Foto: © João Tunes (2005). Direitos reservados.
1. Texto do nosso amigo e camarada João Tunes, enviado em 24 de Novembro último (*):
Fomos todos bons rapazes
por João Tunes
Há uma nítida tendência de revisão histórica sobre o colonialismo, a descolonização e a guerra colonial a espraiar-se em literatura de ensaio publicada e na blogosfera, ambas animadas ou por militares profissionais na reserva ou por antigos combatentes milicianos.
É uma espécie de reflexo de curto prazo para com a memória de um envolvimento militar que sofreu um recalcamento sem direito a catarse. Sem hipóteses regressivas, no social, no político e no cultural, sem projecto mobilizador que a empenhe em lutas pela mudança do presente e construção do futuro, há muita gente a querer viver o seu resto de vida sem remorso nem autocrítica, muito menos justiça histórica e política para com os povos africanos (os pretos “terroristas”, "turras" como síntese de ódio pronto a disparar, que se combateram com as armas mas também com a tortura, a prisão, o assassinato, a violação, a assimilação e a corrupção, quando muito dando-lhes o "benefício" das "delícias" - para os "tugas" - de uma cafrealização nos momentos compensatórios do "repouso do guerreiro"), para com acontecimentos marcantes verificados na transição da sua juventude para a primeira idade adulta.
Assim, a revisitação da experiência na guerra colonial tende a tornar-se um branqueamento forçado e necessário para reconciliações individuais e grupais que tendem a reintegrar no imaginário colectivo o mito da passagem, dramática mas limpa, de centenas de milhares de portugueses pelos cenários africanos incendiados pela guerra.
Lendo-os, aos auto-reciclados da guerra colonial, a impressão que se colhe, quanto à guerra colonial, é a de um patriotismo difuso e serôdio, empenhado numa guerra “limpa”, generosa e que até podia ter sido ganha se a democracia demorasse mais uma década a regressar à política portuguesa, e que, no mínimo, foi geradora de uma vivência de fraternidade de bons amigos e camaradas de armas. É, claro, uma memória filtrada dos “sobreviventes da guerra”. Sem actos assassinos e indignos, sem a génese da ocupação de "terra alheia", sem os muitos milhares de mortos e estropiados nos dois lados da guerra, sem os efeitos devastadores para o reencontro de Portugal com a democracia que teve de fazê-lo após gerações terem passado por treze anos de guerra em África e onde se tinham consumido enormes recursos (na fase final do fascismo-colonialismo, cerca de metade do Orçamento era consumido em gastos militares com a guerra colonial) e cedendo-se a independência aos países africanos num cenário político de transição de guerra pela independência para guerra civil, onde se forjaram, simetricamente, elites políticas militarizadas e formadas no marxismo de guerra.
Mas há um “ponto negro” de que, por regra, o revisionismo da memória foge. Refiro-me ao facto de a polícia política do salazarismo-marcelismo, a PIDE depois rebaptizada de DGS (**), ter sido o braço direito do exército colonial em África, no período 1961-1974. Militares e polícias políticos foram “unha com carne” na guerra colonial. Cada qual desempenhando o seu papel, mas casando-os sempre na maior intimidade e impunidade. Por muito que custe aos memorialistas da revisão em marcha, o que foi, aconteceu.
Dalila Mateus, num livro editado há tempos atrás mas que é uma referência da historiografia dedicada à guerra colonial (&), portanto sempre actual, aborda as actividades da PIDE/DGS nas antigas colónias no período 1961-1974, uma questão que ainda é tabu, até pelos desassossegos que desperta em grande parte dos militares que participaram naquela guerra. A historiadora expõe os mecanismos de actuação da PIDE/DGS em África e os meios que dispunha e que utilizava (na medida do que é possível saber-se e escapou à destruição dos arquivos).
Além de demonstrar que o que se passou nas frentes das guerras coloniais foi um genocídio intermitente gerido contra as populações africanas (confirmando a caracterização feita pela ONU), para além de actos de brutalidade generalizada e de máxima crueldade praticados pelas Forças Armadas, sobretudo durante o primeiro período da guerra mas que se verificaram pontualmente até ao fim, o grosso das acções de obtenção de informação, infiltrações entre os guerrilheiros, atentados contra os seus líderes, tortura de prisioneiros, gestão de prisões e de campos de concentração (onde o internamento era ordenado pela própria PIDE, sem julgamento e como sendo um ”acto administrativo”de “fixação de residência”) foram cometidas à PIDE/DGS. Ou seja, na maior parte dos casos, as Forças Armadas passavam para a PIDE a maior parte do “trabalho sujo” relativamente a militantes, simpatizantes ou suspeitos de simpatias para com as causas nacionalistas.
Esta “repartição de tarefas” assentou numa cumplicidade e complementaridade totais e absolutas. Para além de permitir que as Forças Armadas salvaguardassem a sua imagem de “combatentes” apenas “guerreiros”, cumprindo uma qualquer ética castrense, e com margem para a chamada “psico”, o trabalho entregue à PIDE “ganhou” em “especialização” e em “eficácia” (embora, por regra, as operações ofensivas tenham sido conjuntas).
Mais, tornou as duas organizações numa espécie de irmãs siamesas em que uma não podia viver sem a outra. As operações militares faziam-se com base nas informações da PIDE, a PIDE trabalhava os prisioneiros feitos pelas Forças Armadas. Neste sentido, as torturas, os assassinatos, as prisões indiscriminadas, cometidas pela PIDE durante a guerra colonial, foram crimes da polícia política mas mancharam, na mesma dimensão de iniquidade e responsabilidade, os comandos militares irmanados com a polícia. E sabendo como sabiam o que a PIDE aplicava aos guerrilheiros, a co-responsabilidade é absoluta.
Como entender a resistência havida após o 25 de Abril, em extinguir a PIDE em África, em que, sobretudo em Angola, ainda trabalharam durante muito tempo integrados na PIM (Polícia de Informação Militar)? Como entender a excelente apreciação que a maioria dos oficiais de carreira fazia sobre os méritos da PIDE em África? Como entender que o Alto-Comissário em Moçambique (Vitor Crespo), onde a PIDE foi desmantelada mais cedo, se tenha encarregado de destruir os ficheiros da PIDE? Como perceber a ausência de escrúpulos dos militares golpistas após o 25 de Abril trabalharem em estreita colaboração com ex-pides, retomando velhas cumplicidades? Finalmente, como perceber que, enquanto na metrópole, a PIDE era odiada pela população, em África ela era considerada e acarinhada pela maioria dos colonos (por vezes, mais estimada que os militares que faziam a guerra)?
A resposta a estas últimas questões está, como hipótese, na noção que os militares profissionais tinham que não haveria condições para fazerem a guerra sem a PIDE. E sabiam que a PIDE “fazia bem” o papel que lhe estava atribuído (a maioria dos guerrilheiros reconhece isso, sendo uma das raras excepções a prosápia estúpida de Marcelino dos Santos da Frelimo que afirmou que a PIDE não sabia nada). Compreende-se assim que, no início da pós-revolução, a PIDE continuasse viva e bem viva nas ainda colónias. Ou pela integração no PIM, ou, clandestinamente, a ajudar a “resistência branca”, transbordando depois para o combate ao MPLA e, em Moçambique, na criação da Renamo.
Parte dos oficiais de carreira profissionalizados na guerra colonial (muitos deles com três comissões feitas) deram a “volta política”, participaram na descolonização e seguiram o paradigma político do MFA. Mas um número significativo de oficiais de média e alta patente (a partir de Major na altura do 25 de Abril) foi incapaz de digerir a descolonização e entender o papel da PIDE como sendo um alicerce do regime (o que, sendo verdade, não abona sobre o regime). É que não foram as Forças Armadas (só por si) que fizeram as guerras nas colónias, a PIDE (só por si) tão pouco. Foi uma e outra. Foi o regime salazarista-marcelista. Quando o regime caiu, o colonialismo caiu e a descolonização só podia ter como ponto de partida o ponto de chegada do colonialismo português.
O “depois” “devia” ter sido diferente e melhor. Mas o “depois” que houve partiu do “antes” herdado. Alguns militares da época não o entenderam na descolonização e cada vez o entendem menos, servindo a profusa literatura de memória e análise que publicam, em blogues e em livros, como demonstração dessa fixação, porque o ressentimento cresce com o tempo, sem que a catarse tenha sido feita. À força de “justificarem”, perante a sociedade e eles próprios, os anos de profissão naquelas guerras, perderam essa capacidade, a da catarse da participação de uma guerra injusta, impossível de vencer, iníqua nos meios utilizados e nos crimes cometidos, directamente ou com sua colaboração.
(&) – A Pide/DGS na Guerra Colonial – 1961-1974, Dalila Cabrita Mateus, Ed Terramar, 2004. (***)
João Tunes
Nota: Este texto resulta da junção de outros dois, editados em:
- http://agualisa6.blogs.sapo.pt/1592621.html
- http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/11/24/a-questao-mais-incomoda-da-guerra-colonial/
[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
______________
Notas de L.G.:
(*) O João Tunes já publicou, desde 11 de Agosto de 2005, cerca de 35 postes no nosso blogue:
Vd. último postes:
4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5206: Efemérides (27): as eleições de 26/10/1969, as oposições democráticas (CDE e CEUD) e a escalada da guerra (João Tunes)
2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4722: Depois da guerra, o stresse... da paz (4): Os dois piores anos da minha vida (João Tunes)
(**) Sobre a PIDE/DGS há 35 referências na II Série do nosso blogue e outras 15 na I Série. Cite-se, a título de exemplo:
4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5267: História de vida (17): Um homem no Cachil, Ilha do Como, CCAÇ 557, 1964 (José Augusto Rocha)
(...) Nos anos sessenta, a ordem de incorporação e a ida para a guerra colonial estava indisfarçavelmente ligada à repressão política e à PIDE. Esta articulação era particularmente visível em relação ao movimento estudantil e em especial aos seus dirigentes. As medidas de repressão do aparelho do Estado, ao nível das forças armadas, eram várias e diversificadas e iam desde a incorporação em estabelecimentos militares disciplinares de correcção, como o de Penamacor, onde foi internado, por exemplo, o Hélder Costa e o João Morais, até incorporações antecipadas e transferências arbitrárias de quartéis, de acordo com estritas ordens da polícia política (PIDE).
No meu caso, libertado do Forte de Caxias, em Julho de 1963, fui incorporado logo em Setembro, para minha total surpresa, no Regimento de Lanceiros 2, conhecido como o quartel da polícia militar, unidade de confiança do regime político do Estado Novo. Vim a encontrar aí outro dirigente associativo, da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras, o João Paulo Monteiro, filho do exilado político Adolfo Casais Monteiro. A surpresa de imediato foi esclarecida. O treino militar do 1º ciclo, naquele Regimento, era muito duro e de verdadeiro castigo e, logo que terminou, ambos fomos transferidos para a Escola Prática de Infantaria de Mafra, por despacho do então Ministro da Defesa Nacional, General Mário Silva. (...)
19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina
(...) Por sorte não fui comandar um Pelotão de Reconhecimento como aconteceu com a maior parte dos meus colegas do Pel Rec Inf de Mafra. Fui sim destinado às Informações, nomeadamente a Oficial de Informações do Comando de Agrupamento de Bafatá.
Entrando directamente na estória que hoje aqui me traz, começo por dizer que as minhas funções no Comando de Agrupamento eram na prática, e principalmente, receber, triar e registar de várias formas todas as notícias (informações) que iam chegando, normalmente via mensagens rádio referentes quer ao IN, quer às NT.
Abrindo aqui um parênteses, referirei que durante os dois anos em que lá exerci essas funções, nunca em caso algum tive qualquer contacto com elementos da PIDE, o que sempre achei estranho. Ainda bem que assim foi, mas não posso deixar de referir que essa indiferença por parte da PIDE era talvez um prenúncio da sua decadência, bem como do regíme que a sustentava. (...)
25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971 (Luís Graça)
(...) Nas conversas que tenho tido com ele, ao telefone, o Puim nunca refere a presença de nenhum agente da PIDE/DGS... Afirma categoricamemente que quem passou a revista ao seu quarto (de resto, partilhado pelo Dr. Vilar, o médico, também conhecido pela alcunha O Drácula), quem mexeu nos seus objectos pessoais, na sua mala... e quem confiscou o seu diário, foi o 2º comandante. De qualquer, a meticulosa e ominipresente PIDE/DGS averbou esta cena no ficha do Puim... O que sugere alguma promiscuidade entre a PIDE/DGS e a hierarquia militar...
Admito que a PIDE/DGS (de Bafatá) estivesse por detrás de tudo isto, ou pelo menos acompanhasse o processo do polémico capelão de Bamadinca... Mas como o Puim era um oficial miliciano e ainda por cima capelão, é natural que Bissau tenha dado ordem para ser a hierarquia militar a encarregar-se do caso... e não armar escândalo. Afinal, os tempos já eram outros... Spínola tinha a PIDE/DGS ao seu serviço, ou pelo menos sobre a sua tutela e protecção. (...)
[Vd. 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)]
18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (31): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira)
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite
(...) Numa das saídas das explorações que nos eram confiadas, foi apanhado um guerrilheiro e feito prisioneiro. Quando o pessoal chegou, já era noite. Não eram horas de entregar o prisioneiro à PIDE. Então o capitão lembra-se da brilhante ideia, como o Colaço está de serviço permanente ao posto rádio, fica a guardar o prisioneiro. Ordens são ordens e não há que contestar.
A única alteração foi alterar o local da pistola Walther, pois esta estava sempre pendurada num cabide na parede do posto rádio. Nessa noite andou no coldre mas na cintura do militar.
Era um homem mais ou menos dos seus cinquenta e picos anos. Eram cerca das 3 horas e 30 minutos, depois de termos tido uma conversa, posso dizer de amigos. Olhei para ele, de olhos nos olhos, e notei o seu estado de fraqueza. Fiz-lhe a seguinte pergunta:
- Não tens fome? - Ao que ele respondeu com um sim tímido. Então disse-lhe:
- Fica aí sossegado, está bem ?!, que eu vou arranjar comida. (...)
10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3593: História da CCAÇ 2679 (9): Boas recordações da PIDE (José Manuel Dinis)
(...) Em Buruntuma, localidade que acolhia uma Companhia do BArt 2857, sediado em Piche, sector L-4, havia um Agente daquela instituição que desenvolvia a sua actividade de compra e troca de informações, em regime de residência permanente. Todavia, apesar de independente da tropa e de exercer o seu importante mister com toda a autonomia, dependia do BArt para efeito de recebimento salarial. Nessas ocasiões, o individuo, de fraca figura, mas arguto e importante pela benção do regime, apanhava boleia numa das colunas de ligação a Piche, onde tinha o hábito de permanecer uma ou duas noites. (...)
4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3564: História de Vida (20): Meninos Soldados (Juvenal Amado)
(...) Filho de operário vidreiro, aí [, em Alcobaça,] comecei a moldar o meu sentimento político.
Uma madrugada ouvi bater as portas de carro, mesmo debaixo da janela do quarto, onde dormia mais o meu irmão. Em 1960 os carros eram raros e, que eu me lembre, no bairro não havia nenhum. As visitas não eram para nós, mas sim para a casa ao lado. Ouvi vozes graves, alguma turbulência, o choro de uma mulher, palavras nervosamente balbuciadas, várias pessoas entram no carro e este parte.
No dia a seguir apercebo-me, entre as meias palavras da minha tia e da minha mãe, que o senhor Loureiro tinha sido preso. Deixava a esposa e filhos num total desespero. O senhor Loureiro era operário vidreiro na Crisal. Era por demais reconhecido por toda a gente, que os vidreiros eram firmes opositores ao regime de Salazar. A Pide prendeu muitos militantes anti-salazaristas nessa altura e o senhor Loureiro foi um deles.
A partir daí passei a viver com o terror, de que viessem buscar o meu pai também, não que percebesse o porquê, mas na minha ingenuidade, pensei que prendessem todos os que fossem vidreiros. (...)
4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3561: No 25 de Abril eu estava em... (5) Bissau, ouvindo vivas a Spínola, pai do nosso povo (J. Casimiro Carvalho)
Carta, Bissau, 30/4/74
Querida mãezinha: (…) Isto aqui anda a ‘ferver’. Os africanos andam aos montes na cidade e partem montras e há porrada. Acabou a DGS e eles andam loucos de alegria, só querem é apanhar ex-membros da extinta DGS., que estão a ser evacuados da Província.
Andam com cartazes deste génerio: 'Abaixo a repressão / Abaixo a DGS / Viva Spínola, pai do nosso povo / Liberdade ao nosso povo', etc
Andam às centenas. Tropas às centenas (armadas até aos dentes) patrulham a cidade dia e noite, até dormem nas ruas com ração de combate. Parece Belfast. À noite não me atrevo a ir à cidade. É por isso que estou a escrever-lhe senão levava mais uns dias.(…)
28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3366: PAIGC - Docs (2): O grande marabu Cherno Rachide, de Aldeia Formosa: um agente duplo ? (Luís Graça)
(...) Em Tanéné fomos recebidos pelo camarada Tomás Queta, chefe da aldeia. Por seu intermédio, conseguimos falar com o camarada do Partido, Daudá Camará, de Cacoca. Depois de uma longa sessão informativa sobre a vida do Partido no chão dos nalús e mais particularmente sobre a sua organização do interior da região, o camarada Daudá Camará mereceu a nossa confiança. E foi assim que nós o encarregámos de uma missão junto do camarada Pedro Duarte, em Cacine.
No regresso, recebemos as seguintes informações:
(i) É difícil contactar o Duarte, é vigiado dia e noite por um Alferes Indiano, que trabalha no mesma repartição com o seu adjunto, um caboverdiano de nome Carvalho, que é um grande inimigo da nossa causa, juntamente com o régulo de Cacine, de seu nome Tomás Camará, igualmente nefasto.
(ii) A casa do Duarte é guardada dia e noite por soldados africanos; já não tem jipe de serviço, desloca-se agora num jipe do exército. A sua mulher, que o denunciou, regressou a 7/12/1961;
(iii) Todos os régulos nalus foram convocados a Cacine, para receber as seguintes informações: Supressão do sistema de registo de denominação indígena; deixa de haver distinção entre brancos e negros, tanto os grandes como os pequenos devem passar a possuir um bilhete de identidade de cidadão português; este bilhete de identidade deve ser pago, mas ainda não foi fixado o respectivo preço. Supressão do imposto indígena. O preço dos produtos agrícolas passam a ser fixados pelos proprietários (sic). As regiões convocadas foram Catió, Cacine, Buba, Fulacunda, Gadamael, Bedanda, Cacoca, Quitafine, Sanconhá, Camissoro, etc.,
(iv) Que é preciso ter muito atenção a Álvaro Queta, de Sanconhá, Munini Camará (Lumba jodo), de Cacoca, que são elementos muito perigosos da PIDE. Circulam por todas as regiões (do sul). (...)
7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)
(...) Soubera, do muito comentado entre a população, caso do padre Grillo, e tinha ouvido falar do que se passara em Samba Silate, em Poindom e também se apercebera dos prisioneiros que os militares tinham feito nestas povoações, sem uma única crítica, somente uma grande preocupação pela segurança e futuro da filha, e sem deixar transparecer simpatia por qualquer das partes já em conflito, ou eu não quis ou não consegui entender...
Alguns dias antes da partida de Bambadinca para Bissau, a Mariama disse-me que tivera conhecimento que um rapaz de quem era amiga, e já não via há bastante tempo, estava preso em Bafatá “por ser contra os brancos”. Pediu-me que se parasse em Bafatá falasse com ele para lhe dar cumprimentos. Não sabia se era possível ter acesso à zona onde estavam os prisioneiros, mas prometi que faria o possível.
No dia da partida fizemos realmente uma paragem em Bafatá e um camarada indicou-me a prisão e até me elucidou, julgo que com verdade, sobre o destino dos presos que tinham um trapo atado ao pescoço, a marca dos que foram considerados mais activos nas acções contra colonialismo e, por conseguinte, sujeitos a maior pressão nos interrogatórios, que podiam determinar o seu fim.
Frente à grade da cela, como não o conhecia, pronunciei o seu nome. Aproximou-se e transmiti-lhe o recado que ouviu com um sorriso e agradeceu. Ele tinha o trapo no pescoço. (...)
10 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3125: História de vida (15): Norberto Tavares de Carvalho, O Cote: do PAIGC ao exílio (A. Marques Lopes)
(...) Entre 1970 e 1973 foi estudante da Escola Industrial e Comercial de Bissau, tendo também trabalhado, em 72 e 73, como acompanhante na Ponte Cais de Bissau (trabalho nocturno); em 2 de Novembro de 1972 foi preso pela PIDE, por ordem expressa do General Spínola, na sequência de uma greve dos estudantes; em 8 de Maio de 1973 foi novamente preso pela PIDE, tendo sido condenado, em Setembro desse ano, a 3 anos de prisão e deportação para a Ilha das Galinhas (campo de concentração na Guiné para presos políticos). Foi libertado a 3 de Maio de 1974, na sequência do 25 de Abril.
Após a independência, foi dirigente da Juventude Africana Amilcar Cabral, tendo também trabalhado como funcionário público nos Arquivos da Segurança do Estado, entre Novembro de 1974 e Setembro de 1978, e sendo Comandante do Departamento Central da Migração em 1978-1980; foi preso em Novembro de 1980, depois do golpe de Nino Vieira de 14 de Novembro desse ano, tendo sido deportado, em Dezembro de 1982, para trabalhos forçados na ilha de Carache (nos Bijagós). Foi libertado em 1 de Maio de 1983, tendo fugido para o Senegal em Julho desse ano.
É exilado político na Suíça desde Novembro de 1983. A alcunha de "O Cote" foi-lhe dada pela PIDE, disse-me ele. Os seus pais eram empregados de um alemão, de nome Cote, que estava na Guiné, e começaram a chamar-lhe assim. E é o nome por que ficou conhecido entre os seus camaradas do PAIGC. (...)
17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)
(...) O Filipe esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias.
Conhecendo eu o Filipe, o seu romantismo revolucionário, não o deve ter deixado calado por onde passou. Resultado cartas, fotos e objectos, que ao tempo foram considerados suspeitos vá-se lá saber porquê, tudo desapareceu entre Galomaro, Hospital de Bissau e Estrela .
A PIDE também visitou a casa da mãe no Porto, quando ele por sorte estava em Lisboa. A seguir, o 25 Abril veio pôr fim aos delitos de opinião, que as gerações mais novas nem sonham o que era, talvez por nossa culpa.
O Filipe faz um sentido agradecimento à memória do Alferes Mota, por o ter ajudado naquela noite, quando ele regressava do Regala. Eu também lhe agradeço, pois pequenos gestos como o que praticou, ajudaram a anular a suspeita, as escutas e a delação, que eram uma constante nas nossas vidas.
Brancos ou pretos, a PIDE não escolhia cores e o braço era longo.Obrigado, Alferes Mota. (...)
12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2931: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (2): Da solidão de pides, padres, administradores, mascotes...
(...) Havia um PIDE, mais propriamente, um agente da Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
O PIDE estava instalado numa casa junto ao arame farpado do quartel e tinha uma mulher. Ter uma mulher era vulgar. Muitos tinham, também, mulher. Se não oficialmente, pelo menos oficiosamente. No caso do PIDE era a mulher oficial e estava ali naquela casa. Isso era proibido aos militares. Naquele lugar um tanto ou quanto perigoso.
Além disso, o PIDE tinha muitos informadores. Pagava-lhes para trazerem novas sobre as movimentações e intenções da insurreição política. Para ele tratava-se de insurreição política. Para os militares, se havia insurreição, era armada.
Além disso, o PIDE tinha antenas altas. Não era dessas. Eram mesmo antenas de comunicações. Telecomunicações, como agora se diz. Tinha, também, antenas horizontais, que ligavam as tais antenas altas à torre da igreja (das Missões). E, assim, falava com Bissau, ou com Lisboa, passando uma tangente sobre Bissau. (...)
Vd. também na I Série do Blogue:
22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte
25 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVI: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte
28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIV: Nhabijões: quando um balanta a menos era um turra a menos (Luís Graça)
29 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLVIII: Comerciantes de Bafatá: turras ou pides ? (Manuel Mata)
14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)
20 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)
24 de Maio de 2006 > Guiné 63/4 - DCCLXXXVIII: Os crimes da Pide, dos comandos e dos camaradas (Pepito)
25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCV: O colaboracionismo sempre teve uma paga (1) (A. Marques Lopes)
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)
14 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVIII: Memórias de Turpin e da Bissau do seu tempo
(***) Vd. poste de João Tunes >
4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1337: O campo de concentração da Ilha das Galinhas (João Tunes)
(...) Caro Luís e restantes camaradas,
Como era incontornável, o nosso blogue, cada vez mais rico e recheado de facetas mais encadeadas, assenta sobretudo na visão da guerra de um dos lados, o das NT. Não podia ser de outra forma. Mas, julgo eu, sobretudo a esta distância no tempo, não entenderemos o que passámos e lá estivemos a fazer, sem compreender o outro lado, o lado do IN. Só numa compreensão abrangente das duas metades, é que, nós e os guineenses, podemos ter a percepção da epopeia daquele drama comum e que nos ficou a unir.
Infelizmente, da parte do PAIGC, há uma exiguidade de produção histórica e tratamento documental e testemunhal sobre a sua luta. A par do facto terrível de que a grande maioria dos antigos combatentes do PAIGC ou morreu ou para lá caminha proximamente sem deixar lavrados os seus imprescindíveis relatos e testemunhos (é muito curto o horizonte de vida na Guiné). (...)
Entretanto, aproveitando para o divulgar e recomendar, saiu um livro importante da Dalila Cabrita Mateus em que ela apresenta um conjunto de depoimentos recolhidos e verificados junto dos prisioneiros africanos no período da guerra colonial. Julgo até que este livro é de leitura impositiva pois possibilita, coisa rara, que se oiçam vozes do sofrimento daqueles que combatemos e nos combateram. O que é útil a vários níveis - permite-nos relativizar os nossos sofrimentos enquanto combatentes coloniais; traz à luz do dia uma bestialidade escondida no tratamento da pessoa humana que era o lastro do suporte ao nosso combate e sobrevivência. Sem aquilo, sem aquela PIDE, poucos de nós estaríamos aqui a escrever e a contar.
Uma parcela importante do livro de Dalila Cabrita Mateus é composta de entrevistas com prisioneiros da segunda fase de funcionamento do Campo de Concentração do Tarrafal (Ilha de Santiago - Cabo Verde). Como se sabe, o Campo (também conhecido como Campo da Morte Lenta) funcionou entre 1936 e 1954 para prisioneiros políticos portugueses e o seu encerramento deveu-se ao escândalo internacional devido à demasiada semelhança com os campos nazis. (...).
[ MATEUS, Dalila Cabrita - Memórias do Colonialismo e da Guerra. Porto: Edições ASA. 2006. Colecção: Arquivos Históricos. 672 pp. Preço: 24 € ].
A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961-1974), Dalila Cabrita Mateus, Ed. Terramar. 2004.
24 comentários:
O estimado colaborador pretende pôr o carro a andar sem rodas ou está apenas a promover o livro?
è claro que o serviço de informações mais eficaz de que dispunhamos era a DGS. O seu texto 'defende bem a dama', por ser escorreito mas ataca visivelmente uma postura que o autor extensivamente descreve e adjectiva -permite-se mesmo declarar 'estúpido' um homem de quem só sabe(mos) o nome- em termos pouco elogiosos ou apenas discorrendo fora de contexto sobre ajuizamentos morais e de direito que, hoje, aqui põe.
Sem lhes retirar pertinência, a algumas afirmações, sublinho pelo contrário, outras tantas e um alinhamento do discurso que se afigura propaganda serôdia - um adjectivo por si usado.
S.Nogueira
Caro Amigo João Tunes
O meu amigo acaba de descobrir a pólvora.Estes milhares de burros
que combateram na Guiné não sabiam
que lá existia a PIDE e que os oficiais do Exército, principalmente
os dos Serviços de Informação colaboravam com eles.Claro que colaboravam, pois não tinham escolha.
Quem mandava era a PIDE e não o Exército. O Exército era só o braço armado. A PIDE dava as ordens e fosse qual fosse o posto só tinha que acatá-las. A simples recusa dava direito a prisão despromoção e
julgamento em tribunal militar. O
Senhor foi alferes e teve sorte de não lhe aparecer um pide a dar-lhe ordens para proceder a escutas e o sr recusar.O minimo que lhe podia
acontecer era ser despromovido a soldado raso e andar a limpar as
latrinas da unidade. Acha que aqueles homens cheios de galões e
estrelas caíam nessa.O Luís Graça
diz num seu poste que o General Spínola tinha a Pide sobre a sua tutela e protecção.Nada mais errado.Quem estava sob a protecção
e tutela era o General. A Pide era a menina dos olhos de Salazar e de
Marcelo Caetano que só a rebatisou
como DGS.Todos sabemos que os interrogatórios era feitos em Stª
Luzia no 600, mas ninguém ousava
falar disso,pois não se sabia quem tinha-mos ao lado.
Armandino Alves
Ainda está para se fazer a verdadeira história da PIDE e dos seus arquivos destruidos.
Pois constantemente se ouve dizer que interessva mais aos "arquivados" a destruição desses arquivos, do que propriamente a quem arquivava.
Agora que o Salazar usava e abusava da PIDE não há dúvida:
A crer em escritores como Fernando Dacosta, a PIDE chegou a pormenores de até mandar vigiar os passos de um ministro que frequentava um certo urinol público o que levou Salazar a mandar destruir essa infraestrutura.
Mas tudo o que se relembre, é pouco para evitar o branqueamento da PIDE.
Penso que o Blog tem contribuido para evitar o branqueamento.
Mas o facto de poucos ex-militares condenarem a PIDE não será porque achavam lógico haver serviços secretos?
Afinal a guerra do ultramar era feita por nós todos, desde a PIDE até mesmo pelos que desertavam.
E, principalmnte pela maioria que pela falta de preparação militar, apenas fazia número arriscando o coiro.
Espero que com este comentário, não branqueie quem fez crimes.
Antº Rosinha
Belíssimo, bem organizado e necessário este texto de João Tunes.
Companheiro, o revisionismo histórico está aí vivíssimo da silva, à bruta ou sofisticado, embrulhado em falinhas mansas e pretensa erudição.
Às vezes mesmo, vestindo a pele de cordeiro.
E isto nada tem a ver com o respeito por aqueles que se bateram por convicção na consequência do caldo cultural em que cresceram.
Tratar uma questão como a guerra colonial e o agonizar do regime que a justificou, apenas aceitando que a PIDE era apenas uma ferramenta, ou é ingenuidade ou então...
Naturalmente que não me espanta o comentário do meu amigo S. Nogueira, aliás, Pirata Vermelho, aliás...
É um,a mente brilhante e com formação na área da comunicação, suficiente para dar as voiltinhas que aqui mostra.
Este comentário meu, é apenas um desabafo de quem se tem sentido abafado por demais e do obrigado
a que me sinto, na circunstância...obrigado
José Brás
Talvez seja por acaso, mas por onde passei, da PIDE nem cheiro.
Claro que não se deve “branquear” a história mas também não se pode “escurecer” subordinando-a a determinada cartilha politica.
Abraços ao tabancal, com votos de Festas Felizes e muita saúde no Novo Ano.
Henrique Matos
Alguém sabe quantos agentes da PIDE havia na Guiné em 72/74/? E onde estavam instalados?
Em Teixeira Pinto, em 72, havia o sr. Costa que habitava uma vivenda no fundo da avenida, à direita, a partir do quartel. Era um Pide incompetente, inventava muitas notícias para justificar o seu salário. O meu coronel Rafael Ferreira Durão, comandante do CAOP 1, o major de Operações Pimentel da Fonseca desprezavam-no, raramente ouviam o Pide. O planeamento das operações não passava pelo Pide.
Em Mansoa, onde estive cinco meses em 1973 havia ou não um agente da Pide? Não sei.
Em Cufar, onde permaneci onze meses atá Abril de 1974, éramos apenas duzentos militares mais umas três centenas de elementos da população.
Pide, felizmente, nem vê-la!...
Em Angola e Moçambique creio que a PIDE tinha muito mais força.
A acção da PIDE/DGS não pode, de modo algum, ser branqueada. Era mesmo um suporte do regime.E era o regime que nos mandava morrer e matar.
Mas há uma coisa neste texto de que o João Tunes, subrepticiamente,não abdica, catalogar-nos a todos, um milhão de soldados que fizeram as guerras de África (eu sei que para o João Tunes, só houve uma guerra, a colonial e mais nenhuma!)de militares do exército colonial fascista, ao serviço da PIDE e da ideologia cavernosa de Salazar e Marcelo Caetano.
Nós éramos jovens portugueses apanhados pela roda da História, alguns de nós já então com uma consciência e prática anti-regime.
Ou desertávamos ou íamos mesmo para a guerra. E aí tínhamos de sobreviver. Alguns, poucos, gostaram da guerra, até meteram o "chico", não porque se orgulhassem de "servir os pides e o regime", mas porque era a forma mais simples de se conseguir um emprego. Até bem paga para os oficiais do QEO (Quadro Especial de Oficiais). Mas a esmagadora maioria de todos nós, sem grande convicções políticas, contava os meses, os dias que faltavam para regressar ao nosso Portugal, do Minho ao Algarve, mais Açores e Madeira.
E criámos espantosos laços de solidariedade entre nós, não porque pertencemos no passado ao "exército colonial fascista", mas porque somos seres humanos que se conheceram no sofrimento, no desvairo de uma guerra. Regressámos
bem vivos e gostamos muito, quarenta anos depois, de estar uns com ou outros.Já não há "amanhãs que cantam", mas nós ainda somos capazes de cantar, e também de chorar, quando nos encontramos.
Por isso o blogue existe, por isso escrevo este comentário.
Espero que o João Tunes entenda.
Toda a amizade do
António Graça de Abreu
AMIGOS E CAMARADAS DE GUINÉ, EU QUE RIA FAZER UM COMENTÁRIO A ESTE POSTE MAS SÓ DE OUVIR FALAR NESTE NOME pide-dgs ME DA NOJO E RAIVA POR SABER QUE DEPOIS DO 25 ABRIL NADA ACONTECEU A ESTA CANALHA, E MAIS NÃO DIGO.
UM ABRAÇO AMIGO
A brincar*.
Gostei do "Portugal do Minho ao Algarve.. (reticências minhas) mais Açores e Madeira".
Abraço,
Carlos Cordeiro
*Convenço-me de que, às vezes, é mesmo necessário fazer notas de rodapé deste tipo, para não sermos mal interpretados.
Olá António!
Faço minhas as tuas palavras finais.
Sabes,em Missirá,logo pela manhã,
aparecia um pide que me dava uma
lista de presos a torturar.Nessa tarefa passava grande parte do dia.
Nas horas vagas cafrealizava..
Se calhar partiu do mesmo pide a
a informação que impediu o adiamento da minha incorporação
e me vedou o acesso a qualquer
outra especialidade...
Jeito para a tortura? Ou vocação
de cafre?
Abração
Jorge Cabral
Como,um pouco mais acima,tao bem se escreve:"apenas discorrendo fora de contexto sobre ajuízamentos morais e de direito" preocupo-me. Tanto se escreve...do Minho ao Algarve. Do Minho...á Madeira. Do Minho...aos Acores. Do Minho...a Cópacabana.(a tao esquecida,nisto de debates de traidores anti-colonialistas,pequena colónia,Brasil) Do Minho...a Timor. Qualquer dia,os minhotos,que se safaram tao bem,nisto de independencias,com o Sr.D.Afonso Henriques,comecam outra vez a pensar...arranjam um P.A.I.M.G.(Partido Armado da Independência do Minho e Galiza) e é só chatices para o Exc.Sr.Presidente da República,para um Sr.Coronel nacionalista,e para os Espanhois. José Belo.
Sobre o comentário de António Graça Abreu:
1) Quando António Graça Abreu me acusa de "o João Tunes, subrepticiamente,não abdica, catalogar-nos a todos, um milhão de soldados que fizeram as guerras de África (eu sei que para o João Tunes, só houve uma guerra, a colonial e mais nenhuma!)de militares do exército colonial fascista, ao serviço da PIDE e da ideologia cavernosa de Salazar e Marcelo Caetano.", este tertuliano, não sabendo ou não querendo ler, treslê. Não generalizei, nunca o fiz, não o faço. Se o AGA enfiou a carapuça, o problema é seu. Não considero a hipótese alternativa de gosto pela difamação porque, se assim o entendesse, obviamente que não responderia.
2) Considero um argumento de recurso inútil para os factos, a experiência que cada um teve relativamente á visibilidade e competência da PIDE durante a guerra colonial na Guiné, nos locais onde esteve aquartelado. A rede de delegações estava naturalmente estabelecida junto das sedes dos batalhões. E estabelecia relações via comandos e canais militares dos serviços de operações e informações, centralizando em Bissau as ligações de cúpula e que dirigia as informações tratadas centralmente. O facto de o camarada X, no quartel Y, nunca ter visto um pide ou o que conheceu ser um bronco, é irrelevante para o facto global, óbvio e sabido de que as guerras coloniais assentavam numa colaboração íntima entre cada máquina militar colonialista e a PIDE/DGS local (esta com um papel preponderante na recolha e tratamento de informações, infiltrações nas forças dos guerrilheiros, aliciamento e corrupção destas, recolha de prisioneiros, sua tortura e prisão, envio de alguns para campos de concentração - no caso do PAIGC: Ilha das Galinhas, na Guiné; Tarrafal em Cabo Verde - e assassinato de muitos outros).
João Tunes
Acerca da 'lavagem da DGS', junto dois apontamentos vistos in http://historiaeciencia.weblog.com.pt
1
"O Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) assistiu ontem à defesa de uma tese de doutoramento sobre "A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961-1974)", pela investigadora Dalila Mateus. Através do trabalho, que foi elogiado por todos os membros do juri, é retratada uma polícia política brutal, eficaz e estimada entre os colonos brancos instalados nas colónias portuguesas.
A tese central do texto é que "houve nas colónias, durante a guerra, uma repressão em massa não só pela guerra, mas também pela própria violência da acção colonial".
A eficácia da polícia política foi um dos aspectos que o historiador e dirigente do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas, destacou da tese. "Além de uma força policial era um corpo armado, com forte apoio e prestígio entre os colonos brancos, e concentrava os quadros mais novos e intelectualmente mais bem preparados, quando comparados com os da metrópole", acentuou Rosas.
Curiosamente, a investigadora chegou à conclusão que a PIDE não era a força mais violenta a actuar nas colónias. Dalila Mateus lembrou a forma como o Exército e até a admnistração tratava os "rebeldes" para justificar essa posição. Deu até como exemplo um caso, que lhe foi relatado numa entrevista, de um governante que se esqueceu de centenas de pessoas fechadas em vagões de transporte durante duas semanas.
Durante a defesa do trabalho foram igualmente abordadas algumas das díficeis relações a nível interno. A tese retrata a tensão entre Kaulza de Arriaga e a PIDE, que defendia a substituição daquele militar por - na opinião da autora - não gostar da visão "positiva" que este tinha do futuro da guerra.
O juri mostrou-se também surpreendido pela forma como a tese demonstrava a "capacidade de fazer política externa" da PIDE. O trabalho da investigadora assinala o facto de um corpo com cerca de mil agentes ser capaz de, num continente tão vasto como África, derrubar governos, orquestrar raptos. A investigadora usou o evento para alertar os membros do juri para alertar para o avançado estado de degradação em que se encontram os processos do arquivo da PIDE. "O processo da PIDE vai-se perder se não forem tomadas medidas extraordinárias, os processos estão tal qual como vieram", disse Dalila Mateus, que alertou ainda para os danos que o suporte fotográfico está a causar nos documentos escritos dos arquivos. N.S.L."
(Público, 27 de Março de 2004, p. 23)
2
(Entrevista com)
ÓSCAR CARDOSO: inspector da PIDE/DGS criador dos Flechas (1)
"Ingressei em miúdo na Mocidade Portuguesa, quando tive de ingressar. Fi-lo, curiosamente, quando estudava no Colégio Moderno, do Dr. João Soares. Mais tarde entrei para a Legião Portuguesa e frequentei o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Interrompi o curso para fazer o serviço militar na Índia. Depois fui para a Guarda Nacional Republicana até que, em 1965, entrei para a PIDE. Na estrutura da PIDE, Barbieri Cardoso era inspector superior. Mas depois apareceu São José Lopes, um homem com grande influência em Angola, e era necessário dar-lhe outra situação para compensar o bom serviço que tinha feito. Então, nomearam-no inspector superior do Ultramar. Entretanto, havia na PIDE um indivíduo muito mais antigo do que o Dr. São José Lopes, o inspector Coelho Dias, que era subdirector, e que também queria ser inspector superior. Criaram-se assim os lugares de subdirector-geral para Barbieri Cardoso, de inspector superior do Ultramar para São José Lopes e de inspector superior do Continente para Coelho Dias. Havia uma divisão de tarefas entre os três. A PIDE tinha muito boas relações com todas as polícias e serviços secretos do seu género na Europa e no mundo. É conhecida a ligação de Barbieri Cardoso aos serviços secretos franceses, dirigidos pelo conde Alexandre de Marenches. Mas dávamo-nos bem com todas as polícias congéneres e também com os americanos da Central Intelligence Agency (CIA). Operávamos muito em África, através de informadores, sobretudo nos países vizinhos de Angola, Moçambique e Guiné. Por exemplo, havia informadores na Tanzânia em ligação a Oscar Kambona, o chefe da oposição a Julius Nyerere. Mas o controlo era feito através de Lisboa, pela secção central na António Maria Cardoso, chefiada por Álvaro Pereira de Carvalho. Tínhamos de facto bons informadores em África, onde os nossos serviços faziam um trabalho sobretudo de intelligence, em colaboração estreita com os militares.
(cont)
Foi precisamente através da nossa rede na Tanzânia que soubemos o que se tinha passado com o navio Angoche. O navio Angoche levava material para a nossa Força Aérea, material sofisticado, essencialmente material explosivo, bombas para os aviões, etc., e creio que ia para Porto Amélia. Soubemos que o Angoche foi abordado em 23 de Abril de 1971 por um submarino da União Soviética e que os seus tripulantes foram levados para a Tanzânia, para a base central da Frelimo, Nachingwea. Foi uma operação executada por soviéticos, o que nos foi possível confirmar pelas análises que fizemos dos vestígios encontrados no barco. A primeira pessoa que fez a investigação a bordo do Angoche foi o inspector Casimiro Monteiro. Verificou que as armas não estavam lá. A tripulação foi levada para Nachingwea e depois, penso eu, terá sido aniquilada. Penso que iam no Angoche à volta de vinte e três pessoas. Mais de metade eram africanos, de Moçambique, e os outros europeus. O navio não era de passageiros mas levava um passageiro a bordo, a quem se deu uma boleia, o que era estranho. Houve uma outra coisa curiosa: a mudança, à última hora, do radiotelegrafista.
(cont)
O radiotelegrafista que era para ir resolveu não ir. Pode ter sido uma mera coincidência, mas é curioso que assim tenha sido. Na nossa opinião, tratou-se de uma operação soviética, feita em colaboração com o Partido Comunista Português. Fala-se que houve oficiais da Marinha, hoje oficiais generais, que estariam envolvidos nisso. Houve também o estranho caso de uma rapariga que foi "suicidada" na cidade da Beira e que estava ligada aos meios esquerdistas da Marinha portuguesa. Esta versão dos factos constou dos nossos relatórios na altura. Tínhamos um relatório secreto sobre o Angoche que desapareceu da sede da DGS, na Rua António Maria Cardoso, depois do 25 de Abril. Foi um dos processos que desapareceram. O caso estava a ser investigado.
(OSCAR CARDOSO refere igualmente o seu fascínio por África e as leituras feitas que para isso contribuíram. Salienta o relacionamento desenvolvido com o administrador Manuel Pontes e como este reforçou a sua vontade de desenvolver um projecto específico em Angola. )
- O CRIADOR DOS FLECHAS -
"Em Angola, em 1965-1966, trabalhámos na pesquisa de informação. Estávamos tanto quanto possível dispersos por toda a Província para tentar captar as populações. Tínhamos um pequeno corpo de auxiliares, que às vezes iam pesquisar informação, mantinham contactos no interior da Província e vinham-se embora. Eu comecei por tomar contacto com os serviços na delegação de Luanda, que era perto da Fortaleza de São Miguel, numa rampa. Fui chefiar os Serviços Reservados, em que fazia sobretudo trabalho de segurança interna. Por exemplo, se um indivíduo queria uma licença de uso e porte de arma, era necessário ver se ele tinha antecedentes criminais, etc. Depois estive na secção central da contra-espionagem, a qual chamávamos o GAB, através da qual tínhamos os contactos com os informadores estrangeiros e lidávamos verdadeiramente com o que havia de secreto.
(cont)
A articulação entre Angola, Moçambique e a Guiné era feita através de Lisboa, o que não queria dizer que, se houvesse coisas urgentes a tratar, nos prendêssemos a teias burocráticas e não circulássemos pelos outros territórios. Estive uns meses a fazer estágio no GAB. Depois, fiz uma espécie de tournée por Angola, pelas diferentes delegações onde havia problemas, para ter contacto com o problema de Angola. Desde Cabinda até às "terras do fim do mundo", o Cuando-Cubango, conheci Angola toda. Acabei por estar um total de sete anos seguidos no Cuando-Cubango. Dizer que gostei de lá estar é pouco- adorei lá estar. Era chefe de uma subdelegação sediada em Serpa Pinto.
Eu nunca gostei muito de papéis e de burocracia, mas é claro que, à medida que uma pessoa vai subindo na escala hierárquica de qualquer organização, cada vez tem mais papéis e mais secretárias. Não me agradava muito a ideia de estar em Luanda aos papéis. Houve um livro que li em miúdo, com os meus 11 anos, e que me fascinou- As Minas de Salomão. Também os livros Como Eu Atravessei a África, de Serpa Pinto, e De Angola à Contracosta, de Capelo e Ivens, foram decisivos para a minha vida. Gostei sempre muito de África, tinha uma paixão por África e, assim que apareceu a minha oportunidade, fui para África. Em Luanda conheci acidentalmente, num café, uma figura muito interessante: o administrador Manuel Pontes, já prestes a reformar-se, e tivemos uma conversa. Ele era um profundo conhecedor dos sítios e das gentes e falou-me das "terras do fim do mundo", nome que foi dado ao Sudeste de Angola por Henrique Galvão, um dos homens que mais exacerbou o patriotismo do Ultramar. Foi no seu livro Outras Terras Outras Gentes que Henrique Galvão baptizou aquela zona de terras do fim do mundo. Depois lá fez aquela porcaria do Santa Maria, mas enfim... Manuel Pontes era um homem que passou a maior parte da sua vida no mato, um estudioso, um homem culto e muito simples. Falou-me então de uma minoria étnica, a que nós chamávamos os bosquímanos, que viviam no Cuando-Cubango. Eu também já tinha tido um certo conhecimento teórico dessa etnia, no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, onde tínhamos uma cadeira de Etnografia. E fascinou-me a ideia de fazer qualquer coisa. O mundo africano atraía-me, também me influenciaram as obras literárias de Jean Lartéguy, como Os Centuriões, os relatos da experiência francesa na Indochina, as histórias de Lawrance da Arábia e, em certa medida, os Boinas Verdes americanos ".
S.Nogueira
Meu caro João Tunes, recordo as tuas palavras, tal como tu, e bem, recordaste as minhas. Aí vai o que escreveste:
"O que se passou nas frentes das guerras coloniais foi um genocídio intermitente gerido contra as populações africanas (confirmando a caracterização feita pela ONU), para além de actos de brutalidade generalizada e de máxima crueldade praticados pelas Forças Armadas".
As Forças Armadas eram eram constituídas por quem? Por centenas de milhares de militares como tu e como eu.
Eu sou capaz de enfiar todas as carapuças do mundo, tenho muitos defeitos, erro muito.
Mas essa carapuça é para outra cabeça, não para a minha.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Reli agora o comentário do João Tunes e acrescento mais uma citação dele.
Meu caro João Tunes, recordo as tuas palavras, tal como tu, e bem, recordaste as minhas. Aí vai o que escreveste:
"O que se passou nas frentes das guerras coloniais foi um genocídio intermitente gerido contra as populações africanas (confirmando a caracterização feita pela ONU), para além de actos de brutalidade generalizada e de máxima crueldade praticados pelas Forças Armadas".
No comentário ao meu comentário dizes ainda:
"Não generalizei, nunca o fiz, não o faço".
Então, segundo as tuas palavras ao considerares , "a brutalidade generalizada e a máxima crueldade praticada pelas Forças Armadas" não estás a generalizar? Eu é que tresleio?
As Forças Armadas eram constituídas por quem? Por centenas de milhares de militares como tu e como eu.
Eu sou capaz de enfiar todas as carapuças do mundo, tenho muitos defeitos, erro muito.
Mas essa carapuça é para outra cabeça, não para a minha.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Não seja assim, António Graça Abreu, peço-lhe, por favor, que não me faça de burro. Referi a posição institucional objectiva de uma organização, a militar, que, entre 1961 e 1974, fez a guerra colonial e estava integrada num Estado ditatorial (é da instituição Forças Armadas que falo, em termos de responsabilização, não de cada militar per si). Quanto aos actos concretos praticados na guerra por cada um dos militares, cada qual responde por si, pelo que fez, pelo que não fez, pelo que não deixou fazer. Eu não julguei pessoas, aliás seria impossível fazê-lo, dei a minha opinião sobre a colaboração entre duas instituições e instrumentos da ditadura colonial-fascista comandadas por Salazar e Caetano: Forças Armadas e PIDE. Pela parte que me toca, nada me pesa na consciência, fui obrigado e contrariado, odiei aquela guerra (odeio todas as guerras) e odiei lá ter estado. Quando fui (podia ter desertado, é claro), sendo já um militante anticolonial, com anos somados da PIDE à perna e uma passagem por Caxias, fui na convicção que a minha deserção não ia resolver questão alguma e que era preferível a presença de um oficial miliciano anticolonialista que um eventual "chico" qualquer (por curiosidade, fui mobilizado para a Guiné para substituir um "chico", um alferes miliciano de transmissões que solicitou a sua "reconversão" pois preferiu fazer um curso em Lamego, para poder ir para a guerra mas como atirador de operações especiais). Mas coloquei-me a mim próprio três condições: - não praticaria nem colaboraria com qualquer crime de guerra ou outra violação dos direitos humanos e tentaria, no meu alcance, evitar que eles fossem cometidos mesmo que por omissão ou "vista grossa"; - não colaboraria e tentaria contrariar expressões de afirmação militarista quer ofendessem os meus camaradas militares, sobretudo os mais indefesos, os de baixo escalão hierárquico; - por higiene cultural e intelectual não me deixaria cafrealizar por respeito para com as pessoas e as culturas dos povos da Guiné, representando uma "igualdade" ou "identidade" ficcionadas para meu prazer e alienação pessoais. Como saldo, não só vim de consciência limpa como, passe a vaidade, trouxe as minhas "medalhas": - 3 dias de prisão, transferência de unidade e mais 3 meses de comissão por me recusar a dar, cumprindo as ordens de um tenente-coronel, uma bofetada "de castigo" num cabo que regressava ao quartel um pouco mais tarde que a hora do recolher; - consegui sabotar, pelo convencimento de outros oficiais e furrieis, uma operação ordenada pelo comando, uma ordem estúpida, emocional e cobarde, que cosnsistiria numa acção punitiva total e indiscriminada através de espancamento nocturno da população civil do Pelundo em retaliação da suposta cumplicidade da população local com uns tiros isolados e sem consequência do PAIGC; - fiz o máximo de propaganda contra a guerra colonial, participei em grupos de opinião e debate neste sentido, com oficiais milicianos e do quadro. Conheci muitos oficiais e alguns furrieis e soldados, milicianos e do quadro, com posições idênticas e acções semelhantes ou mais ousadas e mais corajosas. E julgo que os militares anticolonialistas, sobretudo na influência dos milicianos, os de consciência anticolonial e já experimentados na luta estudantil contra o fascismo, sobre os profissionais de baixa e média patente, teve "alguma coisa" a ver com aquilo que depois seria o MFA, o qual não caiu nem do céu nem foi gerado a partir do nada.
Esta conversa não me dá prazer algum, António Graça Abreu. Não conte mais comigo para lhe alimentar a sua tendência demagoga, manipuladora e tendência para tresler. E incomoda-me, sobretudo, que insista na formalidade, gentil mas oca, de me tratar como se fossemos amigos (a que propósito?) quando, estando muito bem assim, nem conhecidos somos. Assim, escreva o que escrever, não volto a responder-lhe. O que não invalida que lhe deseje as maiores prosperidades.
João Tunes
Tudo esclarecido, Dr. João Tunes.
Já agora se quiser conhecer melhor este "demagogo", como me chamou, aconselho-o a ler o meu Diário da Guiné, Lisboa, Ed. Guerra e Paz, 2007. Está lá tudo sobre a minha demagogia, e outras coisas mais, em Teixeira Pinto, em Mansoa, em Cufar, 72/74.
Para concluir de vez, acrescento, mais demagogia.
Os camaradas no blogue costumam tratar-se por tu. Muitos de nós (veja a Tabanca de Matosinhos!)estamos unidos às vezes quase como irmãos, existe uma fabulosa amizade e solidariedade, tantos anos depois. Porque vivemos e sofremos numa mesma guerra, uma guerra que faz parte de nós.
Nada tenho contra o João Tunes, se não é meu irmão é meu primo, talvez afastado, por isso o tratei por tu.
Mas não pode ser.
Retribuo então com o que me desejou, as maiores prosperidades para si e para a sua família.
António Graça de Abreu
Será que estamos todos a OUVIR.......os pôr-do-sol? José Belo.
Como membro do Blog, conhecedor do que o António Graça de Abreu tem expressado sobre a guerra colonial, sabedor de que, para ele,essa mesma guerra apenas tinha solução política,não vendo no seu comentário algo que tenha ofendido quem quer que seja, pois se interpretou mal o post do João Tunes, eu, mas eu sou burro, tive de o ler com atenção redobrada para compreender algumas das afirmações para não as considerar como generalizações, não entendo a forma pouco amigável, diria mesmo pouco democrática como o João Tunes dele se despede.
Abomino a P.I.D.E ou a D.G.S. mais os seus padrinhos Salazar e Caetano;sei que a guerra colonial consumia, para sua sustentação, metade do orçamento,e conheço o nível económico e social que herdámos desse tempo;sei que mais de um milhão de portugueses foi obrigado a emigrar entre 1960 e 1970, que as aldeias se despovoaram, que a população envelhece perigosamente; sei que a própria igreja, julgo que na pessoa do papa Paulo VI,recebeu no Vaticano os líderes dos movimentos de libertação; sei que o Estado de então teve de recorrer,pela primeira vez em trinta anos, ao crédito externo para sustento da guerra;sei também que a guerra nunca devia ter começado; sei o que é levar porrada nas manifestações e as dificuldades que os "comunas" universitários ligados ao teatro passavam;sei o que é fazer greve na faculdade de Economia da Universidade do Porto antes do 25 de Abril;sei o que é não acatar ordens de "superiores" militares;sei de tudo isso e ainda de um par de botas..., como sei que tantas centenas de companheiros meus também sabiam e que lançaram à terra essa semente que germinou no 25 de Abril.
Só não entendo a descompustura dada ao António, por eventualmente ter entendido mal alguma afirmação do autor do post e ter tido a liberdade de o fazer.
Para o camarada da Guiné, António Graça de Abreu, que tal como eu foi obrigado a fazer a guerra,o meu abraço fraterno de amizade e consideração,para o autor do texto os meus cumprimentos.
Vasco A.R.da Gama
Embora tenha enviado um mail pessoal ao António Graça de Abreu, quero deixar-lhe aqui o meu forte e amigo abraço sempre camarigo
De vitória....em vitória,até á derrota final!
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