & Trompete
https://www.youtube.com/watch?v=eaxEWTJL6kw
Berlim, 8 de Dezembro de 2018
9h29m
JLMG
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Não sei para onde ir...
Não sei para onde ir.
Vou para a Feira Popular.
Em qualquer noite do ano,
Um oásis de paz e de alegria.
Universal.
Muita luz. Muita vida a esvoaçar.
Há carrocéis. A roda gigante.
Carrinhos eléctricos.
O poço da morte.
Rostos contentes. Famílias inteiras de braço dado.
Da cidade e de fora.
Passeiam nas ruinhas.
Pipocas e farturas verdes.
Cheiro de sardinhas.
Assadas no carvão.
Restaurantes com fartura.
Vinho da pipa. Cerveja imperial.
Café do Brasil.
Tanta coisa mais...Um não acabar.
Que noitada bem passada!
Tudo foi.
Já não há...
E, porquê?
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 3 de Dezembro de 2018
7h29m
JLMG
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Nunca é tarde...
Nunca é tarde para reparar nas coisas belas.
As mais pequeninas. Muito simples.
Estão na borda dos caminhos.
Flores sem nome.
Com libelinhas às cores.
Na casinha branca.
Muito baixinha.
Afitada a azul.
Um terreiro à frente.
Junto à estrada.
Com alegria dentro
e a dona ao sol.
A bordar o linho.
O sorriso puro, só a criança tem.
Um olhar profundo seus olhitos têm.
Que nos fulminam quando a olhamos.
Como ela vai bem.
Tão agasalhada.
Pela mão da mãe.
O esgar da jovem,
como se não fosse nada,
a fazer de conta,
quando um rapaz a mira
e a pareceu gostar.
Aquela fontinha eterna,
Onde nos leva a avó.
Faz o tanque cheio
e ainda rega o campo.
É um encanto vê-la.
O passarito só.
À mesma hora vem.
Canta seu rosário
e se vai embora.
O mendigo velho,
tão bondoso olhar.
Reza uma avé Maria,
quando lhe dão a esmola.
A padeirinha alegre,
com o açafate cheio,
corre a freguesia.
Deixa os seis paezinhos,
sem bater à porta.
A forja acesa,
ao raiar da aurora.
Como ama a vida
o ferreiro alegre.
Ouvem-se as pancadas
sobre o ferro em brasa.
O pedreiro chega
quando vem para casa.
Quem me dera agora
começar de novo.
Tanta coisa bela
Que nos passou ao lado.
Nunca será tarde.
Para saborear a vida.
Basta só querer...
Berlim, 6de Dezembro de 2018
9h25m
JLMG
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Nota do editor
Último poste da série de 2 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19252: Blogpoesia (597): "O render da Companhia...", "As carências" e "Magnos retrocessos...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P19268: Parabéns a você (1535): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de5 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19258: Parabéns a você (1534): José Pereira, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 5 (Guiné, 1966/68) e Manuel Carvalho, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de5 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19258: Parabéns a você (1534): José Pereira, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 5 (Guiné, 1966/68) e Manuel Carvalho, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)
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