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A Conceição Brito Lopes alerta para o papel primordial que tiveram as nossas mulheres, mães, namoradas, irmãs, amigas, avós e outras familiares no desenvolvimento afectivo onde se deve também situar a análise da Guerra Colonial (1). O que exige a todos nós uma reconfiguração dos testemunhos. Talvez a Conceição esteja de posse unicamente dos registos que se fazem dos eventos bélicos, reuniões de ex-camaradas da guerra, narrativas factuais de idas e regressos dos contigentes milítares. Seja como for, o seu apelo deve ser devidamente considerado.
Da minha parte, tive muita sorte: sem aquele correio, o escrito pelo meu punho e o recebido, a minha esperança teria seguramente definhado, aqueles afectos eram água purissíma, era o amor que nos esperava na hora do regresso, a par dos projectos que tinham ficado suspensos (2). Às vezes, diga-se em abono da verdade, água envenenada, nuns casos por incapacidade de se entender as mudanças que se estavam a operar nas nossas mentalidades e daí os choques e os choros, noutros casos recordo miseráveis cartas anónimas que levaram militares ao desespero, tal a fragilidade do isolamento.
A Conceição tem que nos perdoar estarmos ainda numa fase de desabafo, fazendo saltar para a cena o mais traumático e o aparentemente mais marcante. Certamente que muitissímos outros testemunhos como o da Conceição irão reposicionar o trânsito das nossas memórias. Oxalá o apelo da Conceição seja lido por muitas mulheres, as nossas companheiras e nosso sustentáculo para aqueles anos duríssimos que tudo tranformaram, inclusivé o amor que lhes dedicávamos.
Mário Beja Santos
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Notas dos editores:
(1) Vd. post de 17 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74: P2112: Blogoterapia (32): Não se esqueçam das mulheres, que apenas podiam morrer de saudade (Conceição Brito Lopes)
(2) Vd. 6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2031: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (57): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (6).
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